Geciane S. Porto , Flavia Oliveira do Prado y Guilherme Ary Plonski
A pesquisa realizada foi um levantamento descritivo, com amostragem não probabilística de voluntários, que segundo Kerlinger (1981), Mazzon (1981), é uma solução viável para as pesquisas em ciências sociais, pois permite um aprofundamento da análise com um intensivo exame das variáveis e seus indicadores correspondentes, além de possibilitar a generalização das conclusões a serem obtidas para outras organizações.
Neste estudo foram enviados 44 questionários estruturados pelo correio e/ou pela Internet para as empresas fabricantes de equipamentos, integrantes do relatório Panorama Setorial da Gazeta Mercantil (2001); as quais, segundo Fransman (2001) compõem o nível 1 do setor de telecomunicações. A amostra final foi constituída de 23 respostas válidas, dos executivos de P&D, tecnologia ou inovação destas empresas.
A análise utilizou técnicas de estatística descritiva, em razão do pequeno número de empresas que compuseram a amostra e a análise fatorial com o propósito de verificar quais são os principais fatores que contribuem para projetos em parceria com os centros de pesquisa/universidades no setor de telecomunicações. Segundo Pereira (1999:123), “a análise multivariada deve ser considerada pelo pesquisador tanto por cautela contra erros de interpretação quanto por oportunidade de revelar informações não imediatamente aparentes numa análise mais simples”.
No que diz respeito à origem do capital social das empresas, elas foram diferenciadas entre as de origem nacional e internacional. Como a maioria das empresas do setor de telecomunicações são multinacionais, o resultado obtido está de acordo com o esperado, ou seja, 65,2% das empresas são estrangeiras e 34,8% são nacionais.
Ao classificar as empresas pelo principal sub-setor de atuação segundo a CNAE (Código Nacional das Atividades Econômicas do IBGE), constatou-se que 39% das empresas atuam no sub-setor 32.21-2, ou seja, principalmente na produção de centrais telefônicas, 35% atuam no sub-setor 32.22-0, referente a fabricação de aparelhos telefônicos e 17% atuam no 64.20-3, referente a telecomunicações.
Embora o setor de telecomunicações seja associado mais freqüentemente a empresas de grande porte, 48% das respondentes são de médio porte (entre 101 a 500 empregados) e 44% de grande porte (mais de 500 empregados) no que se refere ao nº de empregados.
A média de faturamento das empresas é de U$$ 227.375.000. No entanto, há uma grande variância, uma vez que as empresas apresentaram faturamento desde U$$ 1 bilhão até U$$ 2,5 milhões de dólares no ano de 2001.
A maioria das empresas, 87%, possui área de P&D contra 13% que não tem esta área formalizada na empresa. Na estrutura organizacional a área de P&D ocupa status de gerência em 50% dos casos e em 30% é diretoria.
No que se refere ao processo de tomada de decisão na área de P&D sobre a realização de cooperação para desenvolvimento tecnológico com as instituições que são fontes de tecnologia, em 35% das empresas, a formalização é muito elevada; em 26% a formalização é média e em 22% a formalização é total.
Com relação a existência de atividades de apoio para a coleta de informações a serem disponibilizadas aos gerentes de projetos realizados com essas fontes externas, 48% das empresas possuem muito suporte e 22% suporte parcial. As evidências destacadas indicam a existência de P&D de 3ª geração em um número expressivo de empresas do setor de telecomunicações.
A média do número de funcionários que trabalham em atividades tecnológicas de P&D&E (pesquisa e desenvolvimento e engenharia não rotineira) é de 60 pessoas em tempo integral, com uma grande variância. Há empresas que possuem 452 funcionários trabalhando tempo integral e na mesma amostra há empresas que não possuem nenhuma pessoa trabalhando, nem mesmo em período parcial. O mesmo acontece com os funcionários que realizam estas atividades em tempo parcial, a média de funcionários é de 50 pessoas e a empresa que apresentou mais funcionários nesta categoria foi de 1000 pessoas.
Isto indica que há uma grande diversidade em termos da infra-estrutura de P&D em cada empresa, o que deverá impactar diretamente nos resultados. Esta variância também pode ser decorrente da estratégia tecnológica de cada organização, possivelmente há empresas com direcionamento tecnológico bem definido que buscam desenvolver projetos com conteúdo tecnológico no país, enquanto outras organizações não têm esta prioridade, provavelmente adquirindo toda a tecnologia necessária de fontes externas.
O percentual aproximado do faturamento bruto resultante de novos produtos lançados, que indica o grau de inovação das empresas, encontra-se na tabela 1. Percebe-se que o maior volume do faturamento advém de produtos novos lançados entre 13 e 36 meses no mercado. Isto pode indicar que independentemente da origem da fonte de inovação, as empresas têm uma preocupação constante em renovar o seu mix de produtos.
Para uma análise mais profunda, separou-se da amostra apenas empresas que obtiveram faturamento com produtos lançados há menos de 36 meses no mercado (3 anos). Utilizando-se a mediana (40%) para separar as empresas em 2 grupos. O primeiro grupo ficou com a média do faturamento de 17%, sendo denominado como empresas menos inovadoras. O segundo grupo foi denominado como empresas mais inovadoras, apresentando em média 52,67% do faturamento gerado por produtos lançados há menos de 3 anos no mercado.
As empresas investem em média 5,3% do seu faturamento bruto com atividades tecnológicas (gastos com P&D&E). Esse valor já era esperado devido à obrigação da lei de informática nº 10.176/01, ou seja, 5% do faturamento bruto da empresa deve ser investido em P&D, o que indica um cumprimento formal da lei, com raras exceções que buscam desenvolver uma atividade tecnológica mais intensiva no país. O que nos leva a reflexão se a extinção da lei nº 10.176/01 não levaria a um abandono e /ou transferência dos investimentos para outras regiões. Além disso, cabe ressaltar a grande importância do governo na elaboração de políticas públicas para incentivar cada vez mais o P&D nacional. Uma vez que parece que as empresas deste setor ainda não assumiram em definitivo o investimento em P&D&E no país.
Fazendo um cruzamento entre os percentuais de lançamento de novos produtos pelas empresas e o percentual aproximado do total dos investimentos com atividades tecnológicas, pode-se concluir que as empresas que investem de 5 a 9%, possuem uma média de 45,17% do faturamento advindo de produtos lançados com menos de 36 meses no mercado e aquelas que investem mais de 9%, tem em média de 73,5% do faturamento originado de produtos novos. Constata-se assim, que as empresas que mais investiram em P&D foram aquelas cujo faturamento foi gerado por produtos mais jovens, o que indica seu potencial inovador.