Vanderli Correia Prieto*, Fernando José Barbin Laurindo**, Marly Monteiro de Carvalho***
RESUMO: Este trabalho discute o processo de tomada de decisão para seleção de ambientes de aprendizagem a distância no contexto do ensino superior brasileiro. Foram identificados critérios considerados relevantes para escolher os ambientes de aprendizagem, dentre eles a facilidade de utilização pelo professor e a necessidade de código aberto. Utiliza-se a metodologia de estudo de caso e, como apoio ao processo de decisão multi-critério, o método AHP - Analytic Hierarchy Process. A situação do ensino superior a distância no Brasil e a complexidade do processo de tomada de decisão em tecnologia de informação também são considerados. |
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ABSTRACT: This work discusses the decision making process applied to distance learning environment selection in the context of the Brazilian high degree education. Some considered relevant criteria for choosing learning environments had been identified. Among them the easiness of use for the professor and the need of open code. It is used methodology of case study and as multi-criterion support decision, the AHP Analytic Hierarchy Process. The situation of high degree distance education and the complexity of the decision making process in the Information Technology also are considered. |
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A TI vem ocasionando mudanças significativas na área de educação, inicialmente percebidas no ambiente da sala de aula e, mais recentemente, no posicionamento estratégico das instituições de ensino.
Um levantamento sobre o uso da tecnologia em sala de aula (AlHashim; Sankaran; Weiss; 2003), mostra como os avanços foram significativos a partir da segunda metade do século 20. Até os anos 50, os recursos utilizados eram o giz, o quadro negro e a aula expositiva. Nos anos 80, aplicativos em ambiente DOS, como processadores de textos, bancos de dados e planilhas ampliaram o uso dos computadores no currículo escolar, com as universidades introduzindo laboratórios para uso das novas tecnologias. Especialmente a partir dos anos 90, com a popularização do ambiente Windows, uma nova geração de alunos veio para as salas de aula, com possibilidade de acesso individualizado ao computador e sem bloqueios quanto à exploração das possibilidades da nova ferramenta. O surgimento do Power Point e de outros softwares de apresentação, acoplados ao uso de projetores data-show tornaram-se alternativas para que o processo de ensino-aprendizagem pudesse ser mais prático, dinâmico e visualmente atrativo.
A grande mudança para o processo formal de educação se deu com a conexão rápida (internet) e o ambiente web (WWW). O acesso à informação transcendeu os limites da sala de aula. Cursos em CD-ROM, tutoriais e soluções específicas para o desenvolvimento de cursos via WEB tornaram realidade a possibilidade do ensino não presencial e ampliaram o acesso a novos mercados.
Depois de promulgada a Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB), em 1996, que permitiu a entrada de empresas com fins lucrativos no setor educacional, o Brasil experimentou um crescimento acelerado na abertura de escolas, especialmente faculdades, universidades e escolas técnicas. Dados do INEP (2000) demonstram que em 1985 existiam 859 instituições de ensino superior no Brasil. Em 2000 eram 1180, 60% delas privadas. O número de cursos oferecidos nesse período aumentou 170%. O número de alunos matriculados na graduação, de 1994 para o ano 2000 aumentou em 62%.
O Brasil vive hoje um paradoxo. O número de vagas existentes é insuficiente considerando que apenas 54% dos estudantes do nível médio ingressam no curso superior. E mesmo as vagas existentes não são preenchidas. Somente 70% das vagas oferecidas no ensino superior são ocupadas. A demanda existente provém dos públicos das classes sociais ‘C’ e ‘D’, predominado a busca por um ensino a um custo menor do que é oferecido.
Neste contexto, o Ensino a Distância tem sido considerado como uma alternativa para suprir o déficit de vagas no nível superior de educação, dada a demanda potencial, e viabilizar o acesso à formação educacional em um país de dimensões continentais.
A EAD cumpre também um importante papel no aperfeiçoamento do processo pedagógico, tendo sido utilizada para capacitação e atualização dos profissionais da educação e para formação e especialização em novas ocupações e profissões. Um exemplo é o Programa de Formação Universitária que teve como objetivo a graduação em nível superior de 6.300 professores de 1ª a 4ª série da rede pública estadual, em consonância com o previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: a formação em nível superior para o exercício do magistério nas primeiras séries do Ensino fundamental com prazo até o ano de 2006. A EAD, tanto cumpriu o papel de atender uma demanda existente quanto contribuiu na valorização de uma pedagogia mais moderna, tendo sido estruturado de forma a romper com a estrutura de disciplinas tradicional e valorizando a integração das diversas áreas do conhecimento (Scavazza & Sprenger, 2003; Lobo Neto, 2004).
A Educação a Distância encontra-se regulamentada pelas novas regras da LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que permite às Instituições de Ensino Superior oferecer 20% de suas aulas no formato não presencial ou transformar cursos de graduação em formato basicamente digital, com 80% das aulas a distância.
Estudo realizado no segundo semestre de 2002, pelo Iesalc, fez um levantamento da situação do Ensino a Distância no país. Os resultados apontam que a EAD realmente cresceu, mas, ao contrário do que se esperava, ficou restrita aos grandes centros, onde já está a maioria dos cursos de graduação.
Segundo o estudo, existem atualmente 84.397 alunos de cursos superiores ministrados a distância (figura 01). No ensino presencial, são 3.030.754 alunos (quadro 01). Vianney, autor do estudo, pondera que apesar do número de alunos no EAD parecer pequeno, o primeiro curso superior a distância brasileiro foi criado em 1995, pela UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso), o que representa um início tardio, porém com uma evolução rápida. Após sete anos de desenvolvimento, o Brasil já é um dos cinco maiores produtores mundiais de softwares para educação a distância e conteúdos on-line.
Esperava-se que a Internet fosse a ferramenta utilizada para aumentar o acesso de alunos ao EAD, mas apenas 850 dos 5560 municípios brasileiros contam com um provedor de acesso à internet, o que significa que se um habitante das 4710 cidades restantes quiser se conectar a rede precisará fazer uma ligação interurbana, aumentando ainda mais o já elevado custo. O efeito é inverso ao que se esperava e o interior acaba sendo excluído do processo.
Está em andamento um programa que deverá diminuir esta defasagem. Em Janeiro de 2004 foi criado o SDC Serviço de Comunicações Digitais que utiliza recursos do FUST Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações e tem a meta de prover acesso à internet em banda larga para todas as escolas públicas até 2009. O FUST, previsto na Lei Geral de Telecomunicações, foi aprovado em agosto de 2000, com a finalidade de levar infra-estrutura tecnológica a escolas, bibliotecas e hospitais. Havia uma previsão de que até o final de 2003 as escolas públicas e profissionalizantes estivessem informatizadas, o que não aconteceu. Na época, o fundo contava com R$ 3 bilhões de reais acumulados e não liberados (Computerworld, 2004).
Figura 1
Os números do ensino de graduação a distância
Fonte: EAD no topo da pirâmide. 2004.
Dentre as várias iniciativas para oferecer cursos a distncia, destaca-se a proposta da Universidade Virtual Brasileira (UVB), formada por um grupo de dez instituições particulares do país, que j realizou seu primeiro vestibular para graduação a distância em Ciências Econmicas, Secretariado Executivo e Administração e Marketing. As aulas serão ministradas em tempo real, por meio de computador, para 30 alunos por “sala”. Ao final do semestre, o aluno precisa comparecer a um dos campi para realizar uma prova.
Destaca-se, também, a iniciativa do Governo Federal que lançou a Universidade Virtual Pública do Brasil, UniRede, um consórcio de 70 instituições de ensino superior que oferece cursos de educação a distância, cuja prioridade, no momento oferecer cursos de licenciatura para professores em diversas áreas do ensino.
Quadro 1
Comparação entre os números do
ensino presencial e a distância
Fonte: EAD no topo da pirâmide. 2004.