ISSN 0798 1015

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Vol. 41 (Nº 06) Ano 2020. Pág. 29

A relação entre a escola em tempo integral e a educação integral

The relationship between school in full time and the integral education

SOUZA, Maria José A. de 1; SANTOS, Givanildo M. dos 2; ARRUDA, Graziela Q. de 3; ALVES, José Fernando da S. 4; BEZERRA, Maria Aparecida D. 5; BARBOSA, Paulo Sérgio 6 e COUTINHO, Diógenes José Gusmão 7

Recebido: 13/11/2019 • Aprovado: 14/02/2020 • Publicado: 27/02/2020


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados e discussões

4. Conclusões

Referências bibliográficas


RESUMO:

O presente artigo discute a relação entre a escola em tempo integral e a educação integral, apresentando o estado da arte da literatura sobre formação integral e refletindo sobre o tempo de permanência na escola numa perspectiva de evolução da aprendizagem. Concluímos que a escola precisa ser de tempo integral, não para substituir as funções e responsabilidades da família e da sociedade, mas sim para promover a formação humana integral do aluno, nos aspectos cognitivos, afetivos, espirituais, físicos e sociais.
Palavras chiave: Escola de tempo integral, Formação, Educação integral

ABSTRACT:

This paper discusses the relationship between full-time school and full-time education, presenting the state of the art of full-time education literature and reflecting on time spent in school from a learning evolution perspective. We conclude that the school needs to be full time, not to replace the functions and responsibilities of the family and society, but to promote the integral formation of the student in cognitive, affective, spiritual, physical and social aspects.
Keywords: School of integral time, Formation, Integral education

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1. Introdução

Quando se fala em escola em tempo integral, refere-se à duração do tempo de estadia que o educando fica no ambiente escolar, ou seja, a ampliação da jornada escolar, o que pode favorecer um maior aproveitamento de atividades extracurriculares, como também extraclasse no entorno da comunidade escolar, valorizando desta forma os saberes além dos muros da escola.

Justifica-se este trabalho em decorrência de vivermos em um tempo onde este tema passa por questionamentos sobre a abrangência deste sistema de ensino e sua real contribuição na formação do individuo como um todo, e nessa relação da escola em tempo integral e a educação integral, quem ganha e quem perde, quais pontos fortes e pontos fracos.

Este estudo adotou a seguinte questão norteadora: Qual a relação entre a escola em tempo integral e a educação integral? Discutindo através do estado da arte os pontos convergentes e divergentes entre essas duas concepções. E como objetivos específicos: i) refletir sobre o tempo de permanência na escola numa perspectiva de evolução da aprendizagem; ii) explicitar como as teorias da formação integral do indivíduo auxiliam na organização dos tempos e espaços escolares de forma a contribuir na formação do ser humano como um todo.

A ideia é tornar o tempo em que o educando não está em tarefas conteudistas com atividades que preencham seu tempo ocioso, proporcionando meios que os impeça de ficar a mercê da violência social que assola principalmente as comunidades mais carentes. O mundo contemporâneo tem exigido cada vez mais sacrifícios da família. A concepção de família mudou, mudou o dia a dia familiar, as mães já não ficam em casa arrumando, passando, cozinhando e esperando o marido e os filhos chegarem.

Pais e mães têm uma jornada dura de trabalho para suprirem as necessidades básicas da família, assim muitas vezes não há quem olhem pelos filhos quando estes chegam da escola. E estes ficam ou isolados no mundo virtual ou soltos nas ruas sendo presas fáceis para a criminalidade.

Diante desta situação, ter uma escola que os acolha em tempo integral torna-se um apoio às famílias. Só o fato dos filhos estarem em um ambiente seguro é mais relevante do que a evolução do desempenho acadêmico.

Analisando por este prisma, Fino (2001) fala que:

O que sei é que a escola de hoje, depois de lhe terem sido cometidas funções que têm pouco a ver com o desenvolvimento das sociedades (servir de depósito onde as famílias colocam os filhos enquanto os pais tr abalham ou de local onde os jovens vegetam o máximo possível de tempo antes de engrossarem a pressão dos que batem à porta das universidades ou do primeiro emprego), se encontra irremediavelmente ferida, e já nem é capaz de preparar para o presente, quanto mais para um futuro que nenhum visionário consegue antecipar. (Fino, 2001, p.37).

Segundo o autor, a escola cumpre funções que são cabíveis à sociedade, sendo lamentável essa negligência. Porém, há o risco de as famílias perderem seus filhos para criminalidade, assim, parece-nos que pelo menos a escola se preocupa com tal situação de descaso das instâncias que deveriam prover o bem-estar das famílias.

A escola em tempo integral é aquela que acolhe aqueles a que a buscam sem necessariamente ofertar uma formação integral do ser humano.  O aluno está presente entre os muros da escola muitas vezes fazendo atividades sem um acompanhamento pedagógico adequado, mas livre da ociosidade que atrai tanto os mal-intencionados que veem na fraqueza dos mais carentes a oportunidade de conquistá-los para o mundo obscuro e sem volta da criminalidade.

De acordo com o MEC, a Educação Integral pode ser definida como:

[...] a opção por um projeto educativo integrado, em sintonia com a vida, as necessidades, possibilidades e interesses dos estudantes. Um projeto em que crianças, adolescentes e jovens são vistos como cidadãos de direitos em todas as suas dimensões. Não se trata apenas de seu desenvolvimento intelectual, mas também do físico, do cuidado com sua saúde, além do  oferecimento de oportunidades para que desfrute e produza arte, conheça e valorize sua história e seu patrimônio cultural, tenha uma atitude responsável diante da natureza, aprenda a respeitar os direitos humanos e os das crianças e adolescentes, seja um cidadão criativo, empreendedor e participante, consciente de suas responsabilidades e direitos, capaz de ajudar o país e a humanidade a se tornarem cada vez mais justos e solidários, a respeitar as diferenças e a promover a convivência pacífica e fraterna entre todos. (Brasil, 2015, p. 4).

Em nova concepção, surgem as escolas que ofertam uma elevação do tempo de permanência do educando no ambiente escolar, porém com a preocupação de sua formação interdimensional nos aspectos físicos, cognitivos, espirituais, sociais e afetivos utilizando-se das mais diversas estratégias pedagógicas no intuito valorizar o máximo possível o tempo de permanência do educando na escola.

As atividades desenvolvidas que são didaticamente elaboradas buscam oportunizar ao educando as condições favoráveis a um bom desempenho do ensinoaprendizagem como também a elevação da autoestima, tornando-o um cidadão ciente de seus direitos e deveres que os exercerá ativamente. Estamos nos referindo às Escolas Integrais de Tempo Integral. Segundo Coelho (2004) “com o tempo escolar ampliado, é possível pensar em uma educação que englobe formação e informação; que compreenda outras atividades – não apenas as pedagógicas – para a construção da cidadania partícipe e responsável”(p. 4). Pensando desta forma, vale a pena buscar parcerias que integrem o tempo integral com a formação integral do sujeito.

De acordo com Guará (2006) a concepção de educação integral:

Agrega-se à ideia filosófica de homem integral, realçando a necessidade de desenvolvimento integral de suas faculdades cognitivas, afetivas, corporais e espirituais, resgatando, como tarefa prioritária da educação, a formação do homem, compreendido em sua totalidade. (Guará, 2006, p. 16).

Como afirma o autor acima citado, esse modelo de educação propõe uma educação integral, onde o educando é visto não somente em sua dimensão cognitiva, mas como um ser completo de forma multidimensional.

Oportunizar ao estudante brasileiro o direito a ter uma formação ampliada que contemple todos os aspectos de educação emancipatória, que o torne um cidadão crítico, reflexivo, ciente de si e do mundo em seu entorno, não é algo novo ou inusitado. Parafraseando Lourenço Filho (931), “a educação de uma criança deve começar cem anos antes de seu nascimento” (P.59).  Assim como ele, outro expoentes da história da educação no Brasil, como Anísio Teixeira, Júlio Mesquita Filho, Fernando Azevedo, Noemi da Silveira, Cecília Meirelles, entre tantos outros, já faziam deste sonho um ideal de luta por uma educação igualitária, como apresentado no Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova em 1932 e no Manifesto dos Educadores em 1959.

Segundo Paro (2009),

[...] O conceito de humano não se restringe ao seu corpo, inclui aquilo que o homem faz, aquilo que ele produz, e é assim que ele faz história, que ele produz a sua vida. É assim que nos fazemos humano-históricos: sendo sujeitos. E sendo sujeitos, nós produzimos várias coisas, produzimos não apenas conhecimentos e informações, mas produzimos também valores, filosofia, ciência, arte, direito... em outras palavras, o homem para fazer-se histórico, produz cultura. (Paro, 2009, p. 17).

Ser autor de sua própria história resume o pensamento do autor acima citado, daí a importância da formação humana integral, pois as ações realizadas pelo homem refletem não apenas sobre si e sim sobre todo o meio no qual se insere. A escola deve primar por esta formação integral, visando entregar à sociedade seres humanos mais humanos, capazes de assumirem sua responsabilidade com a nossa casa comum, ou seja, o mundo no qual vivemos.

Segundo Saviani, a teoria histórico-crítica relaciona-se:

[...] com a realidade escolar nas suas raízes históricas. Sabe-se que o que caracteriza o homem é o fato de ele necessitar continuamente produzir a sua existência. Em outros termos, o homem é um ser natural peculiar distinto dos demais seres naturais, pelo seguinte: enquanto estes em geral – os animais inclusive – adaptam-se à natureza e, portanto, têm já garantidas, pela própria natureza, suas condições de existência, o homem precisa adaptar a natureza a si, ajustando-a, segundo as suas necessidades. (Saviani, 2008, pp. 94-95).

Uma sociedade para se desenvolver necessita de um grande investimento no setor educacional, pois é através dela que atingiremos o desenvolvimento necessário a todos, e a formação integral é algo bem complexo, como bem explica Felício (2012):

[...] deve ser capaz de responder a uma multiplicidade de exigências, ao mesmo tempo em que deve objetivar a construção de relações na direção do aperfeiçoamento humano, o que comporta na oferta de possibilidades para que o indivíduo possa evoluir, plenamente, em todas as suas dimensões (cognitiva, corpórea, social, cultural, psicológica, afetiva, econômica, ética, estética, entre outras). (Felício, 2012, p. 5).

Proporcionar aos educandos o despertar para o desenvolvimento de uma postura crítico reflexiva torna-se o dever da escola enquanto promotora de uma formação humana integral. Assim sendo, Arroyo (2012) apregoa que a Educação Integral deva oportunizar   cada educando o direito a uma “[...] consciência política de que ao Estado e aos governantes cabe o dever de garantir mais tempo de formação, de articular os tempos-espaços de seu viver, de socialização” (p. 33).  Ao mesmo tempo, o autor alerta para os riscos de uma Educação Integral, de baixa potência, ao afirmar que: “[...] uma forma de perder seu significado político será limitar-nos a oferecer mais tempo da mesma escolar, ou mais um turno – turno extra – ou mais educação do mesmo tipo de educação” (p. 33).

Percebe-se pela história que todo o nosso processo educacional é marcado por avanços e retrocessos, lutas e glórias, reflexo da preponderância das elites dominantes, que desde os primórdios da colonização explora, subjugando as minorias para se manter acima de todos. 

[...] o ideal de uma educação escolar para todos os cidadãos, onde os privilégios de classe, dinheiro, herança ou religião, não impedissem qualquer indivíduo de buscar, pela escola, sua posição na sociedade, tendo oportunidade para ser aquilo que seus dotes inatos, desenvolvidos através da educação, assim o determinassem. (Teixeira, 1989, P.32).

Anísio Teixeira considerado dentro e fora do país como grande educador, foi peça fundamental nos primeiros passos do modelo de educação integral, ao criar em Salvador a Escola Parque que atendia a população carente em idade escolar,  que além da alimentação e formação para a cidadania e o trabalho, recebiam aulas de recreação, arte, socialização e extensão cultural.

Darcy Ribeiro também foi um grande batalhador por este tipo de educação. No Rio de Janeiro construiu os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), onde, além das aulas regulares, os educandos recebiam aulas de formação cultural e tinham todas as refeições. Também buscavam acolher aqueles adolescentes e jovens que perambulavam pelas ruas.

O CIEP se propõe como uma “escola-casa” que pretende respeitar os direitos das crianças. Assumindo como verdadeiros alguns dos supostos fatores pelos quais os alunos não permanecem nas escolas ou não obtêm rendimento adequado (desnutrição, dificuldades para aquisição de material escolas, doenças infecciosas, deficiências de saúde – problemas dentários, visuais e auditivos), o CIEP se propõe superar esses obstáculos mediante programas de alimentação, subsídios aos pais e programas de atendimento médico-odontológico, de modo que os alunos tenham as melhores condições para aprender (Paro, 1988, p. 20).

Dentre tantos, um não pode ser deixado de lado, o grande mestre Paulo Freire idealizador do método de alfabetização a partir da realidade do sujeito e do meio em que se insere. Na concepção de Freire o ensino debe ser contextualizado, valorizando os saberes próprios do educandos.

E a educação passa a ser vista como instrumento de conscientização. A expressão “educação popular” assume, então, o sentido de uma educação do povo, pelo povo e para o povo, pretendendo-se superar o sentido anterior, criticado como sendo uma educação de elites, de grupos dirigentes e dominantes, para o povo, visando a controlá-lo, manipulá-lo, ajustá-lo a ordem existente (Saviani, 2013, p. 317).

O saber popular tem sua importância dentro da concepção de ensino de Paulo Freire. Reconhecer o ensinar a partir do contexto em que o educando se insere torna a aprendizagem bem mais significativa.

A mim me interessa, [...], deixar claro ser impossível pensar a prática educativa, portanto a escola, sem pensar a questão do tempo, de como usar o tempo para aquisição de conhecimento, não apenas na relação educador educando, mas na experiência inteira, diária, da criança na escola. A escola progressista, séria, não pode estragar o tempo, botar a perder o tempo de a criança conhecer. (Freire, 2005, p. 46).

Estamos diante da pedagogia crítica defendida por Paulo Freire, onde não há exclusão, o educando é partícipe deste protagonismo. A educação é como ato político, como ele mesmo falava, bem diferente das escolas tradicionais que preconizavam uma educação bancária, descontextualizada e elitista.

2. Metodologia

O trabalho metodológico se deu a partir da busca por artigos científicos nas principais bases de periódicos brasileiros: Biblioteca virtual, CAPES e SciELO, entre outras, por meio das seguintes palavras chave: escola de tempo integral, formação e educação integral.

Através desta investigação é possível examinar as contribuições que estas pesquisas podem oferecer nas discussões pertinentes ao tema abordado. Assim sendo, a revisão permitirá a compreensão dos aspectos metodológicos aplicados a sua análise crítica como também verificar as possíveis recorrências e lacunas.

Quando iniciamos o processo de pesquisas científicas, temos certa dificuldade em saber escolher artigos e outros meios que possam embasar nossos trabalhos e esse procedimento de revisão é bastante útil, pois nos permite o acesso as análises e a comparação de temas relacionados, como abordagens teórico metodológicas e práticas educativas.

Falar de escola em tempo integral e sua relação com a educação integral requer um compromisso de todos para com a educação pública, que ultrapasse as barreiras político-partidárias que muitas vezes a seu bel prazer buscam resultados imediatos, preocupados com dados estatísticos, em cumprir metas. Precisamos de uma escola que assuma seu papel, que é o de garantir àqueles que a procuram o acesso ao conhecimento historicamente acumulado.

Segundo Xavier (2014):

Pesquisa Bibliográfica é aquela forma de investigação cuja resposta é buscada em informações contidas em material gráfico, sonoro ou digital estocadas em bibliotecas reais ou virtuais. O pesquisador faz um levantamento de trabalhos já realizados sobre um determinado tema e cataloga-os a fim de rever, reanalisar, reinterpretar e criticar procedimentos técnicos e pontos de vista teóricos considerados pelo autor da pesquisa já “envelhecidos” ou ineficientes. (Xavier, 2014, p. 48).

Na escolha da metodologia aplicada no presente trabalho que foi desenvolvido com base em uma revisão sistemática de literatura, apoiada na abordagem qualitativa das produções encontradas em ambientes virtuais em base de dados de livre acesso ao público, optou-se pela Revisão Integrativa (RI), que é um método baseado em evidências, que possibilita a síntese e também a análise do conhecimento científico já produzido sobre o tema proposto (Galvão, Mendes & Silveira, 2010).

De acordo com Gil (1991), a pesquisa bibliográfica pode ser: quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet.

A revisão sistemática diz respeito a um levantamento de estudos já publicados a partir de determinado tema, com o objetivo de buscar respostas a determinadas perguntas e constitui-se em um trabalho reflexivo, crítico e compreensivo a respeito dos materiais analisados (HohendorfF, 2014; Costa & Zoltowski, 2014).

3. Resultados e discussões

Segundo Silva (2005) “a Metodologia tem como função mostrar a você como andar no “caminho das pedras” da pesquisa, ajudá-lo a refletir e instigar um novo olhar sobre o mundo: um olhar curioso, indagador e criativo.” (Silva, 2005, p. 9).

Na busca da revisão integrativa, elaboraram-se duas combinações com as respectivas palavras chave no banco de dados. A priori citou-se as palavras educação em tempo integral e formação. Obtendo-se inúmeros artigos, numa primeira leitura 10 artigos dos relacionados foram escolhidos, destes selecionamos 2 artigos, e em uma segunda combinação das palavras-chave educação integral e formação, diante das várias opções surgidas, separamos 15 artigos, dos quais selecionamos 4. Sendo selecionados ao todo 6 artigos.

Quadro 1
Publicações selecionadas
para a revisão integrativa

Título

Autor

Periódico

Ano

01

Caminhos da Educação Integral no Brasil: direito a outros tempos e espaços educativos

Moll, J. et al.

Porto Alegre: Penso

2012

02

 Educação Integral e Escola em Tempo Integral: Em busca da Formação Emancipadora.

Rocha, Silva e Correia.

Revista de Pesquisa Interdisciplinar, Cajazeiras, n. 2, suplementar, p. 354-365.

2017

03

Formação Continuada em Escolas de Tempo Integral: narrativas de professoras

Bragança, I. F. S. Perez, J. G. M.

Educação & Realidade 

2016

04

 A Educação Integral e o Sujeito Integral: Repensando possibilidades de articulação entre Psicologia e Educação.

Urt, S. Da C.

Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

2015

05

A predominância da vertente “alunos em tempo integral” nas discussões sobre o tema da educação integral em tempo integral

 Silva, B. A. R.

 

Revista Brasileira de Educação 

2017

06

Escola pública de tempo integral no Brasil: Filantropia ou política de Estado?

Cavaliere, A. M.

 

Educação & Sociedade 

 

2014

Fonte: Da pesquisa (2019)

Observando o quadro acima percebe-se que a pesquisa bibliográfica se deu num recorte temporal de 2010 a 2017, dados bem recentes e de lugares distintos do país. Em relação aos periódicos também foram fontes variadas. O esboço sintetiza os principais itens investigados: autor, título da obra, periódico de publicação e o ano.

Segundo Silva (2016) apud Coelho (2009):

Na história da educação brasileira, o tema da educação integral em tempo integral encontra-se presente de modo recorrente, embora seja utilizado a partir de matrizes ideológicas diferentes e às vezes antagônicas. Podemos citar: as conservadoras, que defendiam a “espiritualidade, o nacionalismo-cívico e a disciplina” presentes, por exemplo, nas experiências educacionais desenvolvidas pela Ação Integralista Brasileira e por diferentes ordens religiosas; as liberais, que defendiam a igualdade educacional como uma das formas de sustentação da igualdade democrática — caso, por exemplo, das experiências educacionais vinculadas aos pioneiros da Educação Nova no Brasil e de toda a tradição decorrente desse movimento a partir da década de 1920; e as socialistas, que baseavam suas experiências no entendimento de que educação deveria ser vista como um meio de emancipação social, um instrumento de construção de igualdades – caso das escolas sindicais vinculadas aos grupos anarquistas e marxistas (Silva, 2016 apud Coelho, 2009, p. 88).

A revisão sistemática diz respeito a um levantamento de estudos já publicados a partir de determinado tema, com o objetivo de buscar respostas a determinadas perguntas e constituir em um trabalho reflexivo, crítico e compreensivo a respeito dos materiais analisados (Hohendorff, 2014; Costa & Zoltowski, 2014).

De posse desta busca captamos aspectos importantes relacionados ao tema pesquisado e consequentemente trouxe um grande acréscimo ao desenvolvimento da pesquisa. Assim sendo, Arroyo (2012, p. 33) apregoa que a Educação Integral deva oportunizar cada educando o direito a uma “[...] consciência política de que ao Estado e aos governantes cabe o dever de garantir mais tempo de formação, de articular os tempos-espaços de seu viver, de socialização”.  Ao mesmo tempo, o autor alerta para os riscos de uma Educação Integral, de baixa potência, ao afirmar que: “[...] uma forma de perder seu significado político será limitar-nos a oferecer mais tempo da mesma escolar, ou mais um turno – turno extra – ou mais educação do mesmo tipo de educação” (p. 33).

Segundo Cavalieri (2014) falar de educação integral é: “Referir-se a atividades de educação integral é considerar que há atividades especializadas que, em si mesmas, promovem educação integral. ” (p.10)

De acordo com o propósito deste trabalho, essa revisão integrativa permitiu analisar a reação da escola em tempo integral com a educação integral na formação do individuo. Partindo das principais discussões expostas pelos autores citados, foi possível manter um diálogo que ampliasse a visão dando condições de compreender de uma forma mais efetiva de como tal relação se processa dentro do contexto educacional.

Assim, analisaremos a visão que Moll (2012) coloca sobre as mudanças que essa concepção de educação deve acarretar:

A ampliação do tempo de permanência dos estudantes tem implicações diretas na reorganização e/ou expansão do espaço físico, na jornada de trabalho dos professores e outros profissionais da educação, nos investimentos financeiros diferenciados para garantia da qualidade necessária aos processos de mudança, entre outros elementos. A concretização de tais mudanças requer processos de médio prazo que permitam aos sistemas de ensino e às escolas, em seu cotidiano, a (re) construção e o reordenamento material e simbólico do modus operandi. (Moll, 2012, p. 28).

Para se oferecer uma educação integral de qualidade a escola deve está preparada profissionalmente e estruturalmente para tal, isso requer tempo, formação qualificada dos professores e um grande investimento por parte do Estado, caso essa necessidade não seja atendida em tempo hábil, não se garantirá a qualidade do ensino.

Segundo Rocha, Silva e Correia (2017), “Por essência o tema educação integral é intensamente vasto.  Quando esse termo é utilizado para institucionalizar o processo de formulação da escola surge certa confusão conceitual entre escola em tempo integral e educação integral.” (p. 3).

A origem do termo integrativa está relacionada com a integração de opiniões, ideias ou conceitos provindos de pesquisas utilizadas no método (Botelho,  Cunha & Macedo, 2011). 

É na busca incessante pelo desconhecido que se constrói os novos caminhos, andar pelo caminho das pedras significa está sempre disposto a seguir em frente, a vencer os obstáculos a não desistir mesmo quando não enxergamos a luz no fim do túnel. 

Pesquisa do tipo qualitativa, ou seja, o ambiente natural como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento-chave, os resultados são expressos em narrativa, descrições, figuras, declarações de pessoas, quadros esquemáticos, pesquisadores qualitativos estão preocupados com o processo e não simplesmente com os resultados e o produto, ou seja, o fenômeno é avaliado em suas relações, no conhecimento dos seus aspectos evolutivos, forças que interagem, entre outros aspectos de natureza subjetiva.

Os pesquisadores qualitativos tendem a analisar seus dados indutivamente, a indução é um processo pelo qual se chega a proposições gerais, ou seja, parte de premissas de fatos observados para chegar a uma conclusão sobre fatos ou situações não observadas, o significado é a preocupação essencial na abordagem qualitativa o pesquisador busca detectar os significados que as pessoas dão aos fenômenos, caberá ao pesquisador instrumentalizar-se para traçar o desenho de estudo, considerando que executar uma pesquisa de abordagem qualitativa compreende adquirir a capacidade de interpretação dos fatos além do foco específico, isto é para analisar palavras, ideias e realidades múltiplas. “Quando um pesquisador busca interpretar a realidade de forma qualitativa, ele deve comprometer-se com atividades de investigação específicas, com uma ação disciplinada, orientada por princípios e estratégias gerais” (Brevidelli, 2006, p. 75-77).

É o método de pesquisa que foca o modo como indivíduos e grupos de indivíduos veem e entendem o mundo ou uma parte específica dele, e como constroem significado e conhecimento. Como define Minayo (2010), a pesquisa qualitativa é: “Aquela que articula a compreensão das estruturas, dos processos, das relações, das percepções, dos produtos e dos resultados, com a visão dos atores sociais envolvidos na sua constituição, desenvolvimento, contexto e possibilidades de mudanças” (p. 7).

Na relação da educação integral com a escola em tempo integral vale considerar o pensamento de Urt (2015) quando afirma que:

Não basta apenas um gerenciamento estratégico se não se considerar todo um universo psicossocial presente nas ações, no pensar, no fazer e no sentir da educação. São esses outros e diversos „parceiros‟, na compreensão do cotidiano escolar, que podem contribuir para o aperfeiçoamento de propostas que visem a efetivação da educação integral. (Urt, 2015, p. 16).

A pesquisa qualitativa também requer um estudo amplo em termos bibliográficos. Nesse sentido, realiza-se também um levantamento de referencial bibliográfico para respaldar aquilo que se busca. Através de pesquisas virtuais a bibliotecas públicas, sites, revistas científicas etc.

Segundo Bragança (2016) na escola em tempo integral, valoriza-se o potencial dos professores:

Além da potencialidade formativa das escolas de tempo integral para os estudantes, podemos apreender nas narrativas o tempo integral também como potencialidade para a formação dos docentes pelo encontro mais profundo com o outro, pelo espaço tempo de estudo e planejamento das ações educativas. (Bragança, 2016, p. 18).

De acordo com Marconi (1986) a pesquisa surge de um determinado problema e questionamento. Contudo, através da pesquisa tem-se a noção exata de um determinado problema e/ou fenômeno, que a partir de hipóteses criadas por meio da pesquisa seja descartada ou afirmada. E é através dessa ferramenta importante que conseguimos realizar nosso trabalho alicerçando em teorias que darão suporte para obter um resultado exitoso.

4. Conclusões

É possível observar que nessa relação da escola em tempo integral e a educação integral há um longo caminho a ser percorrido. A luta por esta conquista data do final da década de vinte, quando de pessoas preocupadas com o rumo que a educação do país estava tomando, reuniram-se e começaram a debater e elaboraram um documento lançado em 1932, intitulado de            “O Manifesto dos Pioneiros”. Este foi o marco da luta pela educação integral.

A escola precisa ser de tempo integral, não para substituir as funções e responsabilidades da família e da sociedade, no que diz respeito a tomar conta do educando enquanto os pais trabalham, mas sim na formação integral do ser humano, o ser humano em sua inteireza, nos aspectos cognitivos, afetivos, espirituais, físicos e sociais.

Segundo Urt (2015) “[...] os constructos teóricos da teoria histórico-cultural, que oferecem uma contribuição à educação, devem ter fundamento básico numa concepção de homem como um ser concreto, definido socialmente e não mais como um ser único e universal.” (p. 63).

A formação do educando, debe promover que o mesmo seja responsável por suas ações e pelo mundo em sua volta, a nossa casa comum. Convivendo harmoniosamente com a natureza. O tempo de permanência do educando na escola que seja para proporcionar a evolução de sua aprendizagem.

Segundo Freire (1980, p.20) “a educação deve preparar, ao mesmo tempo, para o juízo critico das alternativas propostas pela elite, e dar a possibilidade de escolher o próprio caminho”.   É tornar o educando um ser crítico e consciente de seu papel na sociedade, porém o que se percebe é uma grande luta das escolas em elevar os índices estatísticos, voltada para o mundo do trabalho, mecanicista e empresarial. O ambiente escolar deve ser favorável ao desenvolvimento da autonomia critica do educando.

Convém que se perceba que o tempo de permanência do educando no espaço escolar é um tempo de aprendizagens significativas, porém não único, pois há outros espaços além dos muros da escola que também favorecem a evolução da aprendizagem do educando.

Daí a necessidade da escola caminhar junto com a comunidade na qual se insere, pois estes espaços complementam o fazer pedagógico da escola, através de parceiras tornando a comunidade responsável pelo desenvolvimento dos jovens.

Só desta maneira é que a ampliação do tempo escolar torna possível a efetivação da formação integral do educando, escola e comunidade, pensando no bem-estar dos adolescentes e jovens que anseiam por conquistar seu lugar sociedade.

Por fim podemos afirmar que fazer uma revisão integrativa dentro do contexto educacional foi bem complicado, haja vista o número muito pequeno de artigos relacionados, a maioria está voltado para a área da saúde.

Referências bibliográficas

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Bragança, I. F. de S. & Perez, J. G. de M. (2016). Formação Continuada em Escolas de Tempo Integral: narrativas de professoras. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 41, n. 4, p. 1161-1182.

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Cavaliere, A. M. (2014). Escola pública de tempo integral no Brasil: Filantropia ou política de Estado? Educação & Sociedade.

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1. Doutoranda do Atenas College University/Grupo Alpha. Educadora de Apoio e Professora da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco, PE, Brasil. E-mail: zezealves2@gmail.com

2. Doutorando do Atenas College University/Grupo Alpha. Professor da Educação Básica e Dirigente Municipal de Educação. E-mail: gilmelogil@hotmail.com

3. Mestranda do Atenas College University/Grupo Alpha Pós-graduada em Psicopedagogia/Facol. Graduada em Pedagogia pela UFPE/Pólo Nazará da Mata. E-mail: graziela.qz@hotmail.com

4. Doutorando do Atenas College University/Grupo Alpha. Gestor Municipal de Educação. E-mail: jfernandinho2.2@hotmail.com

5. Doutoranda em Ciências da Educação. Atenas College University/ Grupo Alpha. E-mail de contato: cidaraulinho@hotmail.com  

6. Mestrando em Ciências da Educação. Olwa University-Olford Walters University-Unigrendal E-mail de contato: psbarbosa2408@gmail.com

7. Professor na Alpha Faculdade e Centro Universitário Brasileiro - UNIBRA, Brasil, email: gusmao.diogenes@gmail.com


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 41 (Nº 06) Ano 2020

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