Vol. 38 (Nº 28) Año 2017. Pág. 27
Rodrigo RORATTO 1; Evandro Dotto DIAS 2; Edenilce Bittencourt ALVES 3
Recibido: 04/01/17 • Aprobado: 02/02/2017
4. Apresentação e discussão dos resultados
RESUMO: Atualmente, é sabido que grande parte de micro e pequenas empresas não consegue prosperar e se manter no mercado por mais de meia década. Um dos passos principais para um maior esclarecimento sobre isso está na identificação de quais fatores motivam a morte dessas organizações. Por isso, este trabalho apresenta por meio de um estudo de caso quais são os fatores que levam à falência de micro e pequenas empresas na região central do Rio Grande do Sul. Assim, a pesquisa composta por uma amostra de 60 empreendimentos desse porte empregou o método de entrevista para a coleta de dados. Como resultado obteve-se os onze principais fatores de mortalidade, de modo a permitir como conclusão a existência de uma relação dos fatores identificados pela presente pesquisa com os resultados obtidos por outros autores em estudos anteriores, corroborando no sentido de oferecer maiores subsídios para a realização de um melhor planejamento para os empreendedores e a elaboração de políticas públicas nesse âmbito. |
ABSTRACT: Currently, it is known that much micro and small enterprises of development can not thrive and remain in the market for more than half a decade. One of the main steps for further clarification of this is to identify what factors motivate the death of such organizations. Therefore, this paper through a case study of what are the factors that lead to the failure of micro and small enterprises in the central region of the RS. The research comprised a sample of 60 projects of this size used the interview method to collect data. As a result we obtained the eleven main mortality factors, so as to permit the conclusion that there is a list of factors identified by this survey with the results obtained by other authors in previous studies, confirming in order to provide greater benefits to achieve better planning for entrepreneurs and public policy development in this sector. |
As competições entre as grandes empresas principalmente as multinacionais sempre em busca de maior produtividade e alta qualidade provocou uma dispensa de trabalhadores ao redor do mundo. Logo, essas conseqüências, que afetaram o mundo do trabalho, também trouxeram a criação de inúmeras pequenas e médias empresas, sejam por força do desemprego, ou por outros motivos (BARROS e PEREIRA, 2008).
As pequenas e médias empresas têm uma grande importância no cenário mundial, pois elas emergem nas economias industrializadas e nos países em desenvolvimento como motores do crescimento de emprego em função das maiores flexibilidades e às menores necessidades de capital, gerando novos postos de trabalho. (KASSAI, apud MOTTA, 2000).
Apesar de toda representação econômica exercida por estes empreendimentos as pequenas e médias empresas encontram dificuldades para sobreviverem no mercado. Isto pode ser evidenciado pelo tempo de vida útil destas empresas, que é de aproximadamente cinco anos para cerca de 90% das organizações de pequeno e médio porte (CHÉR, 1990). Assim é incontestável a necessidade de criação de instrumentos capazes de diminuir os índices de mortalidade empresarial e programas de promoção atualizados que incorporem conhecimentos teóricos e empíricos acumulados.
São vários os fatores que provocam esta vida efêmera: a opressão das grandes empresas, limitações do mercado, dificuldades na obtenção de recursos financeiros, o gerenciamento do capital de giro, a carga tributária elevada. No entanto, além desses fatores, existem os que são altamente influentes á empresa: a baixa capacidade para gerir os negócios (MOTTA, 2000). As diversas causas que fazem com que pequenas e médias empresas encerrem suas atividades logo no período inicial de sua vida têm levado organismos públicos, privados e pesquisadores da área a analisá-las para tentar informar aos novos empreendedores o melhor caminho a ser percorrido.
Em virtude da grande importância das pequenas e médias empresas, é que se faz necessário isolar os aspectos causadores de sucesso ou fracasso, para se entender melhor todos os fenômenos que, de uma forma ou de outra, influenciam a vida das pequenas e médias empresas.
Diante desse contexto, com o objetivo principal de identificar e analisar os principais fatores que influenciam na mortalidade das pequenas e médias empresas sediadas na região de Santa Maria, localizada no centro do estado do Rio Grande do Sul, este trabalho elabora o seguinte problema de pesquisa:
Quais os principais fatores que têm levado as pequenas e médias empresas sediadas na região de Santa Maria/RS à mortalidade precoce?
Assim, a contribuição da pesquisa de campo realizado com 60 empresas extintas da região de Santa Maria ofereceu diversos subsídios, para que empreendedores iniciantes ou até mesmo os que se encontrem em atividades possam minimizar alguns problemas pertinentes à gestão de seus negócios. Dessa forma, este trabalho está restrito a pontos da gestão empresarial que podem dificultar a obtenção de êxito por parte dos pequenos e micro empreendedores. Como consequência disso, um outro objetivo estaria em verificar a congruência dos resultados obtidos com a conclusão de outros teóricos, que também já realizaram pesquisas referentes ao tema supra-citado.
Ademais, o presente trabalho apresenta-se estruturado da seguinte forma: inicia por esta Introdução e segue com o Referencial Teórico, Metodologia, Apresentação e Discussão dos Resultados, Considerações Finais e Referências Bibiográficas.
Com a finalidade de melhor compreender a formatação e o funcionamento das atividades de negócio, alguns teóricos acabaram por classificar as empresas de diversas formas. Chiavenato (1995) por exemplo, sugere três tipos de categorias para distinguir as empresas, quanto ao ramo de atividade:
a. Empresas Industriais: são aquelas que efetuam as transformações de matérias-primas em produtos acabados, produções de bens e serviços;
b. Empresas Comerciais: vendas de mercadorias diretas ao consumidor; também recebem o nome de varejista, ou de atacadistas; estes, porém, compram direto dos produtores e vendem aos varejistas;
c. Empresas de Prestação de Serviços: são aquelas que oferecem seus trabalhos especializados como lazer, comunicação, manutenção, transporte e outros itens.
Quanto aos aspectos financeiros, Ross et al (1995) salienta três formas básicas de organização para as empresas:
a. Firma Individual: onde o proprietário tem responsabilidade ilimitada por dívidas e
obrigações da empresa, pois é a empresa que tem um só proprietário;
b. Sociedades por quotas: assim se caracteriza por ter seu capital dividido em quotas, e se divide em outras duas categorias:
* Sociedade geral: nela os sócios são os responsáveis por todas as dívidas e compartilham os lucros e prejuízos entre si;
* Sociedades limitadas: nela a responsabilidade está representada pela quantidade de
dinheiro que cada sócio contribui, e a participação nos lucros ou nos prejuízos é limitada a esta participação.
c. Sociedade por ações: esta se caracteriza por possuir seu capital dividido em ações e possui vida ilimitada, pois estes documentos poderão ser transferidos facilmente; a responsabilidade dos sócios varia de acordo com o investimento efetuado em ações.
Para classificar as empresas quanto ao seu tamanho, os critérios variam muito, pois são muitas as variáveis que podem ser adotadas. O critério adotado pelo SEBRAE, 2007 (Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena Empresa), para a classificação das empresas é dividido em quatro setores, a saber:
* Micro empresas;
* Pequenas empresas;
* Médias empresas;
* Grandes empresas.
Nas sociedades modernas, as empresas têm fundamental importância econômica, pois produzem e oferecem praticamente a totalidade dos bens e serviços, tendo a capacidade de organizar complexos processos de produção para obter vantagens da produção em massa e distribuir tudo que é exigido pela sociedade moderna (TROSTER, 2014). Na definição de Troster (2014), “A empresa é a unidade de produção básica. Contrata o trabalho e compra fatores com o fim de fazer e vender bens e serviços”.
Para Schumpeter (1985) o cenário econômico incorpora nas empresas o papel de empreender, num âmbito das inovações tecnológicas. Segundo o autor, é no ambiente empresarial que geralmente surge a ideia de um comportamento inovador, denominado de comportamento empreendedor, que crie condições favoráveis de mudança, para que a economia desenvolva-se, com a geração de emprego e renda para a população. Ainda conforme o autor, a inovação gerada pelos empreendedores empresariais constitui-se com um determinante fundamental da dinâmica econômica, sendo, ao mesmo tempo, fundamental para definir os padrões de competitividade econômica, em especial no atual quadro de aumento da competitividade global, de modo a influenciar no desenvolvimento econômico local e regional.
Logo, a contribuição do empresário/empreendedor ao desenvolvimento econômico ocorre fundamentalmente pela inovação que introduz e pela concorrência no mercado, sendo que a inovação de produtos e de processos de produção está no coração da competitividade de uma economia (PORTER, 2013).
Audretsch et al. (2009) formularam, em seu estudo realizado sobre o assunto, uma hipótese para o crescimento econômico: níveis mais altos de crescimento econômico devem resultar de maior atividade empreendedora, uma vez que o empreendedorismo serve como mecanismo de facilitar o transbordamento e a comercialização do conhecimento. A hipótese recebeu apoio empírico em teste aplicado no universo de 327 condados da Alemanha: o empreendedorismo - medido pelo número de empresas nascentes numa região em relação à sua população - é um fator chave para explicar o desempenho econômico regional. Nas regiões onde há mais empreendedorismo, inclusive de pequeno e médio porte, o produto interno bruto e sua variação são maiores.
Ainda nessa perspectiva, Koteski (2004) ressalta que a capilaridade dos pequenos negócios propicia a criação de oportunidades àqueles com maior dificuldade de inserção no mercado, como, por exemplo, o jovem que busca o primeiro emprego e as pessoas com mais de 40 anos. Além disso, segundo o autor, as pequenas empresas são capazes de fixar as pessoas no local de origem, distribuir eqüitativamente renda e riqueza e estimular iniciativas individuais e coletivas, de maneira a impulsionar a dinâmica econômica local e regional.
Destarte, o empreendedorismo dos pequenos negócios é quase unanimemente visto como benéfico para a vida econômica e social de países e regiões (BARROS e PEREIRA, 2008).
Diversos autores das mais variadas áreas e em diversos lugares do mundo já realizaram pesquisas sobre as taxas e causas da mortalidade de empresas. No entanto, destaca-se que os fatores causadores do fracasso de micro e pequenas empresas tem elevado destaque em virtude da importância dessas nas economias locais e regionais, instigando vários estudos importantes nesse sentido.
Nesse contexto, Liu (2009) definiu em seu estudo sobre desempenho econômico e mortalidade de empresas que fatores macroeconômicos são grandes impactantes na causa de falência de pequenos e médios empreendimentos, ressaltando nessa linha o modo como é conduzida a política econômica nacional, evidenciando uma forte correlação entre a soma de ações negativas ocorridas no agregado econômico nacional (como estímulos à política de importação, elevação da taxa de juros e aumento na tributação) e o aumento na mortalidade de pequenos e médios negócios. Kivrak e Arslan (2008) corroboram nessa direção ao concluir que as condições (macro)econômicas de uma nação e as atitudes de governo nesse âmbito influenciam no fracasso de qualquer empreendimento.
Já em outra pesquisa, Mahamid (2012) destaca por meio de seu estudo teórico que os fatores que levam a mortalidade dos negócios estão ligados a aspectos de magnitude gerencial/administrativa (ligados ao conhecimento de mercado e clientes), financeira (referente à forma como é conduzida a gestão financeira da empresa) e externa (ligados à condução econômica do país/região, juros, crise, desastres ambientais, entre outros). Nessa perspectiva, o autor identificou os cinco principais fatores potenciais na falência de pequenos e médios negócios, tais como: (a) instabilidade no custo de matérias-primas dos produtos fabricados (ou de serviços prestados), (b) falta de controle na gestão de clientes (que incorre no crescimento do atraso em recebimentos de vendas a prazo, falta de critério na concessão de descontos e calotes de clientes), (c) falta de experiência administrativa (pouco conhecimentos nas áreas de gestão, economia, contabilidade, marketing, etc.), (d) baixo poder de competição das empresas (ligado às cinco forças de Porter, 2013) e (e) limitações ou carência no crédito para suprimento e manutenção das atividades da empresa.
Ao indagar empreendedores quanto às dificuldades mais latentes durante uma pesquisa realizada na cidade de Passo Fundo/RS, Pandolfo e Veloso (2002) verificaram que as principais dificuldades são semelhantes entre os dois grupos pesquisados (miro e pequenos empresários), salientando problemas associados à elevada carga tributária, forte concorrência, falta de capital de giro e maus pagadores. Nesse estudo, observou-se ainda que uma parcela significativa dos empresários que se encontram em atividade atribuíram à crise econômica a principal dificuldade vivida na época de fechamento das atividades de negócio. Em linhas gerais, pode-se dizer que a política recessiva implantada pelo governo, com elevadas taxas de juros, altos encargos trabalhistas e impostos, tem-se constituído em dificuldade adicional a esse segmento de empresas. Os autores ainda salientam que, dentre os empresários analisados, o fator que poderia contribuir sobremaneira para a sobrevivência da empresa é o acesso a linhas especiais de crédito. Esse fator deveria ser destacado levando-se em consideração que as dificuldades são de ordem prática, ou seja, excesso de burocracia e de ordem econômica, em razão das elevadas taxas cobradas.
A definição “pequena e média empresa” é, sem dúvida, ambígua e imprecisa. Eis o motivo pelo qual este estudo levanta primeiramente sua delimitação conceitual.
Conforme Filion apud Motta (2000), os EUA foram o primeiro país a definir a pequena
empresa, sendo que a primeira definição oficial foi dada pelo “Selective Service Act”, de 1948.
Por outro lado, o que é “pequeno” para um país onde os setores sejam totalmente
industrializados, pode ser “médio” em uma economia em desenvolvimento, e o que é “médio” no primeiro poderá ser considerado “grande” no segundo. Estes adjetivos deverão estar em função do setor econômico e também do maior ou menor grau de desenvolvimento de cada sociedade (DIESTE, 1997).
Convém ressaltar que a própria expressão pequena e média empresa diferencia duas entidades: a empresa que é pequena da que é média. Os padrões determinados pela SBA (Small Business Administration), pelos quais o tamanho de um negócio é considerado médio, levam em consideração o número de funcionários e outros estabelecidos em volumes de vendas e para uma grande maioria dos setores industriais são expressos em termos de faturamento anual, (LONGENECKER et. al., 1997).
No Brasil, a importância sócio-econômica das pequenas empresas também pode ser demonstrada através dos números. Segundo o SEBRAE, 2007 (Serviço de Apoio às Pequenas Empresas), as pequenas e médias empresas representam 98,5% do total de empresas do país, atuam nos setores industrial, comercial, e de serviços; ocupam 60% da oferta de emprego; e geram 21% do PIB (Produto Interno Bruto).
Nas economias capitalistas, estas empresas têm um papel relevante no que se refere à geração de emprego e de renda e possui uma série de vantagens, dentre as quais a sua maior capacidade de flexibilidade e agilidade para se adaptarem às mudanças (CÂNDIDO E ABREU, 2001).
A criação dos pequenos negócios hoje no Brasil depende muito das pessoas capazes de sonhar e de transformar seus sonhos em realidade. Pessoas que buscam recursos e transformam oportunidades em negócios. Essas pessoas são classificadas como empreendedores por todos.
Utilizando-se de dados obtidos junto ao SEBRAE de Santa Maria, referente ao número de empresas na cidade, fez-se um levantamento das pequenas e médias empresas da região, no período de 04 de agosto de 2011 a 12 de dezembro de 2011. Em seguida foi feita uma coleta dos dados através de entrevistas com ex-gestores dessas empresas e guiadas por um formulário estruturado previamente. O trabalho utilizou a técnica de observação direta extensiva, ou seja, perguntas enunciadas pelo entrevistador e preenchidas por ele com as respostas do pesquisado.
A amostra de pesquisa é do tipo intencional e não probabilística, composta pela análise de 60 pequenas e médias empresas que já se extinguiram e estão assim representadas pelo setor de atividade principal: 38 do setor do comércio, 15 do setor de serviços e 7 do setor da indústria.
No conjunto das empresas pesquisadas de acordo com o setor de atividades 63,33% pertencem ao setor do comércio, 25,00% no setor de serviços e 11.66% de empresas do setor da indústria, num total de 60 empresas.
Quanto às constituições das empresas pesquisadas, 67,1% eram Sociedades Limitadas, 32,4% como Firmas Individuais, e 1,5% como Sociedades Anônimas.
Nota-se que há grande predominância pelas sociedades limitadas, existindo um certo interesse em se ter um sócio, contrariando algumas pesquisas que dizem que as maiorias de pequenas e médias empresas são dirigidas por um único dono e que um dos pontos fortes para o fracasso empresarial são os desentendimentos entre os sócios.
Com relação à escolaridade dos proprietários, apenas 17,64% possuem curso superior completo, 47,16% com o ensino médio, 35,20% com o ensino fundamental. Como se pode observar, a escolaridade dos proprietários mostra-se muito importante, exercendo um impacto significativo de sobrevivência das empresas. Evidentemente, maior ou menor escolaridade, reflete, em geral, ambientes sociais e culturais distintos, com diferentes níveis de acesso a oportunidades em geral. Este diferencial reflete a capacidade de aprender com maior facilidade, aumentando as chances de entender as mudanças e adquirir vantagem comparativa frente à concorrência.
Com referência ao tempo em que o pequeno e médio empresário passou estudando para abrir seu próprio negócio, 64,12% estudou até um ano, 8,90% mais de um ano e 26,98% nada fizeram.
Uma vez investidos capital e esforço consideráveis, as possibilidades do empreendedor serão menores, portanto esse será o momento de escolher o seu tipo de negócio ou que o negócio que deseja iniciar é de fato o adequado. O tempo que o empreendedor passa estudando para abrir seu novo negócio deve ser fundamental para que o mesmo consiga elaborar um bom plano de negócios antecipadamente, e também para que ele utilize este tempo para testar hipóteses e aperfeiçoar suas habilidades de administrar empresas.
As empresas foram questionadas sobre os itens necessários para que o empreendimento consiga bons resultados nos primeiros anos de vida. As respostas às diversas perguntas estão demonstradas na Tabela 1, sendo que a não preocupação no inicio das atividades com fatores importantes do negócio como: o tipo de localização, a identificação dos clientes, da concorrência e também a falta de conhecimentos são fatores com fortes influencias na mortalidade das Empresas.
Tabela 1 - Fatores relacionados com o inicio das atividades
Fonte: o autor
A identificação previamente de quantos clientes a empresa poderia ter e quais seus hábitos de consumo foi respondido por 15,39% dos empresários entrevistados.
Desenvolver clientes no início do empreendimento ou quando em andamento é uma das
tarefas mais importantes da área de Marketing, e o empresário deverá estar voltado para este lado da empresa, pois poderá tornar seu negócio lucrativo e longe do fracasso empresarial, que é comum nas pequenas e médias empresas logo nos primeiros anos de atividades.
Para planejar um negócio de forma que o mesmo se torne competitivo e fique afastado do fracasso empresarial, o empreendedor não poderá deixar de observar a sua concorrência e, se possível for, conseguir informações sobre as condições comerciais por ela oferecida como: prazo de pagamentos, prazo de entrega de produtos, atendimento pós-venda, garantias e outros mais.
Sobre o conhecimento da carga de impostos, salários, encargos, matérias primas e outros custos apenas 16,63% conheciam do assunto, sendo que 83,37% nada sabiam.
Este é um fator de extrema importância para se avaliado no negócio em questão. A legislação vigente no local de implantação do negócio deve ser bem conhecida por parte do empregador e seus colaboradores. O não conhecimento das normas e leis podem ocasionar sérios problemas que vão desde as multas aplicadas até o fechamento parcial ou total do empreendimento.
A carga tributária representa um custo elevadíssimo para pequenas e médias empresas, muitas vezes inviabilizando os projetos iniciais, mas vale ressaltar que um planejamento eficaz antes de abrir o próprio negócio é importante para se ter o devido conhecimento desses tributos.
As pequenas e médias empresas são as que muitas vezes ficam sujeitas a pesadas cargas tributárias, portanto são as que mais necessitam de um adequado planejamento tributário, pois as grandes empresas exercem suas pressões e influências sobre o poder e são sempre mais beneficiadas, já a pequena e média empresa não tem este poder, embora, o governo já reduziu um pouco esta carga, criando o SIMPLES (Sistema de Pagamento Simplificado).
Foi pesquisado se o empresário estudou previamente o tipo de instalação mais adequado para o seu negócio, e apenas 15,50% das mesmas estudaram antecipadamente o melhor local para instalação de seu empreendimento, o que confirma que a escolha do local para instalação do empreendimento pode ser uma referencial para a sobrevivência.
Com a entrada dos novos conceitos de globalização, muitos empreendedores acreditam que a escolha da localização de maneira adequada perdeu de uma certa forma a importância que tinha em outros tempos. De fato, isto se torna verdade quando se pensa na facilidade de comunicação atual (Internet, Fax, etc.). Por outro lado, é extremamente necessário observar a importância da localização da empresa em um contexto mais abrangente de forma a verificar esta tão poderosa arma estratégica. Quando se pensa em começar um empreendimento, uma das principais etapas é, sem duvida, a escolha da localização da empresa. A escolha acertada da localização traz vários benefícios ao empreendedor, como por exemplo, facilidade em se ter bons canais de distribuição, maior oferta de insumos, capital e mão-de-obra, maior contato com fornecedores e clientes, além de aumentar a competitividade da empresa em seu setor de atuação.
Entre as empresas salienta-se: o clamor por maior ajuda e incentivos por parte do governo, disponibilidade de crédito, ou seja, maior facilidade para aquisição de capital de giro citado por 11,62%, além de uma grande ênfase, na inadimplência dos clientes 14,53%, e a falta de clientes no mercado atuante citado por 13,37%, como está demonstrado na Tabela 2.
Fatores que se justificam pelo momento em que o país está passando ou já vivenciou há algum tempo como a crise energética ocorrida nos meados da década passada, o atentado a torres gêmeas nos Estados Unidos em 11 Set. 2001, a crise da Argentina acompanhada pelas crises momentâneas como a desvalorização do Real frente à moeda norte americana. Esses fatores certamente contribuíram para o agravamento do mercado em geral e penalizando principalmente o micro e pequeno empresário. Pode se verificar também que a globalização da economia, com o processo de abertura comercial em curso no País estão, seguramente, exercendo pressão sobre a sobrevivência das empresas, sobretudo localizadas em setores de forte concorrência de bens importados, e por se tratar de um pólo industrial com tecnologia de ponta, como é a cidade de São José dos Campos.
Outro fator que parece contribuir para o encerramento prematuro das sociedades pesquisadas é a falta dos conhecimentos gerenciais citado por 10,70% das empresas pesquisadas. Sobre a experiência no ramo de atividade em que estavam atuando 50% dos sócios/proprietários tinham algum tipo de experiência e os outros 50% não tinham qualquer tipo de experiência. Dos que apresentaram alguma experiência anterior, 20,31% eram funcionários de outras empresas; 12,50% tinham negócios similares na família e a mesma porcentagem trabalhava como autônomo, e apenas 4,68% foram sócios/proprietários de outro empreendimento.
O que chama a atenção nestas respostas é a quantidade de empreendedores iniciantes, sem nenhuma experiência em negócios, ou seja, aventuram-se em abrir um empreendimento, sem a mínima noção de como é gerir uma organização, engrossando assim as estatísticas de empresas sem sucesso.
A abertura de um negócio é recheada de variáveis que deverão ser avaliadas, pois são fatores que podem dificultar ou até mesmo impedir a entrada num ramo específico. Logo, somente a experiência e o conhecimento do ramo do negócio poderão dar essa visão para o empresário. Na opinião dos empresários que se extinguiram, os principais motivos citados que levaram ao fechamento da empresa foram: falta de clientes – citado por 45,10%, falta de capital de giro 31,40%, carga tributária elevada 29,50%, ponto inadequado 21,00%, recessão econômica do país citado por 17,00%, maus pagadores, citados por 13,50%, e estão apresentados na Tabela 2. Os motivos que levaram os empreendimentos a encerrarem suas atividades parecem estar mais associados a uma falta de conhecimentos sobre o mercado atuante, como também a falta de conhecimentos sobre a própria gestão administrativa/financeira, pois parcela significativa dos sócios/proprietários das empresas que se extinguiram não tinha experiência anterior no ramo de atividade em que estavam atuando. A falta de conhecimento administrativo/financeiro também pode ser verificada se for observada a pouca participação dos sócios/proprietários que têm nível superior, ou que já tenham exercido posição de gerentes ou diretores em outras empresas.
Tabela 2 - Motivos que levaram ao fechamento das empresas
Falta de clientes 45,10
Fonte: O autor.
Os dois primeiros motivos citados estão diretamente dentro da esfera de competência da empresa, sendo que a falta de clientes pode ser causada por um mau plano de marketing realizado antes mesmo do início das atividades, e a falta de capital de giro pode ser causa de uma fraca gestão financeira realizada. Para evitá-los, seria necessário, entre outras ações, uma boa gestão financeira e administrativa somada a uma agressiva estratégia de vendas e de conquista de novos mercados.
A carga tributária elevada pode estar fora dos controles da empresa, mas o administrador do empreendimento deverá de previamente conhecer a que impostos e contribuições estará sujeito seu negócio para que o mesmo possa realizar um bom planejamento tributário, para que os mesmos não se tornem causas de fracasso da organização. Já a quarta causa, “ponto inadequado”, é parte de um plano de negócio mal-estruturado, pois, a localização muitas vezes está associada diretamente ao sucesso ou ao fracasso de determinados empreendimentos.
Quanto ao motivo alegado relativo a maus pagadores, pode ser reflexo da atual situação econômica em que se encontra o país, de incentivo à expansão do crédito para o consumo em detrimento de uma maior análise do risco de pagamento, mas também não se pode deixar de apontar uma má gestão financeira elaborada principalmente nas contas a receber, talvez por falta de pessoas capacitadas, com conhecimentos necessários para conduzir os problemas. Os outros motivos alegados, 17,45% estão ligados, em sua maioria, direta ou indiretamente, aos dois primeiros básicos: recursos financeiros/mercado.
A partir dos resultados obtidos conclui-se que este trabalho atingiu seus objetivos, de modo que foram levantados os principais fatores causadores da mortalidade de micro e pequenas empresas na região da cidade de Santa Maria/RS. No estudo constatou-se que tais fatores identificados estão de acordo com os estudos realizados por alguns pesquisadores apresentados no item Referencial Teórico, principalmente em relação ao trabalho de Mahamid (2012), que classifica a mortalidade de empresas em aspectos de magnitude gerencial, financeira e externa. Assim, os fatores de ordem gerencial seriam: falta de clientes, ausência de poder de competitividade perante os concorrentes, falta de conhecimentos na área da empresa e escolha de um ponto de negócio inadequado. Os aspectos de ordem financeira seriam: inadequada gestão de clientes maus pagadores, falta de capital de giro e problemas financeiros diversos. Já os aspectos de magnitude externa classificar-se-iam como: carga tributária elevada, falta de mão-de-obra qualificada, recessão econômica do país e do mundo e (falta) dificuldade na obtenção de crédito.
Outro aspecto que o presente estudo corroborou em relação a alguns autores apresentados na revisão teórica (como Liu, 2009, e Kivrak e Arslan, 2008) está ligado ao peso que os fatores macroeconômicos têm no insucesso de micro e pequenas empresas. Isso ficou evidente principalmente quanto ao percentual apresentado pelo fator “carga tributária elevada” e “recessão econômica do país”, de modo a indicar a necessidade de ações governamentais de mudanças nesse sentido, tendo em vista a relevância que as micro e pequenas empresas têm no contexto econômico nacional.
É evidente que outros estudos deverão ser feitos, detectando as peculiaridades de cada região e, mais importante ainda, deverá haver um acompanhamento constante da aplicação dos recursos que, porventura, vierem a ser destinados a essas empresas. Entretanto, esses recursos não terão de ser, necessariamente, na forma de crédito para investimentos, mas, e talvez de importância maior, na forma de incentivo fiscal. Isso, provavelmente, deverá ocorrer tanto na forma de redução da carga tributária como da desburocratização de algumas atividades. Por outro lado, é cada vez mais evidente que, no ambiente atual, com política monetária restritiva, fica mais difícil o acesso das empresas, principalmente das de menor porte, aos meios convencionais de financiamento.
Em suma, salienta-se que os fatores causadores da mortalidade de micro e pequenas empresas na região de Santa Maria estão de acordo com outros vividos pelo conjunto de empresas em nível nacional. Entretanto, como salientado anteriormente, as realidades regionais e as capacidades de reação frente às dificuldades impostas são distintas, o que nos leva a concluir que as medidas de apoio adotadas também deverão ser diferenciadas, ou seja, cada medida de estímulo deverá levar em consideração as particularidades de cada região e a formação do conjunto de empreendedores.
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