Espacios. Vol. 37 (Nº 34) Año 2016. Pág. 26
Rosália Beber de SOUZA 1; Luis Fernando da Silva ANDRADE 2; Dany Flávio TONELLI 3; André Luiz de PAIVA 4; Mozar José de BRITO 5
Recibido: 22/06/16 • Aprobado: 30/07/2016
3. Procedimentos Metodológicos
RESUMO: Neste artigo apresentamos estudo bibliométrico e sociométrico sobre a produção científica no campo da estratégia organizacional e sua relação com a perspectiva teórico-metodológica da análise de discurso crítica. Para o estudo, foram coletados, após aplicação de certos filtros, 248 artigos publicados entre os anos 2000 e 2015 e indexados na core collection da base Web of Knowledge. As análises foram realizadas por meio do software Citespace e mostraram que a utilização da análise de discurso crítica no estudo da estratégia tem crescido nos últimos anos, sobretudo em países como a Inglaterra devido à influência de autores que desenvolveram essa abordagem. |
ABSTRACT: This article presents a bibliometric and sociometric study of the scientific production in the field of organizational strategy and its relationship with the theoretical and methodological perspective of critical discourse analysis. For the study, we collected after application of certain filters, 248 articles published between 2000 and 2015 and indexed in the core collection of the Web of Knowledge. Analyses were performed using the software Citespace and showed that the use of critical discourse analysis in the study strategy has grown in recent years, particularly in countries like England because of the influence of authors who developed this approach. |
A estratégia organizacional se desenvolveu como um campo de perspectivas teóricas e práticas ao final da Segunda Guerra Mundial (1945), principalmente nos Estados Unidos, e uma série de abordagens e direcionamentos para o estudo desse fenômeno têm sido (des)construídas a partir de então, tomando como apoio diferentes correntes teóricas e campos do conhecimento (Mintzberg, Ahlstrand & Lampell, 2010).
Nessa direção, os estudos discursivos críticos, que têm como objetivo intervir na ordem discursiva expandindo a consciência crítica dos falantes, podem contribuir proporcionando-nos ferramentas importantes para a análise.
Recentemente, segundo Vaara (2010), a academia tem começado a prestar atenção aos aspectos discursivos do ‘fazer estratégico’ (Knights & Morgan, 1991; Hendry, 2000; Samra-Fredericks, 2005; Seidl, 2007). Esses estudos têm elucidado no desvelamento de suposições subjacentes da estratégia como corpo de conhecimento, o papel central das narrativas e outras formas de discurso nas organizações.
Como apontado por Vaara (2010), a Análise de Discurso Crítica é uma abordagem metodológica que nos permite examinar o papel constitutivo do discurso na sociedade contemporânea. Especialmente, argumenta que a ADC pode avançar nossa compreensão sobre: 1) o papel central dos textos formais de estratégia; 2) a construção discursiva de concepções de estratégia e subjetividade em estratégia organizacional; 3) o processo de legitimação através dos discursos de estratégia; 4) a ideologia subjacente nos discursos de estratégia como um corpo de conhecimento e práxis.
Dessa forma, este estudo bibliométrico e sociométrico tem como objetivo principal realizar um levantamento das principais produções científicas sobre as temáticas 'Estratégia' e 'Análise de Discurso Crítica' a fim de verificar possibilidades para pesquisas futuras tanto com relação ao arcabouço teórico quanto às alternativas metodológicas. Dessa forma, será apresentado um panorama da produção científica sobre essas duas temáticas nos períodos de 2000 a 2015.
Compreendendo que todo processo de pesquisa exige rigor metodológico e sistematização, esperamos auxiliar na identificação de lacunas e informações relevantes que poderão ser utilizadas pelos pesquisadores dessas áreas.
Este artigo possui, como estrutura, uma breve apresentação sobre o arcabouço teórico das temáticas estratégia e discurso, seguida da metodologia utilizada e dos resultados obtidos.
Segundo Pettigrew, Thomas e Whittington (2002), os estudos em estratégia organizacional se desenvolveram a partir do final da Segunda Guerra Mundial (1945), sobretudo nos Estados Unidos, influenciado por estudos da economia neoclássica e da ciência política clássica que se dedicavam à investigar a tomada de decisão nas organizações. Ao longo dos anos, pesquisadores interessados em discutir esse fenômeno incorporaram contribuições de áreas como matemática, biologia, estatística, entre outras, de modo que foi construído um campo de estudos próprio, distanciando-se dos estudos organizacionais e outras áreas da Administração ao criarem espaços de discussão e periódicos exclusivos.
Nessa direção, Whittington (2002) argumenta que o campo da estratégia pode ser classificado em quatro perspectivas: clássica, evolucionária, processual e sistêmica. A primeira perspectiva, clássica, é marcada pelo pensamento econômico neoclássico e por metáforas militares que preconizavam o planejamento e o cálculo racional para o alcance de objetivos e metas. Ao passo que a perspectiva evolucionária questiona a eficiência do planejamento estratégico e do cálculo racional de longo prazo, atribuindo às forças de mercado e à dinâmica da economia a posição de direcionadores da sobrevivência da organização, tornando o controle de custo a melhor estratégia possível. Por sua vez, a perspectiva processual se distancia das duas anteriores ao questionar tanto a racionalidade dos tomadores de decisão quanto o poder das forças de mercado em garantir a sobrevivência, que passa a ser então um produto de processos intraorganizacionais, de modo que a estratégia se desenvolveria de forma emergente e incremental. Por fim, a perspectiva sistêmica se recusa a reconhecer a universalidade de qualquer estratégia e das perspectivas anteriores, defendendo que a estratégia deve ser pensada em um contexto social e histórico, de modo a atender as disposições de um ambiente institucional, devendo ser sensível do ponto de vista sociológico.
Com base nessas perspectivas, é necessário destacar, contudo, que os estudos em estratégia, sobretudo nas abordagens clássica, evolucionária e processual, se apoiam na economia como área de conhecimento basilar. Dessa forma, certos aspectos da atividade estratégica comumente deixam de ser tratados com maior interesse (Kirscbaum & Guarido Filho, 2011).
Entretando, segundo esses autores,
Embora proporcionalmente sejam ainda pouco explorados na área, os estudos de base sociológica vêm ganhando relevância no campo, e é cada vez mais frequente a presença de reflexões de base sociológica que permeiam o tratamento analítico do fenômeno da estratégia nas organizações, haja vista o interesse crescente por conceitos como os de prática social, normas sociais, valores, redes e instituições nos estudos da área (Kirschbaum & Guarido Filho, 2011, p. 16).
Dentre esses conceitos que estão sendo tratados, figuram os aspectos discursivos, entendidos como a ponte entre a identidade social dos estrategistas e sua atividade (Alvesson & Karreman, 2000; Hardy; Palmer & Phillips, 2000).
O termo Linguística Crítica (LC) foi utilizado pela primeira vez na década de 70 por um grupo de pesquisadores da Grã-Bretanha que desenvolveu uma abordagem de estudos no campo da linguagem distinto do que havia até então. A publicação do livro Linguagem e Controle (Fowler, Kress, Hodge & Trew, 1991), em 1979, teve grande repercussão entre os linguistas e demais pesquisadores da época interessados em entender a relação entre textos, ideologia e poder. Para Fowler et al. (1991, p. 89), a LC “propõe uma pesquisa que use instrumentos linguísticos próprios e com referência a contextos históricos e sociais relevantes, para trazer a ideologia, normalmente escondida pela naturalização do discurso, à superfície para inspeção”.
De acordo com Magalhães (2004, p. 2), “além de se oporem à linguística estruturalista e gerativista, os linguistas críticos fazem também uma crítica à sociolinguística, apontando como problemática a divisão entre os conceitos de ‘linguagem’ e ‘sociedade’”. Enquanto para os linguistas críticos, há uma obrigatoriedade de se falar destes dois conceitos, a relação dialética entre linguagem e sociedade é desconsiderada pela sociolinguística, que discute apenas a influência da sociedade sobre os usos linguísticos (Fowler et al. 1991).
Já nos anos 80, surgiram outros estudos voltados para um tipo de abordagem mais crítico acerca da linguagem. Dentre eles, ressaltamos o trabalho de Norman Fairclough, na Universidade de Lancaster, que, com a publicação de um artigo no Journal of Pragmatics em 1985, usou, pela primeira vez, o termo Análise de Discurso Crítica.
Para Wodak (2001), a Análise de Discurso Crítica (ADC) pode ser considerada uma expansão da Linguística Crítica (LC). Já Magalhães (2004, p. 3) acredita que:
Não cabe reduzir a ADC à LC, pois há questões teóricas e práticas que foram explicitadas pela ADC, contribuindo para o avanço dos debates. A ADC tem se dedicado à análise de textos, eventos discursivos e práticas sociais no contexto sócio-histórico, principalmente no contexto das transformações sociais, propondo uma teoria e um método para o estudo do discurso. Enquanto a LC desenvolveu um método para analisar um pequeno corpus textual, a ADC oferece uma contribuição significativa da lingüística para debater questões da vida social contemporânea, como o racismo, o sexismo (a diferença baseada no sexo), o controle e a manipulação institucional, a violência, as transformações identitárias, a exclusão social (p. 3).
É importante salientar, contudo, que a AD é uma área de estudo muito diversificada. Como afirma Fairclough (2001),
suas abordagens podem ser divididas como ‘não-críticas’ e ‘críticas’. Estas diferem daquelas não apenas na descrição das práticas discursivas, mas também por mostrarem como o discurso é moldado por relações de poder e ideologias e os efeitos construtivos que o discurso exerce sobre as identidades sociais, as relações sociais e os sistemas de conhecimento e crença, nenhum dos quais é normalmente aparente para os participantes do discurso (p. 31).
A ADC se consolidou como disciplina no início da década de 90, quando se reuniram, em um simpósio em Amsterdã, Teun van Dijk, Norman Fairclough, Gunther Kress, Theo van Leeuwen e Ruth Wodak (Wodak, 2001). Cada um desses teóricos deu uma contribuição diferente para a ADC. Há então diferentes vertentes para se analisar o discurso sob a perspectiva crítica, pois depende da maneira pela qual essas vertentes interpretam a mediação entre o texto e o social. Sendo assim, segundo Fairclough e Wodak (2000), a ADC privilegia: a linguística crítica sistêmica; a semiótica social; a mudança social e mudança no discurso; o exame sociocognitivo, o método histórico-discursivo; as análises da leitura e; a Escola Duisburg.
Contudo, independente de suas vertentes, segundo Silveira (2009),
a ADC se ocupa dos problemas sociais e analisa, com visão crítica, os aspectos linguísticos e semióticos dos processos e dos problemas sociais, a fim de propor que as mudanças sociais e políticas na sociedade contemporânea incluem um elemento discursivo substancial de mudança cultural e ideológica (p.11).
E nessa direção, percebemos que o interesse pelos aspectos discursivos da estratégia tem aumentado nos últimos anos, inclusive por autores alinhados à perspectiva crítica (Cornelissen, Holt & Zundel, 2011; Fenton & Langley, 2011; Rouleau & Balogun, 2011; Vaara, 2010; Mantere & Vaara, 2008).
Essa relação tem se tornado relevante na medida em que é reconhecido que indivíduos se envolvem em práticas discursivas que possibilitam o acesso a recursos que promulgam ou impedem a construção/reprodução da estratégia (Hardy et al. 2000). Além disso, a partir dos discursos torna-se possível identificar como as relações de poder moldam a constituição da estratégia (Knights & Morgan, 1991).
Os discursos de estratégia, conforme Heracleous (2006), referem-se a um grupo de textos, orais ou escritos, localizados em um contexto social permeado por características estruturais e inter-textuais que possuem efeitos construtivos e funcionais relacionados com a atividade estratégica nas organizações.
Os discursos, segundo Paroutis e Heracleous (2013), possuem um papel constitutivo, de modo que não são apenas recursos mas, também, exercem pressão nos agentes. Os agentes da estratégia não usam o discurso aleatoriamente. Através de práticas sociais moldadas por discursos dominantes mais amplos, em um nível societal, os agentes subconscientemente reafirmam e expressam tais discursos. Sob essa lógica, ao invés dos praticantes empregarem discursos, seriam os discursos que se impregnariam aos praticantes. Assim, acabam perpetuando e sustentando determinadas estruturas de poder e sistemas de significado.
Nessa direção, os discursos, na perspectiva crítica, são construções linguisticamente mediadas da realidade social (Mantere & Vaara, 2008), ou seja, os discursos de estratégia não apenas refletem práticas sociais e materiais, mas também reproduzem e transformam estas práticas.
A partir dessa discussão, percebemos que os discursos auxiliam a produzir posições subjetivas sobre o mundo, pois, é através de um posicionamento discursivo que nos engajamos em uma atividade, reagimos ou refletimos diante a diversas situações e até mesmo silenciamos ou excluímos outros sujeitos. Dessa forma, torna-se relevante investigar essa relação no que se refere à construção da estratégia organizacional.
Na próxima seção apresentaremos os procedimentos metodológicos que auxiliaram na realização da pesquisa.
Esta é uma pesquisa exploratória descritiva, na qual foi realizado um estudo bibliométrico e sociométrico. As duas técnicas centrais do estudo, são sucintamente apresentadas para facilitar o entendimento sobre a metodologia de pesquisa: a (1) bibliometria é uma técnica quantitativa utilizada para verificar como o conhecimento científico é produzido e difundido (Araújo, 2006), enquanto a (2) sociometria é uma técnica de investigação sistemática em que as relações existentes, bem como a constituição e posteriores configurações de determinados grupos são analisadas (Moreno, 1972).
Na análise bibliométrica, buscou-se aprofundar o conhecimento sobre os artigos presentes por meio de gráficos e tabelas, que evidenciam autores, periódicos e países centrais e publicações por ano. Por sua vez, na análise sociométrica, procedemos ao cálculo da densidade – obtida pela razão entre a quantidade de relações existentes e de relações possíveis (Lemieux & Ouimet, 2008).
A opção de trabalhar com dados secundários, artigos presentes na Web of Knowledge, forneceu uma visão ampliada do campo estudado, no caso a produção científica em “Estratégia organizacional” e sua relação com a análise de discurso crítica. O recorte temporal para a busca na Web of Knowledge foi entre 2000 e junho de 2015, considerando o artigo seminal de Hardy, Palmer e Phillips (2000).
Os artigos foram coletados por meio da Core Collection (coleção principal) da Web of Knowledge, a partir da busca pelas expressões “critical discourse analysis” (entre aspas, presente em todo o texto) e “strateg*” sem limitação quanto, abrindo a possibilidade para palavras como strategic, strategizing, dentre outras, também presentes em todo o texto. O uso da Core Collection é justificado por esta abarcar os principais periódicos, bem como que as outras bases de dados da Web of Knowledge não geram arquivos de saída para o software Citespace.
Foram encontrados, inicialmente, 262 textos, sendo aplicado em seguida o filtro de tipo de documento ‘artigo’ (article), resultando em 248 artigos, foram feitas análises da pesquisa na própria Web of Knowledge, além disso, o resultado da busca foi exportado em arquivo de texto e trabalhado no software sociométrico Citespace. A análise bibliométrica e sociométrica será descrita no tópico a seguir.
Após a busca, foram selecionados 248 artigos para compor a pesquisa, entre janeiro de 2000 e junho de 2015. Justificamos a apresentação dos artigos publicados em 2015, tendo em mente que não é possível precisar a quantidade de artigos publicados no segundo semestre do ano, por meio de duas constatações: mesmo que inconclusiva, a quantidade de artigos do primeiro semestre de 2015 já apresenta uma quantidade de artigos maior que a produção anual até 2010 e que estes artigos podem revelar relações entre pesquisadores, conceitos ou instituições, que podem não ser abarcadas em 2014 e anos anteriores. Na Figura 1, trazemos a frequência anual da produção sobre análise do discurso crítica em estratégia. Cabe ressaltar que o texto seminal da área, é Discourse as a strategic resourse, de Hardy, Palmer e Phillips (2000). No ano de 2008, houve grande aumento na produção científica (325%), de 4 artigos em 2007 para 17 em 2008. Nos anos seguintes também observamos aumento significativo na quantidade de artigos publicados.
Figura 1: Frequência anual das publicações de Análise Crítica do Discurso em Estratégia.
Fonte: Dados de Pesquisa.
Nesse sentido, apresentamos a seguir os artigos mais citados no período (Tabela 1). Dos 10 trabalhos mais citados, cinco tem como primeiro autor o finlandês Eero Vaara, um indicativo de sua possível centralidade na análise de redes. O texto de Hardy, Palmer e Phillips, considerado seminal, é o mais citado.
Tabela 1: Número de publicações por ano.
Autor (es) |
Periódico |
Ano |
Citações Totais |
Citações/ Ano |
Hardy; Palmer & Phillips |
Human Relations |
2000 |
189 |
11,81 |
Vaara; Tienari & Laurila |
Organization Studies |
2006 |
76 |
7,6 |
Vaara & Tienari |
Academy Of Management Review |
2008 |
74 |
9,25 |
Jessop & Oosterlynck |
Geoforum |
2008 |
70 |
8,75 |
Vaara; Kleymann & Seristo |
Journal Of Management Studies |
2004 |
57 |
4,75 |
Greenhalgh; Hinder; Stramer; Bratan & Russell |
British Medical Journal |
2010 |
50 |
8,33 |
Vaara & Whittington |
Academy Of Management Annals |
2012 |
50 |
12,5 |
Bishop & Jaworski |
Discourse & Society |
2003 |
39 |
3 |
Crowe |
Journal of Advanced Nursing |
2005 |
39 |
3,55 |
Vaara; Sorsai & Palli |
Organization |
2010 |
37 |
6,17 |
Fonte: elaborado pelos autores.
Quanto à quantidade de artigos por autor, Eero Vaara também é o autor mais prolífico. Para a área de estudo abordada, a concentração da quantidade de artigos por autor pode ser considerada baixa, sendo que dos 107 autores, apenas 11 possuem pelo menos 3 artigos publicados, 18 possuem 2 artigos publicados e 78 apenas um artigo. Na Tabela 2 é apresenta uma relação dos autores com maior número de publicações no campo.
Tabela 2: Autores mais prolíficos.
Autor |
N. Artigos |
% do total (107 artigos) |
Vaara, E |
8 |
3,23% |
Wodak, R |
5 |
2,02% |
Erjavec, K |
4 |
1,61% |
Clarke, I |
3 |
1,21% |
Gavriely-Nuri, D |
3 |
1,21% |
Jaworski, A |
3 |
1,21% |
Khosravinik, M |
3 |
1,21% |
Kwon, W |
3 |
1,21% |
Morales-Lopez E, |
3 |
1,21% |
Palli, P |
3 |
1,21% |
Sorsa, V |
3 |
1,21% |
Total |
41 |
16,54% |
Fonte: elaborado pelos autores.
Para a análise de redes, serão apresentadas redes de autoria (e coautoria), bem como redes de referência, destacando as referências centrais do campo de estudos. Acreditamos que a análise dessas duas possibilidades facilita a compreensão do desenvolvimento e crescimento do campo ao longo dos anos, bem como as tendências do mesmo. Na Figura 2 é apresentada a rede autores, destacando Eero Vaara, com 8 artigos e um número maior de ligações com outros autores, Ruth Wodak (5) e Karmen Erjavec (4).
Figura 2: Redes de autores.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Tão importante quanto a rede de autores, é a rede de referências, por indicar quais textos são mais utilizados no campo. Primeiramente apresentamos a rede de autores citados (figura 4). Norman Fairclough é o autor mais referenciado, citado 269 vezes, em seguida Teun Adrianus Van Dijk também aparece como referência central do campo, com 200 citações, seguido por Ruth Wodak (137), Michel Foucault (64), Theo van Leeuwen (59) e Martin Reisigl (63). Autores clássicos, como Jürgen Habermas, Pierre Bourdieu, Anthony Giddens e Erving Goffman não são centrais na área, possuindo, respectivamente 27, 41, 18 e 30 citações.
Figura 3: Rede dos principais autores citados.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Para detalhar a análise das referências, foi feita a rede de referências e entre as seis mais citadas, 4 são de Norman Fairclough (1989, 1992, 1995 e 2003), com 41, 66, 37 e 56 citações, respectivamente, destacamos também o texto de Reisigl (2001), com 39 citações, e Van Dijk (1993), com 30 citações (Figura 4).
Figura 4: Rede de referências.
Fonte: Elaborado pelos autores.
A frequência das citações dos seis textos mais referenciados no campo é apresentada na figura 05. O aumento significativo das citações, principalmente a partir de 2008, indica expansão relevante do campo a contar desse ano.
Figura 5: Gráfico - Frequência das citações das obras mais referenciadas.
Fonte: Elaborado pela autora.
Cabe ainda destacar os países em que se localizam a maior parte da produção: quatro países, Inglaterra, EUA, Austrália e Canadá, de um total de 47, conjuntamente representam 53,63% do total de publicações, enquanto que 16 países, com apenas um artigo, representam 6,448% da produção total. Na tabela 3 são apresentados os países mais prolíficos. Entendemos que a Inglaterra seja o país com maior concentração de trabalhos devido à origem e atuação dos principais autores e referências do campo (Norman Fairclough e Ruth Wodak, por exemplo).
Tabela 3: Países mais prolíficos.
País |
Q de artigos |
% de 248 |
Inglaterra |
55 |
22,18% |
EUA |
32 |
12,90% |
Austrália |
26 |
10,48% |
Canadá |
20 |
8,07% |
Finlândia |
12 |
4,84% |
China |
9 |
3,63% |
França |
7 |
2,82% |
Irã |
7 |
2,82% |
Israel |
7 |
2,82% |
Espanha |
7 |
2,82% |
Bélgica |
6 |
2,42% |
Brasil |
6 |
2,42% |
Alemanha |
6 |
2,42% |
Escócia |
6 |
2,42% |
Suécia |
6 |
2,42% |
Chile |
5 |
2,02% |
Holanda |
5 |
2,02% |
Eslovênia |
5 |
2,02% |
Total |
227 |
91,53% |
Fonte: Elaborado pelos autores.
Por último, como contribuição de uma análise espacial da produção, destacamos as universidades em que trabalham os autores mais prolíficos. Conforme demonstrado na Tabela 4, as universidades inglesas são as que mais possuem artigos a elas relacionadas, novamente devido à influência de autores alinhados à perspectiva crítica que trabalham ou são de nacionalidade inglesa.
Tabela 4: Principais Universidades.
Universidade |
País |
N. Art. |
% de 248 |
University of Lancaster |
Inglaterra |
19 |
7,66% |
University of Loughborough |
Inglaterra |
6 |
2,42% |
Hanken School of Economics |
Finlândia |
5 |
2,02% |
Helsinki School of Economics |
Finlândia |
5 |
2,02% |
Newcastle University |
Inglaterra |
5 |
2,02% |
University of New South Wales |
Austrália |
5 |
2,02% |
University of Melbourne |
Austrália |
4 |
1,61% |
Total |
|
49 |
19,76% |
Fonte: Elaborado pelos autores.
A rede apresentada a seguir tem por objetivo apresentar as relações entre autores e os países das instituições às quais eles estão filiados. A análise de turning points do Citespace (nós na rede marcados com um círculo roxo e estrela), reforça o conteúdo das tabelas anteriormente apresentadas e denotam a centralidade de Inglaterra, EUA, Austrália e Canadá, bem como a importância de Eero Vaara e Ruth Wodak.
Figura 6: Rede de autores e países.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Como forma de facilitar o entendimento das tendências e desenvolvimento do campo de estudos, trazemos a rede de áreas do conhecimento, demostrando as áreas centrais, bem como aquelas que se apresentam como turning points, ou seja, pontos de virada da produção científica ao longo dos anos. Cabe ressaltar que um mesmo artigo pode pertencer a mais de uma área do conhecimento. A área com maior quantidade de trabalhos publicados é Comunicação (90 artigos), seguida de Linguística (52), Psicologia (44), Linguagem e Linguística (42), Sociologia (41), Negócios e Economia (39), Administração (30), Educação e Pesquisa Educacional (26), Ciências Sociais (13), Negócios (13). Representam pontos de virada ao longo dos anos as áreas de Psicologia, Educação, Ciências Sociais e Negócios e Economia, que indicam possíveis mudanças de foco e ingresso de novos pesquisadores e perspectivas no campo. A área mais recente que apresenta relevância para o campo é a de Linguagem e Linguística (42), com trabalhos iniciais datados de 2006. Várias outras áreas do conhecimento possuem trabalhos publicados sobre Análise Crítica do Discurso em Estratégia, com grande diversidade de áreas com baixa representatividade no campo, que vão desde Estudos Feministas, Ética, Estudos Urbanos a Antropologia e Ciência Política, como evidenciado na Figura 7.
Figura 7: Rede de áreas do conhecimento.
Fonte: elaborado pela autora.
Por fim, trazemos a rede de palavras-chave do campo, entendo que elas podem facilitar o desenvolvimento do campo de estudos de Análise Crítica do Discurso em estratégia. Como era de se esperar, as palavras-chave com maior ocorrência são ‘análise crítica do discurso, discurso e análise do discurso, com 132, 59 e 19 ocorrências, respectivamente. As outras palavras-chave mais citadas revelam interessantes possibilidades de investigação, ao serem consideradas como categorias e conceitos centrais na discussão de estratégia e análise de discurso: ideologia (18 ocorrências), poder (17), mídia (17), identidade (16), política (14), organizações (14) e racismo (12). É possível observar também que em anos recentes certas palavras-chave tem representado novas direções de estudos que podem se relacionar com a estratégia tais como: identidade nacional, estratégias discursivas e educação.
Figura 8: Rede de palavras-chave.
Fonte: Elaborado pela autora.
E assim, apresentamos a análise bibliométrica e sociométrica da produção científica de Análise Crítica do Discurso em Estratégia, que teve por objetivo traçar um panorama geral do campo, o qual possibilitará uma análise mais minuciosa dos resultados em outros estudos.
Na próxima sessão discutiremos as considerações finais do trabalho.
A pesquisa realizada traz dados importantes que podem contribuir para futuros estudos nos campos de estratégia e as perspectivas críticas do discurso, com destaque para a Análise de Discurso Crítica (ADC). O objetivo principal foi analisar a produção e a estrutura de relacionamento dos autores envolvidos no desenvolvimento das referidas abordagens no período entre 2000 e 2015.
Pela análise de resultados foi possível observar que a perspectiva discursiva crítica tem se desenvolvido nos últimos anos, sobretudo após 2008, sendo abordada em uma ampla variedade de países, embora a produção se concentre na Inglaterra, Estados Unidos, Austrália e Canadá. Destacamos que essa concentração deve-se à influência dos principais autores que desenvolveram a perspectiva crítica (tais como Norman Fairclough, Ruth Wodak e Teun Van Dijk).
Observamos também, por meio das redes de áreas do conhecimento, que Comunicação, Negócios e Economia, Psicologia e Sociologia são os principais campos em que os discursos de estratégia têm sido investigados. Além disso, o próprio campo da Linguistica e Linguagem tem demonstrado interesse nessa dimensão dos estudos de estratégia, o que possivelmente tem trazido grandes contribuições ao campo da estratégia - de forma específica à abordagem da Estratégia como prática tem se apoiado em autores alinhados a essa área do conhecimento (Mantere & Vaara, 2008; Vaara & Whittington, 2012).
Da mesma forma, é possível destacar, pela rede de palavras-chave, que tópicos como ideologia, organizações, poder, identidade, mídia tem sido explorados pela perspectiva discursiva crítica nos estudos de estratégia. Isso demonstra que essa dimensão pode contribuir para explorar certos aspectos do campo da estratégia organizacional que tradicionalmente eram desconsiderados ou ignorados.
É importante considerar as limitações desse estudo, sobretudo a limitação da busca por meio de uma única base de dados (Web of Knowledge), considerando apenas sua base principal. Além disso, outros tipos de filtros poderiam ter sido aplicados para delimitar esse estudo, bem como outros tipos de análises poderiam ter sido apresentadas.
Dessa forma, indicamos que em pesquisas futuras outras bases de dados sejam consideradas. No caso brasileiro, sugerimos a expansão da busca em bases nacionais e em eventos da Associação Nacional de Pós-Graduação em Administração (ANPAD). Como agenda de pesquisa, indicamos a possibilidade ampliação do estudo da dimensão discursiva da estratégia para além da perspectiva crítica, mas considerando outras linhas de estudos que também trazem contribuições ao entendimento desse fenômeno.
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