Vol. 39 (Nº 10) Ano 2018. Pág. 3
Maicon Herverton Lino Ferreira da SILVA 1; Davi Libâneo de MELO 2;Givanildo Melo dos SANTOS 3; José Fernando da Silva ALVES 4; Maria Aparecida Dantas BEZERRA 5; Augusto José da Silva RODRIGUES 6; Zélia Maria JÓFILI 7; Marcelo Mendonça TEIXEIRA 8
Recebido: 17/10/2017 • Aprovado: 10/11/2017
RESUMO: É fator preocupante os resultados apresentados no processo de leitura dos estudantes do 5º ano das escolas do nordeste brasileiro. Onde, parte considerável indicam fragilidades nas competências leitoras. Sendo assim, torna-se fator importante recorrer a algumas teorias da aprendizagem apresentadas pelos principais autores: Jean Piaget (1896-1980), Lev Vygotsky (1896-1934) e Paulo Freire (1921-1997), na tentativa de compreender mecanismos da prática do professor que possibilitem a construção do processo cognitivo e habilidades leitoras do estudante. |
ABSTRACT: It is a worrying factor the results presented in the process of reading the students of the 5th grade of the schools of northeastern Brazil. Where, considerable part indicates weaknesses in the reading skills. Thus, it becomes important to resort to some theories of learning presented by the main authors: Jean Piaget (1896-1980), Lev Vygotsky (1896-1934) and Paulo Freire (1921-1997), in an attempt to understand mechanisms of practice of the teacher that make possible the construction of the cognitive process and student's reading abilities. |
Nos dias atuais, as escolas brasileiras têm sofrido bastante com as políticas educacionais presentes no país. Não é de hoje que os profissionais brasileiros encontram dificuldades com diversas situações presentes no dia a dia escolar.
É de fato preocupante, os resultados apresentados no processo de leitura dos estudantes do 5º ano das escolas do nordeste brasileiro. Pois, parte considerável dos estudantes indicam fragilidades nas competências leitoras.
Sendo assim, torna-se importante recorrer a algumas teorias da aprendizagem apresentadas pelos principais autores: Jean Piaget (1896-1980), Lev Vygotsky (1896-1934) e Paulo Freire (1921-1997), tentando compreender mecanismos da prática do professor que possam vislumbrar a construção do processo cognitivo e das habilidades leitoras dos estudantes.
De acordo com Lino Ferreira da Silva (2017) não é novidade que as pessoas têm lutado pela educação, inclusive as pessoas com deficiência lutem por seus direitos e por uma sociedade mais justa. Assim, não se pode deixar despercebido a evolução distorcida da educação nos dias de hoje no Brasil.
Desta forma, esse artigo está dividido entre a base teórica das teorias da educação, os métodos utilizados para captar relatos de experiências de professores de escolas de ensino público do nordeste brasileiro, e por último as contribuições das teorias para os problemas identificados.
Igualmente, visa identificar possíveis causas das dificuldades de leitura dos estudantes do 5º ano do ensino fundamental.
Há décadas que os pesquisadores, pensadores, educadores e cientistas de diversas áreas tentam entender como o ser humano aprende. Com o surgimento da computação por volta da década de 1960 os cientistas da computação buscam através da inteligência artificial meios para tentar simular o aprendizado humano.
Entretanto, o conhecimento humano já foi medido através de saberes inatos, até que se tentou ensinar as pessoas para verificar se as mesmas aprendiam ou se o saber humano era algo congênito (SANTOMAURO, 2010).
Prova disso, foram os posicionamentos de Platão (427-347 a.C) e Sócrates (ca. 469 ou 470–399 a.C.) no início dos séculos, quando afirmavam que os seres humanos já nasciam com saberes, seja de vidas passadas ou do nascimento (SANTOMAURO, 2010).
A partir dessa perspectiva houve motivação pelos cientistas educacionais a ver o ensino de outra forma: o educador deve interferir o mínimo possível na construção do saber.
Contudo, é preciso cuidado, pois incentivar os alunos que já possuem facilidade em desenvolver os conhecimentos, pode ser proveitoso para construção do saber daqueles indivíduos com tal habilidades. Entretanto, o inatismo pode ser considerado uma má forma de facilitar o êxito do saber, pois existem alunos que não possuem tal habilidades congênitas e não tem facilidade para aprender, possuem dificuldades no lar, ou às vezes o educador não tem habilidades suficientes para gerir a construção do saber.
Em continuidade, Arisóteles (384-322 a.C) não acompanhou as perspectivas de Platão completamente, pois embora o mesmo acreditasse que as pessoas nasçam com capacidades de aprender, elas precisam de experiências ao longo da vida, experiências essas adquiridas de acordo com a cultura, local, e meio em que o ser vive (SANTOMAURO, 2010).
Assim, os empiristas, como são chamados, acreditam que o ser humano só transforma informação em conhecimento quando este, passa a fazer parte dos seus hábitos. Em igualdade, os filósofos Francis Bacon(1561-1626), Thomas Hobbes(1588-1679) e John Locke(1632-1704) concordavam que é papel da escola formar um sujeito capaz de habilidades para julgar o que é certo e o que é errado moralmente e agir segundo critérios da razão, por exemplo (SANTOMAURO, 2010).
Embora essas perspectivas ainda sejam utilizadas em salas de aula, aonde algumas instituições ainda acreditam que o professor é o detentor do saber e é ele que deve gerenciar o processo de aprendizagem. É com o processo de aprendizado indo em direções opostas, por volta do século vinte surgiu o construtivismo que tenta seguir entre o inatismo e o empirismo e condiz com as duas perspectivas, embora o indivíduo nasça com potencialidade para desenvolver certas características e habilidades, o meio precisa proporcionar esse desenvolvimento (FERNANDES, Abril – 2011). Sendo que não se pode apenas proporcionar o desenvolvimento dessas potencialidades, mas o indivíduo precisa agir e transformar, segundo Jean Piaget.
Muitos estudiosos contribuíram para educação através das ideias de Piaget, por exemplo, Paulo Freire que claramente defende que o ser humano precisa desenvolver os seus potenciais desde que sejam levadas em considerações as condições sociais que o ser está inserido, veremos mais sobre as contribuições do autor nas próximas seções. Porém, a ideia do construtivismo não é tirar do professor o papel de mediador do conhecimento, Becker (Brasil, UFRGS) diz que “professor que não ensina não é construtivista” (FERNANDES, Abril – 2011). O próprio Paulo Freire em entrevista em vídeo “Não há liberdade sem disciplina” mostra que é preciso existirem regras, é necessário existir um ser mediador que possa gerir os saberes existentes do mundo.
A partir de todas essas perspectivas, surgem então meios para que o educador busque formas para sondar o conhecimento com a finalidade de buscar entender por que aquilo que cada um sabe é importante para saber mais (TAFNER, 2017).
Além de Piaget ter contribuído com as ideias sobre o construtivismo, ele mostrou que é preciso confrontar o conhecimento, a inteligência. Fornecer novos desafios para os alunos, enfrentar situações inéditas, são meios que as crianças têm ao longo da vida e com isso constroem infinitamente suas estruturas cognitivas ” (FERNANDES, Março – 2011). Apesar disso, é necessário também ter cuidado, pois muitas vezes a criança não se sente à vontade e pode adotar outros meios para enfrentar os desafios e situações que surgiram ao longo da vida (CARMO e BOER, 2012).
Por fim as ideias de Piaget em conjunto com as ideias de Vigotsky deram espaço para o surgimento da Teoria Cognitiva, indo além da ideia de que o indivíduo posto em determinada situação com estímulos para resposta, tem resultados no processo de ensino aprendizagem (LAKOMY, 2008). Sendo que, na Teoria Cognitiva é preciso compreender como ocorre a aprendizagem do sujeito no processo de construção do conhecimento.
Com o passar dos anos, com as evoluções científicas e tecnológicas, filósofos, antropólogos, sociólogos, psicólogos e educadores passaram a investigar o ser humano e como funciona o processo de aprendizagem. Entretanto, não é fácil ou simples entender toda evolução da humanidade até os dias de hoje quando se trata de decifrar o cognitivo do sujeito.
Em certas circunstâncias, o sujeito é capaz de reagir e aprender de maneira totalmente diferente do que se está convencionado pela sociedade, como exemplo Davis (1994) demonstra um caso de duas crianças que conviveram com lobos e os seus comportamentos eram iguais aos animais.
Ora, como pode ser explicado tal situação? Será que o ser humano precisa do convívio social para serem de fatos humanos sociais? Sem o social nós somos pessoas ou animais?
É a partir dessa observação que se pode notar as contribuições de Vygotsky para o entendimento do ser humano e de como funciona o processo de aprendizagem. Um ser humano privado do seu contato com outros seres humanos passam a agir da forma do seu convívio com o meio (FERRARI, 2008).
Então, quando um bebê nasce ele vive em um convívio social com outros seres humanos e sente a necessidade de interagir com os outros seres humanos, o que inicia o seu processo de obter o saber, com novos desafios, errando, e direcionando suas expectativas para o caminho que o seu meio proporciona.
Desta forma, a contribuição de Vygotsky tem de fato um sentido interacionista, como as ideias de Jean Piaget e Paulo Freire, que o indivíduo é norteado pelas ações do meio em que convive, seja ele orientado ou não político moralmente para conviver na sociedade. Mas, Vygotsky futuramente tem ideias em oposição a Piaget, embora há a possibilidade de conciliar as duas obras.
Em trechos do seu trabalho Vygotksy fala “o pensamento é construído paulatinamente num ambiente que é histórico e, em essência, social” (VYGOTSKY, 1999), corroborando com as narrativas anteriores e com os pensadores da atualidade.
O problema então, é que todos esses estudos são utilizados muitas vezes pela sociedade, em especial pelos políticos, de forma totalmente desnorteada, desestruturada e sem planejamento, é claro que o ser humano só consegue um bom desempenho social com relação a suas habilidades, se o meio em que ele convive corroborar, propiciar e incumbir tais desafios no seu dia-a-dia.
Nesse ínterim, Monroe (2016) resume o papel do professor segundo o trabalho de Vygotsky da seguinte forma: “o professor é figura essencial do saber por representar um elo intermediário entre o aluno e o conhecimento disponível no ambiente”.
Por consequência disso, se relembrarmos um pouco sobre Jean Piaget, veremos que o seu construtivismo incumbia o indivíduo a ser desafiado, enfrentar situações inéditas, e agora, com as contribuições de Vygotsky, o professor assume papel de figura essencial no processo de aprendizagem por ser ele o intermédio entre o pré-conhecimento disponível no mundo social que ele adquiriu ao longo da vida, e o aluno como o ser a ser desafiado, postos em situações inéditas e encorajado a buscar novos conhecimentos que sirvam para sua vida social, pessoal e profissional.
Mais adiante, é possível notar que no início da infância é a fase que se deve explorar melhor os saberes sejam eles congênitos ou não, deixar que o conhecimento seja aprendido de forma divertida, há sempre a necessidade na fase infantil de se ter um elo entre o ser humano e o mundo, pois só assim ele aprende com as ações daquele meio em que está inserido. Ainda de acordo com Vytogsky esse aprendizado é chamado de aprendizagem mediada.
Mais uma vez, tenta-se um cuidado especial com toda relação do processo de aprendizagem, pois não basta simplesmente aplicar uma teoria da forma que se entende correta e afetar milhões de pessoas de maneiras distintas, como já dizia Paulo Freire: “Não há liberdade sem disciplina”.
Segundo Paganotti (2011) o trabalho de Vygotsky em mais de 200 trabalhos sobre psicologia abordou também o ambiente escolar e a defesa de que não é correto separar indivíduos com habilidades mais desenvolvidas dos indivíduos que ainda estão em fase de aprendizado. Há milhares de motivos perceptíveis para que essa separação não ocorra, mas Vygotsky ainda nota que existe uma forma de nivelar o desenvolvimento infantil em duas fases: uma que a criança irá aprender sozinha e a outra que irá aprender com o auxílio de alguém, seja professor, parentes ou colegas, ele chamou esse termo de desenvolvimento proximal.
Portanto, resumindo as contribuições de Vygotsky, “na ausência do homem, o homem não se constrói homem”. Com essa afirmação, é possível notar que o meio social, o convívio, a cultura, os saberes antepassados, a evolução com que o mundo muda, precisa ser levada em consideração na formação do indivíduo social. Assim, não basta nascer gênio como já afirmava o inatismo, o ser é construído através do convívio social como afirma o socioconstrutivismo, embora particularmente os autores deste trabalho acreditam que o inatismo, o socioconstrutivismo e sociointeracionismo possam andar juntos, pois muitas vezes o ser já nasce com capacidades e habilidades para desenvolvimento, porém o meio não o incentiva, o seu convívio social não proporciona a possibilidade do desenvolvimento de tais competências.
Por certo, é como se o inatismo, empirismo, socioconstrutivismo e o sociointeracionismo fossem as possíveis teorias em que determinado indivíduo está inserido em um contexto educacional de aprendizagem, porém ora elas podem te levar em caminhos retos, e ora podem te levar a caminhos opostos, depende muito do indivíduo, do ser, nem sempre o caminho a ser seguido será um bom caminho. Para melhor exemplificar, o autor Lino Ferreira da Silva et al. (2017) mostra através das Figura 1 e 2 essas situações.
Cenário 1: Indivíduo inatista, doutrinado pelo empirismo, que teve influências socioconstrutivista e sociointeracionista de maneira positiva, evolução natural ideal.
Figura 1
Evolução do indivíduo inatista dentro de uma sociedade ou em contato com
outras pessoas empiristas que o estimula a novos desafios e que tem uma
linguagem histórica sociocultural positiva.
Fonte: Autoria própria. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/
Cenário 2: Indivíduo inatista, ou não, com ou sem estímulos empiristas, que teve ou não influências socioconstrutivistas e sociointeracionistas de maneira positiva ou negativa, evolução dinâmica relativa.
Figura 2
Evolução do indivíduo inatista, ou não, dentro de uma sociedade ou em contato,
ou não, com outras pessoas que o estimula ou não a novos desafios e que tem
uma linguagem histórica sociocultural positiva ou negativa.
Fonte: Autoria própria. Disponível em: https://commons.wikimedia.org
Como explicamos que mesmo em situações em que o convívio social é ruim, as mudanças históricas e culturais são negativas e o indivíduo sente, mesmo assim, a necessidade do saber? De desenvolver suas habilidades; aprende sozinho e saí da sua “zona de conforto” em busca de uma vida melhor?
De acordo com o desenvolvimento da educação atual é possível identificar as fragilidades de uma educação de qualidade, enquanto não existir homens e mulheres politizados para refletirem sobre as ações educacionais que garantam ao homem a oportunidade de pensar e pensar certo.
É comum encontrar professores e pais de estudantes angustiados por crianças, jovens e adultos não serem alfabetizados. E entre as complexidades existem questionamentos de quem são as responsabilidades de uma educação fragilizada? Uns dizem dos professores, outros dizem das gestões escolares, outros defendem que seja do próprio sistema de educação do país que não forma sujeitos autônomos, mas repetitivos, sem perspectiva de vida.
“Posso saber pedagogia, biologia como astronomia, posso cuidar da terra como posso navegar. Sou gente. Sei que ignoro e sei que sei. Por isso, tanto posso saber o que ainda não sei como posso saber melhor o que já sei” (FREIRE, 1996, p.94).
O homem chega à escola com sua bagagem de mundo, já alfabetizado de forma não formais, porém a escola às vezes ignora o que o sujeito já tem e apenas deposita fragmentos de informações sem refletir ou fazer com quer o indivíduo reflita.
Diante deste pressuposto é comum perceber que a escola tem se voltado apenas a repetir sílabas e palavras isoladas da realidade contextual do aluno, seja na Educação Infantil, no Ensino Fundamental ou no ensino da Educação de Jovens e Adultos (EJA). O educando para a escola se torna um baú de depósitos de informações impostas de cima para baixo.
Inicialmente parece interessante refletir que sempre a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo, como um ato criador. Seria impossível engajar um indivíduo num trabalho de memorização mecânica dos “ba-be-bi-bo-bu”, dos “la-le-li-lo-lu”. Daí que também não pudesse reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras. Ensino cujo alfabetizador fosse “enchendo” com suas palavras as cabeças supostamente “vazias” dos alfabetizandos. Pelo contrário, enquanto o ato de conhecimento e o ato criador, o processo da alfabetização tem, no alfabetizando, o seu sujeito (FREIRE, 1921, p. 46).
Diante desta realidade é necessário se repensar em que tipo de sujeito está sendo formado na atualidade, pois o estudante necessita explorar os conhecimentos de forma intelectual e não apenas absorver informações por partículas. É neste sentido que Freire pensa em uma alfabetização que valorize o ato de ler do educando desde cedo para não chegar na fase adulta e passe por vexames que já tenha sofrido na fase de criança, adolescente ou jovem.
De acordo com a perspectiva de Freire a educação deve ser uma prática de liberdade do educando, onde o mesmo possa questionar, levantar hipótese e condensar as suas ideias em realidade por meios da descoberta de forma interessante e não imposta de forma vertical, pois o aluno deve ser visto desde sedo na escola como sujeito pensante e não como um robô para apenas repetir os comandos enviados.
Contudo, os políticos populistas nem sempre compreenderam claramente a mobilização que eles próprios estimulavam. No caso do movimento de educação popular nunca puderam compreender plenamente as relações entre alfabetização e conscientização (FREIRE, 1967, p. 24).
O ato de formar leitores reflexivos nem sempre foi compreendido pelo próprio sistema de educação, pois a política de educação do Brasil está voltada a repressão e a castração dos saberes dos educandos. Prova disso, foram reportagens em meados de setembro de 2017, mostrando que vinte e quatro ganhadores do prêmio Nobel solicitaram ao presidente brasileiro interrupções nos cortes de verbas para ciência/educação (LEWER, Acesso em 2017). Este é uns dos reflexos do fracasso de os estudantes chegarem a universidade sem saber ler e escrever sem ser um reprodutor. Questiona-se que se formem homens e mulheres capazes de transformar uma sociedade com as múltiplas dimensões de saberes.
Assim, o papel da autoridade democrática não é transformado a existência humana num calendário escolar tradicional, marcar as lições de vida para as liberdades, mas, mesmo quando tem um conteúdo programático a propor, deixar claro, com seu testemunho, que o fundamental no aprendizado do conteúdo é a construção da responsabilidade da liberdade que se assume (FREIRE, 1996, p.94).
Para o mapeamento metodológico desta pesquisa, foram selecionadas quatro escolas do nordeste brasileiro. Assim, solicitou-se aos gestores que reunissem relatos de experiências dos profissionais docentes do 5º ano do ensino fundamental.
Em seguida, solicitou-se aos gestores das escolas que consolidasse os relatos de experiências em um único relato por escola, acrescentando sua visão como gestor da unidade.
Em continuidade, identificou-se as possíveis causas da falta de alfabetização no término do segundo ciclo do ensino fundamental com relação as habilidades leitoras dos estudantes.
Também foram analisados os relatos de experiências nas perspectivas das teorias de aprendizagem apresentadas por Piaget, Vygotsky e Freire.
Por fim, com os relatos de experiências uma vez consolidados e analisados, foram propostos possíveis caminhos para superação das dificuldades apresentadas.
Com o objetivo de identificar as possíveis causas das dificuldades de leitura dos estudantes do 5º ano do ensino fundamental foram coletados relatos de experiências de docentes do 5º ano do ensino fundamental de escolas do nordeste brasileiro. Vale enfatizar, que os relatos de experiência foram consolidados por escola, ou seja, o gestor de cada escola reuniu os relatos de todos os professores e sintetizou com base também em sua experiência.
Com o intuito de facilitar a identificação dos relatos, foram enumerados da seguinte maneira: as letras RL + Número do relato em ordem sequencial.
Nós professores da rede pública há mais ou menos 18 anos, tendo como experiência em sala de aula no município de Escada-PE, localizado na Zona da Mata Sul do estado de Pernambuco, temos encontrado grandes desafios nas turmas de ensino dos anos iniciais do Ensino Fundamental, onde a maioria dos alunos chegam ao 5º ano sem estarem alfabetizados. E um dos maiores desafios é motivar o aluno para continuar na escola uma vez que se sente fracassado frente à realidade do nosso país.
O que são questionados por professores, gestores, coordenadores e secretaria de educação é de quem é a culpa destes resultados catastróficos? Acreditamos que tudo isso são reflexos do próprio sistema de educação de nosso país, pois a sua fragilidade de políticas públicas em deixado crianças, jovens e adultos a margem da criminalidade, por não existir políticas voltadas a formação de sujeitos crítico, reflexivos.
Alguns, dos problemas, são a falta de valorização do professor que passa meses sem receber o salário que já é insuficiente para manter a sua família, falta de investimentos em formação continuada, sem contar com a falta de materiais didáticos.
Diante de tantas dificuldades encontradas pelos professores em relação ao processo ensino aprendizagem, com crianças do 5º ano do Ensino Fundamental, principalmente no que tange, a aquisição da leitura, nos deparamos que mesmo com todo investimento do governo federal com o Pacto da Alfabetização na Idade certa, ainda temos crianças que chegam no 5º sem saber ler e escrever.
Por ser uma escola localizada na periferia da cidade próximo ao presidio de segurança máxima e do lixão da cidade temos uma “clientela” que vive numa situação de vulnerabilidade, onde as famílias sobrevivem da separação de materiais reciclados e também do programa bolsa família, a maioria dos pais encontra se preso.
Todavia com todas as dificuldades encontradas as professoras conseguem trabalhar com esses alunos procurando meios para que os alunos consigam a aquisição da leitura.
De acordo com Paulo Freire, o conhecimento será construído mediante o meio em que indivíduo está inserido. Portanto os educadores precisam trabalhar com o real, com o concreto, partindo de palavras geradoras.
Enquanto que para o psicólogo Lev Vygotsky o professor será o mediador da aprendizagem, ou seja, ele será o intermediário entre o aluno e o conhecimento disponível no ambiente.
Referente as observações feitas na sala do quinto ano da escola #editado pelos autores para manter o sigilo da escola# podemos constatar que 75% dos estudantes do quinto ano apresentam dificuldades na compreensão da leitura onde eles chegam, sem esta prática não acompanhando as propostas curriculares do ciclo que estão inseridos, assim investigamos de onde surgiu está dificuldade, foi observado que os estudantes moram em uma comunidade vulnerável na qual sua renda parte do que coleta no lixão que fica próximo à sua casa, 50% dos pais estão presos no presídio de segurança máxima Ênio Pessoa Guerra que fica localizado no lado direito da escola, 15% estão separados, sua estrutura familiar apresenta um desconforto psicológico, onde afeta no processo de ensino aprendizagem eles não tem hábito de leitura em casa e na maioria das vezes não são incentivados pelos pais porque o tempo que está fora da escola está no lixão para ajudar na renda onde não chegar nem um salário mínimo.
As professoras do quinto ano desenvolve em sua prática pedagógica uma metodologia diversificada para atender as dificuldades apresentadas.
Metodologia com aulas dinâmica, cruzadas, gêneros textuais, carta, bilhete, história em quadrinhos dentre outras.
Trabalham envolvendo rótulos embalagens que pode ser encontrado no seu meio social.
Antes eram chamadas a escola do lixão que não tinha solução para melhorar a qualidade do ambiente hoje os pais são parceiros da escola participar das oficinas de reciclagem, por a escola não ter murro, os pais, juntamente com os funcionários, fizeram uma cerca de garrafas pete.
A escola para alcançar resultados oferta através do projeto de nova educação reforço para trabalhar a dificuldade de leitura só com aqueles que apresenta dificuldade na leitura.
Aqui, serão apresentadas as conclusões e propostas baseadas nas teorias da aprendizagem para tentar sanar as dificuldades nas habilidades leitoras.
Conforme foi possível notar nos relatos de experiências, os problemas com a aquisição da habilidade leitora pelos estudantes são diversos. Entretanto, Freire e Vygotsky podem contribuir com a adaptação do conhecimento e adequação ao meio em que o indivíduo está inserido, seus saberes adquiridos através de linguagem política, histórica e cultural.
Desta forma, nos relatos RL02 e RL03, é possível notar que a escola está localizada próxima de uma zona de detenção de segurança máxima, e além disso, próxima de um lixão, a realidade desses estudantes, o saber exposto, as experiências vividas não são as mesmas de um estudante que nasceu no conforto de um lar rico, em bairros de classes sociais com poder aquisitivo.
Entretanto, não é que o indivíduo que estuda entre um presídio e um lixão tem menos capacidade cognitiva para aprender, não é que o estudante rico tem mais facilidade e acesso ao conhecimento, é a forma com que se tratam os saberes dos estudantes, a forma de como as políticas educacionais brasileiras estão desenvolvidas, formuladas e “estruturadas”. Freire afirma que não se pode ignorar os saberes já adquiridos pelo ser, assim como Vigotsky, esse ser pode nascer inatista e mesmo em situações precárias como está exposta pelo relato, ele pode nas percepções de Piaget ser desafiado, com professores desafiadores que estimulem o saber, como fazem os professores do relato RL03, que contribuam com o processo de ensino aprendizagem de maneira positiva.
Para Jófili (2002) a convicção de Piaget é de que as crianças são como cientistas, enquanto Piaget enfatiza a interação com os objetos, Vygotsky enfatiza a interação social.
Sendo assim, outra proposta, seria a exposição de novos desafios para os alunos, como a utilização de recursos tecnológicos nos trabalhos de Lino Ferreira da Silva (2017), com a aplicação de objetos de aprendizagem desenvolvidos com Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Assim, os objetos de aprendizagem podem ser bastantes úteis nos processos de aprendizagem das habilidades leitoras baseando-se nos princípios de Piaget, enquanto se pode levar o estudante a locais como museus e bibliotecas para visitas que possibilitem ao educando a interação social com maior frequência, em conformidade com Vygotsky e Freire.
Portanto, em uma era política de crise e total descrença no ser político-social, no Brasil por exemplo, muitos conseguem atingir os seus objetivos, desenvolverem suas habilidades, e se tornarem grandes cientistas, grandes contribuintes da sociedade, médicos, doutores, advogados, cientistas, todos vindos de favelas e de situações sociais em que não os encorajam nem norteiam para melhores caminhos.
Por fim, não é apenas o meio social ou o ambiente que definirá como o ser humano desenvolverá suas habilidades ou saberes, o ser humano é imprevisível e relativo a muitas circunstâncias desconhecidas pelo homem até hoje.
O que de fato ressalta-se aqui, é que se tenham políticas públicas por parte dos governantes brasileiros que defendam uma ideologia de aprendizagem voltada a realidade do nosso país, pois enquanto estivermos copiando os modelos de educação de outros que não condiz com a realidade do homem e mulher que existem neste país teremos apenas uma mera educação.
Para se formar leitores é necessário investir no bom desenvolvimento de formações para os docentes, que lecionam desde sedo nas primeiras turmas da educação infantil para que a base de uma educação de qualidade se expandam pela demais modalidades de ensino. Não se faz educação de forma mecânica, mas em um processo de multiplicidades tanto culturais, geográficas, raciais entre outros aspectos.
Porque não existe aprendizagem melhor e nem pior, mas diferentes, por isto é que se acredita que a educação pode contribuir em uma construção de cidadania mais justa, com ênfase nos saberes que cada homem ou mulher consegue construir, pois as construções dos saberes podem ser diferentes, mas não deixa de ser algo propriamente de cada indivíduo.
Se existir realmente práticas educativas de acordo com os saberes dos discentes, as realidades dos níveis de analfabetos mudariam, pois, cada sujeito gostaria de expor o conhecimento já adquirido e buscaria o novo, que é da própria natureza do homem ser curioso, questionador e desafiador de suas realidades. É o que está faltando para que se tenha um país de educação de primeiro mundo e não se limitar na mesmice que se tem vivido até os dias atuais.
Por fim, como trabalho futuro pretende-se expandir a coleta de relatos de experiências em um número maior de escolas públicas para tentar verificar padrões de comportamento em dificuldades que os educandos vêm vivenciando no Brasil.
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4. Doutorandos em Ciências da Educação. Unigrendal Premium Corporate (UPC) / Grupo Alpha.
5. Doutorandos em Ciências da Educação. Unigrendal Premium Corporate (UPC) / Grupo Alpha.
6. Graduando do curso de Engenharia de Produção. Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E email de contato: augustojsrodrigues@gmail.com
7. Professores Ph.D. da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
8. Professores Ph.D. da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).