ISSN 0798 1015

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Vol. 41 (Nº 11) Ano 2020. Pág. 13

Relação interpessoal, inteligência emocional: impacto ou influência no processo ensino aprendizagem na visão docente

Interpersonal relationship, emotional intelligence: impact or influence on the learning process in the teacher vision

LIMA, Jucileide C. P. 1; SOUZA, Luciana L. 2; LIMA, Maria L. T. 3; OLIVEIRA, Margarete M. G. T. 4; OLIVEIRA, Hildegard R. 5; COUTINHO, Diógenes José Gusmão 6

Recebido: 07/11/2019 • Aprovado:15/03/2020 • Publicado: 02/04/2020


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados e discussão

4. Conclusões

Referências bibliográficas


RESUMO:

Este artigo tem como objetivo geral analisar a práxis docente no contexto da relação interpessoal e da inteligência emocional no processo ensino aprendizagem. Iniciou-se, metodologicamente, por meio do levantamento bibliográfico, tendo como objeto de estudo exploratório descritivo e a abordagem quali-quantitativa. Conclui-se que, quando há o aprimoramento da práxis no que diz respeito ao desenvolvimento social e emocional, ambas as funções se incorporam aperfeiçoando todos os outros aspectos humanos. Palavras-chave: Práxis docente. Relação Interpessoal. Inteligência emocional. Ensino aprendizagem.
Palavras chiave: Práxis docente. Relação Interpessoal. Inteligência emocional. Ensino aprendizagem.

ABSTRACT:

This article aims to analyze the teaching praxis in the context of interpersonal relationship and emotional intelligence in the teaching-learning process. It began methodologically through bibliographic survey, having as object of descriptive exploratory study and the qualitative and quantitative approach. It follows that when praxis is improved with respect to social and emotional development, both functions are incorporated by perfecting all other human aspects.
Keywords: Teaching praxis. Interpersonal relationship. Emotional intelligence. I teach learning.

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1. Introdução

Este artigo tem o propósito de refletir sobre a relação interpessoal e a inteligência emocional no contexto escolar e se referidos fatores influenciam no processo de ensino aprendizagem. As atitudes e finalidades para uma formação cidadã mais justa, humana e transformadora tem a ver com a práxis docente, de modo que o ambiente escolar privilegie o respeito e a diversidade de opiniões de todos os envolvidos no processo educacional. 

O ser humano cresce, define sua personalidade e seu modo de se portar e agir no convívio familiar e social, sob a influência dos aspectos culturais da sociedade. Por conseguinte, a formação do indivíduo também depende das instruções apreendidas no âmbito escolar e no relacionamento com todos que compõe tal ambiente.

O ambiente escolar é um local de socialização do saber, troca de emoções, experiências e aprendizagens não só entre professor/aluno ou vice-versa, mas entre todos os envolvidos no processo educacional, e por conseguinte, é importante que todo o processo de socialização e de troca seja harmonioso e agradável.

Contudo, os traços de cada ser humano são distintos, pensa-se e agi-se de forma própria, por isso, o respeito às diversidades de pensamentos deve ser relevante, pontuado e desenvolvido. O planejamento escolar deve ser elaborado sempre pensando no coletivo, mas respeitando o individual.  

Para que a aprendizagem se desenvolva significativamente, é nessário que haja a aceitação do coletivo de linguagem no âmbito escolar. Isto quer dizer que é essencial que os discentes tenham uma relação interpessoal que lhes favoreça para que todos os outros sentidos estejam em equilíbrio. 

Logo, a presente pesquisa tem por finalidade demonstrar que a ação docente é primordial para o ambiente tornar-se favorável no processo de ensino e aprendizagem, pois sua práxis deve ser oriunda de fatores e de propósitos transformadores da realidade, de fazer com que esta realidade se torne benéfica na construção do saber.

Para nortear esta pesquisa foi indagado: Quais os aspectos que beneficiam o ensino aprendizagem quando se dá relevância às relações interpessoais e ao fator das emoções? Na sociedade contemporânea há novos requisitos ao trabalho do docente, não sendo apenas a transmissão do conhecimento como era entendido tempos atrás, mas há a necessidade do aprimoramento de sua práxis no que diz respeito ao desenvolmento social (relação interpessoal) e emocional (inteligência emocional), e quando ambas as funções se incorporam ocorre o desenvolvimento em todos os apectos do ensino e da aprendizagem.

Isto posto, este artigo tem como objetivo geral: analisar a práxis docente no contexto da relação interpessoal e da inteligência emocional no processo ensino aprendizagem. De modo específico, propõe: identificar os fatores relevantes da relação interpessoal que influênciam o ensino aprendizagem; caracterizar a importância da inteligência emocional a fim de compreender a função das emoções para a aprendizagem.

Em termos estruturais, este estudo se respaldou, inicialmente, por meio do levantamento bibliográfico, tendo como metodologia o critério de natureza aplicada, o objeto de estudo exploratório descritivo e a abordagem quali-quantitativa. O levantamento de dados se deu mediante questionário estruturado, aplicado aos docentes. O campo de pesquisa intercorreu em uma cooperativa em educação, Colégio Terceiro Milênio, localizado no interior do Estado de Pernambuco.

E para o desenvolvimento desta pesquisa os autores, adiantes citados, convergem com o estudo em questão: Silva e Silva (2018), Reali e Medeiros (2014) , Antunes (2007) , Perrenoud (1999) , dentre outros.

Os seres humanos sempre estão em busca, nunca estão prontos, necessitam uns dos outros para realizar suas trocas e exercer suas vontades resultando em aprendizagens. Desta forma, aprende-se com o outro, com a outra cultura, com o diferente, e assim sendo, a singularidade de cada um se completa.

1.1. A importância da relação interpessoal e socioemocional no âmbito escolar

A instituição escola é pontuada por Buosi (2009)  como o ambiente basilar e fundamental para a formação da vida em coletividade, das relações grupais e, portanto, das relações interpessoais. É nesse ambiente que há o recebimento das regras e normas, a troca de valores, informações e experiências entre os indivíduos, dos tantos modos de vida diferenciados, produzindo e compartilhando conhecimentos.

Nos tempos atuais, vivem-se ininterruptas mudanças, em ritmos acelerados e em consequência das inovações constantes, aumentaram as competições entre as pessoas tornando o convívio social bem mais complexo. Logo, há a necessidade de mais atenção dos profissionais da educação que trabalham com a relação interpessoal de crianças e adolescentes.

Esses discentes que estão em formação necessitam compreender a importância da relação interpessoal, da empatia, da compreensão com o próximo, e como diz Antunes (2007, p.09) : “entende-se por relações interpessoais o conjunto de procedimentos que, facilitando a comunicação e as linguagens, estabelece laços sólidos nas relações humanas”.

Em tempos atrás, a escola era considerada um local de apenas transmitir conhecimentos, tempo em que foi possível pensar que docente e discente viviam mundos absolutamente diferentes, cruzavam-se com um único objetivo um para falar - transmitir conhecimento e o outro para ouvir - assimilar as instruções.

No contexto atual, a escola tem importante função na relação interpessoal e também com o socioemocional; seu papel passa a ser de uma educação transformadora, harmoniosa, não apenas considerando a aprendizagem sistemática, mas observando o ser humano como um todo, o aprender com o outro, de respeitar e compreender o colega, o convívio saudável, expandindo assim os requisitos característicos da práxis docente.

A práxis docente, neste contexto, representa a prática em permanente ação, ou seja, considerar que as atividades cotidianas do docente não sejam só conduzir o processo de ensino aprendizagem, mas que durante sua vivência no ambiente escolar, enfatizem a relevância do bom convívio social, do desenvolvimento benéfico da relação interpessoal.

A escola deve trabalhar as relações interpessoais para desenvolver no aluno uma visão sistêmica da escola e de seu papel, mas também para facilitar sua integração com a comunidade, professores e colegas através de uma colaboração confiante e pertinente. Visa também desenvolver habilidades para administrar as próprias emoções e compreender as emoções dos outros e identificar todos os contornos de um efetivo autoconhecimento (ANTUNES, 2007, p.47)

O autor reafirma a necessidade de a escola trabalhar os conhecimentos sistemáticos não esquecendo o outro lado, o social e o emocional. O comportamento social deve também ser diligenciado, observado e desenvolvido na sala de aula para a boa integração na escola e em sociedade.

Assim também são as emoções, quando estão equilibradas e estruturadas, geram todo um processo motivacional, colaborativo, criativo e perseverante. E, quando as emoções não são trabalhadas, possibilita a falta de atenção, de memorização, causando também insegurança e conflitos interpessoais.

Em razão disto, o docente necessita ter a conscientização da importância de sua práxis na formação discente, pois é por meio de sua função que se transformam vidas. Sua atuação excede os limites de sua formação acadêmica. Mediante a relação profícua entre docente-discente, poder-se-á conceber uma estrutura positiva do potencial discente e levar a um impacto assertivo no processo ensino aprendizagem.

Convergindo com o descrito, Pinto (2014, p.15)  enfatiza que: “O professor enquanto um facilitador da aprendizagem torna-se autêntico e verdadeiro em sua relação com os alunos, respeitando seus pensamentos e atuando dentro da realidade de cada um”.

A aprendizagem para ser legítima requer atitudes diferenciadas, positivas na relação entre aquele que “facilita” a aprendizagem e aquele que “aprende”, esta é a interpretação de Zimring (2010) que acrescenta:

A compreensão do outro, profunda e autêntica, constitui um elemento a mais que contribui para criar um clima próprio para a autoaprendizagem fundada sobre a experiência. Quando aquele que ensina é capaz de compreender as reações do estudante no seu íntimo, de perceber a maneira como nele repercute o processo pedagógico, aí a probabilidade de uma aprendizagem autêntica torna-se ampliada. (...) É possível ouvir milhares de relatos mostrando a maneira como as coisas se passam nas salas de aula sem encontrar um único exemplo de empatia fundada sobre a compreensão dos sentimentos do outro e demonstrada claramente. No entanto, quando ela existe, seu efeito desencadeador é extraordinário (pp. 111-112).

O autor ressalta que, quando se instaura um processo de comunicação efetiva entre docente e discente, a transmissão de conhecimentos e a troca de saberes acontecem naturalmente, de maneira integral. Exercer a empatia na relação interpessoal propicia o ensino e, consequentemente, o aprendizado, pois desperta o interesse e facilita a compreensão dos conteúdos, haja vista o bom relacionamento existente em sala de aula.

Nesse movimento, nesta ação do docente, dá-se a capacidade de interagir de forma construtiva, potencializando competências por meio do autoconhecimento. Resolver conflitos, saber enfrentar situações que envolvem pessoas que pensam, agem e reagem de formas diversas, trata-se de competências interpessoais, o que é fundamental na práxis docente.

Perrenoud (1999, p.15)  descreve que “competência não é somente saber agir, mas fazer acontecer o momento para agir de forma eficaz, sustentados em conhecimentos, mas, sem se restringir a eles”.

A função docente é extremamente importante na formação cidadã. Um planejamento bem elaborado, desenvolve no ensino um processo em que, ao mesmo tempo, se trabalha o social, o individual e o coletivo, e com isso, o equilíbrio das emoções. “O desenvolvimento da inteligência emocional nas escolas favorece a empatia, que favorece o altruísmo e a condução pró-social”. (SILVA e SILVA, 2018, p. 24)

Por isso, entende-se que a prática do ensino firma a procura pelo conhecimento, proporciona a conscientização do indivíduo sobre sua existência e sobre a sua função no processo de construção do conhecimento.

Na prática educativa lidamos com gente, com crianças, adolescentes ou adultos. Participamos da sua formação. Ajudamo-los ou os prejudicamos nesta busca estamos intrinsecamente a eles ligados no seu processo de conhecimento. Podemos concorrer com nossa incompetência, má formação, irresponsabilidade, para o seu fracasso, mas podemos, também, com nossa responsabilidade, preparo científico e gosto do ensino, com nossa seriedade e testemunho de luta contra injustiças, contribuir para que os educandos vão se tornando presenças marcantes no mundo (FREIRE, 1996, p.47).

Freire define o ensino como uma provocação do autor, pois é através do ensino que o docente trabalha de forma significativa as relações interpessoais, para isso o docente deve ser um constante pesquisador, inovador, estrategista e assim tornar o ambiente de sala de aula favorável ao ensino e à aprendizagem.

2. Metodologia

O estudo iniciou-se, metodologicamente, por meio do levantamento bibliográfico, com o exame minucioso de livros, artigos, dissertações e monografias, estes últimos obtidos por sites acadêmicos, pois segundo Oliveira (2005)  a pesquisa bibliográfica é uma maneira de estudar e analisar documentos de controle científico e sua vantagem principal é um estudo direcionado às fontes científicas.

O objeto de estudo é exploratório descritivo. É exploratória porque significa que o que está sendo percebido ou constatado é esclarecido por um estudo já existente, ou se estabelece uma base para prováveis pesquisas; é descritiva porque tem a intenção de exclarecer sobre um tema e é pré-planejado por existir uma base definida.

E quanto à abordagem, este estudo é classificado como pesquisa quali-quantitativa. O estudo é considerado qualitativo porque há um ambiente natural como princípio direto de dados, bem como seu principal instrumento é o pesquisador.

Por conseguinte, é também considerada quantitativa porque “a quantificação abrange um conjunto de procedimentos, técnicas e algoritmos destinados a auxiliar o pesquisador a extrair de seus dados subsídios para responder à(s) pergunta(s) que o mesmo estabeleceu como objetivo(s) de seu trabalho”. (FALCÃO e RÉGNIER, 2000, p.232)

Sendo assim estabelecida como pesquisa de abordagem mista, visto que abrange um projeto que trabalha conjuntamente os dois métodos demandando um maior esforço e reflexão do pesquisador para dar mais entendimento ao conteúdo levantado e analisado (GATTI, 2004).

Com a pesquisa de campo, obteve-se o levantamento dos dados procedendo-se mediante questionário estruturado aplicado aos docentes que lecionam no Ensino Fundamental anos iniciais.

Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles. (...) Consiste na observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados a eles referentes e no registro de variáveis que se presume relevantes, para analisá-los (LAKATOS, 2003, p. 186).

Enfim, a autora esclarece que, com a pesquisa de campo, o investigante é favorecido por ter a oportunidade de entender com mais exatidão o ambiente, a origem dos fatos e os dados pesquisados, haja vista unir dois fatores característicos: o contato direto com os participantes e a colheita das informações, propiciando uma franqueza aos dados pesquisados.

2.1. Caracterização do campo de pesquisa

O campo de pesquisa se deu em uma Cooperativa de Trabalhadores em Educação, denominado Colégio Terceiro Milênio localizado na cidade de Limoeiro, interior do Estado de Pernambuco.

Ao escolher o citado Colégio como campo de pesquisa, o Termo de Autorização de Pesquisa foi apresentado ao presidente da Cooperativa, que é diretor da instituição, e, após a sua concordância, foi expedida a Carta de Anuência permitindo a realização do estudo naquele ambiente escolar.

A escola foi fundada em abril de 1998, portanto tem 21 anos de existência. Hoje o colégio possui 16 (dezesseis) funcionários, contando com secretários, tesoureiro, porteiros, zeladores e recepcionista.

Quanto ao setor administrativo, o colégio tem 03 (três) diretores, assim divididos: 01 (um) Diretor Financeiro, 01 (um) Diretor Administrativo e 01 (um) Diretor Pedagógico.

Já a equipe de coordenação é composta por 05 (cinco) coordenadores pedagógicos que se dividem em cada nível de ensino.

Conforme informações da secretaria do colégio, no corrente ano (2019), o colégio conta com 58 (cinquenta e oito) docentes, sendo assim distribuídos: 07 (sete) da Educação Infantil; 12 (doze) do Ensino Fundamental anos iniciais; 18 (dezoito) do Ensino Fundamental anos finais; e 21 (vinte e um) do Ensino Médio.

Dos trabalhadores aludidos 38 (trinta e oito) são cooperados, sendo 22 (vinte e dois) do corpo docente, e apenas 02 (dois) destes fazem parte da equipe desde a fundação do Colégio.

O número de matriculados neste ano de 2019 foi de 988 discentes, sendo assim distribuídos: 69 (sessenta e nove) alunos do Ensino Infantil; 280 (duzentos e oitenta) alunos do Ensino Fundamental anos iniciais; 312 (trezentos e doze) alunos do Ensino Fundamental anos finais; 327 (trezentos e vinte e sete) alunos do Ensino Médio.

Destaca-se, por fim, que este estudo teve como participantes apenas docentes do Ensino Fundamental anos iniciais. Ressaltando que, quando foi apresentado o objetivo da pesquisa, solicitou-se a colaboração e o voluntarismo na coleta de informações e, após aceitarem, foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, documento este que certifica e garante os direitos e deveres dos participantes. Em ato contínuo, apresentou-se o Termo de Compromisso e Confidencialidade que garante a preservação, o sigilo e a privacidade dos nomes dos voluntários, bem como o armazenamento sem exposição, dos documentos pelo período mínimo de 5 anos.

Em seguida, o questionário estruturado foi entregue aos 12 (doze) docentes que atuam no Ensino Fundamental Anos Iniciais.

A estrutura do questionário está dividida em três blocos: Bloco 1 – Principal papel da escola; Bloco 2 – Principal problema enfrentado; Bloco 3 – Práxis docente; Bloco 4 – Convivência interpessoal.

3. Resultados e discussão

Os questionamentos foram entregues a 12 (doze) docentes que estão lecionando, atualmente, no Ensino Fundamental anos iniciais. Apenas 07 (sete) voluntários devolveram respondido o questionário.

No Bloco 1 foi indagado: Qual o seu grau de concordância em relação ao principal papel da escola?

Bloco 1
Principal papel da escola:

Alternativas

(Assinale apenas UMA OPÇÃO em cada linha)

Concordo totalmente

Concordo

Concordo em parte

Discordo

Preparar os alunos para a vida 

14%

-

86%

-

Formar lideranças para sociedade

14%

14%

72%

 

Desenvolver a formação integral do cidadão

28%

72%

-

-

Formar alunos críticos e autônomos

43%

57%

 

 

Garantir a aprendizagem dos conteúdos escolares apenas

-

-

14%

86%

Assegurar o sucesso escolar (aprovação)

14%

72%

14%

-

Promover a felicidade

43%

 

57%

 

Valorizar o valor do esforço/ do mérito individual

14%

86%

-

-

Preparar para o trabalho

14%

14%

72%

-

Tornar os alunos pesquisadores

43%

57%

-

-

Fonte: Dados da pesquisa 2019

Quanto a opção ‘preparar para a vida’, 86% concordam em parte e 14% concordam totalmente. Analisando esta resposta verifica-se que a grande parte dos docentes, participantes desta pesquisa, entendem que a escola não é o único lugar que prepara os educandos para a vida, mas tem também parte nesta preparação.

De acordo com as Leis Federais: Constituição de 1988; a Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolesente – ECA;  e a Lei nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ; todos tem direito garantido à Educação, Leis que também orientam e instruem como proceder no processo ensino aprendizagem.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, inicia tipificando: “Art. 1º: A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” (LEI Nº 9394/96 – LDB) .

Esta lei, bem como as outras já citadas, objetivam e demonstram que é na escola que há a formação para o exercício da cidadania, a participação social e também preparação para o trabalho, para o profissionalismo.

A escola, de fato, institui a cidadania. É ela o lugar onde as crianças deixam de pertencer exclusivamente à família para integrarem-se numa comunidade mais ampla em que os indivíduos estão reunidos não por vínculos de parentesco ou de afinidade, mas pela obrigação de viver em comum. A escola institui, em outras palavras, a coabitação de seres diferentes sob a autoridade de uma mesma regra (CANIVEZ, 1991, p.33).

O autor afirma que para a sociedade a escola é o lugar de muita relevância, visto que além de oferecer preparação intelectual, moral e, nos últimos tempos, preocupando-se com o equilíbrio emocional, também faz a interação social, e isso ocorre porque a escola é o local de convência social que é frequentado por pessoas depois do círculo familiar que também tem seu papel na formação do indíviduo.

A educação socioemocional deve iniciar-se no âmbito familiar e se prolonga no âmbito escolar, pois tanto a família quanto a escola têm importante papel na formação, no crescimento e desenvolvimento social e emocional do humano.

Por isso, é de se entender o posionamento dos docentes quando a maioria concorda em parte que é a escola que preprara para a vida, quando é levado em consideração o papel também da família.  Esse posiocionamento é enfatizado no segundo artigo da LDB: “Art. 2º: A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (LEI Nº 9493/96 – LDB)

Assim também verifica-se nos quesitos desenvolver a formação integral do cidadão, os docentes concordam que esse é um dos papéis fundamentais da escola. O ser humano não deve ser formado apenas no seu intelecto, mas o seu socioemocional deve ser considerado uma prioridade também na formação humana.

Muitas são as demandas que a escola tem como função a executar na formação do indivíduo. Outra função que deve ser considerada essencial é a formação de ‘alunos críticos’, ‘autônomos’ e assim ‘pesquisadores’, ponto considerado pelos docentes de grande relevância.

 Para fazer o discente pensar, analisar, criticar, estabelecer relações, argumentar, o docente tem que trabalhar com metodologias diferenciadas e ativas, que levem a participação, ao desafio, à problematização de conteúdos e com isso irá estimular os discentes a descobrir coisas novas e a questionar, a se tornarem curiosos na busca de conhecimentos.

No Bloco 2 foram relacionadas algumas alternativas para que o docente volutário citasse os principais problemas enfrentados no processo ensino aprendizagem:

Bloco 2
Principais problemas enfrentados:

Alternativas

(Assinale apenas UMA OPÇÃO em cada linha)

Não

Sim, mas não necessariamente o mais grave

O problema considerado grave

Desinteresse dos alunos

43%

57%

-

Falta de acompanhamento dos pais

-

72%

28%

Ausência nas reuniões pedagógicas

-

72%

28%

Fazer a ligação entre o cognitivo e o emocional

86%

-

14%

O nervosismo dos alunos

 

72%

28%

O cansaço das crianças após o final de semana

86%

14%

-

A cobrança dos pais em relação as notas baixas dos filhos

-

86%

14%

Estudar apenas nas vésperas das avaliações

-

72%

28%

O uso do celular quando não é momeno de utilizá-los

86%

14%

-

Fonte: Dados da pesquisa 2019

Os dados analisados demonstram que a figura dos pais na relação escola-família é muito citada como ponto problema, não sendo considerado o mais grave, pela maioria, mas como um problema que afeta o processo ensino aprendizagem.  

Maranhão (2004) , aborda que o que as instituições escola e família acreditavam ser suficiente na educação de uma criança, já não é mais. O essencial é que a família (como instituição primária) a escola (como instituição secundária) e toda a comunidade estreitem a convivência e transformem a educação num processo coletivo, que juntas, a educação seja o alvo de transformações.

O autor enfatiza que, quando há uma parceria envolvendo todas as pessoas com as quais a criança tem convívio, tem aproximação, a relação interpessoal implica em respeito mútuo, e, com isso, ocorrerá a vontade de aprender com o outro, conquistando uma sensação de intencionalidade comum entre as crianças e os envolvidos, podendo até haver um compartilhamento de sentimentos.

Os valores não são “pensados”, nem “chamados”, são vividos e surgem dentro do mesmo vínculo com a vida material e as relações materiais em que surgem nossas ideiais. São as normas, regras, expectativas, etc, necessárias e aprendidas (e ‘aprendidas’ no sentimento) no ‘habitus’ de viver; e aprendidas em primeiro lugar, na família, no trabalho e na comunidade imediata. Sem esse aprendizado, a vida social não poderia ser mantida e toda produção cessaria (WILLIAN, 2000, p.35).

À luz desse argumento, Willian afirma que a escola não pode ser considera unicamente o local onde se aprendem regras e normas, mas durante todo convívio na família e na comunidade sabe-se que tem que obedecer a regras e normas necessárias, as quais são apreendidas durante a vivência humana.

A própria Constituição Federal do Brasil de 1988, sobre a educação envolvendo toda as instituições de convívio, estabelece:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (CF, 1988, p.123).

A partir da promulgação da Constitituição Federal do Brasil de 1988, a relação família-escola deve assumir responsabilidades compartilhadas. Pesquisas revelam que quando ocorre a participação da família na educação escolar, o sucesso dos discentes é garantido, portanto, essa parceria é condição necessária para atingir o equilíbrio socioemocional

A parceria entre a família e a escola é de suma importância para o sucesso no desenvolvimento intelectual, moral e na formação do indivíduo na faixa etária escolar. Afinal, por que até hoje em pleno século XXI a escola reclama da pouca ou insignificante participação da família na escola, na vida escolar de seus filhos? Seria uma confusão de papéis? Onde estaria escondido o ponto central desse dilema que se arrastam anos e anos? (GARCIA e VEIGA, 2006, p.12).

Isto posto, a família é considerada a base que determina o firmamento do ser humano, às condutas e aos valores, ela é a conexão entre o indivíduo e a sociedade. Em suma, a instituição família é o meio inicial pelo qual se interioriza a definição de grupo e, quando há deturpações no seio familiar, ocorrem interferências nas outras ações grupais das quais o humano faz parte, consequentemente, no âmbio escolar e no processo da aprendizagem. Por isso, considera-se que é improvável acreditar em outra forma de organização social, quando esta é despovida de estrutura familiar. 

No Bloco 3 – foi indagado: Qual o seu grau de concordância em relação a práxis docente?

Bloco 3
Práxis docente

Alternativas

(Marque apenas UMA OPÇÃO em cada linha)

Concordo totalmente

Concordo

Concordo em parte

Discordo

Discordo totalmente

O docente não deve adaptar suas aulas ao tipo de estudante.

-

-

-

-

100%

Só com a participação dos alunos é que a atividade docente tem sentido.

43%

57%

-

-

-

Por medo de perder o controle da situação, não mudo em nada a minha forma de lecionar.

-

-

-

-

100%

Sinto-me responsável pelo aprendizado de meus alunos.

43%

57/%

-

-

-

A opinião dos alunos a meu respeito não importa, desde que eu cumpra o meu papel como docente.

-

-

-

28%

72%

Não importa o nível de conhecimento do aluno, o docente deve fazê-lo aprender.

-

-

57%

43%

-

O estado emocional dos alunos não é interesse do docente.

-

-

-

-

100%

A socialização dos alunos em sala de aula e na escola tem que ser observada.

43%

57%

-

-

-

O emocional dos alunos interfere na aprendizagem.

57%

43%

-

-

-

A minha práxis é formar cidadãos críticos, no intuito de transformar de forma positiva a realidade.

86%

14%

-

-

-

Estou sempre à disposição para atender o aluno e ouvi-lo quando necessita.

43%

57%

-

-

-

Fonte: Dados da pesquisa 2019

É nítida as respostas de que o docente participante desta pesquisa tem sua práxis voltada para o discente, para o desenvolvimento crítico e transformador, para uma formação social, emocional e intelectual equilibrada.

Pois bem, articular sobre práxis docente em sala de aula é declarar o saber-fazer docente, que é repleto de nuances e de significância, saberes cheios de pluralidades que surgem nos afazeres do cotidiano de sala de aula. Pode-se afirmar que além de saberes, há também sensibilidades adquiridas na formação e, sobretudo em sua atuação diária.

O docente tem um saber considerado uma arte, ‘a arte de ensinar’. Tem o ofício de criar, produzir e utilizar técnicas no cotidiano de sala de aula, que favoreçam o desenvolver no discente o equilíbrio socioemocional articulado ao desenvolvimento intelectual. Possui o manejo de abrir novos caminhos para a construção do conhecimento.

Considera-se que o docente do século XXI necessita se fundamentar em uma práxis firme, de modo que o profissionalismo, a autonomia, a competência, o conhecimento didático e outros tantos saberes, tornem-se capazes de transformar este docente em um inventor de seus próprios conhecimentos e saberes, pois a sociedade atual, que vive em constante desenvolvimento, reinvidica do docente uma atitude mais contextualizada.

Paulo Freire (2014, p.63) afirmava que: “Ao pensar sobre o dever que tenho, como professor, de respeitar a dignidade do educando, sua autonomia, sua identidade em processo, devo pensar também, como já salientei, em como ter uma prática educativa”.

Enfim, a profissão docente e sua práxis devem gerar condutas de autonomia, autoconfiança e autoconhecimento, de modo que tenham como objetivo a transformação positiva do ser humano. Pois é através da práxis diária que o docente aprende a exerce melhor sua profissão, colocam em prática suas competências e seus conhecimentos e, portanto, aprende a conduzir o coletivo em favor do desenvolvimento e formação do discente. 

Por fim, no Bloco 4, questionou-se: Qual seu grau de concordância em relação à convivência interpessoal com os colegas deste colégio?

Bloco 4
Convivência interpessoal

Alternativas

(Marque apenas UMA OPÇÃO em cada linha)

Concordo totalmente

Concordo

Concordo em parte

Discordo

Discordo totalmente

Eu gosto de estar com meus colegas de trabalho.

86%

14%

-

-

-

Sinto-me isolado em meu trabalho pelos colegas.

-

-

-

-

100%

Eu me sinto sempre motivado para exercer meu trabalho como docente.

57%

43%

-

-

-

Meu trabalho neste colégio me dá satisfação profissional.

43%

57%

-

-

-

Neste colégio todos se tratam com respeito.

14%

14%

72%

-

-

A boa interação docente/aluno faz parte do processo de ensino aprendizagem

100%

-

-

-

-

Se pudesse voltar no tempo, com certeza faria a opção pelo magistério, pois sou muito satisfeita com a profissão.

43%

57%

-

-

-

Fonte: Dados da pesquisa 2019

Verifica-se após análise, que o maior benefício de um ambiente escolar não é apenas o bom resultado, mas também a estrutura e convivência dos profissionais. A harmonia entre todas as pessoas que compõem o âmbito institucional faz a diferença, pois trabalham com um único objetivo, o bem estar e o querer bem do outro.

O trabalho colaborativo, o desempenho criativo de uma boa relação entre colegas de trabalho, são fatores que favorecem o equilíbrio e a harmonia para o melhor cumprimento da missão que cada um deve exercer no seu ofício.

  A chave das relações deve ser o respeito, seja o docente ou outro profissional, bem como o discente, todos devem respeitar as diferenças surgidas no âmbito escolar. Lembrado que as amizades podem ser escolhidas, mas a escolha de colegas de trabalho, colegas de sala de aula isso não tem como escolher, por isso deve-se aceitar as pessoas como elas são, oportunamente tentar moldar alguns comportamentos difíceis, mas, sobretudo, respeitando e considerando as limitações do outro, isso faz com que os aspectos para uma boa convivência surjam espontaneamente.

Um ambiente de trabalho harmonioso faz o docente pensar e agir de forma mais estimuladora e quem ganha com isso são os discentes, os quais terão aulas bem planejadas, elaboradas com um olhar diferenciado de modo que o ensino se torne uma ponte entre conhecimentos e saberes significativos.

Enfim, os docentes da escola campo de pesquisa demonstram em suas respostas que têm uma excelente relação com os colegas de trabalho e com os discentes, fazendo com que ocorra a harmonia entre o interpessoal e a missão profissional.  

4. Conclusões

A compreensão de que a relação interpessoal e a inteligência emocional contribuem para o processo de ensino aprendizagem e também para o aperfeiçoamento de outros fatores intrínsecos ao ser humano é comprovadamente necessária.

 O ato de ensinar é uma provocação oriunda do docente que resulta no aprender. Envolver, estimular e criar momentos para a participação dos discentes utilizando todos os seus aspectos – social, emocional, relação grupal – proporciona a conscientização do indivíduo sobre sua existência e sobre a sua função no processo de construção do conhecimento.

A escola como ambiente basilar, tem em uma de suas funções apresentar regras e normas necessárias à convivência grupal, cumprimento de seus direitos e deveres. É nesse ambiente onde mais se conhece histórias de vida, é lá também que há a oportunidade de troca de experiências e de conhecimentos, o local onde a formação da vida em coletividade é extremamente favorável para a construção de um ser mais empático, compreensivo e comunicativo.

Entretanto, depreende-se que os fatores relevantes para se manter uma relação socioemocional favorável ao desenvolvimento discente, depende da práxis docente. O resultado, para ser autêntico, requer atitudes diferenciadas, positivas e isso faz parte do fazer docente. E quando o principal profissional da educação está preparado para este resultado positivo, tudo se torna descomplicado.

Observou-se nesta pesquisa e principalmente nos resultados coletados, que existem várias possibilidades que o docente em sua práxis pode flexibilizar para que ocorram a interação interpessoal e o desenvolvimento no equilíbrio emocional. Compreender a função das emoções faz parte do processo de desenvolvimento das habilidades para administrar os próprios sentimentos e assim saber entender as emoções dos outros.

O aprimoramento das relações pessoais tanto em sala de aula entre docente-discente e vice-versa, quanto na convivência positiva entre todos que compõe a instituição, favorece o dinamismo diário de um trabalho que requer o bem estar coletivo. Os docentes participantes deste estudo demonstraram que exercem seu ofício observando os pontos necessários para uma educação transformadora.

Desta feita, o ensino e a aprendizagem são processos considerados importantíssimos para que ocorra o conhecimento significativo, porém trabalhar apenas o conhecimento sistemático não é mais a única função da escola. Os fatores que envolvem o social e o emocional também são primordiais para a construção de um ser humano mais empático, equilibrado, altruísta, compreensivo, e, tudo isto estando incorporado no planjemento docente, bem como na sua práxis torna o ensino uma arte cheia de pluralismo de ideias, favorecendo o objetivo final do docente que é o resultado positivo e a realização de suas ações e metas, além de favorecer as relações interpessoais de forma equânime.

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1. Doutoranda em Ciências da Educação pela Atenas College University. E-mail: jucileidecaze@hotmail.com

2. Doutoranda em Ciências da Educação pela Atenas College University. E-mail: souzalucianalenira@gmail.com

3. Doutoranda em Ciências da Educação pela Atenas College University. E-mail: lucianatabosa@hotmail.com

4. Doutoranda em Ciências da Educação pela Atenas College University. E-mail: margaretetabosa@hotmail.com

5. Doutoranda em Ciências da Educação pela Atenas College University. E-mail: hilde.2009@hotmail.com

6. Doutor em Biologia - UFPE. Professor da Alpha Faculdade e Unibra – Centro Universitário Brasileiro. Leciona disciplinas da área da Saúde no ensino técnico, tecnológico, graduação e pós-graduação. E-mail: gusmao.diogenes@gmail.com    


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 41 (Nº 11) Ano 2020

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