Espacios. Vol. 37 (Nº 23) Año 2016. Pág. 14

Custo de produção na terminação de novilhas em sistema de pastejo rotacionado e suplementação, Estado de São Paulo, Brasil

Production cost in heifers grazing in termination system rotated and supplement, State of São Paulo, Brazil

Pedro H. da Silva PULICI 1; Suelen Moreira OLIVEIRA 2; Bianca Moraes FEITOSA 3; Ércio R. PROENÇA 4; Silvia Maria A. Lima COSTA 5

Recibido: 06/04/16 • Aprobado: 08/05/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Aspectos gerais da pecuária bovina brasileira

3. Metodologia

4. Resultado e discussões

5. Conclusões

Referências


RESUMO:

O Brasil abriga o maior rebanho comercial bovino do mundo e é grande exportador para os nos mercados globais de proteínas animais. Entretanto, ainda necessita incorporar tecnologia e intensificar os sistemas de produção para auferir ganhos de produtividades e melhorias do empenho financeiro. O trabalho aborda o estudo de caso de uma propriedade (Estado de São Paulo, Brasil) especializada na engorda de novilhas para abate; calculou-se os custos de produção do sistema e os indicadores de lucratividade. A atividade apresentou-se satisfatória, o índice de lucratividade obtido permite concluir que o sistema constitui alternativa possível como parte das estratégias produtivas aos pecuaristas.
Palavras chave: Pastejo rotacionado, Novilhas de corte, Custos de produção.

ABSTRACT:

Brazil is home to the largest commercial cattle herd in the world and is a major exporter for the global animal protein markets. However still need to incorporate technology and intensify production systems to reap productivity gains and improvements of financial commitment. The work deals with the case study of a property (State of São Paulo, Brazil) specializes in fattening heifers for slaughter; calculated that the system production costs and profitability indicators. The activity showed to be satisfactory, the obtained profitability index shows that the system is possible as part of alternative production strategies for farmers.
Key words: rotational grazing, cutting Heifers, production costs.

1. Introdução

A bovinocultura nacional possui historicamente relevância socioeconômica para o Brasil. Além de movimentar a indústria e a distribuição de uma gama variada de insumos nos sistemas produtivos, a cadeia produtiva da carne bovina, incluindo produção, abate, transformação, transporte e comercialização de produtos e subprodutos fornecidos pela exploração do rebanho, movimenta um grande número de agentes e de estruturas, da fazenda à indústria e ao comércio, gerando renda e criando empregos em seus diversos segmentos

O mercado interno da indústria de carne bovina constitui o principal destino absorvendo cerca de 80% da produção nacional. No mercado mundial, participação efetiva do Brasil na comercialização de carne acontece desde 2005, recentemente o Brasil tem ocupado posição de maior exportador de carne bovina do mundo (ABEIC, 2015),

Apesar da competitividade brasileira revelada na participação no mercado mundial de carnes e alicerçada na tradição e disponibilidade de terras, a pecuária bovina brasileira é normalmente referenciada por apresentar indicadores muito modestos de desempenho.

A pecuária brasileira está fundamentada na exploração de cerca de 183 milhões de hectares de pastagens em sua maioria explorados de forma extensiva.  Segundo (ABIEC 2015) no Brasil 80 milhões de hectares produzem abaixo de três arrobas por hectare/ano, enquanto a média nacional é de 4 @/ha/ano, um retorno financeiro de R$100, 00 por hectare/ano.

O presente trabalho teve por objetivo analisar o custo de produção e rentabilidade de um sistema de produção de novilhas de corte da raça nelore em sistema semi-intensivo de produção caracterizado por pastejo rotacionado com suplementação alimentar no cocho.

2. Aspectos gerais da pecuária bovina brasileira

De acordo com o (MAPA 2015) no conjunto do agronegócio brasileiro, a bovinocultura constitui um dos principais destaques no cenário mundial, possuindo o segundo maior rebanho efetivo (e maior comercial) do mundo, com cerca de 200 milhões de cabeças. A partir de 2004 o Brasil assumiu a liderança nas exportações, negociando um quinto da carne comercializada internacionalmente e transacionando com mais de 180 países, ou seja, o Brasil é um país pecuário.

De acordo com a Figura 1, o Brasil produz cerca de 10,07 milhões de toneladas de carne bovina por ano através do abate de 42,07 milhões de cabeças de gado, dentre as quais 27,77% são exportadas e 79,22% atendem o mercado interno. Além de principal exportador, a produção nacional de bovinos tem o mercado interno como principal destino absorvendo cerca de 80% da produção. A demanda interna pode ser separada em dois grupos: os consumidores de baixa renda, que se preocupam com a quantidade a ser consumida, tendo o preço como restrição, e os consumidores de alta renda, que se preocupam com a qualidade do produto.

A Figura 1 apresenta informações quantitativas sobre produção, rendimento e mercado da pecuária bovina brasileira para o ano de 2014. O esquema elaborado pela ABIEC identificado como "Balanço da Pecuária Bovina" expressa os principais indicadores técnicos da produção, abastecimento e exportação de carne bovina brasileira para o ano de 2014.  A área de pastagem neste indicada é menor do que a apontada acima (182,9 milhões de hectares para 2015). Destaca a grande carteira de países compradores além do robusto mercado interno.

Figura 1. Indicadores técnicos de produção e comercialização de carne bovina no Brasil.
Fonte: Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC,2015).

Produtos homogêneos, sem grau de diferenciação e/ou agregação de valor são identificados como commodities. O preço das commodities é imposto basicamente pelo equilíbrio de mercado expresso pelas relações oferta x demanda (ROSSETI, 2003). O boi gordo pode ser considerado uma commodity agropecuária; neste caso o produtor rural assume um papel de tomador de preços em razão de ter pouca ou nenhuma influência individualmente sobre a formação de preços; restando-lhe apenas aceitar o valor que imposto pelo segmento comprador (MENDES E PADILHA JUNIOR 2007), ou seja, pelos elos subjacentes ao segmento produtivo, representado pela indústria frigorífica.

Da maior dificuldade relativa em atuar na formação dos preços resta ao produtor pecuarista, na busca de melhores indicadores de rentabilidade, procurar maior eficiência na gestão do sistema produtivo, este composto por elementos sobre os quais detém maior possibilidade de controle relativo, como ajustes no sistemas produtivos que resultem em menores custos de produção.

3. Metodologia

O trabalho pode ser classificado como pesquisa exploratória (Gil 2008), com abordagem metodológica que pode ser enquadrada como estudo de caso, segundo Yin (1994).

O estudo de caso estudado foi caracterizado pela terminação de novilhas de corte da raça nelore, em propriedade situada no município de Nova Luzitânia região Noroeste do estado de São Paulo, Brasil. As coordenadas geográficas para a área em referência são  latitude 20º51'22" sul e a longitude 50º15'42" oeste, altitude de 420 metros. 

A propriedade apresenta área total de 210,54 hectares, com maior proporção da mesma destinada para cultivo de pastagem (168,34 hectares), seguidas das áreas de preservação permanente, áreas de reserva legal e áreas não cultiváveis. A espécie de  pastagem implantada foi a Urochloa brizantha cv. Marandu.

O sistema de produção é entendido como semi-intensivo. Para Cezar et. al. (2005) o sistema semi-intensivo caracteriza-se por apresentar como base alimentar as pastagens (nativas e cultivadas) associadas a suplementos minerais acrescidos de suplementos proteicos e energéticos. A suplementação se faz relevante tendo em vista o propósito de alcançar ciclo mais curto (proporcionalmente ao da pecuária bovina extensiva), suplementando os animais em suas diversas fases de crescimento. Para os autores do trabalho referenciado, os sistemas de produção em pastejo utilizando-se de suplementação constituem uma opção viável para os pecuaristas, por não requerer outras explorações agrícolas para produção de volumosos, e proporcionam melhorias nos índices de produtividade do rebanho, além de melhorarem as condições de manejo das pastagens.

O sistema de produção analisado no presente trabalho  caracteriza-se pela exploração a pasto em sistema de pastejo rotacionado com suplementação.  Aspectos da produção pecuária em sistemas com pastejo rotacionados são discutidos por Zonta e Zonta (2013). No sistema em análise a engorda de novilhas é realizada exclusivamente em pasto com suplementação alimentar no cocho; o rebanho total do proprietário soma 550 animais manejados por um capataz.

A área da propriedade onde encontra-se disposto o rotacionado no qual são manejados os animais está representada pela figura 2. Esta área foi projetada para abrigar 8 piquetes com 5 hectares cada e uma praça de alimentação de 0,7 hectares. O período de ocupação (em pastejo) é programado para 5 dias em cada piquete e um período de descanso de 35 dias para recomposição da cultura forrageira. A contenção dos animais é feita por cerca elétrica, considerada eficiente e possuir um custo de implantação inferior à cerca comum. A água fornecida no bebedouro do sistema é proveniente de um poço semi-artesiano.

 

Figura 2. Representação esquemática da Área de pastejo rotacionado em
propriedade no município de   Nova Luzitânia, Estado de São Paulo, Brasil.

O sistema de produção é previsto para ter duração média de 180 dias, período que envolve desde a aquisição dos animais até a terminação e venda dos mesmos. A organização da produção torna possível estruturar um fluxo mensal de vendas e aquisição de animais. Neste estudo de caso, o proprietário integra as atividades de engorda de novilhas com a comercialização em estabelecimento de varejo local, representado por uma rede de supermercados de propriedade da família. Neste caso, o sistema de produção e abate de novilhas constitui estratégia interessante de negócio em que se busca redução de custos e regularidade no suprimento da matéria prima para o equipamento de varejo. Cumpre ressaltar que as novilhas terminadas são enviadas para abate em frigoríficos sob as normas sanitárias do Sistema de Inspecção Federal (SIF) para, após o abate, serem conduzidas a empresa de comercialização varejista do mesmo grupo produtor.

 O sistema de produção é constituído por um lote médio de 220 animais; as novilhas são adquiridas com idade de 15 a 18 meses e peso médio de 270 kg (peso corporal) por animal, permanecendo no sistema por um período de 180 dias. O ganho de peso médio é de 0,9 kg/ dia por animal para abate com o peso médio de 432 kg (21 a 24 meses) e rendimento de carcaça médio de 52% no abate aferido pela indústria frigorífica.

Para análise econômica adota-se a definição de Hoffmann et al. (1987) segundo a qual o custo total de produção é definido como a soma dos valores de todos os serviços produtivos e dos fatores aplicados na produção de uma determinada atividade, inclusive a remuneração aos fatores de produção.

Por meio de entrevistas com o pecuarista foram elaboradas planilhas com registro das informações relativas ao sistema de produção; os dados foram registrados em planilhas eletrônicas Excel. Todos os valores considerados para análise do sistema de produção são do mês de março de 2015.

A metodologia do cálculo de custo de produção utilizada foi a descrita por Matsunaga et al. (1976). As estruturas consideradas no sistema produtivo foram o Custo Operacional Efetivo (COE) envolvendo as despesas efetuadas com mão de obra, operações de máquinas, implementos e materiais consumidos ao longo do processo produtivo; e o custo operacional total (COT), que é o custo operacional efetivo, acrescido dos gastos com máquinas e implementos (depreciação, garagem, seguro, juros e manutenção), depreciação e manutenção de benfeitorias, despesas gerais e juros de custeio. Adicionando ao COT a remuneração da terra e juros do trator e da carreta, obtém-se o Custo Total de Produção (CTP).

Para operações mecanizadas a quantidade mensal demandada de óleo diesel para manutenção do lote de animais é de 150 litros, considerando rendimento médio do trator de 5l/h, obtém-se um valor de 30 horas máquina por mês. Assim, tem-se 180 horas de trabalho da máquina nos 6 meses o que resulta em demanda de 900 litros de consumo de combustível no período. O preço médio considerado para o óleo diesel da região é de a R$2,66/litro (março 2015). Para o custo de lubrificante, tomou 20% do gasto com óleo diesel, de acordo com a expressão genérica (1) abaixo:

Diesel + lubrificantes = [(consumo mensal x preço diesel) x 1,2] x 6 messes   (1)

No cálculo de operações manuais, consideraram-se salário mensal mais encargos pagos ao capataz responsável pelo manejo do rebanho (R$1.900,00 mensais) durante o ciclo de terminação do lote (6 meses). Os custos com encargos são representados por 1/3 do salário mensal. Para compatibilizar o custo das operações manuais com o lote de animais estudado, foi considerada uma proporcionalidade de 50%, por entender que a mão de obra requerida no sistema de produção pode também responder por demandas de trabalhos relativas a outras explorações na propriedade. Assim, para o gasto total com mão-de-obra na terminação de um lote de 220 novilhas tem-se:

Operações manuais = [(Salário mensal + 1/3 do salário) x 6 meses] x 0,5           (2)   

A reforma de pastagem foi realizada antes da implantação do sistema de pastejo rotacionado; a análise do custo considera a demanda de insumos relativa a adubação de manutenção da pastagem, feita a cada ciclo de terminação de animais (6 messes), utilizando-se adubação de cobertura com ureia, em frequência média de duas aplicações de 100 kg por hectare durante o ano, realizada de preferência após período chuvoso, para propiciar a incorporação ao solo em 2-3 dias evitando perdas por volatilização. Assim, tem-se em (3) a expressão da demanda por adubação para 40 ha e 220 animais em  ciclo de 6 meses:

Adubação de manutenção = {[(100kg x 40 ha)] x preço do kg da ureia}       (3)

O custo com suplementação alimentar envolve gastos com sal mineral e proteico energético. O proteico energético é baseado na formulação expressa na Tabela 1.

Tabela 1.  Formulação do proteico energético

Nucleo com monensina (%)

Uréia pecuária. (%)

Milho triturado. (%)

Farelo de algodão. (%)

12,0

3,0

55,0

30,0

Fonte: dados da pesquisa

O cálculo do sal mineral (60 g de fósforo) foi feito a partir do consumo diário do lote de 220 animais (11 kg) multiplicado pelos 6 meses do ciclo produtivo (180 dias) e pelo preço médio do kg do insumo na região (R$ 1,70/kg no mês de março de 2015), como expresso em (4):

Sal mineral = [(11 kg x 180 dias) x (preço do kg de sal mineral)]      (4)

Da mesma forma, em (5) tem-se a análise do custo para o proteico energético, para consumo diário do lote de 220 animais de 330 kg e o custo R$0,64/kg.

Proteico energético = [(330 kg x 180 dias) x (preço do kg do prot.)  (5)

As práticas envolvendo sanidade do lote de novilhas são feitas basicamente por vacinas contra febre aftosa aplicadas duas vezes ao ano sendo uma vez no período de produção (220 doses de 5 ml por animal e preço de R$1,40 a dose). Para o vermífugo, é feita 1 aplicação no período de entrada no sistema com 1 ml a cada 50 kg de peso vivo, totalizando, pela média de peso do rebanho (6 ml por cabeça) ou 1,32 litros, a um preço de R$440,00 o litro do produto utilizado (ivermectina 3,5%). Assim, tem-se as expressões (6) e (7):

Vacina f. aftosa = (220 doses x preço da dose)   (6)

Vermífugo = (1,32 litros x preço do litro do produto)    (7)

Na composição do custo operacional total, analisam-se os gastos com máquinas e implementos e calculam-se a depreciação do trator. A a depreciação e considerad como uma reserva contábil destinada a prover fundos necessários para a substituição do capital investido em bens produtivos de longa duração. Para um trator de porte daquele utilizado na propriedade em análise, 292 MF traçado no valor de R$45.000,00, a determinação da depreciação foi feita através do método linear, através da expressão (8) abaixo.

D = (vi- vf) / vu        (8)

Sendo que "D" é a depreciação sofrida pela máquina, "vi" o valor inicial da mesma, "vf" o valor final, e "vu" a vida útil da máquina. No caso estudado, os valores de "vf", foram de 20% do vi, e o valor de vu igual a 10 anos. Para o trator, também se analisa o valor gasto com garagem (1% a.a.) e seguro (0,75% a.a.), todos os valores com base anual transformados para o tempo de terminação do lote (6 meses). Também se calcula o custo da carreta, com depreciação calculada também pelo método linear considerando o valor inicial  de R$5.000,00 e o valor final é de 10% do "vi", além do custo com garagem na mesma maneira do cálculo feito para o trator.

A depreciação das instalações e benfeitorias foi calculada também de acordo com o método linear, para o que foram considerados um curral de madeira com embarcador e brete no valor aproximado de R$150.000,00, e um galpão de armazenagem com valor estimado de R$100.000,00; a proporcionalidade para o valor final  foi 80% do valor inicial, devido à baixa intensidade de utilização das instalações e benfeitorias pelo lote de animais no ciclo abordado tendo em vista o período de vida útil de 20 anos. A depreciação, calculada também de acordo com o método linear, com um valor final 20% do valor para um período de vida útil de 10 anos, é expressa em (9).

 Depreciação do sistema = {[(valor calculado – valor final) /10] x12/6}   (9)

A manutenção das instalações é calculada de acordo com o valor de cada instalação considerando uma proporcionalidade de 10% como cota de usufruto para o  conjunto de animais em análise (as instalações são construídas para comportar a manutenção de um rebanho de 550 animais); utiliza-se um valor de 6% do valor total das instalações, posteriormente transformado para 6 meses. Assim, como apresentado em (10):

Manutenção de instalações = {[(valor total x 0,10) x 0,06] x 12/6}  (10)

Para a manutenção de máquinas e implementos, utiliza-se 6% do valor inicial dos mesmos, transformado para um valor de 6 meses, como expresso em (11):

Manutenção de máquinas = [(valor inicial x 0,06) x 12/6]   (11)

Determinou-se também o custo médio  com despesas gerais envolvendo itens de despesas de como energia, telefone, conservação de cercas, impostos, entre outros. Para o cálculo de juros de custeio, foi considerada taxa de 5,5 % a.a. sobre a metade das despesas com o COE.

Na composição do CTP, a remuneração da terra é calculada tomando-se como proxy (ou referência) o valor de aluguel da pastagem (R$20,00/cabeça) para a região e período em análise analise, de acordo com dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA, 2015). Também foram calculados os juros do trator e da carreta (6% a.a.).

Os indicadores de lucratividade utilizados no trabalho aqueles discutidos em Martin et al. (1997): 1) Receita Bruta (RB): obtida multiplicando-se a produção em @, pelo preço médio pago pela @; 2) Lucro Operacional (LO): obtido através da diferença entre a receita bruta e o custo operacional total; revela  a lucratividade da atividade, mostrando as condições financeiras e operacionais da atividade agropecuária; 3) Índice de Lucratividade (IL): proporção da receita bruta que se constitui em recursos disponíveis, após a cobertura do COT, através da expressão: IL = LO/RB x 100.

Para o cálculo da produção tomou-se o peso médio final dos animais, 15@ por animal, multiplicado pelo número de 220 animais. A produção de equilibro é obtida tomando-se a relação entre custo total da produção e preço médio da @. O preço de custo da @, ou seja, o preço de equilíbrio da @ é obtido tomando-se a relação entre o custo total da produção e a produção total em @.

4. Resultado e discussões

4.1.Análise do custo de produção e indicadores econômicos do caso em estudo

A Tabela 2 apresenta os requerimentos de materiais e operações, detalhados em coeficientes técnicos (quantidades), preços unitários e totais que compõem o custo de implantação da área para montagem da estrutura de pastejo rotacionado relativa  a propriedade em referência.

Tabela 2. Custo de implantação do pastejo rotacionado (40 hectares)
em propriedade na região Noroeste Paulista.

 

Unidade

Quantidade

Preço

Total

 

Plantio

 

 

 

Operações mecanizadas

Hora

320

70,00

22.400,00

Semente

Kg

300

10,00

3.000,00

Calcário

Tonelada

60

60,00

3.600,00

Super. Simples

Tonelada

16

1.000,00

16.000,00

 

Estrutura física

 

 

 

Cerca elétrica

Km

5,8

2.668,00

15.474,40

Bebedouro Australiano 2600 lts.

-

1

2700,00

2.700,00

Cochos plásticos

Metro

30

40,00

1.200,00

Total

 

 

 

65.974,40

Fonte:  dados da pesquisa

A estrutura do sistema pastejo rotacionado é muito versátil, no caso estudado, é utilizada para a engorda de novilhas, porém pode também ser utilizado em outras fases da pecuária bovina como engorda de machos, produção de bezerros, recria de bezerros e bezerras. Com este potencial de usos múltiplos são reduzidos os riscos de prejuízo por sub-utilização ou obsolescência do capital imobilizado em períodos de baixa atratividade financeira para engorda de novilhas.

O custo do sistema de produção de novilhas de corte para o ciclo de terminação com duração de 6 meses encontra-se detalhado na Tabela 3 e estão divididos em custo operacional efetivo, custo operacional total e custo total de produção. O custo operacional efetivo (COE) e o custo operacional total (COT) foram R$355.444,60 e R$372.766,46, respectivamente.

 O custo operacional efetivo apresenta grande relevância na composição dos custos operacionais da produção, da ordem de 88,71% dos custos operacionais totais.

Na composição do custo operacional efetivo, o gasto com aquisição do rebanho foi o item que mais onerou o sistema, total de R$297.000,00, porém, indispensável por ser o único meio de reposição do rebanho, isso devido a especificidade do sistema produtivo, exclusivamente dedicado a terminação de novilhas. A suplementação com proteico energético é um item do custo de produção que pode ser considerado dispensável ao sistema de produção, porquanto o sistema não necessita obrigatoriamente da suplementação para funcionar, mas é adotada para proporcionar a redução do tempo de terminação e intensificação do sistema. Segundo Pilau et al. (2003), a viabilidade técnica da suplementação de animais em pastejo é considerada eficaz, porém questionamentos quanto a sua viabilidade econômica existem, principalmente para períodos de redução dos preços, nos quais os produtores são obrigados a reduzir o padrão tecnológico médio em função das expectativas de queda na remuneração da atividade. Assim, em conjunturas queda de preços pode-se abrir mão da suplementação com proteico energético, diminuindo a lotação porém aumentando o período de estadia dos animais no sistema.

O custo com suplementação alimentar teve grande representatividade no custo operacional efetivo, sendo R$ 41.283,00,00, participando com 11,61% do COE. Destes, R$3.267,00,00 são os gastos com sal mineral e R$38.016,00 com o proteico energético

O custo de depreciação, tanto para o trator quanto para as instalações e benfeitorias e, até mesmo para a carreta decorre do tempo vida dos mesmos, por isso representa um custo inexato, podendo variar com a utilização mais ou menos intensa do bem de uso, aferida de acordo com estimativa da intensidade de uso para a terminação do lote de 220 novilhas. Dentro da composição do COT, os juros de custeio representaram 1,22% deste; valor também significativo para o sistema. A remuneração da terra representou 6,58% do CTP.

O custo total da produção (CTP), que é o valor do COT acrescido da remuneração da terra e juros do trator e da carreta,soma o valor de R$400.666,46 para terminação das 220 novilhas,

Tabela 3. Custos da terminação de 220 novilhas de corte em 2015 região Noroste Paulista.

A Tabela 4 apresenta a produção total, preços, custos e indicadores de lucratividade do lote de novilhas estudado. A produção total foi de 3.294,72 @, vendidas a R$142,00; preço de referência pago pela vaca gorda no período de comercialização do lote (março de 2015), obtendo assim uma receita bruta de R$467.850,24.

Os indicadores de lucratividade a atividade sinalizam um retorno  satisfatório, com o lucro operacional foi de R$67.183,78, permitindo auferir um índice de lucratividade  de 14,36%.  

O desempenho econômico superior para terminação de novilhas também foi evidenciado por Ítavo et al. (2007) que analisaram a rentabilidade da terminação de diferentes categorias animal (novilhas, vacas e bezerros), suplementados a pasto. O resultado apontou para as novilhas menor receita por animal, quando comparado as vacas e bezerros, porém auferindo lucratividade superior, devido aos menores custos envolvidos na produção de novilhas; remetendo a maior  receita por hectare em razão de  maior taxa de lotação para essa categoria relativamente às categorias de vacas e bezerros estudadas pelos autores.

Alguns trabalhos apontam para indicadores negativos de lucratividade para a pecuária bovina em sistemas extensivos de engorda de machos, como é o caso de Tavares et al (2009), indicando para a pertinência de sistemas semi-intensivos. 

Assim, para o estudo de caso em referência evidencia-se um  índice de lucratividade satisfatório na terminação de novilhas, tendo em vista o período de meio ano e 40 hectares.

Quando se tem em consideração a possibilidade de condução de dois ciclos de engorda por ano no sistema em discussão neste trabalho, tem-se uma receita de R$3359,20 por hectare/ano, o que torna o sistema competitivo, até mesmo preferível a alternativa de arrendamento da terra para o cultivo de cana-de- açúcar (atividade considerada alternativa a exploração da terra por pecuaristas do estado de São Paulo em períodos de baixos preços e rentabilidade da  pecuária).

Na Tabela 4 resume indicadores de produção e de lucratividade. A produção total é obtida pelo peso por animal no abate (432Kg), para o lote de 220 animais e rendimento de carcaça de 52% é de 3294,72 @, e a produção necessária para equilibrar todos os custos de produção é de 2821,59 @ e o preço de equilíbrio para que a partir disso o produtor tenha rentabilidade é de R$121,61@. Estes consistem em bons indicadores; o índice de lucratividade de 14,36% é considerado bastante interessante tendo em vista o período de exploração (6 meses), remetendo ao dobro ao cabo de um ano.

Tabela 4. Produção, preços, custo e indicadores de lucratividade da terminação
de 220 novilhas para corte em 40 hectares, no município de Nova Lusitânia– SP, em 2015.

Indicadores

Unidade

Valor

Produção total

@

3294,72

 Preço médio praticado

R$ /@

142,00

Receita bruta

R$

467.850,24

Custo Operacional Total

R$

400.666,46

Lucro Operacional

R$

67.183 ,78

Índice de lucratividade

%

14,36

Produção de equilíbrio

@

2821,59

Preço de equilíbrio

R$ /@

121,61

 

O conjunto das 220 novilhas em 40 hectares permite auferir ganhos de produtividade de cerca de 30 @ por hectare (considerando o ganho de peso líquido após a entrada no sistema) muito acima das 6,4 @/ano projetadas para crescimento da pecuária nacional.

5. Conclusões

A pecuária bovina de corte é eminentemente alicerçada na engorda de animais machos. Para este trabalho os resultados do sistema produtivo análisado, envolvendo terminação de novilhas em pastejo rotacionado com suplementação, evidenciam que o mesmo representa alternativa bastante factível como parte das estratégias de intensificação dos sistemas produtivos da pecuária bovina de corte, com vistas a melhorar os níveis de rentabilidade.

Referências

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YIN, R; Case Study Research: Design and Methods. Segunda Edição. Thousand Oaks, CA: SAGE Publications. 1994


1. Eng. Agrônomo, pedropulici@gmail.com
2. Instituto Federal De Educação, Ciência E Tecnologia Do Mato Grosso Do Sul (Campus Três Lagoas), Doutora em Administração, suellen.oliveira@ifms.edu.br; Estudante De Pós-Doutorado Em Engenharia Agronoma Na UNESP, Ilha Solteira.
3. Tecnóloga em Agronegócios,   bianca_mfeitosa@hotmail.com

4. Universidade Estadual Paulista (UNESP Fe Ilha Solteira), Doutor de Agronomia  proenca@agr.feis.unesp.br

5. Universidade Estadual Paulista (UNESP Fe Ilha Solteira), smalcost@agr.feis.unesp.br, Doutora em Economia Aplicada


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 23) Año 2016

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