Espacios. Espacios. Vol. 30 (4) 2009. Pág.21
Pólos e Parques de Alta Tecnologia: a quem interessa a implantação desses arranjos institucionais?
Poles and Parks of High Technology: who it interests the implantation of these institutional arrays?
Polos y parques de alta tecnología: ¿quién es el interesado en la implantación de estos arreglos institucionales?
Rogerio Silva y Renato Dagnino
6. À guisa de conclusão
Entender os obstáculos institucionais que se interpõem à utilização da C&T endogenamente produzida pelos países de capitalismo periférico significa evidenciar na análise a maneira como a comunidade de pesquisa entende a C&T e a forma como atua no processo decisório da PCT. O que está em questão, portanto, não é a comunidade de pesquisa vista de forma isolada. É o seu comportamento enquanto ator político no processo de elaboração da PCT (Dagnino, 2007a).
Não se trata de um procedimento de “inclusão” de um ator diferenciado (a comunidade de pesquisa) na análise da PCT brasileira. Trata-se de constatar que no Brasil, e mesmo na América Latina, não está em curso um “processo de diferenciação” entre comunidade de pesquisa e a burocracia (corpo de funcionários dedicados à elaboração da PCT), semelhante a dos países de capitalismo avançado (Dagnino, 2007a).
No Brasil — mais ainda, na América Latina — mais do que nos países de capitalismo avançado, a comunidade de pesquisa é o ator dominante na elaboração da PCT. Pode-se dizer, portanto, que a comunidade de pesquisa influencia sobremaneira o processo elaboração da PCT e, com isso, contempla seus próprios interesses políticos. O poder da comunidade de pesquisa está umbilicalmente ligado à difusão da concepção (aceita pela sociedade de forma geral), de que a C&T, por ser neutra, seria, irrestritamente, universal e benéfica à sociedade.
Analisada a política do PATC, se evidencia que os membros da comunidade de pesquisa são os atores dominantes no processo de elaboração dessa Política, que é compreendida, tanto por esses atores quanto pela sociedade de forma geral, como essencial à formulação da PCT de Campinas e do estado de São Paulo.
De fato, foram os membros da comunidade de pesquisa que não somente construíram o problema público da debilidade da interação entre o potencial de C&T e o desenvolvimento econômico como aquele que os governos deveriam enfrentar como também formularam as propostas para sua resolução.
E, são os PATs, emulados dos países de capitalismo avançado, que o pequeno número de municípios brasileiros (aqueles que têm em seu território um potencial instalado de desenvolvimento de C&T), desde o início da década de 1980 até o presente, busca implantar em seus territórios.
As declarações dos membros da comunidade de pesquisa da Unicamp, de que a implementação do PATC, por estar apoiada no desenvolvimento da C&T, ajudaria a promover o crescimento econômico e, conseqüentemente, o desenvolvimento social do município e da região de Campinas, criaram um “fato político” que permitiu a eles um forte apoio do poder público e dos meios de comunicação.
Fato político que, desde a década de 1980, vem mantendo o apoio do poder público municipal de Campinas, que emprenha seus esforços na promulgação de leis e decretos favoráveis à implantação do PATC, e atraído cada vez mais a atenção dos meios de comunicação, que dão grande destaque às possíveis benesses que esse arranjo pode trazer à sociedade. Atualmente, inclusive, essa Política conta com o forte apoio de membros do poder público estadual, empenhados em estimular não somente o PATC, mas outros arranjos institucionais no Estado.
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