Espacios. Vol. 37 (Nº 10) Año 2016. Pág. 1
Fabrícia Gladys F. S. ROSSATO 1; Ieda Geriberto HIDALGO 2; Aline Bonfim de CARVALHO 3; Sibele Maria Amolaro DIAS 4; Felipe CASALE 5
Recibido: 30/11/15 • Aprobado: 20/12/2015
2. Desenvolvimento sustentável: conceitos e relevância
3. Sustentabilidade: a geração de energia elétrica a partir de fontes renováveis
5. Análise e Discussão dos Dados
RESUMO: O potencial de geração de energia de fontes renováveis nos próximos anos é bastante promissor e está associado à demanda crescente do mercado mundial por celulose. Esta expansão de um novo player de negócios do setor de celulose poderá garantir uma oferta crescente de biomassa de resíduos florestais, que poderá ser utilizado como insumo para uma maior geração de energia elétrica. Neste sentido, o presente trabalho analisou o potencial da floresta plantada de Eucalipto no Estado de Mato Grosso do Sul como fonte de energia elétrica, realizando um estudo comparativo entre as duas Indústrias produtoras de celulose do Estado. |
ABSTRACT: The potential for renewable energy generation in the coming years is very promising and is associated with the growing demand of the world market for pulp. This expansion of a new player pulp industry business can ensure a growing supply of biomass from forest residues, which can be used as input for greater power generation. In this sense, the present study examined the potential of planted Eucalyptus forest in Mato Grosso do Sul as a source of electricity, conducting a comparative study between the two producers Industries of the State of cellulose. |
O Brasil é favorecido pelas condições climáticas e se apresenta, segundo dados do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA (2012), como o quarto maior produtor de celulose do mundo e com grande potencial de crescimento. A produção de celulose na última década foi impulsionada pelos altos investimentos da indústria de celulose principalmente no setor energético.
Através de dados parciais obtidos SECEX (2015) comparando o primeiro trimestre de 2014 com produção 3.862 mil toneladas de celulose e o primeiro trimestre de 2015 com produção de 4.132 mil toneladas de celulose, o segmento cresceu 7% no trimestre. Números expressivos ao comparar a produção dos mercados mais tradicionais dessa indústria, tais como Estados Unidos, Canadá e China.
Dados do IBA (Indústria Brasileira de Árvores) apontam 7,6 milhões de hectares de árvores plantadas de eucalipto, pinus e demais espécies (acácia, araucária, paricá e teca), sendo que o setor de papel e celulose representa 32% desse segmento, ou seja, aproximadamente 2,4 milhões de hectares de árvores de eucalipto. As principais fontes de madeira utilizadas para a produção brasileira de celulose são os pinos e os eucaliptos, no entanto no que tange esse trabalho, será contabilizado apenas o Eucalipto (IBA, 2014).
Dados divulgados pela empresa de Pesquisa Energética (EPE), com base em uma consulta pública do Plano Decenal de Energia – PDE para 2023 apontaram para a um crescimento no setor de energia da ordem de 3,7% ao ano. Ainda, segundo a EPE (2014) as fontes renováveis continuam mantendo participação em níveis acima de 40% na matriz energética do Brasil.
As discussões atuais sobre o setor elétrico no Brasil e sua importância para o desenvolvimento social, econômico, ambiental e industrial, torna a geração de energia fator decisivo para o desenvolvimento sustentável. Introdução de novas tecnologias, além da hidroeletricidade ameaçada devido aos níveis de água dos reservatórios, Estimulam novos estudos em busca de fontes renováveis de energia.
Inserida neste contexto, a cidade de Três Lagoas acomoda duas empresas de projeção nacional e internacional no segmento de celulose. O município, atualmente, é responsável por 50% do volume de exportação industrial do estado de Mato Grosso do Sul, sendo os principais itens a celulose e o farelo de soja (PREFEITURA DE TRÊS LAGOAS, 2012).
Neste contexto, o objetivo do artigo é identificar o potencial energético das empresas de celulose localizadas em Três Lagoas/MS, a partir da área plantada de eucalipto. E posteriormente realizar uma comparação entre as duas empresas pesquisadas quanto a ações sustentáveis.
O Desenvolvimento sustentável tem sido amplamente discutido pelos estudiosos das áreas econômicas e ambiental. Desde os primórdios o homem vem transformando o ambiente. No entanto, a grande mudança ocorreu a partir da Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra, no século XVIII (MOURA, 2002).
As mudanças não impactaram somente a vida dos consumidores que aderiram a novos costumes, mas principalmente o ambiente que os circundam (LEITE, 2003). Neste sentido, segundo Dias (2011), as duas últimas décadas do século XX, o volume físico da produção das indústrias no mundo chegou a níveis superiores não vistos anteriormente em toda humanidade.
Até então, partia-se do pressuposto que os recursos naturais eram infinitos (TACHIZAWA, 2011). Entretanto, tal hipótese simplista ignorava alguns problemas visíveis causados pela industrialização tais como: emissão de gases poluentes na atmosfera, que colaboram com o aumento da temperatura e a disseminação de doenças; redução dos recursos naturais; a disposição final inadequada dos resíduos provenientes do processo de industrialização (sólido, líquido e gasoso); redução no ciclo de vida dos produtos, isto é, ficam obsoletos rapidamente; além de problemas de ordem social, econômica e ambiental, assim como o crescimento da população e o consumo acelerado e o desperdício (DIAS, 2011).
Algumas ações foram realizadas no intuito de amenizar e conscientizar os países, principalmente os desenvolvidos responsáveis por 83,8% da emissão de CO2, a adotar práticas produtivas limpas (MOURA, 2002).
Período |
Responsável |
Proposta/Características |
Década de 60 |
Clube de Roma |
"Os Limites para o Crescimento": através de simulações matemáticas foram feitas projeções de crescimento populacional, poluição e esgotamento dos recursos naturais. |
Rachel Carson |
"Primavera Silenciosa - Silent Spring": obra que teve grande repercussão por tratar e questionar o uso de DDT (dicloro difenil tricloroetano) como algo benéfico para o ser humano, mas nocivo a plantas, peixes e aves. |
|
Década de 70 |
Conferência das Nações Unidas ou Conferência de Estocolmo |
Declaração e Plano de Ação para o Meio Ambiente Humano (PNUMA): contendo 109 recomendações, com o objetivo de orientar a preservação e a melhoria no ambiente humano. Neste encontro ficou evidente o embate entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento, haja vista, a proposta para a desaceleração industrial das nações subdesenvolvidas, como medida de conservação dos recursos naturais. |
Década de 80 |
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD) |
"Agenda Global de Mudanças": criada no intuito de propor ações ambientais que promovessem o desenvolvimento sustentável a partir do ano 2000. |
O documento instituído pela CMMAD fora denominado de "Nosso Futuro Comum": faz uma estreita ligação entre ecologia e economia, estabelecendo assim o conceito de desenvolvimento sustentável, bem como a responsabilidade das nações sobre os danos ambientais, bem como as políticas que permitem esses danos.
|
||
Década de 90 |
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) |
Durante o encontro, ECO-92, chegou-se a conclusão que: "a proteção ambiental constitui parte integrante do processo de desenvolvimento, e não pode ser considerada isoladamente deste". No entanto, o maior problema não é técnico, mas social e político. A partir da ECO-92 foram assinados cinco documentos que orientavam as discussões sobre o meio ambiente nos próximos anos, sendo eles: Agenda 21; Convênio sobre a Diversidade Biológica (CDB); Convênio sobre as mudanças climáticas; Princípios para a Gestão Sustentável das Florestas, e; Declaração do Rio de Janeiro sobre meio ambiente e desenvolvimento. Criação da Comissão sobre o Desenvolvimento Sustentável (CDS) para assegurar o cumprimento das propostas. |
Em 2002 |
Assembléia Geral das Nações Unidas |
Rio + 10: as ações propostas na Rio 92 não foram realizadas, chegando a concluir que os objetivos são muito complexos por abranger aspectos ambientais, sociais e econômicos. |
Em 2005 |
Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática |
Protocolo de Kyoto: Visa que os países desenvolvidos reduzam a emissão de gases que causam o efeito estufa e estabeleça Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. |
Em 2007 |
Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática
|
Relatório do Painel das Mudanças Climáticas: apontam consequências assustadoras acerca do aquecimento global até 2100, se medidas de preservação não forem adotada |
Em 2010 |
International Standard Organization (ISO) |
ISSO 26000 - Responsabilidade Social: impacta as organizações ao "cobrar" o engajamento em projetos que visem o desenvolvimento sustentável. |
Tabela 1: Principais propostas em busca do Desenvolvimento Sustentável.
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de Dias, 2011.
Pode-se verificar a evolução da preocupação com a degradação ambiental, no entanto, as ações propostas para garantir a sobrevivência das gerações futuras não tiveram consideráveis avanços, principalmente no que se refere aos países desenvolvidos e suas práticas produtivas. A uma grande expectativa para a 21ª Conferência do Clima (COP 21), com tentativa de acordo entre países, na tentativa de estabelecer metas de redução de gazes de efeito estufa.
O conceito de Desenvolvimento Sustentável, contido no Relatório "Nosso Futuro Comum" estabelecia que "a humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável - de garantir que ele atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de gerações futuras atenderem também as suas" (NOSSO FUTURO COMUM, 1991, p. 9 apud TADEU et. al, 2011, p. 146).
Este conceito foi aprimorado ao englobar as três dimensões: ambiental, social e econômica. Estas três dimensões fazem parte do modelo "Triple Bottom Line", também conhecido como 3Ps (People, Planet and Profit, isto é, Pessoas, Planeta e Lucro), comumente chamado no Brasil de Tripé da Sustentabilidade (TADEU et al., 2011)
Figura 1: Equilíbrio dinâmico da sustentabilidade.
Fonte: Dias, 2011, p.46.
Os problemas ambientais são atribuídos principalmente às nações desenvolvidas e as práticas irregulares das nações em desenvolvimento. Entretanto, um dos fatores que caracteriza o "tal desenvolvimento" é o parque industrial, isto é, as empresas. É sabido que as empresas são as principais responsáveis pelo esgotamento e pela degradação e escassez de recursos naturais, pois é da natureza que extraem a matéria-prima para o processo produtivo (DIAS, 2011).
Como medida para amenizar os impactos dos produtos sobre o meio ambiente, as sociedades têm instituído uma série de legislações e novos conceitos de responsabilidade empresarial, o intuito de promover o crescimento econômico em consonância com as exigências ambientais (LEITE, 2003).
Desde a década de 80, a certificação florestal voluntária vem tomando espaço no ambiente empresarial (INMETRO, 2012). Para Dias (2011), a adoção de novos modelos de gestão é fomentada por vários fatores internos e externos. Dentre os fatores internos destaca-se: redução de custos; qualidade do produto; melhoria na imagem da empresa; busca por inovação; responsabilidade social; sensibilização dos clientes internos. Os fatores externos são: demanda do mercado (exigências por parte de clientes e consumidores finais); concorrência; o poder público e a legislação ambiental; o meio sócio-cultural; as certificações ambientais, e; fornecedores.
Dentre as certificações voluntárias de maior aceitação no mercado internacional pode-se destacar: o FSC® ; o PEFC; ISO e; o CERFLOR. O Forest Stewardship Council® (FSC®), o Conselho de Manejo Florestal é uma organização internacional e não governamental que atua de forma independente e sem fins lucrativos. Sua finalidade é apoiar o manejo economicamente viável, socialmente benéfico e ambientalmente adequado das florestas do planeta, levando em consideração as especificidades de cada região (FSC, 2015).
O Programme for the Endorsement of Forest Certification Schemes - PEFC (antigo Pan European Forest Certification – PEFC). O Conselho do PEFC foi criado em junho de 1999, baseado em critérios próprios definidos nas resoluções das Conferências de Helsinki e de Lisboa, de 1993 e 1998, sobre Proteção Florestal na Europa. O órgão tem por objetivo dar garantias aos consumidores de que os produtos com certificado PEFC são derivados de uma gestão florestal que respeita os três pilares da sustentabilidade: social, ambiental e econômico. Esta certificação assegura a rastreabilidade da matéria-prima desde sua origem até o consumidor final (PEFC PORTUGAL, 2015).
A ISO 14000(International Organization for Standardization) foca a gestão ambiental e fornece uma estrutura organizada para que as empresas consigam prover ações internas para obter a certificação. É uma certificação de reconhecimento internacional. O certificado avaliza auditorias ambientais, avaliação de desempenho ambiental, rotulagem ambiental e análise o ciclo de vida dos produtos, adequando-se a legislação ambiental de cada país.
Neste sentido, algumas empresas tendem a acumular certificações, como é o caso da ISO 14000 atrelado a outra ISO 9000. A ISO 9000 apesar de não enfatizar especificamente o setor ambiental, tem sido significativamente adotada por se tratar de regras que estabelecem à implantação, o desenvolvimento, a avaliação e a continuidade do Sistema de Gestão da Qualidade. A adoção destas práticas padronizadas, a ISO 9000 passa mais credibilidade frente aos seus clientes e concorrentes (MOURA, 2002).
Ainda sobre o setor florestal, o Cerflo que é Programa Brasileito de Certificação Florestal visa a certificar o manejo florestal sustentável e a cadeia de custódia de produtos de base florestal, seguindo os princípios, os critérios e os indicadores - aplicáveis para todo o território nacional. Estes critérios são elaborados no fórum nacional normalização e integradas ao Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade e ao Inmetro (INMETRO, 2012).
É evidente o avanço na adoção de certificações como medidas de sobrevivência e competitividade organizacional. Porém, outras medidas estão sendo buscadas para reduzir os impactos que as organizações e população causam ao ambiente natural. Dentre essas medidas pode-se citar o uso consciente dos recursos naturais, identificação dos resíduos industriais, descarte correto de produtos obsoletos, e criação de fontes de energias renováveis.
O uso de fontes renováveis está cada vez mais necessário, uma vez que, a relação do homem e a exploração dos recursos primários estão cada vez mais acentuadas. É fato que esta relação no ambiente resultaria na degradação do mesmo, haja vista, o pressuposto que os recursos naturais eram infindáveis (TADEU, 2011). Neste processo evolutivo, a humanidade transformou negativamente o local que habita e, tornou-se refém da luta desenfreada por riqueza financeira em detrimento da riqueza natural (DIAS, 2011). Uma de suas criações que influenciaram a humanidade é a geração de energia, que fora intensificada com a Revolução Industrial, em função das indústrias.
De acordo com Moura (2002) as fontes de energia convencionais (tradicionais), tais como, petróleo, gás natural, hidroeletricidade, carvão mineral, energia nuclear, lenha e carvão vegetal ocasionam grande impacto na natureza, mas, eram e ainda são largamente utilizadas por serem rentáveis, apesar do alto investimento. O uso da energia convencional fora elemento de discussão durante a criação do Protocolo de Kyoto (1997), cujos alguns países desenvolvidos se comprometiam a reduzir a emissão de gases responsáveis efeito estufa.
Conforme estudos McKendry (2002) e Sgroi et al. (2015) fontes de energia renováveis como a energia hidráulica, biomassa, geotérmica, eólica e solar representam uma alternativa viável aos combustíveis fósseis tradicionais, tanto para os benefícios em termos de impacto reduzido no ambiente, bem como estabelecido pelo Protocolo de Kyoto, e por sua capacidade de ser renovável e não estão sujeitos ao esgotamento.
Entretanto, a sociedade, no mundo, tem direcionado mais atenção para os diversos aspectos do equilíbrio ecológico (LEITE, 2003). Afirma o mesmo autor, essa atenção tem sido acompanhada por ações de empresas e governos. As empresas começam a identificar oportunidades econômicas oriundas de reaproveitamento, reutilizações e reprocessamentos de subprodutos (LEITE, 2003). O reaproveitamento dos subprodutos podem ser reutilizados na geração de energia, sendo denominada energia renovável (DIAS, 2011). As energias renováveis são: a energia solar, a energia eólica, energia das marés e biomassa (celulose, bagaço de cana, soja etc.).
O desenvolvimento tecnológico para aproveitamento de energia solar em química nas plantas industriais de produção de celulose é de alto custo. As turbinas a gás é uma tecnologia significante na geração de eletricidade, no entanto, a gaseificação da biomassa não é ainda uma tecnologia convencional disponível para produção em larga escala, devido aos custos de implantação (CASTRO, 2010).
No processo produtivo de celulose o potencial teórico de geração de energia utiliza resíduos de biomassa para produção de celulose através do Processo Kraft [6] são gaseificados e o gás resultante é utilizado para a produção de eletricidade através de turbinas a gás. Além do gás produzido a partir da biomassa, o licor negro, outro subproduto oriundo do processo produtivo é liberado e utilizado através da combustão para produzir energia elétrica.
A energia elétrica excedente em uma indústria de celulose esta condicionada a fatores tecnológicos de produção, ou seja, segundo Francis, Towers e Browne (2002) o consumo de energia térmica e elétrica de uma planta moderna de celulose que utiliza o processo produtivo Kraft, e respectivamente de 13, GJ/t e 638 kWh. Neste sentido, Castro (2010) define e delimita o potencial teórico como sendo o potencial total de energia obtida de um insumo, e o seu aproveitamento total está limitado aos fatores tecnológicos do aproveitamento da energia produzida.
A incorporação de novas tecnologias é fator determinante para atingir a eficiência energética. A biomassa florestal, além de estar reservada ao processo industrial de produção de celulose, uma parcela das florestas e resíduos florestais da colheita (cascas e galhos), pode ser utilizada para fomentar produção de vapor nas cadeiras e geração de energia elétrica (CANTO, 2009).
Para Geller (2003) o desenvolvimento da energia sustentável não deve colocar em risco a qualidade de vida das gerações atuais nem a das futuras gerações. A utilização dos resíduos das florestas nas indústrias de celulose contribui de forma positiva, uma vez que, a empresa utiliza apenas de floresta plantada, neste caso, colabora com a fixação de carbono.
Neste sentido, Geller (2003) afirma que para a energia ser sustentável deve ser capaz de fornecer serviços adequados de energia para satisfazer as necessidades humanas básicas, melhorando o bem estar social, além de atingir um desenvolvimento econômico em todo o mundo. O desenvolvimento de energias através de fontes renováveis cria oportunidades pra diversificação das fontes renováveis e oportunidades de desenvolvimento local como estudo de caso que será apresentado no Estado do Mato Grosso do Sul.
A área ocupada com árvores de eucalipto totalizou 5.473.176 hectares no Brasil, sendo que o estado do Mato Grosso do Sul em 2014, contava com área de 886,3 mil hectares plantados IBGE(2015) As florestas plantadas contribuem de forma significativa nas exportações brasileiras, principalmente de papel e celulose e podem suprir a demanda por produtos derivados da madeira, bem como fonte de energia.
O estado do Mato Grosso do Sul ocupa atualmente o segundo lugar no cultivo de floresta de eucalipto, fato esse que pode ser explicado pela implantação das indústrias de papel e celulose na cidade de Três Lagoas. As florestas do estado foram plantadas com a finalidade exclusiva de produção de biomassa destinada celulose e papel, neste sentido, cria-se uma expectativa ambiental mais sustentável, se comparadas com outros tipos de exploração, uma vez que o sistema de produção considera o aproveitamento de um resíduo industrial, gera empregos, promove o desenvolvimento social e econômico da região.
Assim, a produção e comercialização de energia passam a ser um novo player de negócio com vantagens significativas para Indústria e seus parceiros. A indústria de celulose se insere em um cenário sustentável, absorvendo externalidades negativas, uma forma de minimizar os impactos com a produção de uma energia sustentável.
A presente pesquisa é classificada segundo Vergara (2000) quanto aos fins é descritiva, pois expõe características de determinada população ou de determinado fenômeno, podendo ainda estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza, não tendo compromisso de explicar os fenômenos que descreve. Para Andrade (2003) o pesquisador somente estuda o fenômeno, mas não o manipula.
Quanto aos meios, a pesquisa foi bibliográfica e documental. Bibliográfica, pois se utilizou livros, artigos, internet, análise de dados estatísticos, regulamentos, projetos de manejo florestal, Estudo de Impacto Ambiental – EIA/RIMA que estão disponíveis no site das empresas, isto é, trata-se de dados secundários. E documental, em que a pesquisa foi realizada em documentos internos da organização, conforme Vergara (2000). O levantamento das informações foram através de questionário semi-estruturado enviado por e-mail.
Os resultados foram obtidos através de uma analise comparativa entre duas empresas do setor de celulose localizada na cidade de Três Lagoas, no Estado de Mato Grosso do Sul. Com a finalidade de garantir a integridade das informações e idoneidade ética da pesquisa, as Indústrias serão classificadas como Indústria A e Indústria B.
Fundada em 2009, a companhia é a maior produtora mundial de celulose de fibra curta, operando em três Unidades Industriais, no entanto, o enfoque será dado para a unidade de Três Lagoas. A empresa possui uma capacidade de produção de 1,3 milhões toneladas por ano.
A Indústria A, Segundo o plano de manejo florestal 2014, possui certificações que demonstram compromisso com a Sustentabilidade: certificações florestais voluntárias Forest Stewardship Council®(FSC®) e Cerflor/PEFCque envolvem o manejo florestal e a cadeia de custódia (CoC) na indústria. Cada sistema de certificação possui seus próprios princípios e critérios e a certificação do Sistema de Gestão ISO 9.001(Qualidade) e ISO 14.001 (Ambiental), conforme citado por Moura (2002).
E conforme a Tabela 2, a Indústria A possui 343.318,41 hectares de área total ocupada o que representa 49% da floresta de Eucalipto do Estado do Mato Grosso do Sul. Importante ressaltar que, o raio de distância da planta industrial aproxima-se de máximo 200 km, uma vez que, a logística é fator fundamental para Indústria. Neste sentido quanto mais próximo a planta produtiva menor os custos incorridos para a produção do produto final.
Município |
Área Município (Km²) |
Área Própria (ha) |
Área Arrendada (ha) |
Área Parceria (ha) |
Área Efetiva (ha) |
Área Conservação (ha) |
Outras Áreas (ha) |
Área Total Ocupada (ha) |
Área Total Ocupada (%) |
Água Clara |
1103,11 |
5970,12 |
24312,95 |
- |
16629,74 |
11624,81 |
2038,52 |
30283,07 |
2,75 |
Brasilândia |
580,69 |
27748,67 |
24484,90 |
33375,82 |
55864,92 |
26106,80 |
3638,89 |
85610,61 |
14,74 |
Ribas do Rio Pardo |
1730808,00 |
- |
44843,90 |
- |
30895,83 |
12643,76 |
1304,19 |
44843,78 |
2,59 |
Santa Rida do Pardo |
614307,00 |
- |
919,39 |
- |
563,20 |
305,65 |
50,54 |
919,39 |
0,15 |
Selvíria |
325833,00 |
- |
11783,67 |
- |
7178,70 |
3631,06 |
973,91 |
11783,67 |
3,62 |
Três Lagoas |
1020,70 |
42629,93 |
76492,39 |
50759,79 |
113936,45 |
45398,16 |
10543,28 |
169877,89 |
16,64 |
TOTAL |
5375,45 |
76345,72 |
182837,08 |
84135,61 |
225068,84 |
99710,24 |
18549,33 |
343318,41 |
O processo produtivo da Indústria A é o Kraft , é autossuficiente na produção de energia consumida e, a planta de Três Lagoas possui processo em linha única, com uma caldeira de força e uma caldeira de recuperação, ambos operando com biomassa (cascas e licor negro respectivamente). O forno de cal, para a conversão de carbonato de cálcio em óxido de cálcio, opera com gás natural. Óleos combustíveis são empregados somente no processo de start-up .
Somente água é empregada para manutenção das tubulações, visto que elas são feitas em aço inoxidável. Os efluentes são tratados via lodo ativado, e os resíduos deste processo, assim como de outras partes da fábrica, vão para aterro.
A Indústria B possui uma história recente, tendo sua inauguração realizada no ano de 2012. Trata-se de um novo empreendimento, é uma Indústria de base florestal que atua no setor de celulose, com capacidade produtiva de 1,5 milhão de toneladas/ano. É uma empresa certificada pelo Forest Stewardship Council® - FSC®. Segundo os dados do plano de manejo florestal 2014, a Indústria possui áreas próprias, arrendadas e também parcerias na florestal.
Município |
Área Produtiva (ha) |
Área de Conservação (ha) |
Outras Áreas (ha) |
Total Geral (ha) |
Água Clara |
9714,50 |
6861,30 |
15,20 |
16968,80 |
Anastácio |
504,90 |
1325,60 |
17,50 |
1848,00 |
Aparecida do Taboado |
14036,00 |
4801,20 |
55,20 |
18892,40 |
Dois Irmãos do Buriti |
5721,80 |
4918,30 |
45,50 |
10685,60 |
Inocência |
27519,60 |
11820,00 |
50,80 |
39390,40 |
Paranaíba |
2985,80 |
1139,70 |
11,20 |
4136,70 |
Ribas do Rio Pardo |
13255,40 |
4920,60 |
8,70 |
18184,70 |
Santa Rida do Pardo |
9607,10 |
8749,70 |
2,50 |
18359,30 |
Selvíria |
40734,20 |
19244,70 |
158,90 |
60137,80 |
Três Lagoas |
54343,40 |
19881,20 |
76,40 |
74301,00 |
TOTAL |
178422,7 |
83662,3 |
441,9 |
262526,90 |
Tabela 3: Área de atuação com fazendas próprias, arrendadas e parceiras.
Fonte: Manejo Florestal, 2014.
A Tabela 3 mostra a área plantada da Indústria B de 178.422,70 hectares um percentual menor que a Indústria A, o que nos representa 26% da floresta plantada no estado. A localização da maior parte da floresta plantada é sentido leste do estado, no entanto o raio de distância da área plantada e da Indústria pode se maior que 200 km.
O processo produtivo da Indústria B, também é o Kraft, com linha única de produção. O processo Kraft descrito pelo Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) da Indústria B, inicia-se com o descascamento das toras, depois de picadas são transformadas em pequenas "lasquinhas" de madeira denominadas de cavacos. A casca residual e os rejeitos
do peneirados são enviados para uma pilha de biomassa coberta, a qual será utilizada na caldeira de biomassa. O cozimento acontece no digestor, que funciona como uma grande "panela de pressão" é colocada os cavacos e produtos químicos, para cozinhar e amolecer a madeira.
Com o amolecimento da madeira, as fibras se soltam e separam-se de uma substância da madeira chamada lignina , produzindo assim a chamada polpa marrom (celulose escura), a celulose passa por um processo de pré-branqueamento (processo físico-químico), usando como principal reagente o oxigênio. A polpa branqueada precisa ir para a secagem, e ser colocada em fardos. É esta a seção de secagem e enfardamento, onde ocorre a formação da folha, para garantir maior homogeneidade e evitar interrupções no processo ou irregularidades no produto. As folhas cortadas no tamanho programado serão empilhadas, prensadas em fardos, encapadas e identificadas. Os fardos também serão empilhados e unitizados, seguindo para o armazém de celulose. Os sistemas auxiliares da produção de celulose são: o a recuperação de Químicos do processo e o sistema de cogeração de energia (caldeira de biomassa, caldeira de recuperação e Turbo geradores).
Na tabela 4 tem-se síntese comparativa entre as Indústrias A e B:
Aspectos Analisados |
INDÚSTRIA A |
INDÚSTRIA B |
Potência instalada |
163,220 KW PIE |
226.000KW APE |
Capacidade Produção |
1,3 Milhões Ton./ano |
1,5 Milhões Ton./ano |
Área produtiva HA |
225.068,84 ha |
178.422,70 ha |
Madeira necessária por ano |
16.250 ha/ano. |
18.750 ha/ano |
Período de Maturação |
113.750,00 ha |
131.,250,00 ha |
Selos/Certificações |
Certificações florestais Forest Stewardship Council® (FSC®) e Cerflor/PEFC que envolvem o manejo florestal e a cadeia de custódia (CoC) na indústria, cada sistema de certificação possui seus próprios princípios e critérios e a certificação do Sistema de Gestão ISO 9.001(Qualidade) e ISO 14.001 (Ambiental). |
Forest Stewardship Council (FSC)
|
Número de empregos |
1694 |
1120 |
Programas Sociais |
Educação ambiental; Programa de Formação Ambiental, denominado "Árvore do Saber"; Gestão do relacionamento com partes interessadas. |
Programa Empresa B de Sustentabilidade (PES); Projeto Amigos do Meio Ambiente; Casa Sustentável. |
Controle Ambiental |
Monitoramento dos impactos hídricos das operações florestais Monitoramento de fauna e flora. |
(BAT – Best Available Technologies): visando redução, controle e monitoramento das emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos gerado.
|
Tabela 4: Comparação entre Indústria A e B.
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir da análise documental.
A capacidade de produção atual das florestas plantadas é de 40m³/ha/ano. Neste sentido, se for considerado o período médio de maturação de sete anos, tem-se uma produtividade 280 m3/ha. Segundo o questionário aplicado, para cada tonelada de celulose produzida são necessários 3,5 m3 de madeira, e são produzidos 1,45 ton. de licor negro, que é o principal resíduo na produção de energia tanto para o consumo próprio, quanto para fornecimento do excedente energético.
De acordo com os dados apresentados a Indústria A necessita de uma área plantada de 113.750,00 ha, para suprir sua capacidade de produção de celulose e a Indústria B 131.250,00 ha, o que ambas mantém com margem de segurança. Os dados apresentados no manejo florestal (2014) a área plantada de ambas as indústrias subsidia a produção de celulose anual, mesmo que a empresa opere na sua capacidade máxima, e permite o aproveitamento energético do subproduto para produção de energia.
Os dados são otimistas para cogeração de energia com fontes renováveis. É interessante ressaltar que mesmo tendo capacidade produtiva menor a Indústria A emprega um maior número de funcionários e foi eleita pelo Guia Exame de Sustentabilidade como empresa Sustentável do ano de 2014.
Diante resultados apresentados as empresas selecionadas possuem tecnologias modernas para produção de celulose, a biomassa e o licor negro residual necessário para obtenção de energia elétrica para os próximos sete anos estão garantidos. O estado de Mato Grosso do Sul atualmente possui área plantada superior de 699.128 ha, com potencial de crescimento devido às condições favoráveis de clima, solo e localização geográfica próxima às indústrias produtoras.
A geração de energias renováveis seria uma das possíveis saídas para os impactos causados pela energia convencional, além de proporcionar o reaproveitamento da biomassa e gerando lucro, atendendo os três pilares da sustentabilidade: social, ambiental e econômico. O excedente de energia gerado pela celulose, especificamente, seria uma maneira de amenizar a crise energética enfrentada pelo Brasil, bem como, investimentos nas demais fontes de energia renovável.
Ambas as empresas possuem certificações voluntárias na área ambiental, bem como desenvolve programas sociais e também o controle ambiental. Sendo assim, fica evidente a preocupação das mesmas em se manter competitiva.
Portanto, aumentar o potencial energético e ampliar as plantas produtivas será fundamental, pois, a energia oriunda das fontes florestais, pode ser considerada sustentável, uma vez que, contempla os pilares da sustentabilidade, gera novas oportunidades de negócios para a indústria de celulose e consequentemente o desenvolvimento local.
AEBION – European Biomass Association. Disponível em: <http://www.aebiom.org>. Acesso em março 2015.
ANDRADE, M. M. de. Introdução à metodologia do trabalho científico. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Disponível em <http://www.aneel.gov.br> Acesso em março de 2015.
BERNI, M.D., Pagliardi, O., Bordoni, O.F.J. G., Guia Técnico: Eficiência Energética na Indústria de Celulose e Papel, Mecanismos de Incentivo à Eficiência Energética para Economia de Baixo Carbono, Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), Confederação Nacional da Indústria (CNI), Eletrobrás/PROCEL, 2011
CANTO, J. L. Colheita mecanizada de biomassa florestal para energia. Tese (Doutorado em Ciência Florestal) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2009.
CASTRO, Nivalde José; BRANDÃO, Roberto; DANTAS, Guilherme de A. Texto de O Potencial da Bioeletricidade, a Dinâmica do Setor Sucroenergético e o Custo Estimado dos Investimentos. Discussão n. 29. GESEL/IE/UFRJ. Rio de Janeiro, 2010.
CENBIO – Centro Nacional de Referência em Biomassa. Disponível em: <http://cenbio.iee.usp.br/>. Acesso em março 2015.
DIAS, Reinaldo. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. 2ª edição, São Paulo: Atlas, 2011.
FRANCIS, D.W.; TOWERS, M.T.; BROWNE, T.C. - Energy costreduction in the pulp and paper industry - anenergy benchmarking perspective. Pulp and Paper Research Institute of Canada (Paprican).Canada, 2002.
FSC, Forest Stewardship Council. Sobre o FSC Brasil. 2015. Disponível em: <https://br.fsc.org/fsc-brasil.175.htm>. Acesso em jun. 2015.
GELLER, Howard Steven, Revolução Energética: Política para um Futuro Sustentável. Rio de Janeiro: Editora Relume Dumará, 2003.
IBA - Indústria Brasileira de Árvore. Disponível em : <http://www.iba.org/pt/> Acesso em maio 2015.
INMETRO, Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. Avaliação da conformidade. 2012. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/qualidade/cerflor.asp>. Acesso em junho 2015.
LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice Hall, 2003.
MAPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasil Projeções do Agronegócio 2011/2012 a 2021/2022. 2012. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/Ministerio/gestao/projecao/Projecoes%20do%20Agronegocio%20Brasil%202011-20012%20a%202021-2022%20(2)(1).pdf>. Acesso em junho 2015.
MCKENDRY, P. Energy production from biomass (part 2): Conversion technologies, Bioresour. Technol., vol. 83, no. 1, pp. 47–54, 2002.
MOURA, Luiz Antônio Abdalla de. Qualidade e Gestão Ambiental: sugestões para implantação das normas ISO 14.000 nas empresas. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2002.
PEFC, Programme for the Endorsement of Forest Certification Schemes. Sobre o PEFC Portugal. 2015. Disponível em: <http://www.pefc.pt/about/sobre-o-pefc-portugal>. Acesso em junho 2015.
SECEX- Secretaria de Comércio Exterior. Disponível em:<http://www.brasilexport.gov.br> Acesso em maio 2015.
SGROI, F. et al. Economic assessment of Eucalyptus (spp.) for biomass production as alternative crop in Southern Italy, Renew. Sustain. Energy Rev., vol. 44, pp. 614–619, 2015.
TADEU, Hugo Ferreira Braga ; SILVA, Jersone Tasso Moreira; CAMPOS, Paulo Március Silva. Logística reversa e sustentabilidade. 1. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011.
VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2000.
1. Doutoranda de Tecnologia, UNICAMP, E-mail: fabricia.rossato@pos.ft.unicamp.br
2. Professora Phd. Faculdade Tecnologia, UNICAMP, E-mail: iedahidalgo@ft.unicamp.br
3. Graduanda de Engenharia da Produção, UFMS, E-mail: alinebcarvalho8@gmail.com
4. Professora Ma. FACULDADE REGES, E-mail: sibele@reges.com.br
5. Graduando de Engenharia Agronômica, ESALQ/USP, E-mail: felipe.casale@usp.br
6. O Processo Kraft consiste na separação dos compostos presentes na madeira utilizando vapor e produtos químicos.
7. Sulfato de fabricação de celulose.
8. Start-up significa começo, início.