ISSN 0798 1015

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Vol. 38 (Nº 17) Año 2017. Pág. 33

Perfil dos visitantes do Parque Estadual de Vila Velha, Paraná - Brasil

Profile of visitors to the Vila Velha State Park, Paraná-Brazil

Barbara Gabriele de Souza NOGUEIRA 1; Ronaldo Viana SOARES; Alexandre França TETTO; Guadalupe VIVEKANANDA; Murilo TRENTO

Recibido: 27/10/16 • Aprobado: 20/11/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Material e Métodos

3. Resultados e Discussão

4. Conclusão

Agradecimentos

Referências


RESUMO:

A região de Vila Velha é conhecida internacionalmente por suas formações rochosas e esta pesquisa teve como objetivo determinar o perfil dos visitantes do Parque Estadual de Vila Velha, como forma de subsidiar ações para o manejo da visitação. Para isso foram utilizados dados obtidos junto ao órgão gestor e uma entrevista semiestruturada com a gestora para complementar a pesquisa. Os resultados mostraram que Vila Velha foi o parque estadual mais visitado entre os anos de 2007 a 2013, assim como foi possível traçar o perfil dos usuários. Isso demonstra a importância do preenchimento do cadastro de visitantes.
Palavras-chave: Perfil dos visitantes. Unidades de conservação. Uso público.

ABSTRACT:

The Vila Velha region, in the State of Paraná, is known internationally by their rock formations. The objective of this research was to determine the visitors’ profiles of the Vila Velha State Park in order to subsidize management actions aimed to facilitate visitation. Data obtained from the Park management office and a semi-structured inquiry with the Park manager were used to complement the research. The results showed that Vila Velha was the most visited State Park between the years 2007 to 2013, and the visitors profiles was portrayed. The importance of filling out the visitors’ registration forms was also emphasized in the conclusions.
Keywords: Visitor profile. Conservation unit. Public use.

1. Introdução

A rápida expansão dos ambientes urbanos, especialmente após a Revolução Industrial, estimulou um sentimento de apreciação dos recursos naturais. Este relacionamento foi possível uma vez que as cidades estavam se tornando ambientes com alta densidade demográfica e com condições de saúde precárias. A partir disso, nos Estados Unidos surgiu o desejo de se conservar locais em um regime diferenciado de proteção e, como marco dessa visão, foi criado o Parque Nacional de Yellowstone (ARAUJO, 2007).

As primeiras motivações para a criação de parques foi influenciada para fins de contemplação e lazer. De acordo com Brito (2003), no Brasil, até meados de 1970, as Unidades de Conservação (UCs) também eram criadas com a justificativa da beleza cênica que possuíam, sem levar em consideração o ponto de vista conceitual e metodológico para proteção de ecossistemas.

Com o estabelecimento da Lei n° 9.985 de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), foi possível estabelecer normas e critérios para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação, o qual também prevê a forma de organização das diferentes categorias de manejo. Além disso, dentre os objetivos estabelecidos por esta Lei, está o estímulo à educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico (BRASIL, 2000).

Neste sentido, a visitação pública é um importante instrumento de aproximação da sociedade com a UC, pois assim é possível que estas áreas ganhem apoio público ao despertar o interesse da sociedade pela conservação (TAKAHASHI, 2004; MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), 2007). Por isso, segundo Nelson (2012), a visitação ideal é aquela na qual a abertura dos parques está disponível para todos, mas essas atividades são complexas e necessitam de um planejamento adequado.

Como a busca por atividades de lazer e recreação em áreas naturais tem aumentado de forma expressiva e o cenário atrativo para as atividades normalmente encontram-se em UCs, especialmente os parques, é necessário compreender os impactos que a visitação pode causar, para se propor formas de minimizá-los e controlá-los. Dentre os impactos negativos da visitação estão aqueles que envolvem o solo, a água, a vegetação, a fauna e os aspectos sociais. O impacto social está relacionado à percepção que o usuário tem da área, seja ela por diferenças de comportamento, tamanho do grupo, objetivos da visita, entre outros. Desde que bem manejado, o turismo pode gerar empregos e movimentar a economia com menos danos ao ambiente que outra forma de atividade econômica. Da mesma maneira que o lazer e a recreação podem auxiliar em diversos benefícios, tais como os sociais e da promoção da conservação da biodiversidade. Contudo, é preciso atentar-se para a implantação de projetos voltados à gestão e monitoramento do uso público (LOBO; SIMÃO, 2011).

No Roteiro Metodológico para Manejo de Impactos da Visitação (INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBIO), 2011) consta que o manejo da visitação é considerado uma ferramenta de apoio à gestão da UC, colaborando para o cumprimento dos objetivos de criação dessas áreas. O controle da visitação é uma maneira de compreender os diversos impactos oriundos do uso público. Lobo e Simão (2011) complementam que, quando a unidade de conservação realiza a coleta de dados sobre fluxo e caracteriza a demanda de visitantes, essas informações servem de apoio para que ocorra o monitoramento dos impactos. Além disso, entende-se que parte dos impactos ocasionados pelos usuários está associada à percepção que o indivíduo tem sobre o ambiente. Nesse sentido, a necessidade dos cadastros serem preenchidos corretamente é relevante no processo de monitoramento e para trabalhar mudanças de comportamentos por meio da educação ambiental.

Sendo assim, este estudo teve como objetivo determinar o perfil dos visitantes do Parque Estadual de Vila Velha (PEVV), como forma de subsidiar ações para o manejo da visitação.

2. Material e Métodos

2.1. Localização e Caracterização da Área de Estudo

O Parque Estadual de Vila Velha (PEVV) localiza-se no segundo planalto do Paraná, em uma região denominada Campos Gerais, no município de Ponta Grossa, PR, Brasil, distante 80 km de Curitiba. O parque está localizado entre as coordenadas 25°12’34” e 25°15’35” de latitude S e 49°58’04” e 50°03’37” de longitude W. O PEVV foi instituída pela Lei n° 1.292, de 12 de outubro de 1953, e atualmente conta com uma área de 3.803,28 hectares (INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ (IAP), 2004). De acordo com a classificação de Köppen, o clima é definido como Cfb - clima úmido subtropical com verão temperado (INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ (IAPAR), 2016) (Figura 1).

Figura 1 - Mapa de localização do Parque Estadual de Vila Velha

Fonte: Adaptado de Kovalsyki (2016)

O PEVV é conhecido internacionalmente por suas formações rochosas de significativo valor cênico, científico e ecológico, assim como tem destaque no cenário turístico (CAMPOS; DALCOMUNE, 2011). A região foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná, em 18 de janeiro de 1966, como “Conjunto Vila Velha”, que compreende os atrativos turísticos de Arenitos, Furnas e Lagoa Dourada (IAP, 2004).

Vila Velha foi alvo de muitas ações antrópicas, como inscrições nos arenitos e visitas sem acompanhamento, por exemplo. Depois de anos de degradação o parque ficou fechado de 2002 a 2004 com o intuito de revitalizá-lo e elaborar o plano de manejo. Este documento técnico é utilizado como referência nas ações de manejo, inclusive na organização da visitação que passou a ser monitorada. Vale destacar que o parque possui um contrato de gestão para realização de atividades nas áreas de uso público da UC (PARANÁ PROJETOS, 2016a). Além disso, há custo para realizar a trilha dos Arenitos, assim como o passeio para Furnas e Lagoa Dourada (ANTÔNIA; COSTA; IAROCZINSKY, 2015).

A norma descrita no plano de manejo estabelece que o horário de abertura à visitação pública é das 8h às 16h, de quarta a segunda-feira, inclusive nos feriados. Nas terças-feiras o parque fecha para serviços administrativos e de manutenção (IAP, 2004). Atualmente, o PEVV faz parte de um projeto coordenado pela Secretária Estadual do Meio Ambiente (SEMA), chamado Parques Paraná, cuja finalidade é a valorização do turismo de forma sustentável nas UCs abertas para visitação (PARANÁ PROJETOS, 2016b).

2.2. Coleta e Análise dos Dados

Para definir o perfil dos visitantes foram utilizados dados obtidos junto ao órgão gestor, oriundos do cadastro de visitantes das unidades de conservação, também referentes ao período de 2007 ao terceiro trimestre de 2015. Essas informações são preenchidas pelos usuários ao chegarem ao PEVV, no Centro de Visitantes. Os dados foram compilados em planilha eletrônica, onde foram realizadas todas as etapas da análise, sendo elas: organização das planilhas anuais, tabulação dos dados e processamento dos resultados. As análises realizadas tiveram por objetivo a obtenção das seguintes informações: número de visitantes, trilha visitada, faixa etária, sexo e origem (país, estado e município) dos visitantes, bem como os principais meios de acesso utilizados.

As informações referentes ao número de visitantes foram obtidas no sítio eletrônico do IAP e, para dados complementares da visitação, foi utilizado o trabalho realizado por Campos e Dalcomune (2011). Os dados obtidos foram organizados em planilha eletrônica e comparados entre si. A partir dessas informações, a evolução anual das visitas de 2007 ao terceiro trimestre de 2015 foi analisada, sendo possível caracterizar o controle de visitantes e identificar o perfil do usuário.

Para complementar a pesquisa, foi realizada uma entrevista semiestruturada com a gestora da UC, abordando os seguintes aspectos: atividades recreativas, atividades educativas, monitoramento dos impactos da visitação e manejo da visitação.

3. Resultados e Discussão

A Figura 2 apresenta o número de visitantes do PEVV no período analisado.

Figura 2 - Número de visitantes no Parque Estadual de Vila Velha no período de 2007 a 2015

Fonte: Os autores

O número total de visitantes foi de 1.266.261 pessoas, tendo variado de 89.152 a 48.88 entre os anos de 2007 a 2015, muito embora os dados do último trimestre de 2015 não estejam agrupados para visualização.

O IAP disponibiliza esses dados para todas as UCs abertas, sendo assim, comparando com outras áreas, o PEVV foi a UC mais visitadas entre os anos de 2007 a 2013. Nos anos seguintes o parque ainda se manteve entre os mais visitados, ficando atrás do Parque Estadual da Ilha do Mel (IAP, 2016). Esta posição de destaque em relação ao fluxo de visitantes, por seus atrativos e por ser uma das maiores UCs estaduais, possibilitou ao parque integrar um projeto coordenado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA), denominado Parques Paraná, cujo objetivo é a valorização do desenvolvimento do turismo em unidades de conservação (PARANÁ PROJETOS, 2016b).

Com relação ao perfil dos usuários, os resultados foram apresentados, na ordem, por gênero, faixa etária, acesso e origem, e por fim, os atrativos.

Os visitantes do sexo feminino totalizaram 52,09%, enquanto os do masculino somaram 47,91%. Na entrevista realizada com a gestora do parque foi justificado que este número similar pode ser resultado das trilhas que são todas estruturadas com pavimentação e corrimão, possibilitando uma diversidade quanto ao gênero, já que os usuários são essencialmente urbanos. No Parque Estadual Serra do Cipó, Campos; Vasconcelos e Félix (2011) demonstraram resultado idêntico, não havendo diferença significativa quanto ao gênero, sendo 51% mulheres e 49% homens. Em um trabalho sobre perfil, percepção e opinião dos visitantes no Parque Nacional do Itatiaia, Oliveira et al. (2015), concluíram que os visitantes predominantes foram do sexo masculino (56,5%). Por fim, Kitagawa et al. (2013) obtiveram resultados com a maior diferença entre os demais estudos. Os visitantes do sexo masculino apresentam maior frequência (81%) em relação às mulheres (19%). Os autores consideram que a diferença pode se relacionar com problemas de segurança no interior das trilhas mais afastadas do Parque Natural Municipal da Taquara, RJ.

Quanto à faixa etária, as predominantes foram dos 21 aos 30 anos (23,48%) e de 31 a 50 anos (24,89%). Isso demonstra que os usuários têm um perfil jovem (Figura 3).

Figura 3 - Faixa etária dos visitantes do PEVV

Fonte: Os autores

Dos visitantes entrevistados no Parque Nacional do Itatiaia, a faixa etária que predominou foi de 25 a 45 anos (OLIVEIRA et al., 2015). Esse perfil jovem também se apresentou no Parque Nacional Serra do Cipó, com maior percentual entre os indivíduos de 25 a 34 anos (31%) (CAMPOS; VASCONCELOS; FÉLIX, 2011). Já no Parque Natural Municipal da Taquara, o resultado foi diferente, pois houve uma diversidade no resultado das faixas etárias encontradas entre os visitantes, variando entre pessoas com menos de 18 anos até as com mais de 55 anos (KITAGAWA et al., 2013).

Entre os meios de acesso utilizados para chegar ao PEVV, os veículos particulares foram mais significativos (73,45%), em seguida as excursões (13,02%) e ônibus escolares (12,86%).

Quanto à origem dos visitantes, 72,31% foram do estado do Paraná, sendo que 34,66% residem no município de Curitiba e 26,31% são de Ponta Grossa. Visitantes de outros países totalizaram 2,52% (Figura 4). Campos e Dalcomune (2011) explicam que o maior número de visitantes tem origem do Paraná em função do estímulo dado às escolas públicas do estado para desenvolver educação ambiental. Ainda nesse contexto, na entrevista realizada com a gestora sobre as atividades educativas, essa demanda é justificada também em função do projeto Parque Escola. Este projeto tem como objetivo estabelecer um diálogo e estimular mudanças de comportamentos para promover a conservação da biodiversidade, sendo que o PEVV foi a primeira unidade de conservação a receber o programa (SEMA, 2016).

Figura 4 - Origem dos visitantes de acordo com o país, estado e municípios

Fonte: Os autores

Os resultados obtidos com dados sobre os atrativos demonstraram que a trilha dos Arenitos foi a mais visitada (61,80%). Esse resultado corrobora com os apresentados por Campos e Dalcomune (2011) sobre o atrativo mais visitado. Os Arenitos possuem um grau de dificuldade leve, o que possibilita o acesso de maior número de pessoas. Além disso, em comparação com os atrativos de Furnas e Lagoa Dourada, a capacidade de carga determinada para os Arenitos é de 815 pessoas por dia, enquanto os outros são de 349 pessoas por dia.

Esse número de visitantes expressa que a diversidade geológica e geomorfológica presentes nos Arenitos torna o ambiente propício para o desenvolvimento de geoturismo. Latenski et al. (2011) caracterizam o geoturismo como um segmento do turismo cuja finalidade é aproximar, sensibilizar e despertar o interesse das pessoas pelo patrimônio natural e geológico. Este segmento, de acordo com Barbosa e Moreira (2011), aponta para a importância de se desenvolver atividades diferenciadas de educação ambiental, oportunizando maior conhecimento sobre essa geodiversidade.

4. Conclusão

Foi possível traçar o perfil dos visitantes do Parque Estadual de Vila Velha no período de 2007 ao terceiro trimestre de 2015. Muito embora a falta de dados tenha prejudicado a análise, já que 56% dos cadastros não estavam completos, cabe destacar a relevância do preenchimento, pois essas informações podem fornecer subsídio ao manejo da visitação e minimização dos seus impactos.

Agradecimentos

À gestora do Parque Estadual de Vila Velha, Maria Ângela Dalcomune, por todas as informações fornecidas durante esta pesquisa.

Referências

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1. Email: barbargsnogueira@gmail.com


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Vol. 38 (Nº 17) Año 2017

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