Espacios. Vol. 37 (Nº 30) Año 2016. Pág. 27
Aline Cristine DANA 1; Rodrigo Eduardo CATAI 2; Rosemara Santos Deniz AMARILLA 3
Recibido: 30/05/16 • Aprobado:15/06/2016
RESUMO: O presente estudo tem como objetivo principal realizar análise ergonômica em quinze postos de trabalho de uma instituição pública do município de Curitiba, Paraná. Para tanto, aplicou-se um questionário para a coleta de dados sobre as condições ergonômicas. Para avaliar os resultados utilizou-se normas e procedimentos adequados relativos à segurança do trabalho, tais como Norma Regulamentadora 15 (Atividades e Operações Insalubres), Norma Regulamentadora 17 (Ergonomia), NBR 10152/1987 (Níveis de ruído para conforto acústico) e NBR 8995-1/2013 (Iluminação de ambientes de trabalho). O estudo mostrou que há necessidade de planejamento de ações para melhorar os ambientes de trabalho. |
ABSTRACT: This study aimed to perform ergonomic analysis in fifteen workplace of a public institution in the city of Curitiba, State of Parana. Therefore, applied a questionnaire to collect data on the ergonomic conditions. To evaluate the results used appropriate rules and procedures relating to work safety such as Norm 15 (Activities and Unhealthy Operations), Norm Regulatory 17 (ergonomics) standard NBR 10152/1987 (noise levels for acoustic comfort) and NBR 8995-1/2013 (Lighting working environments). The study showed that there is need for the planning of actions to improve work environments. |
A interação entre o ambiente de trabalho e o trabalhador é um fator importante nos mais diversos locais de trabalho. Haja vista que num ambiente de trabalho há um contato dinâmico e contínuo entre os trabalhadores e seus ambientes circundantes, embora pode-se gerar uma série de respostas fisiológicas e psicológicas, influenciando no conforto, produtividade, desempenho, segurança e saúde dos trabalhadores (PARSONS, 2000; DIANAT et al., 2016). Dados revelam que há aproximadamente cerca de cinco milhões de acidentes por ano no mundo relacionados ao trabalho, o que economicamente reflete na destinação de 4% do produto interno bruto às despesas com doenças e acidentes de trabalho (BARROS et al., 2015). Em vista disso, a aplicação efetiva da ergonomia desde a concepção do projeto do posto de trabalho pode-se alcançar um melhor equilíbrio entre as características dos trabalhadores e as exigências da tarefa (AZADEH; SHEIKHALISHAHI, 2015).
A ergonomia analisa as diversas variáveis que influenciam no processo produtivo do sistema, com foco em minimizar as consequências nocivas que pode afetar os trabalhadores. Assim, o estudo da ergonomia no ambiente de trabalho reduz a fadiga, estresse, erros e acidentes, propiciando segurança, satisfação e saúde aos colaboradores, durante o convívio com o sistema produtivo (IIDA, 2005). O mesmo autor ainda destaca que a análise pode ser aplicada no sistema como um todo, bem como em uma parte do sistema, neste último a abordagem ergonômica analisa a tarefa, a postura e os movimentos do trabalhador e as exigências físicas e cognitivas. É notório o aumento de trabalhadores que dependem principalmente dos aspectos cognitivos, fazendo-se necessário o uso de ambientes como escritórios.
No entanto, ambientes de escritório antes vistos como salubres e ausentes de riscos ao trabalhador passaram a ser analisados com mais atenção, uma vez que aumentou a incidência de doenças ocupacionais e psicossociais e o número de casos de LER – Lesão por Esforço Repetitivo e DORT – Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (FIGUEIRA et al., 2011). As variáveis que também passaram a ser foco de análises são referentes ao cumprimento dos parâmetros de iluminação, ruído e temperatura entre outras, que são essenciais para o alcance de condições adequadas de conforto e produtividade dos indivíduos (BOGO et al., 2009). Portanto, existem normas relativas à segurança e medicina do trabalho.
A Norma Regulamentadora 17 – Ergonomia estabelece regras a serem cumpridas nos locais de trabalho a fim de proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. De acordo com a Norma, nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam solicitação intelectual e atenção constantes algumas condições de conforto são recomendadas, por exemplo, que os níveis de ruído devem estar de acordo com o estabelecido na Norma Brasileira Regulamentadora - NBR 10152/1987 (Níveis de ruído para conforto acústico) (BRASIL, 2016b). E com relação à iluminação, os ambientes de trabalho devem estar adequados à Norma Brasileira Regulamentadora – NBR 8995/2013 (Iluminação de ambientes de trabalho).
Com base neste contexto, a presente pesquisa tem como objetivo principal realizar uma análise ergonômica em postos de trabalho de uma instituição pública do município de Curitiba. Para tanto, utilizou-se normas e procedimentos adequados relativos à segurança do trabalho, tais como Norma Regulamentadora 15 (Atividades e Operações Insalubres), Norma Regulamentadora 17 (Ergonomia), NBR 10152/1987 (Níveis de ruído para conforto acústico) e NBR 8995-1/2013 (Iluminação de ambientes de trabalho).
O Ministério do Trabalho e Emprego publicou a Norma Regulamentadora 17 referente à Ergonomia, que é de observância obrigatória do empregador de adaptar as condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, para que seja proporcionado o máximo de conforto, segurança e eficiente desempenho na realização das atividades (BRASIL, 2016b). Segundo Iida (2005), o sistema homem-máquina-ambiente é a unidade básica da ergonomia, sendo formado por três subsistemas: o homem, a máquina e o ambiente. Continuamente estes subsistemas interagem, trocando informações e energia.
Para Pinheiro et al. (2006), para que o homem possa tomar decisões, ele precisa estar munido de informações acerca das máquinas a serem utilizadas, do trabalho e do ambiente em que este se realiza e sobre as tarefas relacionadas a este trabalho. Assim, as informações emitidas pelos sensores das máquinas são recebidas pelo homem por meio de seus receptores sensoriais (visão, audição e tato) e enviadas ao sistema nervoso central. Desta forma decisões são tomadas por meio dos movimentos musculares que geram a ação do homem sobre a máquina, que aciona seus dispositivos. Ocorre, portanto, um ciclo que se repete e há, assim, a interface homem-máquina.
O sistema homem-máquina-ambiente (Figura 1) pode ser aprimorado para se adaptar às capacidades e limitações do usuário tanto na fase de projeto de máquinas, equipamentos e postos de trabalho como também na inclusão de alterações em sistemas já existentes. Entretanto, o ideal é que a ergonomia já seja aplicada desde as fases iniciais, e sempre incluindo o ser humano como um dos componentes (IIDA, 2005).
Figura 01 – Inter-relação Sistema homem-máquina. Fonte: Pinheiro (2006).
Para que as adaptações do trabalho ao homem sejam realizadas com êxito é necessário estar de posse do máximo de conhecimento sobre ambos, a fim de que estas adaptações não resultem em trabalho que gere desgastes desnecessários, acima dos limites adequados ou que não possam ser recuperados (DO RIO; PIRES, 2001).
Muitas atividades do serviço público são realizadas na posição sentada, e, mesmo sendo melhor que a posição em pé, impõe certas exigências ao corpo do trabalhador. No campo biomecânico alguns aspectos devem ser considerados (RIO; PIRES, 2001):
Na postura sentada os músculos abdominais tendem a se afrouxar, a espinha tende a se curvar e as funções de alguns órgãos internos como aparelho digestivo e respiratório tornam-se mais difíceis (MORAES; PEQUINI, 2000). Para Grandjean (1998), o posto de trabalho com monitores sujeita o trabalhador a problemas ergonômicos relacionados a alturas de trabalho inadequadas, cadeiras sem o devido conforto, qualidade de luz insuficiente no monitor, ofuscamentos no campo visual, sendo que tais circunstâncias são causas de situações incômodas de trabalho que podem gerar queixas sobre fadiga ocular, e dores na nuca e ombros. Moraes e Pequini (2000) ressaltam que o princípio básico a ser levado em conta nos projetos de estações de trabalho informatizadas é que a mobília a ser utilizada pelo trabalhador deve ser a mais flexível possível.
Segundo Iida (2005), em muitos casos o usuário passa horas na mesma posição, com atenção ao monitor, mãos sobre o teclado e com o corpo praticamente estático. Assim, inadequações nos postos de trabalho podem provocar fadiga visual, dores musculares em ombros e pescoço bem como dores nos dedos. Podem ser apontadas como causas destes desconfortos altura do teclado muito baixa em relação ao piso, altura do teclado muito alta em relação à mesa, falta de apoios adequados para os antebraços e punhos, muita inclinação da cabeça para frente e posicionamento inadequado do teclado. Iida (2005) cita a metodologia de Carter e Banister (1994), que expressa às dimensões recomendadas a serem utilizadas em postos de trabalho com computadores (Figura 2), a fim de minimizar os efeitos negativos que mobiliários inadequados podem causar nos trabalhadores. Sendo esta, a metodologia utilizada para a verificação dos assentos, teclados, telas de computadores e espaços para as pernas dos postos de trabalho dos servidores.
Figura 02 – Dimensões recomendadas para o projeto de um posto de trabalho com computador. Fonte: Iida (2005).
As lesões por esforço repetitivo e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho têm se expandido muito, e resultam de sobrecargas devido ao uso excessivo de grupos musculares por movimentos repetitivos ou pela permanência de partes do corpo na mesma posição por longos períodos (PINHEIRO, 2006).
Barbosa Filho (2010) cita como alguns fatores para a ocorrência de LER/DORT as posturas adotadas e mantidas para a realização das atividades, movimentos e forças aplicadas, fatores psicológicos e também características pessoais de cada trabalhador. Para melhorar as condições de trabalho e minimizar as ocorrências de LER/DORT podem ser realizadas intervenções em relação aos postos de trabalho, à organização do trabalho ou a medidas administrativas aplicadas, bem como quanto a escolha de ferramentas e suas pegas (BARBOSA FILHO, 2010).
De acordo com a Norma Regulamentadora 15 – Atividades e Operações Insalubres, o ruído pode ser classificado em contínuo ou intermitente e ruído de impacto (BRASIL, 2016a). Segundo Iida (2005) os ruídos contínuos são os “ruídos de fundo”, e ocorrem com uniformidade ao longo da jornada de trabalho. Já os ruídos de impacto são picos de energia de curta duração (1 segundo) e chegam a níveis de 110 a 135 dB, como nas prensas.
A Norma Regulamentadora 15 – Atividades e Operações Insalubres define como limite de tolerância a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará danos à saúde do trabalhador durante a sua vida laboral. O Anexo I da NR-15 – Atividades e Operações Insalubres (Tabela 01), apresenta os limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente sem riscos de danos à saúde do trabalhador sem que seja necessário o uso de equipamento de proteção individual (BRASIL, 2016a).
Tabela 01 – Limites de tolerância para ruído contínuo e intermitente
Nível de Ruído dB(A) |
Máxima exposição diária permissível |
85 |
8 horas |
86 |
7 horas |
87 |
6 horas |
88 |
5 horas |
89 |
4 horas e 30 minutos |
90 |
4 horas |
91 |
3 horas e 30 minutos |
92 |
3 horas |
93 |
2 horas e 40 minutos |
94 |
2 horas e 15 minutos |
95 |
2 horas |
96 |
1 hora e 45 minutos |
98 |
1 hora e 15 minutos |
100 |
1 hora |
102 |
45 minutos |
104 |
35 minutos |
105 |
30 minutos |
106 |
25 minutos |
108 |
20 minutos |
110 |
15 minutos |
112 |
10 minutos |
114 |
8 minutos |
115 |
7 minutos |
Fonte: (BRASIL, 2016a).
Assim, verifica-se que, de acordo com a NR-15, a exposição a ruídos acima de 85 dB sem o uso de proteção pode provocar danos à audição do trabalhador. Importante mencionar também que a Norma proíbe a exposição do trabalhador a níveis de ruído acima de 115 dB(A), quando não estejam adequadamente protegidos.
Segundo Iida (2005) o ruído é a principal causa de reclamação sobre as condições ambientais. A qualidade do ambiente de trabalho pode ser comprometida pelo ruído ocupacional excessivo. Sua origem pode advir tanto de fontes de ruído no próprio ambiente, características arquitetônicas ou sistemas de vedação como do ruído externo, por exemplo, o ruído de tráfego (RODRIGUES, 2009).
Para Grandjean (1998), dentre os efeitos causados pelo ruído no organismo humano estão a perturbação da atenção e do sono e sensações de incômodo. Ele acrescenta, ainda, que tanto o pensamento quanto a reflexão em ambientes ruidosos causam mais cansaço que em ambientes silenciosos.
Os autores Wictor e Bazzanella (2012), citam como fontes internas de ruídos de fábricas as máquinas, serras e motores e de escritórios as impressoras, telefones e pessoas. Para os autores, mesmo que em escritórios os ruídos não sejam tão altos, a depender do nível de concentração exigida, podem ser incômodos. Segundo Iida (2005), ruídos acima de 90 dB começam a provocar lesões prejudiciais ao organismo, com aumento de estresse e fadiga. Os ruídos intensos também tendem a prejudicar tarefas que exigem atenção e concentração mental. De acordo com Iida (2005), a depender do tipo de atividade realizada alguns limites nos níveis de ruído devem ser estabelecidos como toleráveis, como mostra a Tabela 02.
Tabela 02 - Limites toleráveis a ruídos em diversos tipos de atividades
Nível do ruído, dB (A) |
Atividade |
50 |
A maioria considera como um ambiente silencioso, mas cerca de 25% das pessoas terão dificuldade para dormir |
55 |
Máximo aceitável para ambientes que exijam silêncio |
60 |
Aceitável em ambientes de trabalho durante o dia |
65 |
Limite máximo aceitável para ambientes ruidosos |
70 |
Inadequado para trabalho em escritórios. Conversação difícil |
75 |
É necessário aumentar a voz para a conversação |
80 |
Conversação muito difícil |
85 |
Limite máximo tolerável para a jornada de trabalho |
Fonte: Iida, 2005.
De acordo com Iida (2005), para a caracterização de um ruído perturbador às pessoas vários fatores devem ser analisados, entre eles a frequência, intensidade, timbre, duração e até o horário em que ocorre. Características individuais também influenciam nas sensibilidades aos ruídos. Entretanto, geralmente ruídos mais agudos são menos tolerados por indivíduos.
Para Vianna et al. (2001), o conforto ambiental está relacionado à avaliação de exigências humanas, ou seja, quanto maior for o esforço dispendido pelo indivíduo para sua adaptação ao meio, maior será a sensação de desconforto. Assim, o conforto é uma interpretação sensorial do ser humano (inclusive as de caráter subjetivo) frente a estímulos físicos como luz, calor, som, umidade e ventos.
A Norma Regulamentadora 17 estabelece as condições do ambiente de trabalho com a finalidade de proporcionar o máximo de segurança, conforto e desempenho eficiente ao trabalhador. Segundo a NR17 as condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às características psicofisiológicas do trabalhador e à natureza do trabalho a ser executado.
Para atividades que exijam solicitação intelectual e atenção constantes como salas de controle, laboratórios e escritórios recomenda-se que os níveis de ruído estejam de acordo com o estabelecido na NBR 10152, norma brasileira registrada no INMETRO (Tabela 3). Para ambientes de trabalho que não apresentam equivalência ou correlação com as relacionadas na NBR 10152/1987, o nível de ruído aceitável para conforto será de até 65 dB(A) e a curva de avaliação de ruído (NC) de até 60 dB (BRASIL, 2016b).
Tabela 03 - Níveis de ruído para conforto para diversos ambientes
Locais |
dB(A) |
NC |
Hospitais |
|
|
Apartamentos, Enfermarias, Berçários, Centros Cirúrgicos |
35-45 |
30-40 |
Laboratórios, Áreas para uso do público |
40-50 |
35-45 |
Serviços |
45-55 |
40-50 |
Escolas |
|
|
Bibliotecas, Salas de música, Salas de desenho |
35-45 |
30-40 |
Salas de aula, Laboratórios |
40-50 |
35-45 |
Circulação |
45-55 |
40-50 |
Hotéis |
|
|
Apartamentos |
35-45 |
30-40 |
Restaurantes, Salas de estar |
40-50 |
35-45 |
Portaria, Recepção, Circulação |
45-55 |
40-50 |
Residências |
|
|
Dormitórios |
35-45 |
30-40 |
Salas de estar |
40-50 |
35-45 |
Auditórios |
|
|
Salas de concertos, Teatros |
30-40 |
25-30 |
Salas de conferências, Cinemas, Salas de uso múltiplo |
35-45 |
30-35 |
Restaurantes |
40-50 |
35-45 |
Escritórios |
|
|
Salas de reunião |
30-40 |
25-35 |
Salas de gerência, Salas de projeto e de administração |
35-45 |
30-40 |
Salas de computadores |
45-65 |
40-60 |
Salas de mecanografia |
50-60 |
45-55 |
Igrejas e Templos (Cultos mediativos) |
40-50 |
35-45 |
Locais para esportes |
|
|
Pavilhões fechados para espetáculos e atividades esportivas |
45-60 |
40-55 |
Fonte: ABNT (1987).
De acordo com Verdussen (1978), o que determina a altura do som é sua frequência. Um som será grave quando o número de ciclos por segundo for baixo e agudo quando o número de ciclos for alto. Segundo Saliba (2004), o que determina a intensidade do som é o nível de pressão sonora, que é uma representação logarítmica entre a variação de pressão provocada pela vibração e a pressão que atinge o limiar de audibilidade. O nível de pressão sonora é realizado por meio da seguinte relação logarítmica (Equação 01).
Verdussen (1978) ressalta que o ouvido humano percebe sons cuja pressão sonora esteja entre 0 e 140 dB. O limiar da dor encontra-se em pressões sonoras em torno de 120 dB e, ao nível de 140 dB existe risco de ruptura do tímpano. Por fim o autor afirma que ruídos de alta frequência (de 6.000 a 20.000 Hz) são mais desagradáveis e nocivos ao aparelho auditivo e os de baixa frequência (de 16 a 300 Hz), mesmo sendo menos desagradáveis afetam o organismo de forma mais geral.
A luz é manifestada por ondas eletromagnéticas que têm a propriedade de sensibilizar o olho humano. Ao receber a luz o olho a transforma em sensações nervosas que, por meio do nervo óptico, serão transmitidas ao cérebro para codificação (VIEIRA, 2008). Como os olhos são um dos grandes responsáveis pela chegada de estímulos ao homem, eles possuem grande importância na percepção e controle de ações e movimentos realizados pelos indivíduos, o que afeta seu desempenho. Assim verifica-se que iluminação adequada em termos de quantidade, qualidade e distribuição no ambiente são fatores fundamentais para a correta visibilidade durante a execução de tarefas (BARBOSA FILHO, 2010).
A luz incandescente inventada por Thomas Edison em 1878 contribuiu bastante para aumentar a produtividade humana, e cada vez mais o homem moderno depende da luz artificial, tanto em seu lar como em seu ambiente profissional. Verifica-se que um correto planejamento de iluminação colabora para aumentar satisfação e produtividade no trabalho e reduzir fadiga e acidentes (IIDA, 2005).
De acordo com Couto (1996), apresentar intensidade luminosa dentro dos limites recomendáveis não significa possuir iluminação adequada no ambiente de trabalho, pois esta depende também de outros fatores, como existência de contrastes e reflexos no campo visual do trabalhador. Ainda de acordo com Couto (1996), a percepção visual pode ser prejudicada quando existe baixa luminosidade. Para o autor, quando existe baixo nível de iluminação e o contraste do objeto é adequado não há problema. Entretanto se o nível de iluminação e contraste forem baixos, pode ocorrer fadiga dos músculos dos olhos. Já se o nível de iluminação for baixo e o contraste for alto, ocorre prejuízo da visão pelo fechamento da pupila. Por fim, se o trabalho exigir proximidade da visão e o ambiente possuir baixo nível de iluminamento e alto nível de contraste, a fadiga será máxima.
Portanto verifica-se que o nível de iluminamento de um local interfere diretamente no mecanismo fisiológico da visão e na musculatura ocular. Assim a capacidade de discriminação visual é influenciada por vários fatores, entre eles a quantidade de luz, tempo de exposição e, como citado acima, o contraste entre a figura e o fundo (IIDA, 2005). De acordo com Zocchio (2002), a iluminação natural deve ter precedência em relação à artificial. Contudo, é comum a utilização de luz artificial em sua complementação, visto que iluminação adequada é fundamental para a execução segura e precisa das tarefas humanas.
Muitas das impressões sensoriais humanas são de natureza ótica e requer a luz como portadora de informações. A luz influencia também em partes do sistema nervoso vegetativo que comandam o metabolismo e funções do corpo humano. Assim verifica-se que a boa luz é importante não só para a visão, mas também está relacionada com o bem-estar e o prazer no trabalho, aumentando a capacidade de concentração e prevenindo esgotamentos prematuros (VIEIRA, 2008).
Vale lembrar que, de acordo com Zocchio (2002), a iluminação pode ser inadequada quando está deficiente, mas também quando está em excesso em determinado ambiente. A iluminação deficiente leva o indivíduo a fazer maior esforço visual e não permite a percepção de detalhes que podem ser perigosos, aumentando assim o risco de acidente. Já o excesso de luz perturba a visão e pode provocar ofuscamentos, levando os órgãos visuais ao cansaço.
Para Pais (2011) as condições de iluminação podem provocar sinais de fadiga e irritabilidade visual, dores de cabeça, dores musculares, stress e dificuldade de concentração. Couto (1995) cita que a má iluminação de um ambiente de trabalho onde a visão é fundamental para a execução de tarefas levará à queda de rendimento do trabalhador. O problema é ainda maior em pessoas com idade acima de 45 anos, pois o comprometimento visual ocorre pela opacificação gradativa dos humores do olho e pela presbiopia, que se acentua em ambientes mal iluminados.
A Norma Regulamentadora 17 – Ergonomia, do Ministério do Trabalho e Emprego, estabelece que nos locais de trabalho deve haver iluminação natural ou artificial, uniformemente distribuída e difusa e adequada à natureza da atividade desenvolvida, evitando ofuscamentos, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos. Acrescenta, ainda, que os níveis mínimos de iluminamento dos locais de trabalho serão aqueles estabelecidos pelas normas brasileiras registradas no INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. Assim, os níveis de iluminamento para cada tipo de atividade são definidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, por meio da Norma Brasileira 8995/2013.
A NBR 8995/2013 cancelou e substituiu as Normas NBR 5413/1992 e NBR 5382/1985, e foi elaborada no Comitê Brasileiro de Eletricidade pela Comissão de Estudo de Aplicações Luminotécnicas e Medições Fotométricas. A NBR 8995/2013 especifica os requisitos de iluminação para locais de trabalho internos e os requisitos para que as pessoas desempenhem tarefas visuais de maneira eficiente, com conforto e segurança.
Alguns parâmetros que contribuem para o ambiente luminoso que devem ser observados para o alcance dos objetivos da norma são: distribuição da luminância, iluminância, ofuscamento, cintilação e luz natural entre outros. A norma especifica, em sua Seção 5, a iluminância média mínima para cada tarefa a ser realizada, independentemente da idade e condições das instalações. Para escritórios a iluminância a ser mantida na superfície de referência varia de 200 a 750 lux, a depender das tarefas ou atividades executadas (Tabela 04).
Tabela 04 – Planejamento dos ambientes (áreas), tarefas e atividades com a
especificação da iluminância, limitação de ofuscamento e qualidade da cor
Tipo de ambiente, tarefa ou atividade |
Em (lux) |
UGRL |
Ra |
Escritórios |
|
|
|
Arquivamento, cópia, circulação, etc |
300 |
19 |
80 |
Escrever, teclar, ler, processar dados |
500 |
19 |
80 |
Desenho técnico |
750 |
16 |
80 |
Estações de projeto assistido por computador |
500 |
19 |
80 |
Salas de reunião e conferência |
500 |
19 |
80 |
Recepção |
300 |
22 |
80 |
Arquivos |
200 |
25 |
80 |
Fonte: ABNT (2013).
Realizou-se esta pesquisa junto a um setor de uma instituição pública no sul do Brasil e teve como objetivo a realização de três análises: ergonômica, de ruído e de iluminância. Foram analisados quinze postos de trabalho, sendo que as atividades e tarefas realizadas em cada ambiente e postos verificados são semelhantes, assim os parâmetros analisados em cada um foram os mesmos. As salas do setor analisado estão situadas em um prédio histórico.
Para a realização desta pesquisa utilizou-se um questionário para a coleta de dados sobre as condições ergonômicas do posto de trabalho, medições das dimensões do mobiliário (cadeiras e mesas), medições de ruído e de iluminância. Para a realização da análise ergonômica deste trabalho foram realizadas as seguintes verificações:
Para iniciar a realização da análise ergonômica houve a coleta de dados por meio da aplicação de questionário com respostas fechadas, seguindo o modelo proposto por Couto (2007). Este questionário aborda a avaliação das condições ergonômicas em postos de trabalho informatizados, sendo possível avaliação da cadeira, mesa de trabalho, apoio para os pés, teclado, monitor de vídeo, gabinete e CPU, interação e leiaute, sistema de trabalho e iluminação do ambiente de trabalho. Assim, verificou-se a percepção dos usuários e seu grau de satisfação frente as condições de seus locais de trabalho.
Nos postos de trabalho analisados trabalham quinze pessoas sendo que todas responderam prontamente as perguntas deste questionário, o que corresponde a 100% do efetivo deste setor. Para a interpretação dos itens pesquisados e também para o total de itens do check-list considerou-se a seguinte pontuação: de 91 a 100% dos pontos (condição ergonômica excelente); de 71 a 90% dos pontos (boa condição ergonômica); de 51 a 70% dos pontos (condição ergonômica razoável); de 31 a 50% dos pontos (condição ergonômica ruim) e menos de 31% dos pontos (condição ergonômica péssima).
No questionário também constavam avaliações de suporte do teclado, porta documentos e notebook e acessórios para uso. Entretanto estes pontos não foram avaliados pelos trabalhadores, pois, seguindo as orientações do próprio questionário, verificou-se que são itens que não se aplicam às atividades analisadas. Posteriormente, a verificação da conformidade ergonômica das mesas e cadeiras utilizadas pelos servidores em seus postos de trabalho foi realizada, como referência, as dimensões estabelecidas por Carter e Banister (1994), retiradas do livro de Iida (2005).
Para a análise de ruído utilizou-se um Decibelímetro da marca Instrutherm modelo DEC-5010, Range 30 dB-130dB, devidamente calibrado (Figura 03). Para a coleta dos dados o aparelho foi posicionado na altura do ouvido do trabalhador durante 15 (quinze) minutos, para a obtenção da média de ruído a que o mesmo esteve exposto durante este tempo. Foram realizadas quinze medições, perfazendo 100% dos trabalhadores que laboram no setor em análise. Durante as medições foram consideradas as condições habituais do trabalho e os níveis de ruído foram medidos em decibéis, escala de compensação “A” e o circuito de resposta no decibelímetro foi o lento (slow).
Figura 03: Decibelímetro DEC-5010. Fonte: Dados da pesquisa, 2015.
A análise dos índices de iluminância dos ambientes e suas correspondências com o que estabelecem as especificações da NBR8995/2013 foram realizadas durante o dia com a utilização de Luxímetro marca Instrutherm, LDR-380 light meter devidamente aferido e calibrado. O aparelho foi configurado para medir até 2000 lux e foi posicionado sobre as mesas de trabalho. As medições foram realizadas em três diferentes horários da jornada de trabalho, em função da variação da luz natural ao longo do dia.
A primeira medição realizada foi a partir de 08h30minutos, a segunda medição ocorreu por volta de 13h30 minutos e a terceira medição foi realizada ao final da tarde, em torno de 17h00minutos. A Figura 04 mostra o aparelho que foi utilizado para a realização das medições.
Figura 04 – Luxímetro LDR-380. Fonte: Dados da pesquisa, 2015.
Durante a pesquisa foram avaliados dois modelos de mesas de trabalho, ambos em formato de “L”. Quatorze mesas fazem parte de ilhas de trabalho e uma mesa é isolada. Os modelos estão ilustrados na Figura 05.
Figura 05: Modelos de mesas em formato “L” analisadas. Fonte: Dados da pesquisa, 2015.
As dimensões das mesas utilizadas pelos servidores foram retiradas in loco, como se verifica no Quadro 01.
|
Mesas em formato “L” (14 mesas) Medidas (cm) |
Mesa em formato “L” (01 mesa) Medidas (cm) |
Altura |
75 |
74 |
Largura |
120 x 120 |
142 x 182 |
Profundidade |
60 |
62 |
Largura das gavetas |
40 |
- |
Bordas |
Arredondadas |
Arredondadas |
Quadro 01: Medidas das mesas. Fonte: Dados da pesquisa, 2015.
As cadeiras utilizadas pelos servidores são diferentes entre si, visto não haver padronização deste item do mobiliário. Assim, foi possível verificar os seguintes aspectos nas quinze cadeiras analisadas:
De acordo com o que preceitua a NR 17 – Ergonomia, verifica-se que as mesas e cadeiras analisadas atendem parcialmente seus requisitos, pois existem assentos nos postos de trabalho que não permitem ajuste de altura à estatura do trabalhador. Outro ponto a ser criticado é que a movimentação dos membros inferiores dos servidores de 12 postos de trabalho está limitada porque há gavetas acopladas às mesas, que dificultam a ampla movimentação e o correto posicionamento das pernas ao longo da jornada.
A retirada das gavetas e a colocação de gaveteiros laterais tornaria o espaço para a movimentação das pernas mais adequado. Verificou-se, ainda, que não há fornecimento de suporte para os pés que se adapte ao comprimento da perna do trabalhador para a totalidade dos servidores. Considerando as medições realizadas no mobiliário e as recomendações para um projeto de posto de trabalho com computadores de Carter e Banister (1994), verifica-se que existem pontos em que a conformidade não foi total, conforme o Quadro 02.
Variáveis |
Recomendado |
Verificado |
Conformidade |
Assento |
|||
Altura do assento |
38-57 |
38-50 e 44-54 |
Parcial |
Ângulo do assento/encosto |
90-120º |
Não há regulagem |
Parcial |
Teclado |
|||
Altura do teclado |
60-85 |
74 e 75 |
Conforme |
Altura da mesa |
58-82 |
74 e 75 |
Conforme |
Espaço para as pernas |
|||
Altura |
20 |
De 15 a 27 |
Parcial |
Profundidade |
60-80 |
De 60 a 62 |
Conforme |
Largura |
80 |
62 e 120 |
Parcial |
Tela |
|||
Altura |
90-115 |
104-115 |
Conforme |
Distância visual |
41-93 |
53-85 |
Conforme |
Ângulo visual |
0-30º |
0-30º |
Conforme |
Quadro 02 – Comparativo das medições com as recomendações ergonômicas.
Fonte: Dados da pesquisa, 2015 e Carter e Banister (1994).
Utilizando-se as recomendações de Carter e Banister e analisando o Quadro 02 verificou-se que em relação aos assentos utilizados há conformidade parcial. Isto ocorre porque a amplitude de variação da altura dos assentos verificada foi de 12 centímetros em oito cadeiras e de 10 centímetros em quatro cadeiras, o que não atinge a amplitude de 19 centímetros da recomendação. Ainda quanto aos assentos não há regulagem do ângulo do assento e encosto, o que impossibilita ajustes às diferentes estaturas e características físicas dos usuários para maior conforto. Os teclados utilizados nos quinze postos de trabalho analisados estão de acordo com o que estabelecem as recomendações de Carter e Banister.
Quanto à análise do espaço para as pernas verificou-se que a altura para as mesmas atende parcialmente as recomendações. Este ponto foi verificado, pois, devido às diferenças antropométricas dos usuários e limitação de variação de altura dos assentos, alguns servidores acabam por ter menos de 20 centímetros para a acomodação e movimentação das coxas. Também, verificou-se que o espaço para a movimentação lateral das pernas é de 62 centímetros, menor, portanto, que o recomendado. Existem gavetas acopladas às mesas das ilhas, que limitam e reduzem o espaço de deslocamento dos membros inferiores. A retirada destas gavetas e a colocação de gaveteiros laterais em cada posto de trabalho adequaria-os a estas recomendações. A mesa em formato de “L” isolada atende a recomendação, pois possui largura de 120 centímetros para a movimentação lateral das pernas. Para concluir o Quadro 02, verificou-se as telas utilizadas nos postos de trabalho analisados estão conforme as recomendações estabelecidas por Carter e Banister.
Por fim, para a análise ergonômica utilizou-se o questionário de verificação de condições ergonômicas em postos de trabalho informatizados de COUTO, 2007, sendo possível avaliação da cadeira, mesa de trabalho, apoio para os pés, teclado, monitor de vídeo, gabinete e CPU, interação e leiaute, sistema de trabalho e iluminação do ambiente de trabalho. Assim foi possível verificar a visão de cada trabalhador frente a alguns itens do seu posto de trabalho bem como dos postos de trabalho como um todo. Para a interpretação dos itens pesquisados e também para o total de itens do check-list foi considerada a seguinte pontuação: de 91 a 100% dos pontos (condição ergonômica excelente); de 71 a 90% dos pontos (boa condição ergonômica); de 51 a 70% dos pontos (condição ergonômica razoável); de 31 a 50% dos pontos (condição ergonômica ruim) e menos de 31% dos pontos (condição ergonômica péssima). A avaliação individual de cada item do questionário está mostrada abaixo.
O gráfico (Figura 06) de avaliação da cadeira demonstrou que 40% dos entrevistados consideram a cadeira boa ou excelente. Entretanto 60% dos usuários a consideram de péssima a razoável. Dentre os apontamentos negativos dos usuários está a falta de regulagem de inclinação do apoio dorsal das cadeiras, espessura e maciez do estofamento inadequado e a falta de mecanismos de conforto como regulagem de profundidade do encosto ou modelos de cadeiras para pessoas com dimensões maiores.
Na Figura 07, em relação à avaliação da mesa de trabalho observa-se que 87% das pessoas não estão satisfeitas, considerando-a, no máximo, razoável. Dentre os itens apontados para esta avaliação negativa está o fato de que os usuários não a consideram o tipo de mesa mais adequado para a função exercida, ausência de regulagem de altura para pessoas muito altas ou muito baixas bem como a falta de organização adequada dos fios, que acabam por interferir na área de trabalho.
Observa-se na Figura 08 que mais de 70% dos entrevistados o teclado utilizado para a realização das atividades laborais está apropriado, possuindo teclas com dimensões e concavidade adequadas e mecanismo de inclinação. Vale ressaltar que, por conter poucos questionamentos, a avaliação torna-se mais sensível à mudança de uma resposta.
A Figura 09 mostra que o monitor de vídeo foi um item bem avaliado pelos usuários, uma vez que mais de 80% deles o consideram bom ou excelente. Entretanto, um apontamento negativo verificado por 8 dos 15 entrevistados é a dificuldade de inclinação e ajuste do monitor quando necessário.
A Figura 10 é referente à avaliação do gabinete e CPU, sendo positiva por mais da metade dos trabalhadores. Contudo, por possuir apenas três questionamentos a serem avaliados (espaço no posto de trabalho, transmissão de calor radiante e geração de nível de ruído) também é um item cuja avaliação torna-se mais sensível à mudança de uma resposta.
Na Figura 11, observa-se que na avaliação da interação e do leiaute foram abordados questionamentos sobre a concentração permitida ao trabalhador no local de trabalho, sobre a interferência de estabilizadores, CPU’s, caixas ou outros materiais no posicionamento corporal, temperatura do local de trabalho, nível sonoro dentre outros. Cerca de 87% dos usuários estão descontentes, considerando o local no máximo razoável.
Na avaliação do sistema de trabalho (Figura 12) foram abordados basicamente questionamentos sobre pausas ao longo da jornada e sobre o software utilizado nas atividades desenvolvidas. Verificou-se que este foi um item bem avaliado, uma vez que 80% dos trabalhadores o consideram bom ou excelente.
Observa-se na Figura 13 que para 60% das pessoas que responderam o questionário a iluminação do ambiente no qual trabalham foi considerada de péssima a razoável. Neste item foram abordadas questões sobre a disponibilidade de iluminação suplementar para pessoas com mais de 45 anos, existência ou não de reflexos e fontes de deslumbramento no campo de visão de trabalhador, posição dos postos de trabalho em relação às janelas, se o trabalhador considera a iluminação existente adequada dentre outros. Importante salientar que iluminação inadequada influencia negativamente no desempenho das atividades e no conforto visual do trabalhador ao longo da jornada.
A avaliação final consolidada por pontuação dos itens avaliados no questionário encontra-se no Quadro 03. A avaliação do apoio para os pés ficou prejudicada, pois este item existe em apenas quatro dos postos de trabalho analisados, não havendo disponibilidade para os demais postos, ainda que necessário. Assim, por poder ser avaliado por menos de 1/3 das pessoas que responderam o questionário este item foi retirado da consolidação dos resultados.
Vale ressaltar, entretanto, que este é um ponto negativo na análise ergonômica, pois devido as diferenças antropométricas dos trabalhadores e as limitações de regulagem de mesas e cadeiras o apoio para os pés deve estar disponível a todas as pessoas que dele necessitarem para a adaptação do comprimento da perna do trabalhador e o adequado posicionamento dos segmentos corporais.
|
Pontuação máxima possível |
Pontuação média verificada |
Percentual |
Avaliação Final |
Avaliação da Cadeira |
19 |
12 |
63,16% |
Razoável |
Avaliação da Mesa de Trabalho |
12 |
6,67 |
55,58% |
Razoável |
Avaliação do Apoio para os pés |
- |
- |
- |
- |
Avaliação do Teclado |
4 |
2,73 |
68,25% |
Razoável |
Avaliação do Monitor de Vídeo |
8 |
6,33 |
79,12% |
Boa |
Avaliação do Gabinete e CPU |
3 |
2,33 |
77,67% |
Boa |
Avaliação da Interação e do Leiaute |
11 |
5,73 |
52,09% |
Razoável |
Avaliação do Sistema de Trabalho |
4 |
3 |
75,00% |
Boa |
Avaliação da Iluminação do Ambiente |
8 |
5,07 |
63,37% |
Razoável |
Quadro 03 – Avaliação consolidada conforme COUTO, 2007. Fonte: Autores, 2015.
Com base nos resultados obtidos observa-se que existem itens a serem melhorados nos quesitos analisados, sendo o principal deles a interação e o leiaute, que, pela pontuação média verificada, não apresentou bom percentual final. Este item avaliou, dentre outros questionamentos, se o local de trabalho permite boa concentração, se há interferências no mobiliário que prejudiquem a posição corporal, se a temperatura ambiente é adequada e se o nível sonoro é apropriado.
Mesas de trabalho, cadeiras e iluminação do ambiente são pontos que também se mostraram apenas razoáveis, devendo ser melhorados para trazer mais conforto e condições ergonômicas adequadas aos trabalhadores. Em que pese o quesito teclado também ter se mostrado razoável, ele é menos grave no contexto avaliado, pois por conter poucos questionamentos torna-se mais sensível à mudança de uma resposta.
Foram realizadas medições de ruído aos quais os trabalhadores estão expostos diariamente nos quinze postos de trabalho do setor objeto de análise deste estudo. O Quadro 04 apresenta o resultado da média do ruído observada em cada posto de trabalho.
Nota-se que o ruído em todos os postos de trabalho analisados está acima do limite estabelecido pela NBR 10152 (ABNT) para atividades administrativas, que é de até 45 dB(A). Valores acima deste limite podem acarretar dificuldades de concentração aos trabalhadores.
Durante o processo de medições verificou-se que, para oito dos quinze postos de trabalho analisados, uma pequena parte do ruído provém do ambiente externo, uma vez que as mesas estão localizadas junto a janelas próximas a uma movimentada avenida da cidade. O ruído externo contribui para a diminuição da concentração, por ocorrer continuamente ao longo de toda a jornada de trabalho.
Posto de Trabalho |
Média de ruído em dB(A) |
01 |
67,2 |
02 |
70,0 |
03 |
65,1 |
04 |
65,9 |
05 |
70,0 |
06 |
70,0 |
07 |
74,0 |
08 |
70,0 |
09 |
73,0 |
10 |
70,0 |
11 |
65,6 |
12 |
70,0 |
13 |
66,1 |
14 |
67,7 |
15 |
70,0 |
Quadro 04: Média de ruído observada em cada posto de trabalho. Fonte: Autores, 2015.
A medida tomada pelos trabalhadores é fechar as janelas para diminuir o ruído externo, o que ameniza o problema, mas prejudica a circulação de ar no ambiente, causando, muitas vezes, desconforto térmico por não haver climatização ambiental.
Com os levantamentos realizados utilizando a metodologia de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas a NBR-8995/2013, foi possível verificar se os índices de iluminância nos ambientes e postos de trabalho analisados estão de acordo com a norma. Os ambientes analisados possuem nível de iluminância mantida determinado pela norma NBR-8995/2013 de 500 lux, pois consistem em escritórios nos quais as atividades desenvolvidas são, basicamente, escrever, ler, teclar e processar dados. A Figura 14 ilustra um dos ambientes verificados.
Figura 14: Exemplo de ambiente verificado. Fonte: Autores, 2015.
O Quadro 05 apresenta os três valores de iluminância obtidos em cada posto de trabalho. Observa-se que os níveis mínimos de iluminamento de alguns postos de trabalho estão abaixo do que determina a Norma.
No Quadro 05 observa-se que apenas cinco dos quinze postos de trabalho analisados possuem o índice de iluminamento mínimo ao longo de toda a jornada de trabalho. Nos outros dez postos de trabalho, em pelo menos uma medição, o índice iluminamento apresentado foi inferior ao recomendado pela NBR-8995/2013, que é de 500 lux.
Posto de trabalho |
Valor obtido (lux) 1ª Medição |
Valor obtido (lux) 2ª Medição |
Valor obtido (lux) 3ª Medição |
Valor Mínimo Permissível (lux) |
01 |
640 |
1450 |
550 |
500 |
02 |
556 |
1000 |
520 |
500 |
03 |
236 |
223 |
225 |
500 |
04 |
264 |
265 |
255 |
500 |
05 |
580 |
850 |
500 |
500 |
06 |
765 |
1020 |
500 |
500 |
07 |
760 |
1200 |
510 |
500 |
08 |
430 |
605 |
425 |
500 |
09 |
460 |
640 |
435 |
500 |
10 |
502 |
820 |
410 |
500 |
11 |
315 |
435 |
321 |
500 |
12 |
430 |
360 |
320 |
500 |
13 |
268 |
278 |
260 |
500 |
14 |
377 |
300 |
370 |
500 |
15 |
345 |
260 |
245 |
500 |
Quadro 05: Valores de iluminância obtidos em cada posto de trabalho. Fonte: Autores, 2015.
Observou-se ao longo das verificações que os postos de trabalho com menor iluminamento são os postos 03, 04 e 13. Os postos 03 e 04 estão ilustrados na Figura 15 e, como estão localizados mais distantes das janelas, recebem menos luz natural delas proveniente.
Figura 15: Postos de trabalho distantes das janelas. Fonte: Autores, 2015.
O iluminamento inadequado do posto de trabalho pode acarretar queda de rendimento do trabalhador, fadiga visual, dificuldade de concentração entre outros sinais.
Em relação à análise ergonômica o estudo mostrou que há pontos a serem melhorados. Pela metodologia de Carter e Banister, bem como pelo questionário aplicado de Couto verificou-se que, entre os itens com maior necessidade de adequação, estão as cadeiras e mesas de trabalho. A retirada das gavetas acopladas às mesas e a colocação de gaveteiros laterais melhoraria a posição de trabalho dos servidores, adequaria o espaço para as pernas e teria maior conforto aos usuários. As cadeiras necessitam de maior amplitude de variação de altura, a fim de haver melhor adequação às características antropométricas dos servidores, bem como possibilidade de ajuste do apoio dorsal. A interação e o leiaute é outro ponto que, de acordo com a visão dos trabalhadores precisa de melhorias.
A norma NBR determina que para ambientes de escritório o nível de ruído máximo deve ser de 45 dB (A), visto que são ambientes que exigem maior grau de concentração. Contudo, nenhum dos postos de trabalho verificados atenderam este limite de 45 dB (A) estando, portanto, acima do limite aceitável para atividades administrativas. Pela análise de iluminância verificou-se que os postos de trabalho adjacentes às janelas possuem índice de iluminamento acima do mínimo estabelecido pela norma. Contudo, os postos mais distantes não estão de acordo com a norma NBR 8995/2013, visto que, em pelo menos uma das medições realizadas ao longo do dia, o índice ficou aquém do estabelecido para ambientes de escritório, que é de pelo menos 500 lux.
Por fim, após a análise dos resultados deste trabalho é recomendável que o órgão elabore um plano de ação para a correção de impropriedades encontradas e para adequação dos postos de trabalho a seus usuários bem como adequação dos ambientes às especificações da norma NBR 8995/2013 no que concerne à iluminância e da norma NBR 10152/1987 em relação ao ruído. Maior conforto no ambiente de trabalho traz maior produtividade e reduz a incidência de doenças relacionadas a instalações e iluminação inadequadas e excesso de ruído.
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