Espacios. Vol. 37 (Nº 26) Año 2016. Pág. 6

Precisão conceitual em Engenharia de Produção: uma abordagem teórica

Conceptual precision in production engineering: a theoretical approach

Fabrício EIDELWEIN 1; José Antonio Valle ANTUNES JÚNIOR 2; Fabio Sartori PIRAN 3; Fabiano de Lima NUNES 4

Recibido: 27/0416 • Aprobado: 25/05/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Abordagem metodológica

3. Terminologia da engenharia de produção voltada à melhoria dos processos

4. Síntese dos conceitos estudados

5. Classificação de termos da engenharia de produção voltada à melhoria dos processos

6. Considerações finais

Bibliografia


RESUMO:

A Engenharia de Produção voltada à melhoria dos processos possui, entre outras, como referências o Sistema Toyota de Produção (STP) e a Teoria das Restrições - Theory of Constraints (TOC). Tanto o STP quanto a TOC possuem uma série de termos definidos de modo ambíguo e pouco preciso na literatura especializada. O presente artigo tem como objetivo contribuir com a comunidade da Engenharia de Produção para uma definição mais precisa destes termos e para o entendimento da lógica sistêmica que os une. Para tanto, foi adotada uma abordagem metodológica teórica-conceitual baseada na revisão da literatura, a qual retoma os conceitos de teoria, princípio, sistema, medida, modelo, método, técnica e ferramenta. Estes conceitos são a referência basilar para a definição e a classificação precisa dos termos utilizados no campo da Engenharia de Produção. Os avanços desta pesquisa são apresentados por meio de um quadro resumo e de um diagrama da relação sistêmica entre os conceitos estudados. Ao final, são apresentados termos utilizados no contexto do STP e da TOC, categorizados de acordo com os avanços obtidos neste estudo.
Palavras-Chaves: Sistema Toyota de Produção; Teoria das Restrições; Conceitos; Terminologia.

ABSTRACT:

The production engineering focused on process improvement has as main references the Toyota Production System (TPS) and the Theory of Constraints (TOC). Both TPS and TOC have a set of terms defined in an ambiguous and inaccurate way, in the specialized literature. This paper aims to contribute to the community of Production Engineering to define these terms as precisely as possible and to understand the systemic logic that represents their relationship. To that end, this research adopted a theoretical and conceptual methodological approach based on literature review, which takes up the concepts of: theory, principle, system, measurement, model, method and technique/tool. These concepts are basic references for the correct definition and classification of the terms used in the field of Production Engineering. The contributions of this research are presented through a summary frame and a systemic relationship diagram, referenced by literature review. At the end of this paper, some terms used in the context of TPS and TOC are categorized according to the progress achieved in this study.
Key Words: Toyota Production System; Theory of Constraints; Concepts; Terminology.

1. Introdução

A linguagem constitui a capacidade do homem para designar os objetos de sua circunstância, assim como para expressar os pensamentos formulados acerca dos mesmos, permitindo a comunicação com seus semelhantes (DAHLBERG, 1978). A palavra é a unidade da língua geral e deve ser distinguida do termo, o qual corresponde a um conceito em uma linguagem de especialidade, ou seja, a aplicação em um campo temático (LARA, 2004; SALES, 2007). Neste sentido, a Engenharia de Produção constitui-se em um campo temático que possui uma linguagem de especialidade, formada por um conjunto de termos que denotam respectivos conceitos.

A Engenharia de Produção é baseada em conhecimentos específicos e habilidades associadas às ciências sociais, matemáticas e físicas, assim como aos princípios e métodos de análise da engenharia de projeto, os quais são considerados para especificar, predizer e avaliar os resultados dos sistemas que projeta, implanta e aperfeiçoa (BATALHA, 2011). Além disso, inúmeras são as técnicas e as ferramentas aplicadas para que os sistemas produtivos de bens e serviços gerem resultados econômicos superiores, com desempenhos social e ambientalmente eficientes (ANTUNES et al., 2013).

A Engenharia de Produção voltada à melhoria dos processos [5] possui, entre outros, como referências o Sistema Toyota de Produção (STP) e a Teoria das Restrições - Theory of Constraints (TOC). Ambos se constituem em uma alternativa às abordagens de melhoria propugnadas na ótica de produção em massa (GOLDRATT, 2009) e a integração de seus conceitos é foco de interesse de acadêmicos e praticantes (ANTUNES, 1998; PERGHER; RODRIGUES; LACERDA, 2011; VOTTO; FERNANDES, 2014). Dialeticamente, o STP e a TOC opõem e evoluem a lógica fordista, pois são alicerçados no paradigma da melhoria de processos em comparação com o paradigma de melhoria de operações (ANTUNES et al., 2013).

Assim como na Engenharia de Produção de modo amplo, a gestão de sistemas de produção focada na melhoria dos processos, em específico, exige o domínio de uma série de termos, os quais nem sempre são definidos e categorizados com precisão na literatura especializada. O termo kanban, por exemplo, pode ser encontrado na literatura especializada classificado como método, técnica e sistema (SHINGO, 1996), método, sistema e ferramenta (OHNO, 1997), sistema (MOURA, 2007) e método e sistema (LÖDDING, 2013). Ambiguidades conceituais como esta podem ocasionar interpretações e argumentações equivocadas tanto no ambiente acadêmico como no cotidiano de praticantes, impedindo o compartilhamento efetivo de conhecimento entre os especialistas (SALES, 2007).

O Institute of Industrial Engeneerings (IIE), por meio do Projeto Z94, disponibiliza a definição de diversos termos utilizados na linguagem de especialidade da Engenharia de Produção, buscando mantê-las atualizadas de modo a capturar seu melhor uso corrente (IIE, 2015). Embora estejam divididas por áreas temáticas, estas definições não consideram uma organização categórica dos termos. De acordo com Dahlberg (1978), uma categoria é o conceito em sua mais ampla extensão, ou seja, o conceito que permite conceituar uma série de objetos (ISO, 2009).

Alguns conceitos presentes em diferentes sistemas científicos como teoria, princípio, sistema, medida, modelo, método e técnica e ferramenta são a referência basilar para o aprimoramento da definição de termos relacionados aos sistemas de produção, pois servem como categorias para classificação dos mesmos. Considerando as definições propostas na literatura para estes elementos, é possível estabelecer o referencial teórico necessário para que os termos utilizados no contexto da Engenharia de Produção voltada à melhoria dos processos sejam classificados e precisamente definidos.

A organização da linguagem em categorias tem sua importância aumentada dado o grande volume de informação disponível nas redes e a possibilidade de delimitação deste conteúdo com o auxílio de mecanismos de filtro  (LARA, 2004). No entanto, tão importante quanto a correta definição e categorização dos termos relacionados aos sistemas de produção é a organização e o entendimento destes em uma lógica de relação sistêmica. De acordo com Senge (2009), grandes resultados para as organizações podem ser obtidos por meio de pequenas mudanças, mas, para isso, é necessário entender o sistema como um todo e encontrar as áreas de maior alavancagem, normalmente as menos óbvias e evidentes.

Para que sejam efetivadas de modo encadeado e eficaz, as intervenções do engenheiro de produção devem sempre considerar a relação entre os elementos do sistema com o qual interage. O STP, por exemplo, é constituído por elementos como o Just-in-Time (JIT), a Autonomação (Jidoka), a Troca Rápida de Ferramentas (TRF), o Controle de Qualidade Zero Defeitos (CQZD), o Kaizen e a Engenharia de Valor, entre outros, mas é justamente a articulação sistêmica entre estes elementos que dá origem e eficácia ao sistema (ANTUNES et al., 2008).

O presente artigo tem como objetivo contribuir com a comunidade da Engenharia de Produção para uma definição mais precisa dos termos utilizados no contexto da Engenharia de Produção voltada à melhoria dos processos, bem como para o entendimento da lógica sistêmica que os relaciona. Para tanto, é apresentada uma revisão da literatura, a qual resgata os conceitos de: teoria, princípio, sistema, medida, modelo, método e técnica e ferramenta. Em seguida, as definições obtidas são sintetizadas em um quadro resumo e em um diagrama que apresenta a relação sistêmica entre os conceitos estudados. Como meio para exemplificar os avanços obtidos, apresenta-se um quadro com termos frequentemente utilizados no contexto do STP e da TOC, classificados e abordados sob a luz das referências estudadas.

2. Abordagem metodológica

Esta pesquisa adota uma abordagem metodológica teórico-conceitual baseada na revisão da literatura e contempla as fases de escolha do tema, elaboração do plano de trabalho, busca por referências, análise e interpretação e redação, sugeridas por  Marconi e Lakatos (2003) para a realização de pesquisas bibliográficas.

A escolha do tema considerou fatores internos (aptidão, inclinação, qualificação e assunto que mereça ser pesquisado) e fatores externos (disponibilidade do pesquisador, referências disponíveis e apoio de especialistas) (MARCONI; LAKATOS, 2003). Os fatores internos considerados são a constatação de que no âmbito acadêmico de atuação do pesquisador, a Engenharia de Produção, pouca atenção é dada à classificação e definição o mais precisa possível dos termos empregados em sua linguagem de especialidade. A Engenharia de Produção voltada à melhoria dos processos surge como uma delimitação, por ser um campo de significativo interesse da comunidade acadêmica e por observar fatores externos como a consulta a especialistas.

O plano de trabalho, apresentado na Figura 1, foi elaborado com foco no alinhamento entre o objetivo deste estudo e as etapas sugeridas por Marconi e Lakatos (2003).

Figura 1 – Plano de trabalho. Fonte: Elaborado pelos autores.

A busca por referências foi feita por meio de consultas a obras clássicas, bases de dados acadêmicas (Google Acadêmico, Ebsco Host e Science Direct) e literatura atual referente ao tema da pesquisa, permitindo a construção do referencial teórico, etapa seguinte do plano de trabalho. Embora esta pesquisa não tenha por objetivo a realização de um trabalho terminológico completo, algumas referências pertinentes ao estudo da terminologia foram utilizadas. Destacam-se como principais a Teoria do Conceito (DAHLBERG, 1978) e as normas ISO 704:2009 e ISO 1087:2000, referentes ao trabalho terminológico (ISO, 2000, 2009).

A análise e interpretação da literatura foram sintetizadas em um quadro resumo e um diagrama da relação sistêmica existente entre os conceitos estudados. Esta interpretação toma por base referencial teórico construído e busca apresentar definições que abarcam o conjunto das referências utilizadas. Na sequência, alguns termos pertencentes ao contexto do STP e da TOC foram classificados, exemplificando de que modo esta revisão da literatura pode contribuir com o avanço da terminologia na linguagem de especialidade da Engenharia de Produção voltada à melhoria dos processos.

3. Terminologia da engenharia de produção voltada à melhoria dos processos

A terminologia é uma ciência que estuda a estrutura, a formação, o desenvolvimento, a utilização e o gerenciamento de terminologias em diferentes campos temáticos (ISO, 2000). Ela teve origem na primeira metade do século XX, com os estudos do engenheiro austríaco Eugen Wüster (1898-1977), que organizou a terminologia da eletrotécnica, com o objetivo de garantir uma comunicação mais precisa neste campo temático (CAMPOS, 2001). O trabalho de Wüster culminou na consolidação da Teoria Geral da Terminologia (TGT), a qual possui caráter normativo e se constitui na principal referência do Comitê Técnico de Terminologia da Intetrnational Organization for Standarization (ISO) (SILVA, 2003).

A ISO 704:2009 define os princípios e métodos para o trabalho da terminologia, o qual combina abordagens para a descrição, ordenação e transferência do conhecimento. De acordo com esta norma, as principais atividades do trabalho terminológico são: a identificação de conceitos e de relações conceituais; a análise e a modelagem de sistemas conceituais; a criação de representações de sistemas conceituais através de diagramas; a definição de conceitos; a atribuição de termos para cada conceito; e a gravação de dados terminológicos (ISO, 2009).

Quando se trata de uma linguagem especializada, deve-se realizar todo o esforço para que os conceitos sejam precisamente definidos (DAHLBERG, 1978). Neste estudo, o esforço para a obtenção de definições mais precisas se concentra na revisão de conceitos de ampla extensão (categorias) e na representação das relações conceituais entre estas categorias, amparados pela ISO 704:2009 (ISO, 2009). O trabalho terminológico de definição tem no conceito seu ponto de partida (LARA, 2004). A seguir, realiza-se uma breve revisão sobre o conceito.

3.1 Conceito

O conceito é a unidade do conhecimento criada por uma combinação única de características que descrevem a propriedade de um objeto ou conjunto de objetos (ISO, 2000). O conjunto de características que se unem para formar o conceito é chamado de intensão do conceito. O conjunto de objetos definidos como um conceito é conhecido como extensão do conceito (ISO, 2009).

As categorias são conceitos em sua mais ampla extensão, as quais podem ser obtidas com uma sequência de enunciados verdadeiros acerca de um objeto, como proposto por Dahlberg (1978): i) Um periódico é um documento que se publica periodicamente; ii) Um documento que se publica periodicamente é um documento; iii) Um documento é um suporte de informação; iv) Um suporte de informação é um objeto material; v) Um objeto material é um objeto

Para uma melhor compreensão acerca do conceito, é importante explicitar seu relacionamento e suas diferenças em relação ao termo, ao objeto e à definição. Segundo a norma ISO 1087:2000, os termos representam os conceitos, constituindo-se em designações verbais que se inserem nas linguagens de especialidade. O objeto é qualquer coisa perceptível ou concebível. A definição, por sua vez, é a representação do conceito por meio de um enunciado descritivo, o qual tem por função diferenciar tal conceito dos conceitos relacionados (ISO, 2000). A formação dos conceitos pode ser definida como a compilação de enunciados verdadeiros acerca de determinado objeto, fixada por um símbolo linguístico, por exemplo, o termo (DAHLBERG, 1978).

A distinção entre conceitos gerais e individuais é de fundamental importância (POPPER, 2008). Os conceitos podem ser classificados em individuais e gerais com base na noção de objeto. Objetos individuais são unidades inconfundíveis (coisas, fenômenos, processos, acontecimentos, atributos etc.) pensadas como únicas e atreladas a noção de tempo e espaço. Os objetos gerais, por sua vez, prescindem o tempo e o espaço. Conceitos individuais podem ser exemplificados por exemplo, pela partida de futebol entre Flamengo e Fluminense no dia 15 de janeiro de 1976 e o descobrimento do Brasil em 1500. Objetos gerais análogos a estes seriam: as partidas de futebol e as descobertas marítimas (DAHLBERG, 1978).

No contexto da Engenharia de Produção voltada à melhoria dos processos, pode-se exemplificar a diferença entre objeto universal e objeto individual pelos termos "sistemas de produção", objeto universal que prescinde o tempo e o espaço, e Sistema Toyota de Produção (idealizado por Taiichi Ohno, no Japão, no período pós Segunda Guerra), objeto individual localizado no tempo e no espaço (OHNO, 1997).

Nas seções seguintes, serão apresentados conceitos (sintetizados por meio de termos) que, no âmbito da Engenharia de Produção voltada à melhoria dos processos, se constituem em categorias para a classificação e direcionamento da definição de diversos termos desta linguagem de especialidade. Inicialmente, o conceito de teoria será abordado.

3.2 Teoria

A ciência surge a partir do refinamento do senso comum, embora muitas vezes sejam contrárias a ele. A teoria de que a Terra gira em torno do sol faz parte do senso comum atual, mas quando surgiu parecia contrariá-lo. As teorias científicas estão ligadas e interagem com o senso comum de forma contínua para o desenvolvimento de novas teorias (CARVALHO, 2008), conforme ilustra a Figura 2.

Figura 2 – Relacionamento entre ciência e senso comum (CARVALHO, 2008).

As teorias são redes lançadas com o objetivo de capturar o mundo, buscando racionalizá-lo, explicá-lo e dominá-lo. A lógica do pensamento científico é aprimorar as teorias de forma que seus objetivos sejam atingidos. A linguagem comum é repleta de teorias assim como todas as observações são feitas à luz da teoria. A teoria científica é um enunciado universal, representado por sistemas de signos ou símbolos (POPPER, 2008).

Embora haja consenso que referências, dados, variáveis, diagramas e hipóteses não são teoria, estudiosos costumam apresentá-los erradamente como teoria (SUTTON, STAW, 1995). Teoria é qualquer descrição ou explanação coerente de um fenômeno observado ou experimentado (GIOIA, PITRE, 1990), um conjunto coerente de conceitos, suposições, ideias e proposições inter-relacionadas, o qual serve para explicar alguma coisa e suas causas, para fazer previsões ou para inferir novos conhecimentos. Seu valor depende da capacidade de explicar e resolver problemas práticos, provendo uma base para planejar, decidir e agir (LACOMBE, 2009).

Uma lista de variáveis ou constructos, embora sejam partes importantes, não são teorias. A teoria deve explicar as razões pelas quais as variáveis e constructos estão presentes ou porque eles estão conectados. Ela versa sobre as conexões entre fenômenos, contando a história do por que dos atos, eventos, estruturas e pensamentos ocorrem, enfatizando a natureza das relações causais e indicando o que vem primeiro e o que vem depois. Uma teoria forte investiga o processo subjacente para entender a razão sistemática de ocorrência ou não ocorrência de um evento, possuindo um conjunto convincente e logicamente articulado de argumentos (SUTTON, STAW, 1995).

Em engenharia, as soluções, por vezes, precedem a teoria científica que explica a razão pela qual a solução funciona. No entanto, frequentemente, a obtenção de uma solução somente é alcançada partindo-se da teoria que a explica (BROCKMAN, 2013). A Teoria das Restrições (TOC), por exemplo, é uma abordagem teórica para explicar o comportamento dos sistemas, a qual tem por princípio a focalização (GOLDRATT, 2013). A seguir, aborda-se o conceito de princípio. 

3.3 Princípio

O princípio é o preceito ou ideia básica que fundamenta uma teoria ou uma forma de raciocinar (LACOMBE, 2009). É um pressuposto elementar, conceito, doutrina, máxima ou proposição considerada como fundamental ou elementar para um determinado corpo de conhecimento, conduta, procedimento ou modo de pensar ("Business Dictionary", 2014).

No ambiente empresarial, os princípios prescrevem as atitudes da organização, moldando o processo decisório e modo de agir da mesma (ANTUNES et al., 2013; KAPLAN, NORTON, 2008; VASCONCELLOS FILHO, PAGNONCELLI, 2001). Os princípios de uma organização sustentam as principais decisões e devem interagir e estar de acordo com questões éticas e morais da organização (OLIVEIRA, 2005).

O Sistema Toyota de Produção, por exemplo, tem por princípio geral a absoluta eliminação do desperdício. Este princípio é desdobrado no JIT, o qual diferencia o STP da produção em massa por ser orientado a produzir a quantidade necessária, no tempo certo e com a qualidade adequada; e na Autonomação, a qual consiste em dotar os equipamentos de certa "inteligência" para que estes consigam perceber que estão gerando produção defeituosa e parar a operação imediatamente (OHNO, 1997).

Outro princípio que pode ser destacado dentro do STP é a ideia básica que fundamenta o modo de pensar do engenheiro de produção. A Engenharia de Produção do Sistema Toyota é voltada à geração de lucro (Engenharia de Produção Mokeru). A menos que a Engenharia de Produção tenha como doutrina, fundamento ou pressuposto básico a geração de lucro e a redução de custos, ela não possui função dentro do STP (OHNO, 1997).

Como citado anteriormente, a focalização é o princípio básico da TOC. Seu papel é central no entendimento e na intervenção em qualquer sistema. Segundo Goldratt (2013), o foco deve estar sempre voltado às restrições que limitam o atingimento dos objetivos do sistema.

3.4 Sistema

Assim como as teorias acerca da abordagem adequada para a pesquisa sobre sistemas, a definição do termo é amplamente explorada na literatura. Seminalmente, Bertalanffy (1977) propôs que um sistema é um complexo de elementos que operam relações organizadas entre si. Trata-se de uma entidade considerada como um todo, a qual só tem significado em termos do todo e não em termos de suas partes (CHECKLAND, 1984). Por consequência, o sistema somente pode ser compreendido pelo todo e não por partes de seu padrão, mesmo que os efeitos da inter-relação entre estas partes possam levar muito tempo para se manifestar (SENGE, 2009).

Observando-se as entradas e saídas ao longo do tempo, é possível ampliar o entendimento acerca das interações dinâmicas dos sistemas. Para aqueles em que as saídas não exercem influência sobre as entradas, pode-se afirmar que o funcionamento do passado não influenciará seu comportamento futuro. Por outro lado, sistemas em que as saídas influenciam as entradas são denominados com feedback, os quaispodem influenciar o comportamento futuro tanto positiva quanto negativamente (FORRESTER, 1968).

Adicionalmente, os sistemas podem ser analisados em função da interação com o ambiente que o circunda. Sob este aspecto, o sistema pode ser caracterizado como aberto ou fechado. O sistema aberto é aquele que interage com o ambiente, sendo afetado e atuando sobre o mesmo. O sistema fechado, por sua vez, é isolado e não interage com o ambiente externo (LACOMBE, 2009). 

Antunes (1998) salienta que a utilização da lógica dos sistemas para abordar um sistema de produção demanda uma definição clara das fronteiras do sistema estudado. A partir desta definição, torna-se possível detalhar os diversos subsistemas (componentes que compõem os sistemas) e os supersistemas (sistemas mais amplos nos quais o sistema em análise se insere).

Uma empresa de manufatura, quando abordada como um sistema aberto, é composta diversos subsistemas e possui importante relação com o ambiente externo (supersistema). Dentre os subsistemas da empresa de manufatura destacam-se: o sistema de produção, o sistema de finanças, o sistema de marketing e vendas, o sistema de recursos humanos, o sistema de desenvolvimento de produtos e processos e o sistema contábil (ANTUNES, 1998).

Os sistemas de produção são compostos por subsistemas dentre os quais se destaca o subsistema de manufatura. Black (1998, p.48) define o sistema de manufatura como "... um arranjo complexo de elementos físicos, caracterizados por parâmetros mensuráveis" [6]. O autor destaca que é no sistema de manufatura que materiais são processados e ganham valor, tornando-se bens de consumo ou elementos (matéria-prima) para entrada em outro sistema de produção. O sistema de manufatura, elemento central da empresa de manufatura, está dentro do sistema de produção e é servido por ele, conforme ilustra a Figura 3.

Figura 3 – Sistema de produção e o subsistema de manufatura (BLACK, 1998).

O Sistema Toyota de Produção é um exemplo de sistema de produção. Idealizado por Taiichi Ohno, o STP tem como princípios o Just-in-time (JIT) e a Autonomação (Jidoka) (OHNO, 1997). Shingeo Shingo acrescentou outros conceitos importantes como as noções do Mecanismo da Função Produção, das perdas e do não-custo (SHINGO, 1996). O STP foi precursor do lean manufacturing (KRAFCIK, 1988) e alterou o paradigma de produção de melhorias voltadas às operações para melhorias voltadas aos processos. Este novo paradigma permite, contemporaneamente, agregar elementos da Teoria das Restrições (ANTUNES et al., 2008) e outros elementos da gestão empresarial [7].

3.5 Medida

Os parâmetros mensuráveis do sistema merecem uma seção destacada neste estudo, pois podem ser considerados uma categoria em si. Diversos termos do campo temático da Engenharia de Produção são parâmetros do sistema. Neste estudo, o termo "medida" é adotado em substituição ao termo "parâmetros mensuráveis" sugeridos por Black (1998), pois "medida" é um conceito de ampla extensão e está em consonância com as "medidas de desempenho" descritas por Slack, Chambers e Johnston (2009).

Slack, Chambers e Johnston (2009) consideram as medidas de desempenho como características fundamentais para determinar urgências, direção e prioridades de melhoria dos sistemas. Segundo os autores, o desempenho da produção deve ser medido em cinco perspectivas: qualidade, velocidade, confiabilidade, flexibilidade e custo. No Quadro 1, são apresentados exemplos de medidas de cada uma das perspectivas.

Perspectiva

Medidas

Qualidade

Número de defeitos por unidade, nível de reclamação do consumidor, nível de refugo, solicitações de garantia, grau de satisfação do consumidor

Velocidade

Tempo do consumidor em fila, lead time do pedido, frequência de entregas, tempo de ciclo

Confiabilidade

Porcentagem de pedidos entregues com atraso, atraso médio dos pedidos, desvio médio da promessa de entrega, aderência à programação

Flexibilidade

Tempo de setup, Tamanho médio do lote, tempo para aumentar a taxa de produção, tempo para mudar programações

Custo

Produtividade de mão-de-obra, utilização de recursos, Eficiência, custo por hora de operação

Quadro 1 – Medidas em sistemas de produção (SLACK, CHAMBERS e JOHNSTON, 2009).

Para Hopp e Spearman (2013), os parâmetros (medidas) são descritores numéricos de processos de produção que variam entre diferentes sistemas produtivos. Os autores estabelecem, inclusive, leis que relacionam as medidas de uma fábrica: Lei da Variabilidade, Lei das Reservas de Variabilidade, Lei da Conservação dos Materiais, Lei da Capacidade, Lei da Utilização, Lei dos Lotes de Processamento, Lei do lead time e Lei de Little (a qual relaciona o lead time com trabalho em processo e tempo de ciclo) [8]. As leis são ligações diretas entre as medidas dos sistemas e as teorias que o explicam.

As medidas são fundamentais para o planejamento e o controle de um sistema produtivo, quando utilizadas como indicadores que direcionam os esforços organizacionais. Os indicadores têm por objetivo motivar as partes (elementos) a realizar o que é bom para a organização com um todo (sistema) (LACERDA e RODRIGUES, 2006). Na seção seguinte, será explorado o conceito de modelo, importante elemento para a representação dos sistemas.

3.6 Modelo

Em geral, modelos são usados para descrever como o sistema trabalha ou se comporta. Modelos matemáticos para fins de controle geralmente requerem uma "teoria" ou equações que descrevem os limites e comportamentos do sistema através de seus parâmetros de entrada. Em resumo, se nenhuma teoria existe, o modelo não é viável e o sistema não é controlável (BLACK, 1998, p.48). O modelo é uma representação aproximada de um sistema real (BROCKMAN, 2013). Um modelo possibilita ao pesquisador a manipulação dos construtos e suas relações em um conjunto de declarações que expressam estas relações entre os construtos (NUNES, 2015).

É uma representação formalizada, e em geral simplificada, da realidade que se pretende estudar, por meio de um sistema de equações, de gráficos, de algoritmos ou de um circuito elétrico, mostrando como as variáveis interagem (LACOMBE, 2009). Um modelo matemático amplamente conhecido por representar uma teoria é a equação proposta por Albert Einstein: E=m.c2, na qual "E" representa "Energia", "m" representa "massa" e "c" representa a "velocidade da luz" (MIGUEL, 2012).

A aplicação de modelos é amplamente explorada na literatura. A modelagem pode ser aplicada, entre outros usos, aos sistemas de manufatura para prever seu desempenho em custos (AGYAPONG-KODUA; WAHID; WESTON, 2011), para avaliar o fluxo de valor e custo de forma dinâmica na produção multi-produto (AGYAPONG-KODUA et al., 2012) e para auxiliar no entendimento e nortear decisões acerca da adoção de plataformas de processo para sistemas que objetivam produção de alta variedade de itens (ZHANG, 2009).

Os engenheiros se valem das teorias científicas para criar modelos nos projetos que realizam (BROCKMAN, 2013).  Por meio de um modelo pode-se encontrar a solução para um problema, estabelecer relações e realizar simulações, verificando a influência das variáveis nele consideradas nas demais variáveis e no resultado do modelo. A simulação proporciona um entendimento melhor da realidade (MIGUEL, 2012).

Para Pidd (2003), um modelo é uma representação externa e explícita da realidade, a qual pode ser utilizada para entender, mudar, gerenciar e controlar tal parte da realidade. A relação dos modelos com a realidade e o seu papel na tomada de decisões pode ser apresentada conforme a Figura 4.

Figura 4 – Modelos como representação de situações de interesse (SELLITTO, 2005).

Os modelos são construídos com base em uma situação do mundo real, por meio de análise e abstração, e fazem parte do mundo simbólico. Quando testados, os modelos geram resultados e, com base na interpretação destes, é possível tomar decisões no mundo real, referente à situação modelada (SELLITTO, 2005). Como o modelo considera apenas as variáveis mais importantes, seus resultados podem divergir da realidade modelada (LACOMBE, 2009). A seguir, será revisado o conceito de método, bem como seu papel destacado no desenvolvimento científico e na gestão das organizações.

3.7 Método

O papel de destaque do método para o desenvolvimento do conhecimento científico teve origem no Discurso do Método, obra de 1637, de René Descartes (1596-1650)  (DESCARTES, 1996). O método científico é fundamental para que o desenvolvimento da ciência ocorra, embora não seja exclusividade sua. O termo pode ser definido como o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que permite alcançar um objetivo, definindo o caminho a ser seguido (MARCONI; LAKATOS, 2003). O método também pode ser entendido como o procedimento ou processo, realizado segundo uma sequência lógica, para se alcançar fins determinados (LACOMBE, 2009).

Aplicado ao gerenciamento, o método tem sua origem no trabalho de Walter Shewhart (1891-1967), que relacionou as etapas de especificação, produção e inspeção, do processo de produção em massa, em um ciclo com as etapas do método científico: formulação de hipótese, construção de um experimento e teste de hipótese (SHEWHART, 1938). Willian E. Deming (1900-1993) evoluiu o Ciclo de Shewhart, enfatizando a necessidade de se atentar para o atendimento das necessidades dos clientes. O Ciclo de Deming surge como um método em quatro etapas: projetar o produto, fazer o produto e testá-lo, vender o produto e testar o produto em serviço, utilizando o feedback dos clientes para aprimoramentos (DEMING, 1953).

A evolução do método gerencial foi denominada no Japão como PDCA, mantendo quatro etapas (Plan-Do-Check-Act), mas ampliando sua aplicação à melhoria e padronização dos processos. A busca por resultados é a essência do gerenciamento e o método é o caminho a ser seguido para se atingir um resultado. Logo, é fundamental que o método seja entendido pelos integrantes de uma organização, pois ele proporciona uma maneira racional e organizada para a participação de todos os atores envolvidos em busca de um objetivo comum (FALCONI, 2009).

Os cinco passos de focalização da TOC constituem um método, pois apresentam passos lógicos sequenciais para o atingimento do objetivo do sistema. O método de focalização se estabelece nas seguintes etapas (KENDALL, 2013, p.538): i) Identificar a restrição do sistema; ii) Decidir como explorar a restrição do sistema; iii) Subordinar todo o resto à decisão anterior; iv) Elevar a restrição; v) Retornar ao primeiro passo.

O método de focalização tem como característica o retorno ao primeiro passo, indicando a ideia de um ciclo que roda continuamente, para não permitir que a inércia tome conta do sistema (KENDALL, 2013). O método é o elemento central que une princípios, conceitos, técnicas e ferramentas no ambiente da gestão (ANTUNES et al., 2013).

3.8 Técnica e ferramenta

A tecnologia é o conjunto de processos intelectuais (técnicas) e instrumentos (ferramentas) utilizados para solucionar um problema ou produzir algo. Embora esteja, muitas vezes, associada a processos produtivos, a tecnologia é algo mais amplo e está presente em situações cotidianas, como pendurar um quadro na parede. Mesmo uma ação tão simples envolve uma combinação de ferramentas (prego e martelo) e técnica (habilidades pessoais de quem executa o trabalho) (CASTOR, ZUGMAN, 2009).

Uma técnica pode ser definida como um conjunto de procedimentos organizados, baseados num conhecimento científico correspondente; ou como um conjunto de métodos de manipulação de artefatos ou comportamentos para a produção de um resultado útil (APPOLINÁRIO, 2011). O conceito de ferramenta vai além do objeto físico, podendo ser caracterizado como um recurso que melhora a capacidade de realizar uma determinada tarefa, como, por exemplo, um software ("Business Dictionary", 2014).

O Total Quality Management (TQM) interage intimamente com a Engenharia de Produção e pode ser utilizado como referência para exemplificar diferentes técnicas e ferramentas. O TQM é composto, além dos princípios que o baseiam, de ferramentas que por vezes possuem suporte estatístico e tem como função auxiliar na análise de dados e apoiar a tomada de decisão; e de técnicas, as quais são o modo de trabalhar dentro da organização (HELLSTEN, KLEFSJO, 2000). 

Há uma série de técnicas e ferramentas do TQM que podem ser utilizadas para melhorar qualidade dos sistemas.  Algumas delas são puramente qualitativas, outras possuem suporte estatístico e foco quantitativo. São exemplos de técnicas e ferramentas: brainstorming, fluxograma, folha de verificação, estratificação, gráfico de Pareto, diagrama de causa-efeito (Ishikawa), gráfico de séries temporais, histograma, gráfico de dispersão, carta de controle e análise de capabilidade (MCCORMICK, 2002).

No contexto específico da TOC, podem ser citadas outras técnicas e ferramentas, tais como: Árvore da Realidade Atual (ARA), Evaporação das Nuvens (EN), Árvore da realidade Futura (ARF), Árvore de Pré-requisitos (APR) e a Árvore de Transição (AT) (MABIN; DAVIES, 2013).

4. Síntese dos conceitos estudados

Nas seções anteriores foram consideradas diversas contribuições da literatura para a construção de um referencial teórico que permitisse a proposição de enunciados abrangentes para os conceitos de: teoria, princípio, sistema, medida, modelo, método, técnica e ferramenta. Tendo em vista o referencial teórico construído, é possível resumir a definição destes conceitos conforme o Quadro 2.

Quadro 2 – Resumo dos conceitos estudados. Fonte: Elaborado pelos autores.

O passo seguinte ao resumo das definições é avançar na representação dos conceitos, de modo a evidenciar a lógica sistêmica que os une. De acordo com a ISO 704:2009, os conceitos não existem como unidades isoladas do conhecimento. Eles estão sempre relacionados, formando sistemas de conceitos.  Para a organização de um sistema de conceitos é importante levar e consideração o campo temático em que ele está inserido e considerar as expectativas e objetivos dos usuários alvo deste sistema (ISO, 2009).

A modelagem do sistema de conceitos de um campo temático pode ser do tipo hierárquico ou associativo e sua representação é realizada graficamente, por meio de diagramas. Relações associativas são não hierárquicas e se estabelecem quando uma conexão temática pode ser estabelecida entre conceitos, em virtude da experiência (ISO, 2009).

Na Figura 5, é apresentado o sistema dos conceitos estudados, por meio de uma relação associativa. Como a relação é do tipo não hierárquico, a leitura pode ser iniciada partindo-se de qualquer um dos conceitos e, seguindo o sentido de uma seta que parta deste conceito, adiciona-se a expressão que o une a outro conceito. Por exemplo, uma leitura possível partindo do termo Sistemas considera-se: "Sistemas podem ser representados por Modelos".

Figura 5 – Relação sistêmica entre os conceitos estudados. Fonte: Elaborado pelos autores.

Os sistemas podem ser descritos como todos complexos que operam relações organizadas entre si (BERTALANFFY, 1950) e que só podem ser entendidos em termos do seu todo (CHECKLAND, 1984; SENGE, 2009). A caracterização dos sistemas pode ser feita por meio de medidas que indiquem seu desempenho (BLACK, 1998; SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2009) e sua representação pode ser realizada por meio de modelos (BROCKMAN, 2013).

Os modelos são representações conceituais ou matemáticas (LACOMBE, 2009) que auxiliam o entendimento para intervenção em sistemas (PIDD, 2003), mesmo que as simulações feitas a partir de modelos sejam simplificações e possam divergir do resultados de um sistema real (LACOMBE, 2009). Do mesmo modo, em relação às teorias, os modelos representam e auxiliam o entendimento para que teorias sejam geradas ou revisadas (MIGUEL, 2012).

As teorias são fundamentadas por princípios, constituindo-se em um conjunto coerente de conceitos e ideias (LACOMBE, 2009) que explicam o funcionamento dos sistemas (POPPER, 2008), geram e explicam novos conhecimentos (técnicas e ferramentas) (LACOMBE, 2009) e baseiam os métodos.

Os métodos são constituídos por passos lógicos e sequenciais que delineiam o caminho para alcançar um objetivo ou resultado desejado (FALCONI, 2009). Cada etapa de um método possui técnicas e ferramentas acopladas, as quais são utilizadas para intervir nos sistemas e gerar um resultado útil (APPOLINÁRIO, 2011).

A intervenção em sistemas é o foco do trabalho do engenheiro de produção (BATALHA, 2011) e deve ser realizado respeitando os princípios que norteiam cada sistema (ANTUNES et al., 2013; KAPLAN, NORTON, 2008; VASCONCELLOS FILHO, PAGNONCELLI, 2001). Os conceitos estudados até este ponto do texto possuem ampla extensão e, devido a isso, servem de categorias para a classificação de termos da Engenharia de Produção voltada à melhoria dos processos (DAHLBERG, 1978). A seguir, são apresentadas classificações de termos que exemplificam os avanços obtidos neste estudo.

5. Classificação de termos da engenharia de produção voltada à melhoria dos processos

A classificação de termos utilizados no contexto do STP e da TOC, de acordo com as categorias exploradas nas seções anteriores, pode ser realizada por meio de relações hierárquicas genéricas. Segundo a ISO 704:2009, relações deste tipo são organizadas em níveis hierárquicos de conceitos superordenados e subordinados. Quando conceitos subordinados estão em um mesmo nível do sistema de conceitos, resultado da aplicação de um mesmo critério de divisão, eles são chamados de conceitos coordenados. Conceitos são considerados superordenados, subordinados ou coordenados sempre em relação uns aos outros, em uma hierarquia (ISO, 2009).

O Quadro 3 apresenta alguns termos (ou expressões) classificados de acordo com categorias formadas a partir dos conceitos estudados. Neste exemplo, a relação hierárquica é considerada somente na relação das categorias (conceitos superordenados) e dos termos (conceitos subordinados). A relação entre as categorias não é considerada coordenada, pois estas mantêm uma relação associativa não hierárquica, conforme apresentado anteriormente na Figura 5.

Quadro 3 – Classificação de termos do STP e da TOC. Fonte: Elaborado pelos autores.

Os termos categorizados no Quadro 3 são designações verbais que representam conceitos utilizados frequentemente no campo da Engenharia de Produção voltada à melhoria dos processos. Com base na classificação apresentada, suas definições podem ser mais precisamente descritas, pois abre-se espaço para que estas absorvam o enunciado (ou parte do enunciado) de sua respectiva categoria.

Uma definição mais precisa para o Mecanismo da Função Produção (MFP), por exemplo, pode ser descrita como: um conjunto coerente de conceitos, suposições, ideias e proposições inter-relacionadas sugerido por Shingo (1996) para explicar a produção como uma rede de processos e operações. O MFP é uma rede lançada para capturar o mundo da fábrica e explicá-lo de modo coerente. Por meio dele, é possível examinar a produção e distinguir o fluxo de materiais no tempo e no espaço (processo) e o trabalho efetivado para que esta transformação ocorra (operações).

6. Considerações finais

O presente artigo contribui com a comunidade da Engenharia de Produção para o avanço da definição dos termos utilizados no contexto da Engenharia de Produção voltada à melhoria dos processos. Neste sentido, foi realizada uma revisão da literatura, a qual explorou os conceitos de: teoria, princípio, sistema, medida, modelo, método e técnica e ferramenta. Estes conceitos possuem extensão e, devido a isso, se constituem em categorias que auxiliam a classificação e, por consequência, direcionam para uma definição mais precisa dos termos deste campo temático.

Outro avanço do trabalho foi a identificação da lógica sistêmica que une cada uma destas categorias. Com base na literatura analisada e por meio de um sistema não hierárquico, foi possível ilustrar a relação existente entre cada conceito. Esta modelagem amplia a aprendizagem e fornece subsídios para o entendimento do todo em detrimento das partes. Assim como qualquer sistema, o sistema de conceitos só pode ser entendido em termos do seu conjunto. Com isso, entende-se que as intervenções nos sistemas em geral, foco do trabalho do engenheiro de produção, recebe um relevante suporte conceitual, o qual pode ser aplicado para o avanço da ciência e para a melhoria das organizações.

Embora não tenha sido o foco deste trabalho realizar um estudo terminológico completo, sua contribuição no âmbito da terminologia se constitui em um marco inicial importante para discussões sobre a linguagem de especialidade da Engenharia de Produção. As noções de termo, conceito, definição, objeto e categoria são fundamentais tanto para o avanço do conhecimento científico, quanto para a comunicação adequada entre acadêmicos e praticantes.

A classificação de termos que pertencem às categorias estudadas exemplificou o modo como os conceitos superordenados (categorias) são úteis para que definições mais precisas sejam apresentadas a cada conceito subordinado (representado pelo termo). Este avanço esclarece a lógica utilizada no presente estudo e pode abrir caminho para novas discussões e novas abordagens acerca das definições de cada termo.

Evidentemente, vários aspectos não foram abordados neste estudo e merecem atenção em futuras pesquisas. Primeiramente, não foram analisadas todas as categorias existentes na linguagem da Engenharia de Produção. Entende-se que este artigo abordou as mais importantes para a formação do sistema de conceitos deste campo temático, mas novas categorias poderiam aprimorá-lo e, por consequência, garantir maior abrangência para a definição precisa de um número maior de termos. Além disso, as definições apresentadas para cada conceito podem ser ampliadas e aprimoradas.

Em segundo lugar, novos estudos podem dedicar atenção para a classificação de um maior número de termos nas categorias apresentadas. Esta constatação abre caminho para que novos trabalhos gerem um artefato que, ao considerar os conceitos superordenados, permitisse a classificação dos conceitos subordinados. Neste sentido, deve-se buscar um artefato tão robusto quanto possível, de modo que a inclusão de novas categorias não resulte na necessidade de reprojetá-lo.

Por fim, com base na noção de conceitos superordenados (categorias), novos esforços podem ser realizados no sentido de descrever definições mais precisas para um amplo espectro de termos utilizados na Engenharia de Produção voltada à melhoria dos processos. Pesquisas direcionadas a cumprir este objetivo podem resultar em uma importante referência para a comunidade da Engenharia de Produção.

A realização deste estudo pode ser considerada uma colaboração no âmbito da terminologia dedicada à Engenharia de Produção. No entanto, a lógica e os conceitos abordados não são específicos deste campo temático. Entende-se que, em pesquisas futuras, esta revisão da literatura poderá servir como ponto de partida para avanços ainda mais significativos nos estudos da terminologia de diferentes áreas do conhecimento dedicadas à gestão organizacional.

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1. PPGEPS - Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Email: fabricioeidelwein@gmail.com
2. PPGEPS - Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Email: junico@produttare.com.br
3. Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas – Universidade FEEVALE. Email: fabiosartoripiran@gmail.com

4. Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas – Universidade FEEVALE Email: fabianonunes@feevale.br

5. A notação "Engenharia de Produção voltada à melhoria dos processos" é uma derivação do conceito "administração da produção voltada à melhoria dos processos", proposto por Antunes (1998). No contexto deste artigo, os conceitos são considerados idênticos.

6. Para Black (1998), os elementos físicos são: máquinas-ferramenta para processamento, ferramentas e maquinário, equipamentos de movimentação de materiais e pessoas (clientes internos). Os parâmetros mensuráveis do sistema são: tempo de atravessamento (lead-time), taxa de produção, estoque em processo, % de defeitos, % de entregas dentro do prazo, volumes de produção diários/semanais/mensais e o custo total ou unitário.

7. Tais como: Reengenharia, Seis Sigma, Princípio do Custeio Direto, entre outros, (ANTUNES, 1998).

8. Para uma explicação detalhada das leis da fábrica, consultar Hopp e Spearman (2013).


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 26) Año 2016

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