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Espacios. Vol. 37 (Nº 14) Año 2016. Pág. 17

Avaliação de mercado de carnes de animais silvestres e exóticos na Região Metropolitana de Goiânia

Evaluation the meat market of wild and exotic animals from the Metropolitan Area os Goiânia

Alliny das Graças AMARAL 1, Jéssica Caetano Dias CAMPOS 2, Tatiana Viera RAMOS 3, Rodrigo Zaiden TAVEIRA 4, Osvaldo José da SILVEIRA NETO 4, Raphaela Christina Costa GOMES 5, Karito Augusto PEREIRA 6, Otávio Augusto Martins OLIVEIRA 6

Recibido: 04/02/16 • Aprobado: 23/03/2016

Contenido

1. Introdução

2. Material e métodos

3. Resultados e discussão

4. Conclusões

5. Referências bibliográficas

1. Introdução

A biodiversidade vem sendo explorada desde os tempos coloniais, porém nos últimos anos essa exploração tem sido intensificada drasticamente através de fatores como desmatamentos, degradação e a fragmentação de habitats, perturbações antrópicas, caça, captura e comércio ilegal, ameaçando a fauna silvestre e expondo animais a ameaças de extinções (FREITAS et al., 2015).

A utilização sustentada da vida silvestre é uma ferramenta que promove a conservação e manutenção da biodiversidade onde através de experiências com atividades de criação em cativeiro com finalidade comercial pode contribuir satisfatoriamente para o desenvolvimento econômico e preservação de espécies de uma região, desde que bem planejada e manejada (KUHNEN et al., 2012).

Na lista oficial do IBAMA existe registrada a criação de 10 espécies de interesse zootécnico, que são indicadas para o consumo humano. Com relação ao volume de produtos de animais silvestres e exóticos no Estado de Goiás, a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris) é responsável por quase um terço desta produção, seguido da Ema (Rhea americana), do cateto (Tayassu tajacu), do queixada (Tayassu pecari) e da paca (Agouti paca). Existe também uma pequena produção de veado-catingueiro (Mazama gouazoubira), javali (Sus scrofa), perdiz (Alectoris sp.), anta (Tapirus terrestris) e cutia (Dazprocta sp.) (PELÁ et al., 2004).

A expectativa é de que estas criações legais em cativeiro atendam à demanda de carne e couro desses animais e propicie a redução da caça ilegal e predatória (FILHO et al., 2004). Um bom exemplo que demonstra que a produção comercial reduz e inibe a captura ilegal é a criação comercial do polvo comum (O. vulgaris), onde a captura mundial de polvo diminuiu de 80.247 toneladas em 1991 para 37.455 em 2005 (IGARASHI, 2010).

A exploração zootécnica de animais silvestres e exóticos tem crescido devido à demanda por carnes que possuem características que despertam o interesse dos consumidores, oferecendo uma alimentação saudável com baixo valor calórico, menor quantidade de gordura, altos valores nutritivos e boa opção de fonte proteica (PEREIRA et al., 2006).

Nos últimos dez anos observa-se a formação de um mercado de carnes exóticas nos grandes centros consumidores (PINTO et al., 2007). A comercialização de carnes não convencionais já é feita em restaurantes e bares especializados e tem obtido uma boa aceitação da clientela principalmente pelos consumidores que têm curiosidade em experimentar novos sabores. É importante ressaltar que a cadeia produtiva de carnes exóticas demanda uma organização que promova a qualidade dos produtos que serão ofertados, buscando atingir clientelas que cada vez mais exigentes (PEIXOTO et al., 2011).

Segundo RIOS VIVOS (2004) já existe mercado especializado em São Paulo, Goiânia, Brasília e Triângulo Mineiro para carnes e derivados de animais silvestres. Na literatura recente, não se conhece o real potencial de produção, venda e consumo de carnes destes animais. O interesse em conhecer o mercado fornecedor e consumidor se faz importante para iniciar uma organização da cadeia produtiva e assim desenvolver os produtos através de campanhas de marketing (COELHO, 2013).

Devido a falta de dados de pesquisas sobre o consumo de carnes de animais silvestres e exóticos, o objetivo deste trabalho foi avaliar o mercado de carnes de animais silvestres e exóticos existentes na região metropolitana de Goiânia-GO, Brasil.

2. Material e métodos

A pesquisa foi realizada através da aplicação de questionários, junto aos principais fornecedores de carnes in natura (açougues) e restaurantes da região metropolitana de Goiânia/Goiás, no período de agosto de 2013 a julho de 2014, com a duração de 12 meses. As visitas foram realizadas após a marcação de horário com os proprietários ou gerentes dos empreendimentos.

As entrevistas foram executadas através de aplicação de questionários (Quadro 1 e 2), devidamente elaboradas com perguntas objetivas e quando necessário foi realizado a complementação da informação de maneira discursiva, no intuito de avaliar e conhecer os principais fornecedores de carnes de animais silvestres e exóticos, bem como o conhecimento de quais seriam as carnes mais comercializadas tanto pelos fornecedores da matéria-prima (carne in natura) quanto a preferência dos consumidores finais, contidos na lista oficial do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) obtida no setor de fauna da superintendência do órgão no estado.

Quadro 1. Questionário aplicado a restaurantes, bares e churrascarias

Quadro 2. Questionário aplicado a açougues e casas de carnes especializadas

Os dados foram avaliados por análises descritivas de dados de variáveis quantitativas discretas, além da descrição da situação atual dos vendedores da matéria prima (açougues) e dos restaurantes da região metropolitana de Goiânia.

3. Resultados e discussão

Foram avaliados 25 estabelecimentos localizados na região metropolitana de Goiânia-GO, foi visitado um grupo de 20 estabelecimentos classificados como bares, restaurantes e churrascarias e 5 estabelecimentos que comercializam agosto carnes in natura. Foram verificados, os estabelecimentos que forneciam carnes de animais silvestres e exóticos em seus cardápios e nos comércios que forneciam carne in natura foi analisado se há oferta e demanda destes produtos.

A pesquisa foi feita por meio de aplicação de questionários, foram realizadas entrevistas aos proprietários dos estabelecimentos onde se pôde constatar que das 25 empresas entrevistadas, 16 relataram a procura dos clientes por carnes exóticas, ou seja, 64% dos estabelecimentos relataram a procura por carnes não–convencionais.

Dos 20 bares, restaurantes e churrascarias, 9 relataram oferecer carnes de animais silvestres e exóticos, ou seja 45% dos estabelecimentos visitados, além de mencionar a grande demanda por carnes exóticas. E estes relataram as espécies mais frequentemente ofertadas aos consumidores conforme Tabela 1.

Tabela 1. Carnes de espécies silvestres e exóticas encontradas nos cardápios de Bares,
Restaurantes e Churrascarias na cidade de Goiânia-GO, no período de agosto de 2013 a julho de 2014.

Através da pesquisa pôde-se constatar que 70% dos consumidores destas carnes se mostram preocupados com a idoneidade dos produtos, exigindo a verificação do selo de garantia antes da compra.  80% da clientela costumam elogiar o sabor das carnes consumidas após a refeição. As carnes mais consumidas nos bares, restaurantes e churrascarias são de Jacaré, Javali, Rã e Tartaruga. Os valores citados pelos proprietários são variados para cada tipo de carne e também em relação ao preparo. O preço dos rodízios varia entre 33,90 a 69,90 reais. Os petiscos são os mais vendidos com valores entre 9,90 a 78,00 reais. Segundo os proprietários dos estabelecimentos os preços ofertados por carnes exóticas não inibem seu consumo pelos clientes, porém ressaltam que a maioria dos clientes é de classe média a alta. Alegam ainda que os consumidores julgam justo os valores dos petiscos, rodízios e pratos elaborados. A venda dos produtos ocorre o ano todo.  Os principais criadouros fornecedores destas carnes estão presentes no Estado de São Paulo e Goiás. Uma das reclamações dos proprietários destes estabelecimentos é a falta de mão de obra qualificada para a preparação desses tipos de carne, pois demanda uma experiência e conhecimento especializado.

Nos cinco estabelecimentos fornecedores de carne in natura, classificados como açougues são revendidas as carnes das seguintes espécies como pode ser observado na Tabela 2.

Tabela 2. Carnes de espécies silvestres e exóticas, revendidas em açougues
na cidade de Goiânia-GO, no período de agosto de 2013 a julho de 2014.

Dentre as carnes mais vendidas em casas de carnes e açougues especializados na cidade de Goiânia-GO estão as de Jacaré, Tartaruga, e Rã. A mais procurada é a carne de Paca, mas devido a falta de criadouros legalizados no estado de Goiás têm-se uma dificuldade em suprir a demanda. Uma das reclamações dos proprietários é a monopolização de criadouros de paca dificultando a obtenção de matéria prima.

As carnes de jacaré são as mais vendidas nestes 5 empreendimentos com valores entre 56,00 a 89,00 reais o quilo de cortes simples a cortes nobres. A carne de rã é vendida com um valor médio de 35,00 reais o quilo com osso e a carne de tartaruga com um valor médio de 42,90 o quilo. Dessas 5 casas de carnes entrevistadas, 4 relataram alta procura por carnes de animais silvestres e exóticos durante o ano todo e 1 empresa relatou a baixa procura enfatizando que o período de maior procura seria no fim do ano.

Esses empreendimentos entrevistados são regulamentados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) e Agência Goiana de Defesa Agropecuária (AGRODEFESA), são fiscalizados mensalmente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), (AGRODEFESA) e (AMMA).

Os entrevistados pretendem ampliar sua rede de ofertas, porém o que dificulta é o número pequeno de criadouros legalizados no estado de Goiás, fazendo com que ocorra a compra através de outros estados. A importação de produtos cárneos de outros países é inviável para os Goianienses.

4. Conclusões

O mercado que envolve demanda e oferta de carnes de animais silvestres e exóticos na cidade de Goiânia-GO encontra-se em expansão, já que através do aumento da procura por novos sabores casas de carnes, bares, restaurantes e churrascarias vêm se especializando na oferta dos produtos.

A intensificação na produção de animais silvestres e exóticos por criadouros legalizados nas proximidades da cidade, conciliados a uma maior divulgação desses pratos exóticos à população alavancaria o desenvolvimento econômico e alternativo na região.

A queda de preços dos produtos poderia acontecer se a demanda por esses produtos fosse totalmente suprida e se os fornecedores fossem oriundos do estado de Goiás.

5. Referências bibliográficas

COELHO, D. B. Franquias Brasileiras: estratégia, empreendedorismo, inovação e internacionalização. Revista de Administração Contemporânea. V.17, n.1, Curitiba Jan/Fev. 2013.

FILHO, N.; GAMA, S. L.; CUNHA, S. S. D. Análise econômica da criação comercial de animais silvestres. Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Santa Cruz. p.569-565.2004.

FREITAS, A. C. P.; PASTRANA, M. E. O.; VILELA, D. A. R.; PEREIRA, P. L. L.; LOUREIRO, L. O. C.; HADDAD, J. P. A.; MARTINS, N. R. S.; SOARES, D. F. M. Diagnóstico de animais ilegais recebidos no centro de triagem de animais silvestres de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, no ano de 2011. Ciência Rural. v.45, n.1, Santa Maria Jan. 2015.

IGARASHI, M. A. Situação atual e o potencial para o desenvolvimento do cultivo de polvo no Brasil. Revista Acadêmica de Ciências Agrárias e Ambientais Curitiba, v. 8, n. 4, p. 417-427, out./dez. 2010.

KUHNEN, V. V.; REMOR, J.O.; LIMA, R. E. M. Criação e comercialização de animais silvestres no estado de Santa Catarina, Brasil. Brazilian Journal of Biology. v.72, n.1, São Carlos Feb. 2012.

PEIXOTO, L. R. R.; BATISTA, A. S. M.; BOMFIM, M. A. D.; VASCONCELOS, A. M.; ARAÚJO FILHO, J. T. Características físico-químicas e sensoriais da carne de cordeiros de diferentes genótipos terminados em confinamento. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal. Salvador, v.12, n.1, p.117-125 jan/mar, 2011.

PELÁ, L. T. D.S.;TELLES, M.P.D.C.; MATOS, C.R. Distribuição Espacial dos

Criadouros Comerciais de Mamíferos e Aves Silvestres e Exóticos no Estado de Goiás. Revista Brasileira de Zootecnia, p.1-5, 2004.

PEREIRA, A. V.; ROMANELLI, P. F.; SCRIBONI, A. B.; ORLANDINI, F. P. Rendimento do abate e composição da carne de Ema (Rhea Americana). Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos. v.26, n.3, p.632-638, Jul.-Set. 2006.

PINTO, M.F.;PONSANO, E.H.G.; ALMEIDA, A.D.S.;HEINEMANN, R.J.B.; WILSON, MD.S.Características e potencial tecnológico da carne de capivara. Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.3, p.868-873, mai-jun, 2007.

RIOS VIVOS. Região do Vale do Médio Rio Araguaia/ Agricultura Familiar Águas e Produção Sustentável. Disponível em:://www.riosvivos.org.br/arquivos/761123414.doc. Acesso em 12 de março de

2014.

1. Docente e pesquisadora da UEG/Câmpus São Luís de Montes Belos-GO. Bolsista BIP/UEG (allinyamaral@gmail.com)
2. Bacharel em zootecnia pela UEG/ Câmpus São Luís de Montes Belos-GO.
3. Docente do curso de Agronomia da UEG/ Câmpus Ipamerí-GO.
4. Docentes do curso de Zootecnia UEG/Câmpus São Luís de Montes Belos
5. Docente e pesquisadora da UEG/Câmpus CET Anápolis-GO. Bolsista BIP/UEG
6. Bacharéis em Zootecnia pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) Câmpus São Luís de Montes Belos-GO.