Vol. 39 (Nº 30) Ano 2018. Pág. 13
Maria Inês Marques VERAS 1; Francilene Leonel CAMPOS 2
Recebido: 09/03/2018 • Aprovado: 07/04/2018
RESUMO: A participação familiar é fundamental no processo de aprendizagem e desempenho dos alunos. A pesquisa objetivou averiguar a influencia da participação de alguns pais do ensino fundamental, através de um questionário e entrevista realizada em uma escola da área rural de Parnaíba, PI. Dentre os resultados obtidos, os pais alegaram falta de tempo para acompanhar o desempenho dos filhos, atribuindo a responsabilidade somente a escola. Acredita-se que a atuação dos pais na escola amplie as possibilidades para o desenvolvimento do aluno. |
ABSTRACT: Family involvement is central to the learning process and student performance. The study aimed to investigate the participation of some parents of elementary school, through a questionnaire and interview conducted in a rural school in Parnaíba. Among the results obtained, the parents claimed lack of time to follow the children's performance, assigning responsibility to the school only. It is believed that parental involvement in school increases the possibilities for student development. |
A palavra educação pode apresentar variados significados, dentre eles pode-se destacar os hábitos, conceitos e valores que são transmitidos de geração em geração, além de ser algo vivenciado na sociedade, a educação engloba o aprendizado de experiências individuais. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, lei 9394/96, cita que a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na família, na convivência humana, no trabalho, nas escolas, nos movimentos sociais, a educação é dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana.
A forma como a educação se apresenta no país, demonstra alguma falhas que se configuram no ensino, segundo as informações do QEDU (2015) a taxa de evasão e reprovação escolar foi de 14,3% nos anos finais do ensino fundamental, surgindo a necessidade de conhecer os principais motivos, e elaborar estratégias para conter o avanço da evasão e melhorar o desempenho dos alunos.
Segundo os Dados do Terceiro Estudo Regional Comparativo Explicativo (2015) apontam que o envolvimento dos pais, e o nível socioeconômico das famílias apresentam maior influência no desempenho dos alunos no Brasil, do que a própria infraestrutura e a localização das escolas sendo no campo ou na cidade. Neste contexto surge a necessidade de se investigar a que nível a participação dos pais interfere no desempenho dos alunos, principalmente em áreas rurais, visto que, há pouca literatura que aborde esse assunto relacionado à participação dos pais nas escolas de áreas rurais, tendo visibilidade maior em escolas de área urbana.
No paradigma da Educação do Campo, para o qual se pretende migrar, preconiza-se a superação do antagonismo entre a cidade e o campo, que passam a ser vistos como complementares e de igual valor. Ao mesmo tempo, considera-se e respeita-se a existência de tempos e modos diferentes de ser, viver e produzir, contrariando a pretensa superioridade do urbano sobre o rural e admitindo variados modelos de organização da educação e da escola. (HENRIQUES, 2007)
Diversos fatores distanciam o apoio familiar do filho na escola rural, dentre elas pode-se destacar a longa distância, a falta de acompanhamento dos filhos devido a falta de tempo por conta do trabalho, e ao baixo nível de escolaridade dos pais. Tais fatores caracterizam escolas de áreas rurais, e esta característica marca a configuração do papel a ser desenvolvido pela escola rural junto dos alunos e com a família. (CAVALIERE, COELHO e MAURÍCIO, 2013).
Para estimular a participação dos pais de modo a fortalecer uma nova cultura de participação, deve-se estabelecer no projeto pedagógico da escola, espaço físico e estratégias diferenciadas, principalmente quando a escola lida com alunos com alguma deficiência. A primeira medida a ser tomada é identificar o tipo de envolvimento da família com a escola que, por sua vez, depende do reconhecimento e da descrição sistemática dos padrões e modelos de relação constituintes de tal envolvimento. Diante desse pressuposto surge a necessidade de conhecer a realidade dos pais dos alunos que frequentam a escola, saber suas condições sociais, principais dificuldades e perspectivas.
Partindo da premissa da necessidade de se compreender a importância dos pais no processo de desenvolvimento dos filhos na escola, e os impactos de sua inserção ou não no ambiente escolar, a presente pesquisa objetivou fazer uma análise quantidade e qualitativa por intermédio de questionário e entrevista realizada com um grupo de pais dos alunos de uma escola de área rural de Parnaíba.
A pesquisa foi desenvolvida através de um estudo de caso realizado em uma escola de área rural de Parnaíba-Pi, através da aplicação de um questionário dicotómico com as opções de sim ou não, e de uma entrevista realizada com 20 pais de alunos do 6° ao 9° ano tarde, objetivando averiguar o grau de relevância que é dado pelos pais na educação que os filhos recebem nas escolas, e de que maneira essa participação influiu no processo de aprendizagem dos alunos.
Apos a analise das respostas dos pais obteve-se o seguintes resultados conforme segue abaixo:
O questionário pré teste respondido pelos pais, tiveram 8 questões objetivas, com intuito de investigar a relação dos pais com a rotina escolar dos filhos. Essas percepções quando computadas em gráficos forneceram informações importantes para discussão de medidas que podem ser usadas para melhorar a participação dos pais no ambiente escolar.
O diagnóstico que se obteve através da analise do questionário pré-teste foi que a maioria dos pais responderam negativamente as perguntas realizadas com as opções sim ou não, com relação ao acompanhamento escolar dos filhos, como se pode observar no quadro 1. Partindo do supracitado, surgiu a proposta de intervenção por intermédio de uma palestra, com a finalidade de aproximar os pais da escola os sensibilizando com questões rotineiras debatidas nesta, para que pudessem rever suas ações, e na entrevista pudessem relatar de maneira mais natural sua relação e anseios para com a escola e os filhos, visto que, trata-se de pais ou responsáveis de área rural, sendo famílias que apresentam baixa renda e vivem do trabalho na agricultura, e possuem baixo grau de escolaridade.
Neste sentido busca-se compreender os reais motivos do afastamento dos pais no ambiente escolar, seja por falta do uso de mecanismos da escola para estabelecer contato com os pais, seja por diferenças socioeconômicas na família que transcendem para a vida escolar, ou até mesmo falta de comprometimento deles. Nessa linha de raciocínio Soares (2010) cita que os pais necessitam compreender que independentemente do nível socioeconômico ou de diferenças encontradas na realidade da escola, eles precisam e devem demonstrar interesse pelo comportamento escolar dos filhos.
Desta forma os pais devem estar cientes de seu comprometimento com a escola, e junto dela buscar estabelecer uma boa parceria, como afirma Sousa (2011):
Tanto a família como a escola desempenha papéis indispensáveis, na formação do sujeito e a parceria entre as duas instituições aparece como mecanismo para que o desenvolvimento do sujeito se realize de forma integral, propiciando a convivência da família com a comunidade e estreitando laços que as une, assegurando uma continuidade iniciada no seio familiar (SOUSA, 2011, p.23).
A escola e a família devem estar atentas as modificações no comportamento e ao desenvolvimento do aluno dentro da escola, são atitudes simples, porém de extrema valia que proporciona um melhor desempenho deste aluno e permite que ocorra uma evolução psicológica e emocional, favorecendo desenvolver habilidades no lado cognitivo.
A partir da aplicação do questionário pré-teste quadro 1, foi realizada uma palestra para sensibilizar os pais, com enfoque nas questões do questionário aplicado com eles.
A partir da verificação do questionário pré teste pode-se inferir que a maioria dos pais não compreenderam o sentido das perguntas realizadas com eles sobre a sua participação ou não no ambiente escolar, este fator fica visível na discrepância entre duas respostas que eles deram, aonde a maioria afirmaram não possuir tempo para acompanhar os filhos na escola, enquanto outros disseram que procuram saber como está o desempenho deles na escola, ressaltando assim a diferença entre as respostas dadas por eles no questionário.
Palestra é um mecanismo importante para estabelecer uma comunicação com o público, e através dela estabelecer maior ligação com as pessoas que a recebe. Na palestra foi abordado o quesito participação dos pais, houve um dialogo com ele, buscando maior grau de proximidade com o seu cotidiano, aonde eles puderam relatar suas vivências, convivências com os professores e sua relação com os filhos na escola. Outras questões vieram a serem discutidas na palestra como o baixo nível de escolaridade dos pais, que categoricamente afirmaram serem analfabetos e outros terem apenas o ensino fundamental incompleto.
Inicialmente foi levantada a seguinte questão: conduzir alguém ao conhecimento é uma tarefa fácil? Pais ficaram reflexivos e concordaram que não, da mesma forma foi citado o papel dos professores em sala de aula, quando lidam com alunos buscando a cada dia estimulá-los a adquirirem conhecimento, como afirma Freire (1996) que estimular a pergunta, a reflexão crítica sobre a própria pergunta, o que se pretende com essa ou aquela pergunta de modo a instruir que (...) o fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto falam ou enquanto ouvem. O professor deve usar do diálogo, pois ele pode ser uma fonte de riquezas e alegrias, é uma arte a ser cultivada e ensinada, o diálogo pode auxiliar o aluno a despertar interesse pelas atividades escolares.
Segundo Marques (2002) os recursos psicológicos, sociais, econômicos e culturais dos pais são aspectos essenciais para a promoção do desenvolvimento humano. Diante deste contexto, pode-se sensibilizar aos pais a fazerem uma reflexão sobre sua participação, mesmo que indiretamente ja que possui aspectos positivos na construção desse individuo na escola.
Como a maioria dos pais revelaram serem analfabetos e não possuírem o ensino fundamental completo, o intuito da palestra foi trazer uma visão diferenciada sobre a forma de repassar o seu conhecimento da maneira que sabem para os filhos, favorecendo ao aluno aliar dois conhecimentos, o empírico obtido em casa pelos pais, e o científico adquirido na escola, construindo assim maior assimilação a partir de um ponto considerado base a educação familiar. Podemos citar como exemplo os conhecimentos advindos da agricultura aprendido com os pais, os quais podem ser debatidos em sala aliados ao conteúdo cientifico. É como cita Szymanski (2009) abordando que nesta visão a escola é que tem a obrigação de ensinar conteúdos, sendo instrução de novas gerações [...] visto que só o fato deles terem este contato em casa com o incentivo dos pais, é uma grande contribuição para que ele mostre interesse em aprender.
Outro tema discutido durante a palestra foi sobre a inclusão social, cujo, ainda causa certo desconforto, devido ao preconceito por parte de algumas pessoas da comunidade rural, e por seus filhos na maioria das vezes não serem bem assistidos, dificultando a relação dos pais com a escola. Durante a palestra foi discutido a importância dos pais inserir-se na escola, ficarem atentos a projetos relacionados a inclusão, e ir em busca de direitos para que a escola garanta acessibilidade aos alunos.
Na primeira questão os pais foram perguntados sobre se conheciam os professores e a rotina dos filhos. Dentre os 20 pais indagados, 16 responderam que sim e 4 afirmaram que não, como pode ser observado na figura 1.
Levando em conta a importância de ouvir os pais e analisar seus pontos de vista, uma entrevista também foi realizada como pode ser visto, na figura 1 com o intuito de se obter mais informações e justificativas sobre suas respostas. Segue o relato.
Mãe Y de aluno do 6° ano: “Gosto sempre de acompanhar meu filho na escola, porque aqui que ele aprende as coisas que eu não posso ensinar em casa.”
De acordo com Oliveira (2010) há uma diferença de papéis em que escola e família estão envolvidas, visto que a diferença entre os dois campos se encontra na maneira de ensinar, pois à escola é conferida a responsabilidade de favorecer e transformar em certa medida, os conhecimentos que a família tem por dever e consciência transmitir.
A segunda questão foi sobre se os pais tinham tempo para acompanhar o filho na escola, 14 pais afirmaram que sim, contrapondo 6 que disseram que não, pode ser observado na figura 1. Uma mãe relatou o seguinte:
Mãe Z do aluno do 8° ano: “É preciso ter um tempinho para ver como ele se comporta na escola, ficar de olho no que ele está aprendendo na escola.”
Neste sentido, percebemos que os pais compreenderam a necessidade de reservar um tempo para acompanhar o desenvolvimento do filho, como nas próprias palavras da mãe Z “ficar de olho”, percebendo que deve contribuir também com ações educativas.
Práticas educativas são entendidas como ações que continuam habituais realizadas pelas agencias socializadoras, como a escola e a família, nas trocas intersubjetivas, adotadas pelos membros mais velhos a fim de possibilitar a construção e a apropriação de saberes, práticas e hábitos sociais pelos mais jovens, trazendo em seu bojo uma compreensão e uma proposta de ser no mundo com o outro, além de uma concepção de criança e adolescente (SZYMANSKI, 2009, p. 35).
A família deve compreender a importância do ato de participar da educação dos filhos de maneira que ela se insira de forma que não seja invasiva, porém, construtiva fazendo com que o processo escolar se torne melhor com o apoio familiar (VIEGAS, 2014).
Os pais que relataram não procurar conhecer a rotina dos filhos e não terem tempo para acompanhamento escolar justificaram a ausência na escola devido a muitas horas de trabalho no campo, conferindo a responsabilidade de ensinar a escola. Como justificou uma entrevistada:
Mãe do aluno do 7° ano: Não tenho tempo para acompanhar meus filhos porque trabalho, confio na escola e nos ensinamentos dos professores para eles.
Na visão dos pais que alegram falta de tempo, mostraram confiança na escola, no sentido amplo de favorecer total responsabilidade ao ambiente escolar. Assim Esteves (2004), ressalta que muitas famílias atribuem tal responsabilidade à escola, renunciando seu papel.
Na terceira questão, foram indagados sobre se costumam ajudar os filhos na escola, 16 pais afirmaram que sim, contrapondo 4 que disseram não como mostra a figura 2.
Como podemos observar em alguns relatos:
Mãe de aluno do 8° ano: “Ajudo como posso, porque não sei ensinar do jeito da escola ensina, pois lá os professores têm educação maior que a minha.”
Mãe do aluno do 6° ano: Eu não tenho tempo de ajudar, trabalho o dia todo, coloque-a na preparação de tarefas.
Para Anastácio (2009), na educação deve haver conhecimento, disponibilidade, e empenho por parte da família em saber o que está acontecendo dentro da escola, reconhecendo e estimulando a aprendizagem da criança, assim colaborando com o progresso da mesma. No entanto, não é isto que se ver na educação na área rural, visto que, os pais possuem pouca disponibilidade para acompanhar efetivamente a rotina escolar dos filhos, devido o trabalho na agricultura.
Nota-se que muitos dos pais entrevistados, acreditam que por não terem um conhecimento considerado alto, julgam-se incapazes de auxiliar os filhos nas tarefas escolares, como mostra o relato da mãe do aluno do 8° ano.
Geralmente o não acompanhamento dos pais nas tarefas escolares dos filhos está ligado ao fato deles serem avaliados neste processo pelos professores, gerando certa tensão doméstica, causando certa apreensão no momento de ensinar (GLASMAN,2009).
Além das dificuldades encontradas pelos pais no momento de ensinar as tarefas escolares, um fator que também lhes causa insegurança, é o contato dos filhos com uma série de informações e tecnologias aprendidas na escola.
Flickinger (2010) ressalta as dificuldades encontradas pelos pais em lidar com o avanço na tecnologia de novas informações que os jovens recebem na escola a todo instante. A noção que fica é que é cada vez mais difícil para muitos pais, acompanharem de maneira eficiente e rápida, a quantidade de informações processadas diariamente pelos filhos na escola.
A quarta questão é sobre se sabem como está o desempenho do filho na escola, 17 pais afirmaram que sim, enquanto 3 disseram que não, como mostra a figura 2. Quando a criança percebe a maior interação dos pais na vida escolar, o seu rendimento melhora, pois sente-se mais confiante permitindo ampliar o desenvolvimento.
É essencial ter conhecimento sobre o que o aluno está aprendendo na escola, que deve ser feito de maneira gradual através de diálogos, para que se possa auxiliar em alguma dificuldade que individuo venha a ter na assimilação dos conteúdo da escola.
López (2002) relata que as famílias necessitam contribuir com a escola, devendo mostrar-se interessadas pelos deveres de seus filhos, conversando com professores para obter informação constante sobre o processo educativo concretizado na instituição, dando a cooperação solicitada para tornar muito mais eficaz a ação escolar e, também, respeitar as habilidades e os conhecimentos que a instituição proporciona. Neste sentido observar-se que a escola, professor e família devem participar ativamente na formação da personalidade do aluno.
A quinta questão foi sobre se os pais frequentavam reuniões ou festas escolares, 17 pais disseram que sim, enquanto apenas 3 afirmaram que não, dado que pode ser observado na figura 3.
Na entrevista um dos pais respondeu da seguinte maneira:
Mãe do aluno do 9° ano: “Eu não vou até as reuniões porque não gosto de participar, já acompanho diariamente meu filho na escola quando o deixo na escola.”
Diante do relato da mãe em questão, pode-se perceber um desinteresse por parte de alguns pais em frequentar reuniões, por considerá-las cansativas, e sem ter um conteúdo atrativo e pertinente que traga aos pais ou responsáveis para dentro da escola, limitando sua comunicação e impedindo seu contato com as propostas pedagógicas da escola.
Sampaio (2011) afirma que é de extrema importância que os pais procurem buscar informações sobre a linha teórica adotada pela escola, e verifiquem se está de acordo com toda sua proposta pedagógica. Deve-se solicitar que a escola explique como serão adotadas as formas de avaliação, o dia a dia, como os pais devem proceder para ajudar os filhos nas tarefas escolares entre outras atividades.
O acompanhamento familiar possibilita uma verdadeira aprendizagem na vida dos alunos como menciona Tiba (2002) se os pais acompanharem o rendimento escolar do filho desde o começo do ano poderá identificar precocemente essas tendências e com apoio dos professores, reativarem seu interesse por determinada disciplina em que vai mal. Conota-se que a mãe do relato, mostra interesse em ajudar no que for preciso para o progresso do filho dentro da escola com auxilio dos professores, através de reuniões e festividades escolares.
Os hábitos e ações que envolvem a família estão diretamente aliados a natureza ética de práticas educativas na dialética, visto que, questões éticas, dilemas, contradições familiares, só podem ser resolvidas se vividos, expressos e refletidos coletivamente em estabelecer parcerias (GADOTTI, 1996).
A sexta questão foi sobre se os pais incentivavam os filhos a estudarem, 12 pais disseram que sim e 8 afirmaram que não, como pode ser visualizado ainda na figura 3.
Constata-se que na visão dos pais é importante estar atento aos conteúdos vistos pelos filhos em sala e que o prazer pelos estudos deve começar em casa com os pais, através de gestos simples, incentivando os filhos a estudarem, a lerem um livro, uma revista, ou seja, proporcionando alguns recursos informativos para que desperte o interesse pela leitura. Conforme Cardoso (2009), os pais devem desempenhar uma posição de supervisores da proposta pedagógica, e colaborar com ações que promovam a parceria família-escola. Assim, para a escola é importante o apoio familiar, pois os pais cooperativos ajudarão a estimular na criança o desejo pela aprendizagem, que deve começar em casa, com o auxilio nas atividades de casa por exemplo. A tarefa de casa é um aprendizado que integra as relações família-escola, é um trabalho dividido entre as instituições que pode ser visto como uma necessidade educativa, reconhecida por essas instituições, como uma tarefa apropriada para os alunos (CARVALHO, 2004).
A sétima questão foi sobre se os pais tinham filhos com deficiência, apenas 3 afirmaram que sim como pode ser visto na figura 4.
Destinada a estes pais, a entrevista com questões sugeridas foi sobre tipo de deficiência, as dificuldades encontradas em lidar com ela, e como a escola auxilia nesse aspecto, uma mãe entrevistada respondeu o seguinte:
Mãe de aluno do 7° ano: “Tenho uma filha surda, ela foi diagnosticada com surdez aos 6 anos, ela teve muita dificuldade no início para se comunicar com os professores e colegas, mas agora com auxilio de um interprete da escola vizinha, está aprendendo LIBRAS aos poucos”.
No Brasil o termo inclusão ainda tem se referido ao atendimento de crianças com deficiências no contexto dos sistemas reguladores de educação. Essa interpretação do termo é decorrente da sua associação à mera inserção de deficientes físicos, sensoriais ou mentais em sala de aula regular, principalmente pelo fato de que os debates no país em torno da questão foram dinamizados por estudos da área de educação especial. A educação inclusiva no entendimento dos profissionais está muito ligada a educação especial, tendo em vista uma inovação decorrente dessa modalidade de educação. (SANTIAGO, 2013)
Na oitava questão foi sobre se a escola tinha boa infraestrutura para acomodar alunos com deficiência, dos 4 pais, 3 responderam que não, apenas 1 que sim, dado verificado ainda na figura 4. Nos relatos eles afirmaram que o tipo de assistência aos alunos com deficiência é dado na escola vizinha. É visível que deve haver uma maior comunicação entre pais e professores para que mesmo que essa assistência provenha de outra escola, possa ser diferencial na vida destes alunos que precisam ser inclusos no processo de aprendizagem. A inclusão escolar deve ter início na educação infantil, quando se desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e seu desenvolvimento global (BRASIL, 2007).
A participação da família e de toda uma equipe que coopera pelo desenvolvimento e educação da criança é de suma importância, para que o processo de aprendizagem obtenha sucesso. A escola necessita obter acesso a esta equipe que faz atendimento aos alunos que apresentem alguma deficiência, podendo destacar os seguintes profissionais: psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, entre outros, e estes devem colaborar e serem atuantes na escola, favorecendo assim uma maior inclusão dentro do ambiente escolar (FERREIRA & GLAT, 2003).
Diante do supracitado, nota-se que a presença da família na educação da criança e a participação ativa dos pais em sua rotina escolar é imprescindivel para seu desenvolvimento intelectual e pessoal. Assim, faz-se necessário compreender questões relacionadas às dificuldades encontradas pelos pais no acompanhamento da vida educacional de seus filhos, bem como da necessidade da família no processo de ensino e aprendizagem da criança e do adolescente, devendo assim estar atentos a tais problemas, em busca de soluções.
Foi possível através do questionário e da entrevista com os pais perceber as principais falhas na relação entre pais e escola, entre uma delas o fato da localização da escola ser em área rural, neste sentido deve-se ter um maior cuidado ao lidar com essas questões de aprendizagem, verificar a relevância e pauta das reuniões escolares. De maneira geral, a escola de área rural deve ser valorizada, levando em consideração a realidade de cada comunidade rural e a qualidade da oferta de ensino.
A partir desta pesquisa, pode-se perceber que um dos fatores que pode ser apontado como causa de evasão escolar e baixo desempenho dos alunos é a falta de tempo que os pais relataram não terem para verificar o desenvolvimento diário do filho na escola, como questionar como está o aprendizado em determinada disciplina verificar a leitura, a escrita, a capacidade de interpretação de texto.
Os pais acreditam que o fato de ir buscar e deixar todos os dias o filho na escola seja o suficiente no processo de acompanhamento, faltando assim o contato com este filho em casa, para saber a rotina dentro da escola. Além disto, os pais indagados possuem nível de escolaridade baixo, a maioria não possuem ensino fundamental completo e este fator implica na transmissão de saber para os filhos no momento de colocá-lo para estudar e auxiliar nas tarefas propostas pela escola, gerando sentimento de insegurança, por este motivo consideram-se incapazes de transmitir conhecimento para os filhos, transferindo esta responsabilidade totalmente para a escola.
Outro quesito bastante pertinente observado no relato dos pais, foi a respeito da disponibilidade deles com relação a falta de tempo para ensinar aos filhos, devido a sua ocupação no trabalho no campo, atrapalha este processo de acompanhamento deixando muitas vezes esta obrigação a cargo de terceiros, como foi citado por uma mãe que paga uma pessoa para auxiliar o filho na preparação das tarefas escolares, enquanto outros pais acreditam que, o se aprende na escola, não necessita mais ser reforçado e discutido em casa.
Partindo para análise dos pais com filhos com deficiência, é notório que a efetiva participação deles no processo de construção de conhecimento dos filhos na escola e na inclusão é essencial, apesar dos relatos sobre a falta de estrutura da escola para receber alunos com deficiência, a escola busca auxiliar como pode, com auxilio pedagógico da escola vizinha que desempenha este papel da forma que pode. Surge a necessidade de ter mais atenção dos pais, no sentido de cobrar mais da escola apoio e incentivo para estes alunos com deficiência, para que a voz destes pais seja ouvida, lutar por seus direitos a uma maior acessibilidade, que saia do campo da conformidade estabelecida pela escola.
Com relação aos mecanismos utilizados para promover uma maior aproximação com os pais desta escola a palestra contribuiu positivamente para despertar o interesse dos pais na educação dos filhos, visto que, pode-se colher importantes informações por intermédio dos relatos deles. O envolvimento entre família e escola é essencialmente importante para o desenvolvimento do aluno, pois essas instituições são responsáveis por ajudar os sujeitos a desenvolver as suas habilidades. Deste modo quando família e escola adotam os mesmos princípios, permite o aluno ampliar com mais entusiasmo seus conhecimentos;
Acredita-se que a participação dos pais na escola amplie as possibilidades para uma relação mais próxima para o desenvolvimento do aluno. Apesar de tantas dificuldades, é preciso que os pais e a escola busquem, da melhor maneira possível, estimular o desenvolvimento dos alunos por intermédio destes mecanismos: palestras,rodas de conversas, debates, projetos que envolvam os pais de forma ativa na vida escolar dos filhos, com a supervisão da escola, e que esta se responsabilize por mostrar os posteriores resultados obtidos no desempenho escolar dos alunos por intermédio da participação dos pais.
Simples, contudo essenciais mudanças proporcionadas pela escola podem ser o diferencial na vida destes pais, que até então não possuem muito tempo para dedicar ao filho, é interessante o desenvolvimento de metodologias que tragam os pais para dentro da escola, e faça-os perceber a educação de uma forma mais ampla, e notar que a responsabilidade não está apenas a cargo da escola, que sua contribuição pode interferir primordialmente na forma de como o filho lida com o aprendizado, sendo elo de troca de informações, conceitos e aspectos que devem ser levados em consideração.
A relação estabelecida entre pais e escola, permite a estes responsáveis ter um maior conhecimento sobre o universo escolar, alertando-os sobre seus deveres e ao mesmo tempo ensinando-os a batalhar pelos direitos dos filhos dentro da escola, como na questão da acessibilidade na escola, como lidar com a realidade de ter um filho deficiente e acompanhar a sua rotina, para que ele possa se desenvolver gradualmente na escola, mantendo uma boa relação com os colegas, e com os professores, que são mentores desse processo de ensino aprendizagem.
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1. Universidade Federal do Piauí (UFPI). Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas. ines-marques@hotmail.com
2. Dra. em Genética e Melhoramento de Plantas. Professora associada da Universidade Federal do Piauí, Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, CMRV. francilene@ufpi.edu.br