ISSN 0798 1015

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Vol. 40 (Nº 26) Ano 2019. Pág. 14

Multimodalidade textual como prática docente na Educação infantil

Textual multimodality as a teaching practice in children's education

LIMA, Jucileide C. P. 1; SOUZA, Luciana L. 2; LIMA, Maria L. T. 3; OLIVEIRA, Margarete M. G. T. 4; OLIVEIRA, Hildegard R. 5& COUTINHO, Diógenes José Gusmão 6

Recebido: 18/04/2019 • Aprovado: 03/07/2019 • Publicado 29/07/2019


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados e discussão

4. Conclusões

Referências bibliográficas


RESUMO:

O presente trabalho tem o objetivo investigar se os professores da Educação Infantil incentivam o hábito da leitura e se a multimodalidade textual predomina como prática cotidiana. Tendo como base metodológica a pesquisa qualitativa, iniciada através do levantamento bibliográfico, bem como por meio de relatos, documentos e observações. É fundamental reconhecer a valorização das práticas de leitura vivenciadas pelos alunos em diferentes espaços, não se limitando ao universo escolar e muito menos, ao código escrito e suas abstrações.
Palavras chiave: Estímulo à leitura. Prática Docente. Textos Multimodais

ABSTRACT:

The present work has the objective to investigate if the teachers of Early Childhood Education encourage the habit of reading and if textual multimodality predominates as daily practice. Based on the methodological basis the qualitative research, initiated through the bibliographical survey, as well as through reports, documents and observations. It is fundamental to recognize the value of reading practices experienced by students in different spaces, not limited to the school universe, much less the written code and its abstractions.
Keywords: Stimulus to reading. Teaching Practice. Multimodal Texts

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1. Introdução

A proposta desta pesquisa consiste em ampliar as análises existentes no campo de estudo referente às práticas docentes na Educação Infantil em relação à importância do hábito de ler textos multimodais e, a partir desse enfoque, promover uma abordagem acadêmica e ética da sociedade a respeito do papel da escola, numa ação que comece da base da pirâmide social.

Quando a criança ingressa na escola, ela vai aprender a ler: o quê? Em princípio, tudo o que está escrito. Antes disso, será que a criança não lê o que se passa ao seu redor, suas relações, sua situação? Tanto o faz que seja “perguntadeira”, “curiosa”, “intrometida”, “se mete onde não é chamada” e quer dar opinião sobre tudo. A Educação Infantil, do ponto de vista legal, é a primeira etapa da Educação Básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de zero a cinco anos de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, linguístico e social, complementando a ação da família e da comunidade (Lei nº 9.394/96, art. 29).

É com a Lei 9.394/96 que, ao menos formalmente, tem-se a reconstrução desse cenário, buscando-se a superação da cisão via reconhecimento da educação infantil como primeira etapa da educação básica, etapa dotada de características próprias nas qual cuidado e educação devem estar articulados. Mudanças nas concepções de criança e de infância também contribuem para a proposta pedagógica da educação infantil, superando-se o modelo de preparação para o ensino fundamental e considerando-se a importância de valorizar a infância e seus modos próprios de ser e estar no mundo, bem como a criança como produtora de cultura. (MARQUES e MARANDINO, 2018, p. 9)

A escola tem um papel fundamental quando passa a oferecer condições para que os alunos possam, desde cedo, ser incentivados a explorar, questionar, interagir com o mundo físico e social, com o tempo e com a natureza, como preceitua as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, em seu artigo 9º, inciso VIII, da Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009.

A leitura, no mundo pós-moderno, não está reduzida a simples decodificação de letras, mas a leitura da união entre signos gráficos e imagens, uma relação considerada, na sociedade contemporânea, associada às tecnologias digitais, ao desenvolvimento pessoal e ao status intelectual. Então, qual a importância em trabalhar textos multimodais na Educação Infantil? Os textos multimodais, concomitantemente, permitem iniciar uma reflexão sobre a própria vida e desencadear o debate, movendo os alunos para fora da sala de aula, entre amigos e familiares, próximos do leitor infantil.

Para nortear a construção deste estudo, foi estabelecido o objetivo geral de investigar se os professores da Educação Infantil incentivam o hábito da leitura e se a multimodalidade textual predomina como prática cotidiana; realizar a verificação de como o ambiente de sala de aula estimula a leitura de textos multimodais, além de observar se há o desenvolvimento de habilidades leitoras em suportes e em linguagens variadas.

O campo de pesquisa escolhido é um Centro de Educação Infantil, localizado numa cidade do interior do Agreste Pernambucano, escola da rede pública municipal com atendimento a crianças de 4 e 5 anos de idade. A pesquisa qualitativa foi à metodologia adotada, iniciada através do levantamento bibliográfico, incluindo as observações diretas (estudo de caso), e, por meio de documentos foi caracterizado o campo de pesquisa.

Na abordagem teórica foi feito um breve relato de como surgiu à leitura e por que ela é fundamental. É suscitado também o conceito de multimodalidade e sua importância na Educação Infantil.  O ato de ler deve fazer parte da nossa vida desde o nascer em diferentes níveis, tal como preconiza Negret (2005). Portanto, é necessária uma renovação pedagógica que tenha como compromisso a formação de um novo homem, uma nova sociedade, uma nova realidade histórica, uma nova visão de mundo que, vislumbradas pelo educando, permita-lhe assumir de fato uma cidadania adulta.

1.1. O que é ler, como surgiu a leitura e por que é fundamental?

Na Roma antiga, o verbo ler – do latim legere – além de decodificar a escrita, podia significar também colher, recolher, espiar, reconhecer traços, tomar, roubar. Para os romanos, ler era muito mais do que simplesmente reconhecer as palavras e frases, era a forma de garantir os direitos dos patrícios às propriedades, pois na Antiguidade a leitura e a escrita estavam restritas a poucos privilegiados.

Falar de leitura é discorrer sobre a vida, ler ultrapassa a compreensão dos signos linguísticos, pois, como diz Freire (2011, p. 9): “a leitura da palavra é sempre precedida da leitura de mundo”.  Sabemos que os primatas conseguiam deixar mensagens nas paredes das cavernas, nas pedras externas ou mesmo em casca de árvores, por meios de desenhos rabiscados (touros, bisões, renas, cavalo), utilizando-se de pedras, galhos ou qualquer outro objeto pontiagudo que conseguisse “talhar” a mensagem.

Consequentemente, se alguém deixasse algo rabiscado nos citados lugares, outro alguém o leria e entenderia o que aquele primeiro queria dizer. Portanto, quem fazia a interpretação dos rabiscos era considerado um leitor, mesmo sendo de imagens figurativas e não de códigos abstratos como as letras e os números.

Os sumérios que guardaram suas anotações, utilizando a escrita cuneiforme (feita com auxílio de grifos, em formato de cunha) em tabuletas de argila, começaram a criar símbolos gráficos, e, diante de cada símbolo, um som era gerado, surgindo daí o pictograma (símbolo que representa um objeto ou conceito por meio de desenhos figurativos), os hieróglifos (escrita sagrada, era dominada só por quem mantinha o poder sobre a população, considerada a mais antiga, geralmente utilizada para marcações em túmulos e templos), a escrita silábica ou logossilábica e a escrita alfabética.

Na sequência, podemos afirmar que os primeiros textos teatrais, literários e declamações eram registrados apenas na mente. Quando surgiram os registros escritos, ou seja, registro de sinais ou sílabas, estes eram feitos basicamente para contratos comerciais e controle de vendas, por profissionais denominados “escribas” que faziam uso do papiro (frágil), do pergaminho (resistente e duradouro) e do papel (de baixo custo e perecível).

Os pioneiros no registro de suas leis foram os gregos e os romanos e, segundo historiadores, apenas os nobres sabiam ler, escrever e transmitir os assuntos, sempre de importância comercial. Assim, podemos dizer que, do ponto de vista econômico, dinheiro e escrita podem não ter surgido ao mesmo tempo, mas passaram a “infância” juntos e a propagação destes ocorreu em sociedades avançadas.

No final do século XV, na Idade Média, os livros eram escritos à mão e só quem possuía tal habilidade era os monges, alunos e escribas, considerados os intelectuais da época. Cada exemplar demorava meses para ser findado, além de se tornar caríssimo e, por esse motivo não era um produto acessível para a maioria das pessoas.

No final do século XIV desenvolveu-se a xilografia – impressão com matriz de madeira; e a metalografia – impressão com matriz de metal. Semelhante aos chineses, os europeus também conheciam, no início do século XV, o papel, a tinta e a matriz, mas faltava uma ideia, um inventor que juntasse isso tudo num só equipamento.

Johannes Gutenberg, começou a observar um anel que tinha o brasão escavado ou uma pedra preciosa com o qual os nobres selavam documentos, neles imprimindo o brasão da família. A partir daí, teve a ideia de utilizar o anel para imprimir letras e imagens. Ainda insatisfeito, por desejar produzir os escritos com mais rapidez, teve a ideia de adaptar uma prensa que servia para produzir vinhos. Para tanto, criou um objeto de madeira similar à prensa de parafuso agrícola do período e, juntamente com a tinta à base de óleo, permitiu a produção em massa de livros impressos. Posteriormente surgiu à impressão tipográfica que permaneceu com poucas modificações até o século XIX.

O primeiro livro impresso por Gutenberg foi a Bíblia e após a sua invenção disseminou-se o hábito de ler e escrever na Europa, deixando a cultura letrada ao alcance das novas classes sociais. Naturalmente, quem sabe ler e escrever sente a necessidade de assimilar outros assuntos, passando os gregos a registrar fatos filosóficos, literários e artísticos. A partir da Idade Média, a leitura começou a se tornar individual e ser feita em voz baixa, pois foi à própria religião e a imposição de seus escritos que impulsionaram a leitura silenciosa. Com o invento da imprensa e com a revolução comercial e industrial, houve a necessidade de expansão e ascensão da leitura e da escrita em todo o mundo, gerando desta forma a obrigatoriedade de ensino para as crianças.

No Brasil a leitura do código escrito começou através dos jesuítas com a catequização dos índios e com a necessidade de escolarizar os filhos dos colonos portugueses. A falta de escolas na então colônia impedia a expansão e divulgação desse tipo de leitura, só sendo impulsionada após o século XIX. Segundo Lajolo e Zilberman (1991), tentaram modernizar o ensino, unindo literatura e educação, tornando-o, assim, mais próximo dos padrões burgueses. No entanto, essa proposta fracassou com o movimento político de D. José I.

[...] inexistia um sistema escolar exclusivo para eles, que ou assistiam às lições dos jesuítas ou permaneciam analfabetos, aprendendo eventualmente a ler, escrever e contar com particulares. O processo, neste caso, dissociou-se do que acontecia na Europa, onde o ensino se expandia e coletivizava, assumindo as feições que até hoje o caracterizam. (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 28).

A partir do momento em que foram sanadas as necessidades de registros comerciais, jurídicos, como também artísticos e filosóficos, surgiu a carência pela produção desses documentos para divulgação, através da imprensa (jornais, revistas, livros) e isso só veio realmente acontecer a partir do século XX, por meio das tecnologias digitais. Conforme referenciais teóricos de Santos (2002a), a década de 80 ficou historicamente assinalada como o período em que a criação de conjecturas teóricas tocante à pedagogia da leitura foi muito enfatizada. Sobre isso, destacamos que:

Se o ensino da leitura e da escrita sofreu mudanças diversas ao longo da história, nas três últimas décadas variados aspectos têm influenciado e transformado bastante as formas segundo as quais esse ensino tem sido concebido e posto em prática. Fatores como os avanços teóricos na área, mudanças nas práticas sociais de comunicação e o desenvolvimento de novas tecnologias têm forjado novas propostas pedagógicas e a produção de novos materiais didáticos relacionados à alfabetização inicial e ao ensino de línguas em geral. (ALBUQUERQUE, 2008, p.252)

Ler é compreender os discursos, mas também é completá-los, descobrindo o que neles não está claramente dito. São várias as qualidades despertadas pelo hábito da leitura, o vocabulário de uma pessoa que tem o hábito de ler, por exemplo, é amplo, pois a aptidão para ler com proficiência é o mais significativo indicador de bom desempenho linguístico. Portanto, as palavras de Marisa Lajolo resumem o que se pretende apresentar:

(...) saber ler e escrever, além de fundamental para o exercício de graus mais complexos de cidadania, constitui marca de distinção e de superioridade em nossa tradição cultural. Tanto para indivíduos quanto para coletividades. Povos sem escrita costumam serem considerados inferiores, sem história, bárbaros. Talvez por isso tenha tanto prestígio com um conceito de literatura que a articula tão estreitamente a manifestações escritas. (LAJOLO, 2001, p. 30).

Por meio da leitura temos acesso a uma quantidade de informações e domínio de conhecimento, além de desenvolver apropriadamente recursos argumentativos para sustentar uma ideia, temos também o domínio para defender uma opinião. Enfim, o hábito de ler representa um sinal distintivo de dignidade e saber em nossa sociedade que tanto poder dotou a esse modo de abstração de sentidos. Logo, o papel da escola é fundamental no processo de incentivo ao hábito da leitura desde a Educação Infantil e dessa função ela não pode e não deve se eximir.

1.2. Textos multimodais: definições e importância na educação infantil

Os motivos para ler são muitos: prazer, necessidade, aprendizado, reflexão, para obter informação ou para realizar algo. Sabemos que a Educação Infantil se configura como uma etapa de escolarização fundamental para o desenvolvimento global da criança. Nesse contexto, podemos afirmar que há diversos conhecimentos a serem contemplados nas atividades diárias com aqueles que frequentam esse momento de escolarização.

Luna (2002) propõe um conceito de texto enquanto hábitos linguísticos elaborados por meio da junção das diferentes formas da linguagem (escrita, oral e visual) e destaca o papel da linguagem imagética e/ou visual na composição linguística do texto, ou seja, não há apenas o texto escrito e falado, mas, sobretudo, há o texto visual ou imagético. De forma mais clara, a autora explica que textos que possuem na sua construção “ilustrações, cores, formas, formatos e tonalidades” materializam uma série de rudimentos textual-discursivos, que contemplam a dimensão visual.

A partir dos anos 2000 passou a ser discutido com mais veemência outra forma de se ver o texto – o texto multimodal, que Xavier (2004, p. 13-67) define como a “fusão de diversos recursos das várias linguagens numa só tela de computador acessíveis simultaneamente em um mesmo ato de leitura, provoca um construtivo embora volumoso impacto perceptual cognitivo no processamento da leitura”.  

 Os referenciais teóricos de Dionísio (2005) definem os textos multimodais como constructos textuais que têm em sua composição linguística maneiras diferentes de se revelar a leitura, quais sejam: gêneros textuais escritos frutos da união de signos verbais e visuais, ou seja, elementos alfabéticos que são as letras, as palavras e as frases e os elementos advindos de outros sistemas semióticos (animações, as cores e os formatos).

Ao lermos um texto manuscrito, um texto impresso numa página de revista, ou na tela de um computador, está envolvido numa comunicação multimodal. Consequentemente, os gêneros textuais falados e escritos são também multimodais porque, quando falamos ou escrevemos um texto, usamos, no mínimo, dois modos de representação: palavras e gestos, palavras e entonações, palavras e imagens, palavras e tipografia, palavras e sorrisos, palavras e animações etc. (DIONÍSIO, 2005, p. 178).

Outro ponto que deve ser enfatizado é o fato da multimodalidade discursiva não priorizar apenas a conexão de elementos escritos e visuais, mas incluir também gêneros textuais orais. Moraes e Dionísio (2009), afirmam que a disseminação tecnológica tem gerado nova forma de revelar as informações e isto quer dizer que a criação de textos, com formalização simples, ou seja, textos elaborados apenas por letras, palavras e estruturas frasais – é agora vista como imbricada em novos elementos que incluem o campo visual.

Sendo assim, Sé (2008), afirma que textos multimodais excluem o pensamento de tempos atrás no qual a composição de um texto era unicamente verbal ou unicamente escrita, podendo ser elaborado por uma diversidade de elementos incluindo o verbal, o oral e o visual. Somada a essa constatação, importante frisar o quanto a imagem ganhou espaço em nossas vidas e isso se comprova, por exemplo, pelo número considerável de documentos textuais, presentes nas práticas cotidianas que trazem conseguem não apenas a linguagem verbal ou escrita, mas um grande contingente de recursos visuais imagéticos. Sobre essa questão, Lajolo (2001, p. 122) afirma que, os textos assumem, hoje, a condição de multimodalidade que seria a confluência de linguagens acionadas para sua composição e necessárias para o seu funcionamento comunicativo.

A importância da utilização do texto multimodal na Educação Infantil é uma nova oportunidade de incentivar o hábito da leitura, pois a figura do leitor passa por uma transformação, por uma mudança estimulante que faz eclodir um novo sentido ao ato de ler. A leitura por si só traz um universo todo especial e é por este meio que compreendemos o mundo e a essência do ser humano. A experiência da leitura na Educação Infantil deve ser algo encantador, pois o simples ato de uma criança abrir um livro tende a acender a sua imaginação, despertar a sua capacidade de sonhar e de descobrir o como seria e o que poderia ser. Para ler, de sua forma, o aluno precisa ser desafiado e assim, é importante considerar que, mesmo sem dominar a decifração das palavras, ou seja, do código escrito, ele já conhece muitos caminhos de leitura.

Na contemporaneidade, com a incontornável propagação das tecnologias digitais, o texto escrito obtém cada vez mais novas formas, novas características, indo além de palavras, frases e, acima de tudo, da modalidade escrita da linguagem. Assim, não é contraditório pensar que a disseminação da tecnologia digital instiga novas composições textuais, promove múltiplas formas de fazer uma leitura, seja ela numa linguagem escrita, oral, seja visual.

[...] parte do sucesso da nova tecnologia deve-se ao fato de reunir em umas só meio várias formas de expressão, tais como texto, som e imagem, o que lhe dá maleabilidade para a incorporação simultânea de múltiplas semioses, interferindo na natureza dos recursos linguísticos​ ​utilizados. (MARCUSCHI​ e XAVIER, 2010, ​ ​p.16)​

Apreende-se que os componentes alfabéticos típicos da leitura – letras, sílabas, palavras e frases – considerados os mais convencionais, não são as únicas condições que darão base ao leitor para compreender um texto, mas a utilização de cores, formas, imagens remete a componentes provenientes da linguagem imagética e visual, e esse formato de texto atraí com grande facilidade alunos da Educação Infantil. Enfatizando que não se deve desprezar os elementos alfabéticos, mas considerando o tipo de plano imagético e visual, visto serem estes os elementos classificados como semióticos de grande importância à leitura e à compreensão de textos multimodais.

2. Metodologia

A pesquisa é essencial para a ciência, conquanto possibilite uma afinidade e uma compreensão da realidade a investigar. Trata-se de um processo permanentemente inacabado e que se processa por meio de alternativas surgidas na realidade, fornecendo subsídios para uma intervenção no real. Este estudo tem como gênese o levantamento bibliográfico e, como base metodológica, a pesquisa qualitativa de cunho etnográfico.

“Os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não métricos (suscitados e de interação) e se valem de diferentes abordagens”. (GERHARDT, 2009; SILVEIRA, 2009, p. 32).

A partir de consultas a trabalhos científicos para embasar a fundamentação teórica, foi possível obter uma visão geral sobre a importância de incentivar à leitura desde a Educação Infantil, utilizando meios mais atrativos, os textos multimodais. Todo trabalho científico necessita que tenhamos um olhar mais apurado em sua prática, por isso procuramos métodos que nos auxiliasse e nos mostre meios práticos de realizar as investigações.

Ao procurarmos explicar o porquê das coisas, utilizamos o Método de Estudo de Caso, neste tipo de método são propostas questões de pesquisa do tipo “como” e “por que”. Estas perguntas têm a finalidade de permitir a análise de uma dada situação no qual não se faça interposições no sentido de manipular comportamentos pertinentes.

Neste caso, os dados são coletados a partir de múltiplas fontes fundamentadas em relatos, documentos e observações. E em comparação com outros métodos de investigação tidos como qualitativo, o método de estudo de caso é considerado uma vantagem, pois em relação à temporalidade, é bastante vasto, por consentir que o caso seja estudado com base em situações contemporâneas, ou seja, casos reais, que estejam acontecendo, ou mesmo, em situações passadas, que já ocorreram e que sejam relevantes para o entendimento das questões colocadas na pesquisa.

Em todo caso, na pesquisa qualitativa o cientista é, ao mesmo tempo, o sujeito e o objeto de atuação, isso porque o desenvolvimento da pesquisa é imprevisível. O conhecimento do pesquisador é parcial e limitado. “A pesquisa qualitativa tende a salientar os aspectos dinâmicos, holísticos e individuais da experiência humana, para apreender a totalidade no contexto daqueles que estão vivenciando o fenômeno” (POLIT, BECKER E HUNGLER, 2004, p. 201). Portanto tem como objetivo colher informações concretas referentes a realidade do campo de estudo, para melhor compreensão dos resultados.

Ao realizar este tipo de pesquisa utilizamos métodos que favorecem a análise e as discussões, fazendo referência à fundamentação, a partir destes foi possível demonstrar que o professores tem conhecimento da importância do incentivo ao hábito da leitura utilizando textos multimodais desde a Educação Infantil. Possibilitou-nos não apenas mostrar as dificuldades enfrentadas pelos professores, mas demonstrar que trabalhar a leitura de maneira diferente, atrativa, utilizando textos e meios como som e imagens além dos signos linguísticos deixa o ambiente e o momento mais enriquecedor.

2.1. Caracterização Do Campo De Pesquisa

O presente estudo foi desenvolvido com professores de uma escola de Educação Infantil da rede pública municipal de ensino, localizada em uma cidade do interior do Agreste Pernambucano. Esta escola funciona no turno da manhã, no horário das 07h30 às 12h00, com alunos da Educação Infantil (de 4 e 5 anos): Jardim I e Jardim II, turmas A e B. A estrutura física da escola é composta de 04 salas de aula, a sala da direção, a sala da coordenação pedagógica, 05 banheiros sendo um para os professores e funcionários, 02 para os meninos e 02 para as meninas adaptados para o tamanho infantil.

A Escola conta com 104 alunos matriculados, destes uma pequena quantidade residem na zona rural; 08 professores sendo 04 auxiliares; a equipe diretiva é composta pelo diretor e 02 coordenadores pedagógicos; e os demais funcionários são 02 zeladores, 01 merendeira e 01 vigia. Percebemos que há na Escola uma convivência muito agradável, respeitável e propícia ao desenvolvimento de um trabalho coletivo entre todos: professores, equipe diretiva e demais funcionários.

2.2. Coleta de dados

O estudo foi iniciado com uma primeira visita no CEI para adaptação do ambiente e para desenvolver um contato direto com a gestora, coordenadores e com o corpo docente, ocasião em que foi exposta a intenção e a objetividade deste trabalho. Em um segundo momento iniciaram-se as observações, os registros foram feitos em um bloco de notas de forma que possibilitasse a apreciação e análise futura com mais propriedade, concomitantemente com os objetivos que se desejou alcançar concomitantemente com a exploração literária.

Após algumas visitas, foi entregue aos oito professores um questionário semiestruturado, contendo um misto de dez questões. No ato da entrega do questionário foram informados quanto ao objetivo da pesquisa e da metodologia a ser utilizada, tendo em vista viabilizar mais eficácia ao trabalho proposto.

3. Resultados e discussão

Os resultados obtidos foram apresentados através da análise de conteúdo e algumas descrições foram expostas em tabelas, baseando-se também com os dados coletados nas observações. Dos 8 professores, apenas 07 entregaram o questionário respondido, e dos 7 professores 3 (três) são de apoio, destacando que todos possuem formação acadêmica, ou seja, graduação e especialização na Área da Educação e alguns já estão com o tempo de serviço avançado, variando entre 25 e 30 anos.

Percebemos que os professores buscam se especializar na área da Educação e têm interesse em aprofundar-se nos estudos, mas também é percebido, por meio da observação, a desmotivação quando de forma indireta comentam que só cursaram graduação e consequentemente especialização para melhorar o salário, demonstrando intensa insatisfação quanto à ausência de formação continuada para atender as exigências impostas pela sociedade atual.  

Se o professor está desmotivado, consequentemente o rendimento e a qualidade do seu trabalho tendem a diminuir, causando uma baixa na produtividade e, portanto, fragiliza a aprendizagem do aluno. Jesus (2004, p. 23) aponta que “é relevante se pensar em novos paradigmas educacionais onde se reestude o modelo escolar atual e se leve em conta as limitações e o bem-estar tanto do professor quanto do aluno”.  Contudo, observa-se que, como eles mesmos externalizaram em suas falas, o objetivo maior para a qualificação é o manifesto interesse em melhorar a faixa salarial. Assinalamos, resumidamente, três pontos para a desmotivação do docente:

(...) desvalorização do magistério, relacionada com a questão salarial; a estrutura do ensino, determinada pelo modelo de escola da legislação contemporânea; e as condições de trabalho, como espaços físicos e materiais didáticos, que impossibilitam um ensino de melhor qualidade. (CUNHA, 1999, p. 20).

O governo defende que a educação é imprescindível para o cidadão, mas na prática a deficiência é vista cotidianamente, a educação em si é muito desvalorizada e com ela também o papel do professor.  Em uma das visitas, foi apresentado pela diretora um documento intitulado “Conteúdos para serem trabalhados em 2018”, no qual constam informações acerca do planejamento anual, conteúdos programados para o ano em exercício; as metas de como devem ser trabalhadas cada área; textos para reflexão; relação de convivência em busca do mesmo objetivo – o Aprender; o cronograma das disciplinas / aulas.

A princípio vemos que tanto a direção como o corpo docente pretende desempenhar um bom trabalho. No que concerne ao método de ensino, o Quadro 1 apresenta as respostas dos professores direcionadas às opções didáticas da instituição e de suas próprias escolhas.

Quadro 1
Método de ensino utilizado pelos professores

Questões 1 e 1.1: Você, professor, utiliza algum método de ensino específico? Em caso positivo, qual o método utilizado? O método utilizado é escolha pessoal ou imposto pela escola?

Professores

Respostas

DO 1

Sim. Demonstração de gravuras que possam representar uma leitura visual, ilustrações que desenvolvam sua capacidade de concentração e de observação, leitura em voz alta para que o aluno ouça, entenda e conheça a finalidade da leitura. Afirma ser um método escolhido pela escola.

DO 2

Sim. Método indutivo, o qual parte de um princípio particular para um princípio geral. O método escolhido é pessoal.

DO 3

Sim. Método dedutivo, que parte de um princípio geral para o particular. O método escolhido é pessoal.

DO 4

Não. Afirma que utiliza um método escolhido pela escola, porém não especificou.

DO 5

Não. Afirma que escolhe um método pessoal, porém não especificou.

 

DO 6

Sim. Com base na proposta pelo educador de apoio e de forma que rege o PPP – Projeto Político Pedagógico, proposto pela escola, o método utilizado pela minha sala de aula são os objetivos que almejo alcançar com meus alunos através de atividades de ensino em relação a um conteúdo específico relacionado com a educação de acordo com o nível da turma.

DO 7

Alfabeto móvel, leitura em quadrinho, construção de histórias a partir de desenhos, jornais, revistas.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018

Analisando as respostas, observamos que a escola não impõe um método de ensino monolítico ao docente, pois ali cabe ao professor decidir como trabalhar em sala de aula, de acordo com o seu entendimento e experiência profissional. Comparando com o que foi observado, percebemos que o professor que possui um método específico para trabalhar, tem mais habilidade e domínio em sala de aula.

O planejamento flui com mais facilidade e abrangência, porque ele demonstra possuir habilidades leitoras próprias e consegue montar algumas estratégias enfatizando o hábito da leitura, como por exemplo, trazendo materiais como revistas, jornais, gibis, materiais estes que muitos alunos não possuem em suas casas e atraem a curiosidade para manuseá-los e assim fazer uma leitura não verbal, ou seja, leitura imagética. Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – RECNEI (1998a) têm como escopo:

A intenção de fazer com que as crianças, desde cedo, apreciem o momento de sentar para ouvir histórias e isso exige que o professor, como leitor, preocupe-se em lê-la com interesse criando um ambiente agradável e convidativo à escuta atenta, mobilizando a expectativa das crianças, permitindo que elas olhem o texto e as ilustrações enquanto a história é lida. (RECNEI, 1998, p. 143).

No que diz respeito ao desinteresse pelo contato com a leitura já bastante em evidência desde a educação infantil, constatamos pelos dados coletados que todos os professores possuem experiências com alunos da Educação Infantil que apresentam desinteresse pela leitura e buscam as formas mais acessíveis e disponíveis que existem na escola que são os Supervisores de Ensino e os pais.

Na educação escolar, nem sempre os alunos querem aprender. A obrigatoriedade da matrícula coloca-os nas salas de aula, eles tornam-se amigos de alguns de seus colegas e passam a querer ir à escola. Mas a busca do conhecimento tem sofrido ao longo da história da instituição social escolar certo desencanto que vem dar na dissolução do desejo de aprender e que não favorece o enigma (WACHOVICZ, 2009, p.18).

É imprescindível que os profissionais da educação: professores, pedagogos, coordenadores, supervisores, como também os pais, atentem para o desempenho da aprendizagem, do interesse pela leitura, inclusive porque são essas pessoas que irão influenciar no avanço e melhoria do aluno. A leitura deve fazer parte do cotidiano escolar do aluno, para desenvolver-se com facilidade nas mais diversas disciplinas. A leitura atrai a concentração, a interpretação e o conhecimento. Mesmo sem interesse o aluno deve ser estimulado a ler.

Sobre as questões que envolvem a diversidade de textos e suportes, a maioria dos professores informou que quando possível fazem uso de textos diversificados para a prática da leitura. As leituras mais utilizadas pelos professores são histórias em quadrinhos, fábulas, cantigas de roda, textos que dão ênfase na leitura de imagens. Houve a oportunidade em uma das visitas de observar quando em uma das salas foram distribuídas revistas, os alunos as manusearam, interagiram uns com os outros, ficaram à vontade no manuseio da revista enquanto o professor organizava outra atividade.

Percebeu-se que os materiais textuais são distribuídos em sala de aula e, em muitas ocasiões apenas para cumprir com o planejamento elaborado, pois não há uma estratégia para que ocorra a habilidade leitora. Ocorre o inverso do que afirma Koch & Elias (2006, p. 37) “A leitura é uma atividade de construção de sentidos que pressupõe a interação autor-texto-leitor”.Os professores afirmaram que o trabalho de leitura é feito uma vez na semana, ou duas ou três vezes no mês, não há um hábito para a leitura cotidiana, o interesse maior é cumprir com os conteúdos descritos no planejamento escolar.

No processo ensino-aprendizagem, a motivação deve estar presente em todos os momentos. Quanto a isso, Fita (1999) explica que muitas vezes para o aluno ter motivação em aula é importante ter um bom professor. Sendo assim, um bom professor é aquele que sabe motivar seu aluno e a motivação envolve uma ação conjunta entre fatores externos tais como estímulo e incentivo, como também, fatores internos que englobam a auto realização e o desejo do indivíduo de renovar-se e reciclar seu potencial.

Sobre a presença ou ausência de um ambiente adequado para a leitura, os professores responderam em sua maioria que “existe um cantinho da leitura” dentro da sala de aula, que é uma mesinha contendo alguns livros de histórias infantis, revistas, jornais com algumas ilustrações. Outros responderam que tem uma pequena estante com os citados tipos de livros. Vale salientar que o tamanho da estante dá acesso aos alunos conseguirem alcançar os livros, também foram vistas almofadas espalhadas pelo chão, para que os alunos se sintam a vontade no momento da leitura. Constaram ainda nas respostas, que a escola dispõe de um som, uma TV e um DVD, fazendo referência a imagem e som para o estímulo à leitura multimodal.

No que tange aos aparelhos eletrônicos citados existem apenas um de cada e são armazenados na secretaria da escola. Para a utilização destes é necessário o agendamento, sendo um dos motivos expostos pelos professores como um entrave no que tange ao uso, a dificuldade para transportar e fazer a instalação dos referidos equipamentos e deixar os alunos dispersos, mas afirmam fazerem o possível para os alunos terem essa oportunidade de uma aula diferenciada e que estimule o imaginário.

Moraes (2007), afirma que a composição textual está cada vez mais calcada na mescla da escrita e da imagem, formas consideradas atualmente inseparáveis. A união destes dois elementos, escrita e imagem, são acentuadas com a difusão tecnológica do mundo digital, que tem desencadeado, nos últimos tempos, uma maior aceitação do plano visual e a partir daí a exaltação de novos formatos textuais.

Pensamos que, a par dessa verdade contextual, o entendimento sobre o que significa texto muda substancialmente, justamente quando observamos o quanto todas as modalidades da linguagem podem atuar em conjunto em benefício da estrutura textual.Ao perguntar sobre o conceito ampliado de leitura e de texto, os professores enfatizaram com clareza que os alunos da Educação Infantil têm capacidade de fazer leitura, mesmo sem conhecer os códigos da escrita alfabética, já que conseguem criar interpretações maduras para as imagens, para o que lhe atrai o olhar.

Em consonância ao que aborda Ferreiro (2007), a criança com idade de 4 e 5 anos, quando entra em contato com o mundo da leitura e da escrita, por meio de metodologias interessantes, estimulantes, agradáveis, sem ser forçada a aprender a decifração mecânica do código, tem condições de iniciar de maneira vantajosa o Ensino Fundamental, de modo que a leitura, no sentido mais amplo, começa a fazer parte indispensável de sua existência.No que diz respeito à multimodalidade, as respostas compiladas no Quadro 2, abordam sobre a concepção que os professores tem sobre a multimodalidade textual na Educação Infantil.

Quadro 2
Concepção sobre multimodalidade textual na Educação Infantil

Questão 7: Qual sua concepção sobre MULTIMODALIDADE TEXTUAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL?

Professores

Respostas

 

DO 1

Defino como um processo de construção textual ancorado na mobilização de distintos modos de representação linguística, calcada na conexão / união de elementos provenientes diferenciados da linguagem, pautados na junção de elementos alfabéticos e imagéticos, na linguagem verbal, gestual, escrita e visual.

 

 

 

DO 2

Como o próprio nome diz: “Multimodalidade Textual na Educação Infantil”, se refere as várias modalidades de textos, que o professor(a) da Educação Infantil deve utilizar para despertar nos alunos, o interesse pela leitura. Depois que o aluno adquire este “gostinho” pelas histórias infantis, tenho certeza que ficará formada a “base” deste processo e tudo ficará mais fácil e divertido para ele, haja vista, todas as disciplinas precisarem ser entendidas, através da leitura e o mesmo aprenderá por prazer e “não” por obrigação. Na medida em que ele (o aluno) estiver aprendendo, também estará se divertindo, pois o professor (a) utilizará os textos, através do método indutivo, levando o aluno à curiosidade e a descobrir “coisas novas”, por meio desta leitura que não cansa.

 

 

DO 3

É muito importante na Educação Infantil a Multimodalidade Textual, pois os alunos não estão no mesmo nível de maturidade cognitiva. O aluno deve ser estimulada através de várias modalidades textuais, figuras, quadrinhos, pequenos textos, fábulas até o aluno começar a gostar das histórias infantis que servirá de base para sua formação leitora. A maneira lúdica é muito importante para que o aluno aprenda brincando. O colorido, a imagem, o enredo é muito importante para o aluno, ela gosta de ouvir a mesma história, pois ela começa a se identificar e a partir daí começamos a formar novos leitores.

DO 4

Entendo a multimodalidade textual como sendo a diversidade de textos que precisam ser trabalhados com os alunos na Educação Infantil.

DO 5

É interessante o trabalho com jornais, revistas, receitas, entre outros.

DO 6

 

Interpreto que essa prática é rica quando o professor consegue realizar atividades de multimodalidade textual com dinâmica de respeito a cada fase em que o aluno se encontra, ou seja, ter habilidade de trabalhar essa técnica de maneira a respeitar a peculiaridade de cada um nesse processo em que o aluno se encontra, com os diversos gêneros textuais.

 

 

DO 7

É muito importante que o aluno desde cedo tenha contato com os vários tipos de textos e gêneros textuais para ingressar no mundo da escrita e da leitura tendo uma ampla ideia sobre as possibilidades de construção do pensamento embasado pelos textos de grandes autores. O leitor formado desde cedo com a ideia de que deve sempre buscar outras fontes de informação, torna- se um leitor crítico e analista. Se informando sempre para não ficar apenas com uma opinião sobre o assunto.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

A concepção de multimodalidade textual, expressa pelos professores participantes deste trabalho, mostra-se pertinente, embora na prática a realidade possa ser outra em virtude dos fatores sócio-político-econômico da sociedade na qual estão inseridos, bem como as condições oferecidas pela instituição escolar. Claro está que os professores possuem a consciência de que, com a utilização de textos multimodais, surgem novas oportunidades de leitura e também, a imagem do leitor, diante de textos diversificados e em múltiplas semioses, passa por uma transformação que dá estímulo e um novo sentido à prática da leitura.

Verificamos que os professores entendem que os meios convencionais como: letras, sílabas, palavras e frases, não são as únicas condições para a leitura, embora estes componentes alfabéticos, quando em comunhão com os elementos semióticos, linguagem imagética e visual, são de grande importância para a leitura de textos multimodais.

Em relação às respostas relacionadas à utilização de textos multimodais no cotidiano escolar, a maioria dos professores não garante ao seu aluno a diversidade textual, ou seja, não garante a utilização de textos intersemióticos (escritos, orais ou visuais). Quando afirmam que a prioridade é cumprir com os conteúdos programáticos das disciplinas, afirmaram que o tempo disponível para inserção da leitura cotidianamente é muito restrito, além de mencionarem como entrave maior a insuficiência de recursos.

O mundo vive em constante transformação. Os meios de comunicação, revistas, jornais, estão sendo substituídos por outros que desafiam a noção geográfica e temporal, quebrando fronteiras e acelerando tanto o contato como o acesso às informações. Tais avanços têm colocado o ser humano na interface dos recursos multimodais cada vez mais convergentes. Por outro ângulo, as escolas, consoante os parâmetros tradicionais, têm equalizado esses avanços? Será que as instituições escolares estão oportunizando aos alunos situações de aprendizagem em contextos multimodais? Será que prevalece o status da linguagem abstrata do código linguístico?

Durante as visitas, observamos que os professores deixam transparecer o quanto desejariam fazer uso de diversos tipos de textos, mas afirmam que a escola não oferece condições para reprodução destes, não têm como fazer uso de computadores por não existir ambiente e nem equipamentos apropriados, não há material específico para dar suporte nas inovações pretendidas.  Na escola lócus de nossas análises, o mimeógrafo ainda é o instrumento e recurso de trabalho utilizado para reprodução de tarefas escolares, bem como para replicarem os textos, deixando os professores de “mãos atadas” para avançar e acompanhar a realidade semiótica de seu tempo.

Sabemos que as instituições escolares deveriam oferecer os mais diversos recursos para se obter melhores resultados, objetivando atuar no processo de desenvolvimento dos alunos. Quando os mais diversos meios tecnológicos são oferecidos o aluno irá utilizar a sua criatividade, a sua inteligência e a partir daí, aumentar o seu campo de conhecimento e de aprendizagem. Se o ato da leitura não se limita a práticas cognitivas, a leitura precisa ser encarada como um ato e como uma prática social, por meio da qual o leitor faz uso de vários saberes.  Por esse esteio, os dados coletados no Quadro 03, referem-se justamente aos avanços de práticas voltadas à valorização da multimodalidade.

Quadro 03
Avanço na utilização da Multimodalidade Textual na Educação Infantil

Questão 10: Na oportunidade de se fazer uso de TEXTOS MULTIMODAIS você percebe avanço na compreensão e interpretação das mensagens?

Professores

Respostas

 

DO 1

Claramente, visto também se propõe a identificar e apresentar os desafios emergentes que essa experiência propõe ao ensino de línguas. Reconhece-se que o maior desafio é possibilitar o aperfeiçoamento das produções de textos multimodais de modo que os textos produzidos na aula de línguas reflitam aqueles textos em circulação na sociedade dos alunos.

DO 2

Às vezes, quando dá tempo e realizamos o uso de textos multimodais, como o uso do jornal, receitas, etc. verificamos que os alunos gostam, pois há uma inovação nas aulas, tornando-as mais agradáveis, levando os alunos a uma maior interpretação das mensagens trabalhadas.

DO 3

Sim, alguns alunos quando colocadas em contato com várias modalidades textuais começam a avançar em sua compreensão. Fato que até estar fazendo parte da educação infantil não existia em sua vida nem na vida de sua família.

DO 4

Sim. Ao utilizá-los, percebi a turma mais motivada e envolvida nas atividades, uma maior concentração na abordagem feita no feedback satisfatório.

DO 5

Percebe-se uma maior compreensão sim quando utilizamos textos multimodais.

DO 6

Quando há a oportunidade de utilização de textos multimodais, verifico sim o entusiasmo dos alunos, a alegria em fazer uso de revistas, jornais, ou seja, materiais que não são comuns o manuseio em casa. Os alunos procuram logo o que mais lhes chamam a atenção e fez a leitura visual.

DO 7

Sim. O uso dos textos multimodais facilita a compreensão da mensagem central do texto. A visualização de imagens chama atenção maior que a linguagem escrita e promove uma fixação maior do que se quer informar.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

A concepção de que a leitura de textos multimodais é de extrema importância para o desenvolvimento do aluno fica expressa nas respostas dos professores.De acordo com as respostas, na sala de aula, de um modo geral, existe ainda uma tendência em ter como objeto de ensino o modelo monomodal, ou seja, trabalhar apenas os textos que vêm expressos nos livros didáticos, apesar dos professores mencionarem, nas outras questões, que fazem uso de outros tipos de textos contidos em revistas, jornais, porém a instituição não oferece recursos para que o trabalho aconteça com frequência.

Ao que parece, tais professores refletem que a prática pedagógica, balizada na monomodalidade textual rotineira, mostra-se inadequada ou mesmo insuficiente para cumprir com a amplitude do quesito leitura, pois para haver uma formação eficiente do sujeito que lê é importante ampliar as possibilidades de leitura, para além da mera decodificação gráfica.

4. Conclusões

Com base na fundamentação teórica e nas análises e discussões, podemos considerar que a aceitação aos recursos de textos multimodais para o estímulo ao hábito da leitura ficou expressa nas respostas dos professores que participaram da pesquisa. Evidente está que o estímulo à leitura na Educação Infantil utilizando textos multimodais, irá tornar os alunos futuros cidadãos com as mais variadas qualidades. Os professores são conscientes de que é possível trabalhar leitura com alunos da Educação Infantil fazendo uso dos mais diversos recursos textuais, quando enfatizam a sua importância nas mais diversificadas instâncias. Sabem que na escola, o professor deve estar sempre atento às etapas do desenvolvimento do aluno, colocando-se na posição de facilitador da aprendizagem transformando o seu trabalho num respeito mútuo, confiante e afetivo.

Os professores também consideraram que a leitura não deve ser uma atividade obrigatória, e sim, uma atividade conquistada desde a Educação Infantil, mas que tenha disciplina e dedicação. E na utilização dos recursos de imagens e som essa atividade torna-se ainda mais prazerosa.

As dificuldades que os professores apresentaram para trabalhar leitura utilizando textos multimodais cotidianamente é comum vermos e ouvirmos principalmente em escolas da rede pública. A falta de recursos, de incentivo, de preparação dos professores são alguns fatores que inviabilizam um trabalho.É enfatizado pelos professores e é constatado nas visitas que o ambiente em sala de aula é propício para se estimular a leitura. Há o cantinho da leitura, há alguns livros ilustrativos que atraem os alunos, mas é visível a falta de habilidade dos professores ao incentivo.  

O índice de analfabetismo no Brasil ainda é assustador, sabemos que existem aquelas pessoas que são consideradas alfabetizadas apenas porque assinam o nome ou fazem a leitura mecanicamente, sem conseguir compreender e interpretar um texto com um pouco mais de complexidade.Pensando nisso, fica mais difícil esperar interesse pela leitura de uma criança que nasce nesse contexto, visto que ela não vê seus principais modelos (pais, mães, na maior parte dos casos) lendo, manuseando manuscritos que a atraiam à leitura. Por isso, o papel da escola torna-se ainda mais importante e complexo, e é preciso mostrar desde cedo aos alunos como desenvolver e utilizar as capacidades de leitura que um leitor proficiente possui.

A leitura de textos multimodais é o próprio ato de ver o mundo na sua concretude, representada por meio da escrita, do som, da arte, dos cheiros, das imagens. Por meio dela alcançamos o domínio da palavra, trocamos ideias, conhecimentos, experiências e assim, entendemos o que ocorre no cotidiano.

Por meio das histórias escritas do ser humano é possível resgatar lembranças. Resgatando lembranças é possível voltar no tempo e assim entender as raízes que fazem parte da cultura que é dada como base para a formação de cidadãos críticos e conscientes dos seus atos. Além disso, com o domínio da palavra há transformações e quando isto acontece, construímos um mundo melhor, uma vez que temos uma visão mais ampla de tudo que nos cerca.

Concluímos este trabalho enfatizando que a condição de reconstruir o mundo através da leitura utilizando os mais diversificados tipos e meios traz ao sujeito poder, controle e enfraquece a exclusão. As dificuldades são múltiplas para se ter um trabalho de excelência em uma escola com vários entraves, os quais foram citados pelos professores, mas uma coisa ficou evidente, existe o intencional por parte dos profissionais de educação da escola campo de estudo e o conhecimento de que a leitura de textos multimodais sempre será um mecanismo de hierarquização social e a importância do uso destes em sala de aula, cotidianamente, torna-se um desafio em retirar o professor do comodismo e ir em busca da mudança política no processo de qualificação do ensino.

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WACHOWICZ, L. A. Pedagogia mediadora. Petrópopacios lis, Vozes, 2009.


1. Doutoranda em Ciências da Educação pela Atenas College University. E-mail: jucileidecaze@hotmail.com

2. Doutoranda em Ciências da Educação pela Atenas College University. E-mail: souzalucianalenira@gmail.com

3. Doutoranda em Ciências da Educação pela Atenas College University. E-mail: lucianatabosa@hotmail.com

4. Doutoranda em Ciências da Educação pela Atenas College University. E-mail: margaretetabosa@hotmail.com

5. Doutoranda em Ciências da Educação pela Atenas College University. E-mail: hilde.2009@hotmail.com

6. Doutor em Biologia - UFPE. Professor da Alpha Faculdade e Unibra – Centro Universitário Brasileiro. Leciona disciplinas da área da Saúde no ensino técnico, tecnológico, graduação e pós-graduação. E-mail: gusmao.diogenes@gmail.com


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 40 (Nº 26) Ano 2019

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