Vol. 40 (Nº 12) Ano 2019. Pág. 5
REIS, Alessandra C.E. dos 1; MIGUEL, Kassiana da S. 2; JUSTINA, Lourdes A. D. 3; MEGLHIORATTI, Fernanda A. 4 y CUNHA, Marcia. B. da 5
Recebido:29/11/2018 • Aprovado: 27/02/2019 • Publicado 15/04/2019
2. Procedimentos metodológicos
RESUMO: Este texto trata da redação científica dos resumos de artigos. Tem por objetivo caracterizar a estrutura textual metodológica de resumos presentes em trabalhos publicados no ano de 2017 em periódicos, da área de Ensino de Ciências e Matemática, classificados como excelentes na edição Qualis/CAPES (2013-2016). O método de pesquisa é de natureza quanti-qualitativa, do tipo exploratória e de caráter bibliográfico. Foi percebido certa carência metodológica quanto à confecção da redação científica de resumos científicos da área. |
ABSTRACT: This paper studies the scientific production regarding in abstracts relate with research projects. It aims at characterizing the methodological textual structure of abstracts written in papers published in 2017 in journals of Science and Mathematics Education area, scored as excellent in Qualis/CAPES edition (2013-2016). This research works with the qualitative quantity, exploratory and bibliographical method. There is some lack of methodological aspects regarding scientific writing preparation in scientific abstracts according to this studied field. |
O tema central proposto para discussão neste texto trata-se da produção científica de domínio da área de Ensino de Ciências e Matemática, no âmbito da análise da estrutura textual de resumos contemplados em recentes publicações. O resumo, título e palavras-chave são os elementos que introduzem o leitor ao artigo. Em virtude disso, é válido “[...] destacar a importância do resumo nesta época em que o tempo à disposição das pessoas parece ser cada vez mais curto” (Abrahamsohn, 2009, p.23). Neste contexto, a partir do interesse pelo título seguido de um resumo científico de caráter conciso, mediante resultados atrativos ao leitor, o artigo será lido ou descartado, pois esses são os primeiros contatos disponíveis para consulta do assunto quando compreendido como relevante (Abrahamsohn, 2009).
Ao considerar a importância do resumo, justifica-se os esforços das pesquisadoras para compreenderem como está sendo redigida a produção do conhecimento científico da área de Ensino em Ciências e Matemática, no que se refere à estrutura textual apresentada nos resumos dos artigos analisados. Assim, este trabalho poderá contribuir para futuras reflexões sobre a redação científica a partir da análise da estrutura dos resumos presentes em publicações da área, em termos de: introdução, justificativa, objetivo, instrumento de coleta de dados, instrumento de análise dos dados, resultados e conclusão, em uma determinada ordem lógica.
O interesse pela problemática do trabalho surgiu primeiramente, a partir de leituras realizadas pelas pesquisadoras e na identificação de lacunas, no que se refere à compreensão da informação contida na estrutura textual transcrita para o gênero de discurso “resumo”, presentes em artigos de periódicos acadêmico-científicos. Posteriormente, esse interesse foi acentuado quando durante o estudo para a fundamentação teórica, identificou-se certa escassez nas publicações dessa temática. Apesar de que, segundo Pereira (2013) a partir do século XX, o processo de construção do gênero textual do tipo resumo tem sido foco de pesquisadores da área de Ciências Humanas.
Em pesquisa realizada por Araújo (1999) foi constatado, conforme o referencial teórico de Swales (1990), a organização de resumos de 12 dissertações de mestrado da área de Educação. Nessa pesquisa, a autora elencou unidades de análise ou “moves”, identificados como movimentos retóricos, conforme a função comunicativa textual, os quais foram: situar, apresentar e descrever a pesquisa, para em seguida sumarizar e discutir os dados pesquisados.
Zakir e Andreu-Funo (2013), também investigaram resumos de dissertação de mestrado, na área de Letras. A partir da perspectiva sociorretórica perceberam certa diminuição de esforço retórico, ou seja, justificativas superficiais para a proposição da pesquisa.
Machado (2012) afirma que esse tipo de gênero textual deve ser contextualizado em sua apresentação, de forma clara, “[...] com o objetivo de informar o leitor sobre os conteúdos” (p. 150).
Nesta perspectiva a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) definiu os tipos de resumos por meio da Norma Brasileira Regulamentadora (NBR, 6028/2003) em: resumo crítico, resumo indicativo e resumo informativo, conforme descrição a seguir:
2.3 resumo crítico: Resumo redigido por especialistas com análise crítica de um documento. Também chamado de resenha. Quando analisa apenas uma determinada edição entre várias, denomina-se recensão. 2.5 resumo indicativo: Indica apenas os pontos principais do documento, não apresentando dados qualitativos, quantitativos etc. De modo geral, não dispensa a consulta ao original. 2.6 resumo informativo: Informa ao leitor finalidades, metodologia, resultados e conclusões do documento, de tal forma que este possa, inclusive, dispensar a consulta ao original (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2003, p. 1. Grifo nosso).
Segundo Pereira (2013), quando a artigo é resultado de pesquisas originais o tipo de resumo é o informativo, por outro lado, nas demais pesquisas científicas podem ser adotado o resumo tipo indicativo por ser mais simples e não apresentar em sua estrutura a preocupação com os resultados da pesquisa.
Na visão das autoras, o tipo resumo indicativo é o que melhor se adequa aos resumos contidos nos artigos científicos, sendo este o mais comumente utilizado. Porém, diferente da ideia de Pereira (2013), na qual os resultados são desconsiderados, alguns dos resumos, mesmo não provindos de artigos originais apresentam a descrição dos resultados de pesquisa. Nesse contexto, salientamos que os periódicos apresentam preconizações variadas no que se refere a formatação dos resumos nos artigos e isso pode gerar informações insuficientes para a compreensão integral da pesquisa, pelo leitor.
Em vista das colocações apresentadas, a pesquisa tem como objetivo caracterizar a organização da estrutura textual de resumos, presentes nos trabalhos publicados em 2017, em periódicos de Ensino de Ciências e Matemática, classificados como excelentes e de boa qualidade na edição Qualis/CAPES (2013-2016).
Em virtude da temática “a produção científica da área de Ensino de Ciências e Matemática no âmbito da análise da estrutura textual de resumos contemplados em recentes publicações das respectivas áreas”, é importante apresentar algumas considerações de relevância sobre a área de Ensino de Ciências e Matemática no Brasil.
Segundo Nardi (2007) e Moreira (2003), no final da década de 1960 teve início no Brasil a pós-graduação (stricto sensu) na área de Ensino de Ciências. Em primeira instância, a área de Ensino de Física nos Institutos de Física das Instituições de Ensino Superior, especialmente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade de São Paulo (USP). Essa área com o tempo foi ganhando espaço nos Programas de Pós-graduação em Educação. Posteriormente, algumas áreas de concentração em Ensino de Ciências ganharam destaque em Programas de Pós-Graduação (stricto sensu) em Educação.
Já os programas específicos da área designados “Programas de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática”, segundo Feres e Nardi (2014) tiveram início nos anos de 1970, a partir da intensa dedicação de diferentes profissionais (físicos, químicos, biólogos, matemáticos, entre outros) interessados pelo campo de estudo.
Segundo Alves e Mello (2017), graças aos intensos esforços dos pesquisadores do Ensino de Ciências e Matemática, com objetivo de consolidação e reconhecimento em relação a outros campos de pesquisa, criou-se a área na CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior), designada por “Área 46”, a qual constitui os programas de Pós-Graduação. Posteriormente, houve modificação do nome passando a ser intitulada: “Ensino” 6.
Compreende-se que a consolidação e o reconhecimento que a área do Ensino de Ciências e Matemática, alcançada nos últimos tempos, pode estar relacionado com os periódicos que são editados/publicados no país (tanto pela quantidade quanto diversidade). Além disso, também pode estar ligado ao surgimento de sociedades científicas (ex.: Sociedade Brasileira de Química/Física/Biologia, Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências) e eventos acadêmico-científicos (Feres, 2014).
Em virtude dos apontamentos supracitados reforça-se a importância de critérios que enfatizem meios de confiabilidade para confecção da redação científica, porque ela é a responsável pela transposição ao leitor dos dados e resultados de pesquisa alcançados, os quais são publicizados por meio das revistas da área, a partir de um título atrativo, seguido de um resumo estruturado, conciso e lógico (Abrahamsohn, 2009).
Portanto, no âmbito da escrita científica salienta-se que o resumo tem por objetivo apresentar sucintamente todas as fases de um estudo, sendo este o primeiro contato do leitor com o texto de interesse, o qual deve oferecer a compreensão global da pesquisa contida em sua redação, sendo assim, salienta-se a importância de tomar o resumo como objeto de estudo.
Esta pesquisa caracteriza-se por ser do tipo exploratória, de caráter bibliográfico e abordagem metodológica de natureza quanti-qualitativa (Flick, 2009), por ser a amostra determinada e analisada quantitativamente. Sobre o método quantitativo, Nobre et al. (2017, p. 3) estabelecem que “A boa constituição da amostra no método quantitativo é um dos elementos que favorecem a generalização dos resultados obtidos no estudo”. Este texto concretizou-se a partir da pesquisa em periódicos, de escopo misto para o Ensino de Ciências e Matemática e a presença explícita7 no corpo de seus resumos, de estruturas textuais apresentadas adiante, as quais foram definidas como categorias, analisadas sob a óptica qualitativa.
A utilização da pesquisa de caráter exploratório busca os resultados a partir da aproximação metodológica com o problema identificado (Flick, 2009), nesse caso, buscou-se conhecer a estrutura dos resumos selecionados. No que tange a pesquisa bibliográfica, segundo Medeiros (2011) consiste em fontes secundárias, nas quais estão imersos o olhar e a interpretação do pesquisador em certo contexto de investigação com determinado objeto de estudo pré-determinado. Os tipos de fontes podem ser: livros, revistas, fotografias, filmes, dentre outros.
Nesse contexto, a partir de um universo de 710 revistas classificadas em A1, A2 e B1 na área de Ensino, junto ao sistema Qualis/CAPES (2013-2016), foi elaborado um formulário online no Google Drive para caracterizar metodologicamente esses periódicos. As questões contempladas no formulário foram: nome da revista, ISSN, campo, abrangência, responsabilidade institucional, nome da instituição, indexadores, periodicidade, observação de número especial, modalidade de artigos e seções ou eixos temáticos presentes nos sumários.
Após essa análise foi possível identificar 49 periódicos da área de Ensino de Ciências e 32 na área de Ensino de Matemática. Quando restrita à área de Ensino de Ciências e Matemática foram encontradas 9 revistas.
Definidos os periódicos com escopo voltado à área de Ensino de Ciências e Matemática foram selecionados os artigos publicados no ano de 2017, totalizando 371 (Número da amostra=N). Os resumos selecionados foram analisados a partir de categorias a priori, as quais foram: nome da revista, título do texto (Apêndice I), identificação da introdução, justificativa, objetivo, método, instrumento de coleta de dados, método para análise dos dados, apresentação de resultados e conclusão. Foram considerados o objetivo, método, instrumento de coleta de dados e o método para análise dos dados, quando explícito pelos autores.
Para a organização dos dados de pesquisa conforme as categorias delimitadas, foi utilizado o editor de planilhas “Microsoft Office Excel”.
Todos periódicos selecionados para a amostra são vinculados a programas de Pós-Graduação. No Quadro 1 indicamos a quantidade de artigos/resumos por revista, a estratificação do periódico de acordo com o Qualis/CAPES e as respectivas regiões/unidades federativas de localização sede dessas revistas.
Quadro 1
Identificação dos periódicos e número de resumos por área de ensino.
Região |
Unidade Federativa |
Estratificação Qualis/CAPES |
Revista |
Número de artigos/resumos |
Norte |
Pará |
A2 |
Amazônia- Revista De Educação em Ciências e Matemáticas |
27 |
Centro-Oeste |
Mato Grosso |
B1 |
Revista Experiências em Ensino de Ciências - EENCI |
109 |
Sudeste |
São Paulo |
A2 |
Revista de Ensino de Ciências e Matemática – RENCIMA |
61 |
Rio de Janeiro |
A2 |
Revista de Educação, Ciências e Matemática – RECIMA |
38 |
|
Espírito Santo |
B1 |
Revista Eletrônica Debates em Educação Científica e Tecnológica - REDECIT |
28 |
|
Minas Gerais |
B1 |
Abakós |
10 |
|
Sul |
Rio Grande do Sul |
A2 |
Acta Scientiae: Revista de Ensino de Ciências e Matemática |
57 |
Santa Catarina |
A2 |
Alexandria |
29 |
|
Santa Catarina |
A2 |
Dynamis |
12 |
|
Total |
9 |
371 |
Fonte: dados da pesquisa, 2017
Seis periódicos são classificados pelo sistema Qualis/CAPES em A2 e três em B1. As regiões onde estão sediadas essas revistas e quantidade são: Norte: uma revista A2; Centro-Oeste: uma B; Sudeste: 4 revistas, sendo duas A2 e duas B1; Sul: três A2; Nordeste: não aparece como sede.
Em consonância com os dados apontados no Quadro 1, um estudo feito por De Souza e Pereira (2002) sobre o processo de concentração das Pós-Graduações no Brasil, destacaram a região Sudeste com 61,5% da concentração de mestrados e doutorados, seguida da região Sul com 16,8%, Nordeste 14,2%, Centro-Oeste 5,3% e Norte 2,2%. Como todas as revistas são vinculadas aos programas de Pós-Graduação, justifica-se a região Sudeste sediar a maioria dos periódicos.
Diante do exposto, para melhor compreensão do leitor, a seguir serão apresentados e discutidos os resultados conforme as categorias a priori definidas.
A NBR 6028/2003 no item 3.2 preconiza que o resumo “[...] deve ser precedido da referência do documento” (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2003, p. 02). Desta forma, no entendimento das autoras, tratar anteriormente a respeito do tema, afim de situar o leitor da problemática, para posteriormente apresentar a pesquisa é didático para a compreensão da nova informação. A mesma norma acrescenta ainda no item 3.3.1 que, “A primeira frase deve ser significativa, explicando o tema principal do documento” (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2003, p. 02).
Foi identificado nesta pesquisa, que dos 371 resumos analisados, 196 (52,83%) possuíam a Introdução em sua estrutura, enquanto que 175 (47,17%) não. É interessante frisar que em alguns periódicos a estrutura textual do resumo é padronizada e não contempla a Introdução, como é o caso da Revista Eletrônica Debates em Educação Científica e Tecnológica, que em seus artigos inicia a estrutura textual dos resumos estabelecendo o objetivo da pesquisa.
Na mesma NBR, no item 3.1 é estabelecido que, “O resumo deve ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões do documento. A ordem e a extensão destes itens dependem do tipo de resumo (informativo ou indicativo) e do tratamento que cada item recebe no documento original” (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2003, p. 02). Porém, a ordem específica para cada tipo de resumo não é estabelecida nessa norma. Lembrando que os resumos científicos melhor se adequam como resumo indicativo, como descrito anteriormente.
Em consonância com a temática, Medeiros (2011, p. 126) esclarece que o resumo deve ser composto por quatro elementos estruturais, “[...] o saber partilhado, a informação nova, as provas, a conclusão”, ou seja, a Introdução deve contemplar o saber pré-existente/partilhado.
Assim, a Justificativa da pesquisa é apresentada como integrante do saber partilhado sob o olhar do pesquisador para uma nova e necessária perspectiva. Nesta pesquisa, em 103 (27,76%) resumos observou-se a preocupação dos autores em contemplarem a Justificativa como parte da estrutura textual, ao passo que 268 (72,24%) trabalhos não apresentaram argumentos em favor de seu desenvolvimento.
Conforme a ideia de Medeiros (2011) anteriormente apresentada, o segundo elemento textual é a informação nova. Para que o pesquisador estabeleça essa problemática é preciso definir o que será realizado no âmbito do tema de estudo para assim, alcançar a informação desejada.
Conforme preconizado pela NBR 6028/2003 e já explicitado anteriormente o Objetivo deve estar evidente na estrutura textual do resumo para compreensão do leitor. De acordo com os dados analisados 300 (80,86%) textos apresentaram explicitamente o objetivo de pesquisa, ao passo que 71 (19,14%) não mencionaram.
Conforme Medeiros (2011) primeiramente apresenta-se o assunto e objetivo do texto, e como uma terceira etapa as articulações das ideias, as quais constituem o método de pesquisa.
Neste trabalho foi considerado como Método “a natureza” e a “técnica” adotada pelos autores quando apresentada nos resumos. Para tanto, na totalidade dos 371 resumos analisados, em 140 (37,73%) foi descrito o Método, já 231 (62,27%) não.
Salienta-se, que nos resumos selecionados como amostra desta pesquisa foi percebido certa relevância no que tange sua natureza, ou seja, praticamente todos os resumos, quando declarado o método apresentaram caráter qualitativo.
Conforme a NBR 6028/2003 “[...] deve-se indicar a informação sobre a categoria do tratamento (memória, estudo de caso, análise da situação etc.)” (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2003, p. 02). Neste contexto, em um universo de 371 resumos, em 169 (45,55%) foram explícitos uma multiplicidade do tipo de instrumento de coleta de dados utilizado. Enquanto que, em 202 (54,45%) não foram apontados os instrumentos.
Salienta-se que para toda pesquisa, primeiramente deve ser buscadas fontes bibliográficas materiais para fundamenta-la. Entretanto, alguns estudos dependem somente de dados bibliográficos, como é o caso do “Estudo da arte”.
Observa-se, que na maioria dos resumos, mais de um instrumento foi utilizado, evidencia-se o uso de questionário e entrevista8. No que tange a confiabilidade dos resultados esse procedimento é positivo para credibilidade da pesquisa, no entanto, esta também depende do instrumento de análise adotado, o qual deve estar de acordo com o objetivo, problema de pesquisa e coleta dos dados.
Evidencia-se certa precarização quanto à presença da descrição da análise utilizada para os dados de pesquisa, pois, dos 371 resumos analisados, somente 77 (20,75%) apresentaram ao menos um tipo de instrumento de análise de dados. Assim, 294 (79,25%) resumos não contemplam esse item.
Foi observado que a análise de dados se dá evidentemente por “análise textual discursiva” e “análise de conteúdo”. Este dado9 contempla as especificidades da área de Ensino, visto que as pesquisas realizadas, em sua maioria, têm como objeto de estudo as pessoas e os fenômenos sociais.
Em relação aos resultados, de um universo de 371 resumos, 284 (76,54%) apresentaram sua descrição, já 87 (23,46%) não. É interessante que os resultados sempre sejam divulgados por meio da redação científica, pois eles são consequência do problema de pesquisa. Em concordância, segundo a NBR 6028/2003, o resumo deve contemplar os resultados da pesquisa, a ordem e a extensão desse item dependem do tipo de resumo, seja informativo ou indicativo (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2003; Medeiros, 2011).
Assim também, o leitor deve ter a compreensão da resposta ao objetivo de pesquisa, ou seja, das conclusões do trabalho. A partir da análise realizada observou-se um total de 79 (21,29%) resumos que apresentaram as conclusões da pesquisa, já 292 (78,71%) não destacaram suas conclusões.
Constata-se, que em relação à caracterização proposta para este trabalho ficou evidente que não existe um padrão para a produção dos resumos científicos publicados em periódicos da área de Ensino de Ciências e Matemática no Brasil, utilizados na amostra desse estudo, além da parca publicação em relação a essa temática na mesma área.
A maioria dos resumos apresentou introdução em sua estrutura, no entanto, foi percebido que em alguns periódicos a estrutura textual do resumo é padronizada e não se considera a apresentação temática anterior ao objetivo. Em relação a justificativa que geralmente está incorporada à introdução, observou-se certa preocupação em preservá-la. Nesta perspectiva, também os objetivos de pesquisa se mostraram foco de preocupação dos pesquisadores para compor a redação do resumo.
No que tange ao método de pesquisa, a maioria dos resumos não contemplaram a classificação deste procedimento. Aos que consideraram, destaca-se a predominância expressiva de natureza qualitativa. Assim também, a maioria da amostra não especifica os instrumentos de coleta de dados, além disso, observou-se certa variabilidade na utilização desses instrumentos, com ênfase para uso de questionários e entrevistas.
Cabe salientar que o instrumento de análise de pesquisa não aparece na redação da maioria dos resumos, dos 371 resumos analisados, 294 não o descrevem, quando descritos os mais utilizados foram à análise textual discursiva e a análise de conteúdo.
No que se refere aos resultados, em sua maioria, estão presentes na estrutura dos resumos, enquanto que as conclusões/considerações da pesquisa aparecem em menor proporção.
Diante da caracterização apresentada percebe-se carência metodológica quanto à confecção da redação científica do gênero textual tipo “resumo” em periódicos da área de Ensino de Ciências e Matemática, os quais compuseram a amostra deste estudo. Nem todas as etapas preconizadas pela ABNT estão presentes e em ordem lógica para seu entendimento, podendo ocasionar desinteresse por parte do leitor para com o artigo.
Os pesquisadores devem considerar como fundamental a preocupação para com a confecção da redação científica do resumo, como importante apresentação de seu trabalho para a comunidade acadêmica. É relevante que mais estudos acerca da temática sejam realizados, a fim de, contribuir para a qualidade da redação da produção científica da área do Ensino de Ciências e Matemática.
Esta pesquisa foi realizada com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.
Abrahamsohn, P. (2009). Redação científica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
Alves, A. C. T. & Mello, I, C, de. (2017). A Pós-Graduação strict sensu em ensino de Ciências e Matemática no Brasil: oferta de programas por regiões brasileiras. Anais Semiedu. Mato Grosso - MT. Recuperado em 30 de outubro, 2018 de http://eventosacademicos.ufmt.br/index.php/semiedu/semiedu2017
Araújo, A. D. Uma análise da organização discursiva de 'Resumos' na área de educação. Revista do GELNE, v. 1, n. 1, p. 26-30, 1999.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (2003). Norma Brasileira Regulamentadora 6028. Informação e documentação - Resumo - Apresentação. Rio de Janeiro. Recuperado em 04 de março, 2018 de http://unicentroagronomia.com/destino_arquivo/norma_6028_resumo.pdf
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes. Documento de Área 2013. Recuperado em 29 de outubro, 2018 de https://capes.gov.br/images/stories/download/avaliacaotrienal/Docs_de_area/Ensino_doc_area_e_comiss%C3%A3o_block.pdf.
De Souza, J. P. & Pereira, L. B. (2002). Pós-graduação no Brasil: análise do processo de concentração. Acta Scientiarum Human and Social Sciences, v. 24, p. 159-166.
Feres, G. G. (2014). Educação em Ciências no Brasil: uma análise de sua constituição e institucionalização sob o aporte da teoria de Bordieu. In: Nardi, R. & Gonçalves, T. V. O. A pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática no Brasil: memórias, programas e consolidação da pesquisa na área. São Paulo: Editora Livraria da Física.
Feres, G. G. & Nardi, R. (2014). A pós-graduação em Ensino de Ciências no Brasil: contribuição teórico-analítica sobre panorama histórico e perfil dos cursos. In: Nardi, R. & Gonçalves, T. V. O. A pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática no Brasil: memórias, programas e consolidação da pesquisa na área. São Paulo: Editora Livraria da Física.
Flick, U. (2009). Métodos de Pesquisa: introdução à pesquisa qualitativa. 3ª Ed. Porto Alegre: Artmed.
Machado, A. R. (2012). Revisitando o conceito de resumos. In: Dionísio, Â. P., Machado, A. R. & Bezerra, M. A. Gêneros Textuais & Ensino. Rio de janeiro: Lucerna.
Medeiros, J. B. (2011). Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 11ª ed. São Paulo: Atlas.
Moreira, M. A. (2003). Pós-Graduação e Pesquisa em Ensino de Ciências no Brasil. In: IV Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. São Paulo: SP. Recuperado em 02 de março, 2017 de http://fep.if.usp.br/~profis/arquivos/ivenpec/Arquivos/Mesas/M02MAM.pdf
Nardi, R. (2007). A pesquisa em Ensino de Ciências no Brasil: alguns recortes. São Paulo: Escrituras.
Nobre, F. C., Corrêa, D. A., Nepomuceno, L. H., NOBRE, L., SOUSA, A., & SIQUEIRA, V. (2017). A Amostragem na Pesquisa de Natureza Científica em um Campo Multiparadigmático: Peculiaridades do Método Qualitativo. Revista Espacios. v. 38, 22, p. 13)
Pereira, M. G. (2013). O resumo de um artigo científico. Epidemiologia e Serviços de Saúde. v. 22, n. 4, p. 707-708.
Zakir, M. de A.; Andreu-Funo, L. B. O gênero acadêmico em questão: uma análise sociorretórica de resumos de dissertações de mestrado do projeto Teletandem Brasil. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, p. 877-897, 2013.
1. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Educação em Ciências e Educação Matemática – PPGECEM – Unioeste, Cascavel – PR. E-mail: acereis75@gmail.com
2. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Educação em Ciências e Educação Matemática – PPGECEM – Unioeste, Cascavel – PR.
3. Doutora, Docente do Programa de Pós-Graduação de Educação em Ciências e Educação Matemática – PPGECEM – Unioeste, Cascavel – PR.
4. Doutora, Docente do Programa de Pós-Graduação de Educação em Ciências e Educação Matemática – PPGECEM – Unioeste, Cascavel – PR.
5. Doutora, Docente do Programa de Pós-Graduação de Educação em Ciências e Educação Matemática – PPGECEM – Unioeste, Cascavel – PR.
6. A Área de Ensino se insere na grande Área Multidisciplinar. Foi constituída por decisão do Conselho Superior da CAPES pela Portaria CAPES n°83 de 6 de junho de 2011, quando da criação de quatro novas áreas: Ensino, Ciências Ambientais, Biodiversidade e Nutrição. [...] A Área de Ensino é, portanto, uma área essencialmente de pesquisa translacional que busca construir pontes entre conhecimentos acadêmicos gerados em Educação e Ensino para sua aplicação em produtos e processos educativos na sociedade. [...] A expectativa é de que com a ampliação da Área de Ensino seja possível impulsionar a evolução dos Programas de Pós-Graduação com metas e desafios que expressem as necessidades nacionais para o avanço em todos os níveis de ensino (CAPES, 2013, p. 1).
7. Quando implícito, ou seja, não declarada pelo autor, não foi considerada.
8. Neste estudo, não houve a preocupação de caracterizar o tipo de instrumento, mas sim, de notar a presença de algum tipo, na estrutura textual dos resumos.
9. Neste estudo, não houve a preocupação de caracterizar o tipo de pesquisa, mas sim, de notar a presença de algum tipo de pesquisa como estrutura textual nos resumos.