Espacios. Vol. 37 (Nº 24) Año 2016. Pág. 18
Maria Alcirlândia da Silva BEZERRA 1; Francisco Diétima da Silva BEZERRA 2
Recibido: 11/04/16 • Aprobado: 04/05/2016
RESUMO: A utilização de alternativas que venham proporcionar condições ao desenvolvimento produtivo de pequenos e médios produtores, em culturas de ciclo curto, tem sido relevante. Dessa forma, o presente trabalho objetivou avaliar a utilização de diferentes doses de manipueira na cultura da rúcula. O experimento foi conduzido em canteiros de alvenaria e, o delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso com 5 repetições e 5 tratamentos, sendo os tratamentos a aplicação semanal de: 0, 300, 600, e 900 e 1200 ml de manipueira por m2 de canteiro. O resultado mostra que o tratamento com 600 ml apresentou melhor desempenho. |
ABSTRACT: The use of alternatives that will provide conditions for productive development of small and medium producers in the short cycle crops, has been relevant. Thus, this study aimed to evaluate the use of different doses of cassava culture Arugula. The experiment was conducted in masonry construction sites and the experimental design was a randomized block design with 5 replications and 5 treatments, and treatments weekly application: 0, 300, 600, and 900 and 1200 ml of cassava per m2. The result shows that treatment with 600 ml showed better performance. |
A rúcula (Eruca sativa), introduzida no Brasil por imigrantes italianos, é uma hortaliça folhosa pertencente à família Brassicaceae, com centro de origem na região do Mediterrâneo e Ásia Ocidental, apresentando dentre suas características folhas alongadas medindo de 10 a 15 centímetros de altura (SILVA, 2010). Dentre as suas espécies três são utilizadas no consumo humano: Eruca sativa Miller, Diplotaxis tenuifolia (L.) DC. e Diplotaxis muralis (L.) DC., ambas perenes. A espécie mais cultivada no Brasil é a Eruca sativa, representada principalmente pelas cultivares 'Cultivada' e 'Folha Larga', seguida pela espécie Diplotaxis tenuifolia, também chamada de rúcula selvática (STEINER et al., 2011).
No Brasil estima-se que a área cultivada com rúcula (Eruca sativa) seja de 6.000 ha ano-1, sendo mais consumida nas regiões Sul e Sudeste (SALA et al., 2004). Entretanto, o seu consumo é crescente em outras regiões do país, por causa do seu sabor marcante em saladas junto a folhas mais suaves, na cobertura de pizzas, em molhos para massas e até mesmo em sopas, além da facilidade de seu cultivo e aceitação popular (HENZ & MATTOS, 2008).
A rúcula se desenvolve o ano todo, adaptando-se melhor a temperaturas amenas, apresentando sua fase reprodutiva antecipada quando submetidas a temperaturas altas (MAIA et al., 2006). A colheita pode ser realizada aos 30 dias após a semeadura, apresentando crescimento vagaroso nas primeiras semanas e aumento na taxa de crescimento entre 25 e 30 dias (GRANGEIRO et al., 2011). É indicada como fitoterápico e utilizada no tratamento de gengivites e vem ganhando espaço no cenário mundial, em função de suas propriedades nutricionais e fitoterapêuticas, além da sua composição química rica em vitaminas, sais minerais e fibras, presença de cálcio, compostos sulfurados, enxofre, ferro, fósforo e potássio (CAMPOS, 2013).
Os benefícios medicinais proporcionados pela rúcula, auxilia no tratamento de doenças pulmonares, falta de apetite, gases intestinais, anemias, além de participar diretamente no processo de desintoxicação do organismo devido a presença de ômega 3, ácido graxo que tem a capacidade de desobstruir as artérias, o que proporciona uma melhor circulação sanguínea (FILGUEIRA, 2000).
Entretanto, no município acreano de Cruzeiro do Sul a produção de hortaliças, dentre elas a rúcula (Eruca sativa), se apresenta em pequena escala, sendo insuficiente para o abastecimento local, sendo o elevado preço dos insumos, aliado a problemas de transporte e logística característicos da região, os principais fatores que dificultam tal desenvolvimento (CORDEIRO, 2010).
Outro problema apresentado, refere-se a reserva de potássio, em geral, nos solos brasileiros que é restrita, não sendo capaz de suprir, em quantidades necessárias a cultura, ocasionando a necessidade de restituição por meio de adubações potássicas (ALVES, 2010), uma vez que a deficiência de potássio interfere na atividade fotossintética das plantas através da ativação enzimática (SANTOS, et. al., 2010)
Neste enfoque, a utilização de manipueira apresenta-se como uma alternativa potencial como fertilizante, por apresentar alto teor de potássio, nitrogênio, magnésio, fósforo, cálcio, enxofre e outros micronutrientes (CARDOSO, 2005).
A manipueira é um liquido de aspecto leitoso, cor amarelo-claro produto do processo de prensagem da massa oriunda das raízes da mandioca (Manihot esculenta Crantz), cultura esta pertencente à família das euforbiáceas, perene, arbustiva, e que apresenta importância significativa no Brasil para a alimentação humana, animal, bem como para adubação do solo e controle de pragas, sendo explorada em grande parte por pequenos produtores familiares (FOLONI et al., 2010). No município de Cruzeiro do Sul, a produção da farinha oriunda da mandioca é a principal atividade produtiva, o que ocasiona uma grande produção de manipueira. Cabe ressaltar que a cada tonelada de raiz processada são produzidos de 300 a 600 litros de manipueira (SILVA, 2010).
Por outro lado, a manipueira quando lançada diretamente em cursos d'água, pode representar grave problema para o meio ambiente (SANTOS et al., 2010); além de possuir forte odor, que pode ocasionar sensações desagradáveis (ARAUJO et al., 2012). Desta forma, com grande quantidade de matéria orgânica, a manipueira quando descartada sem cuidados prévios, pode constituir-se num produto poluente (OLIVEIRA, 2007) cuja utilização alternativa como fertilizante pode suprimir, em parte ou totalmente, a importação de insumos agrícolas. A utilização deste produto, visando o aumento da produtividade pode contribuir para uma melhor distribuição destes resíduos, evitando assim possíveis danos ambientais, além de ocasionar mudanças no sistema agrícola convencional que favorece o uso de insumos sintéticos, geralmente de elevado custo.
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo, avaliar a influência da utilização de diferentes doses de manipueira, na produtividade da cultura da rúcula.
O experimento foi desenvolvido em uma propriedade no ramal Praia Grande, no município de Cruzeiro do Sul, localizado a Oeste do Estado do Acre. O clima da região é do tipo Equatorial, quente e úmido, com temperaturas médias anuais variando entre 24,5ºC e 32ºC (máxima), caracterizado por altas temperaturas e elevados índices pluviométricos. (Acre, 2011).
A cultura utilizada no experimento foi a rúcula variedade Cultivada, e o delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso com 5 tratamentos e 5 repetições, com espaçamento de 0,5m entre parcelas, sendo os tratamentos: T1 = 0, T2 = 300, T3 = 600, T4 = 900 e T5 = 1200 ml de manipueira por m-2, com intervalos de aplicação de uma semana. Foi realizada uma aplicação semanal das misturas nas dosagens equivalentes a cada tratamento adotado ao longo do período de experimentação. A primeira aplicação foi feita aos 15 dias após a semeadura, a segunda aplicação aos 22 dias, à terceira aos 29 dias e a última aos 36 dias. Somando-se no total quatro aplicações.
A manipueira utilizada foi proveniente de uma casa de farinha localizada na mesma comunidade onde, a cada semana, fazia-se o transporte da quantidade necessária para a aplicação. A quantidade referente a cada tratamento era medida em um becker de 1000 ml e em seguida diluída em 12 litros d'agua, quantidade utilizada para irrigar cada parcela.
O canteiro para plantio foi preparado com 80% de terra e 20% de cama de frango. Cada parcela foi composta por área total de 1 m², com dezesseis plantas por parcela no espaçamento de 0,25 x 0,25m, sendo uma planta por cova. A semeadura foi realizada no dia 10 de novembro. Em cada cova foram semeadas cinco sementes, e aos 15 dias após, realizou-se o desbaste deixando-se em cada cova a planta mais vigorosa.
A irrigação durante o período de experimentação foi realizada duas vezes ao dia, sendo uma no início da manhã e outra no final da tarde, colocando-se aproximadamente 12 litros por parcela. E, durante a condução do experimento, foram realizadas duas capinas manual.
Foram analisadas as variáveis altura da planta, número de folhas por plantas, massa fresca, massa seca e tamanho da raiz da planta. Para determinação do número de folhas, foram consideradas apenas as folhas completamente verdes. A altura da planta e o tamanho da raiz foram determinados com régua graduada em cm. E para a variável massa fresca e massa seca foi utilizada balança de precisão.
A colheita foi realizada aos 37 dias, após o semeio no dia 16 de dezembro de 2013, momento em que se notou o maior desenvolvimento vegetativo da cultura, arrancando-se as plantas. Dentre as 16 plantas coletadas, foram escolhidas 6 plantas para representar a parcela.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, segundo Ferreira (2000), sendo as médias comparadas pelo teste Tukey, p _0,05%.
Dentre as variáveis analisadas, número de folha por planta (FP), altura da planta (AP), massa fresca (MF), massa seca (MS) e tamanho da raiz (TR), aos 37 dias a única cujos valores não foram positivos, em relação à testemunha, foi o tamanho da raiz.
Para a variável número de folhas/planta, os tratamentos T1 (correspondente a testemunha) e T3 (correspondente a 600 ml. m- 2) diferiram entre si ao nível de 5% de acordo com o teste Tukey (tabela 01).
Tabela 1. Valores médios do número de folhas, altura da planta, massa fresca, massa seca e tamanho da raiz [3]
Dose de manipueira ( ml ) |
Nºde folhas/planta* (x de 5 rep.) |
Massa fresca (g)* (x de 5 rep.)
|
Massa seca (g)* (x de 5 rep.) |
Altura da planta (cm)* (x 5 de rep.) |
Tamanho da raiz (cm)* (x de 5 rep.) |
T1 - testemunha |
9.65 b |
25.90 b |
19.41 b |
23.17 b |
12.01 b |
T2 - 300 ml |
11.30 b |
34.14 b |
21.32 b |
25.81 b |
10.41 b |
T3 - 600 ml |
18.48 a |
66.11 a |
45.90 a |
25.96 b |
11.13 b |
T4 - 900 ml |
12.17 b |
39.27 b |
25.38 a |
26.69 b |
11.34 b |
T5 – 1200 ml |
9.26 b |
33.15 b |
21.42 b |
24.16 b |
11.46 b |
Obs.: * Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Os demais tratamentos, não diferiram entre si, porém, apesar dos resultados se mostrarem positivos à aplicação da manipueira, nota-se que houve um decréscimo nos números de folhas para dose maior que 600 ml.m-2, como é o caso do T5 (correspondente a 1200 ml.m-2), obtendo o menor valor de número de folha entre os tratamentos com manipueira. Isso pode ser indicativo de redução da atividade fotossintética em função da indisponibilidade iônica ocasionada pelo excesso de potássio no solo (MELO et al., 2006). Entretanto, o tratamento 3, obteve a melhor média com quase 19 folhas por planta.
Para a variável altura da planta, aos 37 dias após a semeadura, a cultura apresentou um crescimento positivo em função do aumento das dosagens quando comparado com a testemunha. Entretanto, houve um decréscimo na altura da planta no tratamento 5 (1200 ml.m -2) de manipueira, o que pode ter sido ocasionado por estresse, fatores climáticos ou, até mesmo, devido a toxidade da manipueira.
Para o tamanho da raiz, observa-se que os tratamentos não diferiram entre si, porém, quando comparados à testemunha todos os demais tiveram resultados negativos. Este fato pode ter ocorrido devido a algum efeito deletério de nutrientes, presentes na manipueira, como é o caso do potássio que, quando fornecido em quantidades inadequadas, compromete a absorção de outros elementos, como magnésio, manganês, zinco, ferro e cálcio implicando na atividade fotossintética e, portanto, na produção (HOFFMANN et al., 2005).
Para a variável massa fresca e massa seca os resultados encontrados nos tratamentos T1 e T3 diferiram entre si ao nível de 5% de acordo com o teste Tukey. Já os demais tratamentos, não diferiram entre si, porém, verifica-se que houve acréscimo no peso fresco, com o aumento das doses de manipueira, como é o caso do tratamento 3, obtendo o maior valor de massa fresca com quase 67 g com quase 40 g de massa seca. Entretanto houve um decréscimo no peso fresco no T5 correspondente a dosagem de 1200 ml.m2.
Dessa forma, constatou-se que nas condições de desenvolvimento deste trabalho, o uso da manipueira apesar de ter demonstrado pouca diferença entre médias pelo teste de Tukey, quando comparados à testemunha, e ter apresentado pouca influência na produção da rúcula, o T3 (600 ml. m- 2) proporcionou maior massa fresca, massa seca e número de folhas. Não obstante, são necessários estudos complementares para melhor estimar o potencial de utilização da manipueira como fonte de nutrientes para hortaliças.
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1. Engenheira Agrônoma.
2. Mestre em Desenvolvimento Regional. E-mail: dietimabezerra@yahoo.com.br
3. Valores obtidos para a cultura da rúcula aos 38 dias após a semeadura.