Espacios. Vol. 37 (Nº 29) Año 2016. Pág. 12

Políticas educacionais de formação profissional: Fatores que contribuíram para a evasão de estudantes de um curso técnico oferecido na modalidade a distância pelo IFTO

Educational policy of vocational training: factors that contributed the students' dropout of a technical course offered in distance mode by IFTO

Ana Lúcia Petrocione JARDIM 1; Francisco Gilson Rebouças PÔRTO JÚNIOR 2

Recibido: 03/06/16 • Aprobado: 25/07/2016


Conteúdo

1. Introdução

2 A Rede e-Tec Brasil

3 Metodologia

4 Resultados e discussão

5 Considerações finais

Referências


RESUMO:

O presente artigo relata um estudo de caso que buscou identificar e compreender fatores que contribuíram para que estudantes tenham evadido de um curso profissionalizante. O curso pesquisado foi o Técnico Subsequente em Logística, ciclo 2014-2015, oferecido na modalidade a distância, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins – IFTO. Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva e explicativa que pretende contribuir em oferecer subsídios para que sejam desenvolvidas estratégias de enfrentamento ao problema. A população pesquisada foi composta por sujeitos diretamente ligados ao curso e aos polos onde o curso foi oferecido. As respostas aos questionários aplicados on-line e às entrevistas presenciais foram analisadas por métodos quantitativos e qualitativos. Os resultados demonstraram que fatores individuais foram os que prevaleceram, no entanto acompanhados de fatores internos e externos. Assim se concluiu que a evasão é um fenômeno multifacetado, que envolve questões diversas, inter-relacionadas e, por isso, bastante complexas. Foram feitas algumas sugestões pontuais visando contribuir para elevar a taxa de permanência de estudantes no curso, mesmo reconhecendo que, em sua complexidade, a evasão demanda estudos e ações de enfrentamento permanentes.
Palavras-chave: Evasão escolar. Educação Profissional. Educação a Distância.

ABSTRACT:

This paper reports a case study that sought to identify and understand the factors that contributed to the students to dropout from a professional education course. The researched course was the Technical Logistics Course, 2014-2015 cycle, offered by Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins – IFTO in the distance learning mode. It is an explanatory-descriptive research that aims to give its contribution by offering subsidies so that confronting strategies can be developed to solve the problem. The research was conducted on the population directly related to the course and place in case. The response to the online surveys and personal interviews were analyzed using quantitative and qualitative methods. The results showed that personal factors were predominant, however, internal and external factors also influenced on the behavior. Thus, it was concluded that the dropout is a multifaceted phenomenon, that involves several issues, interrelated and therefore quite complex. Specific suggestions were made in order to provide strategies to encourage permanency and minimize dropouts from the courses, acknowledging that, in its complexity, the dropout phenomenon demands constant studies and permanent actions to confront the problem.
KeyWords: Dropout. Permanency. Vocational Education. Distance Learning.

1. Introdução

Este estudo teve por objetivo identificar e buscar compreender os fatores que contribuíram para evasão no curso Técnico Subsequente em Logística, ciclo 2014-2015, oferecido na modalidade a distância pelo IFTO, no âmbito da Rede e-Tec/Pronatec , em cinco polos de educação a distância no estado do Tocantins.

O conceito de evasão considera o que foi definido em Brasil (2014) como “a interrupção do aluno no ciclo do curso. Em tal situação, o estudante pode ter abandonado o curso, não ter realizado a renovação da matrícula ou formalizado o desligamento/desistência do curso” (BRASIL. MEC/SETEC, 2014, p. 15 e 20).

Evasão escolar tem sido um tema recorrente em estudos desenvolvidos nas últimas décadas. São muitas as pesquisas sobre evasão no ensino fundamental e no ensino superior oferecido na modalidade presencial e a distância. No entanto pesquisas direcionadas ao ensino profissional técnico, oferecido a distância são bastante escassas. Grossi e Nunes (2014, p. 472) relatam em sua pesquisa que “a maior parte dos estudos que se dedicam a analisar a evasão, o faz no nível superior”.

Considerando o disposto em Brasil Mec/Setec (2014, p. 19), a hipótese deste estudo sobre os fatores que pudessem estar contribuindo para a evasão no curso foi de que os motivos pertencem a mais de uma categoria, sendo relacionados a fatores individuais (à pessoa do estudante), a fatores internos à instituição de ensino/curso  e a fatores externos à instituição de ensino (questões socioeconômicas e conjunturais).

Esta pesquisa justifica-se por contribuir no sentido de que coletar e reunir dados sobre evasão em um curso técnico, a partir dos sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, oferece subsídios para que a problemática da evasão no curso seja dimensionada e melhor compreendida. Conhecer os motivos da evasão no ensino profissionalizante são imprescindíveis, pois estudantes que abandonam o curso deixarão de receber todos os benefícios que a formação profissional possa gerar a si e à sua família, sem dizer dos prejuízos à sociedade e ao país.

2. A Rede e-Tec Brasil

Em dezembro de 2007, foi instituído (atualmente extinto) o Programa Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil – Sistema e-Tec (Decreto nº 6.301, de 12 de dezembro de 2007 - revogado). Esse programa foi criado com o objetivo de desenvolver a educação profissional técnica, na modalidade a distância, e de democratizar o acesso a cursos técnicos de nível médio. Em 2011, na mesma data da criação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, Lei nº 12.513, de 26 de outubro de 2011 (BRASIL, 2011a), o decreto de criação do Sistema e-Tec foi revogado e foi instituída a Rede e-Tec Brasil - Rede   e-Tec, Decreto nº 7.589, de 26 de outubro de 2011 (BRASIL, 2011b). A Rede e-Tec, passa a ser compreendida como uma iniciativa (ação) do Pronatec, no âmbito do Ministério da Educação. Vários dos objetivos do Sistema e-Tec permaneceram inalterados no decreto de criação da Rede e-Tec.

A Rede e-Tec, dando seguimento às ações de expansão da educação profissional, tem como foco a oferta de cursos técnicos a distância e a formação inicial e continuada de trabalhadores. A perspectiva é expandir e democratizar o ensino profissionalizante principalmente no interior do país e também nas periferias das áreas metropolitanas, onde há carência de oportunidades de educação profissional. O objetivo é formar pessoas qualificadas para o trabalho, atender às necessidades de desenvolvimento social e econômico, melhorando o desenvolvimento dos municípios e do país.

Assim, analisando-se as legislações pós Constituição (1988), centrando-se na temática deste estudo, percebe-se que há permanente expansão das políticas educacionais no Brasil, sendo que a educação profissional e a educação a distância mostram-se como modalidades importantes para o alcance dos objetivos dessas políticas.

Observou-se que as políticas públicas de educação, tal qual as vemos hoje, vêm dar continuidade ao disposto no texto constitucional. É concomitantemente ao advento da Constituição (1988) que se vem, cada vez mais, colocando a educação para todos em um patamar importante, vendo-a como meio para o desenvolvimento pessoal e profissional, capaz de transformar a vida do indivíduo e do meio social em que ele vive.

Novas demandas surgiram no mundo globalizado, sinalizando que vivenciamos uma fase de transição. O Estado vem planejando e executando ações para atender ao disposto no texto constitucional, bem como às novas necessidades que se apresentam. Verifica-se que, no planejamento das políticas públicas educacionais de ensino médio profissionalizante, tem se considerado a educação a distância como um meio bastante viável de alcançar uma educação abrangente, com inclusão social e consequente desenvolvimento dos municípios.

Os objetivos dos cursos técnicos oferecidos pela Rede e-tec/Pronatec visam ao desenvolvimento integral do indivíduo como cidadão e sua inserção no mundo do trabalho, compreendendo a profissionalização como uma demanda social e também como um direito evidenciado na Constituição. 

Mesmo com a valorização da educação e com a expansão do ensino, inclusive do ensino na modalidade a distância, sabe-se que ainda há no Brasil significativa parcela da população carente de educação e formação para o trabalho. Assim, é importante que Estado e sociedade estejam sempre empenhados em inserir pessoas que estejam sem chances de exercer plenamente sua cidadania. Políticas públicas sociais na área da educação contribuirão em ajudar no desenvolvimento de sujeitos livres e conscientes de seus direitos e deveres em relação à sociedade.

3. Metodologia

O objeto da pesquisa foram os fatores que conduziram à evasão de estudantes do Curso Técnico Subsequente em Logística, turma 2014 (ciclo 2014-2015), oferecido na modalidade a distância, pelo IFTO, Rede e-Tec/Pronatec, em cinco polos (Alvorada, Gurupi, Palmas, Paraíso do Tocantins e Taguatinga), no estado do Tocantins. Os sujeitos pesquisados foram estudantes evadidos, professores, tutores a distância, tutores presenciais, coordenadores de polo, coordenador de curso, coordenador de tutoria presencial, coordenador de tutoria a distância e gestores.

Ao total, foram aplicados 119 questionários, obtendo-se retorno de 60 respondentes. A margem de erro para a amostra conseguida, segundo a fórmula aplicada (Barbetta, 2002), ficou assim: 27 evadidos (margem de erro de 16%); 33 professores e outros (margem de erro de 11%). Mesmo considerando que com esse tamanho da amostra a margem de erro ficou acima dos 5%, considerou-se que a pesquisa foi representativa, pois foi complementada com a percepção de professores, do apoio pedagógico e também dos gestores diretamente ligados ao curso.

Complementarmente foram realizadas 4 entrevistas, sendo com o coordenador geral da Rede e-Tec/IFTO, o coordenador adjunto da Rede e-Tec/IFTO, o coordenador do curso e com o diretor geral da educação a distância no IFTO. As porcentagens de questionários respondidos ficaram em: 31,4% de participação de evadidos, e 58,9% de participação de professores, tutores presenciais e a distância, coordenadores de polo e coordenadores de tutoria. Marconi e Lakatos (2003, p. 201) afirmam que “em média, os questionários expedidos pelo pesquisador alcançam 25% de devolução”. Provavelmente o contato via telefone com os estudantes e com professores, tutores, coordenações de polo e de tutoria, solicitando que participassem da pesquisa, contribuíram nesse sentido.

Os instrumentos de pesquisa foram questionários com questões fechadas e abertas. As questões fechadas tiveram suas alternativas organizadas em uma escala em que o respondente assinalou se o fator influenciou ou não para evasão ou não souberam responder.  Para a entrevista presencial com os administradores utilizou-se um roteiro com questões abertas e semiestruturadas.

Os dados coletados por meio dos questionários objetivos foram categorizados e tratados mediante análise estatística. Um quadro de categorias previamente elaborado permitiu que cada questão dos questionários pudesse ser agrupada. As categorias e as subcategorias foram adaptadas do Documento Orientador para a Superação da Evasão e Retenção na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (BRASIL. MEC/SETEC, 2014). O agrupamento de fatores compreendeu três categorias “tipos de fator” (individuais, internos e externos) e doze subcategorias que favoreceram a análise e interpretação dos dados. As subcategorias foram: falta de disciplina/adaptação; dificuldades de aprendizagem/habilidades; falta de tempo/compatibilidade entre a vida acadêmica e as exigências do trabalho; questões de saúde pessoal; falta de desejo, encanto ou de motivação para continuar o curso; questões relacionadas à instituição; ao polo; ao apoio pedagógico; ao curso; a questões socioeconômicas; e a outros fatores conjunturais.

Os resultados das entrevistas foram interpretados a fim de relacioná-los com os dados objetivos e obter conclusões correspondentes. O levantamento dos dados permitiu conhecer o perfil dos evadidos e os motivos de evasão. A abordagem qualitativa se deu na interpretação das respostas abertas e no momento de se comparar as percepções dos atores pesquisados.

A pesquisa foi realizada em três etapas. Inicialmente buscou-se conhecer a taxa de evasão do curso. A taxa foi verificada por meio de coleta de dados no Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica (SISTEC).

A segunda etapa foi subdividida em dois momentos. No primeiro momento, foram aplicados dois modelos de questionários: um para estudantes evadidos e outro para professores do curso, tutores a distância, tutores presenciais, coordenadores de tutoria e coordenadores dos polos. No segundo momento, foram realizadas as 4 entrevistas presenciais gravadas, com questões semiestruturadas sobre o tema evasão, com o Diretor da Educação a Distância do IFTO, o Coordenador Geral da Rede e-Tec/IFTO, com o Coordenador Adjunto da Rede e-Tec/IFTO e com o Coordenador do Curso.

Assim, com a participação de evadidos, professores/apoio pedagógico e administração do curso, pôde-se verificar a percepção dos vários sujeitos envolvidos, no intuito de estabilizar os resultados finais do estudo.

4. Resultados e discussão

Os resultados sobre evasão no curso são apresentados comparando-se a percepção dos estudantes evadidos com a percepção de professores, tutores, coordenadores de polo e de tutoria (professores e outros).  No SISTEC (dados de dezembro/2014), constavam 210 matrículas no curso, sendo que na data 117 estavam com status “em curso” e 93 com status “evadido” ou “desligado”. Portanto, compondo a taxa de evasão, até o final do segundo semestre o curso já estava com 44,29% de evasão. Na ocasião da pesquisa esses eram os últimos dados disponíveis no Sistec.

Foram sete questões sobre o perfil do estudante evadido. Condensando os resultados, pôde-se estabelecer o perfil predominante, exposto a seguir.

Tabela 1 – Perfil predominante dos estudantes evadidos respondentes

Perfil

% dos respondentes

Durante o curso trabalhava e estudava

88,9

Deixou de frequentar o curso no primeiro semestre

77,8

Cor da pele parda

55,6

Sexo masculino

55,6

Tem filhos

51,9

Faixa etária entre 31 e 40 anos

40,7

Possui renda familiar entre 2 e 5 salários mínimos

37,0

Fonte: elaborado pela autora

Os resultados demonstram que a maioria dos respondentes trabalha e estuda. Essa característica está em consonância com o fator mais apresentado pelos evadidos como motivo de evasão: não conseguir conciliar estudo com trabalho, como será mostrado nas discussões do Gráfico 5.

Outro fator predominante e que deve ser destacado foi deixou de frequentar o curso no primeiro semestre. Podem ser vários os fatores que levaram o estudante a abandonar o curso logo no primeiro período. Para identificá-los, seria interessante outra pesquisa só com esses estudantes. Será que perceberam que não têm vocação para o curso, não têm base suficiente para o aprendizado, não têm tempo, foram reprovados? Uma pesquisa complementar seria importante. Garantida a oportunidade de acesso, esta deve ser complementada com estratégias que fixem o estudante no curso.

A renda familiar entre 2 e 5 salários mínimos demonstra que pertencem a famílias de baixa renda. Muito provavelmente o fato de terem ingressado em um curso técnico tem a ver com necessidade de capacitação para rápida inserção no mercado de trabalho.

A seguir, os resultados sobre os motivos de evasão são demonstrados por categorias e subcategorias.

Gráfico 1 – Fatores que contribuíram para a evasão, segundo evadidos e professores (e outros)
Subcategorias relacionadas a fatores individuais

Fonte: elaborado pela autora

Os três motivos individuais predominantes para evasão, destacados por evadidos e professores foram: falta de desejo ou de motivação para continuar o curso (72,7% professores e 34,2% evadidos); falta de disciplina ou de adaptação à vida acadêmica e/ou à metodologia (54,5% professores e 37,0% evadidos); e dificuldades de aprendizagem (43,2% professores e 20% evadidos). As questões indicadas por estudantes evadidos que mais elevaram a porcentagem da subcategoria falta de desejo(...) foi preferência por cursos superiores  e falta de automotivação. Outras motivações foram falta de tempo e/ou de compatibilidade entre a vida acadêmica e trabalho (33,3% professores e 16,7% evadidos) e fatores relacionados à saúde pessoal (24,2% professores e 7,4% evadidos).

Tanto professores quanto estudantes consideraram que os fatores individuais influenciaram para a evasão; no entanto, os professores, em relação aos estudantes, destacaram bem mais essa categoria.

O gráfico a seguir expõe e compara a percepção de professores e de evadidos sobre os fatores internos que conduziram estudantes à evasão.

Gráfico 2 – Fatores que contribuíram para a evasão, segundo evadidos e professores (e outros)
Subcategorias relacionadas a fatores internos

Fonte: elaborado pela autora

No Gráfico 2, observa-se que, na categoria fatores internos, prevaleceram os fatores relacionados ao polo (23,43% evadidos e 12,1% professores); os fatores relacionados ao curso (19,42% evadidos e 11% professores); e os fatores relacionados à instituição (17,57% evadidos e 11,4% professores). Percebe-se uma inversão em relação ao gráfico anterior, pois os fatores internos foram mais destacados por estudantes do que pelos demais atores. Sendo o

fator apoio pedagógico demonstrou maior diferença de percepção entre estudantes e professores.

O próximo gráfico expõe e compara as indicações de professores e de evadidos sobre os fatores externos que contribuíram para a evasão.

Gráfico 3 – Fatores que contribuíram para a evasão segundo evadidos e professores (e outros)
Subcategorias relacionadas a fatores externos

Fonte: elaborado pela autora

Entre os fatores externos que motivaram a evasão, estudantes e professores destacaram os conjunturais (28,3% professores e 14,2% evadidos) e as questões econômicas (28,3% professores e 9,9% evadidos). Nessa categoria, duas das questões mais assinaladas pelos evadidos foram a distância polo-residência e a falta de recursos financeiros para o transporte. Percebe-se que esses fatores associam-se e sua resolução depende de programas de apoio ao estudante. A outra questão mais indicada foi ingressou em outro curso.

Laudares (2009) também pesquisou evasão na educação profissional. Em seus resultados, a maioria dos estudantes também foi detectada como pertencente a classes sociais menos favorecidas, e o autor concluiu que questões econômicas podem influenciar estudantes a abandonarem o curso. O autor sugere uma pronta identificação dos propensos à evasão e atuar com implementação de políticas públicas que “deverão ser determinadas para geração de suporte a estes estudantes, dando-lhes mecanismos compensatórios à sua falta de condições sociais [...]” (LAUDARES, 2009, p. 11).

O gráfico a seguir faz comparação entre as categorias fatores individuais, internos e externos, que conduziram estudantes à evasão, na percepção de professores e de evadidos.

Gráfico 4 – Fatores que contribuíram para a evasão, segundo evadidos e professores (e outros)
Por categorias: individuais, internos e externos

Fonte: elaborado pela autora

O Gráfico 4 demonstra que fatores individuais prevaleceram se comparados com as categorias fatores internos e externos. Importa, assim, verificar quais foram as questões que fizeram parte dessa categoria.

Observando-se os resultados detalhados verificou-se que: a) as cinco questões respondidas por estudantes evadidos que mais impactaram a média da categoria fatores individuais para cima foram: dificuldade em conciliar estudo e trabalho (51,8%); dificuldades de adaptação com a metodologia e/ou com as tecnologias do ensino a distância (44,4); falta/carência de um professor presencial (40,7); preferência por cursos superiores (40,7); falta de automotivação (37,0); b) as cinco questões mais destacadas pelos professores na categoria fatores individuais, conforme apresentado no Apêndice H, foram: falta de disciplina/hábito de estudo para acompanhar o ensino a distância (72,7%); falta de automotivação (72,7%); falta/carência de um professor presencial (60,6%); dificuldades de adaptação com a metodologia e/ou com as tecnologias do ensino a distância (57,6%); não possui habilidades com as tecnologias utilizadas no ensino a distância (57,6%).

Em seu estudo sobre evasão em cursos da educação profissional, Dore (2014) também identificou fatores de evasão relacionados à necessidade de trabalhar ea falta de identificação com o curso. A autora observa que, nesse sentido, o TCU (BRASIL, 2013) já apontou que as instituições federais de educação profissional devem trabalhar divulgando os conteúdos dos cursos aos interessados de forma que os estudantes tenham compreensão do “investimento educacional que irão enfrentar, evitando a desistência por desconhecimento a respeito dos conteúdos do curso” (DORE; SALES; CASTRO, 2014 p. 407).

Observando-se essas questões, percebe-se que os estudantes pontuaram mais fatores que não dependeriam exclusivamente de seu controle – conciliar trabalho e estudo e adaptar-se à metodologia do curso ou à metodologia EaD. Já na percepção dos professores, os mais destacados seriam de controle exclusivo do estudante – disciplina e automotivação.

Motivação e engajamento com a vida acadêmica são percebidos em vários estudos como fatores inter-relacionados. Dore e Luscher (2011) citam o engajamento social, relacionado à qualidade das relações entre colegas, professores e demais pessoas da escola como importantes mecanismos para fixação do estudante no curso.

Os professores consideraram que os fatores internos foram os que menos influenciariam para a evasão; no entanto o Gráfico 4 demonstrou que essa não foi a mesma opinião dos estudantes evadidos. É importante considerar que outros estudos sobre evasão no IFTO já citaram fatores internos. Entre eles, Matos, Vasconcelos e Santos (2015), Silva, Silva e Lopes (2015), Silva (2015). Assim, por ocasião de elaboração de estratégias no combate a evasão no instituto, os fatores internos também se demonstram como relevantes para serem discutidos.

Nas respostas à questão aberta os estudantes ressaltaram a falta de tempo, a falta de motivação ou de encanto para continuarem os estudos, e fatores relacionados ao apoio pedagógico, à administração e à coordenação do curso. Os professores destacaram mais a falta de disciplina; dificuldades de aprendizagem; falta de desejo/motivação; fatores relacionados ao curso; e fatores conjunturais.

Conforme já exposto anteriormente, com o objetivo de ouvir todos os atores diretamente envolvidos com o curso, foram entrevistados quatro administradores: o diretor da educação a distância, o coordenador geral da Rede e-Tec no IFTO, o coordenador adjunto da Rede e-Tec no IFTO e o coordenador do curso de Logística. O resultado das entrevistas corroborou o resultado de professores, pois dois dos administradores também falaram da necessidade de acompanhar o estudante. Outros dois disseram que os estudantes podem ter dificuldades relacionadas à modalidade educação a distância, sendo que um considera a possibilidade de ser por falta de adaptação à metodologia e o outro devido a poucos estudantes terem computadores e/ou sinal de internet em casa.      As falas convergem em apontar fatores individuais e ressaltaram a necessidade de acompanhamento do estudante – pelos tutores presenciais, pelos tutores a distância e pelos professores. Isso demonstra que os administradores reconhecem a responsabilidade da instituição no combate ao abandono.

Assim, reunindo os dados dos questionários aplicados a estudantes evadidos e à professores, demonstrou-se que a categoria fatores individuais (comportamentos/sentimentos como disciplina, motivação, adaptação ao curso, interesse) foi uma das mais destacadas. No entanto, não houve uma subcategoria ou mesmo uma categoria que despontasse consideravelmente, sendo a mais identificada como indicadora inequívoca de evasão.

Esse resultado revela a necessidade de a instituição ir além dos esforços de aprimorar a si própria. É importante conhecer os anseios dos estudantes e suas motivações. Segundo Preti (2009, p. 56), ao ministrar cursos a distância, a instituição também pode estar presente, pois ministrar cursos a distância é “estar juntos virtualmente”. O espaço físico é substituído pelo ciberespaço e “professores e estudantes aprendem juntos, interagem e cooperam entre si”.

Ainda considerando a relevância dos fatores individuais, deve-se estimar a importância de o estudante sentir-se parte da instituição. O pertencimento, a qualidade do ensino, as experiências enriquecedoras podem funcionar como impulsos motivadores. A qualidade no ensino pode influenciar na motivação e no desejo de estudar e foi identificada em diversos estudos como diretamente ligada ao interesse do estudante (VIEIRA; GUIMARÃES; COSTA, 2015; LEITE; GUIMARÃES, 2015; AGUIAR, 2015).

Ao refletir sobre o fenômeno da evasão, é importante, também, considerar que nem sempre abandonar o curso é necessariamente ruim. Há situações em que o estudante evade porque surgiu uma oportunidade mais interessante. No entanto verificou-se neste estudo que a maioria evade, não por uma questão de ter identificado oportunidades mais interessantes, mas porque não teve condições ou preparo suficiente para persistir em relação aos problemas pessoais ou por fatores relacionados à instituição ou por questões externas.

Dourado, Oliveira e Santos (2007, p. 14) expõem que “a melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem deve envolver os diferentes setores a partir de uma concepção ampla de educação envolvendo cultura, esporte e lazer, ciência e tecnologia”.  

5. Considerações finais

Neste estudo, buscou-se compreender a problemática da evasão no curso Técnico Subsequente em Logística, ciclo 2014-2015, oferecido na modalidade a distância pelo IFTO, Rede e-Tec/Pronatec, em cinco polos de educação a distância no estado do Tocantins.

É importante ressaltar que o IFTO já vem realizando pesquisas e outros trabalhos de combate à evasão. Recentemente foi instituída uma comissão geral designada pelo reitor com intuito de propor ações de intervenção que irão compor o Plano Estratégico Institucional para a Permanência e o Êxito de Estudantes do IFTO. Espera-se que esta pesquisa venha se somar a outras já realizadas no IFTO e aos recentes trabalhos iniciados para elaboração do plano estratégico de combate à evasão.

Identificar os fatores de evasão percebidos pelos estudantes evadidos e pelos demais atores envolvidos no processo administrativo-pedagógico permitiu constituir o diagnóstico da evasão. A busca pela compreensão sobre a evasão se deu ao analisar, comparar e discutir os resultados. Dessa forma, compreende-se que os objetivos iniciais da pesquisa foram alcançados.

Apesar de nesta pesquisa a categoria individual ter sobressaído, ao todo foi apresentado um conjunto de fatores, um contexto que envolve estudante, instituição e também questões econômicas e sociais. Assim, concluiu-se que a evasão decorre de um conjunto bastante extenso de fatores, por isso se demonstraram bastante complexos, confirmando a hipótese inicial deste estudo. Contudo, como colocado no início, cabe a nós, educadores, não ficarmos de braços cruzados, é importante termos plena convicção de que sempre há algo que se possa fazer. Sabemos que a educação é a chave para muitas portas.

Uma das colocações de Morin (2006), em suas reflexões sobre educação para o futuro, é que, ao se perceber o todo como infinitas ligações entre as partes, se identifica um contexto bastante complexo. Os problemas são multidimensionais, multifacetados, globais, planetários. Para o autor, navegamos num oceano de dúvidas com pequenas ilhas de certezas. São caminhos de ir e vir, erros e acertos, avanços e retrocessos, certezas, dúvidas, questionamentos infindáveis.

Nesse sentido, buscar estratégias pragmáticas de combate à evasão não representa deixar de compreendê-la na sua condição multifacetada, nem acreditar que planos de enfrentamento sejam, por si só, suficientes e efetivos. Mapear motivos e agir no combate à evasão são atividades contínuas e permanentes. A cada ano são novas turmas, novos estudantes, um novo contexto. Assim, a cada semestre se inicia um novo trabalho e se dá continuidade aos já em andamento.

Cursos na modalidade a distância, nos moldes das tecnologias de transmissão de hoje, ainda implicam muitos desafios e, assim, demandam que sua metodologia e resultados sejam constantemente avaliados e remodelados. Segundo Preti (2009), não podemos falar em uma aprendizagem solitária no sentido de ser afastada da relação com o outro, sem interação e sem convivência, pois sem “o encontro, a troca, a cooperação que podem ocorrer, mesmo estando os sujeitos à distância”, não há aprendizagem (PRETI, 2009, p. 56).

Por fim, não se pretendeu e nem seria possível percorrer aqui todos os caminhos da compreensão e de possibilidades de enfrentamento da evasão. Pontuaram-se informações sobre a evasão no curso e algumas possibilidades de promover a permanência com base também no aporte teórico buscado em estudos similares.

Durante a pesquisa, foi verificada a necessidade de conhecer a realidade de outros cursos do programa. No entanto, sendo este um estudo acadêmico, delimitou-se aos objetivos e prazos previamente propostos. Novos estudos permitirão conhecimentos mais abrangentes, novas comparações e, dessa forma, a possibilidade de se pensar em estratégias para o enfrentamento da evasão no contexto de cada curso, mais adequadas a cada realidade.

Referências

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1. Especialista em Formação Socioeconômica do Brasil (USO-RJ), em Língua Portuguesa (PUC-Minas Gerais) e em Educação a Distância (Educon). Mestre em Gestão Pública (UFT) anapetrocione@ifto.edu.br
2. Pós-Doutorando em Jornalismo e Sociedade (FAC-UnB). Doutor em Comunicação (UFBA) e professor do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Sociedade da Universidade Federal do Tocantins – UFT. E-mail: gilsonporto@uft.edu.br.
3. Neste estudo utilizamos a forma de expressão Rede e-Tec/Pronatec, compreendendo a Rede e-Tec Brasil como uma das ações do Pronatec.

4. Ressalta-se que esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, da UFT, em reunião realizada em 11/07/2015. A data da declaração de aprovação foi 15/ 07/2015 e o protocolo nº 064/2015


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 29) Año 2016

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