1. Introdução

A universidade é o local do conhecimento, apesar de não ter seu monopólio (BRITO CRUZ, 2004b). No Brasil, a idéia de universidade é assentada na indissociabilidade do tripé ensino, pesquisa e extensão (DURHAM, 2004). É o que diz o artigo 207 da Constituição de 1988 quando coloca que “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.

Para Brito Cruz (2004b), o papel da universidade cumpre-se na aliança entre educação e avanço do conhecimento. Para tal, a liberdade acadêmica e a autonomia são elementos inter-relacionados: “sem autonomia, não existe liberdade acadêmica; e a liberdade acadêmica é parte fundamental do exercício da autonomia universitária”. No entendimento do autor, que é um dos mais importantes pesquisadores brasileiros, a liberdade acadêmica, particularmente, é um valor que padece de uma compreensão mais clara. O problema deriva do utilitarismo que baliza a discussão sobre ciência e tecnologia no Brasil; da cobrança de certos resultados e de certas contribuições que, apesar de possíveis, não são essenciais e nem fazem parte da razão de existir da universidade.

Com efeito, o papel da universidade, e por extensão do professor/pesquisador, é propor idéias importantes, sem aceitar a responsabilidade de tratar de todos os problemas nacionais. Sua função é a educação. Educar, na universidade, supõe centralidade na pesquisa básica, na qual se formar estudantes de forma eficaz, sem outra cobrança que não a do compromisso com o método científico. Supõe, ainda, um pouco menos de pesquisa aplicada e bem pouca pesquisa visando ao desenvolvimento tecnológico (BRITO CRUZ, 2004b).

O desenvolvimento tecnológico apresenta relacionamento com a propriedade intelectual do conhecimento produzido. É algo não muito alinhado com a prática acadêmica, por envolver o sigilo de determinados projetos, necessário para as indústrias. Desenvolvimento tecnológico trata da ponta final, do momento da transformação do conhecimento em riqueza ou outros resultados práticos, sendo interesse natural das indústrias ou de órgãos de governo.

No Brasil, apenas 20% dos cientistas trabalham para indústrias. Nos países desenvolvidos, o índice é de mais de 60%. Esse desequilíbrio ocorre porque as indústrias enfrentam obstáculos grandes para realizar um investimento cujo retorno vem a prazo médio ou longo. A pesquisa acadêmica não existe para criar benefícios imediatos, seu compromisso é realizar descobertas e proporcionar melhorias na sociedade (BRITO CRUZ, 2006).

Dados do Instituto Nacional de Geografia e Estatística – IBGE, divulgados no relatório de Pesquisa e Inovação Tecnológica - PINTEC (2005), apontam que o fortalecimento das interações entre os diferentes agentes do sistema nacional de inovação tem papel fundamental no desenvolvimento tecnológico.

A cultura de criar relacionamentos fortes entre indústria e universidade com o intuito de gerar riquezas é praticamente inexistente no Brasil. Arruda (2006) afirma que mesmo em um período contemporâneo, o território está demarcado por assimetrias sociais e econômicas, riqueza tecnológica que deveriam ter os problemas reais como referência fundamental, conferindo à produção científica um profundo sentido social. Demarcado ainda por uma reflexão mais ambiciosa em relação ao contributo da ciência e tecnologia em prol de um futuro possível.

A presente pesquisa detêm-se em um levantamento bibliográfico. Para esclarecer o problema – mensurar os investimentos em ciencia, tecnología e inovação – foi explorado o conhecimento produzido a cerca do tema. Os dados empíricos coletados possuem predominância quantitativa, pois os indicadores de ciência, tecnologia e inovação são apresentados numéricamente, com exposição de tabelas e gráficos.

Para a obtenção dos dados empíricos de caráter secundários foram obtidos através de publicações científicas, debates e informações disponíveis de forma online em órgãos federais ligados ao setor de ciência, tecnologia e inovação no Brasil.

O presente trabalho tem o objetivo mapear o desenvolvimento do setor de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil, tendo como foco principal os investimentos realizados. O trabalho justifica-se em função do enfoque proposto ao objeto, por ser um tema atual e discutido amplamente na comunidade científica. A aplicação de recursos tanto públicos quanto privados no setor de ciência, tecnologia e inovação é peça chave no complexo cenário futuro de um país em desenvolvimento como o Brasil. O volume de investimentos abarca problemas de ordem econômica ou viabilizam soluções de crescimento para o país, dependendo de sua proporção.