Espacios. Vol. 37 (Nº 35) Año 2016. Pág. 11
Damiana Machado de ALMEIDA 1; Luis Felipe Dias LOPES 2; Vania Medianeira Flores COSTA 3; Rita de Cássia Trindade dos SANTOS 4; Jonathan Saidelles CORRÊA 5; Laércio André Gassen BALSAN 6
Recibido: 26/06/16 • Aprobado: 23/07/2016
RESUMO: O objetivo deste estudo foi associar satisfação no trabalho e o nível de estresse ocupacional com os dados pessoais e ocupacionais de policiais militares. Para tanto, realizou-se uma survey descritiva com abordagem quantitativa. Participaram 519 indivíduos de 97 cidades do Estado do Rio Grande do Sul/Brasil. Aplicou-se um questionário com escalas previamente validadas e os dados foram estatisticamente analisados. Os resultados demonstraram que as variáveis, tempo de atuação e faixa de renda, registraram mais associações significativas com os níveis de satisfação e de estresse, merecendo maior atenção nas definições estratégicas de melhoria dos níveis de satisfação e de estresse. |
ABSTRACT: The aim of this study was associate the level of job satisfaction and the level of occupational stress with the personal and occupational data of the military police. We conducted a descriptive survey, with a quantitative approach. Participated in 519 military police from 97 cities in the Rio Grande do Sul State/Brazil. Was applied a questionnaire with previously validated scales and the data were statistically analyzed. The results showed that variables, time of work and income group, recorded the most significant associations with the levels of satisfaction and stress, deserve greater attention in the strategic definitions of improvement levels of satisfaction and stress. |
É notória a falta de atenção em relação à saúde dos trabalhadores. Em se tratando de policiais militares, o cenário é ainda mais perverso. Essa realidade tem raízes históricas e começou a ganhar outro olhar a partir da década de 90 quando se começou a perceber a Segurança Pública como parte da construção democrática e objeto da ciência social. Essa mudança na maneira de perceber a importância da saúde dos policiais militares é urgente e necessária em função do aumento acelerado da criminalidade urbana (SOUZA e MINAYO, 2005). Fatores físicos, familiares e sociais, influenciam a atividade profissional. Além de outros, tais como: a satisfação no trabalho e o estresse ocupacional.
Entende-se satisfação no trabalho como o vínculo afetivo do indivíduo com o seu labor, estando diretamente relacionada e dependente das políticas e práticas gerenciais da organização (SIQUEIRA, 2008). Satisfação é uma variável de atitude que reflete como a pessoa se sente com relação ao trabalho (SPECTOR, 2012), constituindo-se em um antecedente de desempenho profissional (CALDAS et al., 2013) afetando diretamente o comportamento, a saúde e o bem estar do trabalhador (MARQUEZE e CASTRO MORENO, 2005).
Considerando que uma das profissões que mais sofre de estresse é o policial militar visto que trabalha sob forte tensão em situações que colocam em risco a sua própria vida (COSTA et al., 2007; OLIVIERA e BARDAGI, 2010), outra temática que merece atenção é o estresse ocupacional, que é entendido, como um processo em que o indivíduo percebe demandas do trabalho como estressores, os quais, ao exceder sua habilidade de enfrentamento, provocam no sujeito reações negativas (PASCHOAL e TAMAYO, 2004).
Por esse motivo é tão relevante estudar esse fator no exercício da função dos profissionais da Segurança Pública, uma vez que, o estresse ocupacional em policiais pode apresentar como consequência a redução da produtividade, o absentismo, o aumento do número de relações de conflito com os demais, problemas físicos e emocionais e pouca satisfação com a vida (SELOKAR et al., 2011), cuja evolução dos sintomas, em casos extremos, pode levar ao desespero e até mesmo ao suicídio (VASCONCELOS, 2011).
A partir desse contexto, o objetivo geral do presente estudo foi associar o nível de satisfação no trabalho e o nível de estresse ocupacional com os dados pessoais e ocupacionais de policiais militares. Como objetivos específicos: (1) identificar o nível de satisfação no trabalho dos policiais militares pesquisados; e (2) identificar o nível de estresse ocupacional dos policiais militares pesquisados.
Assim, por meio desta pesquisa, espera-se trazer novos elementos para que os gestores possam conhecer e compreender as respostas do seu efetivo em relação ao estresse e à satisfação no trabalho, a fim de implementar estratégias para melhorar a satisfação e reduzir o estresse dos policiais militares, o que trará melhores resultados para o indivíduo, para a organização e para a sociedade como um todo.
As organizações almejam o sucesso, enquanto o colaborador espera ser reconhecido, respeitado e recompensado de forma justa pelo seu trabalho (KUNKEL e VIEIRA, 2012). Na expectativa de suprir as necessidades individuais, iniciou-se um movimento preocupado em entender como ocorre a satisfação no trabalho e sua relação com a correspondência entre os esforços individuais e as vantagens oferecidas pela organização (GIAUQUE et al., 2012).
O conceito de satisfação representa um vínculo afetivo do indivíduo com o trabalho (SIQUEIRA e GOMIDE JÚNIOR, 2004). A satisfação no trabalho refere-se à compreensão do quanto o colaborador vivencia experiências prazerosas na organização (SIQUEIRA, 2008).
A satisfação no trabalho se constitui em estado emocional prazeroso, positivo, resultante do julgamento do trabalho ou da experiência de alguém. Os principais fatores que influenciam a satisfação estão relacionados à organização, aos grupos e às pessoas (ROTHMANN e COOPER, 2009). Apesar de tal definição, alguns autores, consideram o conceito de difícil compreensão em função da sua subjetividade, pois reflete experiências e percepções do colaborador que influenciam as condições de trabalho e a sua situação econômica e social (FIGUEIREDO, 2012).
Como observado, a satisfação no trabalho depende de uma série de fatores, necessitando monitoramento constante, uma vez que acarreta numa série de aspectos negativos, como: absenteísmo, rotatividade e baixo desempenho (ROTHMANN, 2009).
Siqueira (2008), visando medir satisfação no trabalho desenvolveu uma escala a partir de uma visão multidimensional, onde a expressão “satisfação no trabalho” refere-se à totalização do quanto o indivíduo vivencia experiências prazerosas no contexto do trabalho nas organizações. Desse modo, cada uma das cinco dimensões de satisfação no trabalho compreende uma origem de tais experiências prazerosas sendo, portanto, utilizadas as expressões “satisfação com...” (o salário, os colegas, a chefia, as promoções e a natureza do próprio trabalho) (SIQUEIRA, 2008). Essas dimensões realçam a importância das relações estabelecidas entre o trabalhador em atividade e três outros elementos: seus pares, seu trabalho e a organização em que trabalham (ANDRADE et al., 2015). Mensurar a satisfação no trabalho significa avaliar o quanto os investimentos realizados pela empresa (ex. salários, promoção), o quanto o relacionamento com os colegas e as chefias, e o quanto a realização das tarefas propiciam ao colaborador sentimentos positivos (SIQUEIRA, 2008).
A temática Estresse Ocupacional desenvolveu-se a partir da década de 70, no intuito de analisar as condições de trabalho, bem como suas consequências para a saúde e o desenvolvimento do indivíduo (HURRELL e SAUTER, 2011). O estresse ocupacional é definido como um processo em que o indivíduo percebe demandas do trabalho como estressores, os quais, ao exceder sua habilidade de enfrentamento, provocam no sujeito reações negativas (PASCHOAL e TAMAYO, 2004). Ainda segundo os autores, para determinado fator ser considerado estressor, esse deve ser reconhecido como tal pelo colaborador. Os estressores ocupacionais têm natureza física ou natureza psicossocial, sendo este último o mais estudado e relacionado a fatores intrínsecos do trabalho, como o relacionamento interpessoal, assim como a fatores ligados à carreira.
A relação entre estresse e trabalho é notável, principalmente em atividades que exigem esforços físicos, processos repetitivos e apresentam um ambiente desfavorável, mesmo que a pessoa se encontre bem fisicamente. Assim, é necessário que exista um equilíbrio entre o trabalho desenvolvido e a capacidade do colaborador em desenvolvê-la (BARBOSA et al., 2010).
A literatura internacional aponta alguns fatores que predispõem ao estresse, como a natureza da tarefa e do papel ocupacional, as características pessoais e as variáveis de natureza situacional e pessoal, como suporte social e conflitos. Ainda, esses autores afirmam que as pesquisas nacionais apresentam outros fatores de predisposição como sobrecarga de trabalho, interferência família-trabalho, clima organizacional, gênero, prática de atividade física, valores pessoais, falta de autonomia, alto grau de esforço físico e mental, falta de participação na tomada de decisão, riscos de segurança, suporte social e intervenções para manipular o estresse (CANOVA e PORTO, 2010).
O estresse ocupacional constitui-se na associação de vários sintomas apresentados pelo organismo, podendo desencadear doenças de ordem física e mental, cujas consequências, podem se manifestar de diversas formas, tais como: faltas, atrasos, saídas antecipadas, ausências, turnover, retrabalhos e até mesmo hostilidade entre as pessoas (MARRAS e VELOSO, 2012).
Os trabalhadores com estresse crônico têm mais que o dobro de chances de desenvolver problemas metabólicos (CHANDOLA, BRUNNER e MARMOT, 2006), distúrbios do sono, fadiga crônica, diabetes e síndrome de Burnout (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2012), ocasionando prejuízos para as organizações em termos financeiros devido a atendimentos médicos, afastamentos, absenteísmo, redução da eficácia e acidentes de trabalho (JEX et al., 2012). Apesar da dificuldade em mensurar os custos do estresse ocupacional, é obrigação da empresa zelar pela saúde física e mental de seus colaboradores (MARRAS e VELOSO, 2012). Principalmente ao se considerar que o estresse pode colocar em perigo o bem-estar do colaborador ou mesmo a sua sobrevivência (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2012).
No intuito de atender os objetivos da pesquisa, realizou-se uma survey descritiva de caráter quantitativo com recorte transversal (BABBIE, 2001 e GIL, 2007).
A amostragem foi do tipo não probabilística por conveniência, uma vez que a participação dos sujeitos foi voluntária e dependia da sua disponibilização pela organização para participação no momento da coleta. Participaram da pesquisa somente aqueles que já estavam trabalhando a mais de um ano na instituição, sendo excluídos da amostra indivíduos que se encontravam de laudo, férias, atestado ou licença de qualquer natureza. Assim, a amostra final ficou composta de 519 policiais que trabalhavam distribuídos em 97 municípios do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Após a autorização do Comando Geral da Brigada Militar e aprovação do Comitê de ética sob Certificado de Apreciação Ética (CAAE: 31304914.4.0000.5346), passou-se para a coleta de dados que foi realizada entre julho e outubro de 2014, por meio de um questionário composto por 60 itens estruturados em três partes, sendo as duas partes finais apoiadas em propostas de medidas já desenvolvidas e validadas.
A primeira parte, denominada de Dados Pessoais e Ocupacionais, foi composta por 12 itens que recuperaram a condição social, contexto familiar, sexo, idade, formação acadêmica, localidade de exercício, tempo de atuação e características do cargo.
A segunda parte foi formada pela Escala de Estresse no Trabalho (EET), proposta e validada por Paschoal e Tamayo (2004), sendo constituída por 23 itens que medem diferentes estressores, bem como a reação a eles. A escala apresenta um único fator cujo coeficiente de confiabilidade é α = 0,91. Na mensuração desta escala, utilizou-se uma escala do tipo Likert, de cinco pontos, onde a atribuição do número 1 representa “Discordo totalmente” e o número 5, “Concordo Totalmente”.
Por fim, na terceira parte do questionário utilizou-se a Escala de Satisfação no Trabalho (EST) de Siqueira (2008), constituída por 25 itens. A EST analisa o contentamento no trabalho a partir de cinco dimensões: satisfação com os colegas de trabalho (Fator 1, cinco itens, α = 0,86), satisfação com o salário (Fator 2, cinco itens, α = 0,92), satisfação com a chefia (Fator 3, cinco itens, α = 0,90), satisfação com a natureza do trabalho (Fator 4, cinco itens, α = 0,82) e satisfação com as promoções (Fator 5, cinco itens α = 0,87). Para a medição do nível de satisfação foi feito o uso de uma escala do tipo Likert de sete pontos (1- totalmente insatisfeito; 2 - muito insatisfeito; 3 - insatisfeito; 4 - indiferente; 5 - satisfeito; 6 - muito satisfeito; 7 - totalmente satisfeito).
A coleta consistiu na aplicação dos questionários, pessoalmente, aos sujeitos que aceitavam participar da pesquisa, momento no qual recebiam uma explanação sobre os objetivos do estudo, sobre as normas éticas, sobre a confidencialidade dos dados, o tratamento de dados e a disponibilidade dos resultados.
Juntamente com os questionários, os indivíduos interessados em participar da pesquisa recebiam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual era assinado e preenchido pelo participante.
Finda essa etapa, os dados coletados foram analisados com o auxílio do software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 21 para Windows. Inicialmente, realizaram-se análises descritivas (de tendência central e de dispersão) e exploratórias para investigar a exatidão da entrada dos dados, a distribuição dos casos omissos e a descrição da amostra. Posteriormente, utilizou-se o indicador de consistência interna alpha de Cronbach, com o propósito de verificar a confiabilidade das medidas dos construtos teóricos utilizados no questionário (HAIR et al., 2009).
Para identificar os níveis de satisfação e de estresse, os dados em escala ordinal (Likert) foram transformados em escala de razão, de acordo com três categorias, a saber: alto (média de 66,67% a 100%), médio (de 33,34% a 66,66%) e baixo (de 0 a 33,33%) (PASQUALI, 1999). Por fim, para avaliar as associações entre as variáveis foi realizado o teste Qui-quadrado, que considerou estatisticamente significantes as diferenças que representaram um p<0,05 (HAIR et al., 2009).
Em relação ao perfil da amostra, observou-se um predomínio de indivíduos do sexo masculino (83,43%), com idade superior aos 31 anos (66,47%), casados (72,45%), com um filho (42,45%). Em sua maioria apresentavam o ensino médio completo (59,15%). O perfil ocupacional é predominantemente constituído por policiais militares que possuem de 21 a 30 anos (31,98%) de atuação na Brigada Militar, soldados (58,76%), que exercem atividades externas (42,58%), com renda entre 1 a 3 salários mínimos (52,41%), e dividem igualmente a responsabilidade pela manutenção financeira da família com outra pessoa (35,45%).
Na medição da confiabilidade das escalas, os alphas de Cronbach obtidos neste estudo para a Escala de Estresse no Trabalho (EET) foi α=0,932 e para a Escala de Satisfação no Trabalho (EST) foi α=0,940 confirmando um ótimo nível de consistência interna e confiabilidade dos dados obtidos pelas escalas (HAIR, 2009).
Em relação à satisfação no trabalho, verificou-se que a maioria dos participantes da pesquisa (79,38%) apresentou um nível médio de satisfação no trabalho, 18,69% apresentaram nível baixo de satisfação e 1,93% uma alta satisfação. Com esses resultados, observa-se que a maior parcela dos indivíduos apresenta média satisfação com o seu trabalho.
Percebem-se indícios de um resultado preocupante que se refere ao total de pesquisados que se encontram com baixa satisfação no trabalho (18,69%), associado ao dado de que apenas 1,93% dos policiais militares pesquisados apresentaram alta satisfação no trabalho, uma vez que, segundo Martinez e Paraguay (2003) a satisfação no trabalho pode se manifestar sobre a saúde, a qualidade de vida e comportamento do indivíduo ocasionando consequências para os indivíduos e para as organizações.
Em relação ao estresse ocupacional, a maioria dos participantes da pesquisa (72,39%) apresenta nível médio de estresse ocupacional, enquanto que 16,99% demonstraram alto nível e 10,62% baixo nível. Autores como Sauter et al., em 1998, mencionavam que, nos Estados Unidos e na Europa, o estresse já representava uma das principais causas de incapacitação para o trabalho (SAMPAIO e GALASSO, 2012).
Os resultados obtidos indicam a necessidade de ações, para que haja uma diminuição do nível médio de estresse, uma vez que, o estresse traz repercussões em três níveis: individual, grupal e organizacional. No individual, os autores apontam para: queda da eficiência, ausências repetidas, insegurança nas decisões, protelação na tomada de decisão, sobrecarga voluntária de trabalho, uso abusivo de medicamentos, irritabilidade constante, explosão emocional, grande nível de tensão, sentimento de frustração, sentimentos de onipotência, desconfiança e agravamento de doenças (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2012).
No grupal: competição não saudável, politicagem, comportamento hostil, discussões inúteis, pouca contribuição no trabalho, trabalho isolado dos demais membros, não compartilhamento de problemas, alto nível de insegurança e grande dependência do líder. No nível organizacional ocorrem prejuízos como greves, atrasos constantes nos prazos, absenteísmo, alta rotatividade de funcionários, altas taxas de doenças, baixo nível de esforço e vínculos empobrecidos. Além de relacionamento entre os colegas marcados por rivalidade, desconfiança, desrespeito e desqualificação. No caso do policial militar existem outros fatores como o trabalho noturno, trabalho em turnos e exposição a altas temperaturas que contribuem para comprometer a saúde, desde a fadiga crônica até a incapacidade laboral. Para esses casos, fazem-se necessárias intervenções no ambiente físico a fim de minimizar as doenças ocupacionais (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 2012).
Por fim, buscou-se identificar as associações significativas entre o nível de satisfação no trabalho (e suas dimensões) e o nível de estresse ocupacional, com as variáveis, faixa etária, escolaridade, faixa de renda e tempo de atuação na instituição.
Na tabela 1, são apresentadas as variáveis que apresentaram uma quantidade maior de associações significativas através do teste Qui-quadrado, considerando estatisticamente significante as diferenças que representaram um p<0,05.
Tabela 1 – Associação entre o nível de satisfação no trabalho (e suas dimensões) e o nível de estresse ocupacional,
com a faixa etária, escolaridade, faixa de renda e tempo de atuação na instituição
Nível |
Variáveis |
|||
Faixa Etária |
Escolaridade |
Faixa de Renda |
Tempo de Atuação |
|
Satisfação no Trabalho (geral) |
p=0,0053 |
p = 0,1291 |
p≤0,0001 |
p≤0,0001 |
Satisfação com os colegas |
p=0,7161 |
p = 0,1003 |
p≤0,0001 |
p = 0,7907 |
Satisfação com o salário |
p≤0,0001 |
p=0,0205 |
p≤0,0001 |
p≤0,0001 |
Satisfação com a chefia |
p=0,0005 |
p = 0,0710 |
p = 0,0026 |
p=0,0002 |
Satisfação com a natureza do trabalho |
p = 0,0526 |
p = 0,4794 |
p≤0,0001 |
p≤0,0001 |
Satisfação com as promoções |
p≤0,0001 |
p=0,0033 |
p≤0,0001 |
p≤0,0001 |
Estresse Ocupacional |
p=0,0477 |
p = 0,2131 |
p=0,0440 |
p=0,0092 |
Associações significativas (p <0,05); n=519.
Fonte: Dados da pesquisa.
Ao analisar a Tabela 1, identifica-se associação significativa entre a faixa etária e os níveis de satisfação no trabalho (p=0,0053); com o salário (p≤0,0001); com a chefia (p=0,0005); e com as promoções (p≤0,0001). Acima de 30 anos a Satisfação com as promoções, com o salário, com a chefia, bem como a Satisfação Geral dos indivíduos é maior do que para os indivíduos com menos de 30 anos de idade.
Verificou-se também, uma relação significativa entre a faixa etária e o nível de estresse. A quantidade de indivíduos com mais de 30 anos que apresentam um alto nível de estresse é menor do que a quantidade de indivíduos altamente estressados com menos de 30 anos de idade.
Não se comprovou associação significativa entre faixa etária e os níveis de satisfação com os colegas (p=0,7161) e com a natureza do trabalho (p=0,0526), indicando que a idade não interfere em relação a esses fatores.
Quanto à associação entre a escolaridade e demais dimensões, identificou-se uma associação significativa com os níveis de satisfação com o salário (p=0,0205); e com as promoções (p=0,0033) o que indica que o grau de instrução interfere de maneira negativa na satisfação financeira. A falta de promoção na carreira e a importância simbólica que essa representa, transforma-se em fonte de pressão e de disputas dentro da organização. Dependendo da forma como o funcionário interpreta tal situação poderá desencadear o estresse ocupacional (MARRAS e VELOSO, 2012).
Salienta-se que não se identificou associação entre escolaridade e os níveis de satisfação no trabalho (p=0,1291), com os colegas (p=0,1003), com a chefia (p=0,0710), com a natureza do trabalho (p=0,4794), e com o estresse (p = 0,2131). Esses achados vão ao encontro dos resultados obtidos por Martinez (2002), que também não identificou associação entre o nível de escolaridade e a satisfação no trabalho, vindo a indicar que empregados de todos os níveis de escolaridade tem níveis de satisfação no trabalho semelhantes.
As associações com a faixa de renda demonstraram que com o aumento da renda ocorre um aumento do número de indivíduos que apresentam uma maior satisfação no trabalho, satisfação com o salário, com a chefia, com a natureza do trabalho e com as promoções. De modo contrário, quanto maior a faixa de renda, menor é o número de indivíduos estressados.
Constatou-se ainda que, a grande maioria dos indivíduos que recebe até 6 salários mínimos apresenta um nível de satisfação com o salário, com as promoções, bem como satisfação geral abaixo de 50%. A partir de 7 salários mínimos esse cenário inverte, sendo que, em sua maioria, os indivíduos apresentam índices superiores a 50% de satisfação.
Verificou-se também que, indivíduos com uma renda menor apresentam um estresse maior. Nesse caso específico, indivíduos que recebem até 6 salários mínimos, em sua maioria, apresentaram um nível de estresse superior a 50%. De modo contrário, os sujeitos com um salário superior a 6 salários mínimos, em sua maioria, apresentaram um nível de estresse inferior aos 50%.
Tais resultados demonstram que a faixa de renda é uma variável importantíssima, podendo ser utilizada de modo a reverter positivamente os níveis de satisfação e de estresse que não estejam satisfatórios. Martinez (2002) ensina que o nível salarial é a principal causa de insatisfação entre os empregados. No entanto, a autora não identificou associação entre a faixa de rendimentos e o nível de satisfação no trabalho, o que levou a concluir que a insatisfação é generalizada e semelhante em todas as categorias salariais.
No que se refere à associação entre o tempo de atuação dos pesquisados na Brigada Militar e os níveis de satisfação no trabalho registrou-se uma associação positiva. Assim como, ao associar a satisfação com o salário; com a chefia; com a natureza do trabalho; com as promoções, e com os níveis de estresse. Esse resultado, somente não se aplica para indivíduos que possuem até 4 anos de atuação na organização. Para esse período o nível de satisfação é um pouco superior do que para os indivíduos que possuem de 5 a 10 anos de atuação. A partir dos 10 anos a satisfação tende a aumentar novamente, progredindo até a aposentadoria. Achados parecidos formam encontrados por Martinez (2002) que identificou que quanto ao tempo de empresa, empregados com menos de 3 anos de empresa apresentam maiores níveis de satisfação que os demais. Provavelmente tal fato, se deve ao período denominado de “lua de mel”, o qual é marcado pelo entusiasmo e exuberância inicial com o novo emprego em que ocorre um aumento da satisfação seguida de uma fase subsequente de declínio chamada de período de “ressaca” (BOSWELL, TICHY e BOUDREAU, 2005). Não foi encontrada associação significativa ao associar o tempo de atuação com a satisfação com os colegas (p=0,7907). Após analisar a associação dos níveis de satisfação no trabalho e de estresse ocupacional dos pesquisados, com a faixa etária, escolaridade, renda e tempo de atuação na instituição, passa-se para apresentação das considerações finais do presente estudo.
Ao identificar onível de satisfação no trabalho dos policiais militares, os dados obtidos revelaram que em geral, os policiais apresentam um nível médio de satisfação no trabalho. Contudo, 18,69% dos policiais demonstraram baixa satisfação no trabalho, o que é preocupante visto que esse resultado pode acarretar prejuízos para a Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, para a sociedade, para o indivíduo e também para seus familiares. Tais prejuízos compreendem também o contexto organizacional, no que se refere aos valores, à percepção de justiça, ao suporte e a reciprocidade nas relações.
Da mesma forma, os policiais militares apresentaram, em sua maioria, um nível médio de estresse ocupacional. Esse resultado merece atenção visto que caso não sejam providenciadas intervenções visando reverter esse quadro, corre-se o risco de tal índice intensificar-se, atingindo um alto nível de estresse, o que pode comprometer a saúde física e mental do policial, colocando em risco a sua própria segurança e a da sociedade, que tanto depende de suas ações.
Foi verificado que indivíduos com maior idade apresentam uma maior satisfação com as promoções, com o salário e com a chefia. Também constatou-se que a idade está relacionada a menores índices de estresse.
Quanto à escolaridade foi possível identificar que maiores níveis de formação estão associados níveis menores de satisfação com o salário e satisfação com as promoções. As demais relações não apresentaram uma associação significativa.
Em relação a faixa de renda identificou-se associações significativas com todas as variáveis pesquisadas, demonstrando-se assim, uma variável determinante para os níveis de satisfação e estresse. O aumento da faixa de renda está diretamente associado a um aumento do número de indivíduos com uma maior satisfação no trabalho, satisfação com o salário, com a chefia, com a natureza do trabalho e com as promoções e a um menor número de indivíduos estressados. Essa relação merece atenção por parte dos governantes, pois tais resultados demonstram que os prejuízos financeiros decorrentes do estresse ocupacional e da baixa satisfação podem ser minimizados através de ajustes na faixa de renda dos policiais.
Também verificou-se uma associação positiva entre o tempo de atuação dos policiais e os níveis de satisfação no trabalho, satisfação com o salário, satisfação com a chefia, satisfação com a natureza do trabalho, satisfação com as promoções, e níveis de estresse ocupacional. Por sua vez, ao analisar a associação entre os níveis de satisfação com os colegas e o tempo de atuação na Brigada Militar, não foram identificadas associações significativas.
Em síntese, merecem destaque as variáveis tempo de atuação e faixa de renda, que registraram mais associações significativas com os níveis de satisfação e de estresse. Entende-se que merecem atenção, pois poderão ser utilizadas de modo a reverter os níveis de satisfação e de estresse. Em contrapartida, dentre as variáveis pesquisadas, a variável escolaridade, foi a que menos registrou associações significativas. Interferindo apenas no que se refere a satisfação com o salário e com as promoções.
Finalizando, aponta-se como uma das limitações desse estudo a dificuldade em comparar os achados com outras pesquisas. O fato da coleta dos dados ter ocorrido em apenas um estado brasileiro também é outro limitador. Apesar de essas limitações e do fato de ser um estudo limitado a uma corporação, este trabalho apresenta um tema de grande importância e que vem despertando o interesse da população, haja vista o clamor social por maior segurança pública.
Sugere-se, para estudos futuros, replicar esta pesquisa com uma amostra composta por outras polícias militares, e até mesmo em outros países, a fim de realizar análises comparativas. Também se faz necessário a utilização de um corte longitudinal a fim de verificar as mudanças da satisfação e estresse ao longo do tempo.
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1. Mestra em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Doutoranda em Administração - UFSM, Professora da UFSM e SOBRESP, Brasil. E-mail: adm.damiana@gmail.com
2. Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Professor Associado da UFSM, Brasil. E-mail: lflopes67@yahoo.com.br
3. Doutora em Administração pela Universidade Federal da Bahia - UFBA, Professora Adjunta da UFSM, Brasil. E-mail: vania.costa@ufsm.br
4. Mestranda em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Brasil. E-mail: rita.santos0606@gmail.com
5. Mestrando em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Brasil. E-mail: jonathan.saidelles@gmail.com
6. Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Doutorando em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Brasil. E-mail: laerciobalsan@yahoo.com.br