Vol. 38 (Nº 57) Ano 2017. Pág. 14
Nilson Gomes de Souza JUNIOR 1; Ronicely Pereira da ROCHA 2; Adalberto SANTI 3; Rafael Cesar TIEPPO 4
Recebido: 20/07/2017 • Aprovado: 22/08/2017
RESUMO: Objetivou-se realizar um levantamento sobre a produção de grãos e capacidade estática de armazenagem da microrregião de Tangará da Serra, MT. Foram utilizados dados disponíveis no site do IBGE, CONAB, livros e periódicos científicos. Avaliou-se a produção de grãos nas cidades de Arenápolis, Barra do Bugres, Denise, Nova Marilândia, Nova Olímpia, Santo Afonso e Tangará da Serra e a capacidade estática de cada município. Os municípios com maior deficiência de armazenagem são Nova Marilândia, Denise e Santo Afonso. |
ABSTRACT: The objective was to study the static capacity of the various grain types of the Tangará da Serra, MT microregion. We used data available on the IBGE website, CONAB and scientific journals. Grain production was evaluated in the cities of Arenápolis, Barra do Bugres, Campo Novo do Parecis, Denise, Diamantino, Nova Marilândia, Nova Olímpia, Santo Afonso and Tangará da Serra in 2015, and the static capacity of each municipality. The municipalities with the greatest storage deficiency are Nova Marilândia, Denise and Santo Afonso. |
A produção de grãos vem crescendo gradativamente no Brasil. A região centro oeste do Brasil está em destaque como a principal região produtora de grãos com 40,8% do total de produção, Mato Grosso destaca-se por ser o estado que mais produz atualmente com cerca de 23 % de participação no cenário Brasileiro (CONAB, 2017).
No Mato Grosso destacam-se diversas micro regiões e, dentre essas, a do município de Tangará da Serra e cidades circunvizinhas, sobressai quando analisada a capacidade produtiva de grãos. O conhecimento da capacidade estática dessa região produtora é importante para os diversos setores produtivos e de consumo dessa região do estado.
Diante o histórico da capacidade estática de armazenamento de grãos no Brasil, entre 1980 e 2008, Azevedo et al. (2008), verificaram que os estados apresentaram diferentes relações entre a produção e a capacidade estática de armazenamento, e que 90% do total dessa capacidade se concentra em nove estados, dentre os quais se destaca Mato Grosso de forma positiva contribuindo no aumento da produção regional e nacional.
Além da identificação da capacidade estática, é necessário se conhecer a capacidade diversificada de armazenamento e beneficiamento dos grãos produzidos (Arroz, Feijão, Girassol, Milho, Soja e Sorgo). A armazenagem é o processo de guardar o produto, associada a uma sequência de operações, como limpeza, secagem, tratamento fitossanitário, transporte, classificação etc., com o intuito de preservar as qualidades físicas e químicas da colheita, até o abastecimento (Elias, 2003).
Na área de suprimento, a armazenagem aparece como uma das funções que se agrega ao sistema logístico, sendo necessário adotar um sistema de armazenagem racional de matérias-primas e insumos (Alves, 2011). No processo de produção, são gerados estoques de produtos em processo, e, na distribuição, a necessidade de armazenagem de produto acabado é, talvez, a mais complexa em termos logísticos, por exigir grande velocidade na operação e flexibilidade para atender às exigências e flutuações do mercado (Amaral, 2007).
Com intuito de conhecer o complexo de armazenamento da região e disponibilizar a informação necessária aos diversos protagonistas do sistema agroindustrial da região, objetivou-se com este trabalho realizar análise sobre a capacidade estática de armazenagem de grãos de Tangará da Serra - MT e microrregião.
Conforme dados da CONAB (2016), a produção de grãos no Brasil, na safra 2015/16, foi de aproximadamente 190 milhões de toneladas enquanto a capacidade estática brasileira de armazenagem totalizou aproximadamente em 167 milhões de toneladas. Para essa safra o déficit de armazenagem foi de aproximadamente 23 milhões de toneladas de grãos, sendo o ideal de 228 milhões de toneladas, ou seja, 61 milhões de toneladas a mais do que a quantidade armazenada.
O número mínimo de armazéns aconselhável é a soma de toda a produção, mais uma margem de 20% de segurança para que não ocorra déficit em caso de superproduções (Amaral, 2007; Leite 2013). Para o estado do Mato Grosso a produção na safra 2015/16 foi de aproximadamente 51,4 milhões de toneladas sendo a capacidade estática de 33 milhões de toneladas (CONAB, 2017). Considerando essa mesma safra o déficit de armazenagem foi de aproximadamente 18,4 milhões de toneladas de grãos, sendo o ideal de 61,68 milhões de toneladas, ou seja, 28,68 milhões de toneladas a mais do que a quantidade armazenada.
O estado do Mato Grosso é o maior produtor de grãos do Brasil, principalmente na produção de soja e milho. Segundo dados da CONAB (2017), a produção de grãos do estado na safra 2016/17 tende a crescer em 5,7% em relação à safra anterior. Este aumento deve-se a incorporação de áreas de pastagens degradadas para o cultivo e abertura de novas áreas, que possibilitam o aumento da produtividade média da região, que já representa 41,65% da produção brasileira (IBGE, 2017).
O volume de grãos vem aumentando significativamente e a estrutura de armazenagem não vem acompanhando esse crescimento (Lorine, 2002), porém, os produtores vêm obtendo recordes de produção a cada safra, sem que haja investimentos na mesma proporção no pós-colheita (Embrapa, 2006).
O desempenho da rede de armazenagem no Centro-Oeste não tem conseguido acompanhar o dinamismo do setor agrícola, aonde o déficit de armazenamento de grãos na safra 2014/15 em Mato Grosso chega a 17,7 milhões de toneladas, no entanto o estado é capaz de cobrir apenas 64% de todo o volume de grãos produzidos com sua capacidade estática (Imea; Silva Neto et al, 2016). O crescimento da produção agrícola no estado de Mato Grosso não está sendo acompanhado por toda a cadeia produtiva, inclusive pela capacidade estática de armazenagem, ou seja, o armazenamento de grãos é menor que a produção (Azevedo et.al., 2008).
Nas duas mais recentes safras, por sinal recordes, observa-se defasagem acentuada entre produção de grãos e capacidade estática de armazenamento (Maia et al., 2013). Portanto, o estabelecimento das redes armazenadoras é um dos processos de comercialização que vem gerando discussões primordiais neste setor do agronegócio, pois é visto como uma medida que gera grande possibilidade no aumento da produção de grãos, bem como sua distribuição e estabilidade no mercado (D’Arce, 2010).
Assim, o país não está preparado para aproveitar megacolheitas, correndo o risco de perder parte dos milhões de toneladas de grãos esperadas para as próximas safras por haver deficiências no sistema de estocagem da produção de grãos (Weber, 2005). No Centro-Oeste, a modernização e expansão planejada do sistema de armazenamento podem contribuir para minimizar as perdas no escoamento da produção, por estar muito distante dos portos.
Este trabalho é de natureza analítica, ou seja, não se utilizaram modelos empíricos de testes. Para este estudo foi realizado um levantamento da capacidade estática dos armazéns a granel e a quantidade produzida de grãos na microrregião de Tangará da Serra – MT, junto às instituições: CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento; IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Junto com os dados da CONAB e da revisão da literatura com os levantamentos obtidos em periódicos científicos, foi identificada a capacidade estática dos armazéns a granel e convencionais.
As variáveis de produção de grãos e da capacidade estática de armazenamento na microrregião de Tangará da Serra – MT (Arenapólis, Barra do Bugres, Campo Novo do Parecis, Denise, Diamantino, Nova Marilândia, Nova Olímpia, Santo Afonso e Tangará da Serra) foram analisadas e organizadas em tabelas e gráficos, de acordo com dados oficiais disponibilizados pelo IBGE e CONAB.
Com os dados disponíveis, foi estudada a quantidade de grãos produzida e a capacidade estática dos armazéns, dessa forma avaliando se há déficit de armazenagem.
A análise entre a capacidade de armazenagem e grãos e a produção de grãos, entre os anos de 2001 a 2016, está representada no Gráfico 1. Observa-se que a produção de grãos sempre esteve aquém da armazenagem.
Gráfico 1
Capacidade de armazenagem versus produção de grãos no Brasil (2001/2016).
Analisando o Gráfico 1, nota-se o crescimento da produção e da capacidade estática de armazenagem de grãos no Brasil, no período de 2001 a 2016, deixa ainda mais evidente a disparidade entre elas. Enquanto a produção cresceu 35% no período de 15 anos, a capacidade estática aumentou 23%; ou seja, os investimentos realizados nas estruturas de armazenagem não foram suficientes para acompanhar a produção.
De acordo com a Tabela 1, a capacidade estática do Brasil, no momento da elaboração deste artigo, é de 158,6 milhões de toneladas, divididas entre armazenagem em sacarias (armazéns convencionais) e armazenagem a granel. Desse número, cerca de 67% são armazéns a granel. A região Sul apresenta a maior capacidade estática, com aproximadamente 64 milhões de toneladas, mesmo não sendo a maior produtora de grãos.
Tabela 1
Capacidade estática por regiões brasileiras
Região |
Convencional |
Granel |
Total |
|||
Quant. |
Capacidade (t) |
Quant. |
Capacidade (t) |
Quant. |
Capacidade (t) |
|
Centro oeste |
833 |
3.468.749 |
3.223 |
52.619.251 |
4.056 |
56.088.000 |
Nordeste |
597 |
1.693.850 |
611 |
8.674.890 |
1.208 |
10.368.740 |
Norte |
258 |
831.971 |
232 |
3.400.583 |
490 |
4.232.554 |
Sudeste |
1.723 |
8.492.476 |
984 |
15.119.519 |
2.707 |
23.611.995 |
Sul |
2.317 |
7.207.119 |
6.399 |
57.057.899 |
8.716 |
64.265.018 |
Total |
5.728 |
21.694.165 |
11.449 |
136.872.142 |
17.177 |
158.566.307 |
Fonte: CONAB (2017).
Observa-se no Gráfico 2 a capacidade estática de armazenagem para todos os estados brasileiros. Pode verificar que o estado de Goiás (19,6%) e Mato Grosso (18,6%) ambos inseridos na região centro oeste possuem a maior capacidade estática.
Gráfico 2
Capacidade estática por estados brasileiros (Porcentagem).
O principal indicador de crescimento econômico, o Produto Interno Bruto (PIB) indica Mato Grosso no ano de 2016 como o segundo maior estado, em relação ao seu crescimento, referente a economia brasileira. Com isso, o estado tem se mantido afastado da longa recessão econômica do país e ainda apresenta boas expectativas em relação a produção nos próximos períodos (Bazzani, 2017).
O estado de Mato Grosso é conhecido como o celeiro do país e é o primeiro na produção de grãos no Brasil e representa 23,3% da produção nacional. A gama de produtos agrícolas no estado é bem diversificada, incluindo soja, algodão, sorgo, milho, girassol, canola, feijão, e outros produtos. Na 2015/16, a produção de grãos no estado chegou a 43,4 milhões de toneladas, com perspectiva de 58,6 milhões de toneladas na safra 2016/17.
De acordo com os dados coletados na CONAB (2017), são considerados grãos os seguintes produtos: algodão, amendoim, arroz, feijão, girassol, mamona, milho, soja, sorgo, aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale. Mato Grosso destaca-se na produção de soja e milho, ficando em primeiro lugar nacional no que tange à produção. A soja e o milho são os itens de maior representatividade para o estado, representando para a safra 2015/16 um total de 61,3% da produção nacional de grãos.
O Centro-Oeste é a segunda região do país com maior capacidade estática de armazenagem de grãos, ficando atrás apenas da região Sul. O estado de Goiás ultrapassou o estado de Mato Grosso e atualmente é o que possui a maior capacidade, seguido por Mato Grosso (Tabela 2).
Tabela 2
Capacidade estática estados do Centro Oeste
UF |
Convencional |
Granel |
Total |
|||
Quant. |
Capacidade (t) |
Quant. |
Capacidade (t) |
Quant. |
Capacidade (t) |
|
DF |
55 |
137.352 |
33 |
252.967 |
88 |
390.319 |
GO |
220 |
822.827 |
683 |
34.731.346 |
903 |
35.554.173 |
MS |
183 |
627.680 |
682 |
8.058.964 |
865 |
8.686.644 |
MT |
375 |
1.880.890 |
1.826 |
31.880.004 |
2.201 |
33.760.894 |
Total |
833 |
3.468.749 |
3.224 |
74.923.281 |
4.057 |
78.392.030 |
No Gráfico 3, apresenta-se, para cada estado da região centro oeste, a relação produção versus capacidade de armazenagem. Com dados extraídos da CONAB (2017) para o período atual (safra 2015/16), verifica-se que apenas o estado de Goiás apresentou capacidade superior à sua produção, ao contrário dos outros estados que apresentaram déficit na capacidade estática.
Gráfico 3
Capacidade estática versus Produção de grãos da região Centro-Oeste
Na Figura 1 é possível observar o mapa do estado de Mato Grosso, dividido, segundo o IBGE, em mesorregiões, apresentando a quantidade da capacidade estática de cada uma para o ano de 2016. A região norte apresenta a maior capacidade estática de armazenagem de grãos no estado, com 21,96 milhões de toneladas, seguida pela região sudeste, com 7,03 milhões de toneladas. Isso é reflexo da produção de grãos, pois, os municípios dessa região estão entre os primeiros em quantidade produzida.
Figura 1
Mesorregiões do estado de Mato Grosso
Fonte: CONAB/IBGE (2017).
A Tabela 3 apresenta a produção de grãos do município de Tangará da Serra - MT e microrregião. Para estudar melhor o sistema de armazenagem da microrregião de Tangará da Serra, desmembrou-se os municípios, com a intenção de identificar as cidades cujos armazéns apresentam ou não capacidade de estocar a produção.
Como relatado anteriormente o estado de Mato Grosso, na 2015/16, a produção de grãos no estado chegou a 43,4 milhões de toneladas. A capacidade de grãos do estado é de 33,7 milhões de toneladas. Levando em consideração a afirmação de Mendes e Padilha Junior (2007), de que a capacidade estática de armazenagem de grãos deve ser 20% maior que a produção daquele período para que, além da possibilidade de armazenar toda a produção, verifique-se um excedente para possíveis importações ou supersafras não previstas, o déficit em Mato Grosso é de 34,6% considerando uma capacidade estática ideal (produção + 20%).
Tabela 3
Relação de produção de grãos do município de Tangará da Serra – MT e microrregião, em toneladas (t).
Município |
Arroz |
Feijão |
Girassol |
Milho |
Soja |
Sorgo |
Total |
Arenápolis |
0 |
0 |
0 |
900 |
3.300 |
0 |
4.200 |
Barra do Bugres |
1.250 |
24 |
0 |
1.750 |
0 |
0 |
3.024 |
Campo Novo do Parecis |
0 |
7.536 |
64.363 |
725.682 |
1.197.900 |
12.000 |
2.007.481 |
Denise |
900 |
0 |
0 |
4.224 |
9.930 |
0 |
15.054 |
Diamantino |
10.800 |
4.590 |
16.155 |
734.880 |
995.960 |
75.000 |
1.837.385 |
Nova Marilândia |
0 |
0 |
0 |
60.000 |
68.640 |
1.920 |
130.560 |
Nova Olímpia |
16 |
56 |
0 |
24 |
0 |
0 |
96 |
Santo Afonso |
0 |
50 |
0 |
42.320 |
35.568 |
360 |
78.298 |
Tangará da Serra |
4.757 |
5.898 |
4.500 |
136.666 |
311.640 |
1.719 |
465.180 |
Total |
|
|
|
|
|
4.541.278 |
Fonte: IBGE (2015)
Observa-se que o município que produz mais grãos é Campo Novo do Parecis (2.007.481), Diamantino (1.837.385), Tangará da Serra (465.180), seguido de Nova Marilândia (130.560), Santo Afonso (78.298) e Denise (15.054).
Analisando a tabela 3 em conjunto com a tabela 4, observa-se que os municípios de Arenápolis, Denise, Nova Marilândia e Santo Afonso não apresentam armazéns de grãos cadastrados na CONAB, assim, demonstrando a maior deficiência de estocagem da microrregião.
Tabela 4
Produção e capacidade estática do município de Tangará da Serra – MT e microrregião.
Município |
Produção (t) |
Capacidade estática (t) |
Déficit (%) |
Arenápolis |
4.200 |
0 |
100 |
Barra do Bugres |
3.024 |
92.742 |
--- |
Campo Novo do Parecis |
2.007.481 |
1.798.584 |
11,6 |
Denise |
15.054 |
0 |
100 |
Diamantino |
1.837.385 |
1.077.178 |
70,6 |
Nova Marilândia |
130.560 |
0 |
100 |
Nova Olímpia |
96 |
66.790 |
--- |
Santo Afonso |
78.298 |
0 |
100 |
Tangará da Serra |
465.180 |
322.332 |
44,3 |
Total |
4.541.278 |
3.357.626 |
35,3 |
Fonte: IBGE e CONAB (2017)
Já em relação ao maior produtor, Campo Novo do Parecis, observa-se um déficit na sua capacidade estática de 11,6% sem acréscimos de 20% (patamar ideal). Diamantino apresenta o maior déficit de capacidade estática para os municípios da microrregião, seguido por Tangará da Serra. Isso implica na necessidade de investimento em estruturas de armazenagem para esses municípios. Estes resultados estão de acordo com os encontrados por Silva Neto et al. (2016), para o estado de Goiás. Os autores verificaram que os investimentos em armazenagem não acompanharam o crescimento da produção.
Para chegar ao ideal no que se refere à capacidade estática de grãos, o estado precisa aumentar em quase nove milhões de toneladas seus espaços em armazéns e silos. Isso significa que atualmente se verifica um déficit de aproximadamente 38%. Wildner et al. (2015), também constaram déficit na capacidade de estática do Corede Noroeste Colonial, situado na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Tais autores concluíram que os municípios de Joia, Catuípe e Pejuçara foram identificados como os mais carentes em armazenagem, necessitando de maiores investimentos em capacidade de armazenagem de grãos.
Pelentir e Santos (2016), também observaram excedente na produção de grãos para o município de Boa Vista – RR. Esse déficit tende a elevar de forma significativa ao seguir a recomendação da FAO, o que poderá vir a ser, o principal obstáculo no desenvolvimento da cultura da soja no estado de Roraima, e possivelmente um fator limitante ao aumento da produção. Segundo os autores essa situação pode ser agravada por outros fatores, como: a localização geográfica do Estado de Roraima, o episódio de ser uma fronteira agrícola associada a carência de estruturas logísticas, como caminhões para dar suporte ao transporte da cooperativa até o porto de comercialização.
Segundo Mascarenhas et al. (2014), ao avaliarem a rede de armazenagem para o estado de Mato Grosso, observaram que a localização ótima dos armazéns demanda nova reestruturação e aumento da capacidade estática. Em grande medida, existe forte dependência com as características da região produtora, além dos custos de frete e a distância percorrida aos portos de exportação.
Embora a capacidade estática dos armazéns tenha aumentado cerca de 63% no estado do Mato Grosso, Amaral (2007), explica que esse avanço não acompanhou o ritmo da produção que chega, com um déficit de cerca de 36%, ou seja, boa parte da produção de grãos do estado do Mato Grosso não tem onde ser estocada.
Os resultados obtidos neste estudo corroboram com os dados obtidos por Amaral (2007), onde conclui que capacidade estática brasileira de armazenagem está com deficiência aproximada de 11%. E segundo Junior e Tsunechiro (2003), o patamar ideal para a capacidade estática brasileira, é de pelo menos 20% superior à produção do país.
Assim, para que a microrregião de Tangará da Serra possa se manter no mercado competitivo de produção de grãos, ao aumentar sua produção e demanda interna, terá que investir não só na produção como também nas etapas pós-colheita, necessárias para que haja o armazenamento de qualidade, pois sem esse investimento, o crescimento do setor torna-se inviável (Azevedo et al., 2008).
Como exposto anteriormente, observou-se que há deficiência no sistema de armazenagem da microrregião de Tangará da Serra, no Mato Grosso, indicando que o estado realmente precisa de uma atenção maior, já que é o maior produtor do país. Porém, também foi analisada uma pequena disponibilidade de armazéns nos municípios de Barra do Bugres e Nova Olímpia, podendo auxiliar no armazenamento do superávit dos outros municípios.
Assim, com o levantamento da produção e capacidade estática de armazenagem, nos municípios desta microrregião, notou-se a existência de regiões mais carentes de espaço armazenador. Essa constatação já nos permite considerar que a infraestrutura de armazenagem não tem acompanhado o ritmo de crescimento da produção agrícola e é importante identificar as regiões críticas para melhor adequação e expansão da rede de armazenagem.
O sistema logístico mato-grossense é ineficiente em diversos pontos, seja na matriz de transporte, a qual não trabalha com a capacidade adequada para cada modal, seja no sistema de armazenagem, não dispondo de quantidade suficiente de unidades para resguardar toda a produção agrícola nacional na época de safra (Alves, 2011). A viabilidade de instalação de armazéns pode ser bastante dependente das microrregiões produtoras e, em especial, aos custos com fretes, além da estrutura armazenadora disponível. Assim, fica evidenciado que a capacidade produtiva da região influencia na localização do armazém.
Nos próximos anos, o estado necessita atingir, até 2025, o volume de capacidade estática de 101,7 milhões de toneladas para conseguir absorver a produção estadual de soja e milho (IMEA, 2016). Ou seja, a capacidade estática tem que crescer 209% em menos de uma década.
Na análise dos dados sobre a capacidade de armazenamento da microrregião de Tangará da Serra, Mato Grosso, verificou-se que a região apresenta uma grande deficiência para estocar sua produção, principalmente nos municípios de Nova Marilândia, Denise e Santo Afonso, cidades que não possuem armazéns. O município de Campo Novo dos Parecis, com maior produção, entretanto, apresenta capacidade estática cerca de 11% menor que sua produção total. Os municípios Barra do Bugres e Nova Olímpia apresentam armazéns ociosos, porém, não suficientes para abrigar toda a deficiência da microrregião.
Comprovou-se a necessidade de planejamento de armazenamento da produção do local, bem como a necessidade de investimento em novas infraestruturas, visto que é um assunto que interfere diretamente na formação de preços dos grãos do estado.
Conclui-se que os armazéns que presentes na região não possuem capacidade estática para compreender a produção. Propõe-se uma análise econômica e financeira dos produtores, empresários da região e também das políticas públicas municipais e até mesmo em nível do governo estadual para que seja aumentada a capacidade estática, e consequentemente o aumento futuro da produção.
Agradecimentos à Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, ao Centro de Pesquisas, Estudos e Desenvolvimento Agro - Ambientais CPEDA, e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Mato Grosso – FAPEMAT.
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1. Acadêmico do Curso de Agronomia pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT. E-mail: nilsongjr@hotmail.com
2. Professor, Departamento de Agronomia, Engenheiro Agrônomo, Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. E-mail: ronicelyrocha@unemat.br
3. Professor, Departamento de Agronomia, Engenheiro Agrônomo, Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. E-mail: adalbertosanti@unemat.br
4. Professor, Departamento de Agronomia, Engenheiro Agrícola, Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. E-mail: rafaelt@unemat.br