ISSN 0798 1015

Vol. 38 (Nº 29) Año 2017. Pág. 22

Análise e perspectivas de alternativas para destinação de resíduos de rochas ornamentais através de um estudo bibliométrico

Analysis and perspectives of alternatives for the destination of ornamental stone residues through a bibliometric study

MARINHO, Erica Z. 1; ROCHA, Renan C. 2; GALDINO, André G. de S. 3

Recibido:13/01/2017 • Aprobado: 18/02/2017

Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados

4. Conclusões

Referências bibliográficas

1. Introdução

As rochas ornamentais são materiais rochosos extraídos e beneficiados com finalidade de uso estrutural, de revestimento ou de decoração. Comercialmente, as rochas ornamentais são divididas principalmente em mármores e granitos (Cetem, 2013). Essas rochas são reconhecidas pela qualidade, durabilidade, variedade e beleza o que explica seu uso na maioria dos projetos arquitetônicos mundiais.

No Brasil a indústria de rochas ornamentais é expressiva. Em 2014, o país foi o quarto maior produtor mundial e o quinto maior exportador. O estado do Espírito Santo lidera o ranking nacional como maior produtor, tanto na lavra quanto no beneficiamento, e também como maior exportador (Montani, 2015). Em 2015, a produção brasileira de rochas ornamentais foi de cerca de 9,5 milhões de toneladas, aproximadamente 7% da produção mundial. As rochas ornamentais foram o quinto maior produto de base mineral exportado pelo Brasil, totalizando 2,32 milhões de toneladas, que corresponde a US$ 1,21 bilhão e gerando US$ 1,17 bilhão de saldo positivo na balança comercial brasileira (Abirochas, 2015).

Porém, essa indústria também gera degradação de áreas naturais no processo de lavra das rochas e grande quantidade de resíduos sólidos no processo de beneficiamento (Cetem, 2013). Baseado em dados da Abirochas (2015) estima-se que foram gerados cerca de 2,5 milhões de toneladas somente de resíduos finos e ultrafinos, como efluentes, em forma de lama no Brasil no ano de 2015. Esses efluentes ficam armazenados nas serrarias em lagoas abertas e são um problema para os empresários que não conseguem uma melhor destinação aos Resíduos de Rochas Ornamentais (RRO).

Temas ambientais, como os RRO têm tomado cada vez mais importância no cenário mundial devido às alterações climáticas e à poluição que se agravaram após a Revolução Industrial. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, em 1992, consolidou em nível mundial a necessidade de desenvolvimento sustentável.  

Nesse contexto, o artigo destina-se a avaliar a dinâmica e a evolução da informação científica sobre o uso dos RRO com o objetivo de identificar as alternativas de destinação adequada desses resíduos industriais, de forma que sejam reaproveitados ao invés de descartados. Para isso, foi realizada uma análise bibliométrica com termos correlatos ao tema na plataforma ScienceDirect, da Elsevier, com auxílio do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

1.1. Resíduos de rochas ornamentais

Neste estudo, os RRO são considerados resíduos finos originários do processo de beneficiamento das rochas ornamentais. Eles podem ter composição à base de silicato se provenientes de granito ou composição à base de carbonato se provenientes de mármore (Chiodi Filho, 2002).

No Brasil, o RRO é classificado de acordo com a norma regulamentadora NBR 10004:2004 como resíduo não perigoso e inerte (ABNT, 2004). Entretanto, os estudos de classificação ambiental de Braga, Buzzi, Couto & Lange (2010) e Manhães & Holanda (2008) afirmam que os RRO podem ser classificados como resíduo não perigoso e não inerte. Também o estudo de De Freitas, Raymundo, & De Jesus (2012) classifica os RRO como resíduo perigoso. Assim, esses resíduos podem prejudicar o meio ambiente se não dispostos adequadamente.

Os RRO, além de prejudicarem o meio ambiente, também causam transtorno para os empresários do setor no Brasil devido ao grande volume gerado e aos custos de transporte e aterro dos mesmos.

No processo de beneficiamento, aproximadamente 26% das rochas extraídas se transformam em resíduos finos (2-0,075 mm) e ultrafinos (<0,075 mm) na forma de efluente, que são basicamente uma mistura de pó de rocha, água e insumos de serragem e polimento, do qual aproximadamente 95% da água é recirculada no processo e os sólidos ficam dispostos nos pátios das serrarias e posteriormente são destinados a aterros (Cetem, 2013). Dessa forma, usando como base os dados da Abirochas (2015), estima-se que foram gerados aproximadamente 2,5 milhões de toneladas somente de resíduos finos e ultrafinos, como efluentes, em forma de lama no Brasil no ano de 2015.

Este estudo está classificado de acordo com Vergara (2013) como descritivo e exploratório, sendo utilizadas as estratégias de pesquisa bibiográfica e documental, com abordagem quantitativa.

Foi realizado estudo bibliométrico sobre reaproveitamento de RRO nos artigos publicados nos últimos cinco anos na plataforma ScienceDirect, da Elsevier, com o auxílio do portal de periódicos da CAPES. O levantamento ocorreu no mês de dezembro de 2016 com o uso das palavras-chave “granite”, “marble”, “ornamental stone”, “natural stone”, “ornamental rock” e “natural rock”, associadas às palavras-chave “residue”, “waste”, “powder”, “dust”, “sludge”, “slurry” e “tailings” (com suas respectivas formas no plural) através do uso do operador booleano AND.

A busca foi realizada em diversas etapas. Em cada etapa foram combinadas duas palavras-chave, por exemplo, “granite” AND “residue”, depois “granite” AND “waste”, etc. No total foram feitas 42 combinações de palavras-chave.

Após leitura e resumo dos artigos gerados pela busca, foram encontrados 108 artigos relacionados ao reaproveitamento do RRO. As informações dos 108 artigos selecionados foram exportadas para o EndNote®, e posteriormente convertidas em arquivo de texto, que foi exportado para o Microsoft Excel®, no qual foi realizada a análise dos dados e a confecção das tabelas e gráficos que compõem este estudo.

Para avaliar a dinâmica e a evolução da informação científica sobre o uso dos RRO e alcançar o objetivo deste estudo, que é identificar as alternativas para uma melhor destinação desses resíduos industriais, foi realizada leitura do título e resumo dos 108 artigos selecionados para serem classificados em diversas áreas de reaproveitamento. A tabela 1 apresenta o resumo dos resultados.

Tabela 1 - Resumo sobre as pesquisas atuais de reaproveitamento de RRO na plataforma ScienceDirect.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

A tabela 2 traz a quantidade e a porcentagem de artigos publicados por periódico, com seu respectivo fator de impacto JCR, que é um dos indicadores mais usados para classificar os periódicos acadêmicos.

Tabela 2 – Artigos publicados por periódico.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

Nota-se tendência da área de aplicação na construção civil, sendo o periódico Construction and Building Materials o que possui o maior número de publicações, totalizando 50 artigos. Também se destaca o periódico Journal of Cleaner Production, com 15 publicações, o que confirma a tendência das pesquisas atuais em destinar corretamente esses resíduos.

A figura 1 ilustra o número de publicações por ano, com sua linha de tendência. Nota-se aumento no número de publicações na área. O aumento do número de publicações sugere que há a preocupação das pesquisas atuais em destinar corretamente esses resíduos.

Figura 1 - Quantidade de artigos publicados por ano.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

A figura 2 traz a quantidade de artigos publicados por área de aplicação. O gráfico evidencia um grande número de possibilidades distintas para o uso do RRO.

Figura 2 – Quantidade de artigos publicados por área de aplicação.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

Nota-se que a maior quantidade de aplicações estudada envolve o uso do RRO no desenvolvimento de produtos sustentáveis para a área de construção civil (concreto, argamassa, cimento, bloco, agregado e pavimento) totalizando 61 artigos, e para a área de materiais cerâmicos (tijolo, cerâmica, esmalte, ladrilho, vidro-cerâmica, telha e porcelana) totalizando 13 artigos. A área de tratamento de solo também se destaca com 10 artigos. As áreas menos pesquisadas são a que envolvem seu uso para fabricação de sorvente químico, pigmento inorgânico e papel, respectivamente.

A figura 3 traz o número de publicações por país, sendo que 12 países possuem apenas uma publicação, e não foram considerados no gráfico.

Figura 3 – Quantidade de artigos publicados por região.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

Nota-se que a maior quantidade de publicações foi realizada na Turquia, Índia e Espanha,

Evidenciando uma forte relação entre estudos sobre RRO com os grandes produtores mundiais de rochas ornamentais, visto que os países citados são o 3º, 2º e 7º maiores produtores mundiais de rochas ornamentais. (Montani, 2014).

Constatou-se que há tendência de aumento no número de publicações envolvendo o reaproveitamento dos resíduos de rochas ornamentais nos últimos anos. Destaca-se a diversidade de destinação dos RRO apresentada nos artigos, com destaque para as aplicações envolvendo o desenvolvimento de produtos sustentáveis para a área de construção civil e materiais cerâmicos. Em relação aos periódicos nos quais esses artigos estão sendo publicados, nota-se a mesma tendência da área de construção civil, sendo o periódico Construction and Building Materials o que possui o maior número de publicações. Observou-se ainda que maior quantidade de publicações têm origem na Turquia.

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1. Graduanda em Engenharia de Produção. Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Cariacica. ericazmarinho@gmail.com

2. Mestre em Engenharia Metalúrgica e Materiais. Coordenadoria de Manutenção de Sistemas Metroferroviários. Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Cariacica. renancarreiro@ifes.edu.br

3. Engenheiro de Materiais, Doutor em Engenharia Mecânica. Coordenadoria de Mecânica. Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Vitória. andregsg@ifes.edu.br