Espacios. Vol. 37 (Nº 34) Año 2016. Pág. 4
Monize Sâmara VISENTINI 2; Daiane Lindner RADONS 3; Fernanda Bard CHAGAS 4; Mauri Leodir LÖBLER 5
Recibido: 16/06/16 • Aprobado: 12/07/2016
2 Motivadores de uso das redes sociais virtuais
4 Teste da validade do instrumento proposto
5 Teste da confiabilidade do instrumento
6 Interpretação dos resultados
RESUMO: Este estudo tem por objetivo desenvolver e validar um instrumento para mensurar, no contexto brasileiro, os fatores motivadores da intenção comportamental de uso das redes sociais virtuais. Visando alcançar este objetivo, foram utilizadas diferentes estratégias metodológicas: realização de amplo levantamento da bibliografia nacional e internacional sobre os fatores influenciadores do uso das redes sociais virtuais, elaboração do instrumento, validação de conteúdo e pré-teste e validação estatística. Através da realização da análise fatorial exploratória, foram encontrados cinco fatores que explicam a Intenção Comportamental de Uso das redes sociais virtuais: Facilidade de Uso, Entretenimento, Imersão Focada, Utilidade no Trabalho e Utilidade Informacional. |
ABSTRACT: This article aims to develop and validate an instrument to measure user’s behavioral intention to use virtual social networks at Brazilian scenario. To achieve this goal, different methodological strategies were conducted: development of a large national and international bibliographic survey about factors predicting the usage of virtual social network, questionnaire elaboration, content validity, pretest and statistic validation. From the use of exploratory factor analysis, we found five factors that explain the Behavioral Intention to Use virtual social network: Ease of Use, Entertainment, Focused Immersion, Work Usefulness and Information Usefulness. |
Os avanços tecnológicos facilitam diferentes aspectos da vida humana, incluindo a comunicação. Com o advento da Internet, as pessoas têm a oportunidade de comunicarem-se instantaneamente e compartilhar informações em escala global. Shimazaki e Pinto (2011) destacam que a internet é usada diariamente com finalidades distintas como, por exemplo, a trabalho, lazer, atualização (leitura de notícias), entretenimento e comunicação. Estas duas últimas são características principais de uma rede social virtual. Através dessas redes, pode-se conversar, fazer amigos, trocar ideias e partilhar conhecimento e assuntos específicos. Dada essa pluralidade de benefícios, as redes sociais virtuais tornaram-se um fenômeno de comunicação, abrangendo diferentes classes sociais, faixas etárias, escolaridades e identidades culturais (Shimazaki & Pinto, 2011).
Apesar do crescimento e do potencial comercial das redes virtuais, relativamente pouco se sabe sobre o que impulsiona as motivações dos usuários para se envolver nesses canais de comunicação (Verhagen, Feldberg, Hooff, Meents & Merikivi, 2012). Corroborando, Cheung, Chiu e Lee (2011) destacam que como este fenômeno é recente, ainda há carência de pesquisas empíricas orientadas a descoberta das ações intencionais de uso dessas redes sociais.
O número de adeptos a essas tecnologias de interação no ciberespaço é crescente, sendo que essa expansão das redes sociais virtuais constitui um elemento novo, não estruturado e dinâmico (Reid & Gray, 2007), capaz de trazer um leque de possibilidades e oportunidades, bem como, um conjunto imprevisto de preocupações, para as quais é preciso estar atento (Vieira, 2007). Sawyer, Guinan e Cooprider (2010) evidenciam que os detalhes da relação entre as interações sociais e a tecnologia ainda não são bem compreendidos empírica e teoricamente.
Na literatura internacional nota-se uma tendência de publicação de pesquisas que investigam a motivação de uso das redes sociais virtuais; entretanto, o desenvolvimento de modelos que avaliam esse comportamento nos usuários brasileiros ainda é incipiente (Löbler, Visentini & Estivalete, 2011). Dessa forma, este trabalho propõe o desenvolvimento e a validação de um instrumento para mensurar, no contexto nacional, quais os fatores motivadores do comportamento de uso das redes sociais virtuais. Do ponto de vista gerencial, as redes sociais possibilitam novas formas de realizar negócios; sendo assim, compreender de modo aprofundado os determinantes de uso dos seus usuários pode contribuir para que as organizações adaptem seus canais de comunicação com os clientes e/ou desenvolvam ferramentas inovadoras de relacionamento. Johnson e Cooper (2009) salientam a relevância do uso das redes sociais virtuais na esfera dos negócios e do marketing, em virtude de ser uma forma dinâmica e econômica de gestão, que permite adaptação ao mercado constantemente.
Nessa esfera organizacional, “vale como recorte discorrer sobre as comunidades virtuais e as redes sociais como um público fundamental que não pode ser ignorado pelos setores de comunicação das organizações” (Kunsch, 2007, p. 45). Nesse sentido, a autora argumenta que na contemporaneidade, no contexto da comunicação corporativa, é inevitável atender a públicos relevantes através dos conceitos de comunidades e redes sociais. Assim, cabe aos gestores de comunicação e marketing, ao se relacionarem com esses públicos, “levar em conta as comunidades virtuais e as diversas redes sociais que vêm sendo construídas em torno das redes digitais na internet” (p. 46). Os profissionais de marketing, bem como os demais agentes responsáveis pela comunicação corporativa, ao se deparem com estas novas plataformas de interação devem ter consciência das bases que podem justificar a sua utilização por parte, tanto do público interno quanto externo à organização. Estratégias de marketing, como e-posicionamento mercadológico e personalização de conteúdos digitais podem ser aprimoradas a partir da compreensão dos fatores mais impactantes do uso das redes sociais da organização.
Além da contribuição gerencial que se pode vislumbrar no instrumento validado nesta investigação, percebem-se subsídios teóricos. Entende-se que a realização deste estudo pode ampliar as discussões acerca de um fenômeno tecnológico da atualidade, tanto para pesquisadores da área de Marketing como de Sistemas de Informação e Administração da Informação. Para essas áreas, percebe-se uma lacuna na proposição de instrumentos que possibilitem mensurar o comportamento de uso das redes sociais virtuais, temática de debate e interesse presente em publicações de eventos e periódicos da Administração. Compreende-se que a validação estatística do instrumento proposto possibilitará que outros pesquisadores o repliquem e ampliem, estimulando a publicação de estudos nacionais sobre comportamento de uso das redes sociais e substanciando essas áreas de investigação. A ampliação do instrumento vai ao encontro das considerações de Alves, Flaviano, Löbler e Pereira (2013, p. 1), de que “o processo de validação não termina em um único momento, mas, pressupõe continuidade e precisa ser repetido inúmeras vezes para o mesmo instrumento.”.
Como objeto de investigação, selecionou-se a plataforma digital Facebook, tendo em vista que o Brasil lidera o ranking de países com maior crescimento em número de usuários, chegando a ter 94% dos internautas brasileiros ativos em 2013 (Comscore, 2014). Cruz e Abelha (2014) ressaltam que dentre as diversas redes sociais virtuais presentes no ambiente online, o Facebook se destaca como a de maior abrangência no Brasil no começo da segunda década do século XXI. Além disso, segundo pesquisa da agência Peer Reasearch Center, disponibilizada no site Techtudo (2015), 71% dos jovens no mundo utilizam o Facebook, sendo a rede social mais popular entre eles. Como consequência, em 2015, o Facebook possuía 1,44 bilhão de usuários ativos, ou seja, que utilizam essa rede pelo menos uma vez por mês. Para se ter noção da diferença do Facebook para seus concorrentes, somente 33% utilizam o Google+ e o Twitter (Techtudo, 2015).
As redes sociais virtuais têm sito afamadas em escala global, tornando-se, em 2014, uma ferramenta utilizada por 2,03 bilhões de pessoas segundo dados da WeAreSocial (2015), número este que representa 30% da população mundial. Essas redes, também conhecidas como redes de relacionamento virtual ou redes colaborativas têm como características permitir aos usuários
(1) construir um perfil público ou semi-público dentro de um sistema delimitado, (2) formular uma lista de usuários com quem eles compartilham uma conexão e (3) visualizar e percorrer suas listas de contatos e aqueles feitos por terceiros dentro do sistema (Ellison & Boyd, 2007, p. 151).
O crescente engajamento às redes sociais nos últimos anos é a evidência concreta da popularização desse meio de comunicação, sendo que no Brasil, durante o ano de 2013, 90,8% dos internautas acessaram alguma rede social virtual (Comscore, 2014). Os motivos da ascensão das redes tem sido objeto de discussão acadêmica no contexto nacional e internacional. Tubenchlak, Faveri, Zanini e Goldszmidt (2015), ao investigarem as motivações da comunicação boca-a-boca eletrônica positiva entre consumidores no Facebook, identificaram como fatores significantes a preocupação com outros consumidores e o desejo de interação social, além dos desejos de extravasar emoções positivas e de ajudar a empresa. Rocha, Jensen, Lofti e Fraga (2013), verificaram que a utilização das redes sociais para construção de relacionamentos com clientes se deve à publicação de conteúdo e prestação de serviços.
Nos achados internacionais (Lin & Lu, 2011; Verhagen et al., 2012; Omar, Rashid & Majid, 2013), o entretenimento é um fator motivador do uso das redes sociais, principalmente por provir aos usuários em seu tempo livre a possibilidade de verificar um alto volume de postagens em forma de fotos, vídeos e textos divertidos. Lin e Lu (2011) ainda apontam que a plataforma amigável das redes sociais contribui para que os usuários sintam-se à vontade e usufruam dela, sentindo-se entretidos. Além disso, as conclusões de seu estudo revelam que a utilidade percebida pelos usuários com relação a esta rede afeta positivamente o entretenimento, também corroborando para o uso das redes sociais.
A utilidade percebida é um fator debatido em diversos trabalhos estrangeiros como um dos fatores mais significantes na intenção de uso das redes sociais. Sua influência é identificada no trabalho de Kim, Sohn e Choi (2011), ao apresentarem que o usuário passa a utilizar o Facebook ao acreditar que ele é útil na obtenção de informações e na interação com outros membros da rede. Verhagen et al. (2012) aprofundam o entendimento de utilidade percebida como todos os benefícios e vantagens que o usuário encontra ao usar um sistema ou ao acessar a rede social, também identificando o fator como um influenciador direto da intenção de uso das redes sociais. No Brasil, a utilidade também foi encontrada como motivadora do uso de tecnologias. Pires e Costa Filho (2008), ao analisarem os fatores do Índice de Prontidão à Tecnologia (TRI) como elementos diferenciadores entre usuários e não-usuários de Internet Banking e como antecedentes do Modelo de Aceitação de Tecnologia (TAM), identificaram que a utilidade percebida impacta a intenção dos usuários de Internet Banking em continuar usando esta ferramenta. Complementarmente, Grohmann, Silinske, Marquetto e Battistella (2015) verificaram que a utilidade percebida pelo estudante em relação ao Ipad influencia sua intenção em utilizar o equipamento.
Muitos estudos internacionais citam também o compartilhamento de informações como um fator motivador do uso de redes sociais. Baek, Holton, Harp e Yaschur (2011), ao explorar a motivação dos usuários para se engajar e compartilhar links no Facebook, defenderam que a maioria dos usuários usam a rede social como forma de obter informações. Moradabadi, Gharehsiran e Amrai (2012) procuraram identificar o que levava os usuários iranianos a utilizarem a rede social Facebook. Através de uma survey com 400 usuários, foi verificado que o principal motivo era a capacidade que estes tinham de encontrar informações na rede social de modo confiável, uma vez que as informações eram controladas por leis iranianas. Além disso, o fator relacionamento também sobressaltou-se no uso desse canal de comunicação. Corroborando para esses achados, Omar, Rashid e Majid (2013) ao discutirem diversos fatores que apresentam influência de uso das redes colaborativas, deram destaque também ao relacionamento, por eles denominado Interação Social. Segundo os autores, esse fator tem papel considerável na intenção de uso das redes de relacionamento, como sendo a ferramenta principal desses canais, que disponibilizam um ambiente propício para a comunicação entre seus membros. Os autores também ressaltaram que a busca por informação é um fator essencial que justifica o uso de redes sociais pelos usuários, que encontram nesses canais um espaço para coletar informações sobre acontecimentos ao seu redor e em todo o mundo
Esta pesquisa assume caráter exploratório, tendo em vista a busca de uma melhor compreensão dos critérios a que se refere à situação-problema enfrentada (Malhotra, 2006). Para atingir o objetivo de desenvolver e validar um instrumento que possibilite avaliar, no contexto nacional, os fatores motivadores da intenção comportamental de uso das redes sociais virtuais, foram seguidas duas etapas: a primeira etapa, de natureza qualitativa, consistiu em realizar amplo levantamento da bibliografia nacional e internacional, a fim de identificar os fatores influenciadores do uso das redes sociais virtuais, para, então, elaborar a primeira versão do instrumento; a segunda etapa, de natureza quantitativa, consistiu validação estatística do instrumento, através da verificação da sua validade e confiabilidade, seguindo a proposta de Hair, Babin, Money e Samouel (2007). Cada uma dessas etapas é detalhadamente descrita nesta seção.
Para a primeira etapa da pesquisa realizou-se uma busca nos artigos publicados nos anais do Encontro da ANPAD (EnANPAD), do Encontro da Administração da Informação (EnADI) e do Encontro da Divisão de Marketing da ANPAD (EMA), nos últimos 10 anos (2005-2014). Conforme Serra, Ferreira, Pereira e Lissoni (2008), a ANPAD representa os principais programas de Pós-Graduação em Administração do Brasil e organiza os mais referenciados congressos ligados à área, respaldando o levantamento de artigos deste trabalho. O foco foi identificar estudos anteriores que mensuraram a intenção comportamental de uso das redes sociais virtuais. Para tanto, selecionou-se os artigos através das palavras-chaves: redes sociais virtuais, mídias sociais, redes colaborativas, Twitter, Orkut, Facebook e Linkedin, buscadas nos títulos e nos resumos dos trabalhos. Conforme destacado em Löbler, Visentini e Ferreira (2011), a busca no título se justifica na medida em que o mesmo deve traduzir fielmente o conteúdo central do artigo, ser conciso e informativo. Além disso, os títulos são utilizados com frequência em sistemas de recuperação de informações. Aliou-se a essa busca, a pesquisa nos resumos dos trabalhos, pois algumas das palavras específicas podem não estar presentes no título, abrangendo o conjunto de artigos filtrados.
Adicionalmente, foram investigados os periódicos internacionais recomendados por Bellini, Isoni Filho, Garcia e Pereira (2012), a fim de ampliar o número de modelos que mensuravam o comportamento das redes sociais virtuais. A opção em sistematizar a busca dos artigos internacionais através daqueles sugeridos por Bellini et al. (2012), decorre de dois motivos: 1) esses são qualificados em tecnologia da informação, ciência da informação e sociologia, tendo natureza afim às discussões sobre o comportamento de uso das redes sociais virtuais; 2) alguns desses periódicos pertencem aos primeiros lugares do ranking da Sociedade Internacional de Sistemas de Informação (AIS). Dentre os periódicos analisados, no período de 2011 a 2013, a Computers in Human Behavior destacou-se por publicar o maior número de artigos relacionados ao tema investigado (redes sociais virtuais), bem como apresentar copyright liberal. Este periódico é caracterizado por discutir o uso de computadores a partir da perspectiva psicológica, com base em três esferas: indivíduo, grupo e sociedade (Bellini et al., 2012). Para cada um dos três anos analisados, selecionaram-se os cinco artigos que investigaram a intenção comportamental de uso das redes sociais, com maior número de citações em outros trabalhos (maior relevância), conforme classificação da base de dados em que o periódico está inserido. Seguindo este critério, os artigos do ano de 2014 não foram selecionados devido à iminência de suas publicações e, por conseguinte, a pouca taxa de citação em outros trabalhos.
Ao total final do filtro, foram selecionados para análise 37 artigos nacionais e 15 internacionais. Dos artigos nacionais, quatro buscavam medir o comportamento de uso das redes sociais virtuais: Löbler, Visentini e Estivalete (2009) e González et al. (2011), que utilizaram o modelo de absorção cognitiva de Agarwal e Karahanna (2000); e Souza, Filenga e Sanchez (2011) e Moraes, Cappellozza e Meirelles (2014), que aplicaram a Teoria Unificada de Aceitação e Uso de Tecnologia (Unified Theory of Acceptanceand Use of Technology, UTAUT), de Venkatesh, Morris, Davis e Davis (2003). Com relação aos artigos internacionais, dentre os 5 filtrados para o ano de 2011, o selecionado, com maior número de citações (106) foi o de Lin e Lu (2011); para o ano de 2012, destacou-se o trabalho de Verhagen et al. (2012), com 25 citações; e para o ano de 2013, a pesquisa de Litt (2013), despontou com 8 citações. Entretanto, devido à natureza desse último trabalho, que investiga os fatores motivadores do uso exclusivo das ferramentas de privacidade das redes sociais virtuais, divergindo do foco deste estudo, o mesmo não foi incluído como modelo de análise. Dessa forma, obteve-se também como parâmetro para a proposição do instrumento neste trabalho, os modelos internacionais de Verhagen et al. (2012) e Lin e Lu (2011).
A partir desse amplo apanhado teórico, foi possível elaborar uma estrutura inicial dos construtos estudados em cada um dos quatro modelos selecionados (2 através da revisão da literatura nacional e 2 da internacional). No Qudro 1, são apresentados esses modelos, os construtos que os compõem e as características das escalas utilizadas.
O modelo proposto por Verhagen et al. (2012) foi validado junto a 846 usuários holandeses do Second Life. Dado o crescimento e o potencial comercial dos mundos virtuais, esse modelo testou quais fatores intrínsecos e extrínsecos são motivadores da atitude de usar essa tecnologia. O modelo é composto por quatro fatores que retratam caractaristicas específicas dos mundos (valor econômico, facilidade de uso, escapismo e atratividade visual), além dos fatores motivadores intrínsecos (entretenimento) e dos fatores motivadores extrínsecos (percepção de utilidade). Foi identificado um forte ajuste do modelo, evidenciando a influência das características específicas dos mundos virtuais na atitude de usar a tecnologia, mediada pelos fatores intrínsecos e extrínsecos, os quais possuem efeito significativo direto nesta atitude.
Em Lin e Lu (2011) o objetivo foi identificar a intenção de continuar usando as redes sociais virtuais. A amostra consistiu em 402 usuários do Facebook. Dentre os fatores avaliados, o entretenimento foi o mais influente na intenção de continuidade de uso da rede social, seguido de número de pares (pares de atividades externas à rede que também são membros da rede social) e da utilidade. Os achados da pesquisa também indicaram que gêneros diferentes produzem diferentes influências de uso.
Venkatesh et al. (2003) propuseram a Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT), formado pela união de oito modelos de aceitação e uso da TI. O UTAUT justifica, em média, 70% da variância na intenção comportamental de uso da TI, tornando-se o modelo com maior explicação e/ou previsão de aceitação de uso individual da tecnologia. A coleta dos dados para a sua validação aconteceu em momentos diferentes, conforme as etapas de desenvolvimento do modelo. Na primeira etapa, a fim de comparar a performance dos oito modelos selecionados, foi realizada uma validação longitudinal, durante seis meses, em quatro organizações, para avaliar os usuários da TI em diferentes estágios de experiência. Após a formulação do UTAUT, dados de outras duas organizações foram coletados, indicando a adequabilidade do modelo.
Autores/Ano |
Construtos dos Modelos |
Características da escala |
Verhagen et al. (2012) |
Percepção de Utilidade |
30 variáveis, escala tipo Likert de 7 pontos, variando de discordo totalmente à concordo totalmente |
Entretenimento |
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Valor Econômico |
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Percepção da Facilidade de Uso |
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Fuga |
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Atratividade visual |
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Atitude |
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Lin e Lu (2011) |
Número de Membros |
18 variáveis; escala tipo Likert de 5 pontos, variando de discordo totalmente à concordo totalmente |
Número de Pares |
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Percepção de complemento |
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Utilidade |
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Entretenimento |
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Intenção comportamental de uso |
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Venkatesh et al. (2003) |
Expectativa de Performance |
27 variáveis; escala tipo Likert de 7 pontos, variando de discordo totalmente à concordo totalmente. Exceção: Comportamento de uso (escala de 3 pontos) |
Expectativa de Esforço |
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Atitude diante do uso da Tecnologia |
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Influência Social |
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Condições Facilitadoras |
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Ansiedade |
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Intenção comportamental de uso |
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Agarwal e Karahanna (2000) |
Facilidade de uso percebida |
42 variáveis, escala tipo Likert de 10 pontos, variando de não totalmente confiante â totalmente confiante |
Utilidade Percebida |
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Inovação Pessoal |
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Vivacidade |
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Intenção comportamental de uso |
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Absorção Cognitiva: |
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Dissociação temporal |
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Imersão Focada |
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Prazer |
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Controle |
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Curiosidade |
Quadro 1 - Modelos selecionados da literatura
Fonte: Elaborado pelos autores.
Agarwal e Karahana (2000) desenvolveram um modelo para verificar a intenção comportamental de uso da TI, agregando a algumas variáveis do Modelo de Aceitação de Tecnologia (TAM) aspectos como o interesse pela tecnologia por parte do usuário e os traços de personalidade do indivíduo que se destacam quando ele utiliza o sistema. Neste modelo, o que se destaca é o construto da Absorção Cognitiva, o qual sugere que o envolvimento dos usuários com a TI contribui para a sua avaliação e para a provável reação que o usuário tem ao utilizá-la. O modelo foi validado junto a 250 usuários da internet, e indicou um forte ajuste entre a Absorção Cognitiva e a intenção comportamental de uso de uma nova tecnologia.
Após definidos os modelos que iriam subsidiar a elaboração do instrumento proposto nesta investigação, foi realizada a comparação entre os modelos apresentados no Quadro 1, verificando os construtos comuns. Entre os construtos comuns, e que servirão para a elaboração do instrumento desta pesquisa, os de maior aplicação foram: Percepção de Utilidade (UTIL), Entretenimento (ENT), Percepção de Facilidade de Uso (FAC), Intenção Comportamental de Uso (USO) e Imersão Focada (IMER). Neste último incluiu-se o construto “Fuga” de Verhagen et al. (2012), tendo em vista que possui a mesma definição do construto Imersão Focada, proposto por Agarwal e Karahanna (2000). O construto Valor Econômico do modelo de Verhagen et al. (2012) e os construtos Número de Membros e Número de Membros por Pares do modelo de Lin e Lu (2011) foram prontamente descartados por não satisfazerem os interesses desta pesquisa.
No Quadro 2 são apresentadas as definições dos construtos mais comuns nos modelos analisados, conforme a literatura de base, bem como a adaptação desses construtos para o modelo a que se propõe neste artigo.
Autor |
Construto conforme a literatura |
Definição dos autores conforme a literatura |
Denominação do construto neste estudo |
Definição para este estudo |
Verhagen et al. (2012) |
Percepção de facilidade de uso |
Um sistema que é fácil de usar permite que os usuários não desperdicem tempo e esforço, fazendo com que estes sejam direcionados ao aprimoramento de seu desempenho no sistema de informação. |
Facilidade de Uso |
A Facilidade de Uso é percebida pelo usuário como uma forma de o sistema não possuir nenhuma complicação que o impeça de interagir com sucesso com a tecnologia. |
Venkatesh et al. (2003) |
Expectativa de esforço |
Grau de facilidade associada ao uso do sistema. |
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Agarwal e Karahanna (2000) |
Percepção de facilidade de uso |
Avaliação de um indivíduo sobre não haver fardo cognitivo na interação com a tecnologia, refletindo a facilidade com que o indivíduo é capaz de interagir com um software artificial em particular. |
||
Verhagen et al. (2012) |
Percepção de utilidade |
Um sistema de informação é útil para melhorar o desempenho das tarefas de um indivíduo, quando a sua atitude para usá-lo torna-se mais positiva. |
Utilidade |
A Utilidade é definida como a percepção que uma pessoa tem de um sistema ser útil em suas tarefas ou aprimoramento destas. |
Lin e Lu (2011) |
Utilidade |
O indivíduo acredita que o grau de utilização de um sistema irá melhorar suas técnicas profissionais, sendo o sistema é útil. |
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Venkateshet al. (2003) |
Expectativa de performance |
Grau em que o indivíduo acredita que usando o sistema, ele irá proporcionar melhores ganhos com seu desempenho de tarefas e trabalhos. |
||
Agarwal e Karahanna (2000) |
Percepção de utilidade |
Grau em que o usuário acredita na existência de uma relação entre uso e desempenho. |
||
Verhagen et al. (2012) |
Entretenimento |
O usuário acredita que o sistema satisfaz suas necessidades de prazer e diversão, acarretando em efeitos positivos em uma variedade de atitudes em relação ao ambiente digital. |
Entretenimento |
Entretenimento é definido como o grau de satisfação e prazer que um indivíduo recebe ao realizar alguma atividade específica no sistema. |
Lin e Lu (2011) |
Entretenimento |
O indivíduo encontra prazer ao desenvolver uma atividade no sistema. |
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Venkatesh et al. (2003) |
Atitude perante o uso da tecnologia |
O indivíduo tem um sentimento positivo ou negativo ao desempenhar uma atividade alvo no sistema. |
||
Agarwal e Karahanna (2000) |
Entretenimento |
Os indivíduos estão envolvidos em atividades que lhe tragam diversão e prazer. |
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Verhagen et al. (2012) |
Fuga |
Tem uma função utilitária uma vez que alivia um indivíduo do fardo mental. |
Imersão Focada |
A Imersão Focada é definida como a concentração que um indivíduo presta ao realizar uma tarefa em particular, podendo esquecer temporariamente quaisquer outras distrações. |
Agarwal e Karahanna (2000) |
Imersão focada |
Sugere que todos os recursos de atenção de um indivíduo estão focados em uma tarefa em particular, assim reduzindo o fardo do nível cognitivo associado com o desempenho da tarefa. |
Quadro 2 – Definição dos construtos selecionados
Fonte: Elaborado pelos autores
Ao todo, são propostos 5 construtos para compor o instrumento que mensura a intenção comportamental de uso das redes sociais em âmbito nacional (Figura 1). A denominação dada a cada construto é coerente com a literatura de base.
Figura 1 - Desenho da primeira versão do modelo de pesquisa
Fonte: Elaborado pelos autores com base em Venkatesh et al. (2003),
Verhagen et al. (2012), Lin e Lu (2011) e Agarwal e Karahanna (2000).
Tendo como base o modelo apresentado na Figura 1, partiu-se para a elaboração do instrumento de pesquisa. Para tanto, foram comparadas as variáveis testadas em cada um dos modelos selecionados e agrupadas conforme similaridades de significado de mensuração. No Quadro 3 é apresentada a estrutura básica do instrumento proposto, a partir das considerações da literatura (Quadros 1 e 2).
Construto |
Variável |
Modelo base |
Facilidade de Uso |
1. Aprender a usar o Facebook é fácil |
Verhagen et al. (2012); Venkatesh et al. (2003); Agarwal e Karahanna (2000) |
2. O Facebook é uma ferramenta compreensível e clara de se usar |
Verhagen et al. (2012); Venkatesh et al. (2003) |
|
3. É fácil de se tornar habilidoso no uso do Facebook |
Verhagen et al. (2012); Venkatesh et al. (2003); Agarwal e Karahanna(2000) |
|
4. Eu acho fácil o fazer o Facebook obedecer os meus comandos |
Agarwal e Karahanna (2000) |
|
5. Em geral, o Facebook é fácil de usar |
Verhagen et al. (2012); Venkatesh et al. (2003); Agarwal e Karahanna (2000) |
|
Utilidade |
6. Usar o Facebook me permite terminar tarefas mais rapidamente |
Verhagen et al. (2012) e Venkatesh et al. (2003) |
7. Usar o Facebook aumenta a minha produtividade |
Verhagen et al. (2012); Venkatesh et al. (2003); Agarwal e Karahanna (2000) |
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8. Usar o Facebook me permite adquirir mais informações ou conhecer outras pessoas
|
Lin e Lu (2011) |
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9. Usar o Facebook melhora a minha capacidade de compartilhar informações e me relacionar com outras pessoas |
Lin e Lu (2011) |
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10. O Facebook é uma ferramenta útil para a interação entre seus membros |
Lin e Lu (2011) |
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11. Usar o Facebook é útil para o meu trabalho/ atividades acadêmicas |
Venkatesh et al. (2003) e Agarwal e Karahanna (2000) |
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12. Em geral, o Facebook é útil |
Verhagen et al. (2012) |
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Construto |
Variável |
Modelo base |
Entretenimento |
13. Usar o Facebook me proporciona muita diversão |
Lin e Lu (2011); Argawal e Karahanna (2000) |
14. Eu acho o Facebook muito divertido |
Verhagen et al. (2012); Lin e Lu (2011); Venkatesh et al. (2003); Argawal e Karahanna (2000) |
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15. Usar o Facebook me dá tédio |
Lin e Lu (2011) |
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16. Eu gosto de usar o Facebook |
Venkatesh et al. (2003) e Agarwal e Karahanna (2000) |
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17. O Facebook é entusiasmante |
Verhagen et al. (2012) |
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Imersão Focada |
18. Eu fico tão distraído no Facebook que eu esqueço de todo o resto |
Verhagen et al. (2012) e Agarwal e Karahanna(2000) |
19. Enquanto estou usando o Facebook eu me distraio facilmente por outras atividades |
Verhagen et al. (2012) e Agarwal e Karahanna(2000) |
|
20. Usar o Facebook é como um "escape" do mundo |
Verhagen et al. (2012) e Agarwal e Karahanna(2000) |
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21. Quando estou no Facebook, fico focado na atividade que estou fazendo |
Agarwal e Karahanna (2000) |
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22. Quando estou no Facebook, minha atenção não é facilmente desviada |
Agarwal e Karahanna (2000) |
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Intenção Comportamental de uso |
23. Eu pretendo continuar usando o Facebook no futuro |
Lin e Lu (2011); Venkatesh et al. (2003); Agarwal e Karahanna (2000) |
24. Eu planejo usar o Facebook no futuro |
Venkatesh et al. (2003) e Agarwal e Karahanna (2000) |
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25. Eu pretendo recomendar o Facebook para os meus amigos no futuro |
Lin e Lu (2011) |
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26. Acredito que irei usar o Facebook nos próximos meses |
Venkateshet al. (2003) |
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27. Eu espero que o meu uso do Facebook continue no futuro |
Agarwal e Karahanna (2000) |
Quadro 3 - Estrutura básica do instrumento de coleta de dados proposto
Fonte: elaborado pelos autores
O instrumento preliminar a ser validado foi composto por 27 variáveis: cinco para Facilidade de Uso, sete para Utilidade, cinco para Entretenimento, cinco para Imersão Focada e cinco para o fator Intenção Comportamental de Uso. A mensuração dessas variáveis foi padronizada em escala tipo Likert de 7 pontos, variando de discordo totalmente à concordo totalmente, tendo em vista a prevalência desta escala nos modelos base desta investigação (Quadro 1).
Finalizada a elaboração do instrumento, o mesmo foi submetido ao processo de validação e de verificação da confiabilidade. Para a validação, foram seguidas as três etapas sugeridas por Hair et al. (2007). Anterior à aplicação do instrumento foi realizada a validação de conteúdo, que segundo esses autores, envolve a consulta a uma pequena amostra de respondentes, geralmente especialistas no assunto a ser tratado, para julgar a adequação dos itens escolhidos para representar cada construto. Assim, solicitou-se a 3 pesquisadores experientes da área de Sistemas de Informação que avaliassem a versão preliminar do questionário e realizassem comentários e sugestões de melhorias. Houve sugestões para o aperfeiçoamento de algumas questões, sendo feitas modificações na escrita de algumas variáveis, a fim de melhorar a compreensão dessas questões. Após esta etapa, ainda procedeu-se a um pré-teste do instrumento, aplicando-o a um grupo de 23 estudantes universitários, usuários do Facebook. Algumas pequenas sugestões foram tecidas, resultando na versão final do questionário, com adaptação das questões dispostas no Quadro 4.
Após a aplicação dos questionários, foi verificada a validade por construto, utilizando a análise fatorial exploratória (EFA), conforme sugerido por Hair et al. (2007). Esses autores classificam a validade por construto como aquela que avalia o que a escala está, de fato, medindo. A etapa final de validação estatística teve por objetivo demonstrar a confiabilidade dos construtos obtidos. Hair et al. (2007) indicam, entre os métodos para essa análise, a utilização de uma medida de diagnóstico que identifique o coeficiente de confiabilidade, sendo a medida de avaliação da confiabilidade mais utilizada o alfa de Cronbach, cujo índice deve ser superior a 0,60 para considerar o construto confiável.
Facilidade de uso |
Versão inicial |
4. É fácil fazer o Facebook obedecer aos meus comandos. |
Versão final |
4. É fácil fazer o Facebook executar o que eu quero. |
|
Utilidade |
Versão inicial |
9. Usar o Facebook melhora a minha capacidade de compartilhar informações e me relacionar com outras pessoas. |
Versão final |
9. Usar o Facebook aumenta a minha eficiência em compartilhar informações e me relacionar com outras pessoas. |
|
Imersão Focada |
Versão inicial |
19. Enquanto estou usando o Facebook eu me distraio facilmente por outras atividades. |
Versão final |
19. Enquanto estou usando o Facebook eu me distraio facilmente por outras atividades fora do Facebook. |
|
Versão inicial |
21. Quando estou no Facebook, fico focado(a) na atividade que estou fazendo. |
|
Versão final |
21. Quando estou no Facebook fico focado(a) na atividade que estou fazendo no Facebook. |
|
Intenção Comportamental de Uso |
Versão inicial |
23. Eu pretendo continuar usando o Facebook no futuro. |
Versão final |
23. Eu pretendo continuar usando o Facebook no futuro próximo. |
|
Versão inicial |
24. Eu planejo usar o Facebook no futuro. |
|
Versão final |
24. Eu planejo usar o Facebook no futuro distante. |
Quadro 4 - Variáveis modificadas após a validação de face e pré-teste
Fonte: elaborado pelos autores
Para a coleta dos dados, considerou-se como população os acadêmicos de uma universidade federal do interior do estado do Rio Grande do Sul, usuários do Facebook. Com o objetivo de validar estatisticamente o instrumento, composto por 27 questões, utilizou-se o multiplicador cinco respondentes por questão (Hair et al., 2007), necessitando-se assim de, pelo menos, 135 questionários respondidos. Procedeu-se a aplicação de 200 questionários, sendo válidos 198, montante que perfaz a amostra desta pesquisa. Dos 198 respondentes, 56,10% são mulheres e 43,90% homens. A idade média dos respondentes é de 20,91 anos, porém o alto grau de divergência, sendo a idade mínima (18 anos) e a idade máxima (44 anos). Quanto aos cursos frequentados pelos respondentes, estão assim distribuídos: Agronomia (33,80%), Engenharia Ambiental (25,80%), Administração (14,60%), Química Licenciatura (12,60%), Ciências Biológicas (8,10%), Letras Português/Espanhol (4,50%) e Física Licenciatura (0,50%).
A análise dos dados foi realizada com o auxílio dos softwares Microsoft Office Excel 2010™ e do Statistical Package for the Social Sciences™ – SPSS 21.0.
A partir da realização EFA, foi obtida a validação por construto do instrumento. Esse tipo de análise visa identificar a estrutura de relações entre variáveis pela mensuração de suas correlações, assinalada por Hair, Babin, Black, Anderson e Tatham (2009) como “análise fatorial R”. A aplicação da EFA objetivou indicar o resumo de dados, ou seja, as “dimensões inerentes que, quando interpretadas e compreendidas, descrevem os dados em um número muito menor de conceitos do que as variáveis individuais originais” (Hair et al., 2009, p. 104-105). Dessa forma, submeteram-se as 27 variáveis dispostas nos Quadros 3 e 4 a este procedimento.
Seguindo a orientação de Hair et al. (2009, p. 109), o primeiro passo para a realização da EFA compreende a identificação de correlações entre as variáveis, garantindo que as mesmas sejam suficientemente correlacionadas umas com as outras para produzir fatores representativos. Para tanto, realizou-se o teste de esfericidade de Bartlett, cuja significância deve ser menor que 0,050; e a medida de adequação da amostra Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), cujo índice varia de 0 a 1, conforme Tabela 1. Quanto mais próximo de um, maior é a indicação de que a variável é perfeitamente prevista sem erro pelas outras variáveis (Hair et al., 2009).
Tabela 1 – Teste de Esfericidade de Bartlett e Medida de Adequação da Amostra
Medida de Adequação da Amostra Kaiser-Meyer-Olkin |
0,787 |
|
|
Aprox. do Qui-Quadrado |
2011,764 |
Teste de Esfericidade de Bartlett |
DF |
351 |
|
Sig. |
0,000 |
Fonte: dados da pesquisa
Os dados coletados apresentaram um grau de significância no teste de Bartlett de 0,000, enquanto a medida de adequação KMO resultou em 0,780, resultados considerados bons para fins de utilização da EFA.
No estágio seguinte, deve-se selecionar o método para extrair os fatores que representam a estrutura das variáveis na análise e determinar o número de fatores a serem mantidos. A análise de componentes principais, com rotação ortogonal Varimax, foi o método selecionado para extrair os fatores que representam a estrutura das variáveis e determinar o número de fatores a serem mantidos. A referida análise objetiva simplificar as colunas da matriz fatorial e constitui-se num método de maximização da soma de variâncias de cargas exigidas da matriz fatorial (Hair et al., 2009).
O número de fatores será determinado com base na variância total explicada, com fatores cujos autovalores são maiores do que 1,0 e em número suficiente para atender o percentual especificado de variância explicada de, pelo menos, 60% (Hair et al., 2009).Visando verificar o comportamento das variáveis do estudo, os testes fatoriais foram efetuados no software SPSS sem estabelecimento de um número determinado de fatores. Na Tabela 2 é apresentada a variância total explicada resultante.
Tabela 2 – Variância Total Explicada
Comp. |
Autovalores iniciais |
Soma das Extrações de Cargas Quadradas |
Soma das Rotações de Cargas Quadradas |
|||||
|
Total |
% de Variância |
% Cumul. |
Total |
% de Variância |
% Cumul. |
Total |
% de Variância |
1 |
6,606 |
24,466 |
24,466 |
6,606 |
24,466 |
24,466 |
3,012 |
11,585 |
2 |
2,576 |
9,542 |
34,008 |
2,576 |
9,542 |
34,008 |
2,753 |
10,589 |
3 |
2,241 |
8,299 |
42,307 |
2,241 |
8,299 |
42,307 |
2,646 |
10,177 |
4 |
1,626 |
6,022 |
48,329 |
1,626 |
6,022 |
48,329 |
2,308 |
8,879 |
5 |
1,476 |
5,465 |
53,794 |
1,476 |
5,465 |
53,794 |
2,150 |
8,268 |
6 |
1,269 |
4,701 |
58,496 |
1,269 |
4,701 |
58,496 |
1,914 |
7,363 |
7 |
1,113 |
4,124 |
62,619 |
1,113 |
4,124 |
62,619 |
1,607 |
6,180 |
8 |
1,046 |
3,876 |
66,495 |
1,046 |
3,876 |
66,495 |
1,231 |
4,736 |
Fonte: dados da pesquisa
A Tabela 2 indica o agrupamento das 27 variáveis testadas em 8 fatores, correspondendo a 66,495% da variância acumulada. O fator 1 corresponde a 24,466% da variância.
Definido o número de fatores, deve-se avaliar a carga de cada variável no respectivo fator. A análise da matriz de cargas fatoriais visa verificar as cargas significantes de cada variável e permitir destacar aquelas de maior valor absoluto. Hair et al. (2009) atestam como significantes, em um nível de significância (α) de 0,05, um nível de poder de 80%, e erros-padrão considerados como o dobro daqueles de coeficientes de correlação convencionais. Conforme verificado na Tabela 3, as cargas fatoriais resultantes foram superiores a 0,40. Ressalta-se que as variáveis correspondem a mesma numeração do Quadro 3.
O passo seguinte da análise fatorial foi a análise das comunalidades, com o intuito de verificar se as variáveis atendem níveis aceitáveis de explicação. Conforme Hair et al. (2009), a comunalidade se refere ao total da variância que uma variável original compartilha com todas as outras variáveis. Com variação de 0 a 1, esses autores indicam que as comunalidades devem ser maiores que 0,50 para que as variáveis possam ser mantidas na análise. A Tabela 4 apresenta o resultado da primeira rodada de testes.
Tabela 3 – Matriz de Cargas Fatoriais > 0,40
Variável |
Fatores |
||||||
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
7 |
|
1 |
|
0,704 |
|
|
|
|
|
2 |
|
0,764 |
|
|
|
|
|
3 |
|
0,726 |
|
|
|
|
|
4 |
|
0,659 |
|
|
|
|
|
5 |
|
0,593 |
|
|
|
|
|
6 |
0,429 |
|
|
0,435 |
|
|
|
7 |
0,449 |
|
|
|
|
|
|
8 |
0,452 |
|
|
|
0,438 |
|
|
9 |
0,563 |
|
|
|
|
|
|
10 |
0,484 |
|
|
|
|
|
|
11 |
0,416 |
|
|
|
|
|
|
12 |
0,605 |
|
|
|
|
|
|
13 |
0,742 |
|
|
|
|
|
|
14 |
0,762 |
|
|
|
|
|
|
15 |
|
|
|
|
|
|
|
16 |
0,613 |
|
|
|
|
|
|
17 |
0,636 |
|
|
|
|
|
|
18 |
|
|
0,557 |
|
|
|
|
19 |
|
|
|
0,450 |
|
|
0,538 |
20 |
|
|
0,461 |
|
|
|
|
21 |
|
|
0,614 |
|
|
|
|
22 |
|
|
0,522 |
|
|
0,424 |
|
23 |
0,689 |
|
|
|
|
|
|
24 |
0,594 |
|
|
|
|
|
|
25 |
0,697 |
|
|
|
|
|
|
26 |
0,568 |
|
|
|
|
|
|
27 |
0,759 |
|
|
|
|
|
|
Fonte: dados da pesquisa
O passo seguinte da análise fatorial foi a análise das comunalidades, com o intuito de verificar se as variáveis atendem níveis aceitáveis de explicação. Conforme Hair et al. (2009), a comunalidade se refere ao total da variância que uma variável original compartilha com todas as outras variáveis. Com variação de 0 a 1, esses autores indicam que as comunalidades devem ser maiores que 0,50 para que as variáveis possam ser mantidas na análise. A Tabela 4 apresenta o resultado da primeira rodada de testes.
A análise das comunalidades indica que a variável 20 apresenta índice menor que o recomendado, demonstrando que não está sendo adequadamente explicada pela solução fatorial. Uma das sugestões apontadas por Hair et al. (2009) para a correção dessa inconsistência é avaliar a variável, ponderando-a com o referencial teórico, e, a partir disso, definir pela conveniência ou não de sua eliminação.
A variável 20 se refere ao indivíduo usar o Facebook como “escape” do mundo. O termo “escape” pode ter sido interpretado de forma inadequada e como o construto imersão conta com cinco variáveis ao total, optou-se por eliminar essa variável.
Tabela 4 - Comunalidades
Variáveis |
Inicial |
Extração |
1 |
1,000 |
0,684 |
2 |
1,000 |
0,687 |
3 |
1,000 |
0,587 |
4 |
1,000 |
0,535 |
5 |
1,000 |
0,561 |
6 |
1,000 |
0,738 |
7 |
1,000 |
0,650 |
8 |
1,000 |
0,703 |
9 |
1,000 |
0,781 |
10 |
1,000 |
0,515 |
11 |
1,000 |
0,674 |
12 |
1,000 |
0,577 |
13 |
1,000 |
0,764 |
14 |
1,000 |
0,804 |
15 |
1,000 |
0,768 |
16 |
1,000 |
0,574 |
17 |
1,000 |
0,691 |
18 |
1,000 |
0,610 |
19 |
1,000 |
0,642 |
20 |
1,000 |
0,475 |
21 |
1,000 |
0,670 |
22 |
1,000 |
0,692 |
23 |
1,000 |
0,750 |
24 |
1,000 |
0,673 |
25 |
1,000 |
0,697 |
26 |
1,000 |
0,744 |
27 |
1,000 |
0,710 |
Fonte: dados da pesquisa
Utilizando os critérios mencionados anteriormente, realizou-se uma segunda rodada de testes, sem a variável 20. Os resultados dos testes de Esfericidade de Bartlett (0,000) e KMO (0,786) mantiveram-se adequados. De forma similar, houve a adequação da matriz fatorial com a aplicação da rotação Varimax. No entanto, o exame das comunalidades indicou novamente a necessidade de exclusão de variáveis, cujos índices foram inferiores a 0,50, sendo elas: 5, 10, 15 e 19. A exclusão das variáveis foi realizada, observando que cada construto manteve o número mínimo de variáveis para mensuração.
Procedeu-se a terceira rodada da EFA sendo os resultados dos testes de esfericidade de Bartlett (0,000) e KMO (0,790) satisfatórios, assim como a matriz fatorial. No entanto, a análise das comunidades apontou que a variável 16 possuía índice de 0,474, abaixo do esperado, o que motivou sua exclusão.
Considerando a variância total explicada, a partir da terceira rodada, verificou-se que os fatores cujos autovalores são maiores do que 1,0 reduziram para seis, atendendo ainda o percentual especificado de variância explicada de, pelo menos, 60%, apresentado por Hair et al. (2009).
Após a exclusão da variável 16, foi realizada nova rodada da EFA. Na Tabela 5 são apresentados os resultados do teste de esfericidade de Bartlett e KMO. Em consonância às rodadas anteriores, os resultados mostraram-se satisfatórios para a análise fatorial.
Tabela 5 – Teste de Esfericidade de Bartlett e Medida de Adequação da Amostra (quarta rodada)
Medida de Adequação da Amostra Kaiser-Meyer-Olkin |
0,780 |
|
|
Aprox. do Qui-Quadrado |
1619,100 |
Teste de Esfericidade de Bartlett |
DF |
210 |
|
Sig. |
0,000 |
Fonte: dados da pesquisa
A variância total explicada na quarta rodada apresentou novamente seis fatores cujos autovalores são maiores do que 1,0. O percentual especificado de variância explicada de, pelo menos, 60% (Hair et al., 2009) foi atendido e na Tabela 6 é exibida a variância total explicada.
Tabela 6 – Variância Total Explicada
Comp. |
Autovalores iniciais |
Soma das Extrações de Cargas Quadradas |
Soma das Rotações de Cargas Quadradas |
|||||
|
Total |
% de Variância |
% Cumul. |
Total |
% de Variância |
% Cumul. |
Total |
% de Variância |
1 |
5,796 |
27,598 |
27,598 |
5,796 |
27,598 |
27,598 |
3,211 |
15,292 |
2 |
2,319 |
11,042 |
38,640 |
2,319 |
11,042 |
38,640 |
2,521 |
12,003 |
3 |
2,041 |
9,720 |
48,360 |
2,041 |
9,720 |
48,360 |
2,418 |
11,513 |
4 |
1,448 |
6,896 |
55,256 |
1,448 |
6,896 |
55,256 |
2,368 |
11,277 |
5 |
1,346 |
6,411 |
61,667 |
1,346 |
6,411 |
61,667 |
1,885 |
8,975 |
6 |
1,159 |
5,520 |
67,187 |
1,159 |
5,520 |
67,187 |
1,707 |
8,126 |
Fonte: dados da pesquisa
A exclusão das variáveis 5, 10, 15, 16, 19 e 20 e a acomodação das variáveis em seis fatores, propiciou uma adequação dos níveis das mesmas, considerando a análise das comunalidades, apresentadas na Tabela 7, que resultaram em valores superiores a faixa de 0,50. Essa Tabela demonstra ainda a matriz de cargas fatoriais maiores do que 0,50.
Tabela 7 – Matriz de Cargas Fatoriais Rotacionadas e Comunalidades (4ª rodada)
Variável |
Fatores |
Comunalidades |
|||||
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
Inicial |
|
1 |
|
|
|
0,759 |
|
|
1,000 |
2 |
|
|
|
0,833 |
|
|
1,000 |
3 |
|
|
|
0,751 |
|
|
1,000 |
4 |
|
|
|
0,679 |
|
|
1,000 |
6 |
|
|
0,770 |
|
|
|
1,000 |
7 |
|
|
0,732 |
|
|
|
1,000 |
8 |
|
|
|
|
|
0,845 |
1,000 |
9 |
|
|
|
|
|
0,778 |
1,000 |
11 |
|
|
0,783 |
|
|
|
1,000 |
12 |
|
|
0,538 |
|
|
|
1,000 |
13 |
|
0,796 |
|
|
|
|
1,000 |
14 |
|
0,798 |
|
|
|
|
1,000 |
17 |
|
0,752 |
|
|
|
|
1,000 |
18 |
|
|
|
|
0,686 |
|
1,000 |
21 |
|
|
|
|
0,718 |
|
1,000 |
22 |
|
|
|
|
0,828 |
|
1,000 |
23 |
0,809 |
|
|
|
|
|
1,000 |
24 |
0,737 |
|
|
|
|
|
1,000 |
25 |
0,652 |
|
|
|
|
|
1,000 |
26 |
0,671 |
|
|
|
|
|
1,000 |
27 |
0,744 |
|
|
|
|
|
1,000 |
Fonte: dados da pesquisa
Ao final das etapas de verificação da confiabilidade e validade do instrumento, obteve-se um conjunto com 21 itens agrupados em seis fatores, os quais tiveram sua nomenclatura preservada com base na literatura, conforme pode ser verificado a seguir na caracterização de cada construto.
Fator 1 – Facilidade de uso (variáveis 1, 2, 3 e 4) – Característica percebida pelo usuário em relação ao sistema não possuir nenhuma complicação que o impeça de interagir com sucesso. A questão 5 foi excluída durante a análise fatorial exploratória por apresentar comunalidade insuficiente.
Fator 2 – Utilidade no Trabalho (variáveis 6, 7, 11 e 12) - Compreende a percepção que uma pessoa tem de um sistema ser útil em suas tarefas ou aprimoramento destas, neste caso, atividades ligadas ao seu trabalho.
Este e o terceiro fator foram resultantes da divisão do construto originalmente denominado Utilidade, o qual contava com sete variáveis (6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12), sendo a variável 10 excluída durante a realização das análises estatísticas. No agrupamento das variáveis dois fatores foram obtidos, um deles reuniu as afirmações 6, 7, 11 e 12 e o outro as variáveis 8 e 9. No primeiro caso, verificou-se que as questões relacionadas à utilidade do Facebook no trabalho foram agrupadas, recebendo então esse fator o nome de Utilidade no Trabalho.
Fator 3 – Utilidade Informacional (variáveis 8 e 9) – Envolve a percepção que uma pessoa tem de um sistema ser útil para o compartilhamento de informações.
Fator 4 – Entretenimento (variáveis 13, 14 e 17) – Representado pelo grau de satisfação e prazer que um indivíduo recebe ao realizar alguma atividade específica no sistema. As variáveis 15 e 16 foram eliminadas na etapa de validação do instrumento por razões de comunalidades.
Fator 5 – Imersão Focada (variáveis 18, 21 e 22) – Compreende a concentração que um usuário dispõe ao realizar uma tarefa em particular, podendo esquecer temporariamente quaisquer outras distrações. As questões 19 e 20 não fazem parte da estrutura final por apresentarem comunalidades insuficientes.
Fator 6 – Intenção Comportamental de Uso (variáveis 23, 24, 25, 26 e 27) – disposição ou vontade de apresentar determinado comportamento, nesse caso, comportamento de uso da rede social virtual Facebook.
Na análise da confiabilidade foi considerada a proposição de Hair et al. (2009) que indicam a utilização do alfa de Cronbach para se avaliar a consistência de uma escala. Segundo esses autores, essa medida é confiável quando apresenta mínimo ideal de 0,7 para pesquisas aplicadas e 0,6 para pesquisas exploratórias, que é o caso deste estudo que visa validar um instrumento de pesquisa para medir a intenção comportamental de uso das redes sociais virtuais. Na Tabela 8 estão consolidados os resultados do alpha de Cronbach.
Tabela 8 – Consistência Interna: alfa de Cronbach
Fator |
Nome |
Variáveis |
Alfa de Cronbach |
1 |
Facilidade de uso |
1, 2, 3 e 4 |
0,761 |
2 |
Utilidade no trabalho |
6, 7, 11 e 12 |
0,767 |
3 |
Utilidade informacional |
8 e 9 |
0,768 |
4 |
Entretenimento |
13, 14 e 17 |
0,861 |
5 |
Imersão focada |
18, 21 e 22 |
0,686 |
6 |
Intenção Comportamental de uso |
23, 24, 25, 26 e 27 |
0,840 |
Fonte: dados da pesquisa
De forma geral, a consistência interna de cada construto apresentou coeficientes que demonstram boa coerência, sendo o valor mínimo do alfa de Cronbach obtido de 0,686, correspondendo ao fator imersão focada. Como se pode perceber, todos os fatores apresentam consistência interna adequada, dentro dos padrões sugeridos por Hair et al. (2009), comprovando, assim, a confiabilidade do modelo proposto.
Inicialmente, procedeu-se à validação do instrumento proposto por meio do teste de esfericidade de Bartlett e a medida de adequação da amostra Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), cujos índices foram satisfatórios. Posteriormente, foram realizadas a extração dos fatores para verificar a estrutura das variáveis e o número de fatores; e, a análise das cargas fatoriais e comunalidades de cada questão. Considerando a orientação de Hair et al. (2009), as variáveis, total de seis, que apresentaram comunalidades inferiores a 0,50, foram eliminadas. No entanto, a exclusão dessas questões não afetou a permanência dos fatores propostos.
Após a realização de quatro rodadas da análise fatorial exploratória, obteve-se a estrutura final, composta por 21 itens acomodados em 6 fatores, e os índices: variância total explicada de 67,18%, Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) de 0,780 e Teste de Esfericidade de Bartlett significativo. De forma similar, a confiabilidade do modelo foi verificada, sendo que todos os fatores apresentaram consistência interna satisfatória, atestada pelo alpha de Cronbach.
Destaca-se que, a partir das análises realizadas, alguns achados merecem atenção especial, como a reconfiguração do fator Utilidade. O novo formato do fator Utilidade, desdobrado em Utilidade no Trabalho e Utilidade Informacional, pode ser traduzido como uma característica específica do comportamento dos usuários das redes sociais virtuais. Esse resultado reflete caráter inovador ao instrumento proposto neste artigo, se comparado a outros anteriormente publicados, indicando maior apropriação à métrica da intenção comportamental de uso das redes sociais virtuais.
O fator Utilidade no Trabalho encontra respaldo nos trabalhos de Baek et al. (2011) e Golwal, Kalbande e Sonwane (2012). No primeiro, os autores identificaram que um dos fatores que motiva o uso do Facebook é a promoção do trabalho, através da qual é possível utilizar postagens e demais ferramentas da rede social como forma de desenvolver e divulgar o trabalho ou serviço. Já no segundo, os autores investigaram como e por que os profissionais da ciência da informação utilizam o Facebook. Foi identificado como principal propósito a interação profissional, seguido por manter-se a par das últimas notícias e comentários (relacionados à atualização de informações), participar de discussões e expressar criatividade.
O uso das redes para um maior e melhor acesso às informações vai ao encontro do fator Utilidade Informacional, também identificado neste estudo. Baek et al. (2011) ratificam que o compartilhamento de informações é um dos benefícios vislumbrados pelos usuários das redes sociais virtuais e que motivam a sua intenção comportamental de uso. Dogruer, Menevis e Eyyam (2011) apontam que os usuários universitários optam por utilizar o Facebook principalmente como forma de adquirir conhecimento acerca de seus usuários e atividades políticas. Os autores afirmam que os universitários veem a ferramenta como útil na obtenção de informações, além de auxiliar na conexão destes com antigos amigos.
Este estudo teve como objetivo desenvolver e validar um instrumento para mensurar, no contexto brasileiro, quais os fatores motivadores da intenção comportamental de uso das redes sociais virtuais. Visando alcançar o objetivo proposto, foram utilizadas diferentes estratégias metodológicas, iniciando com uma etapa qualitativa que consistiu na realização de amplo levantamento da bibliografia nacional e internacional sobre os fatores influenciadores do uso das redes sociais virtuais. Esta busca na literatura baseou a elaboração da primeira versão do instrumento de pesquisa, que foi submetida à validação de conteúdo, sendo avaliada e discutida por 3 pesquisadores experientes da área de Sistemas de Informação. Após a realização dos ajustes sugeridos, procedeu-se a um pré-teste do instrumento, aplicando-o a um grupo de 23 estudantes universitários, usuários do Facebook. A versão final do instrumento foi elaborada a partir das considerações desses estudantes.
Posteriormente, em etapa de natureza quantitativa, foi realizada a validação estatística do instrumento, através da verificação da sua validade e confiabilidade, seguindo a proposta de Hair et al. (2007). O instrumento contou com 27 variáveis que medem as motivações do uso de redes sociais virtuais e foi aplicado a acadêmicos de uma universidade federal, resultando em 198 questionários válidos.
As variáveis foram submetidas à EFA, sendo necessárias 4 rodadas de testes até se encontrar uma combinação adequada das variáveis nos fatores. Das 27 variáveis testadas, 6 delas (5, 10, 15, 16, 19 e 20 ) foram eliminadas por possuir baixa comunalidade (<0,5). Os resultados apresentados na validação do questionário conduziram a um agrupamento de quatro dos cinco construtos propostos teoricamente, a saber: Facilidade de Uso, Entretenimento, Imersão Focada e Intenção Comportamental de Uso. Já o construto utilidade foi dividido em dois fatores, denominados de Utilidade no Trabalho e Utilidade Informacional, o que resultou em seis fatores ao término da investigação. Esses fatores foram submetidos à análise de confiabilidade, através do coeficiente alfa de Cronbach, que apresentou valores adequados e aceitos pela literatura (Hair et al., 2009).
O primeiro fator, facilidade de uso, compreende as quatro afirmações iniciais: 1, 2, 3 e 4. Este fator está relacionado à facilidade com que o usuário consegue usar o sistema ou o nível em que o usuário consegue lidar com as complicações do processamento de um sistema. O segundo fator, referente à utilidade de uso, foi dividido em dois fatores. Um deles, utilidade no trabalho, inclui as variáveis 6, 7, 11 e 12. Este fator foi assim denominado por incluir variáveis referentes à forma como os usuários percebem a aplicação da rede social virtual para realizar as atividades laborais. O outro fator, utilidade informacional, conta com as variáveis 8 e 9, e recebeu esta denominação por incluir variáveis que permitem ao usuários perceber sua aplicação para obter informações. Ressalta-se que a reconfiguração do fator utilidade em outros dois fatores tende a traduzir, com maior precisão, as características motivadoras de uso das redes sociais virtuais, possibilitando um maior ajuste do instrumento proposto à realidade dos usuários dessas tecnologias.
O quarto fator identificado foi o entretenimento, que compreendeu três variáveis: 13, 14 e 17. Este fator reflete o grau de satisfação percebida pelo usuário ao utilizar o sistema. A imersão focada foi o quinto fator identificado e inclui as variáveis 18, 21 e 22. Neste trabalho, definiu-se este fator como o grau em que a tarefa/sistema atrai a atenção do usuário. Por fim, o sexto fator, intenção comportamental de uso, manteve sua estrutura inicial com cinco variáveis: 23, 24, 25, 26 e 27.
O rigor metodológico aplicado para o desenvolvimento do instrumento possibilita que o mesmo seja replicado nas corporações por profissionais da área de marketing e gestores de comunicação, a fim de identificar os fatores que potencialmente impactam o uso das redes sociais virtuais organizacionais. Deve-se salientar que o objeto foco desta investigação foi o Facebook, mas é plenamente plausível a adaptação para outras plataformas digitais de comunicação, tendo em vista que as empresas brasileiras utilizam cada vez mais uma diversidade maior de redes sociais (Tracto, 2015).
Cabe ressaltar que o instrumento proposto explica 66,495% (valor da variância acumulada) da intenção de utilizar o Facebook. Entretanto, há uma série de outros fatores que compõem o restante desta proporção e que não foram considerados neste estudo. Cruz et al. (2012), por exemplo, apontam para a questão de como pessoas famosas no Brasil podem influenciar seguidores nas redes sociais a deixar de comprar um produto ou serviço de uma empresa. Em outra perspectiva, Cruz e Abelha (2014) destacam o engajamento político como fator influenciador do acesso as redes sociais virtuais, e Ferreira e Arruda Filho (2015) abordam a questão da paixão pela marca da empresa, fatores hedônicos e modismos como aqueles que podem expressar a satisfação dos usuários quanto à usabilidade da rede Facebook. A ampliação dos fatores que podem explicar o uso das redes sociais virtuais surge como uma proposta de pesquisa futura a esta investigação. Tal proposição vai ao encontro do destacado por Raymundo (2009, p. 87), de que “o processo de validação não se exaure, ao contrário, pressupõe continuidade e deve ser repetido inúmeras vezes para o mesmo instrumento. [...] A cada aplicação de um instrumento, pode corresponder, portanto, uma interpretação dos resultados”.
Por fim, cabem ressaltar alguns fatores que limitaram a generalização dos resultados deste estudo, como a investigação apenas da plataforma digital Facebook, não considerando outras redes sociais. Entende-se que é necessária a ampliação do objeto de análise deste instrumento, considerando outras plataformas virtuais e os possíveis fatores que podem justificar o seu uso. Nesse sentido, esta limitação vai ao encontro da proposição de pesquisas futuras, a fim de expandir esta investigação. Também cabe destacar a amostra desta investigação, composta por estudantes universitários. Este não é, certamente, o único público que utiliza massivamente as redes sociais virtuais, sendo necessário também compreender o comportamento de outros grupos de usuários, que podem ser segmentados por características demográficas, como idade e gênero, ou psicográfica, considerando estilo de vida e ocupação, por exemplo. Estas limitações não desqualificam esta pesquisa, muito menos o instrumento proposto, mas indicam que há melhorias a serem realizadas na compreensão dos fatores que podem influenciar o comportamento de uso das redes sociais virtuais, fenômeno recente e que merece atenção dos pesquisadores e profissionais da área de Administração.
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1. Esta pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), número do processo: 470711/20140-0
2. Doutora em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Professora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Políticas Públicas da Universidade Federal da Fronteira Sul. E-mail: monize.visentini@uffs.edu.br
3. Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: daiane.radons@uffs.edu.br
4. Graduanda em Administração pela Universidade Federal da Fronteira Sul. E-mail: fernandabard@hotmail.com
5. Doutor em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: mllobler@gmail.com