José Augusto da Rocha de Araujo1 y Fernando José Barbin Laurindo2
RESUMO: Muitas empresas, atualmente, disputam acirradamente seus mercados, ao mesmo tempo em que estão avaliando oportunidades em novos negócios com o intuito de participarem da competição global. Neste contexto, cresce a importância da escolha do sistema de produção e da estrutura de tecnologia de informação (TI) que atendam as especificidades das operações, associados à sua estratégia competitiva. Os métodos tradicionais de avaliação de investimentos são motivos de críticas por parte de alguns gestores e pesquisadores, que os consideram ineficazes para a verificação do retorno sobre o investimento em TI. A questão é: por que grandes investimentos em TI não resultam em maiores lucros? Eis o paradoxo da produtividade. Esse artigo verifica como se pode buscar a eficácia de investimentos em TI, analisando o alinhamento das estratégias de negócios e de TI, de acordo com a classificação do grid estratégico proposto por McFarlan (1984), nas questões de como, quando, quanto investir em TI. A metodologia adotada para analisar estes pontos foi a de estudos de múltiplos casos. A pesquisa conclui que definir como investir em TI está associado aos fatores de desempenho físico de softwares e hardwares, a análise de quando investir em TI é relacionada à estratégia de negócios em razão das variáveis de tempo de desgaste da estrutura de tecnologia e mudanças no cenário competitivo do negócio, a avaliação de quanto investir em TI é dependente de verificação econômico financeira visando a equilibrar o custo-benefício do investimento relacionado às oportunidades e as ameaças do ambiente competitivo. Palavra chiaves: Tecnología de informação, Avaliação de investimentos, Estratégia. |
ABSTRACT: |
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A intensa mudança tecnológica introduzida pela globalização nos dias de hoje conduz à discussão sobre a necessidade de as empresas buscarem soluções tecnológicas que viabilizem a integração de suas atividades globais e necessidades regionais. O problema é como integrar suas estratégias de negócios, de produção e a estrutura de tecnologia de informação (TI), sendo esse, em muitos casos, um dos fatores determinantes para a competitividade em nível mundial, de acordo com Gunasekaran e Ngai (2004). A TI atualmente é o sistema nervoso da cadeia de suprimentos, sendo impossível conseguir eficiência coletiva sem o uso inteligente da estrutura de tecnologia de informação. Alguns autores vêem na TI uma maneira de estender as possibilidades estratégicas da empresa (Porter, 2001), ao passo que outros defendem que, principalmente através das aplicações baseadas na Internet, a TI revolucionou a estratégia e a forma de realizar os negócios (Tapscott, 2001). O foco principal dessa mudança está na escolha da estratégia de operações, responsável pelo desenvolvimento eficiente de novos produtos, serviços e processos que viabilize atingir, da melhor maneira, as necessidades e expectativas dos clientes e, conseqüentemente, desenvolver produtos e serviços que adicionem valor de forma mais significativa do que a concorrência (Porter & Millar, 1985).
Por sua vez, os investimentos em TI destinados à escolha da estrutura tecnológica coerente com a estratégia corporativa e produtiva visam aproveitar os avanços tecnológicos e seus efeitos, e assim atingir os ganhos de produtividade, que muitas vezes estão associados aos resultados financeiros (Torres, 1995).
A dificuldade em relacionar o desempenho da empresa com os resultados de investimentos em TI direciona muitas pesquisas na tentativa de proporem soluções que orientem as empresas na escolha do melhor caminho para implantação de estruturas de TI.
Normalmente, cada investimento em tecnologia de informação possui características próprias oferecendo uma ampla gama de benefícios e custos, assim, diferentes técnicas podem ser utilizadas para avaliar o sucesso do investimento limitando a padronização de um método (Gunasekaran et alli., 2001).
Investimentos em TI são significativos, e os resultados muitas vezes são percebidos somente a longo prazo. Muitas vezes tais investimentos devem estar relacionados a outros investimentos complementares, envolvendo aspectos organizacionais para que possam garantir um crescimento da produtividade da empresa (Brynjolfsson & Hitt, 1998; Burn & Szeto, 1999; Jiang & Klein, 1999; Li & Ye, 1999; Torres, 1995). Isto se torna progressivamente mais importante na medida em que simplesmente usar TI não garante mais vantagem competitiva (Carr,2003), pois seu uso já está muito disseminado. Assim, é crítico que o uso da TI seja diferenciado e que esteja alinhado à estratégia de negócios da empresa.
Dessa forma, é necessário um planejamento visando à formulação de uma estratégia competitiva. Porter (1979) avalia que a intensidade da competição em uma indústria depende de cinco forças: compradores, fornecedores, produtos substitutos, novos entrantes e a rivalidade entre os competidores atuais. Portanto, destaca que é importante a empresa inicialmente identificar quais as forças competitivas mais significativas da indústria na qual tal empresa atua, para formular uma estratégia combinando eficientemente os recursos disponíveis e, criar produtos e serviços que atinjam as exigências do mercado. Por sua vez, visando a sustentação à estratégia corporativa, é necessário configurar uma rede de informações e de uso da tecnologia que contribua para a competitividade em conformidade com a estratégia de operações escolhida, e assim conseguir vantagem competitiva sustentável a longo prazo (McFarlan, 1984; Porter & Millar, 1985).
Esse artigo visa analisar como se pode buscar a eficácia de investimentos em TI, analisando o alinhamento entre as estratégias de negócios e de TI, conforme a classificação do grid estratégico proposto por McFarlan (1984), nas questões de como, quando, quanto investir em TI.
Para investigar estes conceitos, neste artigo foi adotada a abordagem metodológica de estudo de caso para o desenvolvimento da pesquisa (Yin, 1991; Claver et al., 2000). Cinco empresas de diferentes setores de atividades foram selecionadas e estudadas.
A expressão tecnologia de informação, segundo Torres (1995), é conceituada como qualquer tipo de tecnologia que opere com informação, seja um sistema de informação, a automação de um processo industrial, a comunicação entre computadores, ou ainda o uso pessoal de recursos computacionais. Francalanci (1989) resume TI como um conjunto de tecnologias coordenadas que possibilitam a transmissão de informações através do tempo e espaço. Weil (1992) define TI como o uso de hardware e software, telecomunicações, automação, recursos multimídia e todos os outros recursos de pessoal, incluindo treinamento, quer centralizados quer descentralizados, sem deixar de considerar os sistemas de informação, serviços, negócios, usuários e as relações complexas envolvidas.
No que se refere aos impactos que a TI pode ter nos negócios e nas estratégias empresariais, as aplicações de TI podem afetar a competitividade da empresa em três caminhos (Porter & Millar, 1985): tendem a mudar a estrutura industrial, alterando as regras da competição; criam vantagens competitivas sobre os concorrentes; facilitam a criação de novos negócios.
Os executivos precisam identificar as chaves do sucesso do negócio, entender quais são as forças competitivas da empresa e como sua estrutura de TI está afetando e contribuindo para o sucesso da corporação (Porter & Millar, 1985).
McFarlan (1984) verifica a existência de benefícios decorrentes do impacto estratégico da TI adotada, de acordo com as forças competitivas de Porter: estabelecer barreiras a novos competidores; influenciar trocas de fornecedores, bem como alterar o poder de barganha; alterar a base da competição em custo ou diferenciação; alterar o poder de barganha nas relações com os compradores e gerar novos produtos.
Neste artigo, serão analisadas as variáveis que influenciam a tomada de decisão sobre os investimentos de TI, focalizando uma avaliação além de fatores financeiros e partindo da premissa de que a decisão sobre a estrutura de TI pode influenciar o resultado da empresa.
O grande desafio de qualquer empresa sobre “como investir” está em atingir os objetivos estabelecidos pela sua missão, e o sucesso estará diretamente relacionado à capacidade da organização em responder adequadamente ao seu ambiente (interno e externo) e a suas mudanças.
Na avaliação de investimento em TI, primeiramente, é necessário analisar o modelo organizacional e os objetivos estratégicos, identificando as alternativas viáveis para o alinhamento entre as estratégias de negócios e as estratégias de TI (Henderson & Venkatraman, 1993, entre outros).
Nessa análise da definição dos objetivos, é necessário estabelecer um conjunto claro e priorizado dos critérios do desempenho competitivo, além de um planejamento do futuro, focando as principais capacidades e competências que precisam ser desenvolvidas, de cujo sucesso dependerá do estabelecimento de uma imagem firme a respeito dos clientes atuais, potenciais e suas necessidades (Slack, 1989).
Nessa fase de avaliação, é preciso conhecer o ambiente competitivo no qual a empresa atua para escolher as estratégias. A partir daí, analisar as alternativas, direcionando quais atenderiam às necessidades do projeto. Entretanto, não é possível considerar apenas os aspectos de curto prazo ou, ainda, encontrar soluções apenas que resolvam problemas imediatos, já que são as competências de longo prazo que sustentam a estratégia competitiva da empresa (Skinner, 1974; Prahalad & Hamel, 1990).
O ambiente impõe restrições à atuação da empresa, estabelecendo condições a serem atendidas para se conseguir sucesso. Essas condições podem ser fatores críticos de sucesso; às vezes, alguns desses fatores devem ser atendidos mesmo em detrimento de outros fatores (não críticos), para que os objetivos empresariais sejam alcançados. Portanto, caso esses fatores críticos de sucesso não sejam satisfeitos, a obtenção dos objetivos empresariais definidos poderá ser impossibilitada (Rockart, 1979).
“Como investir” pode ser conceituado como uma reflexão da empresa sobre quais são os elementos necessários para o sucesso corporativo e uma avaliação dos impactos da estratégia de TI em função da eficácia de sua gestão.
Existe uma preocupação em distinguir os conceitos de eficácia e eficiência para entender melhor os resultados dos investimentos e da utilização dos sistemas de informação. A eficiência está atrelada ao consumo dos recursos no sistema e caracterizada pela relação entre a previsão e a realização, por outro lado, define-se a eficácia como a relação entre os resultados alcançados e os objetivos propostos (Drucker, 1963; Sink & Tuttle, 1989).
Laurindo (2002) avalia os conceitos de eficiência e eficácia sob a ótica da utilização dos sistemas de informação. O autor exemplifica a eficiência da utilização de um sistema de informação como sendo a implantação de um sistema com o menor custo ou, então, o desenvolvimento de um sistema de informação de acordo com o levantamento efetuado. Por sua vez, eficácia seria desenvolver e implantar as aplicações que impactem positivamente nos resultados da empresa, ou seja, que contribuam para o aumento de sua competitividade.
“Como investir ou de que maneira investir”, portanto, seria o resultado da escolha do método ou aplicação de TI eficaz que satisfaça às necessidades para uma maior competitividade, proporcionando seu melhor uso e criando vantagem competitiva. É, pois, uma questão intrinsecamente ligada ao alinhamento estratégico entre TI e negócio (Henderson & Venkatraman, 1993; Luftmann, 2001).
1 Doutorando do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. e-mail: jose.augusto@poli.usp.br
2 Prof. Associado. do Depto. de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. e-mail: fjblau@usp.br