ISSN 0798 1015

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Vol. 38 (Nº 07) Año 2017. Pág. 5

Proposição de Pesquisa no Contexto da Habilidade de Desenvolvimento de Novos Produtos

Research proposition in the context of new product development ability

Mateus PANIZZON 1; Gabriel Sperandio MILAN 2; Deonir DE TONI 3; Patrícia Sambaquy RITTER 4; Paula SARTOR 5

Recibido: 25/08/16 • Aprobado: 22/09/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Fundamentação Teórica

3. Considerações finais

Referências

Agradecimento


RESUMO:

Este estudo se propõe a apresentar um modelo teórico a ser testado e validado sobre a influência da Criatividade Organizacional, da Orientação Empreendedora Internacional e das Capacidades Dinâmicas Baseadas em Conhecimento, Capacidades de Tecnologia de Informação, de Reconfiguração e de Aprendizado, na Habilidade de Desenvolvimento de Novos Produtos. Em um contexto de globalização, com o desenvolvimento econômico baseado em conhecimento, inovação e criatividade como fontes de valor agregado, as empresas devem buscar continuamente alguma vantagem competitiva sustentável. Neste sentido, uma maior compreensão dos determinantes da Habilidade de Desenvolvimento de Novos Produtos, o que impacta no desempenho de inovação e das empresas, torna-se uma oportunidade de pesquisa. Como resultados, esta investigação busca maior compreensão entre a relação destes construtos, sustentando a tese de que a maior habilidade de desenvolvimento de novos produtos requer o desenvolvimento de um ambiente organizacional criativo, um comportamento empreendedor orientado à internacionalização e uma contínua postura de reconfiguração e de aprendizado.
Palavras-chave: Criatividade organizacional, orientação empreendedora internacional, Capacidades Dinâmicas Baseadas em Conhecimento (CDBC), Habilidade de Desenvolvimento de Novos Produtos (HDNP).

ABSTRACT:

This study aims to present a theoretical model to be tested and validated about the influence of Organizational Creativity, the International Entrepreneurial Orientation and Knowledge-Based Dynamic Capabilities, Information Technology, Reconfiguration and Learning Capabilities, in the New Products Development Ability. In a context of globalization, with economic development based on knowledge, innovation and creativity as a value-added sources, companies must continually seek some sustainable competitive advantage. In this sense, a greater understanding of the determinants of New Product Development Ability, which impacts the performance of innovation and business, it is a research opportunity. As a result, this research seeks greater understanding between the relationship of these constructs, supporting the thesis that most new product development ability requires the development of a creative organizational environment, an internationalization oriented entrepreneurial behaviour and ongoing posture of reconfiguration and learning.
Key words: Organizational creativity, international entrepreneurial orientation, Knowledge-Based Dynamic Capabilities (KBDC), New Products Development Ability (NPDA).

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1. Introdução

Há um grande interesse acadêmico e gerencial em compreender quais são os fatores que influenciam a inovação nas organizações (Hong, Oxley, Mccann, 2012; Hauser, Tellis, Griffin, 2006). A pesquisa sobre o estado da arte na área revela tendências em relação ao avanço do desenvolvimento teórico no campo da criatividade, especialmente no contexto organizacional ( Weinzimmer, Michel, Franczak, 2011; Bain, Mann, Pirola-Merlo, 2011) . Torna-se, então, uma área emergente para investigação, ao mesmo tempo que seu impacto econômico é representativo do ponto de vista gerencial. A criatividade, na definição de geração de ideias novas e úteis, é um input do processo de inovação, e há estudos que demonstram a relação entre inovação e desempenho, seja em nível da firma ou nacional (Freeman, 2002 ; Porter, Stern, 2001). Outro aspecto importante em estudos de desempenho em inovação, em especial a inovação de produto, tem sido a relação dos efeitos da internacionalização das empresas (Fernández-Ortiz, Emerito, Menorca, 2012; Johanson, Vahlne, 2009 ; McDougall, Oviatt, 2003). Aliás, este fenômeno vem sendo tratado como um processo empreendedor internacional (Schweizer, Vahlne, Johanson, 2010; Johanson, Vahlne, 2009).

É imperioso ressaltar que no campo da estratégia, a bem consolidada disciplina das capacidades dinâmicas ( Teece, 2007 ; 2009; Zollo, Winter, 2002 ) vem adquirindo um corpo teórico com viés na Visão Baseada em Conhecimento (Grant, 1996), estabelecendo um novo campo de estudo denominado Capacidades Dinâmicas Baseadas em Conhecimento (CDBC). A literatura aponta um inventário destas capacidades (Denford, 2013), mas, para este estudo, foram selecionadas a reconfiguração, que implica na capacidade de mudança da empresa frente a ambientes turbulentos, e o aprendizado, cujos efeitos em desempenho de inovação já são bem estabelecidos (Makkonen, Pohjola, Olkkonen, 2014), além da capacidade de Tecnologia de Informação (TI), em termos de infraestrutura, assimilação e aplicação, associada à agilidade empresarial (Liu et al., 2013).

Outra temática oportunta na relação com a inovação é o Processo de Desenvolvimento de Novos Produtos (PDNP). Estudos já o relacionaram com inovação e desempenho ( Im, Montoya, Workman Jr., 2013; Durmusoglu, Calantone, McNally, 2013) . Para competir efetivamente no mercado global, as empresas precisam desenvolver competências globais, tais como o lançamento de produtos efetivos (Lee, Lin, Wong, 2011). Ou seja, o PDNP é um tema relevante, pois a competitividade empresarial não deve advir somente da redução de custos, mas do desenvolvimento de novos produtos (Cooper, Edgett, Kleinschmidt, 1999; 2001; Kaminski, Oliveira, Lopes, 2008).

O que se observa na literatura, é que estes determinantes, Criatividade Organizacional, Orientação Empreendedora Internacional e Capacidades Dinâmicas Baseadas em Conhecimento (CDBC) se constituem como uma oportunidade de pesquisa quando analisadas sob a perspectiva da sua influência sobre a Habilidade de Desenvolvimento de Novos Produtos (HDNP), que se constui uma medida de desempenho do PDNP (Perin et al., 2013). Este entendimento é particularmente importante para o setor industrial exportador, por estar envolvido em um ambiente internacional, competindo globalmente, e enfrentando os efeitos do novo paradigma da Era do Conhecimento e da Economia Criativa, tendo a inovação como possível fonte de vantagem competitiva sustentável (Hana, 2013; Crespi, Zuniga, 2012; Afgan, Carvalho, 2010).

Com base nisso, a política industrial no Brasil requer esforços efetivos para expandir as atividades de exportação, mas principalmente de inovação, uma vez que este é um componente decisivo em mercados internacionais (Lee, Lin, Wong, 2011) . Por conseguinte, estudos nesta área se justificam não somente pelas contribuições teóricas, mas pelo entendimento destes efeitos no nível das organizações, pois a compreensão dos construtos (e suas variáveis) que afetam a inovação e, consequentmente, o desempenho dos negócios e do país, é fundamental para o desenvolvimento de estratégias, investimentos e práticas de gestão mais assertivas (Sun, Du, 2010 ; Wang, Kafouros, 2009 ; Wan, Ong, Lee, 2005) .

Este estudo, portanto, assume como questão de investigação: Qual a influência da Criatividade Organizacional, da Orientação Empreendedora Internacional e das CDBC, especificamente as Capacidades de Tecnologia de Informação (TI), de Reconfiguração e de Aprendizado, sobre a HDNP. Para tanto, tem-se como objetivo do estudo propor um modelo a ser futuramente testado e que permita analisar as relações entre: (i) Criatividade Organizacional e Orientação Empreendedora Internacional; (ii) Orientação Empreendedora Internacional e Capacidade de Reconfiguração; (iii) Orientação Empreendedora Internacional e Capacidade de Aprendizado; (iv) Capacidade em TI e Capacidade de Reconfiguração;       (v) Capacidade de Reconfiguração na HDNP; e (vi) Capacidade de Aprendizado e a HDNP.

2. Fundamentação Teórica

2.1. Criatividade organizacional

A questão da criatividade é reconhecida tanto pela comunidade acadêmica quanto empresarial como capacidade essencial para a organização crescer e prosperar em ambientes cada vez mais complexos, caracterizados por altos níveis de ambiguidade, não linearidade, incerteza e interdependência (Bechky, Okhuysen, 2011). Vale destacar, ainda, que a criatividade organizacional é observada como um preditor-chave da inovação e do desempenho (Damanpour, Aravind, 2012) e, portanto, consiste em um tema relevante de pesquisa.

A criatividade organizacional pode ser entendida como um output (Bratnicka, 2013), medida pelo nível de novidade e utilidade das ideias geradas na organização. Isto implica que organizações mais criativas são entendidas pela sua maior capacidade de gerar ideias que sejam novas e úteis para o seu contexto, ou seja, pelo seu resultado. É este resultado (ideias criativas e novas) que vem a se tornar um input em processos de inovação (Bissola, Imperatori, Colonel, 2014, Dul, Ceylan, 2014).

A teoria central sobre a criatividade organizacional foi desenvolvida por Woodman, Sawyer e Griffin (1993), os quais propuseram um framework interacionista entre indivíduos e grupos, sendo que é por meio desta interação (da concepção individual da ideia até o seu compartilhamento e desenvolvimento com o grupo), que a criatividade é explicada. A partir desta teoria base, distintas abordagens para a mensuração da criatividade organizacional foram desenvolvidas e, neste caso, consistem nas condições existentes na organização para a geração destas ideias (Dul, Ceylan, 2014; Basadur, Basadur,  Licina, 2012; Liu, Bai, Zhang, 2011; Sullivan, Ford, 2009; Amabile, Mueller, 2008). Estas condições envolvem aspectos como, por exemplo, tempo, liberdade ou recompensas que as organizações promovem para estimular a criatividade.

Para este estudo, a proposta de Boada-Grau et al. (2014) torna-se a mais apropriada, tendo em vista que sugerem que o construto (a criatividade organizacional) pode ser medido por indicadores que consideram o reconhecimento das pessoas pelo trabalho criativo, o julgamento de ideias, o estímulo à solução de problemas de forma criativa, mecanismos internos e o encorajamento e reconhecimento das pessoas pela criatividade. Neste sentido, verifica-se que se trata de mecanismos organizacionais (encorajamento, estímulo, julgamento e reconhecimento), os quais propiciam maiores condições para a geração de ideias novas e úteis. Os autores propuseram esta mensuração sob o nome “Suporte Organizacional Percebido para a Criatividade”, com validação estatística do fator e convergência interna do construto, o que pressupõe uma base adequada de sustentação para o modelo proposto, o qual será apresentado mais adiante.

2.2. Orientação empreendedora internacional e sua relação com a criatividade organizacional

A orientação empreendedora internacional (OEI) pode ser definida como a combinação de uma postura inovadora, proativa e tomadora de riscos que extrapola as fronteiras nacionais e tem por objetivo gerar valor para a organização (Covin, Miller, 2014). A OEI foi selecionada para este estudo tanto por se apresentar como um novo paradigma nos estudos em internacionalização, cuja evolução demonstra o tratamento deste assunto como um processo empreendedor (Schweizer, Vahlne, Johanson, 2010; Johanson, Vahlne, 2009).

É oportuno comentar que a internacionalização é um fenômeno bem consolidado na literatura e já foi relacionado com as capacidades empreendedoras, o aprendizado, a criação e a confiança entre parceiros de negócios, que são particularmente convergentes com alguns antecedentes (ou determinantes) já investigados em relação à inovação, como é o caso da orientação empreendedora (Jantunen et al., 2005), da capacidade absortiva (Gebauer, Worch, Truffer, 2012), da aprendizagem organizacional (Hsu, Pereira, 2008) e do capital social (Rodrigues, Child, 2012). Em acréscimo, vale destacar que o nível de internacionalização das empresas é relevante para fins de investigação, e também tem demonstrado especial relação em termos de desempenho de inovação nas empresas (Tsao, Chen, 2012; Kafouros et al., 2008; Cassiman, Golovko, Martínez-Ros, 2010; Papadopoulos, Martín Martín, 2010).

Todavia, a relação entre criatividade e internacionalização não necessariamente apresenta um contínuo efeito direto, principalmente se tomarmos a internacionalização enquanto preditora da criatividade. Não há consenso na literatura, e isto porque, em estágios iniciais de internacionalização, as empresas passam a ter contato com novas demandas de clientes, fornecedores, além de variáveis concorrenciais e macroeconômicas. Isto, a priori, estimula a geração de novas ideias para atender a estas novas necessidades. Contudo, à medida que as empresas se estabilizam no mercado internacional, com a adequação às rotinas, legislações e sistemas, pode vir a influenciar a sua capacidade de ser criativa, e tais efeitos não lineares diretos, mas curvilíneos, foram evidenciados (Suh, Badrinarayanan, 2014).

Ainda por esse efeito, o estudo não busca analisar a relação entre nível de internacionalização e nível de criatividade, mas a relação entre o nível de criatividade organizacional sobre o nível de OEI da empresa. Se a orientação empreendedora é tomada como um comportamento (inovatividade, pró-atividade e aversão ao risco), pode-se inferir que um maior nível de criatividade na organização terá relação positiva, principalmente pela sua influência em um maior comportamento inovador, pela relação entre criatividade e processo empreendedor (Zhou, 2008).

Na questão relativa à criatividade, sabe-se que há uma associação entre o nível de criatividade organizacional e o nível de percepção de oportunidades (Henry, 2002; Flowers,Garbin, 1989), e aqui remete-se inclusive à pedagogia empreendedora, enquanto abordagem de desenvolvimento da capacidade de empreender de um indivíduo, observando que o estímulo à criatividade auxilia no estímulo à percepção de oportunidades (Klapper, Tegtmeier, 2010). Para este estudo, a OEI será utilizada a partir da definição de Covin e Miller (2014), com as dimensões de inovatividade (ênfase da empresa em pesquisa, mudança e lançamento de novos produtos), pró-atividade (postura de assertividade e pioneirismo, vinculada à percepção de oportunidades) e aversão ao risco (perfil arrojado nas decisões). Neste sentido, a primeira hipótese deste estudo é a de que:

H1: A Criatividade Organizacional influencia positivamente a Orientação Empreendedora Internacional (OEI).

2.3. Orientação empreendedora internacional e sua relação com as capacidades de reconfiguração e de aprendizado

A área das CDBC, atualmente, apresenta aderência em relação ao objetivo central do presente estudo, uma vez que a mesma aborda aspectos relativos à criatividade organizacional (criação e integração de conhecimentos), bem como da OEI (visão de busca de oportunidades – sensing e seizing). Conforme observado, um maior nível de OEI da empresa indica uma maior conexão com mercados globais, em termos de clientes, fornecedores e aspectos atinentes aos ambientes social, legal e demográfico de negócio. Com isso, a empresa precisa de um maior sensing e seizing (postura de busca e identificação de novos conhecimentos) de forma a explorar estas oportunidades, bem como utilizar das CDBC para criar e integrar novos conhecimentos podendo se reconfigurar, seja em seus processos para atender novas demandas ou especificações do mercado, seja em sua capacidade de aprender e apropriar-se (aprendizado) de novas tecnologias, em função da turbulência dos mercados internacionais.

A reconfiguração é a capacidade de, continuamente (e com propósito), reconfigurar a base de recursos existentes, possibilitando à empresa transformar e explorar o conhecimento (de processos, produto ou de mercado) existente (Ambrosini, Bowman, 2009; Zahra, George, 2002; Teece, Pisano, Shuen, 1997). Já o aprendizado é a capacidade que permite à empresa adquirir, adotar e criar novas capacidades por processos de aprendizado organizacional (Romme, Zollo, Berends, 2010; Bowman, Ambrosini, 2003; Zollo, Winter, 2002).

E estas capacidades permitem às organizações criar novos produtos e/ou novas categorias de produtos de acordo com flutuações de demandas ou mudanças nas expectativas e demandas do mercado consumidor (Helfat, Peteraf, 2003; Verona, Ravasi, 2003), uma vez que a criação de conhecimento envolve a transformação, realinhamento e integração do conhecimento na organização (Lichtenthaler, Lichtenthaler, 2009), sendo essencial absorver conhecimento externo à organização (Chesbrough, 2003). Para Knudsen (2007), esta complementação de conhecimento com agentes externos e o dentro da própria organização são essenciais para o PDNP e o desempenho de inovação. Por isso, as capacidades dinâmicas são uma premissa estratégica para a competitividade empresarial, sendo que a aprendizagem organizacional é uma variável mediadora entre a orientação empreendedora e as demais capacidades dinâmicas (Jiao Wei, Cui, 2010).

Aliás, Calantone, Cavusgil e Schmidt (2004) identificaram que há uma relação positiva entre o nível de adaptação de produto em mercados internacionais e o desempenho de exportação da empresa, e esta característica é importante para competir em mercados estrangeiros, o que implica em aumento de custos e em mudanças internas e na forma pela qual a empresa irá competir no mercado. A identificação de oportunidades em um ambiente dinâmico requer das empresas uma postura empreendedora em que haja a possibilidade e a capacidade de aprendizado e de reconfiguração das suas bases de recursos e processos, havendo relação entre a OEI, as capacidades de reconfiguração e de aprendizado da empresa e o desempenho internacional (Jantunen et al., 2005).

De acordo com Rosenweig e Mazursky (2014), o recurso mais importante para a inovação tecnológica é o conhecimento, o qual pode ser obtido internamente e externamente à empresa. Em seu estudo longitudinal de dezesseis anos em indústrias americanas, os autores concluíram que é o conhecimento externo, principalmente em mercados internacionais, que afeta positivamente a inovatividade organizacional. Portanto, esta sustentação da relação entre conhecimento externo e inovação vem ao encontro das CBDC. Em acréscimo, Di Stefano, Peteraf e Verona (2010) salientam que as capacidades dinâmicas consistem em distintas habilidades, capacidades e rotinas que as organizações ou seus gestores utilizam para desenvolver ou agir sobre suas atuais competências, conhecimentos, recursos e oportunidades, internas ou externas, para atender novas necessidades e adaptarem-se às mudanças, podendo vir a construir uma possível vantagem competitiva sustentável (Barney, Clark, 2007).

Para Covin e Miller (2014), há um entendimento de que o movimento de internacionalização cria acesso a novos paradigmas, clientes, tecnologias, e um contexto de ambientes turbulentos, que pressionam a organização a se reconfigurar. Nesta dinâmica, observa-se que o acesso a conhecimentos externos influencia a mudança na organização (Rosenweig, Mazursky, 2014). Por isso, Tautova (2011) argumenta que a OEI influencia positivamente na adaptação da estratégia empresarial, o que também se compreende por capacidade de reconfiguração. Por sua vez, a criatividade organizacional, como a geração de ideias que sejam novas e potencialmente úteis para integração, construção e reconfiguração do potencial estratégico da organização (capacidades e recursos), pode repercutir positivamente em processos intraorganizacionais de geração de ideias, ampliando o nível de aprendizado organizacional (Sue-Chan, Hempel, 2010; Bratnicka, 2013). Consoante isso, a segunda e a terceira hipóteses deste estudo são apresentadas a seguir:

H2: A Orientação Empreendedora Internacional (OEI) influencia positivamente a Capacidade de Reconfiguração.

H3: A Orientação Empreendedora Internacional (OEI) influencia positivamente a Capacidade de Aprendizado.

2.4. Relação entre as capacidades de tecnologia de informação e de reconfiguração

De acordo com Liu et al. (2013), apesar de pesquisadores e gestores apontarem a Tecnologia de Informação (TI) como uma ferramenta competitiva, há pouco entendimento em como as capacidades de TI afetam o desempenho organizacional. Em especial no campo da agilidade de supply chains, estas capacidades desempenham uma importante dimensão associada à responsividade, competência, flexibilidade e rapidez da organização em relação a ambientes predominantemente turbulentos (Yang, 2014;  Liu et el., 2013; Degroote, Marx, 2013; Chen, Chiang, 2011; Swafford, Ghosh, Murthy, 2006; Zain et al., 2005), o que, em essência, consiste na definição das capacidades dinâmicas.

Em seus estudos, Yang (2014) e Liu et al. (2013) validaram escalas onde analisaram a relação entre as capacidades de TI (infraestrutura, assimilação e aplicação) sobre o desempenho da agilidade da empresa, identificando-as como seu antecedente. Para este estudo, este construto será relacionado à capacidade de reconfiguração das empresas, uma vez que agilidade é definida como a habilidade da empresa em lidar com um ambiente competitivo e apresentar capacidade de rapidamente responder às mudanças de mercado (Sharifi, Zhang, 2001; Yusuf et al., 2004; Yusuf, Sarhadi, Gunasekaran, 1999). Por conseguinte, tendo por base esta premissa, a capacidade de reconfiguração é requerida e a capacidade de TI é uma fonte competitiva para a agilidade empresarial. Assim sendo, foi estabelecida a quarta hipótese de pesquisa:

H4: A Capacidade da Tecnologia de Informação (TI) influencia positivamente a Capacidade de Reconfiguração.

2.5. Habilidade de desenvolvimento de novos produtos e sua relação com as capacidades de reconfiguração e de aprendizado

O Processo de Desenvolvimento de Novos Produtos (PDNP), não somente é importante como um elemento central de empresas industriais, mas está relacionado positivamente com a inovação e com o desempenho do negócio (Bharadwaj, Menon, 2000; Im, Montoya, Workman Jr., 2013; Durmusoglu, Calantone, McNally, 2013). Para Gunday, Ulusoy e Kilic (2011), o PDNP pode ser entendido como um conjunto de estágios que levam um novo produto ao mercado e envolve desde a concepção da ideia até o seu lançamento e sua comercialização (Bhuiyan, 2011; Cooper, Edgett, 2008).

A pesquisa sobre o Desenvolvimento de Novos Produtos (DNP) é importante pois a proficiência neste processo pode contribuir para o sucesso das organizações. E, neste sentido, são amplas as investigações na academia para identificar os seus fatores críticos de sucesso (Sun, Wing, 2005). Talay, Calantone e Voorhees (2014), investigando o setor automobilístico americano, evidenciaram que as empresas precisam desenvolver programas que permitam introduzir de forma contínua e sistemática novos produtos, e que a inovação é um determinante essencial para a sobrevivência neste mercado, mas que estas inovações devem ser extensivas ou contínuas, uma vez que intervalos sem inovação, principalmente de produto, podem representar um impacto negativo. Outro aspecto a ser pontuado quanto ao PDNP é o interesse acadêmico de mais pesquisas investigando relações de causalidade (Page, Schirr, 2008).

Inclusive, Barczak, Griffin e Kenneth (2009), Barczak (2012) e Song, Kawakami e Stringfellow (2010) argumentam que a maior parte da pesquisa em DNP é baseada em contextos norte-americanos e do Oeste Europeu, havendo a necessidade de se desenvolver mais teorias generalizadas e aplicadas a diferentes nações e culturas ou mercados. Portanto, existe a oportunidade de investigações em economia emergentes como é caso dos países do BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), identificando se nestes ambientes os princípios e as práticas conhecidas possuem a mesma eficiência, eficácia e efetividade.

A literatura aponta que empresas com maiores níveis de CDBC tendem a adaptar-se mais rapidamente às mudanças ambientais (Deeds, Decarolis, Coombs, 2000) e, consequentemente, apresentam maior eficiência no DNP. Song e Thieme (2006) consideram que investimentos no desenvolvimento das capacidades dinâmicas associadas ao PDNP pode se tornar uma importante fonte de vantagem competitiva e de renovação, crescimento e adaptação em ambientes turbulentos. Em acréscimo, Wei, Yi e Guo (2013) concluíram que empresas com altos níveis de flexibilidade têm melhor desempenho no PDNP, reconfigurando seus recursos. Já Frishammar, Lichtenthaler e Rundquist (2012) atestam que o PDNP é uma atividade intensiva em conhecimento, e Henard e McFadyen (2012) apontam que a integração de conhecimento é positiva para o DNP, o que também é observado por Brettel et al. (2011).

Neste horizonte, o DNP é uma atividade complexa, dependente de conhecimento e aprendizado, e muito do conhecimento gerado é tácito e não explícito (Goffin, Koners, 2011). Tal conhecimento, somado à orientação estratégica ligada à criatividade no DNP pode trazer melhores resultados às empresas (Kim, Im, Slater, 2013). Kraaijenbrink (2012), por sua vez, identificou que o processo de conhecimento (criação, aplicação, integração e retenção) tem um impacto significativo no desempenho do PDNP, e nexte contexto se observa, de forma efetiva, a relação entre o aprendizado e o DNP.

O presente estudo busca, então, uma base no conceito de HDNP, que é a habilidade de uma empresa em desenvolver, lançar e comercializar novos produtos e/ou serviços (Slater, Narver, 1995; Han, Kim,Srivastava, 1998), e que sejam bem sucedidos.  Isto porque a HDNP possui uma relação positiva com o aprendizado e a inovatividade (Perin et al., 2013), o que pode vir a se transformar em uma estratégia efetiva na ampliação da atuação das empresas em âmbito internacional (Cullen, Parboteeah, 2010; Czinkota, Ronkainen, 2011). Além disso, Jiménez et al. (2014) identificaram um relacionamento entre a orientação empreendedora, a orientação à aprendizagem, a inovação radical e o desempenho em empresas brasileiras, o que fornece suporte às relações propostas neste estudo. Portanto, a quinta e a sexta hipóteses propostas neste estudo são as seguintes:

H5: A Capacidade de Reconfiguração influencia positivamente a Habilidade de Desenvolvimento de Novos Produtos (HDNP).

H6: A Capacidade de Aprendizado influencia positivamente a Habilidade de Desenvolvimento de Novos Produtos (HDNP).

Com base nas hipóteses de pesquisa apresentadas, propõe-se o seguinte Modelo Teórico a ser testado e validado, aliás, conforme mostra a Figura 1.

Figura 1 – Modelo Teórico proposto
Fonte: Elaborada pelos autores.

3. Considerações finais

A proposta deste ensaio teórico foi a de propor e apresentar um Modelo Teórico (vide Figura 1), com suas respectivas hipóteses de pesquisa, a ser testado e validado futuramente, no ambiente industrial brasileiro ou outro contexto de pesquisa de interesse, no que diz respeito à influência da Criatividade Organizacional, da Orientação Empreendedora Internacional (OEI) e das Capacidades Dinâmicas Baseadas em Conhecimento (CDBC), especificamente as Capacidades de Reconfiguração, de Aprendizado e de Tecnologia de Informação (TI), sobre a Habilidade de Desenvolvimento de Novos Produtos (HDNP) das empresas.

Como resultados esperados, esta investigação busca uma maior compreensão entre as relações destes construtos, sustentando a tese de que uma maior Habilidade de Desenvolvimento de Novos Produtos (HDNP) requer o desenvolvimento de um ambiente organizacional criativo, um comportamento empreendedor orientado à internacionalização e uma contínua postura de reconfiguração, de aprendizado e de TI nas empresas. E isto, se bem resolvido, poderá alavancar melhores resultados no Processo de Desenvolvimento de Novos (PDNP) e de inovação, além de maior competitividade junto ao mercado internacional.

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Agradecimento

Agradecemos ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, por financiar este projeto de pesquisa.


1. UCS – Universidade de Caxias do Sul – Brasil. Email: MPanizzo@ucs.br

2. UCS – Universidade de Caxias do Sul – Brasil. Email: gsmilan@ucs.br

3. UCS – Universidade de Caxias do Sul – Brasil. Email:  DToni2@ucs.br

4. Bolsista CNPq (AT-NS) - Email: ritter.pas@gmail.com

5. Bolsista CNPq (IC) - Email: paulasartor1@hotmail.com


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 38 (Nº 07) Año 2017

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