ISSN 0798 1015

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Vol. 38 (Nº 41) Año 2017. Pág. 21

Análise do setor coureiro brasileiro e gaúcho: uma aplicação do índice vantagem comparativa revelada

An analysis of the leather sector in Brazil and Rio Grande do Sul using the revealed comparative advantage index

Márcia Regina GODOY 1; Divanildo TRICHES 2; Angélica MASSUQUETTI 3; Jean de Jesus FERNANDES 4; Augusto ANDREIS 5

Recibido: 06/04/2017 • Aprobado: 28/04/2017


Conteúdo

1. Introdução

2. Análise da estrutura de mercado

3. Mercado externo do couro brasileiro e gaúcho

4. Metodologia

5. Resultados

6. Conclusões

Notas

Referências bibliográficas

Anexos


RESUMO:

O objetivo é investigar a evolução e o desempenho do setor coureiro no Brasil e no Rio Grande do Sul (2000-2013). Analisou-se a estrutura de mercado e utilizaram-se os índices IVCR e IIC. Os resultados para o Brasil foram que o couro do tipo wet blue foi o mais competitivo e o estado é competitivo nas quatro categorias. O IIC do Brasil decresceu em relação a Hong Kong e Itália e as maiores elevações foram registradas com Tailândia e EUA.
Palavras-chave Setor coureiro. Estrutura de mercado. IVCR. IIC.

ABSTRACT:

The objective is to investigate the evolution and performance of the leather sector in Brazil and Rio Grande do Sul (2000-2013). The market structure was analyzed and the IVCR and IIC indices were used. The results for Brazil were that wet blue leather was the most competitive and the State is competitive in the four categories. The IIC of Brazil decreased in relation to Hong Kong and Italy and the highest increases were registered with Thailand and the USA.
Keywords Leather sector, market structure, RCAI, TII.

1. Introdução

A indústria de couro brasileira tem origem no Rio Grande do Sul, no século XIX, em função de o estado apresentar uma grande disponibilidade de peles bovinas. Esse fato se dá pela criação extensiva e o rebanho era usado como base na produção de carnes nas charqueadas e, posteriormente, nos frigoríficos, com mostra Saretta (2012). A partir dessa oferta de couros, imigrantes italianos e alemães introduziram no Rio Grande do Sul os curtumes com um processo de curtimento bastante rudimentar, o qual foi aperfeiçoado com importação de tecnologia europeia. Atualmente, o Brasil possui o maior rebanho bovino no mundo1.

O setor coureiro tende a ser caracterizado por um processo produtivo reativamente simples, com baixo nível tecnológico aplicado e pelo uso intensivo de mão de obra pouco qualificada. A concentração geográfica da produção do couro é outra característica marcante, que conta com a formação e o desenvolvimento dos polos coureiro-calçadistas. Esse tipo de arranjo tem o papel de fortalecer o posicionamento das empresas, especialmente das pequenas e médias, como mostra a ABDI (2011).

O segmento tem passado por várias mudanças, seja internamente como em nível mundial. As alterações nas condições de competitividade estão ocorrendo na indústria de curtumes desde a década de 1970, quando esta perdeu força frente aos fornecedores de matéria prima e clientes, em função do crescimento dos frigoríficos e especialmente da indústria calçadista, como destaca BNDES (2007). Apesar de o couro ser usado, como matéria-prima, em vários setores, como nos esportes, no vestuário, na indústria automobilística, no mobiliário, na indústria do lazer, no calçado, entre outros, a sua utilização vem sofrendo alterações durante os anos. Na década 1980, 70% do couro era utilizado pela indústria de calçados, ficando os 30% restantes para artefatos, vestuário, estofamentos e outros produtos. Atualmente, cerca de 25% do couro é utilizado pelos calçadistas, 15% para artefatos, vestuário e outros produtos e 60% pela indústria automobilística e moveleira, conforme AICSul (2012).

A literatura empírica, em que pese a relevância da indústria de couro, tem sido bastante escassa, mesmo em níveis internacionais. Em geral, os estudos se limitam a investigar a competitividade internacional desse setor por meio do indicador que mede as vantagens comparativas reveladas, desenvolvido por Balassa (1965). Assim, Kopke e Palmeira (2006) mostraram, para o período de 2000 a 2004, que os países com maiores vantagens comparativas nas exportações de couro foram Argentina, Brasil e Itália e Índia. O Brasil, portanto, tem apresentado eficiência produtiva quando comparado a outros exportadores. Esse resultado é bastante semelhante ao obtido por Shafaei et al. (2009), que investigaram a competitividade da cadeia de valor do couro iraniano e compararam com nove outros países, incluído o Brasil. Nesse caso, a ordem foi China, Itália e Brasil para o período de 1998 a 2004.

Shahab e Mahmood (2012) analisaram a especialização do comércio nos produtos de couros para Paquistão, China Índia e Irã, entre 2002 a 2009. Os autores indicaram que o Paquistão tem apresentado vantagem comparativa superior às outras economias asiáticas. Uma análise comparativa da indústria de couro mundial foi desenvolvida por Yamamoto et al. (2011), os quais mostraram que as economias industrializadas, como Itália, Espanha e Estados Unidos da América (EUA) desenvolvem seus produtos focando a qualidade, enquanto em economias de mercados emergentes, como China, Brasil e Índia, a ênfase recai sobre a mão de obra mais barata e baixo custo de produção.

Para avaliar o comportamento e a estrutura do setor exportador do Rio Grande do Norte, entre 1996 a 2006, Silva e Montálvan (2008) usaram uma combinação de indicadores, além de vantagem comparativa revelada, os índices de comércio intra-industrial, concentração de produtos e destino das exportações. Eles concluíram que há alta concentração em poucos produtos primários e mercados de destinos e o comércio internacional é basicamente interindustrial.

Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo investigar a evolução e o desempenho do setor coureiro no Brasil e no Rio Grande do Sul e avaliar a sua vantagem comparativa revelada ao longo do período de 2000 a 2013. Desse modo, procura-se ampliar as evidências em relação aos resultados já encontrados, a fim de confirmá-los por meio da utilização dos índices de vantagem comparativa revelada (IVCR) e do índice de intensidade do comércio (IIC). Destaca-se a relevância de investigar a estrutura de mercado e avaliar as vantagens comparativas no mercado internacional do setor coureiro brasileiro. As evidências encontradas poderão contribuir para identificar novas potencialidades às exportações e fornecer subsídios para elaboração de políticas estratégicas, para que o setor possa manter-se competitivo no mercado internacional, além de elevar sua participação na pauta exportadora.

O artigo contribui ainda com a avaliação do desempenho da indústria brasileira de couro e sua eficiência no mercado externo. A literatura revela que essa indústria tem a predominância de curtumes de pequeno e médio porte, os quais convivem com um conjunto reduzido de grandes curtumes integrados verticalmente com alguns frigoríficos, que concentram uma parcela relevante da produção e do emprego. Há presença, ainda, de pequenos curtumes artesanais, sem registro formal, que contribuem com grande parte dos empregos informais da indústria brasileira de couro, como mostra AICSul (2012). É notório, contudo, a forte tendência em direção ao maior grau de concentração.

O artigo está estruturado em seis seções, incluindo esta introdução. A segunda trata da análise da estrutura de mercado. Na terceira seção, abordam-se o mercado externo do couro brasileiro e gaúcho. A quarta expõe os aspectos metodológicos. A análise dos índices de vantagem comparativa revelada e de intensidade do comercio é realizada na quinta seção. Por fim, na sexta seção, encontram-se as conclusões.

2. Análise da estrutura de mercado

O processo produtivo do couro inicia na atividade pecuária, seguida pelo abate dos animais, o descarne nos abatedouros e a aplicação de conservantes. A pele, nesse estágio, é tratada no frigorífico ou vendida para os curtumes, a qual é submetida a diversas etapas até que se obtenha o couro. Dessa forma, a indústria de couro participa em diferentes cadeias produtivas. Ela depende, portanto, da pecuária de corte e dos frigoríficos, que fornecem sua principal matéria prima. A indústria compõe-se especialmente dos curtumes, que fabricam seu produto final e fornece para diferentes ramos industriais, como calçados e artefatos, vestuário, móveis e automobilística.

Os curtumes, por sua vez, podem ser caracterizados por quatro tipos de acordo com processamento do couro, ou seja: a) curtume integrado, nesse caso, tem o papel de realizar todas as operações de processando desde o couro cru ou verde até o couro acabado, para utilização de outros segmentos industriais; b) curtume de wet blue, o qual elabora o primeiro processamento de couro, qual seja, logo após o abate, o couro salgado é despelado, graxas e gorduras são removidas e ocorre o primeiro banho de cromo e o couro passa a exibir um tom azulado e molhado; c) curtume de semi-acabado, que utiliza como matéria prima o couro wet blue e o transforma em couro crust, também designado de semi-acabado; d) curtume de acabamento, que processa a matéria prima em couro crust, que é procedimento de secagem do couro, transformando-o num produto semi-acabado e destinado ao processo de acabamento2.

Por consequência, o estágio inicial do processo produtivo é o couro salgado, produto mais simples, de menor valor agregado, que resulta do processo inicial de salgamento do couro para permitir sua conservação, transporte e armazenamento. O segundo é couro wet blue e o terceiro, e último, é couro acabado, de maior valor agregado, que incorpora as características mais específicas exigidas pelo comprador.

Contudo, para efeito de análise da competitividade estratégica e do processo tecnológico, IEL et al. (2000) separam os curtumes em cinco categorias, como ilustra o Quadro 1. Nesse caso, estão os curtumes que se dedicam ao mercado doméstico e externo e aqueles voltados para a capacitação tecnológica, os quais apresentam diferentes fatores de sucesso, obstáculos e barreiras de mobilidade.

Quadro 1: Síntese estratégica dos curtumes

Principais grupos estratégicos

Fatores de sucesso

Obstáculos

Barreiras de mobilidade

Exportadores de wet blue, abastecendo ou não o mercado interno.

Proximidade da oferta de couro verde (ex: Centro-Oeste) e escala elevada.

Produto de baixo valor agregado.

Média, dada pela escala de produção.

Exportadores de crust e acabados.

Domínio de tecnologia, escala elevada e esforços de marketing

Distribuição complexa pela diversidade de produtos, dificuldade de fornecimento just in time para indústria externa de calçados e artefatos e barreiras tarifárias.

Elevada, dada pelo domínio da tecnologia, marketing e escala.

Produção de crust e acabados para mercado interno (tecnificados).

Necessidade de coordenação estrita com empresas de calçados e artefatos (produção em clusters) e relação profunda com organizações do apoio à capacitação tecnológica.

Competição com couro importado via draw back.

Média, dada pelo domínio da tecnologia.

Produção para mercado interno (não-tecnificados, independente da etapa a que se dedicam).

Baixos custos e mercado informal (não arca com custo ambiental e fiscal).

Ausência de padronização e baixa capacidade gerencial.

Não há.

Curtumes artesanais.

Mão de obra familiar e exploração de nichos de mercado.

Dificuldade de acesso a canais de distribuição, problemas na absorção de novas tecnologias, baixa capacidade gerencial e dificuldade de renovação de fontes de tanino natural.

Não há.

Fonte: IEL et al. (2000).

Pode-se comparar, por exemplo, os curtumes que se dedicam à exportação de crust e acabados com os curtumes artesanais. Entre eles há enorme diferença em todos os quesitos analisados, em particular no que se refere ao domínio tecnológico. Esse fato também é observado entre os grupos estratégicos que se dedicam ao mercado interno, daqueles que optam pelo externo. Aqui a característica marcante é quanto ao tipo de couro, isto é, entre os curtumes que produzem os couros mais simples daqueles que produzem os couros com maior valor agregado. Nota-se, ainda, que apesar de se constituir uma única indústria, grandes diferenças podem ser percebidas no que se refere aos fatores de sucesso, obstáculos e barreiras de mobilidade dos curtumes, os quais dependem do mercado alvo e do tipo de produto.

A produção brasileira de couro bovino teve um substancial crescimento, como revela a Tabela 1, passando de 19 milhões de unidades, em 2000, para 32 milhões, em 2006. Isso representa uma elevação acumulada nos seis anos de quase 70,0%. Nota-se, ainda, que a produção apresentou uma redução de quatro milhões de unidade em 2008, se estabilizando em torno de 25 milhões nos três anos seguintes. Essa queda deveu-se, principalmente, em função da retração do mercado mundial provocada pela crise financeira internacional em que se passou a demandar menos carnes bovinas e o subproduto couro brasileiro. Em 2013, a produção couro bovino voltou a aumentar para a marca de 28 milhões de unidades. Salienta-se que a taxa média anual de crescimento, na primeira metade dos anos 2000, foi cerca de 9,0% contra uma taxa média negativa de 2,2%, entre 2007 a 2013. Ao considerar todo o período analisado, a taxa de crescimento médio ficou próxima a 3,0% ao ano.

Tabela 1: Evolução da produção brasileira de couro bovino no período de 2000 a 2013 (milhões de unidades)

Anos

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Produção

19

17

21

21

25

30

32

32

28

25

25

25

26

28

Fonte: IBGE (2016).

O número total de couro cru inteiro de bovino para curtimento, por estado e brasileiro de 2000 a 2013, encontra-se na Tabela 2. Nota-se que o estado de Mato Grosso apareceu na primeira colocação com mais de 15,6% do total, ou 4,4 milhões de unidades, em 2013, enquanto, em 2000, participava apenas com 4,5% do total, estando classificado em sétimo lugar. A segunda posição era ocupada por São Paulo, que representava mais de 19,6% do total, ou com 3,7 milhões de couros bovinos, em 2000, passando para quase um quarto do total produzido, seis anos mais tarde, e recuando para 14,5, em 2014. Contudo, o crescimento médio anual foi apenas de 0,6% entre 2000 a 2013. Mato Grosso do Sul assumiu o terceiro lugar, com 2,8 milhões de couros bovinos, em 2013, representando 10,0% do total. Pará, Paraná e Goiás completam a relação dos seis principais estados produtores de couro brasileiros.

As unidades da federação que mais se destacaram em termos de taxa média anual de crescimento na produção de couros cru foram Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará e Tocantins, o que se justifica pelo avanço da bovinocultura3 para aquelas regiões, conforme destacado por Gründling (2012), Paula (2011) e Souza (2010). O primeiro registrou o crescimento médio de 13,3% ao ano, representando mais de quatro vezes a média nacional, ou seja, 3,0%, ao longo de 2000 a 2013 Os dois seguintes exibiram uma taxa média de crescimento na ordem de 4,8% e 4,5% ao ano, respectivamente, e Pará e Tocantins cresceram cerca de 3,5%. No outro extremo, encontraram-se Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que registraram taxas de crescimento negativas de 4,5%, 4,0%, respectivamente, e Paraná com crescimento de apenas 0,03%. Destaca-se, ainda, que o Rio Grande do Sul ocupava a segunda posição, com 17,0% do total, apenas atrás de São Paulo, em 2000, e cai para sétima posição treze anos após, com 6,8% de participação.

Tabela 2: Evolução da produção de couro cru inteiro de bovino para curtimento
por estado brasileiro de 2000 a 2013 (milhões de unidades)

Estados

2000

%

2006

%

2013

%

Variação (%)*

Mato Grosso

0,9

4,55

4,4

13,70

4,4

15,65

13,26

São Paulo

3,7

19,63

7,7

23,89

4,0

14,48

0,61

Mato Grosso do Sul

1,6

8,33

2,6

8,16

2,8

10,09

4,51

Pará

0,0

0,0

2,1

6,69

2,7

9,82

3,53**

Paraná

2,5

13,01

2,2

6,99

2,5

8,91

0,03

Goiás

1,3

6,80

2,1

6,55

2,4

8,53

4,80

Rio Grande do Sul

3,2

17,01

3,4

10,73

1,9

6,77

-4,05

Tocantins

0,0

0,00

1,1

3,46

1,4

5,08

3,51**

Rondônia

0,0

0,00

1,3

3,92

1,4

4,98

1,41**

Minas Gerais

1,8

9,70

0,0

0,00

1,0

3,63

-4,52

Outros

4,0

20,97

5,1

15,92

3,4

12,07

-1,29

Total

19,0

100,0

32,1

100,0

27,8

100,0

2,99

Fonte: AICSul (2012) Notas: (*) Refere-se à taxa média geométrica de
variação anual; (**) refere-se à variação do período de 2006 a 2013.

A evolução do número de empresas e de empregados na indústria brasileira de couro é ilustrada na Tabela 3. Percebe-se que, de 2000 a 2013, houve uma redução de 83 curtumes, o que representa um enxugamento do mercado produtivo de aproximadamente 11,0%. A queda foi observada nos números de estabelecimento que possuíam até 49 funcionários, em 2000, eram 78,0% do total e caíram para 74,4%, em 2013. Já os curtumes que possuíam entre 50 e 249 funcionários passaram de 18,8%, em 2000, para 20,2%, em 2013, e aqueles com mais de 250 funcionários passaram de 3,2% para 5,5%, nesse mesmo período.

Quanto ao número de empregados, observa-se um comportamento em que os curtumes reduziram 7.278 postos de trabalhos no período de 2000 a 2013 ou uma redução de quase um quarto do total. Essa retração é notada, sobretudo, nos curtumes com até 49 funcionários, que detinham 20,7% do total de empregos do setor, no ano de 2000, e passam a ter somente 16,6% no ano de 2013. Já os que possuem de 50 a 249 empregados, decresceram de 47,5%, para 37,8%, no período. Em contrapartida, os estabelecimentos com mais de 250 empregados exibiram um crescimento de quase 14 pontos percentuais, na representatividade do emprego no setor, passando de 31,7%, em 2000, para 45,6%, em 2013. Esses resultados indicam uma tendência clara de que indústria brasileira de couro vem se tornando cada vez mais concentrada4.

Tabela 3: Número de empresa e empregados no setor de couros no período de 2000 a 2013*

Indústria

2000

2006

2008

2010

2012

2013

Empresas**

741

815

809

749

702

659

  Até 49 empregados (%)

78,0

75,2

77,8

74,9

75,6

74,4

  De 50 a 249 (%)

18,8

20,1

18,0

19,9

19,8

20,2

  Mais de 250 (%)

3,2

4,7

4,2

5,2

4,6

5,5

Empregados**

31.191

23.276

32.550

27.153

22.725

23.913

  Até 49 empregados (%)

20,7

20,0

34,2

32,1

22,6

16,6

  De 50 a 249 (%)

47,5

39,2

34,6

36,3

39,8

37,8

  Mais de 250 (%)

31,7

40,8

31,3

31,6

37,6

45,6

Fonte: MTE (2016). Notas: (*) refere-se à classificação de CNAE 2.0 de “curtimento
e outras preparações de couro”; (**) exclusive as com nenhum vínculo ativo.

O crescimento dos médios e grandes curtumes se deu, para ABDI (2011), em função do processo de integração vertical que vem ocorrendo na indústria frigorífica da bovinocultura. Esses estabelecimentos estão optando por dar maior valor agregado no produto couro, diferentemente de como era antes comercializado sem ser submetido a qualquer operação de beneficiamento. A quantidade de empresas no setor de couros por estados brasileiros, no período de 2006 a 2013, é exibida na Tabela 4.

Tabela 4: Número de empresas no setor de couros por estados
brasileiros no período de 2006 a 2013 (unidades)

Empresas

2006

%

2010

%

2013

%

Variação (%) *

Rio Grande do Sul

217

26,6

224

29,9

197

29,9

-1,37

São Paulo

191

23,4

159

21,2

152

23,1

-3,21

Minas Gerais

83

10,2

76

10,1

66

10,0

-3,22

Paraná

68

8,3

65

8,7

51

7,7

-4,03

Goiás

31

3,8

26

3,5

31

4,7

0,00

Mato Grosso

25

3,1

30

4,0

23

3,5

-1,18

Bahia

24

2,9

23

3,1

20

3,0

-2,57

Mato Grosso do Sul

18

2,2

16

2,1

19

2,9

0,78

Pernambuco

17

2,1

19

2,5

15

2,3

-1,77

Ceará

24

2,9

21

2,8

14

2,1

-7,41

Outros

117

14,4

90

12,0

71

10,8

-6,89

Total

815

100

749

100

659

100

-2,99

Fonte: IBGE (2016). Nota: (*) Refere-se à taxa média geométrica de variação anual.

Observa-se que a localização das empresas está basicamente concentrada em três estados, com mais de 70,0% do total do país. Assim, o Rio Grande do Sul detém o maior número de empresas, com 30,0%, em 2013, seguido de São Paulo, com 23,1%, Minas Gerais, com 10,0% e Paraná, com 7,7%. Contudo, quase todos os casos apresentaram redução do número de estabelecimento. As maiores retrações foram verificadas em São Paulo, com 39 curtumes, Rio Grande do Sul, com 20, e Minas Gerais e Paraná, com 17 cada. Já em termos de participação no total do país, as maiores quedas foram registradas pelo Ceará, com 7,4%, e pelo Paraná, com 4,0%, sempre comparando 2013 contra 2006.

3. Mercado externo do couro brasileiro e gaúcho

O desempenho do intercâmbio comercial do segmento de couro brasileiro tem mostrado o saldo da balança comercial altamente favorável como ilustra a Tabela 5. Nota-se que, entre 2000 a 2007, as exportações passaram de US$ 752,0 milhões para US$ 2,171 bilhões, com crescimento médio anual de 16,3%.5 Já as importações de couro se mantiveram decrescente e oscilando abaixo de US$ 180 milhões, como consequência, os saldos comerciais cresceram de US$ 571,0 milhões, em 2000, para US$ 2,02 bilhões, sete anos após. Esse forte ritmo de crescimento do comércio externo do couro foi seriamente afetado pela crise financeira internacional de 2008. As exportações e as importações sofreram uma queda de cerca a 50,0% e 60,0%, respectivamente, em 2009, frente aos valores registrados em 2007. Esse fato se deu em função do reflexo da forte retração da demanda mundial. Já, nos quatro anos seguintes, as exportações brasileiras voltaram a apresentar elevado crescimento, contabilizando, em 2013, o valor recorde de US$ 2,49 bilhões. Em contrapartida, as importações mantiveram uma trajetória decrescente, o que permitiu aumentos sucessivos do saldo da balança comercial do setor. Em síntese, observa-se que a taxa média anual de crescimento das exportações, entre 2000 a 2013, foi de 9,7%, contra uma queda das importações de 17,0% e, portanto, uma elevação do saldo comercial de cerca de 12,0% ao ano.

Tabela 5: Evolução do saldo da balança comercial do setor de
couro brasileiro no período de 2000 a 2013 (US$ milhões)

Anos

Exportação

Importação

Saldo

2000

752,18

181,21

570,97

2001

874,32

181,74

692,59

2002

780,13

124,90

655,24

2003

1050,95

131,70

919,25

2004

1.283,77

160,50

1.123,26

2005

1.390,79

126,84

1.263,95

2006

1.862,08

139,18

1.722,90

2007

2.171,25

153,64

2.017,61

2008

1.858,43

144,23

1.714,20

2009

1.149,06

59,46

1.089,60

2010

1.732,58

75,04

1.657,53

2011

2.035,73

50,65

1.985,07

2012

2.067,30

32,41

2.034,89

2013

2.495,73

16,21

2.479,51

Fonte: MDIC (2016).

A evolução dos preços médios das exportações brasileiras por tipo de couro bovino, no período de 2000 a 2013, está reportada na Tabela 6. Observa-se que o couro salgado, de menor valor agregado, foi o único que apresentou elevação no preço médio, passando de US$ 0,47 por quilo, em 2000, para US$ 1,60, em 2013, o que significa um acréscimo superior a 240%, além de ter triplicado a sua participação no valor total de 0,2% para 0,6%. Esse fato pode ser justificado pela redução da oferta desse tipo de couro no mercado internacional. Já o couro wet blue detinha a maior participação no valor exportado, em 2000, com 58,0% do total e caiu para 39,0%, treze anos mais tarde. O preço médio também seguiu essa tendência, passando de US$ 2,60 por quilo para US$ 2,51, no período. O couro crust, por sua vez, apresentou a maior redução na participação no valor total exportado, de 41,8%, em 2000, para apenas 5,3%, em 2013, e com queda superior a 26,0% nos seus preços médios. Em contrapartida, o couro acabado revelou o maior ganho relativo, no período, passando de 0,1% para 55,0%, embora os preços tenham decrescido de US$ 25,33 por quilo para US$ 17,64.

Tabela 6: Evolução dos preços médios exportações brasileiras
de couros bovinos entre 2000 a 2013 (US$/kg)

Tipos de couro

2000

2004

2008

2013

Preço médio

Participação no valor (%)

Preço médio

Participação no valor (%)

Preço médio

Participação no valor (%)

Preço médio

Participação no valor (%)

Salgado

0,47

0,2

0,63

0,2

1,30

0,1

1,60

0,6

Wet blue

2,60

57,9

1,90

37,0

2,10

22,5

2,51

39,1

Crust

12,20

41,8

11,12

14,4

13,75

18,6

8,93

5,3

Acabado

25,33

0,1

12,81

48,5

17,33

58,8

17,64

55,0

Fonte: MDIC (2016).

De maneira geral, pode-se afirmar que tem havido uma tendência crescente, por parte dos curtumes, em aumentar o valor na produção de couro domesticamente, exportando os tipos que apresentam valor agregado mais elevado, como é o caso do acabado. Essa substituição se deu em detrimento do couro tipo wet blue e do tipo crust, pois o salgado tem mostrado baixa representatividade. As exportações brasileiras de couro, em 2013 foram destinadas para 80 países, enquanto que, em 2000, eram 67. Sendo que a participação relativa, nesse período cresceu de 3,8% para 8,7% do total exportado por todos os países.

A China foi o principal mercado externo, que concentrou mais de um quarto do total da pauta como mostra a Tabela 7. As compras daquele país passaram de US$ 23,9 milhões, em 2000, para US$ 641,7 milhões, treze anos mais tarde6. Essa evolução representa uma taxa média de crescimento anual de aproximadamente 30,0%. O segundo maior destino do couro brasileiro é o mercado italiano, que era responsável quase 41,0% do total, com uma cifra de US$ 305,2 milhões, em 2000, e decresceu para 21,0%, com valor de US$ 513,6 milhões, no período.

Em seguida, despontam Hong Kong e os EUA, com cerca de 10,7% e 10,0% do total, em 2013, respectivamente. Ambos apresentaram uma ligeira redução, no total de couro demando do mercado brasileiro, quando comparado a 2000. Salienta-se, contudo, que o conjunto dos quatros principais países importadores concentram em torno de 67,0% do total da pauta brasileira. Como mercados menores, despontam ainda Tailândia, Alemanha, Hungria e México, com participação variando entre 2,7% a 3,5% do total, em 2013. Destaca-se, ainda, que o mercado italiano tem privilegiado o couro acabado brasileiro. Já os tipos de couros menos processados, como o salgado e wet blue, foram mais demandados pelos mercados asiáticos, sobretudo, o chinês, como afirma ABDI (2011).

Dentre os principais estados exportadores de couro, em 2000, o Rio Grande do Sul concentrava 35,6%, e São Paulo, 27,0%, somando, no conjunto, mais de 60,0% do total da pauta. Em apenas 12 anos, o estado gaúcho perdeu consideravelmente a participação no mercado mundial, caindo para aproximadamente 20,0% do total comercializado pelo país7.

Tabela 7: Principais destinos das exportações brasileiras de
couro no período de 2000 a 2013 (US$ milhões)

Países

2000

2013

Valor

%

Valor

%

China

23,9

3,18

641,7

25,71

Itália

305,2

40,58

513,6

20,58

Hong Kong

99,6

13,24

266,2

10,66

EUA

73,8

9,82

246,3

9,87

Tailândia

2,8

0,37

88,3

3,54

Alemanha

18,6

2,48

81,3

3,26

Hungria

0,3

0,04

80,0

3,20

México

2,8

0,37

68,7

2,75

Coreia do Sul

10,4

1,38

63,7

2,55

Vietnã

1,3

0,17

58,0

2,32

Outros

213,4

28,37

387,9

15,54

Mundo

752,2

100,0

2.495,7

100,0

Fonte: MDIC (2016).

As exportações do Rio Grande do Sul por categoria de couro, no período de 2000 a 2013, estão ilustradas na Tabela 8. Percebe-se que o couro tipo acabado apresentou a maior elevação, passando que US$ 1,0 milhão, ou 0,37% do total da pauta, em 2000, para US$ 338,4 milhões, ou 67,9% do total, em 2013. Isso significa um enorme crescimento médio de 56,5% ao ano.

Tabela 8: Evolução das exportações do Rio Grande do Sul por
tipos de couro no período de 2000 e 2013 (US$ milhões)

Tipos de couro

2000

%

2004

%

2008

%

2013

%

Variação*

Salgado

0,7

0,26

0,63

0,15

2,0

0,40

8,0

1,60

20,61

Wet blue

100,4

37,48

1,90

19,23

17,1

3,42

102,9

20,64

0,19

Crust

165,8

61,89

86,5

21,03

177,1

35,46

49,2

9,87

-8,92

Acabado

1,0

0,37

245,1

59,59

303,2

60,71

338,4

67,88

56,52

Total

267,8

100,0

411,2

100,0

499,5

100,0

498,5

100,0

4,89

Fonte: MDIC (2016). Nota: (*) Refere-se à média geométrica anual.

O couro salgado também mostrou um elevado desempenho ao longo do período, com uma taxa média anual superior a 20,0%, embora a sua representatividade seja baixa, de no máximo 1,6%, registrada em 2013. Já o couro wet blue era o segundo mais exportado, em 2000, com uma participação de 37,5% do total ou valor de US$ 100,4 bilhões, caindo, drasticamente, em 2008, para apenas 3,4% da pauta e retornando para US$ 102,9 bilhões, ou 20,6% do total, cinco anos mais tarde. O couro crust, por sua vez, apresentou a maior redução na participação no valor total exportado, de 61,9% – o mais vendido no exterior em 2000 –, para apenas 9,9%, em 2013, e com queda na sua taxa média de 8,9% ao ano. Salienta-se que tal tendência também foi observada em termos nacionais.

4. Metodologia

Com a finalidade de investigar o fluxo comercial do setor coureiro entre Rio Grande do Sul, Brasil e demais países, empregou-se o IVCR, proposto inicialmente por Balassa (1965). Esse indicador é fundamentado pela teoria clássica do comércio internacional, a qual foi desenvolvida do Ricardo (1891) e tem o papel de relativizar a vantagem, no ponto de vista de eficiência econômica, das exportações de um determinado produto de uma determinada região ou país em comparação às demais regiões ou países.

O IVCR é definido pela equação (1): IVCRj = (Xij/Xi) / (Xwj/Xw), onde Xij é valor das exportações do país i do produto j, no caso, as exportações brasileira ou gaúcha de couro; Xi, valor total das exportações do país; Xwj é valor das exportações mundiais do produto j e Xw é valor total das exportações mundiais. O IVCR indica que para valores superiores à unidade, a região ou país em referência apresenta vantagem comparativa revelada produto j. Para valores iguais à unidade, significa que o país i está numa situação neutra em relação ao comércio internacional do produto j. Naturalmente, com IVCR menor do que a unidade, o país ou a região em questão não apresenta vantagem comparativa revelada, nesse produto.

Outro indicador a ser utilizado refere-se ao IIC, que determina o valor das exportações de um país para outro. Ele pode ser maior ou menor dependendo da participação do país exportador no comércio mundial. O IIC é obtido pela razão entre a participação das exportações de um país nas importações do outro e a participação das exportações do país no resto do mundo, conforme equação (2): IICij = (Xij/Xi) / (Mj/Mw), em que Xij é exportação do pais i para o país j; Xi é a exportação totais do país i; Mj é valor total das importações do país j; e Mw é valor das importações mundiais. Quando o resultado for maior do que a unidade, significa que as exportações do país, no caso Brasil, para o mercado de outro país, são maiores do que seria de se esperar a partir do market-share do país doméstico no comércio mundial. Evolução do IIC ao longo do tempo mostra se os dois países estão apresentando uma maior ou menor tendência de comercializar entre si. Assim, quanto maior o IIC, maior será a intensidade de trocas entre os parceiros.

Os índices das vantagens comparativas reveladas e de intensidade de comércio foram calculados para as quatro categorias de couro, ou seja, salgado, wet blue, crust e acabado do Rio Grande do Sul e do Brasil no período que se estende de 2000 a 2013, com dados anuais8. Para o cálculo do IIC, elegeu-se os cinco principais destinos das exportações brasileiras de couro, no período de 2000 a 2013, que foram: China, Hong Kong, Itália, Tailândia e EUA. As informações estatísticas empregadas foram obtidas do Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior (AliceWeb), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e do sistema de estatísticas do United Nations Commodity Trade Statistics Database (UN COMTRADE). O valor considerado das exportações foi uma média aritmética do período para analisar a inserção do estado do Rio Grande do Sul na economia nacional.

5. Resultados

A evolução do IVCR para os quatro segmentos de couro, ao longo do período de 2000 a 2013, para o país é reportado na Tabela 9. Nota-se que a categoria do couro tipo salgado não apresentou vantagem comparativa revelada na sua produção e exportação. Ao longo do período, o índice sempre foi inferior à unidade, embora tenha se elevado de 0,03, em 2000, para 0,11, em 2013. Já o wet blue foi que indicou a maior vantagem comparativa do Brasil com o resto do mundo, dentre todas as categorias, crescendo de 8,55 para 14,23, no período.

Contudo, salienta-se que o índice da categoria do couro acabado brasileiro foi que apresentou a maior evolução, aumentando quase quarenta vezes, passando de 0,17, em 2000, para 6,77, trezes anos mais tarde. O segmento crust, que também revelou vantagem comparativa, apontou um considerável crescimento de 4,25 para 10,46, entre 2000 e 2008, após, caiu para metade, em 2013. Esses resultados mostram que setor de couro brasileiro tende a ser bastante dinâmico e com grande penetração no mercado externo, com destaque para as categorias do tipo wet blue e acabado, que, a partir de 2012, exibiram as maiores vantagens comparativas.

Tabela 9: IVCR para os segmentos do couro brasileiro no período de 2000 a 2013

Tipos de couro

2000

2002

2004

2006

2008

2010

2011

2012

2013

Salgado

0,03

0,10

0,04

0,04

0,03

0,07

0,01

0,04

0,11

Wet blue

8,55

12,31

10,74

11,93

7,89

8,85

8,23

11,76

14,23

Crust

4,25

8,85

6,87

8,30

10,46

6,18

8,21

4,83

5,26

Acabado

0,17

3,70

4,63

5,67

5,91

4,74

5,16

5,59

6,77

Fonte: MDIC (2016) e UN COMTRADE (2016).

O IIC dos cinco principais destinos das exportações brasileiras de couro, no período de 2000 a 2013, é ilustrado na Tabela 10. Observa-se que esse índice do Brasil com a China revelou um aumento de 0,21, em 2000, para 0,93, em 2013. A intensidade de comércio de couros do Brasil com Hong Kong e Itália apresentou queda, ficando abaixo da média brasileira ao longo do período analisado. Hong Kong foi o país com o qual o Brasil apresentou a menor intensidade de comércio de couros, entre 2000 a 2013, que foi sempre abaixo de 1,2 e chegando a apenas 0,89, no ano de 2013. A intensidade comercial do setor coureiro do Brasil com Itália, por sua vez, declinou de 2,45 para 1,31 ao longo dos treze anos examinados. Por outro lado, a intensidade de comércio entre Brasil com Tailândia e EUA apresentaram forte elevação, ao longo do período, com destaque para os EUA, com o valor variando na faixa de 1,61 a 5,38, ao longo do período. Esse resultado demonstra a maior intensidade de trocas ou maior tendência de comercialização entre o setor coureiro brasileiro vis-à-vis o mercado tailandês e estadunidense.

Tabela 10: IIC para os cinco principais destinos das
exportações brasileiras no período de 2000 a 2013

Países

2000

2002

2004

2006

2008

2010

2011

2012

2013

China

0,21

0,50

0,83

1,02

0,97

1,00

0,89

0,98

0,93

Hong Kong

1,15

1,01

1,16

1,09

1,10

1,13

0,97

1,08

0,89

Itália

2,45

1,61

2,26

1,96

2,04

1,94

1,61

1,61

1,31

Tailândia

0,21

0,21

0,54

0,48

0,43

0,90

0,83

1,09

1,45

EUA

1,61

1,85

2,38

3,35

3,50

5,08

5,53

5,38

4,00

Fonte: MDIC (2016) e UN COMTRADE (2016).

A queda do IIC de couros do Brasil com Hong Kong e Itália não é necessariamente negativa. Tal fato pode indicar apenas um movimento de diversificação da pauta de exportação brasileira na direção de outros mercados. Assim, o índice de couros, com um país em particular, pode declinar, ainda que a participação brasileira em suas importações aumente. Nesse caso, o ganho da participação das exportações brasileiras nos demais países do mundo deve ser superior àquele verificado no país em questão.

Diferentemente da indústria de couro nacional, o IVCR mostrou que a indústria do Rio Grande do Sul é competitiva nas quatro categorias, como exibe a Tabela 11. A maior vantagem está localizada na exportação do couro do tipo salgado, a qual passou de 4,74, em 2000, para 5,44, em 2013, mas alcançou o seu maior nível em 2008, com 8,61. Na segunda colocação como maior índice, aparece o tipo crust, que, no período, decresceu de 5,03 para 3,57. Os índices das outras duas categorias também apresentaram recuo, ou seja, wet blue caiu de 2,20, em 2000, para 1,02, em 2013, e o acabado de 8,99 para 2,38, no período.

Tabela 11: IVCR para os segmentos do couro do
Rio Grande do Sul no período de 2000 a 2013

Tipos de couro

2000

2002

2004

2006

2008

2010

2011

2012

2013

Salgado

4,74

5,11

2,13

1,01

8,61

7,97

5,23

6,52

5,44

Wet blue

2,20

1,88

1,63

1,12

0,44

1,08

1,32

1,14

1,02

Crust

5,03

4,16

4,58

5,83

5,51

4,91

4,66

4,74

3,57

Acabado

8,99

4,29

3,84

3,77

2,99

4,21

3,59

2,98

2,38

Fonte: MDIC (2016) e UN COMTRADE (2016).

Salienta-se, por fim, que existe um grau de diferenciação entre os segmentos de couro ao se comparar o desempenho no Brasil e no Rio Grande do Sul. No ano de 2013, os segmentos acabados, crust e wet blue registraram no Brasil índices de desempenho maiores do que os observados no Rio Grande do Sul. Já o segmento de couro salgado apresentou grau de vantagem comparativa, no ano de 2013, no Rio Grande do Sul maior do que o registrado no Brasil.

6. Conclusões

A indústria brasileira de couro é estruturada basicamente por quatro tipos de curtumes de acordo com o seu processo produtivo, como os integrados, que realizam todas as operações desde o couro cru até o couro acabado, os que produzem apenas um tipo, como wet blue, o crust ou semi-acabado e o tipo acabado. Nesse setor, há predominância de curtumes de pequeno e médio porte, os quais interagem com um conjunto reduzido de grandes curtumes integrados verticalmente com alguns frigoríficos, que concentram uma parcela crescente da produção e do emprego. O mercado vem apresentando tendência à concentração, com redução, em termos absolutos, do número de curtumes de até 49 empregados, verificado, sobretudo, no Rio Grande do Sul e em São Paulo.

A produção brasileira de couro bovino teve um crescimento médio de 3,0% ao ano, ao longo de período de 2000 a 2013, e deslocou-se em grande medida para o Centro-Oeste, acompanhando o movimento da pecuária. Assim, Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará e Tocantins foram os que registram as maiores taxas de crescimento. Por outro lado, as principais reduções ficaram por conta dos estados das regiões sul e sudeste.

No que tange ao mercado externo, os resultados mostraram que o saldo da balança comercial foi altamente favorável ao setor de couro brasileiro. No período de 2000 a 2013, o crescimento médio anual das exportações foi em torno de 10,0%, contra uma queda das importações de 17,0%, implicando uma elevação no saldo comercial de cerca de 12,0% ao ano. O tipo de couro que passou a ser mais comercializado foi aquele com valor agregado mais elevado, como é o caso do acabado, embora tenha apresentado redução de preço ao longo do período. E os principais destinos foram China, Itália, Hong Kong e os EUA que, no conjunto, concentravam cerca de 67,0% do total.

A análise do IVCR para a produção brasileira mostra que o couro do tipo wet blue foi o mais competitivo com o resto do mundo dentre todas as categorias. Já o couro acabado apresentou a maior evolução, aumentando quase quarenta vezes nos trezes anos considerados. Tal resultado indica que a indústria de couro é bastante dinâmica e com grande penetração no mercado externo. O IIC do Brasil decresceu em relação a Hong Kong e Itália e as maiores elevações foram registradas com Tailândia e EUA.

As exportações do Rio Grande do Sul vêm perdendo participação no mercado mundial em relação às demais unidades federativas. Em 12 anos, a queda foi superior a 15 pontos percentuais. O couro tipo acabado apresentou o maior crescimento médio e a redução mais acentuada ficou por conta do couro tipo crust. Em que pese tais resultados, as vantagens comparativas reveladas apontaram que Rio Grande do Sul é competitivo nas quatro categorias, sendo que as maiores estão na exportação do couro salgado e crust.

Por último, a análise da estrutura de mercado e dos indicadores de comércio externo do setor de couro permite identificar os possíveis obstáculos e as potencialidades do setor de couro. Dessa forma, políticas de apoio à modernização e de estímulo ao comércio internacional poderiam ser empregadas pelos governos estadual e federal, no sentido de manter e ampliar a eficiência do processo produtivo da indústria coureira do Rio Grande do Sul e da economia nacional.

Notas

1 Nos Apêndices A e B, observa-se a evolução do rebanho bovino por principais países e por estados brasileiros, respectivamente.

2 No aspecto ambiental, a produção de couro até o estágio wet blue produz 85% do resíduo ambiental da cadeia produtiva, enquanto a transformação de couro wet blue em produto acabado produz os restantes15%, como ressalta BNDES (2007).

3 Silva Netto e Bacchi (2014) observaram que o crescimento da produção e das exportações de carne bovina brasileira é oriundo da ampliação do estoque de animais e da produtividade.

4 ABDI (2011) mostra que o nível de concentração econômica da indústria brasileira de couro vem aumentando. As quatro maiores empresas detinham, em 2005, um quinto do total de trabalhadores ocupados e das doze maiores essa relação sobe para quase um terço.

5 O Apêndice D ilustra a evolução as exportações brasileiras por tipos de couro.

6 Uruguai, com 36,8% do total da pauta, Itália, com 7,9%, Paraguai, 7,6%, e Argentina, com 5,4%, caracterizaram-se como as origens mais relevantes das importações de couro pelo mercado brasileiro, em 2013, conforme MDIC (2016).

7 O Apêndice C reporta a evolução da participação percentual por estado brasileiro produtores na exportação de couro.

8 Foi utilizada a segmentação do setor coureiro conforme classificação da MDIC e Apex-Brasil, com um total de 58 SH’s.

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Anexos

Apêndice A: Evolução do rebanho bovino por principais países,
no período de 2000 a 2013 (em milhões de cabeças)

País

2000

%

2005

%

2010

%

2013

%

Var%

Brasil

169,8

12,9

207,1

15,1

209,5

14,7

217,4

14,5

1,9

Índia

191,9

14,6

192,0

14,0

210,2

14,7

214,3

14,3

0,8

China

104,5

8,0

90,1

6,6

83,8

5,9

113,6

7,6

0,6

EUA

98,2

7,5

95,4

7,0

93,8

6,6

89,3

6,0

-0,7

Demais

749,6

57,0

783,4

57,3

883,7

58,2

859,4

57,5

1,1

Total

1.313

100,0

1.368

100,0

1.430

100,0

1.494

100

1,0

Fonte: FAO (2016).

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Apêndice B: Participação percentual por estado brasileiro
no rebanho total ao longo do período de 2000 a 2012

Ano

MT

MG

GO

MS

PA

RS

RO

SP

Demais

2000

11,14

11,76

10,83

13,07

6,05

8,01

3,33

7,71

22,05

2006

12,66

6,21

10,03

11,52

8,50

6,79

5,58

6,21

24,00

2012

13,60

11,34

10,43

10,18

8,81

6,69

5,78

5,09

19,27

Fonte: IBGE (2016). Nota: Ordem de importância em 2012.

-----

Apêndice C: Participação percentual por estado brasileiro produtores
na exportação de couro ao longo do período de 2000 a 2012

Ano

RS

SP

GO

PR

MS

MG

PA

MT

Demais

2000

35,67

27,62

1,12

10,19

1,37

6,06

0,16

1,37

16,28

2004

32,35

32,12

3,06

4,35

4,83

4,93

0,28

0,96

16,84

2006

26,80

23,45

4,72

7,71

4,96

3,87

1,75

6,11

18,88

2013

20,19

19,95

12,52

11,51

6,52

4,99

4,16

2,84

13,16

Fonte: MDIC (2016). Nota: Ordem de importância em 2013.

-----

Apêndice D: Evolução das exportações brasileiras por tipos
de couro no período de 2000 e 2013 (US$ milhões)

Tipos de couro

2000

%

2004

%

2008

%

2013

%

Variação*

Salgado

1,43

0,19

2,39

0,19

2,51

0,14

14,21

0,57

19,30

Wet blue

435,25

57,87

474,35

36,95

417,81

22,48

974,87

39,06

6,40

Crust

314,43

41,80

184,36

14,36

346,03

18,62

132,80

5,32

-6,42

Acabado

1,06

0,14

622,65

48,50

1.092,07

58,76

1.373,84

55,05

73,57

Total

752,18

100,0

1.283,77

100,0

1.858,43

100,0

2.495,73

100,0

9,66

Fonte: MDIC (2016). Nota: (*) Refere-se à média geométrica anual.


1. Doutora em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pesquisadora Pós-Doutorado Programa de Fixação de Doutores (DOCFIX/FAPERGS-CAPES) no Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, PPGE/Unisinos (2011-2016) e Pesquisadora no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Avaliação de Tecnologias em Saúde (INCT-IATS). E-mail: marciargodoy@hotmail.com

2. Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor no Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, PPGE/Unisinos. E-mail: divanildot@unisinos.br

3. Doutora em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Professora no Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, PPGE/Unisinos E-mail: angelicam@unisinos.br

4. Mestre em Economia pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, PPGE/Unisinos. E-mail: jfernandesj@hotmail.com

5. Mestre em Economia pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, PPGE/Unisinos. E-mail: augustoandreis@hotmail.com


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 38 (Nº 41) Año 2017

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