Espacios. Vol. 37 (Nº 21) Año 2016. Pág. 2

Sistema de Inovação, Organização Produtiva e Cultura e Saberes Locais

Innovation System, Productive Organization, Culture and Local Knowledge

Teresa Lenice Nogueira da Gama MOTA 1; Jaira Maria Alcobaça GOMES

Recibido: 14/03/16 • Aprobado: 23/04/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Revisão Bibliográfica

3. Metodologia

4. Contextualização e Resultados

5. Considerações Finais

6. Conclusões

Referências


RESUMO:

Este artigo inova ao preencher uma lacuna na literatura, qual seja questionar o funcionamento do Sistema Local de Inovação (SLI) , particularmente do segmento difusor de tecnologia, ignorando a cultura local, já que outros autores trazem a importância do conhecimento tácito, mas não o fazem na discussão de SLI. Relata o estudo de caso de uma comunidade de criadores de caprinos que ganhou premiações nacionais e internacionais por tirar crianças e idosos das condições de subnutrição e, no entanto, não consegue fazer da caprinocultura uma fonte de renda para o auto sustento. Baseia-se em uma pesquisa qualitativa, que utiliza técnicas de observação participante, entrevista por pauta, grupo focal e o método da triangulação de dados conseguindo evidenciar que o SLI, que atua junto aquela Comunidade, vem apresentando falhas de articulação e que as instituições geradoras e difusoras do conhecimento vêm atuando de forma isolada, ignorando o conhecimento tácito da comunidade assim como as dificuldades e as informações que os produtores de caprinos não possuem. Evidencia que o principal problema do mau funcionamento do SLI reside em ignorar a organização produtiva, a cultura e os saberes locais, o que compromete a consolidação do potencial Arranjo Produtivo Local existente naquela aglomeração de criadores de caprinos. Apresenta um breve resgate dos conceitos de Sistema Local de Inovação e Arranjo Produtivo Local, Geração e Difusão de Tecnologia, Cultura e Saberes Locais e Organização Produtiva, objetivando dar mais consistência ao trabalho. Defende a tese de que um Sistema de Inovação, para ser eficaz deve considerar relevante a organização produtiva e a cultura e os saberes locais. Só assim o processo de geração e transferência de tecnologia e, consequentemente, a gestão da inovação, é capaz de, efetivamente, promover a inovação.
Palavras-chave: Sistema Local de Inovação, Arranjo Produtivo Local, Gestão da Inovação.

ABSTRACT:

This article innovates to fill a gap in the literature. In fact, it is questioning the functioning of a Local Innovation Systen (LIS), particularly the diffuser of thecnology segment, leaving out the local culture. It is true that other authors bring the importance of tacit knowledge, but not in the context of LIS.The article reports the case study of a community of goat breeders who won national and international awards for taking children and elderlies out of malnutrition conditions but can not make goat a source of income for self sustenance. It is based on a qualitative research, using techniques of participant observation, interview staff, focus groups and data triangulation method, obtaining evidence that the LIS which works with that community has been presenting joint falires. It also shows that generating and diffusing knowledge institutions are acting in isolation, ignoring the community's tacit knowledge as well as the difficulties and the information that goat producers do not have. Exposes that the main problem of LIS malfunction lies in ignoring the productive organization, the culture and local knowledge and, then, compromises the potential consolidation of Local Productive Arrangement that exist into the agglomeration of goat breeders. It presents a brief review of the concepts of Innovation Local System, Local Productive Arrangement, Generation and Dissemination of Technology, Culture and Local Knowledge, and Productive Organization, aiming to give more consistency to the work. Takes the view that, to be effective, an innovation system should consider relevant productive organization and culture and local knowledge. Only then the process of generation and transfer of technology and, hence, innovation management, is able to effectively promote innovation.
Keywords: Local Innovation System. Local Productive Arrangement. Innovation management

1. Introdução

Entende-se Sistema Local de Inovação (SLI) como um espaço de interação definido pelas relações entre empresas, tanto de caráter competitivo como de caráter cooperativo, e instituições que integram os diferentes subsistemas, acadêmico, tecnológico e de fomento, em um território geográfico comum.

 Pode-se considerar a cultura como um aprendizado do homem enquanto participante de uma comunidade, ou as formas de vida dos seus membros. O estudo da cultura deve detalhar a herança social em seus elementos, seus componentes e se entrelaçar com o meio ambiente e com as necessidades do homem (MALINOWSKI, 2009). Nesse contexto surgem os saberes locais ou o conhecimento tácito.

Em se tratando de conhecimento tácito há que mencionar uma concordância com os conceitos de Dosi (1988), quando destaca que as capacidades tácitas, associadas ao conhecimento formal, são requisitos essenciais ao domínio de uma tecnologia.

Ao se considerar processos de geração e transferência de tecnologia é conveniente remeter, também, às origens do movimento de Tecnologias Apropriadas (TA), que foi sucedido pelas Tecnologias Sociais (TS). É bom lembrar Dagnino (1976), que chama a atenção que o movimento de TA incorpora aspectos culturais, sociais e políticos à discussão e propõe mudança no estilo de desenvolvimento. Contudo, embora tenha havido grande proliferação de pesquisadores partidários das ideias da TA e da TS nas décadas de 70 e 80, tendo como objetivo central minimizar a pobreza nos países do Terceiro Mundo e prevenir questões ambientais, como ainda persistem referidos problemas, buscou-se soluções dentro da visão de SLI e Arranjo Produtivo Local (APL).

Pensando dessa forma, visou-se associar a geração de renda a um processo de organização produtiva que utiliza as habilidades de gestão na construção de alternativas socioeconômicas, com foco na autogestão. Portanto, foi necessário ponderar sobre o incentivo ao associativismo, ao cooperativismo, ao empreendedorismo e ao trabalho em equipe, assim como habilidades de gestão que tendem a possibilitar ao trabalhador a tomada de decisão.

Trabalhou-se, portanto, junto a uma aglomeração de criadores de caprinos, agricultores familiares, em uma comunidade que se inicia a partir de um projeto ganhador de prêmios na área de segurança alimentar. Investigou-se, portanto, o que faltava aos agricultores familiares para que fizessem da caprinocultura um projeto que proporcionasse a sustentabilidade econômica, social e ambiental. O estudo foi desenvolvido com uma visão de cadeia produtiva, conferindo-se especial ênfase à pesquisa sobre difusão tecnológica.  

Por mais incipiente que seja, toda localidade comporta atores, vivencia processos e usufrui dos resultados de um SLI. Assim, foi necessário, compreender o funcionamento do SLI que atua junto ao potencial APL dos criadores de caprinos de São Domingos, Sobral, Ceará, Brasil, observando de que forma as instituições e os atores que integram referido Sistema, particularmente os que tratam da difusão de tecnologias e da organização produtiva, são capazes de contribuir para a consolidação do APL, esse o principal objetivo do trabalho.

2. Revisão Bibliográfica

Para melhor compreender a dimensão teórica do presente trabalho, são apresentados conceitos sobre o Sistema Local de Inovação (SLI), e Arranjo Produtivo Local (APL). A partir desse debate, particulariza-se, trazendo considerações que influenciam os principais processos que integram o SLI: geração e difusão de tecnologia e organização produtiva, ambos ancorados na cultura e nos saberes locais.

2.1. Sistema Local de Inovação e Arranjo Produtivo Local

Um Sistema Local de Inovação (SLI) é um espaço de interação definido pelas relações entre empresas, tanto de caráter competitivo como de caráter cooperativo, e instituições que integram os diferentes subsistemas, acadêmico, tecnológico e de fomento, em um espaço geográfico comum (EDQUIST, 2004; FREEMAN, 1995; NELSON, 1993; LUNDVALL, 1992).

Uma definição geral do Sistema de Inovação deve incluir atores sociais, políticos, institucionais, sociais e econômicos para explicar o processo inovativo, com uma visão de natureza sistêmica (EDQUIST, 2005).

O trabalho Technical Change and Economic Policy (OECD, 1980), do qual participaram François Chesnais, Christopher Freeman, Keith Pavitt e Richard Nelson, apresenta, entre outros aspectos, o caráter sistêmico da inovação. Outra característica fundamental a ser considerada, e que foi também destacada pela OECD (1988) no Sundquist Report, é a necessidade de uma abordagem integrada para questões sociais, econômicas e tecnológicas. Lembra, ainda, a importância dos atores políticos e das condições culturais e institucionais próprias de cada localidade. Inovar é, antes de tudo, interpretar a informação, transformá-la e internalizá-la, o que vai requerer uma perfeita sinergia entre o conhecimento tácito e o científico.

Em 1992, a OECD avança e, no documento Technology and the Economy: The Key Relationships enfatiza a importância da cooperação, das parcerias estratégias e do conhecimento tácito. Também as características de foco no conhecimento, aprendizado e interatividade, são necessárias aos sistemas de inovação, conforme ressaltadas por Freeman (1988) e Lundvall (1992).

Dentre os fatores que interagem na dinâmica do Sistema de Inovação, Rocha Neto (1998), na Nota Técnica 12/98 do Projeto de Pesquisa "Globalização e Inovação Localizada: Experiências de Sistemas Locais no Âmbito do Mercosul e Proposições de Políticas de C&T", destaca, entre outros: i) as políticas públicas de C&T, o modelo de desenvolvimento econômico, e as demandas do mercado; ii) os valores socioculturais e as atitudes sociais dos consumidores em relação à C&T; e iii) a oferta de recursos financeiros e de conhecimentos técnico científicos.

Observe-se que, referida pesquisa, assinala, entre os tópicos principais, o papel dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) e sua capacidade. Mostra a importância de:

se "engenheirar" sistemas que incorporem nas suas "constituições genéticas" mecanismos diversificados de articulação institucional e de comunicação entre todos os seus agentes para formação de arranjos voltados à inovação e difusão de tecnologia. Este tem sido o principal segredo de sucesso dos processos de outros países (ROCHA NETO, 1998, p.106).

Cassiolato e Lastres (2005) nominaram de arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais os aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, operando em atividades correlacionadas, que apresentam vínculos expressivos de interação, cooperação e aprendizagem. Manifestaram-se, ainda, Sachs (2002) e Caporali e Volker (2004) que trouxeram a noção para aglomerações produtivas que não apresentam significativa articulação entre os agentes, e apontam APLs como indutores do desenvolvimento local sustentável, premissa que julgamos verdadeira.

É conveniente deixar muito claro a diferença entre SLI e APL que repousa, basicamente, na forma como os agentes estabelecem os vínculos. Senão veja-se: conforme Cooke, Heidenreich e Braczyk (2004), SLI pode ser definido como um local onde há forte interação entre os diversos atores, na capacidade de gerar conhecimento para exploração comercial, fruto de um capital social ativo. Ainda como afirmam Cassiolato e Lastres (2003) APL são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, que apresentam vínculos mesmo incipientes, com foco específico em uma atividade econômica.

2.2 Geração e Difusão de Tecnologia

Tecnologia é o conhecimento de habilidades ou técnicas, que reúnem informações, porém não é uma simples informação. A partir de informações disponíveis em livros, periódicos, boletins, jornais, entre outras, de habilidades que são adquiridas no envolvimento do processo de difusão e de conhecimento tácito, originam-se as tecnologias que resultem em inovações (CRIBB, 2002).

Como assinala Nonaka (1991) o conhecimento tácito, além do know-how, representa as crenças e os modelos mentais, conforme se verá no item culturas e saberes locais, o que dá, a cada unidade produtiva, um jeito próprio de gerar e aplicar a tecnologia, primeiro aspecto que se pretende enfatizar.

Nonaka e Takeuchi (1997) argumentam que o conhecimento é criado e expandido através de um processo de interação entre indivíduos que permite uma troca entre conhecimento tácito e explícito, em outras palavras entre trabalhadores e aqueles que produzem conhecimento científico. Como afirmam Nonaka e Takeuchi (2004) a criação e o desenvolvimento do conhecimento são a chave para a inovação contínua.

Assim, a inovação e a geração e difusão de tecnologia são temas intimamente relacionados. Comungam dessa forma de pensar Rogers (1995), Thiirtle e Ruttan (1987), Biggs (1990) e Bell e Pavitt (1992) embora se saiba que, nos modelos tradicionais, referidas variáveis estivessem em diferentes níveis de análise. Desse modo, a mudança tecnológica é entendida como um processo que compreende a geração e a aplicação do conhecimento, através do processo de difusão, resultando em inovações.

Como já foi visto, a fase de difusão propicia melhorias que facilitam a adoção e o uso, em campos já existentes, assim como a aplicação em novos campos. Por isso, Bell e Pavit (1992) são explícitos ao afirmarem que as melhorias ocorrem como consequência de tecnologia em curso de difusão, em função dos objetivos e das condições de uso. Assim, não há receptores passivos de tecnologias geradas.

Da mesma forma, para Dosi (1988) a geração de tecnologias envolve o uso de informações obtidas não apenas da experiência prévia e do conhecimento explícito formal, de natureza científica, mas do conhecimento tácito, das capacidades específicas e não codificadas.

Observa-se, portanto, que a geração e difusão de tecnologias fazem parte de um processo cognitivo, onde há a assimilação de uma nova informação que vem somar-se às estruturas cognitivas prévias, a partir de diferentes estímulos. Dito de outra forma o processo de aprendizagem deve ser abordado a partir da cognição e da afetividade, possibilitando a existência de experiências significativas para quem os vivencia e iniciando-se o estudo da construção do conhecimento (PIAGET, 2003).

Sabe-se que nos SLI e nos APL os processos de geração e difusão de tecnologia se constituem em elementos que interferem no uso do conhecimento, dependendo da forma como os atores interagem. Para tanto, é necessário haver uma rede de organizações, públicas e privadas, envolvendo comunidades locais, que se relacionam e se coordenam em cada localidade de forma própria, cooperando para haver desenvolvimento.

Logo, a interação e a forma como os atores do Sistema se relacionam torna-se aspecto, fundamental Por outro lado, em se tratando de aprendizado, é importante o aprendizado contínuo e interativo no processo de inovação, assim como capacitações técnicas e organizacionais e esforços com experiências próprias, seja na produção, seja na comercialização, seja na interação com fornecedores. O aprendizado vai depender, também, do grau de interação entre os agentes envolvidos, que varia conforme o tipo de agente e a relação entre eles, exigindo linguagem comum, identidades, sinergias e confiança, entre outros fatores (LEMOS, 1999).

O mesmo autor declara,

A existência de uma capacitação adequada através de aprendizado constante é necessária para o enfrentamento das mudanças e isso se dá de forma mais completa com a interação para a troca de informações, conhecimento codificado e tácito e a realização de atividades complementares entre eles (LEMOS, 1999, p. 134).

Por sua vez, Freeman (1995) mostra a importância da interação entre atividades que iniciam, importam, modificam e difundem novas tecnologias, estruturadas em Rede. Esta definição pode ser aplicada para comunidades locais e é fundamental observar o papel de Instituições de Ciência e Tecnologia, Instituições de Pesquisas e de Agências Governamentais e a forma como elas se relacionam, se coordenam e se combinam diferentemente em cada localidade.

O bom entendimento entre os atores é determinante para os resultados da tecnologia e devem ser observados desde a produção, distribuição e implementação do conhecimento, sendo a cooperação fundamental em todos os canais (OCDE, 1997).

Bell (1993) destaca a importância e a necessidade da integração entre as estruturas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e as estruturas produtivas, para o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem e a absorção tecnológica pelas referidas estruturas de produção.

Note-se que a aquisição e a construção de diferentes tipos de conhecimentos e habilidades, vão depender do processo de difusão. Conforme Rogers, Jalal, Boydet (2003), a difusão de inovações cabe aos extensionistas, que devem ser vistos como agentes de mudanças e a quem competem: criar uma necessidade pela mudança; estabelecer uma relação de troca de informações; diagnosticar os problemas; criar uma intenção de mudança no cliente; traduzir uma intenção em ação; consolidar comportamentos e prevenir descontinuidades; e desenvolver uma autossuficiência nos clientes. Observe-se que a proposta apresentada pelos referidos autores para o processo de extensão, vai ao encontro da visão do aprendizado cognitivo, anteriormente apresentada.

2.3 Cultura e Saberes Locais

Os produtores são populações que possuem cultura e saberes que não podem ser ignorados, se se pretende provocar mudanças, concretizar ações contínuas e desenvolver autossuficiência.

Entendida como um conjunto de hábitos e costumes adquiridos pelos indivíduos de uma sociedade, ritos, músicas, culinária, formas de trabalho ou crenças em divindades, Giddens (2005) inclui na cultura a forma como os indivíduos se vestem, seus costumes matrimoniais e de vida familiar, seus padrões de trabalho, cerimônias religiosas e ocupações de lazer. E afirma que [...] quando os sociólogos se referem à cultura, estão preocupados com aqueles aspectos da sociedade humana que são antes apreendidos do que herdados (GIDDENS, 2005, p.38).

Geertz (1989) entende a cultura como um padrão de significados que se expressam de formas simbólicas nos comportamentos, nas manifestações verbais e na forma como os indivíduos se relacionam entre si e dividem suas experiências, concepção e crenças.

Por cultura, é bom que se repita, se deve entender os costumes, a moral e as crenças (THOMPSON, 1995). Ao se estudar a cultura tem que se investigar o pensamento e a ação humana numa determinada sociedade (TYLOR, 1981). Em outras palavras há que se pesquisar a forma de vida dos membros de uma comunidade e como ela se relaciona com o meio ambiente, satisfazendo as necessidades humanas (MALINOWSKI, 2009). É aí que aparecem os saberes locais ou o conhecimento tácito.

Destaque-se a importância do conhecimento tácito que se encontra associado a contextos organizacionais e territoriais específicos, sendo transmitido e desenvolvido por meio de interações locais (POLANYI, 1992).

Deve-se chamar a atenção de como a sociedade apreende valores que se incorporam à cultura. Isto se dá através do aprendizado, que não se limita a ter acesso a informações. Consiste na aquisição e construção de diferentes tipos de conhecimentos e habilidades. É um processo onde as pessoas são participantes ativos na prática de uma comunidade, mas também desenvolvem suas próprias identidades em relação àquelas comunidades (HILDRETH; KIMBLE, 2002).

É importante destacar a ênfase que deve ser dada à criatividade humana. Castells (1999) e Balestrin e Vargas (2004), complementam referido raciocínio lembrando que as redes de colaboração são espaços onde a interação interorganizacional facilita a criação, a partilha e a utilização do conhecimento, e requerem articulação, cooperação, flexibilidade e interdependência das organizações: exigem gestão dos relacionamentos.

Como assinala Jarvis (1987), a experiência ou conhecimento tácito tem um papel fundamental no processo de aprendizagem, já que toda aprendizagem tem uma base experimental. Por essa razão a cultura e o patrimônio cultural das populações e comunidades devem ser levados em conta no processo de aprendizagem.

Como assinala Malinowski (2009) para atender as necessidades orgânicas básicas do indivíduo e da raça, a cultura vai refletir condições nutricionais, reprodutoras, higiênicas, entre outras.

A cultura consiste no conjunto integral dos instrumentos e bens de consumo, nos códigos constitucionais dos vários grupos da sociedade, nas ideias e artes, nas crenças e costumes humanos. [...] os seres humanos são uma espécie de animal. Sujeitam-se aos condicionalismos dos elementos, que há que satisfazer para que o indivíduo sobreviva, para que a raça se perpetue e para que todos os organismos se mantenham em boas condições de funcionamento (MALINOWSKI, 2009, p. 45).

Assim, ela acaba por retratar um padrão de vida resultante do comportamento humano.

2.4. Organização Produtiva

Como afirma Souza (2003, p. 24) "[...] o conceito de organização produtiva expandiu-se, passando a incorporar novos requisitos como produzir, vender e entregar melhor e mais barato que os concorrentes". Como foi dito no inicio do capítulo, tendo em vista que a pesquisa se volta para criadores de caprinos da agricultura familiar, deve-se revisar as principais características da organização produtiva na agricultura familiar.

Para Abramovay (1999) os agricultores familiares devem ter consciência que, para enfrentar a concorrência é necessário deixar de serem profissionais exclusivos da produção e começarem a se dedicar a venda, identificando os seus clientes e os seus nichos de mercado. O autor destaca, ainda, que a organização da comunidade permite, além de redução nos custos de transação dos negócios, a implantação de um ambiente de confiança entre os agricultores. Lembra que é preciso promover um ambiente social que os vincule ao mercado, que lhes permita se relacionar com instituições bancárias, de assistência técnica, com comerciantes, evitando atravessadores e bodegueiros como destino natural dos resultados do trabalho agrícola. É necessário ampliar o acesso às informações e à compra de insumos, complementa.

A produção pode ser mais facilmente viabilizada se houver a cooperação como elemento agregador, onde existam objetivos e metas compartilhados, iniciando-se um processo de economia solidária. A aprendizagem coletiva é um processo essencial, principalmente na troca de conhecimentos e experiências, eliminando interesses individuais, minimizando conflitos e estimulando processos cooperativos (SILVEIRA; HEINZ, 2005).

A cooperação é ainda pilar para o capital social que se acumula como resposta às crises, em outras palavras é a prática da cooperação que alicerça o capital social.  Assim, é fundamental valorizar os ativos ou recursos locais transformando-os em procedimentos produtivos e de comercialização (ABRAMOVAY, 1999).

Em função da necessidade de garantir uma renda adicional à agricultura familiar pode-se admitir, ainda, a transformação da produção pelo incremento de tecnologia, o que deve ser devidamente planejado e amadurecido. Na expectativa de ampliar a comercialização será necessário consolidar e atender aos padrões sanitários exigidos, para legalizar a atividade, o que vai exigir preparo do grupo e, pelo menos, um agricultor que se interesse pela atividade comercial. O processo de legalização da atividade deve ser, portanto, acompanhado de um processo de adaptação e de constante aprendizado entre agricultor, técnico e consumidor, de modo a superar os problemas oriundos da produção artesanal (DAVID; SULZBACHER, 2008). Como afiram Mior (2005) um dos maiores desafios da agroindústria familiar consiste na questão sanitária.

3. Metodologia

A pesquisa que originou o presente trabalho realizou-se na Comunidade de São Domingos, Sobral, Ceará, Brasil.

 Utilizou-se da abordagem qualitativa (MARTINS; THEÓPHILO, 2007) enquanto com relação aos procedimentos técnicos, trabalhou-se com a pesquisa bibliográfica com base em referencias teóricas já publicadas em livros, revistas, periódicos, artigos científicos, entre outros (SILVA, 2004) e com um levantamento documental.

Escolheu-se o estudo de caso (YIN, 2001),  dos criadores de caprinos integrantes do Projeto Cabra Nossa na Comunidade de São Domingos,  uma vez que se realizou uma pesquisa empírica para investigar um fenômeno contemporâneo. Utilizou-se, para a análise, a triangulação de dados, para dar mais solidez ao processo de pesquisa (VOSS; TSIKRIKTSIS; FROHLICH, 2002), que empregou como técnica de coleta de dados a observação participante, entrevista por pauta e o grupo focal.

A observação participante foi escolhida para se trabalhar fundamentalmente com os produtores rurais, em diversas situações, por ser uma técnica de coleta de dados para obter informações que utiliza os sentidos para captar aspectos da realidade. Não se resume apenas a um ver ou ouvir superficial. Diferente das percepções cotidianas, não intencionais e passivas, compreende uma busca deliberada, levada a efeito com cautela e predeterminação. Dessa forma, a observação possibilita meios diretos para se estudar uma série de atitudes comportamentais (GRESSLER, 2004). Ao se utilizar a observação participante buscava-se, deliberadamente, entender o movimento da caprinocultura na Comunidade e a atitude principalmente dos criadores de caprinos e das instituições de difusão de tecnologias que atuam no potencial APL.

Sabe-se que a entrevista é seguramente a mais flexível de todas as técnicas de coleta de dados de que dispõem as ciências sociais. No entanto, tendo em vista a heterogeneidade dos atores do APL que precisavam ser entrevistados, entre eles, técnicos agrícolas, produtores rurais, lideranças associativas, representantes e gestores de instituições públicas e consumidores, optou-se pelas entrevistas por pauta, porque dentre os vários tipos existentes elas são recomendadas, principalmente, nas situações em que os entrevistados não se sintam à vontade para responder às indagações formuladas com maior rigidez. Esta preferência por um desenvolvimento mais flexível da entrevista pode ser determinada pelas atitudes culturais dos respondentes ou pela própria natureza do tema investigado ou, ainda, por outras razões (GIL, 2008). Desse modo, por vezes, voltou-se aos entrevistados em períodos distintos, para completar as indagações pertinentes.

Finalmente, o grupo focal foi utilizado em três situações distintas que se colocou para os produtores rurais. Isto porque o grupo focal é uma técnica qualitativa de coleta de dados com a finalidade de obter respostas de grupos, a textos, filmes e questões.  A finalidade principal dessa modalidade de pesquisa é "extrair das atitudes e respostas dos participantes do grupo, sentimentos, opiniões e reações que resultariam em um novo conhecimento" (GOMES, 2005, p. 179).  Ressalte-se que os grupos focais eram homogêneos em termos de contexto de vida, já que todos pertenciam à comunidade de São Domingos, mas reuniam opiniões diferentes devido a experiências distintas. Utilizaram-se, nos três grupos focais realizados, pelos menos um relator (BARBOUR, 2009). Referidos grupos foram organizados para, cada um deles, responder a determinadas questões (MERTON; FISKE; KENDALL, 1956). Os encontros foram realizados em locais que favoreciam a interação entre os participantes, propiciando conforto aos mesmos para facilitar diferentes formas de registro.

Foram utilizados, como instrumentos para apontar os dados dessas técnicas de coleta, fichas registros, gravadores, bloco de notas e câmeras fotográficas (AMARAL; MELO; MEDEIROS, 2012). Particularmente, para registrar os dados da observação participante, foi utilizada a Ficha Registro adaptada de Morin (2004).

As informações foram tratadas utilizando-se a transcrição das fitas, planilhas Excel e o registro de fotos. No caso do registro de fotos, foi feito uso principalmente quando da técnica do grupo focal, já que a finalidade dessa modalidade de pesquisa é extrair das atitudes dos participantes do grupo, inclusive, reações.

4. Contextualização e Resultados

Para compreensão dos resultados apresentados no presente Artigo, inicia-se por uma contextualização da comunidade objeto de estudo. Em seguida, apresentam-se os resultados com base na pesquisa de campo e no referencial de literatura.

4.1 Contextualização

A Comunidade de São Domingos, Sobral, Ceará, Brasil, onde se realizou a pesquisa junto a uma população com experência na criação de caprinos, caracterizando um potencial APL de caprinocultura, surge na seca de 1989-1993, quando a pobreza e a miséria se alastravam em grande parte da zona norte do Estado do Ceará e no Município de Sobral. Por iniciativa do Paróco da Igreja Matriz iniciou-se um trabalho junto às famílias carentes, principalmente para combater a fome e a desnutrição. A cabra foi vista como a solução para o problema e nasce o Projeto "Cabra Nossa de Cada Dia", a partir de alguns animais doados à Paróquia, em 1993, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA Caprinos e Ovinos (TRANSFERETTI; MORAES, 2010).

Conforme destaca Barreto (2006) em Sobral, no ano de 1993, foram registrados 123 (cento e vinte e tres) óbitos de crianças entre o nascimento e 9 (nove) anos de idade. O Projeto Cabra Nossa de Cada Dia, objetivava, portanto, proporcionar melhor qualidade de vida às famílias carentes, assegurando alimentação de qualidade para crianças e idosos. Visava, também, contribuir para a formação de uma comunidade solidária, incentivar o desenvolvimento socioeconômico, o espírito comunitário e crítico e a perspectiva de novos projetos.

Na pespectiva de viabilizar o Projeto Cabra Nossa de Cada Dia foi criada uma rede de parceiros, liderados pela Paróquia.

São Domingos, com 70 (setenta) familias engajadas no Projeto, foi a primeira a iniciar o Projeto Cabra Nossa e, em abril de 2012, observou-se que existiam apenas  40 familías que se dedicavam à atividade e representavam 1/3 das 120 (cento e vinte) familias da Comunidade. Verificou-se, também, àquela época, abril de 2012, que o Projeto dispunha de um aprisco com capacidade para 250 animais, que estava funcionando com um terço de sua capacidade. Registrou-se, ainda, a existência de um sítio comunitário de 2,5 ha, com produção de frutas e verduras, principalmente manga, mamão, limão, acerola, goiaba, carambola e uma horta, cujo principal produto era o cheiro verde. 

Também a piscicultura, no açude Jaibaras era uma atividade desenvolvida, em parceria com a Prefeitura do município e, em menor escala, com a Companhia de Eletrificação do Ceará – COELCE, mostrando uma diversificação de atividades, característica da agricultura familiar.

A Comunidade mostrava um mínimo de organização: casas de alvenaria, calçamento, agua, energia, igreja - tendo como um dos símbolos a cabra -, escola para crianças e uma Associação Comunitária.

No tocante às tecnologias que foram colocadas à disposição dos produtores e ao padrão tecnológico que vinha sendo utilizado, pode-se perceber, em conversas com técnicos das Instituições que apoiavam o Projeto, que a geração e difusão de tecnologia eram feitas, principalmente com o apoio da Embrapa e da Ematerce, embora tenham se envolvido, também, especialistas da Prefeitura de Sobral e do Serviço de Apoio à Micro e Pequenas Empreass (Sebrae). Assim, foram trabalhadas, com os produtores integrantes do Projeto Cabra Nossa, técnicas de alimentação e manejo, fornecidas orientações quanto ao nascimento, ao desmame e a engorda, funções que deveriam ser planejadas, visando uma maior produtividade.

Além de tecnologias ligadas à produção de caprinos, onde os produtores receberam qualificações profissionais sobre manejos adequados, os integrantes do Projeto Cabra Nossa foram capacitados também na produção de doces de leite e queijos e na fabricação de artesanato. Mais uma vez, a característica de agricultores familiares,  fazia com que  lhes capacitassem , também, sobre o cultivo adequado de plantas, inclusive medicinais,

Quanto à organização produtiva, registrou-se que a Comunidade apresentava um processo de organização reflexo do próprio Projeto Cabra Nossa de Cada Dia, estrutura, coordenada e coletiva, que se espelhava na organização para a produção do sitio, no aprisco comunitário e nas atividades de piscicultura, também realizadas em regime de mutirão

4.2 Resultados

Apesar de todas as vantagens do Projeto, conforme se pode perceber na contextualização, observou-se, porém, na pesquisa de campo, que o Cabra Nossa de cada dia, não vinha conferindo protagonismo, autonomia, nem possibilitando estratégias de organização produtiva e de convivência com o semiárido aos que nele se envolviam.

A renda obtida das várias atividades da agricultura familiar, entre elas a venda de animais vivos do aprisco era muito precária. Por outro lado, notava-se indícios de cooperativismo, fruto da experiência vitoriosa do Projeto Cabra Nossa.

Uma análise dos eventos obtidos nas diversas técnicas de coleta de dados, respaldada no referencial teórico, permite resumir e trazer as seguintes discussões:

  1. a cultura da inovação é limitada, o que dificulta a geração de renda;
  2. efetivamente existe um desinteresse dos produtores pelas tecnologias difundidas;
  3. por sua vez as práticas locais não são consideradas, ou seja a experiência dos criadores não é levada em conta;
  4.  é necessário que as experiências do grupo sejam consideradas no processo de difusão;
  5. há uma inadequação do processo de difusão, inclusive pela falta de diálogo entre técnicos e produtores;
  6. é importante que os produtores possam apontar suas necessidades quando da definição das tecnologias a serem geradas e difundidas;
  7. o conhecimento tácito, que representa os saberes locais e que são fundamentais no processo de inovação, não parece ter sido levado em conta;
  8. os mitos da Comunidade são desconsiderados;
  9. a origem dos criadores,  de um programa de segurança alimentar, faz com que tenham dependências institucionais que dificultam a capacidade de vencer obstáculos e, consequentemente, a inovação;
  10. as características de agricultura familiar da Comunidade, de se dedicar a várias atividades, simultâneamente, provocam inconstância na organização produtiva, fazendo com que os produtores não se fixem em uma única atividade, dificultando a especialização e o conhecimento mais profundo dos mercados;
  11. a tradição cultural não é o único fator a impactar a organização produtiva;
  12. os criadores de caprinos apesar de possuírem uma Associação Comunitária, vinham atravessando um momento difícil, onde o individualismo prevalecia sobre a cooperação, acrescido do fato que a organização produtiva era insuficiente para gerar renda em qualquer atividade;
  13. faltava aos produtores capacidade empreendedora e de gestão, o que resultava em falhas na organização produtiva quanto aos aspectos da comercialização. Isto porque os produtores eram assistidos apenas no processo criatório, nada existindo no tocante à gestão e ao emprendedorismo;
  14. os produtores tinham dificuldades em estruturar negócios decorrentes da cultura local, não só por falta de domínio dos mercados dos bens oriundos de sua produção, o que mostrava a necessidade de preencher vazios no fluxo do conhecimento, o que lhes permitiria vir a ocupar nichos de mercado;
  15. a falta de informações de mercado, que não é privilégio da caprinocultura, mas que se mostrou nos mais diversos segmentos; a desorganização produtiva evidenciada pela falta de produtos e processos bem definidos; assim como a falta de informações sobre oportunidades da cadeia produtiva da caprinocultura, comprometem a perspectiva de negócios, dificultando, cada vez mais, as fontes de renda;
  16. os produtores não possuem, portanto, visão e interação na cadeia produtiva da caprinocultura, e o relacionamento com os outros atores do APL é tênue ou inexistente, como no caso dos agentes financeiros. Esse fato vai requerer, das autoridades constituidas, um trabalho de interação e visão sistêmica;
  17. os produtores demonstraram interesse em conhecer e ganhar dinheiro com outras atividades da cadeia produtiva da caprinocultura, o que será viável, uma vez que foi constatado existirem pessoas na Comunidade com perfil empreendedor tanto em comércio como no processo de beneficiamento. Por outro lado, a receptividade dos integrantes da Comunidade para proposta de integração da cadeia produtiva e com os demais atores do APL, a partir da ideia da produção de derivados lácteos, ratifica a possibilidade de ampliação de renda;
  18. evidenciou-se, que informação e conhecimento, assim como criatividade, são fatores de motivação para novas tecnologias;
  19. ficou claro, também que tecnologias apropriadas despertam interesse no processo de difusão e, consequentemente, reanimam à caprinocultura;
  20. por outro lado, verificou-se que: tecnologias apropriadas, capacitações especializadas e treinamentos cooperativos, são capazes de estimular a organização produtiva;
  21.  da mesma forma, observou-se que garantia de mercado, assim como informação e conhecimento, são capazes de motivar os criadores e estruturar a organização produtiva;
  22. foi comprovado, ainda, que aspectos como estímulos a atitudes empreendedoras contribuem para a organização produtiva e impactam as condições econômicas; e, finalmente,
  23. sabe-se, também que, a herança do capital social, consequência do projeto de segurança alimentar, poderá revitalizar a organização produtiva gerando renda em qualquer atividade. Tal assertiva parece ser verdadeira na medida em que se constatou a importância de uma liderança aglutinadora, trazendo motivação para que os produtores respondessem a uma capacitação em associativismo.

5. Considerações Finais

O estudo permite afirmar que existe um desinteresse dos produtores pelas tecnologias difundidas devido a que as experiências ou conhecimentos tácitos não são considerados, já que falta diálogo entre técnicos e produtores, fatos que desanimam os caprinocultores.

Para medir até que ponto a cultura e os saberes locais asseguram condições econômicas, sociais e ambientais, visualizou-se de que forma referidos valores influenciam a organização produtiva. Pode-se perceber que a produção da comunidade é pouco impactada pela tradição cultural da caprinocultura, prevalecendo as características de agricultores familiares, sem que se fixem em uma única atividade. Da mesma forma, foi notada insuficiente cultura de inovação e muita dependência institucional, reflexo do fato de virem de um programa de segurança alimentar.

Convém ressaltar um aspecto cultural forte e negativo sobre a possibilidade de fazer da caprinocultura um projeto que proporcione sustentabilidade: os produtores associam a cabra à pobreza. Tal fato é agravado pelo falta de informações de mercado, o que compromete a perspectiva de negócios e, consequentemente, a renda. Há, no entanto, uma expectativa de, utilizando-se do capital social já existente e investindo-se em tecnologias sociais, capacitações profissionais especializadas e treinamentos cooperativos, estimular a organização produtiva, gerando sustentabilidade econômica e social e ambiental.

Visando identificar os processos que permitem à Comunidade inovar e se colocar no mercado, analisou-se a relação entre os atores do APL, o fluxo do conhecimento e as condições econômicas e socioambientais. Concluiu-se que os produtores não possuem interação na cadeia produtiva da caprinocultura e o relacionamento com os outros atores do APL é tênue ou inexistente. A falta de elos na cadeia produtiva é explicada pela pulverização de atividades, características da agricultura familiar. A interrupção no fluxo de conhecimento dificulta a estruturação de negócios decorrentes da cultura local. Apesar do capital social existente, os produtores se ressentem de capacidade empreendedora e de informações sobre gestão e comercialização. No entanto, a motivação percebida por ganhar dinheiro, associada ao fato de existir na comunidade pessoas com perfil empreendedor, sinalizam a possibilidade de ampliação de renda com reflexo na sustentabilidade econômica e socioambiental.

Do acima exposto é possível concluir que o SLI, vem ignorando a cultura e os saberes locais e não é capaz de promover a organização produtiva, comprometendo a consolidação do APL.

Por outro lado, o fato da Comunidade ter herdado um capital social fruto do projeto de segurança alimentar, permite inferir que referido capital social, integrando o SLI, pode ser capaz de, mais rapidamente, impulsionar o potencial APL da caprinocultura daquela comunidade.

Com a consolidação de referido APL, a produção que até o momento se destinou, fundamentalmente, ao autoconsumo familiar, poderá garantir inclusão produtiva e, como tal, sustentabilidade econômica, social e ambiental.

Dessa forma, a geração de renda estará associada a um processo de gestão, com foco na autogestão. Será necessário incentivar o associativismo, o cooperativismo, o empreendedorismo e o trabalho em equipe, assim como habilidades de gestão que tendem a possibilitar ao trabalhador a tomada de decisão.

6. Conclusões

A partir das considerações acima apresentam-se, a seguir, algumas recomendações visando a gestão da inovação, que permita incorporar no Sistema de Inovação a organização produtiva e as culturas e os saberes locais.

Inicialmente torna-se fundamental que o gestor da inovação ou responsável pela sinergia entre os diversos atores do APL facilite para que as instituições produtoras e difusoras de tecnologias ouçam os anseios, a experiência e a realidade dos produtores, para trabalhar de forma eficaz.

De igual forma, faz se necessário que o gestor do processo de inovação providencie informações, capacitações e treinamentos, inclusive gerenciais para permitir uma melhor organização produtiva.

Visando estimular o vínculo entre agentes econômicos, políticos e sociais e promover o capital social existente o gestor da inovação deve promover uma estrutura de articulação entre esferas públicas e privadas.

Resumindo, cabe ao gestor da inovação reunir os diversos atores institucionais que vêm atuando no território de forma isolada, promovendo um planejamento e uma sinergia que levem em conta conhecimento tácito e científico, resultando numa eficaz organização produtiva que promova a inovação.

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