Espacios. Espacios. Vol. 31 (3) 2010. Pág. 29

Diferenças de gênero na atitude à inovação em estudantes universitários: um estudo exploratório

Gender differences in attitude to innovation in college students: an exploratory study

Diferencias de género en la actitud a la innovación en los estudiantes universitarios: un estudio exploratorio

Verónica Peñaloza


3. Questões de pesquisa

Com esse referencial estruturou-se a pesquisa, delimitando como objetivo evidenciar as relações existentes entre atitude inovadora e gênero, e também entre a atitude inovadora e o conhecimento de C&T. Porém, como o referencial teórico não mostrou consenso quanto a estas relações, não é possível a construção de hipóteses no sentido da relação causa-efeito. Dado isso e, levando em consideração o caráter exploratório da pesquisa, foram levantadas as seguintes proposições:

3.1 Proposições

P1: Existe relação entre atitude inovadora e gênero.

P2: Existe relação entre atitude inovadora e conhecimento de C&T. Cursos mais técnicos (com mais conhecimento de C&T) como engenharia deveriam ter atitude diferente de cursos menos técnicos como administração (com menos conhecimento de C&T).

4. Método de pesquisa

Trata-se de uma pesquisa direta ? os respondentes conhecem o verdadeiro propósito da pesquisa ? com dados de corte transversal, usando método de survey e coleta estruturada de dados. O método de survey para obtenção de informações se baseia no interrogatório dos participantes, aos quais se fazem várias perguntas estruturadas sobre seu comportamento, intenções, atitudes, percepção, etc. Geralmente o questionário é estruturado, visando certa padronização no processo de coleta de dados (MALHOTRA, 2001).

4.1 Instrumentos

Neste trabalho usaremos o instrumento proposto por Bovenschulte (2007), baseado nos dados do Eurobarômetro. Segundo o autor, para mensurar a atitude inovadora pública devemos incluir o lado da percepção dos indivíduos e, por outro lado, a atitude pública expressa por líderes e stakeholders através de entrevistas em profundidade e discussões com grupos focais. Neste trabalho nos centraremos na atitude inovadora das pessoas, (estudantes universitários no caso) a que será mensurada mediante uma combinação de 34 afirmações em 5 dimensões, medidas em escala de Lickert de 1 a 5, com 1 significando “discordo muito” e 5 “concordo muito”.

Para Bovenschulte (2007), no contexto da inovação, a “escala Oxford” de conhecimentos, usada no Eurobarômetro, não fornece informações úteis sobre os processos de inovação e deve ser substituída por perguntas sobre “novas tecnologias” e o funcionamento dos processos de inovação. Da mesma forma, os conhecimentos sobre o potencial da C&T e a probabilidade de sua realização não dizem muito no sentido da estimação das inovações, então as perguntas devem ser modificadas para captar a relação pessoal com a C&T.

Assim as dimensões propostas por Bovenschulte (2007), são as seguintes:

O Sistema de Inovação: Esta dimensão inclui perguntas tais como “ao invés do país gastar muito dinheiro em pesquisas científicas, seria mais eficiente comprar tecnologia de instituições ou empresas estrangeiras”, “o termo inovação representa um conceito claro e estratégico, “o progresso científico e tecnológico é uma questão de causa-efeito e não é possível fazer sua gestão”, o papel da C&T é superestimado no bem estar econômico” e “muitas inovações fracassam, não por obstáculos técnicos, senão por regulamentações legais”.

Eu e C&T: Esta dimensão capta a relação pessoal com C&T e inclui afirmações sobre as novas tecnologias. “Tenho uma noção clara das bases e princípios das tecnologias importantes (nanotecnologia, biotecnologia e TICs)”, “acho que estou bem informado sobre oportunidade e as conseqüências das tecnologias importantes (nanotecnologia, biotecnologia e TICs)”, “para eu participar do progresso da C&T faltam mais vinculações com a vida cotidiana e não só informação sobre conhecimentos de base e técnicos”, “não tenho nenhuma motivação para pensar no progresso científico e tecnológico de forma teórica e, por antecipado, aceito o que aconteça”.

Os Riscos do Progresso Tecnológico: A dimensão expressa a idéia de risco implícita nos resultados do conhecimento e a percepção da ciência como um perigo. Inclui afirmações tais como: “o desenvolvimento da tecnologia deve ser detido se os riscos não são bem entendidos”, ou bem, que “os cientistas são os responsáveis pelos abusos dos resultados da C&T”, até questões mais de índole pessoal, tais como “os avanços em C&T e suas possíveis conseqüências me dão medo”. Inclui também afirmações no sentido inverso, como o pensar que possíveis riscos de novos desenvolvimentos de C&T podem inibir as oportunidades de progresso da sociedade e que “C&T não devem ter limites no que se pode pesquisar”.

O caráter do progresso: Esta dimensão inclui afirmações tais como “no meu dia-a-dia é importante saber sobre os novos desenvolvimentos em C&T”, ou “estou bem preparado para participar das oportunidades que o progresso científico e tecnológico oferece”, afirmações como “sempre há inovações para compensar as conseqüências negativas do desenvolvimento científico e tecnológico”, “a sociedade está mudando muito rápida e profundamente produto dos avanços em C&T”, “o progresso científico e tecnológico produz mais ganhadores que perdedores”. Inclui também afirmações contra, como “conheço pessoas que me parecem vítimas do progresso científico e tecnológico” e sua contrapartida, “conheço pessoas que não estariam vivas sem o progresso científico e tecnológico”.

Confiança nas instituições: Este indicador inclui perguntas relacionadas à participação de instituições tais como a Igreja, as ONGs e o Estado. Inclui também os sindicatos e a indústria em geral. As afirmações vão desde questões tais como “a indústria não deve ter restrições com relação ao desenvolvimento em C&T”, a questões como “a pesquisa em C&T deve ser questão do Estado e não das empresas”, ou “as ONGs são um elemento regulador imprescindível no progresso tecnológico e precisam de maior influência”. Incluem a participação da Igreja, como “a instituição que melhor sabe das conseqüências da C&T sobre o mundo e deve proibir certas formas de pesquisa”. E também perguntas mais amplas como que “a pesquisa em C&T está bem regulamentada e controlada e não pode haver abuso de poder”. Além disso, incorporam dimensões críticas às instituições e organizações científicas que “focam-se demasiado no dinheiro e no prestigio e esquecem as necessidades das pessoas”.

4.2 Técnica de análise de dados

Os dados foram trabalhados com o software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 15.0. Foram usadas medidas de associação entre as variáveis, especificamente, o coeficiente Eta. Este coeficiente varia de 0 a 1 e é adequado para medir associação entre uma variável dependente escalar e uma variável independente categórica (MARTINS, 2002). Usou-se também ANOVA, para verificar se existiam ou não diferenças significativas entre as médias dos indicadores por categorias. Posteriormente, foi aplicada a regressão binária logística. A formulação e estimação de relações onde estão em jogo características qualitativas de pessoas ou objetos são melhores descritas por modelos de escolha discreta, que podem ser representados por uma variável binária que toma o valor 1 na presença da característica e valor 0 na ausência da característica estudada (HAIR, 2005).

5. Análise dos resultados

A amostra não representativa do universo foi selecionada por conveniência devido à facilidade de acesso. Segundo observamos na tabela 1, foram entrevistados 137 estudantes universitários; 33 do curso de administração, 64 do curso de engenharia, 40 do curso de agronomia, de faculdades públicas da cidade de Fortaleza. A maioria do sexo masculino (70,8%), solteiros (91,2%), jovens de até 22 anos (83,9%). Em média, a metade deles não trabalha e seus gastos são financiados pelos pais (50,4%), esta relação é muito maior nas áreas de engenharia e agronomia (62,5%), enquanto na área de administração mais de 78% trabalha e responsável pelo próprio sustento.

Segundo podemos observar na Tabela 2, os homens têm uma atitude mais positiva que as mulheres à C&T, especificamente nas dimensões relacionadas com o sistema de inovação, com o risco do progresso tecnológico e a sua relação pessoal com a C&T.

Quando comparamos as médias por curso, observamos que os alunos dos cursos de engenharia apresentam uma atitude mais positiva (em geral) que os alunos de agronomia, e estes por sua vez uma atitude mais positiva que os alunos de administração. Não existem diferenças entre os grupos na dimensão referida ao sistema de inovação.

A Tabela 3 mostra a Análise de Variância (ANOVA) que permite estabelecer se a diferença de médias entre os grupos é significante. No caso do gênero, por exemplo, a diferença de médias entre o sexo masculino e feminino é significativa para o geral e também no caso das dimensões dos outros indicadores com exceção do caráter do progresso e a confiança nas instituições. Eta2 representa a proporção de variação contabilizada pela diferença entre os grupos. Neste caso, as diferenças entre o gênero são responsáveis por 11% da variação na atitude à inovação.

Com relação à variável curso, as diferenças de médias são significativas entre os grupos em termos da dimensão geral. E particularmente em termos das dimensões, Eu e C&T, risco do progresso tecnológico e confiança nas instituições. Eta2 nos indica que as diferenças entre os cursos são responsáveis por 7% da variação na atitude geral à inovação.

Finalmente, o Quadro 1 mostra os resultados da regressão binária logística, com relação à atitude inovadora. Atitude inovadora positiva foi codificada como 1 e atitude inovadora negativa foi classificada como 0.

Segundo podemos observar, a variável gênero (masculino) é significativa com relação à atitude inovadora positiva, vale dizer, os homens, diferentemente das mulheres, teriam uma atitude inovadora positiva. Com relação à variável curso, ela se apresenta significativa em geral, com relação à atitude inovadora. O curso de código 1, correspondente ao curso de administração, é significativo, mas com o sinal negativo, revelando que as pessoas que cursam administração teriam uma atitude negativa com relação à inovação. Já o curso de código 2, engenharia, apresenta sinal positivo, o que indica que os alunos desta área apresentam uma atitude positiva à inovação, contudo o coeficiente é não significativo.

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