Espacios. Vol. 37 (Nº 28) Año 2016. Pág. 23
Ana Carolina JÚLIO 1; Lucas POUBEL 2
Recibido: 23/08/16 • Aprobado: 30/08/2016
4. A Materialidade Das Práticas No Contexto Organizacional
RESUMO: A participação de elementos materiais é evidente nas práticas cotidianas e organizacionais. Todavia, como reflexo do pensamento moderno humanista, o papel dos elementos não-humanos como agentes constitutivos das práticas organizativas ainda é reconhecido de forma incipiente. Diante disso, este ensaio teórico tem como objetivo discutir a materialidade das práticas sociais no contexto organizacional. A partir do entendimento de que o acontecimento organizacional se dá a partir de um composto interligado de práticas humanas e arranjos materiais, foi discutido que ator e rede nas organizações designam duas faces de um mesmo fenômeno, sendo a ordem social a consequência de elementos heterogêneos. |
ABSTRACT: The participation of material elements is evident in everyday and organizational practices. However, reflecting the humanist modern perspective, the role of non-human elements as constituent agents of organizational practices is still recognized as incipient. Thus, this theoretical essay aims to discuss the materiality of social practices in the organizational context. From the understanding that the happening of organizations takes place from an interconnected composed of human practices and material arrangements, it was discussed that actor and network in organizations designate two faces of the same phenomenon, being the social order the consequence of heterogeneous elements. |
Nas atividades cotidianas, porém, há a participação de elementos materiais (Latour, 1999, 2005; Law, 1992). Quando alguém joga bola, por exemplo, há a presença de elementos não-humanos: a própria bola, as traves, a rede, o apito do árbitro, os cartões vermelho e amarelo, os uniformes das equipes, etc. Esses elementos, por sua vez, dão forma à prática de jogar bola. No âmbito organizacional, é igualmente possível evidenciar a participação de elementos materiais. Por exemplo: o que seria de um gestor sem seu computador, smartphone, sistemas de informação, relatórios, papel e caneta? Provavelmente, pouco restaria desse gerente, uma vez que os elementos materiais também compõem as práticas que se desdobram no contexto organizacional (Alcadipani e Tureta, 2009).
Assim, fica evidente que, na maioria das vezes, as práticas cotidianas (sejam elas lúdicas, esportivas, de trabalho, dentre tantas outras) exigem a participação de elementos materiais. Dependendo da centralidade dos objetos, o desenvolvimento dessas práticas exigirá a participação mais ou menos intensa por parte dos não-humanos, ora como mediadores das relações, ora como elementos centrais das atividades (Tureta; Alcadipani, 2009).
Todavia, o papel dos elementos não-humanos como agentes constitutivos das práticas organizativas, assim como sua participação no espaço organizacional, ainda é reconhecido de forma incipiente (Cooper; Law, 1995); o que pode ser considerado como um dos reflexos do pensamento moderno humanista. Outro reflexo do pensamento moderno pode ser evidenciado na tendência das Ciências Humanas e Sociais a atribuir poder de agência somente aos humanos, relegando aos elementos materiais um papel secundário. Em geral, nos estudos sociais mais tradicionais, os objetos são retratados como artefatos culturais ou fetiches, cuja ação está atrelada à interpretação e à ação humana (Latour, 2005).
O espaço no qual se desdobra a vida social é composto por uma malha (conexões) profundamente interligada de práticas humanas e arranjos materiais. Assim, esses espaços são compostos por práticas, arranjos materiais e físicos, que coexistem (Schatzki, 2001). Diante disso, um dos desafios do estudo da prática é “dissociar a noção de práticas à alguma forma de fixação nos humanos”, reconhecendo que a materialidade presente nas práticas independe dos humanos (Tureta; Alcadipani, 2009).
Diante disso, este ensaio teórico tem como objetivo discutir a materialidade das práticas sociais no contexto organizacional.
Para realizar a discussão proposta, este trabalho está organizado em quatro sessões, além desta introdução: No próximo tópico analisamos a perspectiva da prática social, assim como a Teoria Ator-Rede. Posteriormente, expomos nossa proposta de articulação teórica, tratando da materialidade das práticas no contexto organizacional. Por fim, apresentamos as considerações finais e as referências utilizadas.
De acordo com as perspectivas que lançam mão da noção de prática social, os fenômenos que se desdobram na realidade social são conseqüência de práticas locais, situadas no tempo e no espaço. Assim, os fenômenos organizacionais não são meros atributos das organizações, e sim práticas ordinárias do dia-a-dia, algo que as pessoas fazem. Dessa forma, nos Estudos Baseados em Prática (EBP), há uma mudança de foco da idéia de organização como uma entidade reificada, formal ou funcional para o estudo das práticas e dos processos organizativos, do organizing (Feldman; Orlikowski, 2011; Reckwitz, 2002; Czarniawska, 2013).
As práticas são um conjunto de ações corporais de “fazer” e “dizer”, sendo o não fazer e o não dizer práticas sociais; o que pode ser exemplificado quando alguém se recusa a responder algo. Considera-se, ainda, que o conjunto de atividades que compõem as práticas é um “nexo organizado de ações”. Consequentemente, toda prática social é composta pelas dimensões atividade e organização (Schatzki, 2003). Já os arranjos materiais e físicos são os artefatos que estão presentes nas práticas sociais. Assim, as práticas e os arranjos mantêm uma relação muito próxima. As práticas são constituídas de várias formas de arranjos, assim como os arranjos formam um conjunto de práticas. Os arranjos são, ainda, (re)criados dentro dessas práticas (Schatzki, 2003; 2005).
Todavia, é possível notar o destaque dado por Schatzki (2001) ao termo “corporal” (As práticas são um conjunto de ações corporais de “fazer” e “dizer”). Assim, Schatzki salienta que as práticas são praticadas por indivíduos por meio do uso de seus corpos. Logo, mesmo quando a materialidade presente nas práticas é contemplada (como é destacado pelos arranjos materiais e físicos), tende-se a considera-la como dependente dos humanos. Um dos desafios do estudo da prática é justamente esse: “dissociar a noção de práticas à alguma forma de fixação nos humanos”, reconhecendo que a materialidade presente nas práticas independe dos humanos (Tureta; Alcadipani, 2009).
A dissociação da noção de práticas à alguma forma de fixação nos humanos amplia as possibilidades de análise (o número de elementos em análise, por exemplo), e possibilita o entendimento que a agência dos atores está dispersa nas relações entre humanos e elementos materiais, e não necessariamente concentrada nos humanos (Law; Urry, 2004).
Para a TAR os fenômenos sociais não são “apenas” conseqüência de práticas locais, mas também o efeito de uma rede heterogênea de elementos (humanos e não-humanos). O termo “ator-rede” tem a pretensão de destacar que os atores são efeitos das redes, considerando que esses podem ser humanos e não-humanos. Assim, o que aparentemente reforça uma dicotomia entre ator e rede, agente e estrutura ou humano e não-humano tem justamente a intenção de enfatizar a ideia de que esses fenômenos são imbricados, dependentes e mutuamente constituídos (Tureta, 2011; Latour; 1999; Law; 1992; Callon; 1986).
Os esforços da TAR, todavia, vão além da busca pela superação das dicotomias entre agente e estrutura ou estabilidade e mudança. Ao destacar os efeitos dos atores não-humanos nas redes e ao analisá-los de forma simétrica aos humanos, a TAR mostra-se como uma abordagem diferenciada para os Estudos Organizacionais, indo além das distinções essencialistas entre o material e o social (Tureta, 2011; Law, 1999).
Se para as Teorias da prática as atividades convencionais de compreensão e conhecimento são elementos necessários e qualidades de uma prática em que o indivíduo participa, e não qualidades do indivíduo (Reckwitz, 2002); para a TAR, as práticas sociais (como pensar, agir, escrever e amar) também não são atributos dos seres humanos, mas produtos das redes que passam através do corpo e se ramificam tanto para dentro, como para além dele (Law, 1999). Dessa forma, o indivíduo não age apenas como um "portador" (carrier) da prática, de formas rotineiras de compreensão e ação (Reckwitz, 2002), o indivíduo é um “ator-rede”. Ou seja, um ator é também, e sempre, uma rede (Law, 1999).
A noção de simetria radical possibilita examinar os elementos materiais a partir do mesmo plano analítico com que tratamos os humanos (evitando a distinção entre sujeito e objeto); uma vez que a construção dos processos de ordenamento envolve, fundamentalmente, a relação entre humanos e não-humanos. A atividade dos atores depende da rede tanto quanto a atividade da rede depende dos atores; uma vez que humanos e não-humanos moldam, conjuntamente, o contexto em que estão inseridos, imbricados (Tureta; Alcadipani, 2009; Alcadipani; Tureta, 2009).
A ideia de simetria analítica reconhece também que humanos e não-humanos adquirem seus atributos por meio das relações que estabelecem uns com os outros; ou seja, os humanos são dotados de seu poder de agência em função da interação com elementos não-humanos e/ou com outros humanos (Tureta; Alcadipani, 2009; Alcadipani; Tureta, 2009). É importante ressaltar que isso não significa que o princípio da simetria analítica atribui subjetividade para os elementos materiais, tampouco que o mesmo considera os humanos como objetos (Latour, 2001, 2005).
Assim, de acordo com a perspectiva da TAR, não se deve considerar os humanos em uma posição analiticamente privilegiada, já que humanos e não-humanos são partes de uma mesma rede que compõe os fenômenos sociais (Callon, 1986; Tureta; Alcadipani, 2009). Isso denota não assumir a realidade como dada (como um modelo de análise que define a priori quais são os elementos a serem observados, ou como algo estável ou definitivo), mas sim como algo que é construído e reconstruído por meio das práticas e das relações cotidianas (Latour, 2005; Alcadipani; Tureta, 2009).
Dessa forma, para a TAR, a realidade não é estável ou definitiva, e sim composta por redes heterogêneas (formadas por humanos e elementos não-humanos) mais ou menos estáveis, sempre passíveis de mudanças em sua composição (Latour, 1991; Alcadipani; Tureta, 2009). É possível afirmar que uma dada entidade (humana ou não humana) surgirá e permanecerá como tal enquanto as relações que a compõem não se alterarem. Ou seja, uma entidade é o efeito de um arranjo, de uma rede de relações (ora estável, ora instável), existindo apenas dentro dessa rede e enquanto durar essa rede (Law, 2000, 2002). É por isso que alterações na rede de relações podem levar um gerente a ser um diretor, ou a ser um desempregado; assim como podem levar um jogador de futebol a ser considerado o melhor da copa do mundo, ou a ir para o banco de reservas.
Para a TAR, os atores são entidades que agem, que formam redes e que nunca estão sozinhos (Callon; Latour, 1981; Latour, 2005); uma vez, ao fazer parte de uma rede de relações, sua existência está associada a existência de outras entidades (LAW, 1992). Um ator pode, ainda, surgir como o representante da rede, sendo, para tal, suportado por uma ampla rede de atores humanos e não-humanos (Callon; Latour, 1981; Callon, 1986).
Um conceito fundamental da TAR é o de translação (ou tradução). O termo translação implica transformação, possibilidade de equivalência, de que uma coisa (um ator) possa representar outra (uma rede, por exemplo). É a combinação de interesses distintos em um único objetivo; são operações de convencimento que mobilizam elementos humanos e não-humanos (Callon, 1986).
O processo de translação é composto pelas seguintes etapas: problematização; definição de atores e de pontos de passagem obrigatória; interesse; envolvimento e mobilização de aliados. Dessa forma, identificam-se os atores (humanos e não-humanos), as possibilidades de interação entre eles e as margens de manobra ou negociação. A translação gera, assim, os efeitos de ordenamento social como um processo precário, contingente, local e variável (Callon, 1986).
Durante esse processo, os diferentes objetivos dos atores são representados por um ator específico, chamado de representante (spokesperson). Logo, “transladar interesses” significa estabelecer um representante (Tureta, 2011; Callon, 1986). Todavia, a representatividade desse representante pode ser questionada, até mesmo rechaçada; o que pode gerar controvérsias e alterar o ordenamento da rede. Dessa forma, a translação dá ênfase ao processo precário, contingencial e variável da rede (Callon, 1986).
De acordo com a perspectiva da TAR, não existiria sociedade e nem organização se as redes fossem simplesmente sociais. Parte-se da premissa de que as redes são materialmente heterogêneas (formadas por humanos e não-humanos), uma vez que quase todas as interações entre as pessoas são mediadas através de objetos (não-humanos). Assim, se os seres humanos formam uma rede social, não é porque interagem uns com os outros, mas sim pelo fato de interagirem com seres humanos e também com muitos outros elementos não-humanos. Dessa forma, sob o enfoque da TAR, a ordem social é tida como um efeito, uma consequência dos meios heterogêneos, um conjunto de resistências superadas (Law, 1999).
Assim, no campo dos Estudos Organizacionais, a utilização da TAR sinaliza uma nova possibilidade de estudos: da ênfase nas organizações formais e funcionais para o estudo das práticas e dos processos de organizar (organizing). Para a TAR, estudar o processo de organizar significa entender que as organizações não explicam fenômenos, sendo elas próprias entidades complexas (compostas por humanos e não-humanos); ou seja, fenômenos sociais que precisam ser explicados e detalhados. Neste sentido, uma organização é o precário resultado de um constante processo de organizar, por meio do qual se atinge certa estabilidade momentânea. Além disso, a definição dos atores organizacionais relevantes vai depender de cada caso (Law, 1992; Bloomfield; Vurdubakis, 1999; Schatzki, 2006; Czarniawska, 2013).
Diante disso, é interessante compreender como a TAR pode ser utilizada nos Estudos Organizacionais como um lente de análise alternativa para diferentes casos empíricos.
Baseando-se na idéia de simetria da TAR, Bruni (2005) analisou o impacto da adoção de um sistema de registro digital em um hospital italiano. Observaram-se as atividades rotineiras de recepção dos pacientes, assim como a relação desse elemento material com enfermeiras, médicos e outros objetos. Constatou-se que o sistema de registro é um importante agente na organização do dia-a-dia do hospital, e que qualquer falha no seu funcionamento é capaz de alterar a trajetória das ações e práticas cotidianas da organização. Ou seja, os atores humanos dependiam dos objetos relacionais de tal forma que incorporaram neles identidade, poder, risco, incerteza, controle e outros aspectos (Bruni, 2005).
Nesse sentido, a observação dos não-humanos requer que o pesquisador trace conexões entre os diferentes cursos que as ações podem tomar e analise como as ações e os sujeitos definem uns aos outros nas relações. Tal afirmação é corroborada com o fato de o sistema de registro implantado no hospital "funcionar" apenas se ele formar e ativar os grupos de atores organizacionais. Ao mesmo tempo em que esses atores se apropriam dessa ferramenta, também a fazem compatível com as práticas cotidianas de trabalho e da comunidade de não-humanos. Dessa forma, para adquirir materialidade, o sistema precisava de outros objetos (papel, resultados de testes, terapias, etc.) que atestassem sua existência. Em outras palavras, relacionando-se o sistema de registro com atores humanos e não-humanos do hospital (médicos, papéis, resultados de testes, etc.), percebe-se que as práticas e ações cotidianas da organização são alteradas (Bruni, 2005).
Já Bergstrom e Diedrich (2011) analisaram criticamente o fato de uma empresa sueca de alta tecnologia ter sido considerada socialmente responsável mesmo após a demissão coletiva de mais de 10 mil trabalhadores. Foram observados os acontecimentos ocorridos logo após a demissão em massa, apontando que a empresa foi considera socialmente responsável pelo governo pelo fato de ter estabelecido um programa de mudança de carreira e por ter definido vários atores para apoiar os trabalhadores demitidos (Bergstrom; Diedrich, 2011).
Ou seja, o estudo revelou que o "título" de socialmente responsável foi o resultado de um processo no qual os representantes de empresas conseguiram mobilizar uma rede de atores, que defenderam uma definição própria de responsabilidade social (Bergstrom; Diedrich, 2011). Isso indica que uma empresa pode assumir um papel ativo na construção de uma rede de atores, rede essa capaz de impor a outros atores definições próprias. A translação (Callon, 1986; Tureta, 2011) - a negociação de interesses e consolidação da rede-de-atores que irá dar suporte a tais interesses - da responsabilidade social corporativa no âmbito da rede de atores reforçou a posição de poder da empresa, em vez de constrange-la. Assim, o estudo de Bergstrom e Diedrich (2011) evidencia como os não-humanos (demissão, formulários, listas, negociação, etc.) contribuem para a estruturação das relações de poder e, consequentemente, do processo de translação.
Por fim, para a perspectiva da TAR, o hospital italiano e a empresa sueca de alta tecnologia são entidades complexas (compostas pela relação mutuamente constituída entre humanos e não-humanos), o resultado de um constante processo de organizar (CZARNIAWSKA, 2013), o efeito de uma rede de relações (ora estável), que existe apenas dentro dessa rede e enquanto durar essa rede.
De modo conclusivo, a Teoria Ator-Rede seria mais um método (uma etnometodologia que considera que atores sabem o que fazem) para implantar as atividades de construção de mundo do ator do que uma teoria social alternativa; sendo criticada justamente por usar não só o termo “teoria”, mas também as palavras “ator” e “rede”. Com o modernização e a popularização da palavra “rede”, o termo de Deleuze e Guattari se afastou de suas origens, passando a significar acesso direto e instantâneo, e a não mais transmitir ideias de transformações, traduções, de oposição a noções como instituição, sociedade, Estado-nação, ou qualquer outro aspecto regulatório (Latour, 1999).
Por outro lado, a palavra "ator" e sua conexão (com o hífen) com a noção de "rede" também fez com que a teoria fosse associada ao “clichê” agência-estrutura. Todavia, de acordo com a TAR, as ciências sociais não se alternam entre dois pólos, entre o ator e o sistema, ou entre a agência e a estrutura; sendo mais produtivo dizer que a alternância está entre dois tipos de insatisfações. Assim, a TAR seria simplesmente uma maneira de prestar atenção a essas insatisfações, tentando explorar as condições que tornam “os opostos” possíveis, uma vez que quando alguém explora as estruturas do social não é levado para longe dos sites locais (Latour, 1999).
Além disso, por analisar elementos não-humanos de forma simétrica aos humanos, a TAR foi acusada pela “morte do homem”. Todavia, para a TAR, da mesma forma que não há nada de especialmente local, não há nada especialmente humano. O “ator” não exerce o papel de agência, assim como a "rede" não desempenha o papel da sociedade, da estrutura. Pelo contrário, ator e rede designam duas faces de um mesmo fenômeno, sendo a ordem social a consequência dos meios heterogêneos (Latour, 1999). A agência não diz respeito necessariamente às pessoas, não é um atributo delas, uma vez que as ações não ocorrem de modo individual, sendo fruto da interação entre humanos e não-humanos. Além disso, destacar os não-humanos não significa anular a participação dos humanos nas ações, nas práticas sociais (Tureta, 2011).
Por fim, pode-se afirmar que para a TAR a realidade não se resume ao social, mas contempla o material, o não-humano. Assim, lançar mão da TAR significa entender os processos organizativos como o resultado de uma rede heterogênea, analisando humanos e não-humanos de modo simétrico, sem assumir distinções a priori sobre o que ou quem produz tais processos (Tureta, 2011). Dessa forma, evidencia-se na TAR um esforço para ir além das dicotomias comumente usadas nas Ciências Sociais e nos Estudos Organizacionais.
Alcadipani, R. & Tureta, C. (2009). Teoria Ator-Rede e Análise Organizacional: Contribuições e Possibilidades de Pesquisa no Brasil. Organizações & Sociedade, 16(51), 647- 664.
Bergström, O. & Diedrich, A. (2011). Exercising Social Responsibility in Downsizing: Enrolling and Mobilizing Actors at a Swedish High-Tech Company. Organization Studies. 32(7), 897–919.
Bloomfield, B. P.; Vurdubakis, T. (1999). The outer limits: monsters, actor network and the writing of displacement. Organization, 6(4).
Bruni, A. (2005). Shadowing software and clinical records: on the ethnography of non-humans and heterogeneous contexts. Organization. 12(3), 357–378.
Callon, M. (1986). Some elements of a sociology of translation: demystifications of the scallops and the fishermen of St. Brieuc Bay. In: Law, J. (Ed.). Power, action, and belief: a new sociology of knowledge? London: Routledge and Kegan Paul.
Callon, M.; Latour, B. (1981). Unscrewing the big leviathan. How actors macrostructure reality and how sociologists help them do so. In: Knorr-Cetina, K.; Cicourcel, A. V. (Eds.) Toward an Integration of Micro and Macro sociologies. London: Routledge and Kegan Paul.
Cooper, R; Law, J. (1995). Organization: distal and proximal views. In: Bacharach, S. B.; Gagliardi, P; Mundell, B. Research in the sociology of organization. Greenwich, CT: JAI Press.
Czarniawska, B. (2013). Organizations as obstacles to organizing. In: Robichaud, D.; Cooren, F. (Eds.). Organization and organizing: materiality, agency and discourse. New York: Routledge, 3-22.
Feldman. M. S.; Orlikowski, W. J. (2011). Theorizing practice and practicing theory. Organization Science, 22(5), 1240-1253.
Latour, B. (1999). On recalling ANT. In: Law, J.; Hassard, J. Actor network theory and after. Oxford: Blackwell.
______. (2005). Reassembling the social: an introduction to actor-network theory. New York: Oxford University Press, 2005.
Law, J. (1992). Notes on the theory of the actor network: ordering, strategy and heterogeneity. Centre for Science Studies. Lancaster: Lancaster University. Disponível em: http://www.comp.lancs.ac.uk/sociology/papers/Law-Notes-on-ANT.pdf.
________. (2000), 'Transitivities', Society and Space, 18, 133-148.
______. (2002). Objects and Spaces. Theory, culture & society, 19(5/6).
Law, J.; Urry, J. (2004). Enacting the social. Economy and Society, 33(3), 390-410.
Reckwitz, A. (2002). Toward a theory of social practices: a development in culturalist theorizing. European Journal of Social Theory, 5(2).
Schatzki, T. (2001). Introduction: practice theory. In: Schatzki, T; Knorr-Cetina, K; Von Savigny, E. (Eds.). The practice turn in contemporary. London: Routledge.
______. (2003). A New Societist Social Ontology. Philosophy of the Social Sciences. 33(2), 174-202.
______. (2005). The Sites of Organizations. Organization Studies. 26(3), 465-484.
______. (2006). On organizations as they happen. Organization Studies, 27(12), 1863-1873.
Tureta, C. & Alcadipani, R. (2009). O Objeto Objeto na Análise Organizacional: a Teoria Ator-Rede como Método de Análise da Participação dos Não-humanos no Processo Organizativo. Cadernos EBAPE.BR, 7(1),48-65.
Tureta, C. (2011). Práticas Organizativas Em Escolas De Samba: o Setor de Harmonia na Produção do Desfile do Vai-Vai. 2011. 325f. Tese (Doutorado em Administração) – Fundação Getúlio Vargas, São Paulo.
1. Mestre em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo – Vitória – ES, Brasil. Doutoranda em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo – Vitória – ES, Brasil. E-mail: carol.juliosilva@gmail.com
2. Mestre em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo – Vitória – ES, Brasil. E-mail: lucaspoubel@uol.com.br