Espacios. Vol. 37 (Nº 14) Año 2016. Pág. 11
Caroline MAKSEMIV 1; Ariel Orlei MICHALOSKI 2
Recibido: 03/02/16 • Aprobado: 15/02/2016
3. Sistema de Gestão em Saúde e Segurança do Trabalho (SGSST)
RESUMO: Ultimamente, as organizações têm alcançado inúmeros benefícios com a implementação de sistemas de gestão. Contudo, é comum surgirem dificuldades durante o processo, fazendo com que as empresas precisem solucioná-las de maneira eficaz. Pelo exposto, este trabalho tem como objetivo apresentar diretrizes gerais para implementar um SGSST utilizando a norma OHSAS 18001, identificando os fatores inibidores do processo. Para isso, estas diretrizes foram elaboradas a partir de uma revisão teórica e um estudo de caso com função exploratória em uma indústria química. Ao final é evidente que a participação da alta administração, do setor de RH e o comprometimento dos colaboradores é primordial para o sucesso do sistema de gestão. |
ABSTRACT: Lately, organizations have achieved numerous benefits with the implementation of management systems. However, it is common difficulties arise during the process, causing companies need to address them effectively. For these reasons, this work aims to present general guidelines for implementing OSHMS using the OHSAS 18001 standard, identifying the inhibiting factors of the process. For this, these guidelines were drawn from a literature review and a case study with exploratory function in a chemical plant. At the end it is clear that the participation of top management, the HR sector and commitment of our employees is paramount to the success of the management system. |
Desde a Revolução Industrial, acompanhado com os benefícios trazidos pelas máquinas veio o aumento do número de acidentes nos locais de trabalho e logo observou a necessidade da elaboração de normas e procedimentos que regulamentassem os processos industriais a fim de diminuir os perigos aos quais os trabalhadores estavam submetidos (Costa, Beber, 2012).
A diversidade de acidentes e desastres divulgados pela mídia em todo o mundo deixa evidente para todos os tipos de organizações que se diferenciar no mercado somente pela competitividade e lucro não bastam. Também é imprescindível que as organizações demonstrem de forma clara e evidente uma atuação ética e responsável no que diz respeito às condições de saúde e segurança no ambiente de trabalho (Benite, 2004).
Neste contexto, as organizações têm desenvolvido e implantado sistemas de gestão com o intuito que seus produtos e serviços aumentem a qualidade, permitam o desenvolvimento sustentável, proporcionem uma melhora na qualidade de vida de seus funcionários e como consequência, impulsionem sua capacidade competitiva e seus lucros. Dessa forma, as pressões encontradas no mercado de trabalho se transformam em vantagens competitivas (Oliveira et. al., 2010).
Assim, os Sistemas de Gestão da Saúde e Segurança do Trabalho (SGSST) tem se tornado uma ferramenta cada vez mais importante para a melhoria do desempenho operacional e social das organizações que buscam gerar vantagens em relação à concorrência.
Uma vez que se tenha um bom desempenho em saúde e segurança no trabalho, a organização se torna mais rentável, reduz os riscos de acidentes e doenças ocupacionais, promove a satisfação e a motivação dos trabalhadores, cria novas oportunidades de crescimento, alem de melhorar sua imagem perante aos seus colaboradores, comunidade, fornecedores e clientes. Outro ponto a ser considerado é o crescente nível de conscientização da sociedade que tem atribuído a estas organizações requisitos legais cada vez mais rigorosos (Oliveira, Oliveira, 2008).
Devemos considerar que a indústria química é um dos mais importantes e dinâmicos setores da economia brasileira. Como em muitos outros ramos da indústria, a fabricação de produtos químicos envolve riscos (ABIQUIM, 2014). Assim, faz-se necessário que as empresas estruturem e implementem ações para o progresso em seu desempenho em segurança do trabalho.
Porém, durante o processo de implantação de um novo sistema de gestão, as organizações esbarram em diversos problemas e dificuldades, causando transtornos para direção e colaboradores como um todo.
Pelo exposto, este artigo tem como principal objetivo apresentar diretrizes para implantar um SGSST utilizando a norma internacional OHSAS 18001 de modo que seja possível identificar os fatores inibidores e variáveis de implantação em um estudo de caso em uma indústria do ramo químico no Paraná.
A realização deste trabalho se deu por meio de uma pesquisa exploratória com base em um estudo de caso em uma indústria química de grande porte localizada no estado do Paraná na região dos Campos Gerais.
Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica a fim de se obter embasamento teórico sobre o tema. Nessa fase foram consultados livros, revistas, artigos científicos, teses de mestrado e doutorado, legislações e normas e alguns sites de internet.
Para a escolha da empresa estudada verificou-se a importância que a Saúde e Segurança do Trabalho exercem em seu ramo de atividade, mas também cabe ressaltar que a permissão para visitar suas plantas industriais e o acesso às informações contribuiu para a escolha.
Os instrumentos de coleta de dados utilizados para a sua realização foram entrevistas semi estruturadas e aplicação de questionários dirigidos à equipe de SESMT da empresa, observação in loco nas plantas industriais e análises documentais.
Antes de cumprir a legislação, as empresas devem proporcionar aos seus colaboradores um ambiente de trabalho seguro e saudável. Tal ambiente de pró-atividade referente à prevenção de acidentes e à proteção à saúde ocupacional é decorrente do compromisso e colaboração entre empregadores e colaboradores (Quelhas, Lima, 2006).
Quelhas e Lima (2006) ainda confirmam que um ambiente de trabalho seguro além de aumentar a produtividade, reduz o custo final do produto, pois diminui as interrupções nos processos, o absenteísmo e os acidentes e/ou doenças ocupacionais.
Assim, os SGSST surgem como ferramentas cada vez mais significativas para as organizações, melhorando o desempenho financeiro, operacional e social (Oliveira, Oliveira, 2008).
Um Sistema de Gestão de Saúde e Segurança no Trabalho é um conjunto de iniciativas, unificadas através de políticas, programas, procedimentos e processos com o objetivo de facilitar o cumprimento dos requisitos legais regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e Normas Regulamentadoras que dizem respeito à Segurança e Saúde Ocupacional.
O processo de implantação de um SGSST agrega valor à cultura de uma organização, desenvolve competências relacionadas ao planejamento e execução das atividades, dá prioridade ao trabalho em equipe e prove a confiabilidade do sistema produtivo (Oliveira et. al.,2010).
Para Trivelato (2002), a implantação do sistema de gestão tem sido a principal estratégia das empresas para minimizar o sério problema social e econômico dos acidentes e das doenças relacionadas ao trabalho, sendo, ainda, um importante fator para o aumento de sua competitividade. Também é importante lembrar que implantar um SGSST traz outros benefícios como alinhamento das necessidades dos colaboradores com a política e diretrizes de segurança, transmissão de mais confiança para os clientes internos e diminuição da susceptibilidade da empresa em relação aos passivos trabalhistas e de fiscalização, evitando assim gastos desnecessários com indenizações e multas (Pasquini, 2014).
No entanto, para que se obtenha sucesso na implantação desse sistema de gestão é necessário determinar parâmetros de avaliação que incorporem não só os aspectos operacionais, mas também, a política, o gerenciamento e o comprometimento da alta administração com o processo e mudança e melhoria contínua das condições de segurança, saúde e trabalho. Este aspecto é de fundamental importância, pois na maioria das vezes, estas melhorias exigem além do comprometimento, altos investimentos que necessitam de planejamento no curto, médio e longo prazo para a sua execução (Quelhas, 2003).
Contudo, diversas organizações no Brasil ainda possuem uma visão restrita no que se diz respeito à saúde ocupacional, segurança e medicina do trabalho restringindo suas atividades à coleta de dados estatísticos, ações reativas a acidentes de trabalho e sinistros e respostas a causas trabalhistas (Silva et. al., 2012). Porém, para o progresso e para um ambiente com reações pró-ativas em saúde e segurança no trabalho as organizações podem padronizar seu sistema de gestão seguindo normas como a OHSAS 18001 que utiliza como base uma metodologia estudada na administração conhecida como PDCA (Plan – Do – Check – Act), assim descritos brevemente:
Plan – Planejar: Estabelecer os objetivos e processos necessários para atingir os resultados que estejam de acordo com a política ambiental formulada;
Do – Executar: Implementar esses processos;
Check - Verificar: Monitorar e medir os processos em conformidade requisitos descritos na norma, descrevendo os resultados;
Act - Agir: sempre obter a melhoria continua dos processos.
Figura 1- Espiral do sistema de segurança e saúde no trabalho baseado no ciclo PDCA.
Fonte: OHSAS (2007)
No ano de 1999 a British Standards Institution (BSI) publicou a primeira versão da norma BSI-OHSAS 18001 (Occupational Health and Safety Assessment Series). Tal norma foi formulada por um grupo de entidades certificadoras internacionais (BVQI, DNV, SGS, entre outras) e que teve como base a norma BS 8800 (British Standard), que foi a primeira tentativa bem sucedida de se estabelecer uma referência normativa para implementação de Sistema de Gestão em Saúde, Segurança e meio ambiente (Silva et. al., 2012).
Em 2007 a norma OHSAS 18001 foi revisada e sofreu algumas alterações, agora enfatizando a importância da saúde, foram revisadas e acrescentadas novas definições, teve uma melhoria significativa no alinhamento com a ISO 14001:2004 em toda a norma e compatibilidade melhorada com a ISO 9001:2000, assim facilitando a integração de sistemas de qualidade, ambiental e de segurança e saúde do trabalho pelas organizações (OHSAS 18001, 2007).
A OHSAS 18001 tem como objetivo especificar requisitos para que as organizações implementem um sistema de gestão em saúde e segurança do trabalho eficaz, desenvolvendo uma política e objetivos que leve em consideração requisitos e informação sobre os riscos envolvidos. Esta norma é aplicável em todos os tipos e tamanhos de organizações que tenha como objetivo (OHSAS 18001, 2007):
Genericamente, os critérios básicos para se implementar um SGSST são caracterizados por (OHSAS 18001, 2007):
Quadro 1 – Elementos gerais de um SGSST baseados na OHSAS 18001:2007
Elementos gerais |
Descrição |
Política de Segurança |
As organizações devem estabelecer uma política de segurança, autorizada pela alta direção, que esteja determinado claramente os objetivos globais de saúde e segurança e o comprometimento para melhorar o desempenho do sistema de gestão.
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Planejamento |
A organização deve estabelecer, manter, revisar e atualizar continuamente procedimentos para a identificação de perigos, avaliação e controle de riscos, procedimentos para estar adequado às exigências legais e procedimentos para identificação e implementação de objetivos e programas.
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Implementação e Operação |
A alta direção deve obter suprema responsabilidade pela Saúde e Segurança no Trabalho (SST) e pelo seu sistema de gestão. Devem ser definidos e documentados os procedimentos de treinamento de pessoal, de comunicação de informações pertinentes a colaboradores, planos para identificar e atender as possíveis situações emergenciais e incidentes.
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Verificação e Ação corretiva |
O desempenho da SST deve ser monitorado, assim como devem ser investigados e registrados os acidentes, incidentes, as não conformidades encontradas na organização e revisado a eficácia das ações preventivas e corretivas. Devem ser realizadas auditorias internas a fim de verificar se o SGSST está atendendo os requisitos estabelecido na norma OHSAS, se foi apropriadamente implementado e mantido, e se está sendo eficaz de acordo com a política e objetivos estabelecidos.
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Análise crítica pela administração |
Constantemente, a alta direção deve analisar e revisar o SGSST implementado para verificar sua eficácia, adequação e conveniência. |
Fonte: Adaptado da OHSAS 18001:2007
O estudo de caso foi realizado em uma Indústria Química de grande porte, grau de risco 03 que está localizada no estado do Paraná na região dos Campos Gerais. A empresa conta com aproximadamente 530 colaboradores, entre fixos e flutuantes, dos setores administrativo e operacional.
O SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho) da empresa é subordinado direto da alta direção e é composto por um Engenheiro e três Técnicos de Segurança do Trabalho, além de contar com assistentes administrativos que atuam em conjunto para propiciar o bem estar e a segurança dos colaboradores. A organização conta ainda com uma consultoria especializada, a qual é responsável pela parte de Medicina do Trabalho, responsável pelos exames dos colaboradores, e outros documentos.
Atualmente a empresa não possui certificações na área de Qualidade (ISO 9001), Meio ambiente (ISO 14001) e Segurança do Trabalho (OHSAS 18001), porém a implantação desta última é algo almejado pelo SESMT. No presente momento o seu Sistema de Gestão é baseado nas normas regulamentadoras (NR's) instituídas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mas nem todas são implementadas e seguidas na íntegra.
Nem sempre o tema segurança no trabalho estava em pauta nas reuniões da alta administração com a devida importância que o tema merece. Há pouco tempo as gerências tem se interessado pela saúde e segurança na organização e aos poucos vem investindo em recursos e infraestrutura para atingir um sistema bem estruturado.
Em relação à infraestrutura e recursos, a organização possui diversos programas como: PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) de acordo com a NR 09, PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional) de acordo com a NR 07, possui instaurada a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) de acordo com a NR 05, possui também o PCA (Programa de Conservação Auditiva) e o PPR (Programa de Proteção Respiratória), conta também com um fisioterapeuta atuando para melhorar as condições ergonômicas dos colaboradores que, no setor de produção, atuam principalmente em pé e em muitas funções há o predomínio de movimentos repetitivos. Alguns meses atrás, a empresa realizou a Avaliação Quantitativa de Químicos, avaliação que possui um custo muito elevado, que por isso, nunca tinha sido realizada anteriormente, mesmo se tratando de uma indústria inteiramente química. Toda a planta industrial da organização é provida de Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC's), sendo: extintores, hidrantes, exaustão, ventilação, detectores de gases e inflamáveis e sinalização de segurança. É realizada a entrega de EPI (Equipamento de Proteção Individual) a todos os visitantes e colaboradores de acordo com a necessidade e o risco existente em cada atividade desempenhada, onde o uso é obrigatório e fiscalizado. Porém, existem algumas resistências por parte de alguns setores e até mesmo das gerências.
Para tentar melhorar essas resistências, a organização conta com um projeto desenvolvido por um psicólogo contratado e especialista em desenvolver o fortalecimento da segurança em empresas. Esse projeto envolve todos os colaboradores de todos os setores, cargos e níveis hierárquicos, até mesmo o pessoal terceirizado.
A equipe de SESMT realiza diariamente inspeções de segurança em todos os setores da empresa, onde as ocorrências encontradas são registradas em um sistema computadorizado desenvolvido exclusivamente para a organização, em que emails e alertas são emitidos aos responsáveis e gerência para a sua resolução imediata, além da comunicação verbal diretamente com o responsável. Também são realizadas investigações em quase todos os incidentes ocorridos, porém não possuem indicadores, assim como em todo o sistema de segurança do trabalho da organização, impossibilitando o conhecimento da evolução dos resultados.
Agora, se tratando de comunicação com os funcionários é realizado o DDS (Diálogo Diário de Segurança) sempre antes do início das atividades, abordando temas referentes à prevenção de acidentes, saúde ocupacional, obrigações e também são comunicados os acidentes e incidentes ocorridos para que haja a conscientização e seja evitada a reincidência dos mesmos. Além do DDS, são utilizados como meios de comunicação o email, editais, cartilhas e panfletos, placas e banners ilustrativos e informativosdesenvolvidos a partir do projeto de fortalecimento de segurança instaurado na indústria no último ano.
A organização investe em treinamentos de primeiros socorros e de combate a incêndio e explosão, por ser um dos seus principais riscos e o mais preocupante. A brigada de emergência da empresa é setorizada, garantindo que em caso de sinistros qualquer setor está apto para ajudar a solucionar o problema. Outros treinamentos precisam ser melhorados e receber mais investimentos, como é o caso dos químicos, que por se tratar de uma indústria do ramo químico possui treinamento razoável e limitado a poucos colaboradores.
De um modo geral a organização está buscando se adequar e melhorar as condições de saúde e segurança do trabalho na empresa. Em conversa com a equipe de segurança percebe-se que há muito para fazer e para conscientizar a alta administração, mas em comparação com anos anteriores houve uma significativa mudança nas atitudes em relação ao sistema de gestão que a empresa desenvolve.
A partir das respostas obtidas nas entrevistas e questionário aplicado à equipe de SESMT, nas observações in loco e nas análises documentais da organização, foi possível realizar um levantamento das maiores dificuldades encontradas pela empresa para a implementação de um Sistema de Gestão em Saúde e Segurança no Trabalho baseados na OHSAS 18001, apresentadas no Quadro 2.
Quadro 2 – Principais dificuldades encontradas para a implementação
de um Sistema de Gestão em Saúde e Segurança no Trabalho.
Dificuldades encontradas no gerenciamento de SST na empresa estudada |
Falta de planejamento de infraestrutura; |
Sistema de Gestão funcionando sem planejamento e prioridades; |
Não estabelecer a saúde e segurança como objetivo estratégico da empresa; |
Falta de liderança. A liderança é somente observada como título; |
Falta de capacitação técnica adequada aos colaboradores fixos; |
Treinamentos limitados e/ou indisponíveis; |
Falta de programas preventivos; |
Falhas na elaboração de procedimentos e instruções; |
Não dispor de recursos técnicos e financeiros para implantar soluções permanentes; |
Ausência de indicadores de desempenho; |
Alto nível de exigência da legislação; |
Ausência de uma efetiva supervisão; |
Ausência de auditorias periódicas; |
Falta de comprometimento de algumas gerências; |
Conflitos internos com o setor de Recursos Humanos; |
Alta rotatividade dos colaboradores; |
4.2. Diretrizes para implementação de sistemas de gestão de saúde e segurança do trabalho
Baseado em um referencial teórico e em um estudo de caso na indústria do ramo químico com função exploratória, foi possível elaborar algumas diretrizes gerais e introdutórias para contribuir com a implementação de um SGSST efetivo, segue:
4.2.1. Comprometimento da alta administração
O comprometimento da alta administração é condição fundamental no processo de implementação do SGSST e a iniciativa deve partir dos diretores da empresa. A alta administração deve participar efetivamente em todas as etapas do sistema (planejamento, execução e avaliação contínua dos resultados), se tornando exemplo para todos da organização.
Quando os colaboradores acreditam no real comprometimento da direção, eles se tornam mais dispostos a colaborar com as melhorias de desempenho referentes à saúde e segurança (Oliveira, Oliveira, 2008).
De acordo com Vitoreli e Carpinetti (2013), a alta administração tem como responsabilidade prover os recursos necessários como: infraestrutura, capacitação de pessoal e um ambiente de trabalho adequado para todos na organização.
Para Saurin et. al. (2013), o comprometimento da alta direção implica em que a saúde e segurança no trabalho sejam um valor-chave da empresa, ao invés de uma prioridade eventual.
O planejamento estratégico é responsabilidade da alta direção, que deve formular os objetivos globais da organização, de acordo com sua missão e visão. Tal planejamento servirá de apoio aos programas referentes à saúde e segurança através dos recursos humanos, técnicos e financeiros (Oliveira et.al., 2010).
Como parte desta estratégia, Saurin e Carim Jr (2011) afirmam sobre a necessidade de dissipar os objetivos e metas referentes à gestão de saúde e segurança em todos os níveis hierárquicos da organização, promovendo a integração da SST com todas as áreas da empresa.
Vale lembrar que inserir a SST na estratégia organizacional fará com que o aporte financeiro e técnico necessário para seu bom desempenho seja concedido, facilitando a implementação do Sistema de Gestão em Saúde e Segurança do Trabalho.
4.2.3. Cultura organizacional
Fatores relacionados com a cultura organizacional são capazes de influenciar no sucesso e no bom desempenho do sistema de gestão da saúde e segurança do trabalho da organização, pois onde existe cultura de segurança as atitudes e o comportamento do pessoal ligado à segurança, se desenvolvem e persistem (Gonçalves Filho et. al., 2013).
É muito importante realizar uma prévia análise do perfil dos colaboradores, onde deve ser verificado o grau de escolaridade, a capacitação profissional, a participação e o relacionamento com lideranças e colegas de trabalho para que seja possível identificar antecipadamente as possíveis resistências que possam surgir no momento de implementação do SGSST, tentando evitar transtornos desnecessários ao processo.
Cembranel et. al. (2011) acredita que a cultura de segurança está diretamente ligada à priorização da saúde e segurança do trabalho. Mais que uma prioridade, a saúde e segurança devem fazer parte das crenças e valores dos colaboradores de uma organização.
4.2.4. Minimização das resistências às mudanças
Sempre que se fala em mudanças geram-se reações de medo e insegurança àqueles que estão envolvidos. Fenômenos como conflitos, falta de informação, dúvidas, sensação de perda de autoridade, entre outros, podem gerar resistências às mudanças.
De acordo com Pasquini (2014), essa resistência tem sido entendida como uma das principais causas de conflitos nas organizações, podendo ser muito prejudicial na hora de implementar um SGSST.
Os colaboradores devem se conscientizar que mudar poderá trazer oportunidades de crescimento profissional, novas habilidades e só aumentar suas motivações para a busca de novos desafios.
Oliveira e Oliveira (2008) afirmam que por meio de incentivos à participação no processo de implantação do sistema de gestão e a valorização de opiniões, à capacitação profissional e a adequada disponibilização de informações, estas resistências poderão ser minimizadas.
4.2.5. Capacitação profissional
Quando se fala em capacitação profissional, ressalta-se o envolvimento tanto dos profissionais que exercem os cargos da diretoria, gerência e supervisão, como dos funcionários da área operacional da organização.
O perfil do profissional que será responsável pela gestão da saúde e segurança no trabalho é importante para a aceitação de todos os colaboradores em SGSST. Além do conhecimento técnico, é de extrema importância que o profissional tenha habilidades de comunicação e um bom relacionamento interpessoal, sendo capaz de disseminar informações de forma compreensível a todos os colaboradores (Oliveira, Oliveira, 2008).
4.2.6. Investimento em treinamentos
O treinamento nas organizações serve como estratégias para tornar os funcionários mais habilidosos, criativos, produtivos e inovadores, alem de aliar gestores e colaboradores aos procedimentos da empresa, incluindo aqueles referentes à Saúde e Segurança no Trabalho. Por isso, a prática deve ser considerada um investimento, e não um custo para as organizações.
A importância dos treinamentos na implementação de SGSST é ainda maior, pois a partir daí que se dá a oportunidade de motivação da mão de obra para a questão de saúde e segurança (Oliveira et.al., 2010).
A execução dos treinamentos pode ser através de manuais e cursos teóricos e/ou práticos, realizados pela própria organização ou por profissionais e empresas terceirizadas, de acordo com cada função e risco envolvido.
Investir na capacitação e treinamento dos colaboradores da sua empresa é investir no sucesso do seu sistema de gestão.
É importante que todos os departamentos da organização estejam integrados com o setor de recursos humanos (RH), assim possibilitando o desenvolvimento de um ambiente interno de trabalho com menos resistências e conflitos.
O setor de RH tem uma ampla visão do quadro de colaboradores e de reconhecimento dos riscos iminentes de cada função exercida na organização, facilitando a identificação das competências e habilidades necessárias para o desenvolvimento do trabalho na empresa. Isso facilita a identificação dos treinamentos necessários para o desenvolvimento destes colaboradores nas áreas técnicas e pessoal da organização.
Esta parceria entre setor de Segurança do Trabalho e Recursos Humanos permitirá que focos de resistência de colaboradores e até mesmo gerências sejam identificadas e resolvidas, que os treinamentos sejam personalizados de acordo com as funções e perfil pessoal e que os aspectos da cultura organizacional sejam utilizados a favor do SGSST (Oliveira et. al., 2010).
Os indicadores de desempenho em saúde e segurança em conjunto com as demais áreas da organização são fundamentais para acompanhar o desempenho do SGSST e identificar as oportunidades de melhorias. Quantos indicadores e quais deveram ser implantados irá depender das características de cada organização (Oliveira, Oliveira, 2008).
A partir destes indicadores é possível que a alta administração e os demais colaboradores da organização consigam visualizar a performance do sistema de gestão, sendo possível realizar uma autoavaliação e estabelecer, se necessário, ações corretivas.
O resultado desta monitoração em saúde e segurança no trabalho consiste na obtenção de vantagem competitiva referente à redução de acidentes e afastamentos do trabalho, aumentando a produção com qualidade e reduzindo custos dentro das organizações, através da implantação de programas de melhoria continua.
As auditorias internas são muito comuns e importantes nos sistemas de gestão e é constituída de um conjunto de procedimentos técnicos que tem como objetivo verificar a eficiência das medidas propostas para controlar os riscos de segurança relativos às atividades da empresa e ao cumprimento efetivo das legislações associadas, permitindo apresentar soluções que tornem o ambiente de trabalho mais seguro para os colaboradores.
Porém, para a realização destas auditorias, o auditor interno deverá receber treinamento de modo a desempenhar suas funções adequadamente e ao final do processo elaborar um Relatório de Auditoria contendo as não conformidades encontradas, observações, recomendações e as providências a serem tomadas pela organização.
Pretendeu-se neste trabalho proporcionar, de forma sucinta e genérica, a formulação de algumas diretrizes introdutórias para facilitar o processo de implantação de um Sistema de Gestão da Saúde e Segurança do Trabalho, pois a maioria das organizações tem dificuldade em se estruturar e adequar às condições necessárias para o processo de gestão.
Para satisfazer este objetivo, estas diretrizes foram elaboradas a partir de uma revisão teórica sobre o tema e um estudo de caso com função exploratória em uma indústria do ramo químico, permitindo serem verificados os principais inibidores para uma efetiva implantação de um SGSST, assim como sugestões para minimizá-los.
Analisando os fatores observados, torna-se evidente que a participação da alta administração, do setor de recursos humanos e o comprometimento integral dos colaboradores é primordial para o sucesso de um sistema de gestão, confirmando o que já indicava a teoria.
Faz-se notar, todavia, que a alta administração de muitas empresas acredita que as equipes de SESMT tem função fiscalizadora e não prevencionista. Atuar como prevencionista é fundamental para a melhoria do ambiente de trabalho e da qualidade de vida dos colaboradores.
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1. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Campus de Ponta Grossa-PR, Brasil. E-mail: carolmaksemiv@gmail.com
2. Doutorado em Engenharia de Produção na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Docente na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus de Ponta Grossa – PR, Brasil. E-mail: ariel@utfpr.edu.br