Espacios. Vol. 33 (2) 2012. Pág. 13 |
A Logística Reversa na Indústria de Produtos Informáticos: Explorando os mecanismos utilizados pelas empresas no tratamento do lixo-informáticoReverse Logistics in the Computer Industry: Exploring the mechanisms used by companies in electronic waste treatmentLogística Inversa en la industria de productos informáticos: La exploración de los mecanismos utilizados por empresas en el tratamiento de residuos informáticosByron Acosta, Antônio Domingos Padula y Mariana Dewes |
5. Análises e DiscussãoSeis empresas atuam como atacadistas de produtos de informática do Equador, das quais foram pesquisadas quatro empresas que detêm quase o 90% do mercado de produtos informáticos no país. Como atacadistas elas não vendem diretamente aos consumidores finais (empresas ou usuários domésticos), os produtos são comercializados através de distribuidores e varejistas espalhados por todo o Equador. Os produtos são importados desde os Estados Unidos e Ásia. Dentre os produtos que são comercializados, os mais importantes são monitores, processadores, periféricos (mouse, teclado, webcams, microfones, caixas de som) – estes três itens representam 73% do faturamento total – cases, motherboards, memórias, placas-mãe, fontes de alimentação, placas de rede, laptops, computadores pessoais (desktops e laptops), impressoras, suprimentos de impressora, câmeras digitais, pendrives, discos duros, dispositivos óticos e magnéticos, Mp3s, assistentes pessoais digitais (PDA) e scanners, entre outros (Acosta et al., 2008). Embora todos os atacadistas comercializem os mesmos produtos, cada um deles tem exclusividade de comercializar determinadas marcas. De acordo com Acosta et al. (2008) a diferenciação de produto é obtida pela exclusividade de marcas que os outros concorrentes não têm, enquanto a diferenciação do serviço é desenvolvida por atendimentos pós-venda e serviço técnico e de garantias. A Tabela 1 apresenta o total de marcas comercializadas por cada atacadista, divididas em quatro categorias: marcas distribuídas de forma exclusiva, marcas que são comercializadas simultaneamente por dois atacadistas, marcas que são distribuídas por três deles e as marcas comercializadas simultaneamente por todos os atacadistas. As oito marcas que todos eles distribuem são AMD (processadores), Epson (impressoras e suprimentos), Genius (periféricos), HP (impressoras, scanners e suprimentos), Intel (processadores), Kingston (pendrives), LG (monitores) e Samsung (monitores) Tabela 1: Número de marcas comercializadas por atacadista Para entender como funciona o processo de logística reversa do setor é preciso descrever a cadeia de valor da empresa e como ela funciona. O processo começa no exterior onde uma filial da empresa realiza as negociações com os fabricantes para determinar as condições de produto, quantidade e preço. Os produtos são enviados desde os Estados Unidos, China ou Coréia até o Equador, onde são vendidos a varejistas que, por sua vez, os revendem ao cliente final Os fabricantes calculam do pedido total que o atacadista faz, um percentual de produtor com defeitos. Por tal motivo, além da quantidade pedida, eles enviam uma quantidade adicional de produto, para que sejam entregues em garantia aos produtos com defeitos de fabricação. Este inventário de produtos adicional é denominado de estoque buffer. Quando um cliente (varejista) compra um produto e ele está com defeito de fabricação, tem o direito de obter um produto novo, em função da garantia oferecida pelo fabricante. O distribuidor/varejista entrega o produto com defeito para o atacadista e ele recebe um novo produto. Depois, esse produto é revisado para determinar se pode ser consertado e vendido como produto remanufaturado ou se algum dos componentes dele serve para ser reutilizado em reparações futuras de outros produtos similares. Em último caso, é desmanchado e as peças em boas condições são vendidas. Referente ao primeiro objetivo da pesquisa, identificar se os fabricantes proporcionam procedimentos de logística reversa para coleta de seus produtos/componentes. As quatro empresas afirmaram que esses procedimentos somente existem para cobrir garantia de fábrica e quando se constata que realmente o produto veio com uma falha de fabricação. No entanto, esse procedimento somente é realizado com suas principais marcas, não com todas as marcas que distribuem. O atacadista “A” explicou que realiza esse processo com duas marcas de monitores (Samsung, LG) e uma de impressoras (Epson), marcas que as quatro empresas comercializam simultaneamente. O restante das empresas confirmou que realizam o mesmo procedimento porque é uma exigência contratual para manter os direitos de comercialização do produto. Para o caso de produtos em fim de vida útil, nenhum dos fabricantes oferece algum procedimento de tratamento dos mesmos. Também todas as empresas, explicaram que nenhum cliente final vai até suas instalações para devolver o produto obsoleto, e que eles “não se responsabilizam” por esse produto no seu estágio final. Isto é, os atacadistas adotam sistemas de logística reversa de pós-venda, mas não se preocupam em estruturar um sistema de logística reversa de pós-consumo, conforme a categorização de Leite (2006). Concernente ao segundo objetivo, identificar o destino que se proporciona para produtos/componentes estragados e qual a média mensal de produtos devolvidos pelos varejistas Todas as empresas confirmaram que no caso dos produtos estragados, os mesmos são devolvidos aos fabricantes, mas só com as marcas que têm convênios preestabelecidos para isso. Os produtos dos demais fabricantes são descartados porque eles não se responsabilizam por esses produtos. Já a média mensal de produtos estragados variou para cada empresa, o atacadista “A” identificou do 8% ao 10% dos produtos comercializados e dentre esse percentual 100 unidades correspondem a monitores LG e 30 unidades a monitores Samsung. Para o atacadista “B” 4% do total de produtos comercializados são devolvidos por defeitos de fabricação. No caso do atacadista “C” isto é do 10% ao 15% , além, que mensalmente recebe 150 monitores LG e 100 monitores Samsung. Para o atacadista “C” o percentual de produtos devolvidos é de 30% mensal. Ressalta-se que dependendo do volume/tamanho do produto, este ocupa um determinado espaço no estoque. Produtos estragados como pendrives não terão muito impacto no espaço ocupado, mas em produtos como monitores ou impressoras o espaço utilizado gera custos, por isso a necessidade para as empresas de dar um tratamento imediato para esse estragados e disponibilizar espaço para os próximos produtos que vierem. Relativo ao terceiro objetivo – identificar os componentes reutilizados com maior freqüência no conserto de outros produtos – fontes de energia, memórias, processadores, disco rígidos, placas de cobre e eletrônicas, teclados e unidades de CD-DVD, são os componentes mais reutilizados. Apesar de que o reuso dos mesmos seja pouco freqüente nas quatro empresas. O atacadista “C” explicou que embora tenham componentes que possam ser reutilizados no conserto de outros equipamentos, não o fazem como uma política exigida pelos fabricantes. Para todas as empresas os produtos/componentes que não podem ser reutilizados são baterias e placas. Referente à média mensal de produtos/componentes enviados para o lixo, os atacadistas “A” e “D” não dispunham da informação, enquanto para os atacadistas “B” e “C” é de 40% e 10% respectivamente, em relação ao total de produtos considerados como obsoletos ou com defeitos de fabricação. Referente a se o lixo-informático tem algum tratamento prévio antes de sua disposição final, todas as empresas responderam que não. Se o fabricante tem a política de receber o produto/componente obsoleto, ele é enviado de volta. Em relação àqueles fabricantes que não possuem o procedimento de recebimento, chama-se ao cliente (varejista), o atacadista dá um prazo para ele retirar seu equipo obsoleto e se excedeu do prazo o produto é jogado para o lixo. Em três empresas se realiza a coleta seletiva do lixo, separando o que são caixas de papelão plástico dos teclados e embalagens de plástico dos produtos. Tais materiais são retirados por empresas que utilizam o papelão e o plástico como matéria-prima. Em todos os casos que existe esta separação os atacadistas consideram esse procedimento como reciclagem, mas isso não se pode considerar como tal, pelo fato que na reciclagem os materiais constituintes dos produtos são extraídos industrialmente, transformando-se em matérias-primas secundárias que serão reincorporadas à fabricação de novos produtos (Leite, 2006). Concernente ao último objetivo da pesquisa, identificar se os atacadistas têm conhecimento da existência de lugares apropriados para alocar o lixo-informático. Duas empresas confirmaram que estes locais existem, mas desconhecem onde ficam e as outras duas não tem conhecimento nenhum. Todas as empresas desconhecem o destino final dos produtos que não são enviados para o fabricante uma vez que eles os colocam para serem levados pela coleta de lixo comum da prefeitura. O Quadro 1 apresenta um síntese das informações levantadas nas quatro empresas pesquisadas.
QUADRO 1 – Resultados por Empresa
Os resultados mostram que os quatro atacadistas utilizam um sistema de logística reversa de pós-venda, mas de forma parcial, pois unicamente revalorizam o produto com defeito de fabricação ou produtos trazidos para manutenção (Figura 1). Esta revalorização se inicia com o desmanche e separação dos componentes bons para consertar outros produtos. No caso de computadores trazidos para manutenção e que precisam de componentes novos, mas o cliente não quer comprar uma nova peça, o cliente tem a opção de solicitar um componente usado com um preço menor. Também as partes em bom estado são vendidas para varejistas que consertam produtos. Em outros casos, as peças são usadas para o conserto de equipamentos de versões descontinuadas, quando o fabricante já não produz mais aquele componente. Referente à logística reversa de pós-consumo, nenhum dos atacadistas têm implementado um sistema de esse tipo. Quando o produto chega ao final de sua vida útil o proprietário (consumidor final) em nenhum momento devolve esse produto para o varejista e ele por sua vez entrega para o atacadista. O produto é enviado diretamente para o aterro com a coleta do lixo comum. Além disso, os atacadistas não realizam nenhum processo de reciclagem dos produtos, pois separar os componentes em seus elementos primários requer conhecimento e equipamentos especiais que as empresas não possuem. Embora certas peças tenham matérias úteis que poderiam ser usadas em outras indústrias – um exemplo são as placas-mãe compostas de silício, germânio e ouro – não é economicamente viável adicionar esse processo no seu giro de negócio. Finalmente, o lixo-informático é jogado fora pelos atacadistas de duas formas: a primeira é fazer pedaços menores do componente e misturá-lo com o lixo normal que é levado diariamente com a coleta de lixo da prefeitura. A segunda forma é levá-lo diretamente para o aterro sanitário, onde ele se junta aos diferentes tipos de lixo gerados pela cidade. Seja qual for a forma de levar o lixo ao aterro, não existe nenhum tipo de tratamento prévio. ConclusõesOs resultados da pesquisa mostram quem em empresas de comercialização e distribuição de produtos informáticos a logística reversa de pós-venda acontece de forma parcial e que a logística reversa de pós-consumo não é implementada. A logística reversa de pós-venda é originada pela aplicação da garantia de fábrica de produtos defeituosos. Estes produtos regressam até o atacadista, o qual tenta revalorizá-los, reaproveitando os componentes úteis para consertar outros equipamentos, vender as peças em mercados secundários ou devolver o produto para o fabricante caso exista uma política de devolução. Mesmo que o restante das peças/componentes possa ser reciclado, os atacadistas não o realizam, visto que tal processo não faz parte de seu foco de negócio, nem possuem as capacidades para fazer isto. Como afirma Leite (2006), computadores apresentam, por via regra, altos custos na fase industrial de desmontagem. Uma alternativa é destinar tais peças a indústrias que utilizem esses materiais como matéria-prima de seus processos de produção, reduzindo ainda mais o lixo-informático que o setor gera. O aumento do lixo-informático é um problema que precisa ser visto sob várias perspectivas. Por um lado são necessárias políticas governamentais que regulem a atividade na indústria, responsabilizando não somente o fabricante, mas todas as empresas que estão envolvidas no ciclo de vida do produto (fabricante-atacadista-distribuidor-varejista), sem esquecer que dentro deste ciclo está o consumidor final que também tem sua responsabilidade no tema. Por outro lado, somam-se a falta de conscientização e o desconhecimento dos consumidores sobre a forma correta de tratar esse tipo de produtos quando termina sua vida útil. A Logística do Produto e a Logística Reversa não devem ser olhadas como conceitos diferentes, elas precisam ser integradas numa única definição de Logística Empresarial. Deste modo, é necessário reconfigurar os atuais modelos de negócio para o desenvolvimento de modelos mais holísticos que integrem o ciclo de vida do produto completo, e não só as fases de extração, produção e consumo. Assim, esses novos modelos devem atribuir a mesma prioridade à fase de recuperação e desmaterialização do produto uma vez que ele atingiu seu tempo de uso, fechando um ciclo que começou com o produtor e deve terminar com o produtor. Futuras pesquisas podem focar na identificação dos principais obstáculos da implementação de sistemas de logística reversa em temas como marco jurídico e legislação, barreiras tecnológicas e capacidades empresariais, formas mais eficientes de coleta de produtos e o grau de responsabilidade das empresas ao longo do ciclo de vida do produto. ReferênciasAcosta, B.; Padula, A. D.; Wegner, D. (2008); “Logística reversa como mecanismo para redução do impacto ambiental originado pelo lixo informático” Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, RECADM., 7(1), 1-12, Ahluwalia, P. K.; Nema, A. K. (2007); “A life cycle based multi-objective optimization model for the management of computer waste”. Resources, Conservation and Recycling, 51, 792-826. Carballo, E. El problema de descartar los equipos electrónicos: La basura electrónica y el caso del reuso. [Fecha de consulta: 05 junio 2009]. Disponível em: http://www.vitalis.net/actualidad131.htm. EPA, Environmental Protection Agency. 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