Espacios. Vol. 33 (1) 2012. Pág. 23


Pesquisa universitária: o que motiva o seu desenvolvimento?

University research: what encourrages its development?

Investigación universitaria: ¿qué fomenta su desarrollo?

Marcos Roberto Kühl, Marlete Beatriz Maçaneiro, Sérgio Luís Dias Doliveira , Luiz Fernando de Lima, Carlos Cesar Garcia Freitas y Andréa Segatto


4. Coleta e análise de dados

Nesta seção, é descrita a unidade de análise e composição da amostra, a representatividade da amostra, a confiabilidade da escala, a importância atribuída aos motivadores, a análise fatorial e outros motivadores listados pelos respondentes.

4.1 Unidade de Análise e Composição da Amostra

O estudo foi realizado com os pesquisadores da Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO, localizada em Guarapuava, no Paraná. A UNICENTRO surgiu da fusão da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guarapuava (FAFIG) e da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Irati (FECLI) em 1990, mas apenas em 1997 ela foi reconhecida formalmente. Conta atualmente com três Campi Universitários e quatro Campi Avançados, onde são ofertados 59 cursos de graduação, além de diversos cursos de especialização, cursos de mestrado e, atualmente (2010), um curso de doutorado em Química. A região de abrangência da UNICENTRO atinge praticamente toda a região centro-sul do Paraná, com mais de 50 municípios, compreendendo uma população de mais de um milhão de habitantes. Em meados de 2010 contava com mais de 700 professores, entre efetivos e colaboradores.

A UNICENTRO possui três Campi, sendo dois em Guarapuava, Campus Santa Cruz e Campus Cedeteg, e um em Irati, Campus Irati. As unidades de ensino estão agrupadas nos seguintes setores:

    1. Setor de Ciências Sociais Aplicadas Campus Santa Cruz (SESA/G);
    2. Setor de Ciências Sociais Aplicadas Campus Irati (SESA/I);
    3. Setor de Ciências Exatas e Tecnológicas Campus Cedeteg (SEET/G);
    4. Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes Campus Santa Cruz (SEHLA/G);
    5. Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes Campus Irati (SEHLA/I);
    6. Setor de Ciências da Saúde Campus Cedeteg (SES/G);
    7. Setor de Ciências da Saúde Campus Irati (SES/I);
    8. Setor de Ciências Agrárias e Ambientais Campus Cedeteg (SEAA/G);
    9. Setor de Ciências Agrárias e Ambientais Campus Irati (SEAA/I).

Após um período de quatro semanas, no qual o instrumento de coleta de dados ficou online, 112 questionários foram respondidos, correspondendo a mais de 26% dos pesquisadores aos quais foram encaminhados os e-mail. O Quadro 1 resume a amostra em função dos diversos grupos pesquisados.

Por Gênero

Frequência

%

 

Por Titulação

Frequência

%

Masculino

52

46,43%

 

Sem doutorado

66

58,93%

Feminino

60

53,57%

 

Com doutorado

46

41,07%

Total

112

100,00%

 

Total

112

100,00%

 

 

 

 

 

 

 

Por Idade

Frequência

%

 

Por Setor

Frequência

%

Até 30 anos

24

21,43%

 

SESA

21

18,75%

de 31 a 35 anos

22

19,64%

 

SEET

23

20,54%

de 36 a 40 anos

26

23,21%

 

SEHLA

26

23,21%

de 41 a 45 anos

15

13,39%

 

SES

19

16,96%

Acima de 46 anos

25

22,32%

 

SEAA

23

20,54%

Total

112

100,00%

 

Total

112

100,00%

 

 

 

 

 

 

 

Por Tempo

Frequência

%

 

Por Campi

Frequência

%

Até 2 anos

27

24,11%

 

Santa Cruz

57

50,89%

De 3 a 4 anos

28

25,00%

 

Cedeteg

31

27,68%

De 5 a 7 anos

19

16,96%

 

Irati

24

21,43%

Acima de 7 anos

38

33,93%

 

Total

112

100,00%

Total

112

100,00%

 

 

 

 

Quadro 1 – Resumo da composição da amostra
Fonte: dados da pesquisa.

Na sequência é demonstrada a análise da representatividade desta amostra.

4.2 Representatividade da Amostra

Para verificar se a amostra é representativa, utilizou-se o teste Qui-Quadrado para os grupos idade, gênero, nível de titulação, alocação ao setor, alocação por campi e tempo de atividade como pesquisador na UNICENTRO, em função dos próprios dados da amostra. Os resultados dos testes de representatividade dos grupos da amostra estão indicados no Quadro 2.

Gênero

N Observado

N Esperado

Residual

Teste

Gênero

Masculino

52

56,0

-4,0

Chi-Square

0,571

Feminino

60

56,0

4,0

Df

1

Total

112

 

Asymp. Sig.

0,450

Titulação

N Observado

N Esperado

Residual

Teste

Titulação

Sem Doutorado

66

56,0

10,0

Chi-Square

3,571

Com Doutorado

46

56,0

-10,0

df

1

Total

112

 

Asymp. Sig.

0,059

Campi

N Observado

N Esperado

Residual

Teste

Campi

Santa Cruz

57

37,3

19,7

Chi-Square

16,196

Cedeteg

31

37,3

-6,3

df

2

Irati

24

37,3

-13,3

Asymp. Sig.

0,000

Total

112

 

 

Setor

N Observado

N Esperado

Residual

Teste

Setor

SESA

21

22,4

-1,4

Chi-Square

1,214

SEET

23

22,4

0,6

df

4

SEHLA

26

22,4

3,6

Asymp. Sig.

0,876

SES

19

22,4

-3,4

 

SEAA

23

22,4

0,6

Total

112

 

Idade

N Observado

N Esperado

Residual

Teste

Idade

Até 30 anos

24

22,4

1,6

Chi-Square

3,446

De 31 a 35 anos

22

22,4

-0,4

df

4

De 36 a 40 anos

26

22,4

3,6

Asymp. Sig.

0,486

De 41 a 45 anos

15

22,4

-7,4

 

Acima de 46 anos

25

22,4

-2,6

Total

112

 

Tempo

N Observado

N Esperado

Residual

Teste

Tempo

Até 2 anos

27

28,0

-1,0

Chi-Square

6,500

De 3 a 4 anos

28

28,0

0,0

df

3

De 5 a 7 anos

19

28,0

-9,0

Asymp. Sig.

0,090

Acima de 7 anos

38

28,0

10,00

 

Total

112

 

Quadro 2 – Teste de representatividade por Grupos

Fonte: dados da pesquisa.

Verificando o nível de significância em cada um dos grupos, é possível visualizar que a maioria (5 em 6) foram significantes (p > 0,05), o que indica que o número de casos em cada categoria está de acordo com o esperado, exceto no caso da alocação por Campi (p = 0,000, ou seja, p < 0,05). Isso indica que a amostra é representativa, excluído o agrupamento por Campi que não apresentou resultado estatisticamente significante e, por isso, as análises subsequentes não poderão ser realizadas considerando este tipo de agrupamento.

4.3 Confiabilidade da Escala

Com relação à segunda parte do questionário, os pesquisadores foram questionados sobre a importância de alguns motivadores na realização de suas pesquisas. Estes motivadores foram propostos segundo o que foi levantado junto à escassa literatura, mas em sua minoria, proposto pela análise e experiência dos autores e em conversas informais junto a professores pesquisadores de universidades públicas. Os motivadores listados no questionário foram:

  1. Continuidade de pesquisas anteriores;
  2. Afinidade com o objeto de estudo;
  3. Exigência de programa de pós-graduação stricto sensu;
  4. Acesso a recursos financeiros de órgão de fomento;
  5. Solicitação de terceiros (pesquisa contratada ou em parceria/cooperação);
  6. Redução da carga horária em sala de aula;
  7. Gratificação por Tempo Integral e Dedicação Exclusiva (TIDE);
  8. Vinculação a grupo de pesquisa;
  9. Desenvolvimento de novos conhecimentos;
  10. Relevância do conhecimento envolvido;
  11. Acesso ao conhecimento de outros participantes da pesquisa;
  12. Demanda econômica e/ou social;
  13. Prestígio obtido pelo pesquisador.

A importância de cada um foi atribuída em função de uma escala de cinco pontos (1 – Sem importância, 2 – Pouco importante, 3 – Importante, 4 – Muito importante, 5 – Extremamente importante). A confiabilidade desta escala foi verificada segundo o α de Cronbach, que é “a medida mais comum de confiabilidade.” (FIELD, 2009, p. 594).

O resultado do teste α de Cronbach, para os 13 motivadores, consta no Quadro 3. Segundo Field (2009, p. 594) “um valor de 0,7-0,8 é aceitável para o α de Cronbach e valores substancialmente mais baixos indicam uma escala não confiável.” O SPSS ainda faz o teste do α de Cronbach considerando a exclusão de cada um dos motivadores em relação aos demais, como pode ser observado na última coluna do Quadro 4.

Case Processing Summary

 

 

N

%

Cases

Valid

112

100,0

Excludeda

0

,0

Total

112

100,0

a. Listwise deletion based on all variables in the procedure.

 

Reliability Statistics

Cronbach's Alpha

Cronbach's Alpha Based on Standardized Items

N of Items

0,816

0,826

13

Quadro 3 – Testa α de Cronbach para 13 motivadores
Fonte: dados da pesquisa.

Item-Total Statistics

Motivadores

Scale Mean if Item Deleted

Scale Variance if Item Deleted

Corrected Item-Total Correlation

Cronbach's Alpha if Item Deleted

Continuidade de pesquisas anteriores

45,76

46,725

0,507

0,800

Afinidade com o objeto de estudo

45,33

46,890

0,526

0,800

Exigência de programa de pós-graduação stricto sensu

46,07

45,616

0,390

0,810

Acesso a Recursos financeiros de órgão de fomento

45,79

44,561

0,468

0,803

Solicitação de terceiros

46,78

44,806

0,471

0,802

Redução da carga horaria em sala de aula

46,02

45,279

0,380

0,812

Gratificação por Tempo Integral e Dedicação Exclusiva

45,38

47,248

0,384

0,809

Vinculação a grupo de pesquisa

45,79

43,737

0,618

0,790

Desenvolvimento de novos conhecimentos

45,08

49,084

0,391

0,809

Relevância do conhecimento envolvido

45,29

48,192

0,465

0,805

Acesso ao conhecimento de outros participantes da pesquisa

45,74

44,446

0,622

0,790

Demanda econômica e/ou social

46,06

44,906

0,563

0,795

Prestígio obtido pelo pesquisador

46,72

48,688

0,249

0,820

Quadro 4 – Testa α de Cronbach se o item for excluído.
Fonte: dados da pesquisa.

Pelo resultado deste teste, verifica-se que existe a indicação que o fator prestígio obtido pelo pesquisador poderia ser excluído e, desta forma, obter-se um α de Cronbach maior (0,082) para o conjunto de variáveis. Foi feita esta exclusão e o novo resultado está demonstrado no Quadro 5.

Case Processing Summary

 

 

N

%

Cases

Valid

112

100,0

Excludeda

0

,0

Total

112

100,0

a. Listwise deletion based on all variables in the procedure.

 

Reliability Statistics

Cronbach's Alpha

Cronbach's Alpha Based on Standardized Items

N of Items

0,820

0,830

12

Quadro 5 – Testa α de Cronbach para 12 motivadores
Fonte: dados da pesquisa.

Apesar de ser relativamente baixa a diferença, em relação ao calculado com 13 motivadores, optou-se por acatar a sugestão contida com o cálculo realizado e demonstrado no Quadro 04. Principalmente porque, quando da realização da análise fatorial, demonstrada adiante, este motivador ficará em grupo separado dos demais, resultando em um α de Cronbach de 0,533 para a nova escala dos fatores gerados, sendo que este valor para o α de Cronbach indica que a escala não é confiável (FIELD, 2009, p. 594).

4.4 Importâncias Atribuídas aos Motivadores

As médias atribuídas pelos pesquisadores a cada um dos motivadores estão resumidas na Tabela 1. Todos os respondentes atribuíram o grau de importância de 1 a 5 para cada um dos motivadores. Nesta primeira tabela, os dados estão sendo considerados na totalidade, sem separação por grupos.

            Tabela 1 – Média das importâncias atribuídas aos motivadores

MOTIVADORES

MÉDIA

1

Continuidade de pesquisas anteriores

3,89

2

Afinidade com o objeto de estudo

4,32

3

Exigência de programa de pós-graduação stricto sensu

3,58

4

Acesso a recursos financeiros de órgão de fomento

3,86

5

Solicitação de terceiros (pesquisa contratada ou em parceria/cooperação)

2,88

6

Redução da carga horária em sala de aula

3,63

7

Gratificação por Tempo Integral e Dedicação Exclusiva (TIDE)

4,27

8

Vinculação a grupo de pesquisa

3,87

9

Desenvolvimento de novos conhecimentos

4,57

10

Relevância do conhecimento envolvido

4,36

11

Acesso ao conhecimento de outros participantes da pesquisa

3,91

12

Demanda econômica e/ou social

3,59

13

Prestígio obtido pelo pesquisador (excluído para o restante das análises)

2,93

Fonte: dados da pesquisa.

Analisando a Tabela 1, percebe-se que a importância média atribuída a alguns motivadores foi representativa, já que o máximo seria de 5,0. Este é o caso do desenvolvimento de novos conhecimentos, que pela média (4,57), foi considerado o principal fator motivador para a realização das pesquisas, seguido pela relevância do conhecimento envolvido (4,36), da afinidade com o objeto de estudo (4,32), pela possibilidade de remuneração adicional pela Gratificação por Tempo Integral e Dedicação Exclusiva (4,27), e os demais, conforme médias constantes na Tabela 1.

Esses dados apresentam indícios de que a pesquisa dentro da Universidade permanece sendo desenvolvida por um “ideal” de melhoria do conhecimento. Por sua vez, infere-se que essa crença traz em si valores, nos quais se observa a própria compreensão da noção de ciência e de desenvolvimento científico, como propósito a ser alcançado na atual forma de organização social. Essa influência na construção do conhecimento parte dos gregos e da sua compreensão do saber e da utilidade do conhecimento. Desde então, houve inúmeras transformações, mas algumas ideias clássicas se fazem presentes ainda hoje.

A média apresentada na Tabela 1 é a média geral, mas buscou-se verificar se existiam diferenças estatísticas entre as médias das importâncias atribuídas aos motivadores pelos pesquisadores agrupados por setor, por nível de titulação, por idade, por tempo de atividade em pesquisa na Universidade e por gênero. Os testes utilizados foram feitos a partir da análise da variância (ANOVA One-Way), para os agrupamentos, exceto gênero e titulação, já que são necessários ao menos três grupos em cada agrupamento para realizar este teste.

Para testar a significância dos resultados, optou-se pelo nível de 0,05 a partir dos testes de Tukey, já que este é considerado “[...] um dos mais robustos a desvios à normalidade e homogeneidade das variâncias [...] para amostras grandes, [...]”. (MAROCO, 2003, p. 133).

No caso dos agrupamentos por titulação e gênero, foi utilizado o teste t-Student. “O teste t-Student serve para testar se as médias de duas populações são ou não significativamente diferentes.” (MAROCO, 2003, p. 122).

A Tabela 2 resume os resultados estatisticamente significativos ao nível de 0,05, segundo os testes utilizados e pela avaliação visual dos gráficos gerados pelo SPSS. A avaliação gráfica serve como uma segunda opinião quando a diferença entre as médias é relativamente pequena. Nela também constam as médias de cada um dos grupos com diferenças estatisticamente significativas.

Tabela 2 – Resumo dos resultados das diferenças estatisticamente significantes entre grupos

AGRUPAMENTO

GRUPOS COM DIFERENÇAS

MOTIVO

RESULTADOS DOS TESTES

Gênero

Masculino – 3,37

Feminino – 3,78

12

t-Student à p = 0,025

Análise gráfica NÃO confirma a diferença

Titulação

Sem Doutorado – 3,59

Com Doutorado – 4,26

01

t-Student à p = 0,000

Análise gráfica confirma a diferença

Titulação

Sem Doutorado – 3,57

Com Doutorado – 4,26

04

t-Student à p = 0,003

Análise gráfica confirma a diferença

Titulação

Sem Doutorado – 2,62

Com Doutorado – 3,17

05

t-Student à p = 0,014

Análise gráfica NÃO confirma a diferença

Titulação

Sem Doutorado – 4,21

Com Doutorado – 4,54

10

t-Student à p = 0,018

Análise gráfica NÃO confirma a diferença

Setor

SESA – 3,10

SEAA – 4,48

04

Tukey à p = 0,001

Análise gráfica confirma a diferença

Setor

SESA – 3,14

SEHLA – 4,27

06

Tukey à p = 0,017

Análise gráfica confirma a diferença

Setor

SEET – 3,22

SEHLA – 4,27

06

Tukey à p = 0,026

Análise gráfica confirma a diferença

Setor

SESA – 3,76

SEHLA – 4,58

07

Tukey à p = 0,035

Análise gráfica NÃO confirma a diferença

Tempo de pesquisa

Até 2 anos – 3,48

Acima de 7 anos – 4,18

08

Tukey à p = 0,037

Análise gráfica NÃO confirma a diferença

Fonte: dados da pesquisa.

Como pode ser observado, apesar dos testes estatísticos indicarem diferenças entre os motivadores em alguns agrupamentos, essa diferença não foi comprovada por meio da análise gráfica. Nos Gráficos 1 e 2 estão demonstradas as análises de dois dos casos, sendo um de não confirmação do teste e outro de confirmação do teste estatístico (os dois primeiros da Tabela 2).

No Gráfico 1, é visível que retas atingem algumas colunas em comum, o que indica que não existem diferenças estatisticamente significativas entre as médias das importâncias atribuídas à demanda econômica e/ou social pelos homens e pelas mulheres. No Gráfico 2, o espaço existente entre as retas, que representam as médias atribuídas ao fator continuidade de pesquisas anteriores, atribuídas por pesquisadores com doutorado e sem doutorado, indicam que existe diferenças estatisticamente significativas. Portanto, serão desconsiderados das análises os resultados não significativos estatisticamente e também aqueles estatisticamente significativos segundo os testes, mas que não foram corroborados pela análise gráfica, apesar de terem sido apresentados os resultados na Tabela 1.

Na análise dos dados apresentados, os resultados indicam que existe uma importância maior para a continuidade das pesquisas para os pesquisadores com doutorado, como uma motivação para a realização de pesquisas. Acredita-se que o período de qualificação influencia fortemente a importância de permanecer produzindo conhecimento e contribuindo para um maior e melhor desenvolvimento da área de pesquisa. Esse tipo de preocupação liga-se também a necessidade de um maior aprofundamento das preocupações desencadeadas durante o período de qualificação. 

Também é indicado, pelos resultados, que os doutores atribuem maior importância para o fator acesso a recursos financeiros de órgãos de fomento. Isso talvez se explique pelo número superior de editais lançados por órgãos de fomento nos quais o doutorado é titulação quase sempre exigida. Exemplos são os editais lançados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Neste caso, pesquisadores com titulação inferior ao doutorado não consideram esse um fator importante, já que a possibilidade de concorrência com projetos de pesquisa em editais é muito restrito. Os incentivos a determinadas áreas, por meio da abertura de editais acabam por serem fatores determinantes de significativos avanços, o que leva a melhoria em determinadas áreas carentes de soluções por parte da pesquisa dentro das Universidades. Essa política de incentivos tem oferecido inúmeras contribuições a melhorias em diversos setores carentes da sociedade, melhorando em a qualidade de vida das pessoas.

No caso do acesso a recursos financeiros de órgão de fomento, existe uma diferença entre a importância média atribuída pelos pesquisadores do SESA e do SEAA. Uma possível explicação para essa diferença é o número de pesquisadores com doutorado entre os dois setores. Apenas com os dados dos respondentes essa diferença já se apresenta de forma gritante, já que os respondentes dos SESA apenas 3, dos 21 respondentes possuem doutorado, enquanto que 19, dos 23 respondentes do SEAA possuem doutorado. Esta é uma deficiência histórica do SESA em relação aos outros setores na UNICENTRO, que atualmente incentiva de forma acentuada a formação dos seus docentes. Atualmente existem 15 professores do SESA em programas de Doutorado, o que representa 20,3% dos professores efetivos e 14,9% do total de professores (efetivos e colaboradores) deste setor. Ao perceber essa produção tímida e compreensão restrita do campo de pesquisa, por parte dos pesquisadores do SESA, a UNICENTRO buscou formas de melhorar o nível de investimento em qualificação, auxiliando e buscando facilitar esse processo. Deve-se considerar também que se trata de uma área de conhecimento que está muito ligada às organizações e que, em diversas oportunidades, a opção da pesquisa acadêmica foi vista como tendo um resultado financeiro pouco atraente para os profissionais-docentes.

 Por fim, existem diferenças significativas estatisticamente entre as importâncias atribuídas ao fator redução da carga horária em sala de aula, entre os pesquisadores do SEHLA e do SESA e SEET, respectivamente.  As informações indicam que o fator redução da carga horária é muito mais valorizado no SEHLA em função da carga horária excessiva destinada às orientações de trabalhos de conclusão de curso. Já a baixa valorização deste fator pelos docentes do SESA e do SEET poder ser reflexo das atividades profissionais externas de alguns docentes. Esta suposição não pode ser comprovada e, portanto, carece de uma investigação mais específica.

Tendo em vista que as diferenças entre os agrupamentos foram pequenas e pontuais, considera-se que as análises e inferências podem ser realizadas a partir da amostra total, desde que respeitados possíveis problemas em alguns pontos, como demonstrada até aqui.

4.5 Análise Fatorial

Na sequencia foi feita a análise fatorial exploratória, com vistas a identificar possíveis agrupamentos dos 12 motivadores investigados no estudo. O primeiro teste realizado foi o de Kaiser-Mayer-Olkin (KMO). Kaiser (1974 apud FIELD, 2009, p. 579) destaca “que os valores entre 0,5 e 0,7 são medíocres, valores entre 0,7 e 0,8 são bons, valores entre 0,8 e 0,9 são ótimos e valores acima de 0,9 são excelentes.” O resultado do teste apresentado pelo SPSS foi 0,801 e p = 0,000, conforme demonstrado no Quadro 6. Ou seja, “devemos estar confiantes de que a análise dos fatores é apropriada para esses dados.” (FIELD, 2009, p. 579).

KMO and Bartlett's Test

Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy.

0,801

Bartlett's Test of Sphericity

Approx. Chi-Square

440,272

df

66,000

Sig.

0,000

Quadro 6 – Teste Kayser-Mayer-Olkin (KMO)
Fonte: dados da pesquisa.

A análise seguinte foi a identificação do número de agrupamento que surgiriam nos dados. Na análise do quadro de variância total explicada (gerada pelo SPSS), verifica-se a existência de 3 agrupamentos, fato corroborado pela análise do diagrama de declividade (gerado pelo SPSS). A partir desta análise, foi gerado o Quadro 7, onde constam os motivadores distribuídos em três grupos.

Rotated Component Matrixa

Motivadores do desenvolvimento das pesquisas

Component

1

2

3

01-Relevância do conhecimento envolvido

0,844

 

 

02-Afinidade com o objeto de estudo

0,741

 

 

12-Demanda econômica e/ou social

0,707

 

 

11-Acesso ao conhecimento de outros participantes da pesquisa

0,689

 

 

09-Desenvolvimento de novos conhecimentos

0,679

 

 

08-Vinculação a grupo de pesquisa

0,651

 

 

01-Continuidade de pesquisas anteriores

0,540

 

 

05-Solicitação de terceiros

 

0,795

 

03-Exigência de programa de pós-graduação stricto sensu

 

0,747

 

04-Acesso a Recursos financeiros de órgão de fomento

 

0,662

 

07-Gratificação por Tempo Integral e Dedicação Exclusiva (TIDE)

 

 

0,865

06-Redução da carga horária em sala de aula

 

 

0,819

Extraction Method: Principal Component Analysis.
Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization.

a. Rotation converged in 5 iterations.

Quadro 7 – Motivadores agrupados pela análise fatorial
Fonte: dados da pesquisa.

Analisando os três grupos gerados, é possível fazer algumas inferências. No grupo 1, constam motivadores relacionados a geração de conhecimento ou, de forma mais restrita, as motivações internas (do próprio pesquisador e/ou de seu grupo de pesquisa); por isso este grupo será chamado DESENVOLVIMENTO ESPONTÂNEO DO CONHECIMENTO (DEC). No grupo 2, constam motivadores relacionados às exigências/solicitações externas; por isso este grupo será chamado DESENVOLVIMENTO MOTIVADO DO CONHECIMENTO (DMC). No grupo 3, estão as motivações relacionadas aos incentivos financeiros e nas relações de trabalho, por isso este grupo será chamado BENEFÍCIOS (BEN).

Cabe aqui um esclarecimento quanto à agregação do motivador 12 – demanda econômica e/ou social no grupo DEC. Segundo a percepção dos autores este item foi respondido considerando a existência de demandas que o pesquisador busca, por iniciativa própria, sem se preocupar, num primeiro momento, com possibilidades de acesso a recursos, diferentemente de demandas contratadas, como são os casos de editais de órgão de fomento e de pesquisas contratadas. Ou seja, trata-se de uma iniciativa espontânea de desenvolvimento de pesquisa para suprir necessidades econômicas e/ou sociais.

Para verificar a confiabilidade das escalas de cada agrupamento gerado pela análise fatorial, utilizou-se novamente o α de Cronbach. O resultado consta do Quadro 8.

Reliability Statistics

Cronbach's Alpha

Cronbach's Alpha Based on Standardized Items

N of Items

0,593

0,609

3

Quadro 8 – α de Cronbach dos 3 agrupamentos.
Fonte: dados da pesquisa.

Como já destacado anteriormente, segundo Field (2009, p. 594) “um valor de 0,7-0,8 é aceitável para o α de Cronbach e valores substancialmente mais baixos indicam uma escala não confiável.” No entanto, como o resultado não é substancialmente mais baixo, e acompanhando Cortina (1993 apud FIELD, 2009, p. 595) que diz que este número deve ser usado com cautela, porque números de motivadores maiores nas escalas tendem a fornecer o α maior e, neste caso, os fatores são apenas 3. Por isso, optou-se por considerar que a escala seja aceitável para os propósitos do estudo.

Analisando as médias das importâncias atribuídas aos motivadores componentes de cada um dos grupos, DEC, DMC e BEN, percebe-se que o primeiro apresenta uma média superior aos outros dois (4,07). O terceiro grupo apresenta a segunda média (3,95) e o segundo grupo a menor média (3,43). As médias baixas dos motivadores componentes do grupo DMC já podiam ser visualizadas na Tabela 1, sendo que um dos motivadores foi o que apresentou a menor média dos 13 motivadores inicialmente analisados. Portanto, os valores indicam que os pesquisadores consideram mais como fator motivador para o desenvolvimento das pesquisas os fatores DEC, depois o BEN e por último, com importância bastante abaixa os motivadores DMC.

Essas ponderações indicam que se trata de uma Universidade em desenvolvimento, ou seja, ainda “nova” se considerado o seu tempo de vida. A UNICENTRO tem apenas 20 anos de existência de fato e apenas 13 anos de existência de direito. Ao consolidar-se, a Universidade ainda está construindo um relacionamento estreito com a sociedade, o que demanda um tempo maior de existência, apesar das inúmeras atividades desenvolvidas pela Instituição junto às comunidades atendidas, nas diversas cidades onde existem unidades universitárias. É necessário um maior amadurecimento deste relacionamento para poder identificar com maior qualidade as demandas sociais e formular propostas de soluções adequadas à sociedade. Por se tratar de um corpo docente também em média com pouco tempo de produção, as pesquisas tendem a atender às necessidades dos pesquisadores, por isso, estão ligadas a demandas e perguntas dos pesquisadores. Nesse sentido, a análise indica que só a consolidação e verticalização das diversas áreas poderão fornecer um maior equilíbrio entre os aspectos que motivam os pesquisadores.

Por fim, verificou-se a existência de diferenças estatisticamente significativas entre os agrupamentos propostos inicialmente (gênero, idade, setor, tempo e titulação) nos três fatores. As diferenças estatisticamente significativas foram entre os setores SESA e SEAA no Fator DMC e entre os setores SESA e SEHLA no Fator BEN. Estas diferenças já havia sido indicadas pelas diferenças entre os motivadores encontrados anteriormente e destacadas na Tabela 2. Mesmo com o agrupamento dentro dos três fatores, estas diferenças entre os grupos não foram eliminadas. As justificativas prováveis para as diferenças foram detalhadas anteriormente no motivador específico da diferença.

Percebeu-se, ainda, pela análise da variância (ANOVA) que as variações se concentram (+ 90% para os agrupamentos idade, tempo e setor) dentro do grupo e não entre os grupos, entretanto, para entender o porquê serão necessários novos estudos.

4.6 Outros Motivadores

Caso existisse algum outro fator relevante como motivador das pesquisas, o respondente poderia informar por meio de uma questão aberta, logo após o quadro em que estavam relacionados os motivadores propostos pelos autores. Do total de respondentes, 22 pesquisadores informaram 29 motivos adicionais, dos quais, após análise prévia, 5 foram considerados repetições de algum dos motivadores já incluídos no estudo, mas com outras palavras, e 4 considerados desabafos ou argumentações relacionadas a questão da motivação da pesquisa ou da questão da própria pesquisa na UNICENTRO.

Após a análise detalhada de cada um dos 20 novos motivadores apresentados pelos pesquisadores ao desenvolvimento de suas pesquisas, foi possível identificá-los e agrupá-los em 8 motivadores, conforme Tabela 3.

Tabela 3 – Motivadores adicionais para realização das pesquisas

MOTIVADORES

Nº DE VEZES QUE FOI CITADO

Melhoria da qualidade do ensino

06

Formação de profissionais capacitados

05

Por curiosidade ou por prazer de pesquisar

03

Busca pelo desenvolvimento local e regional

02

Projeção do curso

01

Influência do meio (espelhar-se no exemplo de outros pesquisadores)

01

Exigência da instituição para ascensão no plano de carreira

01

Demanda por pesquisas para atuação de estudantes

01

TOTAL

20

Fonte: dados da pesquisa.

Com relação à melhoria da qualidade do ensino, um dos respondentes argumentou que a pesquisa é “um instrumento de crescimento pedagógico” e outro que a melhoria na qualidade do ensino se dá a partir da pesquisa. Em ambos, a preocupação com um dos aspectos que norteiam a Universidade é o ensino, e a necessidade do mesmo ser melhorado para proporcionar profissionais melhor capacitados ao mercado de trabalho. Isso legitima a preocupação com a baixa eficiência do ensino em alguns cursos, nos quais o ensino parece ser visualizado como um acessório da missão da Universidade. O ponto de equilíbrio entre “ensino”, “pesquisa” e “extensão” é um exercício difícil de ser mensurado, mas o desequilíbrio é assumido como a resposta mais fácil ao descuido com um dos aspectos formadores do tripé que sustenta a Universidade.

Quanto à formação de profissionais capacitados, um dos respondentes destacou que é muito importante “formar profissionais capacitados para a área de ensino e pesquisa” e outro que a pesquisa deve contribuir para a qualidade do ensino na universidade. Deve-se considerar que estes fatores se complementam e a excelência no ensino acaba por motivar a pesquisa de qualidade, e vice-versa. A discussão de que isto é mais importante do que aquilo, não passa de uma ótica linear nublada que não cabe quando se analisa a realidade complexa do ensino superior de um país como o Brasil, ainda carente de tantos fatores básicos para a maioria de sua população e para um desenvolvimento mais justo e equânime.

No caso da curiosidade ou o prazer de pesquisar, um dos respondentes disse que conhece pessoas que, mesmo após terem deixado o ensino (aposentados), continuam pesquisando e que para estes a pesquisa deve ser um “motivo de vida”. Isso denota que o trabalho, em especial a pesquisa, acaba por assumir uma importância maior na vida da pessoa do que as relações profissionais tradicionais denotam normalmente, algumas em geral, na forma de organização social. Essa dimensão profissional diferenciada acaba por determinar atitudes e preocupações que são pouco percebidas no exercício de outras atividades profissionais, gerando um comprometimento pouco comum com o desenvolvimento de novos saberes.

Por último, a busca do desenvolvimento local ou regional difere da demanda econômica e/ou social, incluída no rol de motivadores inicialmente pesquisados pela origem da pesquisa, já que no caso desta pesquisa se origina na busca que a sociedade faz para suprir alguma necessidade ou para resolver algum problema, enquanto que aquele se origina na vontade do pesquisador em resolver um problema ou suprir uma necessidade social. Neste aspecto, um dos respondentes destacou que “[...] a pesquisa pode e deve melhorar uma comunidade, um país, uma região, seja pela via da educação, seja pela produção de tecnologia e contribuições no âmbito da indústria, agropecuária e serviços.” Essa preocupação, em certo sentido funcionalista, acaba por influenciar o perfil econômico da região de atuação da Universidade, proporcionando melhorias e maior movimentação econômica, o que confunde, em muitas oportunidades, com desenvolvimento. Com certeza a oferta de pessoas qualificadas acaba por atrair empresas que demandam mão-de-obra melhor preparada. Contudo, esse movimento de caráter econômico desenvolve-se em prazo maior do que o de existência da UNICENTRO. Esse movimento está em andamento, entretanto, não se pode afirmar ou especular que esteja transformando o desenvolvimento da região ou alterando as suas características e peculiaridades. O tempo para se inferir tal resultado é maior do que se dispõe até o momento.


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Vol. 33 (1) 2012
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