Espacios. Vol. 37 (Nº 26) Año 2016. Pág. 15
Eliana Rodrigues de SOUSA 1; Antonio Carlos Leal de CASTRO 2; James Werllen de Jesus AZEVEDO 3 ;Gisele Martins Cardoso de ARAUJO 4
Recibido: 02/05/16 • Aprobado: 27/05/2016
2. Descrição da área de estudo
RESUMO: Estudos de percepção ambiental constitui uma ferramenta imprescindível para avaliar as relações ser humano-ambiente e gerenciamento de ecossistemas. O presente trabalho foi realizado junto as comunidades das áreas destinadas a implantação de Unidades de Conservação no município de Bacabeira-MA, tendo como principal objetivo descrever o perfil socioeconômico e a percepção ambiental das populações locais. A metodologia utilizada envolveu a utilização do banco de dados censitários do IBGE 2010 e a aplicação de questionários semiestruturados. Os resultados indicaram baixos níveis de alfabetização e renda, condições de saneamento inadequadas e a necessidade de esclarecimentos acerca dos objetivos e propósitos da implementação de áreas protegidas no município. |
ABSTRACT: Studies of environmental awareness is an indispensable tool for research projects that address the human-environment relations and managing ecosystems. The work was carried out among communities of areas for conservation units in the municipality of Bacabeira-MA and aimed to describe the socioeconomic and environmental awareness of the local people living around the protected areas of the municipality of Bacabeira-MA, the order to know and understand the relationship between humans and the environment. The methodology involved the use of the database to the IBGE census 2010 to socioeconomic characterization and application of semi-structured questionnaire. The results indicated low levels of literacy and family income, inadequate sanitation and the need for clarification of the goals and purposes of the implementation of protected areas in the municipality. |
As áreas protegidas, entre as quais se encontram as Unidades de Conservação (UC) são instituídas como um mecanismo limitante ao avanço das atividades antropogênicas sobre o ambiente natural, apresentando-se como um relevante componente nas estratégias de conservação ambiental mundial.
Estas áreas também asseguram às populações tradicionais o uso dos recursos naturais e ainda propiciam às comunidades do entorno, o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis. São usualmente estabelecidas através de normas legais que, com fins de proteger os ecossistemas neles contidos, apresentam determinados graus de limitação na sua utilização.
Diegues (2001) considera que o alcance dos objetivos de uma UC passa pelo conhecimento da relação homem-natureza, pois sem um esforço em conhecer o modo de vida e de agir das pessoas sobre o meio ambiente, não há conservação biológica. Neste quadro a percepção ambiental, como método utilizado em prol da conservação, tem se mostrado bastante eficiente (SANTOS, 2000).
Estudos de percepção ambiental vêm, ao longo dos anos, se instituindo como importante instrumento para a compreensão das relações entre o homem e o meio ambiente, contemplando diversas finalidades como, por exemplo, monitorar e estimular mudanças de atitudes, servindo de base para programas de educação ambiental.
Oliveira (1996) postula que "a percepção é um processo mental de interação do indivíduo com o meio ambiente que se dá através de mecanismos perceptivos propriamente ditos e, principalmente cognitivos".
Pacheco e Silva (2006) ressaltam que os estudos norteados pela percepção ambiental não devem avaliar apenas a relação do homem com o ambiente, mas também, com base no próprio conceito, esclarecer perspectivas sociais, políticas e científicas.
Compreender a percepção sobre a importância e o valor de uma Unidade de Conservação para as pessoas de seu entorno, permite avaliar o modo como essa população intervém na área, e como é afetada por essa dinâmica. A identificação das distintas percepções contribui para a gestão de conflitos em ações de planejamento, políticas e programas de educação ambiental (HOEFFEL et al., 2008), além de funcionar como instrumento de apoio na gestão e na formulação de políticas públicas ambientais (Rodrigues et al, 2012).
As práticas cotidianas dos indivíduos e grupos sociais são desenvolvidas a partir da percepção e dos sentimentos que têm sobre o ambiente. Assim, conhecer as aspirações e sentimentos de cada sociedade em relação ao ambiente em que vivem conduz ao desenvolvimento de tendências que apontam para uma nova direção na maneira de gerir áreas protegidas.
No presente trabalho procura-se descrever o perfil socioeconômico e a percepção ambiental das populações locais do entorno das unidades de conservação, localizadas no município de Bacabeira-MA, visando promover estratégias de articulação entre o poder público e a sociedade civil para minimizar os conflitos e potencializar os benefícios da implantação de áreas protegidas em regiões metropolitanas.
O município de Bacabeira (2º44'06" - 3º06'34" S e 44º14'03 - 44º31'54") está inserido na Região de Planejamento do Baixo Munim, juntamente com os municípios de Rosário, Axixá, Icatu, Morros, Cachoeira Grande e Presidente Juscelino e vem assumindo uma posição estratégia na dinâmica econômica do estado, em decorrência de sua natureza continental e proximidade da capital São Luís (SEPLAN, 2008).
Bacabeira foi um povoado pertencente ao município de Rosário e conquistou sua emancipação em 10 de novembro de 1994, pela Lei nº 6.187. Apresenta uma área de 615,58 Km² estando incluída na zona costeira do Golfão Maranhense, Mesorregião Norte Maranhense, e distando 58 km da capital São Luís (Figura 1). Uma parte de sua área compõe o território da Área de Proteção Ambiental Upaon-Açu/Miritiba/Alto Preguiça, juntamente com 17 municípios.
A região apresenta clima úmido, com moderada deficiência de água entre os meses de junho a setembro, temperatura média anual superior a 27ºC e com totais pluviométricos anuais entre 1.600 a 2.400mm. Conforme dados do último censo (IBGE, 2010) o município de Bacabeira apresenta uma população de 16.553 habitantes, sendo a grande maioria concentrada na zona rural.
A região investigada situa-se em posição estratégica por ser drenada pelas duas maiores bacias hidrográficas maranhenses, representadas pelos rios Itapecuru (25%) e Mearim (75%), além de ser interceptado pelo modal rodoferroviário que inclui a BR 135 e as ferrovias Carajás-Norte-Sul e Transnordestina, que permitem o acesso ao Complexo Portuário de São Luís. No município de Bacabeira - MA também passam as grandes redes transmissoras de energia que abastecem a cidade de São Luís e todas as indústrias instaladas na ilha, assim como a adutora (Sistema ITALUÍS - CAEMA), que abastece 60% da população na capital.
Figura 1- Mapa de localização do município de Bacabeira e das Unidades de Conservação propostas.
Para a caracterização socioeconômica foi utilizado o banco de dados da base dos setores censitários do censo demográfico do IBGE de 2010. A identificação dos setores censitários que compunham a área das unidades de conservação foi obtida pela sobreposição dos polígonos das UCs ao mapa municipal estatístico, do censo demográfico de 2010, de Bacabeira-MA (Figura 2). Após esta etapa efetuou-se o recorte espacial da área, com o apoio do software Spring 5.1, que identificou os dois principais setores censitários (polígonos) contidos nas áreas das UCs.
Figura 2. Setores censitários do município de Bacabeira – MA,
evidenciando as 3 unidades que se sobrepões ao polígono das UC's.
Os dados censitários encontram-se organizados em classes gerais, nas quais cada classe contêm diferentes variáveis que foram selecionadas para uma melhor compreensão sobre a relação dos aspectos socioeconômicos da área. As classes adotadas no estudo foram: características dos domicílios (esgotamento sanitário, abastecimento de água, coleta de lixo), variáveis que compõem o saneamento, domicílio, renda (rendimento nominal mensal per capta) e taxa de alfabetização. De acordo com o IBGE (2000) a pessoa é considerada alfabetizada quando é capaz de ler e escrever pelo menos um bilhete simples no idioma que conhece. Para este estudo foram analisadas as pessoas com faixa etária igual ou superior a 15 anos de idade.
A taxa de alfabetização que mede os níveis de desenvolvimento socioeconômico de um país ou região é representada pelo quociente entre a população alfabetizada e a população total de um mesmo grupo etário:
Onde:
TA = Taxa de Alfabetização
Palfa = população alfabetizada na faixa etária de 15 anos ou mais.
P = População total nesse mesmo grupo etário.
O instrumento aplicado para coleta de dados foi o questionário semiestruturado com perguntas abertas e fechadas, buscando conhecer as formas de uso dos recursos ambientais e caracterizar a percepção ambiental. Além disso, utilizaram-se elementos como registros fotográficos com a finalidade de reconhecimento de aspectos da paisagem.
O questionário foi dividido em três partes; a primeira incluía perguntas gerais a cada entrevistado, a respeito de gênero, idade, local de origem, tempo de residência na região, escolaridade, ocupação principal e renda. A segunda abordava questões relativas à atividade econômica e uso dos recursos ambientais. A terceira parte tratou da percepção ambiental, com questões abordando as mudanças gerais no ambiente e seu conhecimento a respeito das unidades de conservação.
O tipo de amostragem foi a não probabilística por tipicidade que de acordo com Gil (2010), não apresenta fundamentação matemática ou estatística, dependendo exclusivamente de critérios do pesquisador, consistindo em selecionar um subgrupo da população que, com base nas informações disponíveis, possa ser considerado representativo de toda a população. Além disso, a pesquisa proposta não tem como meta uma representação numérica dos grupos pesquisados e sim a sua compreensão enquanto grupos sociais.
Para a realização das entrevistas, os informantes foram selecionados de acordo com critérios pré-estabelecidos, como residir nas áreas estudadas por período igual ou maior que 10 anos, possuir qualquer nível de escolaridade podendo ser de ambos os sexos, e aceitar participar espontaneamente do estudo.
As entrevistas foram realizadas nas residências dos participantes no período de dezembro de 2013 a fevereiro de 2014 tendo sido aplicados um total de 65 questionários.
Os aspectos socioeconômicos são informações de grande importância para a análise das condições de vida de uma população. Segundo Ayach e Pinto (2007) as diferentes condições de vida de uma população implicam diretamente em seu bem estar e inclusive na qualidade do ambiente por ela utilizado.
Os aspectos socioeconômicos abordados e analisados referem-se às condições de saneamento, alfabetização e renda, de acordo com dados distribuídos nos setores censitários inseridos na área de cada unidade de conservação.
O município de Bacabeira está dividido em 22 setores censitários sendo que as áreas da RESEX e do PARQUE são abrangidas por um único setor e a APA por dois setores, todos classificados como zona rural do município (IBGE, 2010).
O saneamento é formado por Sistema de Abastecimento de Água Potável, Sistema de Coleta e Tratamento de Águas Residuárias, Sistema de Limpeza Pública e Sistema de Drenagem Urbana. Conforme dados do IBGE 2010, na área da RESEX e PARQUE, um percentual correspondente a 10,64% dos domicílios, tem acesso à rede geral de água, em 2,13% dos domicílios a água é proveniente de poços ou nascentes e 87,23% contam com outras formas de abastecimento.
Nos setores que compreendem a APA, o uso de água através da rede geral compreende um total de 2,61% dos domicílios. As moradias abastecidas com poço ou nascentes somam 7,05% e aquelas que contam com outras formas de abastecimento totalizam 90,34%.
O abastecimento de água é uma questão essencial para as populações e sua resolução é fundamental, devido aos riscos que sua ausência ou seu fornecimento inadequado podem causar à saúde pública.
Deve-se tomar por urgente, medidas que priorizem o tratamento adequado da água consumida pela população, considerando que uma UC de Uso Sustentável é tida como instrumento para melhoria da qualidade de vida da população. Essa qualidade se traduz não apenas na dimensão ambiental, mas também na social.
A avaliação dos resultados também destacou outra característica marcante na área, a qual consistiu no elevado número de domicílios com a ausência de instalações sanitárias, com destaque para a área da RESEX e do PARQUE, aonde o percentual chega a 94,68%, enquanto na APA o registro de ausência foi observado em 59,43% dos municípios.
As instalações sanitárias que existem são do tipo fossa, predominantemente, a fossa rudimentar que soma 36,39%, mostrando, claramente, que o percentual de domicílios inadequados, quanto às formas de esgotamento sanitário, ainda é bastante expressivo.
Destaca-se, assim, a inexistência da rede coletora nos setores estudados, e a falta de preocupação, da comunidade local, em buscar alternativas adequadas de esgotamento sanitário, como, por exemplo, a construção de fossas sépticas.
O serviço de coleta de lixo é precário e, na zona rural dos municípios, em geral, caracteriza-se pela ausência deste serviço. O percentual de domicílios sem coleta de lixo, nas áreas das UCs, é de 34,31%, sendo o processo de queima, o principal destino dado aos resíduos. Também se ressalta um pequeno percentual de resíduos enterrados (5,74%).
Na figura 3 é apresentado os indicadores de saneamento básico para a área da APA, RESEX e PARQUE do município de Bacabeira-MA.
Figura 3. Representação percentual do número de domicílios com presença de rede geral
de abastecimento de água, instalações sanitárias e serviço de coleta de lixo para as áreas das
UC's, no município de Bacabeira – MA.
O rendimento domiciliar é a soma de todos os rendimentos dos moradores de cada domicílio. Assim, de acordo com dados do censo 2010, observou-se que nas áreas da RESEX, PARQUE e APA o rendimento predominante foi de até 1 salário mínimo. Valores superiores a 1 salário mínimo, foi observado em 1% dos domicílios para área da RESEX e PARQUE e 0,78% para a APA. Para os que se consideram sem rendimento, o maior percentual encontrado foi na área da RESEX e PARQUE com 34,04%.
Quanto às informações educacionais nos setores estudados foi adotada a taxa de alfabetização. Esta variável, também permite dimensionar a situação de desenvolvimento socioeconômico de um grupo social, em seu aspecto educacional. A taxa de alfabetização apresentada para área da RESEX e PARQUE foi de 63,68% e para a APA 60,80%. A baixa taxa de alfabetização tende a limitar participações mais consistentes nas tomadas de decisões locais e reivindicação de seus direitos junto aos órgãos estatais.
Tomando como referência os objetivos propostos na pesquisa, a qual buscou conhecer a percepção ambiental dos grupos que interagem com as UCs foram aplicados um total de 65 questionários. Dos informantes pesquisados 36 eram do sexo feminino e 29 do sexo masculino com faixa etária variando de 21 a 90 anos. A maioria dos entrevistados (46) são nativos do município de Bacabeira, enquanto 19 são imigrantes, oriundos, principalmente, de municípios vizinhos. Quanto ao tempo de moradia, a grande maioria dos informantes residem nessas comunidades há mais de 10 anos o que caracteriza que todos têm um grau de conhecimento satisfatório em relação à região em estudo.
Quando perguntados sobre o que é meio ambiente 87,7% dos informantes relacionaram meio ambiente com os elementos da natureza (florestas, rios, animais, solo etc.) e 12,3% ao local em que vivem. Verificou-se que a proximidade dos entrevistados com grandes áreas naturais pode ter favorecido o perfil de respostas quanto ao entendimento do meio ambiente. Observou-se, também, que apesar da inclusão do ser humano no ambiente natural, não expressar um sentido de pertencimento, há uma visão dissociada do ser humano com seu espaço de inserção. De acordo com o observado por Reigota (2002), a compreensão do meio ambiente "enquanto interação de configurações sociais, biofísicas, políticas, filosóficas e culturais" não é reconhecida pela maioria dos entrevistados.
É fundamental que a educação ambiental, importante instrumento de gestão ambiental, seja implantada e moldada para a realidade local, porém provendo conhecimento à comunidade sobre a questão ambiental sob um enfoque global criando condições para o aumento de conhecimento e para a experimentação direta com o meio natural, de modo a estimular o interesse e facilitar a integração das populações do seu entorno.
No que se refere à percepção das mudanças ocorridas no ambiente nos últimos 10 anos, dos 65 informantes apenas 05 (7,69%) disseram não ter havido mudanças no ambiente; os demais citaram uma ou mais mudanças, tendo sido contabilizada 106 citações, das quais 27 foram remetidas a obras de infraestrutura, 21 citações relacionadas ao aumento da população, 18 ao desmatamento, 16 ao aumento da temperatura, 08 à diminuição das chuvas, 04 a redução dos recursos naturais, 03 extração mineral e 02 citações atribuídas à falta de água, búfalos no campo e igarapés assoreados; enquanto o aterro do campo, esgoto no igarapé e avanço do mangue apresentaram 01 citação cada (Tabela 1).
Tabela 1- Lista das mudanças ambientais, citadas pelos informantes,
relacionadas pelo número de citações em cada unidade de conservação.
Mudanças |
Nº de citações na área da RESEX |
Nº de citações na área do PARQUE |
Nº de citações na área da APA |
Obras de infraestrutura¹ |
8 |
6 |
13 |
Aumento da população |
9 |
6 |
6 |
Desmatamento |
5 |
5 |
8 |
Aumento da temperatura |
5 |
3 |
8 |
Diminuição das chuvas |
3 |
0 |
5 |
Redução dos recursos naturais² |
1 |
0 |
3 |
Extração mineral |
0 |
3 |
0 |
Búfalos no campo |
1 |
0 |
1 |
Falta de água |
1 |
0 |
1 |
Igarapés assoreados |
0 |
2 |
0 |
Aterro do campo |
1 |
0 |
0 |
Avanço do mangue |
1 |
0 |
0 |
Esgoto nos igarapés |
1 |
0 |
0 |
1 - As obras de infraestrutura estão relacionadas a asfaltamento de estradas, construção
de praças, escolas, instalação de tubos do sistema ITALUIS, e o fornecimento de energia elétrica;
2 – A redução dos recursos naturais implica redução da
quantidade de peixes, animais para caça, juçara e babaçu.
Analisando as citações podemos condicionar que as obras de infraestrutura presentes na região foram as mais mencionadas porque estão mais visíveis e com exceção da instalação de tubos do ITALUIS, as demais referências agrupadas a essa categoria são vistas como positivas, uma vez que, segundo os informantes, melhoraram a qualidade de vida dos moradores. Em contraste com as mudanças positivas as demais citações dos entrevistados foram classificadas como aspectos negativos, já que, para eles, comprometem a conservação dos recursos naturais e a qualidade de vida das populações.
Fatores ligados ao clima como, por exemplo, o aumento da temperatura é sentido como uma mudança no ambiente, sendo correlacionada às ações de desmatamento. Também em consequência do desmatamento e da extração mineral, algumas situações de degradação são evidenciadas pelos moradores, como é o caso do assoreamento de igarapés e a redução dos recursos naturais. A presença de búfalos nos campos, segundo os pescadores, prejudica a pesca devido ao pisoteio dos animais nos petrechos de pesca. Além disso, em outras áreas, ocorre a invasão das roças, com consequente destruição das plantações.
Assim, os aspectos negativos traduzidos na forma de desmatamentos, extração mineral, búfalos no campo, dentre outros, são propícios a gerar conflitos socioambientais, uma vez que esses conflitos se estabelecem tanto pelo controle material de um recurso, quanto por sua forma de uso, e envolvem grupos sociais com modos diferenciados de apropriação e significação do território (Acserald, 2004), tendo origem quando pelo menos um dos grupos tem a continuidade das formas sociais de apropriação do meio, ameaçada por impactos indesejáveis decorrentes do exercício das práticas de outros grupos.
Registros na literatura assinalam com frequência que os conflitos surgem quando as comunidades locais que residem próximo dos limites das áreas protegidas não estão incluídas no processo de planejamento de conservação. Estes conflitos resultam de restrições de acesso à área protegida, limitações impostas pela uso da terra e extração de recursos naturais, como atividades agrícolas, extração de madeira e caça, dentre outras atividades, que constituem fontes mais frequentes de conflitos comunitários (Szell e Hallett, 2013).
Nesse contexto, as UCs propostas pelo município de Bacabeira envolvem categorias de uso distinto, ou seja, proteção integral e uso sustentável, porém, nessas áreas, são mantidas atividades produtivas diversas. Deste modo, a ausência de diálogo e participação dos diferentes atores sociais envolvidos, na busca por novas práticas econômicas adequadas à realidade das unidades de conservação poderá levar a conflitos de uso, contribuindo para que as UCs tenham seus objetivos gerais desqualificados.
Quando questionados se sabem o que é uma Unidade de Conservação, a maioria dos informantes 90,77% responderam que não, enquanto 9,23% destacaram que são áreas para preservação e conservação do meio ambiente. Essa noção de proteção dos recursos naturais são reflexos, principalmente, da mídia televisiva. É importante destacar também que, apesar do pouco conhecimento, foi possível observar que a maioria dos informantes reconhece a necessidade de conservação do meio ambiente.
Apesar da prefeitura de Bacabeira-MA está implementando a criação de três unidades de conservação municipais, parece evidente a desinformação quanto às ações promovidas. A explicação para tal fato pode estar associado ao uso de um sistema de informação pouco abrangente. Neste sentido, conforme informações dos entrevistados, o uso de carro de som é o meio mais usual para divulgar as reuniões sobre a criação das unidades de conservação.
Odum (2004) afirma que as componentes natural, social, econômica e política não podem ser tratadas separadamente, caso se espere encontrar soluções duradoras para problemas críticos. Desse modo, destaca-se a importância de ações educativas que promovam uma reflexão crítica sobre cidadania e que incentivem os indivíduos a participarem efetivamente dos processos decisórios que afetam diretamente suas vidas cotidianas.
Rodrigues et. al., (2012) afirmam que é necessária à constituição de conselhos compostos por representantes engajados em integrar a comunidade, assegurando a veiculação de informações no sentido de permitir que a sociedade contribua para a gestão compartilhada do meio ambiente a partir de interesse coletivo, pois se não há uma interação entre gestores e comunidade qualquer ação de conscientização ficará comprometida.
Nesse sentido, é imprescindível o envolvimento das populações inseridas no contexto das UCs, como o próprio recurso mantenedor das mesmas e como elementos das metas conservacionistas a serem alcançadas visto que os valores ambientais, segundo Tuan (1980), também estão implícitos nas atividades econômicas das pessoas, comportamento e estilo de vida. Todo organismo necessita de elementos do meio ambiente para viabilizar sua sobrevivência e reprodução, assim. a utilização dos recursos naturais é inerente ao seu modo de vida, e, conforme dados coletados junto às populações do entorno das UCs, 81,54% fazem uso de tais recursos. A maioria, 72,31% pesca; 50,77% extraem madeira e 40% usam o solo para plantio de roças de subsistência.
As atividades são desenvolvidas de forma tradicional para a subsistência familiar e, eventualmente comercializado quando produz excedente. Essas comunidades, de um modo geral, constituíram ligações de interatividade com esses territórios, baseadas na necessidade pautada no uso cotidiano, de acordo com a oferta sazonal de seus recursos.
Convém lembrar que ao transformar três ambientes do município em áreas de Unidades de Conservação algumas atividades nessas áreas serão restringidas principalmente no espaço destinado a criação do Parque que, segundo o SNUC é unidade de uso integral. As restrições decorrentes do estabelecimento de unidades de conservação de uso restrito têm produzido descontentamento crescente em muitos países. Segundo Hoeffel et. al. (2008), no Brasil, país com graves problemas de desemprego urbano, péssima distribuição de renda e estrutura fundiária superconcentrada, a contribuição desse modelo tem agravado a situação econômica das comunidades rurais.
A reserva extrativista também já possui uma carga restritiva, uma vez que possui vegetação de mangue denominada área de preservação permanente. Portanto o estabelecimento de proibições e restrições de determinados usos dos recursos das UCs tendem a gerar a hostilidade das populações em relação às UCs, pois, de acordo com os informantes pesquisados, não existe uma política de comunicação com estabelecimento de informações que destaque as vantagens proporcionadas pela conservação do patrimônio natural, apontado como uma lacuna na gestão ambiental local.
A Educação Ambiental representa, nesse contexto, um importante instrumento para envolver as comunidades, bem como desenvolver programas de uso sustentável dos recursos naturais, e, ainda, apresenta-se como uma alternativa para prevenção de conflitos entre sociedade e ambiente. Entretanto, Czapski (1998) alerta que a Educação Ambiental não visa solucionar problemas ambientais, mas se coloca como um instrumento de sensibilização e de propostas de soluções.
A política para a gestão de áreas protegidas define as bases e os instrumentos de gestão e estabelece uma estratégia de descentralização de poder na tomada de decisões relativas à gestão ambiental. Todavia, segundo Irving et. al., (2006) a gestão das áreas protegidas não se refere apenas à administração dos recursos biológicos, pois é antes de tudo, uma atividade inerentemente política, cujos maiores desafios são políticos, econômicos e sociais.
A avaliação integrada dos resultados sinaliza, para a população pesquisada, a presença de características socioeconômicas próprias, influenciada por sua origem e atividades realizadas. A taxa de alfabetização é baixa e na renda familiar predomina valores de no máximo um salário mínimo, dados comuns aos encontrados para regiões rurais no Brasil e a clara interdependência da baixa renda e escolaridade da população.
Quanto às condições do saneamento ambiental destaca-se a inadequação em relação aos aspectos que compreendem essa dimensão para a qualidade de vida. Todos os setores estudados carecem de investimentos na coleta de lixo e esgoto e também no abastecimento de água.
Em relação aos dados da percepção ambiental prevaleceu a concepção de meio ambiente como natureza, cabendo, nesse caso, a indicação de estratégias educativas de imersão do componente humano nessa natureza, fazendo-o sentir-se parte dela. Evidenciou-se, também, que os moradores no entorno das três Unidades de Conservação necessitam de esclarecimentos acerca dos objetivos e propósitos da implementação de áreas protegidas, pois é perceptível o desconhecimento dos propósitos da unidade de conservação, bem como de seus objetivos, seus limites e diferenciações entre a APA, RESEX e PARQUE. Entretanto, observou-se que ainda é incipiente o envolvimento da população regional nas questões socioambientais, da área de estudo.
O fato das Unidades de Conservação do município de Bacabeira ainda não estarem totalmente regulamentadas conduz a uma reflexão sobre a necessidade de maior aproximação dos tomadores de decisão à realidade dos moradores, levando em consideração o conhecimento e a percepção das comunidades locais, de modo que a participação popular seja bem evidenciada, conforme previsto pela legislação.
Portanto, a articulação entre o poder público e a sociedade civil e a implantação da gestão compartilhada seriam formas de minimizar os conflitos existentes, potencializando, assim, os benefícios oriundos da conservação destas áreas.
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1. Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas. Email: helianasousa@hotmail.com
2. Professor do Departamento de Oceanografia e Limnologia - UFMA. Email: alec@ufma.br
3. Professor do Departamento de Oceanografia e Limnologia - UFMA. Email: jameswerllen@yahoo.com.br
4. Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas. Email: gisacardoso@msn.com