Espacios. Vol. 37 (Nº 18) Año 2016. Pág. E-2
Fabiane FABRI 1; Tânia Mara NIEZER 2; Sani de Carvalho Rutz da SILVA 3; Rosemari Monteiro Castilho Foggiatto SILVEIRA 4
Recibido: 28/02/16 • Aprobado: 16/03/2016
2. Utilização do Laboratório virtual no ensino de Química com Enfoque CTS
3. O enfoque CTS e a Alfabetização Cientifica e Tecnológica
RESUMO: O estudo tem como objetivo apresentar um encaminhamento metodológico realizado em sala de aula na disciplina de Química, com alunos da 2a série do Ensino Médio da cidade de Rio Negro/PR. Buscou-se verificar as contribuições da utilização de um recurso didático: Laboratório virtual de Química, com enfoque sobre Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS) na perspectiva da Alfabetização Científica e Tecnológica (ACT), para a aprendizagem dos conceitos científicos pelos alunos. Utilizou-se a abordagem metodológica qualitativa de natureza interpretativa, com observação participante e a coleta de dados se deu por meio de arguições orais e atividades realizadas pelos alunos. |
ABSTRACT: The study intends to present a methodological routing performed in the classroom in the subject of chemistry, with students of the 2nd year of high school in the city of Rio Negro / PR. We attempted to verify the contributions of using a teaching resource: Virtual Laboratory of Chemistry, focusing on Science-Technology-Society (STS) in view of the Scientific and Technological Literacy (STL) and the learning of scientific concepts by students. We used a qualitative approach to interpretation, with participant observation and data collection was carried out through oral daily graded recitations and activities performed by the students. |
Em tempos em que o acesso à informação está cada vez mais disponível aos jovens, um dos desafios dos professores que lecionam para o Ensino Médio, está em atrair o interesse do aluno para a aula de modo a conduzi-los a perceber a importância de se apropriar do conhecimento científico para que sejam capazes de resolverem com maior facilidade e consciência problemas cotidianos, como sugerem Santos e Schnetzler (2003).
No caso do ensino de Química outros fatores acentuam essa dificuldade de aprendizagem. Percebe-se que muitos alunos do Ensino Médio, não conseguem estabelecer relações entre os conceitos químicos apresentados em sala de aula e as modificações que ocorrem no meio em que vivem. Neste entorno considera-se ainda, a falta de infraestrutura em laboratórios de química, que devido ao alto custo para equipá-los e mantê-los tornam-se inviáveis para a escola (Silveira, Nunes e Soares, 2013), contribuindo para descaracterizar a relação teoria e prática da disciplina, impossibilitando ao professor de ministrar aulas experimentais, o que poderia melhorar entendimento pelo aluno.
A falta de laboratórios que possibilite ao docente promover aulas experimentais, segundo Bottentuit Junior e Coutinho (2007), faz com que a disciplina de Química esteja metodologicamente defasada, vazia de significados e descontextualizada, o que sugere uma reflexão sobre seu processo de ensino e aprendizagem.
Assim, nesse estudo analisou-se como o uso de simuladores virtuais, disponíveis gratuitamente na internet, pode suprir um pouco a falta dos laboratórios experimentais e contribuir com o aprendizado dos conceitos químicos pelos alunos de 2ª série do Ensino Médio, com reflexões CTS possibilitando a alfabetização científica e tecnológica, considerando que os laboratórios virtuais didáticos, pois são ferramentas acessíveis que podem tornar o ensino de Química lúdico e atrativo para o aluno.
Para o desenvolvimento deste estudo, utilizou-se o Laboratório Virtual de Química LabVirt-USP (disponível em: http://www.labvirtq.fe.usp.br/indice.asp), que apresenta links com simulações onde os alunos podem visualizar por meio de animações conteúdos de Química. Os conceitos químicos são apresentados pelas simulações em forma de histórias ilustradas envolvendo situações cotidianas. Para resolver os problemas encontrados os personagens precisam ter conhecimento de conteúdos relacionados com a Química, possibilitando um aprendizado interessante com demonstração de sua aplicação real. Após acessarem algumas simulações os alunos foram instigados a produzirem suas próprias histórias, reescrevendo em uma linguagem mais acessível e divertida textos encontrados em Revistas de Divulgação Científica (RDCs), com o propósito de incluírem em seu enredo a apresentação de conceitos químicos.
A possibilidade de se promover nas aulas de Química, situações de apresentação e problematização de conhecimentos científicos, num movimento dinâmico com reflexões acerca das influências da ciência e da tecnologia na sociedade, pode ocorrer por meio do enfoque CTS. De acordo com Silveira (2007), Pinheiro (2005) e Koespsel (2003), o enfoque CTS consiste na abordagem de temas controversos que permitem discussões e questionamentos sobre as implicações da ciência e da tecnologia na sociedade.
Dentro das abordagens possíveis para a aplicação do enfoque CTS nas aulas de Química, este estudo considerou a utilização de um laboratório virtual como opção metodológica.
Bottentuit Junior e Coutinho (2007) afirmam que,
a criação dos laboratórios virtuais surgiu da necessidade do uso dos laboratórios em tempo real, ou seja, com acesso a qualquer hora do dia e por um grande número de pessoas, já que um único experimento pode ser compartilhado por dezenas de pessoas, estando elas na mesma cidade ou geograficamente dispersas, além da questão dos custos na utilização de um laboratório real que torna em muitos casos bastante oneroso para as empresas ou instituições. A disponibilização dos laboratórios virtuais é geralmente feita através da Internet ou através de meios físicos e eletrônicos como CD-ROMou DVD.
No entanto, utilizar uma tecnologia como recurso didático, requer organização pedagógica por parte do professor, com objetivos definidos que tornem compatíveis os conceitos científicos com a linguagem apresentada pelo instrumento digital, sendo compreensíveis para o aluno.
Neste estudo, o laboratório virtual de aprendizagem escolhido foi o LabVirt Química (Laboratório Didático Virtual na área de Química) buscando em seu projeto:
que alunos de ensino médio adquiram um papel ativo e motivador como autores/criadores de situações que envolvam seus temas curriculares de química e que as suas ideias sejam efetivamente transformadas em simulações através de uma rede colaborativa entre a universidade e a escola. Neste contexto, os alunos desenvolvem trabalho e pesquisa orientada em sala de aula, levando-os a produzir roteiros, uma vez revisados por educadores, são encaminhados à universidade onde são transformados em simulações e publicadas no portal web do projeto (www.labvirt.futuro.usp.br) (NAVAS, INFANTE-MALACHIAS, NUNES, FEJES, 2005, p. 02).
Por ser um trabalho produzido por ou para alunos do Ensino Médio, entende-se que sua linguagem seja acessível e de fácil entendimento, abordando a resolução de problemas encontrados em situações cotidianas com base na compreensão dos conceitos químicos, sendo que uma das propostas do uso de tecnologias na educação sugere transformar informações em conhecimento vivenciado. No caso do referido laboratório virtual, as simulações disponíveis são apresentadas por meio de histórias ilustradas que associam conceitos químicos a acontecimentos diários, demonstrando de forma lúdica a vivencia dos conceitos químicos.
Nesse estudo utilizou-se o laboratório virtual de maneira contextualizada com questões controversas do cotidiano dos alunos em um enfoque Ciência Tecnologia e Sociedade, visando a ACT.
Na medida em que se busca, na escola, a compreensão do conhecimento científico, de suas condições de produção e utilização, faz-se necessário possibilitar a interação dos alunos com os elementos científicos e tecnológicos da vida social.
A Ciência e a Tecnologia trazem consequências para a sociedade e para o meio ambiente. O professor, juntamente com a sua turma, precisa abordar temas curriculares pertinentes, que fazem parte da vivência de seus alunos e, a partir daí, desenvolver um trabalho relacionando à Ciência e à Tecnologia, seus impactos, suas vantagens e desvantagens. Segundo a Unesco (2005, p.2):
Se é indiscutível a importância da ciência e tecnologia para o desenvolvimento econômico e social do país, é preciso reconhecer que entre os condicionantes desse desenvolvimento estão uma educação científica de qualidade nas escolas; a formação de profissionais qualificados; a existência de universidades e instituições de pesquisas consolidadas; a integração entre a produção científica e tecnológica e a produção industrial; a busca de solução dos graves problemas sociais e das desigualdades.
Uma educação científica busca preparar o aluno para que saiba conviver com o avanço científico e tecnológico refletindo sobre os impactos, fazendo com que ele saiba se posicionar diante das situações que emergirem ao seu redor desde os anos iniciais até níveis superiores transformando os saberes do senso comum em conhecimentos mais elaborados. Chassot (2004) questiona o papel da escola diante dos saberes populares, segundo o autor a escola acaba priorizando os conhecimentos científicos e deixa de lado o saber popular que se encontra neles inserido. É importante usar os conhecimentos que fazem parte de suas vivências evoluindo esses conhecimentos, não os ignorando, mas aproveitando-os da melhor forma possível.
A humanidade vive sob a influência marcante acerca do avanço científico e tecnológico. Segundo Bazzo (2010) muitas pessoas acabam confiando na Ciência e na Tecnologia, como se confiam em uma divindade. Diante disso se faz necessário e urgente, segundo o autor, fazer avaliações da Ciência e da Tecnologia bem como de suas consequências na sociedade, sendo fundamental, promover debates e discussões em todas as escolas, desmistificando, assim Ciência e Tecnologia.
Nesse sentido, CTS "pode ser entendido como uma área de estudos onde a preocupação maior é tratar a ciência e a tecnologia tendo em vista suas relações, consequências e respostas sociais". (BAZZO, 2002, p.93)
O autor apresenta que, "na realidade, a ciência e a tecnologia não estão apenas conformando as nossas vidas para melhor, mas também, em muitas situações, fazendo-as mais perigosas". (BAZZO, 2010, p.113) e que os estudos CTS podem contribuir para reflexões acerca dessas situações. Bazzo (ibidem, p.186) reforça:
Os estudos CTS constituem a resposta por parte da comunidade acadêmica – mesmo que em certas situações como elemento de fachada – à crescente insatisfação com as concepções tradicionais da ciência e da tecnologia, aos problemas políticos e econômicos decorrentes do desenvolvimento científico-tecnológico e aos movimentos sociais de protestos que surgiram nos anos 1960 e 1970.
Assim, os estudos CTS constituem, atualmente, um vigoroso campo de trabalho, buscando entender o fenômeno científico e tecnológico no contexto social, tanto na relação com suas condicionantes sociais, quanto no que se refere às suas consequências sociais. (CEREZO, 2002). Cerezo (2002, p.3) ainda contribui:
O enfoque geral é de caráter crítico, com respeito à clássica visão essencialista e triunfalista da ciência e da tecnologia, e também de caráter interdisciplinar, abordando-se nele disciplinas como filosofia e história da ciência e tecnologia, sociologia do conhecimento científico, teoria da educação e economia da mudança tecnológica.
A Ciência e Tecnologia não são consideradas como um processo autônomo, que segue uma "lógica interna de desenvolvimento em seu funcionamento ótimo, mas como um processo ou produto inerentemente social" (CEREZO, 2002, p.6). Assim, os elementos não técnicos como valores morais, interesses, convicções, pressões econômicas entre outras acabam desempenhando um papel decisivo na sua gênese e consolidação.
Neste estudo a abordagem metodológica utilizada foi a qualitativa de natureza interpretativa com observação participante em que se considerou o contexto escolar, em específico a sala de aula, como seu principal foco de investigação. Esse tipo de pesquisa segundo Moreira e Caleffe (2008), possibilita ao pesquisador entrar no mundo social dos participantes do estudo. A coleta de dados se deu por meio das arguições orais dos alunos e as próprias atividades realizadas em sala.
Os dados coletados foram obtidos nas aulas de Química em duas turmas de 2as séries do Ensino Médio do Curso Técnico em Agropecuária na modalidade integrada, de um Centro Estadual de Educação Profissional da cidade de Rio Negro no Paraná, totalizando 55 alunos, sendo 51 homens e três mulheres, com idade entre 16 a 18 anos. O estudo foi realizado nos 1o e 2o bimestres do ano letivo de 2011, contemplando 10 horas/aulas de 50 minutos da disciplina de Química, relacionando preferencialmente o conteúdo de Soluções químicas.
Para garantir o anonimato foram utilizados números identificando o aluno com a indicação da turma ao qual fazia parte.
O Laboratório Virtual de Química escolhido para realizar este trabalho foi o LabVirt-USP disponível em: http://www.labvirtq.fe.usp.br/indice.asp. Esse recurso possui links com simulações onde os alunos podem visualizar por meio de animações conteúdos de física e química.
A escolha desse simulador virtual recaiu pela variedade de conceitos químicos abordados nas histórias, sendo que na sequência, a proposta sugere que os próprios alunos construam suas histórias relacionando os conteúdos da Química estudados e os textos escolhidos das RDCs.
Para isso, inicialmente os alunos foram instigados a conhecerem o laboratório virtual de aprendizagem LabVirt – USP, visualizando e realizando diversas simulações. Posteriormente, os alunos escolheram um texto apresentado nas RDCs selecionadas e reescreveram seu conteúdo em forma de história, numa linguagem que facilitasse sua interpretação pelos leitores. As histórias foram organizadas em forma de livros ilustrados, sendo estes expostos para a comunidade escolar no dia de visitação compreendido no calendário escolar.
Para tanto, as atividades que englobam essa categoria de análise envolveram o trabalho com diferentes temas controversos encontrados em artigos de Revistas de Divulgação Científica. A variedade de temas apresentados deve-se ao fato de que os alunos escolheram um artigo ou texto de seu interesse, porém que abordassem em seu conteúdo, conceitos químicos. As RDCs utilizadas pelos alunos foram Galileu, Globo Rural e Superinteressante.
Para o desenvolvimento das atividades, os alunos selecionaram temas controversos como: lixo, energia nuclear, transgênicos, desgaste dos recursos naturais, agropecuária, drogas, camada de ozônio e petróleo.
Após a leitura e reflexões sobre as relações entre o conteúdo da RDC e os conceitos químicos, os alunos, em duplas, elaboraram uma história ilustrada, transformando o assunto em uma linguagem química mais acessível e de fácil compreensão, considerando leitores diversificados. A inserção na didática de trabalho, de atividades que auxiliem os alunos na compreensão dos conceitos atribuídos à ciência, por meio de leitura, interpretação e reconstrução de textos científicos, pode possibilitar o processo de aprendizagem da Química de forma dinâmica, interessante e que promova a ACT, como respaldam Mortimer (2000) e Chassot (2010).
Em contrapartida, o aluno de Ensino Médio, como agente ativo no processo, tem a possibilidade de criar seus personagens, elaborar um contexto, construir seu enredo, escolhendo a melhor forma de apresentação da sua história, utilizando-se de diversificados materiais para repassar a mensagem. O aluno compreende que a interpretação da sua história depende da maneira como organiza as informações, como contextualiza os conceitos científicos e os relaciona com as ilustrações. Dessa maneira a Química torna-se interessante e divertida, deixando de ser encarada como uma disciplina alheia a nossa realidade, que por anos se caracterizou como determinante no processo de retenção escolar.
Dentre os livros confeccionados pelos alunos, foram escolhidos quatro para serem reproduzidos e enviados às escolas do município, os demais trabalhos foram digitalizados e postados no blog da escola, como forma de divulgar o conhecimento produzido em sala, valorizando o aprendizado e promovendo a nível social local a ACT. Acredita-se que esta possibilidade de divulgação dos trabalhos dos alunos, valoriza o conhecimento por eles construído, popularizando os conceitos científicos e tecnológicos.
Na sequência, apresenta-se um dos livros elaborados pelos alunos, intitulado de "João em: Usinas em Crodontópolis", escolhido para ser socializado entre outras escolas do município.
Figura 1. Livro "João em: Usinas em Crodontópolis"
Fonte : NIEZER (2012)
O trabalho em questão traz em seu enredo um problema cotidiano, sobre a implantação de uma usina nuclear na cidade. Interesses políticos e financeiros são apresentados pelos alunos contrapondo o bem estar da população da cidade que se mobiliza para evitar a instalação das usinas. O texto traz reflexões sobre aspectos químicos relacionados com a radioatividade seus benefícios, mas principalmente as consequências de um desastre nuclear. Por meio dessa história que foi elaborada a partir de um artigo encontrado em revista de divulgação científica, entende-se que o conhecimento químico adquiriu significado para o aluno possibilitando a aprendizagem com perspectivas à alfabetização científica e tecnológica.
O desenvolvimento das atividades deste estudo podem ser estruturadas em 9 etapas conforme apresenta o quadro 1 a seguir:
Etapa |
Atividade desenvolvida em sala |
Responsável pela ação |
Tempo de hora/aula |
1ª |
Acessar o laboratório virtual LabVirt para conhecimento das simulações químicas |
Professora/ alunos |
2 aulas de 50 min |
2ª |
Analise e discussão das simulações virtuais |
Professora/alunos |
2 aulas de 50 min |
3ª |
Seleção das RDCs a serem utilizadas em sala de aula |
Professora/alunos |
1 aula de 50 min |
4ª |
Análise dos textos encontrados nas RDCs que apresentassem temas controversos relacionados com o estudo da química. |
Alunos(em duplas) |
1 aula de 50 min |
5ª |
Escolha do artigo ou texto de interesse para ser trabalhado. |
Alunos(em duplas) |
1 aula de 50 min |
6ª |
Leitura e análise do artigo ou texto escolhido e interpretação dos conceitos químicos apresentados. |
Alunos(em duplas) com auxílio da professora |
1 aula de 50 min |
7ª |
Reestruturação do artigo ou texto da RDC em uma linguagem mais acessível em forma de história ilustrada. |
Alunos(em duplas) com auxílio da professora |
2 aulas de 50 min |
8ª |
Montagem dos livros a partir das histórias ilustradas elaboradas com base nos artigos e textos das RDCs. |
Alunos(em duplas) com auxílio além da professora pesquisadora - Química,contou também com os de Língua Portuguesa e Arte. |
1 aula de 50 min e tempo extraclasse |
9ª |
Digitalização dos livros e inserção no blog da escola |
Alunos e professora |
Extraclasse |
Quadro 1 – Síntese do desenvolvimento das atividades
Para a análise e discussão dos resultados foram coletados os dados durante as nove etapas de desenvolvimento das atividades conforme sintetiza o quadro 1.
Para demonstrar que os conceitos químicos estão relacionados com aspectos cotidianos sendo importantes na tomada de decisões os alunos, em duplas os alunos foram até a sala de informática da escola e tiveram acesso ao laboratório virtual de química LabVirt. Foi priorizado o acesso para as simulações que apresentavam relações com o conteúdo de Soluções químicas por ser este o foco de estudo do bimestre letivo, porém, como os conceitos químicos estão interligados se interrelacionando na explicação dos fenômenos, outros conteúdos puderam ser explorados.
Por meio de simulações contadas em uma sequência narrativa dos conceitos químicos os alunos observaram a contextualização do conhecimento científico no enredo da história em que solicita muitas vezes a resolução de problemas para dar continuidade ao texto.
Na sequência apresenta-se a figura 2 como sendo um exemplo de simulação disponível no referido LabVirt. No caso da figura 2, a história aborda conceitos sobre Soluções químicas como concentração e diluição na preparação de alimentos em conserva:
Figura 2. Imagem de simulação
Fonte :http://4.bp.blogspot.com/
Em sala de aula, foi realizada a discussão pelos alunos sobre as simulações acessadas, suas relações cotidianas com os aspectos do estudo da Química. A pontuação do Aluno 32 – Turma A resume a dos demais alunos quando declara que, a leitura das histórias contextualizados apresentados nas simulações auxilia na compreensão dos conceitos químicos, sendo uma possibilidade de tornar a linguagem química mais compreensível, como defendem Mortimer (2000) e Roque e Silva (2008).
Nesse entorno, as simulações do Labvirt contribuíram para que os alunos associassem que muitas situações cotidianas apresentam relações com conceitos químicos sendo apresentadas no laboratório virtual numa linguagem mais acessível. Dessa forma, a proposta de trabalho apresentada aos alunos contemplou em transcrever os conceitos químicos e informações apresentados nos textos e artigos da RDCs na estrutura de um enredo ilustrado que possibilitasse maior contextualização e compreensão do leitor sobre o conteúdo científico, como pode ser visualizado nas simulações do Labvirt.
Na sequência, os alunos foram instigados a pesquisarem em RDCs, artigos ou textos a serem reestruturados na forma de um livro digitalizado. Percebeu-se que o processo de seleção apresentado pelos alunos foi por afinidade e interesse pelo tema, não havendo outros fatores interferentes.
A etapa 6 que caracteriza as atividades de leitura do artigo ou texto escolhido e interpretação dos conceitos químicos apresentados, permitiu que os alunos relembrassem conceitos químicos estudados na série anterior, dentre eles: funções inorgânicas, ligações químicas, separação de misturas e classificação periódica, como percebido pela fala do Aluno 05 – Turma B: "aqui fala sobre o monóxido de carbono e o trióxido de enxofre que são óxidos que estudamos no ano passado".
Percebeu-se que a partir do texto escolhido para desenvolverem sua história, todos alunos envolvidos refletiram sobre as questões sociais da ciência e da tecnologia, como se observa na fala do Aluno 19 – Turma B chama a atenção para a escassez dos recursos naturais e para a questão do lixo tecnológico encontrado no artigo selecionado:
A ciência elabora teorias, explica e faz as coisas para gerar produtividade. Essa produtividade depende da tecnologia a ser adotada, mas a sociedade vai se acostumando à medida que aparece mais coisas novas com mais informações e qualidade, o outro produto é esquecido. Há uma grande responsabilidade desses setores onde algo pode ser reaproveitado. Essa demanda de novos produtos causa a escassez de recursos naturais e aumenta a quantidade de lixo tecnológico descartado no meio ambiente.
O aluno percebe que a sociedade e o mundo natural estão à mercê das descobertas da CT, recebendo mais consequências do que benefícios como discutem Pinheiro, Silveira e Bazzo (2007).
Em relação ao tema relacionado à agricultura encontrado em outro texto de uma RDC, o Aluno 04 – Turma A, analisa que: "os interesses ligados ao problema discutido nessa reportagem, referem-se à maior produtividade nas lavouras e mais dinheiro para os agricultores, como para as indústrias de agrotóxicos".
Por meio das falas da maioria dos alunos (93%), percebe-se que houve reflexão e discussão sobre os temas controversos apresentados pelo texto selecionado da RDC. Essa atividade reflexiva pode contribuir para o processo de alfabetização científica e tecnológica (ACT) que se apresenta como uma possibilidade do aluno em constituir a apropriação de uma cultura científica e do uso dos seus códigos para explicar os fatos e fenômenos que o cercam, relacionando as manifestações do Universo com o conhecimento adquirido em sala de aula (AULER, 2003; AULER e DELIZOICOV, 2001; CHASSOT, 2010; DEMO, 2010).
Ainda nesse contexto, Santos e Auler (2011) apontam para a necessidade de trazer para a sala de aula as reflexões sobre as implicações e responsabilidades da ciência e da tecnologia na sociedade, sendo que os temas controversos apresentados pelas reportagens possibilitam essa articulação como cita o Aluno 29 – Turma B:
A ciência e a tecnologia devem trabalhar juntas para desenvolver produtos e técnicas que não sejam tão prejudiciais para a saúde, desenvolvendo pesquisas e informando a sociedade para que a mesma possa atuar de acordo com as novas descobertas. (Aluno 29 – Turma B)
O apontamento do aluno demonstra as reflexões possibilitadas pelas atividades que desmistificam a neutralidade da ciência e da tecnologia evidenciando seus impactos no contexto social, como sugerem Santos e Schnetzler (2003), Bazzo (2010) e Koepsel (2003).
Dessa forma, após interpretarem as informações trazidas pelos textos, as duplas se concentraram em organizar um enredo para desenvolverem suas histórias com ilustrações, referente ao que discutiram e analisaram. Alguns alunos, inicialmente, apresentaram dificuldades em escrever uma história com personagens que englobasse o assunto do texto da RDC e os conceitos químicos estudados. No entanto, com auxílio dos professores de Língua Portuguesa e Arte, as histórias foram criadas e ilustradas pelos alunos.
Durante a criação dos trabalhos, os alunos demonstraram-se entusiasmados em serem autores de um livro. Exemplificando esse fato, menciona-se a fala do Aluno 24 – Turma A: "eu achei muito legal construir esse livro, no início pensei que iria ser mais difícil, mas na verdade foi bem divertido".
Como cada dupla de alunos escolheu um tema controverso para trabalhar, ao final, os livros confeccionados abordavam assuntos químicos diversificados o que despertou o interesse dos alunos em conhecerem as produções dos colegas, como relata o Aluno 19 – Turma B: "A construção dos livrinhos foi muito legal. As histórias eram interessantes e divertidas, falando de assuntos relacionados com os problemas do mundo que envolve a química. A gente ficou sabendo um pouco de cada coisa lendo as histórias".
Os livros foram digitalizados com auxílio de um profissional da área de informática e disponibilizados no site do colégio, o que elevou a estima dos alunos, como declara o Aluno 03 – Turma B: "vi o meu livro no site do colégio, achei legal, que bom que reconheceram nosso trabalho".
O fato de terem seus livros expostos no site do colégio valorizou o trabalho dos alunos. Percebeu-se que estavam apreensivos com a percepção e os comentários dos visitantes do site. O Aluno 12 – Turma B declarou que se soubesse que tantas pessoas iriam olhar seu trabalho, teria caprichado mais.
A socialização dos trabalhos realizados pelos alunos demonstra que o ensino de Química associado ao uso dos recursos virtuais atendeu a perspectiva tecnológica estendeu sua dimensão social promovendo e efetivando a valorização do processo democrático do conhecimento científico, passando a ultrapassar as barreiras da sala de aula, atingindo a comunidade escolar e mostrando suas implicações e relações aos aspectos cotidianos da vida humana. Entende-se que o uso de laboratórios virtuais associados ao enfoque CTS, pode proporcionar aos alunos uma alfabetização cientifica e tecnológica contribuindo para a sua formação cidadã.
Considerando os relatos apresentados na análise deste estudo, a Química associada ao uso de simulações encontradas no laboratório virtual escolhido (LabVirt), proporcionou aos alunos maiores subsídios para que participem efetivamente nas atividades de discussão sobre as relações entre a ciência e a tecnologia e suas implicações sociais, possibilitando-os refletirem criticamente sobre sua importância como cidadão, nas modificações do mundo natural. Nesse sentido, o estudo de temas controversos apresentados em artigos e textos de RDC, contribuiu muito para as análises e reflexões sobre a linguagem química apresentada no contexto social como forma de compreender as transformações do mundo. Como descrevem Santos e Mortimer (2002), as atividades incluindo temas sócio-científicos abrem espaço ao desenvolvimento de conhecimentos e habilidades com o pensamento lógico e racional para solucionar problemas, à tomada de decisões, à responsabilidade social, à flexibilidade cognitiva e ao interesse em participar em questões sociais essenciais para a ACT.
Uma etapa determinante que também caracteriza a aplicabilidade de tal proposta de ensino na possibilidade de se atingir a ACT, consistiu na digitalização dos livros que foram posteriormente socializados no site do colégio acessível à comunidade escolar, divulgando o conhecimento científico em suas relações com a vida cotidiana.
AULER, D. Alfabetização científico-tecnológica: um novo paradigma? Ensaio: Pesquisa em educação em ciência, v. 5, n. 1, mar. 2003.
AULER, D.; DELIZOICOV, D. Alfabetização científico-tecnológica para quê? Ensaio: Pesquisa em educação em ciências, v. 3, n. 1, 2001.
BAZZO, W. A. A pertinência de abordagem CTS na educação tecnológica. Revista Ibero Americana: nº 28, 2002. Disponível em: <http.www.rieoi.org?rie28a03.htm>. Acesso em 24 de julho de 2010.
___________. Ciência, Tecnologia e Sociedade e o contexto da educação tecnológica. 2ª ed. Florianópolis: UFSC, 2010.
BOTTENTUIT JUNIOR, J. B.; COUTINHO, C. P. Análise da Usabilidade de um Laboratório Virtual de Química Orgânica. Memorias da 6ª Conferencia Ibero-americana em Sistemas, Cibernética e Informática (CISCI). Pg. 91-95, Vol. 1 Orlando, EUA. Julho, 2007.
CEREZO, J. A. L. Ciência, Tecnologia e Sociedade: o estado da arte na Europa e nos Estados Unidos. In: SANTOS, L. W. dos; ICHIKAWA, E.Y; SENDIN, P.V; CARGANO, D. de F. Ciência, Tecnologia e Sociedade: o desafio da interação. Londrina: IAPAR, 2002.
CHASSOT, A. A ciência através dos tempos. 2ª ed. Coleção Polêmica. São Paulo: Moderna, 2004.
______. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. 5.ed. Ijuí: Unijuí, 2010.
DEMO, P. Educação e alfabetização científica. Campinas, SP: Papirus, 2010.
KOEPSEL, R. CTS no ensino médio: Aproximando a escola da sociedade. Dissertação de mestrado. Centro deCiências da Educação: Universidade Federal de Santa Catarina, 2003.
MOREIRA, H.; CALEFFE, L. G. Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador.2.ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.
MORTIMER, E. F. Linguagem e formação de conceitos no ensino de ciências. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000.
NAVAS, A. M.; INFANTE-MALACHIAS, M. E.; NUNES, C. A. A.; FEJES, M. E. Representações de professores sobre simulações e animações: Uma primeira aproximação através do projeto LabVirt Química.Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências - Atas do Enpec: Nº 5. 2005 - ISSN 1809-5100 1
PINHEIRO, N. A. M. Educação crítico-reflexiva para um ensino médio científico-tecnológico: a contribuição do enfoque CTS para o ensino-aprendizagem do conhecimento matemático. 2005. Tese (Educação Científica e Tecnológica – UFSC), 2005.
SANTOS, W. L. P.; SCHNETZLER, R. P. Educação em química: compromisso com a cidadania. 3 ed. Ijuí, RS: Ed. Unijuí, 2003.
SILVEIRA, R. M. C. F. Inovação tecnológica na visão dos gestores e empreendedores de incubadoras de empresas de base tecnológica do Paraná (IEBT-PR): desafios e perspectivas para a educação tecnológica. 2007. Tese (Doutorado em Educação Científica e Tecnológica) – Universidade Federal de Santa Catarina, 2007.
SILVEIRA, L. P., NUNES, C. S., SOARES, A. C. Simulações virtuais em química. Revista de Educação, Ciência e Cultura (ISSN 2236-6377), Canoas, v. 18, n. 2, jul./dez. 2013.
UNESCO. Ensino de Ciências: o futuro em risco. Brasília, UNESCO, ABIPTI, 2005. Disponível em:<http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001399/139948por.pdf>. Acesso em 24 de outubro de 2009.
1. Doutoranda do Programa PPGECT - Universidade Tecnológica Federal do Paraná/ Câmpus Ponta Grossa (ffabriprof@hotmail.com)
2. Doutoranda do Programa PPGECT – Universidade Tecnológica Federal do Paraná/ Câmpus Ponta Grossa (tanianiezer@terra.com.br)
3. Doutora em Ciência dos Materiais – PPGECT - – Universidade Tecnológica Federal do Paraná/ Câmpus Ponta Grossa (sanirutz@gmail.com)
4. Doutora em Educação Científica e Tecnológica – PPGECT – Universidade Tecnológica Federal do Paraná/ Câmpus Ponta Grossa (castilho@utfpr.edu.br)