Espacios. Vol. 37 (Nº 29) Año 2016. Pág. 18
João Paulo AIRES 1; Luiz Alberto PILATTI 2
Recibido: 31/05/16 • Aprobado: 21/06/2016
4. A aprendizagem significativa de Ausubel
5. Como a aprendizagem significativa acontece?
7. Discussões sobre ensino adaptativo voltado à aprendizagem significativa
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo, discorrer sobre a proposta de ensino adaptativo e sua ligação com a aprendizagem significativa. São apresentados os conceitos ligados à teoria de aprendizagem proposta por Ausubel e como ela pode ser obtida por intermédio do ensino adaptativo. Para desenvolver este trabalho, foi adotada uma revisão bibliográfica, trazendo para a discussão artigos retirados do portal Periódicos da Capes e da ferramenta Google Scholar, utilizando como palavras-chave de pesquisa os seguintes termos: "ensino adaptativo", "adaptative learning", "aprendizagem significativa". Como conclusão da pesquisa, pode-se avaliar uma interação entre as ideias do ensino adaptativo e aprendizagem significativa, uma vez que a plataforma adaptativa molda a sequência de ensino de acordo com cada aluno e seu nível de dificuldade. Foi possível concluir também, que o ensino adaptativo promove a aprendizagem significativa, visto que a curva de aprendizado é moldada com o intuito de reforçar os conceitos que o aluno ainda não compreendeu. Desta forma outros objetos de aprendizagem (vídeos, textos, imagens, sons) são carregados, para auxiliar o processo de ensino e promover a aprendizagem significativa. |
ABSTRACT: This article aims, discuss the proposed adaptive learning and its connection with meaningful learning. They present the concepts related to learning theory proposed by Ausubel and how it can be obtained through the adaptive education. To develop this work, a literature review was adopted, bringing the portal removed items discussion Journals Capes and Google Scholar tool, using as search keywords the following terms: "adaptive learning", "learning adaptative"," meaningful learning. " As a conclusion of the research, one can evaluate an interaction between the ideas of adaptive learning and significative learning, since the adaptive platform shapes the teaching sequence according to each student and their level of difficulty. It was concluded also that the adaptive education promotes meaningful learning, as the learning curve is shaped in order to reinforce the concepts that the student has not understood. Thus other learning objects (video, text, images, sounds) are loaded to assist the teaching process and to promote meaningful learning. |
Atualmente somos movidos pelo progresso nas mais variadas áreas do conhecimento, com base em alguns fatores como o capitalismo, a globalização, a ciência e a tecnologia. É notável que estes fatores, provocaram avanços significativos na sociedade e, com isto, ocorreram mudanças radicais no mundo em que vivemos.
É fato que, com as mudanças proporcionadas em todos os segmentos, é necessário voltar os olhos para tornar a educação um elemento diferenciado e, dessa forma, o ambiente escolar precisa não somente de pessoas engajadas com o ensino, mas, sobretudo, que ele seja administrado de maneira que proporcione o interesse dos alunos e, assim, possa transformar a realidade pessoal e profissional de cada um.
Uma forma de transformação, na qual se aproveita as oportunidades disponíveis nos dias de hoje, é a aprendizagem significativa, que permite ao professor exemplificar cada conteúdo de maneira que aproveite o conhecimento prévio do aluno. Com isso, o aprendizado se torna mais prazeroso, uma vez que o aluno passa a se interessar mais pela disciplina em virtude da associação feita com aquilo que ele já conhece.
Neste âmbito, surge o ensino adaptativo, que tem como elemento principal a abordagem de ensino voltado aos interesses do aluno, aproveitando-se daquilo que ele já domina e fortalecendo os pontos que ele precisa se esforçar mais. Isto nada mais é do que uma aprendizagem significativa, na qual a plataforma utilizada e que se adapta ao aluno e procura abordar cada tópico com base nas experiências que o aluno possui, semelhante à aprendizagem significativa.
Assim, este artigo tem como objetivo, discutir sobre a aprendizagem significativa e o ensino adaptativo e que, trabalhados em conjunto, proporcionarão ações diferenciadas na maneira como ensinamos e aprendemos.
Para desenvolver este trabalho e alcançar os objetivos propostos, foi adotada uma revisão bibliográfica baseada em publicações disponíveis na literatura, visto que estas permitem a obtenção de conclusões sobre um tema em particular.
De modo a fortalecer a discussão acerca da temática do ensino adaptativo, o levantamento bibliográfico foi realizado pela Internet buscando artigos do portal Periódicos da Capes (considerada a principal base de dados brasileira) e da ferramenta Google Acadêmico. Para o levantamento dos artigos, foram utilizadas como palavras-chave de pesquisa os seguintes termos: "ensino adaptativo", "adaptative learning", "aprendizagem significativa".
Para a seleção da amostra analisada, optou-se em selecionar alguns artigos publicados em revistas com fator de impacto e outros indexados pelo Qualis da Capes, para que pudessem servir como parâmetro e fundamentassem as discussões realizadas no trabalho. As informações coletadas na revisão, pautaram-se em: objetivos do estudo; resultados obtidos; discussão conduzida no estudo; conceitos acerca da temática.
O avanço tecnológico ocorrido nos últimos anos nos proporcionou maneiras diferentes de circulação e de armazenamento de informações, sendo estas, quase que instantaneamente, podem ser visualizadas por milhares de pessoas. Neste cenário de transformações, a educação dispõe de inúmeras ferramentas que podem cooperar nos processos de ensino, permitindo o acesso de informações de forma ágil e atualizada.
Porém, apenas as ferramentas não são suficientes e conforme ilustrado por Safanelli et al. (2012) “[...] existem muitos desafios a serem superados para que a educação [...]” possa promover o “[...]desenvolvimento dos países e o sucesso profissional.”. Com isso, é relevante destacar que a educação, para proporcionar a transformação esperada, precisa utilizar com sabedoria os meios disponíveis na atualidade e capacitar os docentes de forma adequada.
Em seu trabalho, Safanelli et al. (2012) destaca alguns desafios para a educação, tais como:
“[...] a necessidade de despertar nas pessoas a vontade de buscar conhecimentos ao longo de toda a vida, gerando uma sociedade educativa; o foco e as limitações presentes nas políticas educacionais; a flexibilidade e diversidade dos sistemas de ensino; a absorção de pilares fundamentais capazes de fazer com que a educação desperte as potencialidades de cada um e, ainda, algumas tensões presentes na sociedade atual.”
Em uma rápida análise, é possível perceber que, conforme apresentado por Safanelli, é preciso pessoas interessadas em proporcionar a transformação educacional, que reflitam sobre as possibilidades e limitações existentes, e que incentivem nas pessoas o desejo de assimilar aquilo que lhes permita o diferencial.
Para Delors et al. (2010) “[...] a educação surge como um trunfo indispensável para que a humanidade tenha a possibilidade de progredir na consolidação dos ideais de paz, da liberdade e da justiça social.”, ou seja, somente através de investimentos em educação é possível transformar a sociedade.
Porém, apesar das inúmeras possibilidades que a educação proporciona, Safanelli et al. (2012) apud Delors et al. (2010) nos apresenta alguns desafios, dentre eles: 1) A tensão entre o global e o local – proporcionado pela individualismo; 2) O esquecimento do caráter único de cada pessoa – devido às pressões do dia-a-dia; 3) A concentração nos problemas imediatos – que fazem as pessoas se preocuparem com o hoje, sem pensar no futuro.
Neste cenário, cabem algumas reflexões: as pessoas estão cada vez mais atribuladas, fazendo com que se esqueçam das reais necessidades e se importem com elementos de pouca relevância. A única e real preocupação é a condição em que se encontram e a possibilidade que a vida pessoal e profissional disponibiliza. Com isso, por diversas vezes neste mundo capitalista, a preocupação é trabalhar para ganhar o dinheiro para sobrevivência e que, nem sempre, coloca a educação à frente.
No que diz respeito à forma de trabalho adotada pelos professores, Demo (2010) enfatiza algo preocupante “Certamente, há aula e aula. Estou falando aqui de aula instrucionista, aquela dada sem autoria. Apesar do reconhecimento insistente do baixíssimo desempenho da escola, continuamos tocando o mesmo barco.”. Neste sentido, o maior desafio é proporcionar aos docentes uma transformação radical, principalmente por intermédio de capacitação.
Assim, apesar da educação proporcionar inúmeras mudanças na sociedade (como a escrita, a capacidade crítica e reflexiva, entre outros), é imprescindível que cada pessoa estabeleça seus próprios objetivos, ou seja, cada um deve definir os desafios que pretende vencer, por intermédio de uma capacitação continuada para ter melhores oportunidades.
Com a Lei 13.005 de 25 de junho de 2014, o governo federal brasileiro aprovou o Plano Nacional de Educação (PNE), que tem por objetivo central, definir os objetivos para a educação brasileira nos próximos dez anos. Dentre as diretrizes do PNE, descritas no Art. 2º, destacam-se três principais: “[...] IV - melhoria da qualidade da educação; [...] VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto – PIB [...] IX - valorização dos (as) profissionais da educação [...]”.
Essencialmente, é notável que a proposta do PNE vem ao encontro da necessidade de melhoria contínua no processo de ensino. Entretanto, é importante frisar que, apesar de uma política nacional, será necessário o entendimento da sociedade e, principalmente, de alunos e professores, como verdadeiros transformadores: o professor como mediador do conteúdo e o aluno, como o aprendiz interessado em novas possibilidades.
A teoria de aprendizagem de Ausubel, denominada aprendizagem significativa, estabelece a importância em valorizar os conhecimentos que os alunos trazem para a sala de aula, de maneira que se possam estabelecer estruturas mentais relevantes e que permitam absorver novos conhecimentos (Pelizzari et al., 2002; NETO, 2006; TAVARES, 2010; FERNANDES, 2011). Desta forma, o aprendizado passa a ser mais interessante e prazeroso para o aluno, uma vez que o significado do conteúdo é mais pertinente.
No processo ensino-aprendizagem tradicional, normalmente são utilizados livros como material de apoio. Estes, por sua vez, estão organizados de maneira que os conteúdos são estruturados conforme uma sequencia lógica e coerente. Assim, é possível dizer que esse material é significativo, quando o leitor é capaz de relacioná-lo com informações que ele domine anteriormente (TAVARES, 2010).
Adicionalmente uma aprendizagem é dita significativa, no momento em que um novo conteúdo lecionado é agrupado ao conhecimento de um aluno, dando significado a partir da relação com o conhecimento que ele já possui. Por exemplo, ao falarmos as palavras “mão”, “casa”, “carro”, automaticamente fazemos uma ligação com algo que conhecemos. Assim, quando o conteúdo sobre Lesões por Esforços Repetitivos (LER) mencionar os problemas nas articulações das mãos, já formamos uma imagem automaticamente em nossas mentes.
Fernandes (2011) destaca que “[...] aprender significativamente é ampliar e reconfigurar ideias já existentes na estrutura mental e com isso ser capaz de relacionar e acessar novos conteúdos.”. Em outras palavras, para que o aprendizado seja absorvido é necessário que a informação tenha relevância e aproveite as vivências prévias, ou seja, quanto maior for a quantidade de associações feitas durante o aprendizado, mais facilmente ele será incorporado.
À medida que um conteúdo a ser transmitido não tem ligação com algo já conhecido, acontece o que Ausubel denomina de aprendizagem mecânica, ou seja, são as novas informações “aprendidas” sem ligação nenhuma com conceitos relevantes. Isto é muito comum quando se memoriza uma fórmula matemática, datas de períodos históricos, passos para se construir um algoritmo e que, normalmente, são esquecidos depois que ocorre a avaliação.
Adicionalmente Pelizzari et al. (2002), menciona que a aprendizagem passa a ser mecânica quando “[...] se produziu menos essa incorporação e atribuição de significado, e o novo conteúdo passa a ser armazenado isoladamente [...]”. Desta forma, é possível perceber que basicamente memoriza-se algo e que, se não produzir um efeito interessante, simplesmente reproduziremos aquilo sem termos ideia do porquê.
O Quadro 1 apresenta uma descrição dos dois tipos de aprendizagem, baseado nos autores Neto (2006) e Tavares (2010). Nele, é possível verificar que a diferença básica entre elas está na forma como uma pessoa adquire conhecimento, bem como, os processos utilizados para vencer os obstáculos.
Quadro 1 – Tipos de aprendizagem
TIPO DE APRENDIZAGEM |
FORMA DE APRENDIZADO |
Exemplo de aquisição |
Aprendizagem mecânica |
Parte do princípio da memorização, sem estabelecer relações com outras informações assimiladas |
Memorização da tabuada é baseada na repetição |
Aprendizagem significativa |
A nova informação é relacionada a conhecimentos anteriores relevantes |
Os conceitos se tornam mais claros quando relacionados |
Basicamente na aprendizagem mecânica, a interação com o aluno é feita por intermédio de aulas teóricas, que estimulam decorar aquilo que é transmitido, enquanto que a aprendizagem significativa, o professor se preocupa em dar sentido aquilo que está sendo lecionado, de modo que o aluno consiga compreender de forma adequada o tópico com exemplo de sua vivência.
A teoria da aprendizagem significativa de Ausubel foi projetada para o ambiente escolar, considerando todo o aprendizado já obtido pelas pessoas, destacando o papel fundamental do professor em propor algo diferenciado e que, de certa forma, favoreça a aprendizagem (NETO, 2006; FERNANDES, 2011). Para isso, é essencial que o conteúdo lecionado seja motivador, que ele proporcione algo diferente daquilo já obtido e, principalmente, que o aluno esteja interessado em associar o conteúdo de forma coerente.
Para Tavares (2010), a aprendizagem significativa depende de três condições:
“[...] o material instrucional com conteúdo estruturado de maneira lógica; a existência na estrutura cognitiva do aprendiz de conhecimento organizado e relacionável com o novo conteúdo; a vontade e disposição do aprendiz de relacionar a nova informação com o conhecimento já existente.”
De acordo com as condições apresentadas pelos autores estudados, destaca-se essencialmente que o aluno precisa estar interessado em aprender. Para isso, o conteúdo deve estar organizado logicamente e ter significado que seja interpretado como relevante para quem está aprendendo.
Em linhas gerais, a aprendizagem significativa foi desenvolvida com base na associação e relevância do novo conteúdo com algo anteriormente conhecido e que gere interesse. Por exemplo, quando alguém nos fala as palavras "mão", "triângulo", "carro", imediatamente estabelecemos mentalmente uma imagem a cada uma das palavras, ou seja, estamos utilizando o conhecimento prévio para vincular a algo que foi mencionado. No ensino é exatamente da mesma maneira. Podemos dizer, inclusive, que o docente não ensina algo a alguém. Ele basicamente repassa um conceito (conteúdo) que é internalizado pelo aluno e interpretado da forma que ele julga mais pertinente. Se aquilo que é transmitido gera interesse, ele é naturalmente assimilado. Caso contrário, precisa haver outro estímulo para construir o conceito.
Adicionalmente Pelizzari et al. (2002) e Fernandes (2011), destacam que para a aprendizagem significativa ocorrer é necessário entendê-la como um processo de modificação do conhecimento, além de compreender a relevância que a análise mental têm nesse desenvolvimento. As ideias de Ausubel se baseiam em trabalhar a aprendizagem e o ensino, preocupando-se em dar sentido àquilo que se pretende instruir; ao invés de transferir o conhecimento de forma genérica extraídos de outras situações ou contextos de aprendizagem (FONSECA, MOURA, VENTURA; 2004).
Com isso, o aprendizado dependerá exclusivamente da maneira como o aluno recebe o conteúdo, do conhecimento prévio que ele tenha sobre o assunto e, principalmente, que produza um significado importante. Conforme citado por Tavares (2010) “[...] se consuma a aprendizagem significativa, de maneira que a nova informação será incorporada na estrutura cognitiva do aprendiz, usando o seu modo peculiar de fazer isso”. Desse modo, cada pessoa procura aprender algo, com base em suas experiências, vivências anteriores e, assim, para dominar um novo conceito, é preciso não somente de esforço cognitivo mas, essencialmente, o significado do que for trabalhado.
Para ilustramos como seria uma aprendizagem significativa, temos o seguinte exemplo: como pode ser trabalhado o conteúdo de variáveis locais e globais para uma turma de computação? O aluno pode se perguntar “mas o que é uma variável”. O professor traz o conceito, informando a eles que uma variável nada mais é do que um elemento que pode assumir valores diferentes durante o tempo em que um programa funciona. Mas qual a diferença entre uma variável local e uma global? Usando a aprendizagem significativa, o professor pode utilizar a ilustração da Figura 1. Nela, percebe-se que são utilizados elementos do dia-a-dia (uma casa, sala, calçada) para tornar significativo o conteúdo. Desta forma, para dizer que o local é aquilo que somente um processo tem acesso e o global todos os processos tem, vincula-o com o cotidiano, ou seja, a geladeira de dentro da casa, apenas o moradores podem abrir. A que está na calçada, pode ser aberta por qualquer pessoa que passar pela rua ou pelos vizinhos.
Figura 1 – Exemplificando variáveis na aprendizagem significativa
Conforme o exemplo utilizado na Figura 1, é possível dizer que o conteúdo, além de ser trabalhado de uma forma mais atrativa e visual, o conhecimento obtido com esta interação passará a ser mais significativo, pois o receptor fará uma análise mental diferenciada e com base na vivência que já possui.
Imaginemos o seguinte cenário: informações disponíveis on-line em diversos portais; redes sociais que permitem milhares de compartilhamentos diariamente; aplicativos móveis que aceitam a atualização de condições de trânsito nas cidades. Tudo disponível ao alcance de todos. Como a educação pode se beneficiar dessa infinidade de possibilidades para melhorar as condições de ensino?
Analisando esta perspectiva, as empresas norte-americanas Knewton, EdSurge e DreamBox, apostaram na implantação do conceito de ensino adaptativo ou aprendizagem adaptativa (Adaptative Learning), que contempla a variação de conteúdos voltados à educação (CAMPOS, 2014).
Considerando que existe uma infinidade de materiais educacionais digitalizados (livros, apresentações, documentos, exercícios), através do ensino adaptativo será possível adotar novas formas para que os estudantes possam aprender (CAMPOS, 2014; FERREIRA, 2014). Esta forma de ensino é denominada adaptativo, pois o aluno pode utilizar o material que melhor convier para absorver o conteúdo.
Mas o que tem de diferencial em uma plataforma, para que seja denominada adaptativa? Já dispomos de algumas tecnologias que podem ser aplicadas ao ensino (Web 2.0, Moodle, Blog, ...) e o que esta tem de especial que as outras não dispõe? Pensando em uma resposta simples e direta, vemos que o que chama atenção para esta nova forma de ensino é a inteligência computacional (GOMES, 2013) na qual ela está implantada.
Gomes (2013) acrescenta que “Por trás daquele ambiente virtual de aprendizado, com conteúdos agrupados e entregues das mais diversas formas, há um algoritmo capaz de sugerir ao aluno a forma como ele tende a aprender melhor – se por vídeo, texto, atividades interativas ou outras [...]”. Com isso, além do aprendizado ser voltado para o interesse do aluno, ou seja, aquilo que efetivamente ele precisa aprender, o processo de ensino-aprendizagem torna-se diferenciado.
O ensino adaptativo se sustenta na análise de grande volume de dados, permitindo sugerir novas maneiras de aprendizagem e novas formas de aprender, que pode ser mais eficiente que o formato tradicional de aula expositiva (FERREIRA, 2014). Trata-se de uma forma de ensino personalizado, no qual o ensino adapta-se ao aluno e não o contrário.
Como exemplo, podemos imaginar o seguinte: o que é necessário saber para resolver uma equação do 2º grau? Será que todos os alunos tem condições de, ao receber um exercício resolvê-lo instantaneamente com a base teórica que possui? Com a ferramenta adaptativa, se esta perceber que o aluno não tem condições, ou de repente, se equivocou na interpretação de um conceito, o fluxo natural do aprendizado é ajustado para que aluno consiga consolidar aquilo que não tenha aprendido corretamente. Para cada um, a ferramenta poderá trazer conteúdos adicionais (e diferentes dos demais), dependendo do tempo que utilizam para cada atividade proposta, qual tipo de exercício prefere, quais dificuldades são mais comuns. A ferramenta aprende sobre as preferências e problemas de aprendizado dos alunos e, quanto mais ele interage com a plataforma, mais específicas são as sugestões.
Para Ferreira (2014) “[...] a personalização do ensino tem sido apontada como uma das formas mais eficientes de garantir o aprendizado dos alunos.”, o que permite que o ensino seja otimizado para a necessidade do aluno e ele possa aprender o quanto julgar suficiente. Entretanto, é necessário que seja realizada uma coleta de dados eficiente para que seja possível selecionar os conteúdos adequados para cada aluno.
A agência Education Achievement Authority, tem como objetivo principal transformar escolas de baixo rendimento de Michigan (EUA) em uma instituição diferenciada e inovadora, podendo ser adaptada para cada dificuldade e disciplina. Os dados coletados dos alunos são questionário de interesse, testes de aprendizado, frequência dos alunos e comportamento em sala de aula. Após recolher as informações de diversas maneiras (dentro e fora de sala), a agência conta com a ajuda de várias pessoas (especialistas, educadores, alunos), que desenham os caminhos de aprendizado (FERREIRA, 2014). Desta maneira, as avaliações podem ser adaptadas ao nível de conhecimento do aluno, conforme seu progresso na disciplina.
Assim, conforme abordado por Campos (2014) “Para facilitar a adaptabilidade dos assuntos estudados, os conteúdos passarão a ser gerados sempre em pedaços e em diferentes formatos como texto, vídeo e áudio”. Ao analisarmos esta tendência, atualmente algumas ferramentas, a exemplo do Moodle (utilizado como ambiente virtual de ensino aprendizagem), permitem a interação com diferentes mídias, tornando o ensino diferenciado.
Porém, a diferença entre o Moodle e as ferramentas adaptativas, é que enquanto ele é uma ferramenta que realiza apenas o que está programado/organizado – torna-se um ensino engessado; aqueles instrumentos voltados ao ensino adaptativo, trabalham com um grande volume de dados que são exibidos ao aluno, à medida que ele precisa, complementando o ensino. No Moodle, projetamos um ambiente fixo como uma caixa: o aluno aprende o que está ali. Se ele sentir que precisa de informação adicional, e o professor não perceber esta necessidade, o aluno tem que recorrer a ferramentas de consulta para buscar novas informações. No caso do adaptativo isto é feito automaticamente, pois, quando se constata que não conseguiu vencer um exercício, novos conteúdos são “exibidos” para fortalecer aquele ponto de fraqueza.
Conforme os autores Pelizzari et al (2002), Fernandes (2011), Neto (2006), Tavares (2010), Fonseca, Moura e Ventura (2004), a aprendizagem significativa é tudo aquilo que o aluno consegue compreender baseado nas vivências anteriores e com conteúdo organizado logicamente, permitindo o raciocínio apropriado sobre a disciplina aprendida.
Assim, o ensino é dito significativo quando transformamos a possibilidade de aprendizado, na qual o sucesso da interação aluno-professor é medido por aquilo que efetivamente o aluno compreendeu. Trata-se de uma forma dinâmica de ensinar, pois leva em consideração o conhecimento e as experiências anteriores. Isto é bem diferente que a aprendizagem por memorização, na qual o ser humano passa a ser um mero coadjuvante, pois o ensino passa a ser mecânico: simplesmente repete-se algo, decora-se.
Neste sentido, Kalena (2013), Campos (2014), Ferreira (2014) e Gomes (2014) discorrem sobre o ensino adaptativo, que tem com objetivo central o aprendizado baseado nos interesses do aluno. Desta forma, para um conteúdo ser lecionado, são levados em consideração quais conteúdos precisam ser reforçados para se chegar no objetivo, sendo utilizados os mais diversos meios de interação (vídeo, texto, jogos, exercícios).
Trata-se de uma plataforma computacional, capaz de ajustar o ensino para o aluno. Significa dizer que, um determinado conteúdo é aprendido de forma diferente dependendo do aluno, ou seja, as estratégias utilizadas para alcançar o máximo aprendizado, irá variar de acordo com a necessidade do aluno. Por exemplo, se um aluno se concentra melhor (e consequentemente aprende) utilizando textos, imagens e exemplos, ao trabalhar um tópico a ferramenta traz apenas este tipo de mídia para ele. Se outro aluno se adapta melhor com vídeos e podcasts, então neste caso o conteúdo será abordado segundo esta estratégia. Como é possível perceber diariamente, cada aluno tem suas virtudes e fraquezas e, no caso o ensino adaptativo, a ferramenta se encarrega de moldar o fluxo de aprendizado, com base nas necessidades educacionais de cada um.
Podemos dizer, então, que o ensino adaptativo (moldado para o estudante) gera a aprendizagem significativa, uma vez que enquanto as ferramentas verificarem que o aluno não tem segurança em determinado assunto, novos desafios são trazidos e ele não passa para outro nível, enquanto não vencer o atual. Isto é similar ao que ocorre em um jogo: é preciso concluir toda a missão, para que se possa avançar para outra fase.
Entretanto, para que seja possível esta transformação no ensino-aprendizagem, algumas considerações são elencadas a seguir:
A Figura 2 ilustra o funcionamento do ensino adaptativo, sendo viável refletir como este pode ser aliado à aprendizagem significativa. A figura destaca os elementos que compõe a tecnologia, que responde às necessidades do aluno conforme seu ritmo, permitindo que o ensino seja otimizado. O aluno dispõe de uma vasta quantidade de informações, envolvendo mídias eletrônicas, obtendo feedback instantâneo a cada interação, pode acompanhar a curva de aprendizado, a cada exercício correto avança o nível e, em caso de falha, surgem recomendações do que deve ser fortalecido.
Figura 2 – Funcionamento do ensino adaptativo
(Adaptado de GOMES, 2014)
Desta forma, é possível tomar algumas decisões e as ações pedagógicas, são voltadas diretamente à fonte do problema. Com os relatórios gerados a cada passo que o aluno trabalha com a ferramenta, é possível avaliar a taxa de sucesso em cada conteúdo e explorar os pontos fortes e reforçar os pontos fracos.
Com isso, é possível verificar ser possível unir o ensino adaptativo com a aprendizagem significativa, permitindo que o aluno esteja cada vez mais envolvido e interessado em aprender e, principalmente, que o conhecimento que ele passa a adquirir seja absorvido de forma permanente.
Sabendo que algo somente passa a ter significado quando nos é relevante, a abordagem adaptativa torna-se uma excelente aliada para o sucesso na educação em todos os níveis, do ensino fundamental à pós-graduação, uma vez que estaremos inseridos e envolvidos em um ambiente que permite a interação com os diversos tipos de mídia digital, da forma que julgarmos mais apropriada.
CAMPOS, N. Ensino adaptativo: O big data na educação. Jornal Estadão. Disponível em http://blogs.estadao.com.br/a-educacao-no-seculo-21/ensino-adaptativo-o-big-data-na-educacao/. Acesso em 12/05/2016.
DELORS, J.. Educação: um tesouro a descobrir: Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Brasília: UNESCO, 2010. Disponível em http://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdf. Acesso em 18/04/2016.
DEMO, P. Rupturas urgentes em educação. Ensaio: avaliação e políticas públicas em educação, Rio de Janeiro, v. 18, n. 69, 2010.
FERNANDES, E. David Ausubel e a aprendizagem significativa. Revista Nova Escola. Ed. 248. 2011. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/formacao/david-ausubel-aprendizagem-significativa-662262.shtml. Acesso em 12/04/2016.
FERREIRA, L.. Big Data leva o ensino personalizado a mais alunos. Disponível em http://porvir.org/porpensar/big-data-leva-ensino-personalizado-mais-alunos/20140417.
Acesso em 12/05/2016.
FONSECA, N. A; MOURA, D. G; VENTURA, P. C. S. Os projetos de trabalho e suas possibilidades na aprendizagem significativa: relato de uma experiência. Educação & Tecnologia, n. 1, v. 9, 2004.
GOMES, P. Entenda como funcionam as plataformas adaptativas. Disponível em http://porvir.org/porcriar/entenda-como-funcionam-plataformas-adaptativas/20130328. Acesso em 12/05/2016.
KALENA, F. Harvard coloca Big Data na sala de aula. Disponível em http://porvir.org/porfazer/harvard-coloca-big-data-na-sala-de-aula/20140403. Acesso em 12/05/2016.
NETO, J. A. S. P. Teoria da aprendizagem significativa de David Ausubel: perguntas e respostas. Revista Série-Estudos, n. 21, v. 1, 2006.
Pelizzari, A., Kriegl, M. D. L., Baron, M. P., Finck, N. T. L., Dorocinski, S. I. Teoria da aprendizagem significativa segundo Ausubel. Revista PEC, v. 2, n. 1, 2002.
Safanelli, A. D. S., Klaes, L. S., Marques, R. S. R., Klein, H.. Desafios da educação na atualidade e os reflexos de instituições de ensino no desenvolvimento regional. XII Colóquio Internacional sobre Gestão Universitária nas Américas. 2012.
TAVARES, Romero. Aprendizagem significativa, codificação dual e objetos de aprendizagem. Revista Brasileira de Informática na Educação, v. 18, n. 02, 2010.
1. Email: joao@utfpr.edu.br
2. Email: lapilatti@utfpr.edu.br