Espacios. Vol. 37 (Nº 09) Año 2016. Pág. 4

Formas de inovação na agricultura: O caso da denominação de origem protegida na produção de café de Cerrado Mineiro

Innovation forms in the Agriculture: The case of Protected Designation of Origin in Cerrado Mineiro's coffee production

Douglas Ken NAGAI 1; Giuliana Aparecida SANTINI PIGATTO 2; Ana Elisa Bressan Smith LOURENZANI 3

Recibido: 18/11/15 • Aprobado: 23/01/2016


Contenido

1. Introdução

2. As Inovações e suas Aplicações na Agricultura

3. Histórico de Adoções das Inovações Tecnológicas no Cerrado Mineiro

4. Método utilizado

5. Resultados

6. Conclusões

Referencias bibliográficas


RESUMO:

O objetivo principal foi analisar as inovações tecnológicas na produção de café na região do Cerrado Mineiro, avaliando-se inclusive, se a produção de café com Denominação de Origem foi capaz de orientar a melhoria de qualidade e gerar inovações. Como método foram aplicados estudos de caso, por meio de uma pesquisa de campo com os produtores rurais da região do Cerrado Mineiro, especificamente, do município de Patrocínio (MG). Os resultados demonstraram que os produtores que utilizam a Denominação de Origem possuem maior nível de melhorias e adoção de inovações voltadas à melhoria da qualidade da produção em relação aos produtores que não produzem cafés de origem.
Palavras-chave: Denominação de Origem, produção de café, inovação, produtores, Indicação Geográfica.

ABSTRACT:

The aim was to analyze the technological innovations in coffee production in the Cerrado Mineiro region, evaluating if the coffee production with Protected Designation of Origin was able to guide the improvement of quality and generate innovations. As a method were applied case studies, through a field research with farmers in the Cerrado Mineiro region, specifically in Patrocínio (MG). The results showed that the producers using the protected designation of origin have a higher level of improvement and adoption of innovations aimed at improving the quality of production in relation to the producers who do not produce source coffees.
Key-words: Protected Designation of Origin, coffee production, innovation, producers, Geographic Indication.

1. Introdução

A produção de café, juntamente com outros segmentos do agronegócio está inserida no contexto de profundas transformações ao longo do século XX e início do século XXI, em que a noção de produção passa a ser relacionada não apenas às indústrias de insumos ou processamento da matéria prima, mas com arranjos organizacionais complexos que envolvem os produtores rurais em suas atividades. Esse processo na transformação agrícola, segundo Buainain (2014), considera o agricultor como um agente competitivo e capaz de gerar, acumular e difundir conhecimentos e também participar de atividades que envolvam acordos internacionais, altos padrões de consumo e a demanda de produtos com maiores atributos de qualidade.

No mercado internacional de café, a competitividade é impulsionada pela demanda global do produto e pelo comportamento do consumidor em mercados de países desenvolvidos, como os Estados Unidos, a Alemanha e Japão. Saes e Spers (2006) analisaram que os principais fatores de consumo de café no Brasil estão ligados ao nome da empresa torrefadora, a qualidade do café e preço. Características como a origem do produto e o processo de produção nas fazendas apareceram como secundárias, de acordo com os autores. Mas, no caso dos países desenvolvidos e importadores de café, a rastreabilidade é valorizada, já que há maior preocupação com a origem e, especialmente, o uso de agrotóxicos na produção agrícola (Saes e Spers, 2006).

Diante da demanda internacional de café, o Brasil ocupa a posição de maior produtor e exportador mundial de café em grãos. No caso da produção, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB (2015), o Brasil é responsável por aproximadamente 25 a 30% da produção mundial de café desde 2001 e produziu aproximadamente cinquenta milhões de sacas de café em grãos no ano de 2014. Quanto às exportações, o Brasil abastece cerca de 30% do mercado muldial de café em grãos (em média por ano) desde 2001, seguido de Vietnã e Indonésia (ABIC, 2015).

Para se atingir uma posição de liderança na produção e exportação em um mercado competitivo como o de café, com diversas variáveis de qualidade demandadas pelos consumidores, a produção de café no Brasil sofreu uma série de transformações institucionais e tecnológicas desde sua introdução (SAES e SPERS, 2006). Especificamente, a rastreabilidade e a qualidade demandadas (principalmente nos mercados internacionais) permitiram aos produtores desenvolver a produção de origem, tão bem como adotar estratégias para competir no mercado internacional com o uso de registros de origem, tais como as denominações de origem, um tipo de indicação geográfica, que de acordo com o Instituto Nacional de Propriedade industrial - INPI (2013):

É o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos. Na solicitação da IG de Denominação de Origem, deverá ser apresentada também a descrição das qualidades e as características do produto ou serviço que se destacam, exclusiva ou essencialmente, por causa do meio geográfico, ou aos fatores naturais e humanos (INPI, 2013).

No âmbito nacional, o estado de Minas Gerais é o maior produtor de café, respondendo por 52% da produção de café verde em 2014 (CONAB, 2015). Segundo Ortega e Jesus (2012), o Brasil possui características edafoclimáticas que favorecem a produção de café em muitas regiões geográficas, entre elas, a região do Cerrado Mineiro, objeto de estudo neste artigo. Segundo Ortega e Jesus (2012), no caso da Região do Cerrado Mineiro, as transformações na produção de café receberam diretamente os benefícios originários da Revolução Verde, que auxiliou a produção local a se tornar mais eficiente, por meio da introdução de inovações tecnológicas ao longo de sua trajetória histórica. Os autores afirmam que a introdução da colheita mecanizada e o uso de insumos químicos, como herbicidas e adubos permitiram que a região atingisse altos níveis de produtividade.

Assim, o objetivo principal deste trabalho é analisar as inovações na produção de café na região do Cerrado Mineiro, avaliando-se inclusive, se a produção de café com DO foi capaz de orientar a melhoria de qualidade e gerar inovações. De modo específico, este artigo se propõe a demonstrar as inovações adotadas pelos produtores rurais de café entre 2012 e 2014 nas categorias de produto, processo de produção, processo gerencial, organizacional e de marketing. Nessa mesma perspectiva, também analisar comparativamente as adoções de tecnologias incorporadas pelos produtores rurais de café que passaram a comercializar com DO em relação aos produtores que ainda não comercializam café de origem.

A opção de investigar os produtores de café do Cerrado mineiro é devido ao fato da região ser a primeira a obter o registro de DO de café no Brasil e também por esse ser um fenômeno recente, uma vez que a concessão da denominação de origem ocorreu ao final de dezembro de 2013 pelo INPI (INPI, 2013). Outro fator de importância é o fato do Brasil ser o maior produtor de café mundial, seguido de Vietnã, Indonésia e Colômbia.

Recentes trabalhos relacionados ao café com certificação e registros de origem têm sido desenvolvidos a nível nacional e internacional, em países como Colômbia, na qual Teuber (2007) pesquisou as indicações geográficas com enfoque estratégico de diferenciação e comercialização internacionalmente; no Brasil, onde Lourenzani (2013) estudou as indicações de origem como forma de desenvolvimento da agricultura familiar.

Para o alcance do objetivo proposto este artigo encontra-se organizado em cinco seções, sendo a primeira esta introdução, onde é apresentado o tema, objetivo e justificativa do trabalho. A segunda seção traz contribuições teóricas sobre inovações e suas aplicações na agricultura, e o histórico de adoções das inovações tecnológicas no cerrado mineiro que auxiliam a análise. A terceira seção apresenta os métodos utilizados. Na quarta seção são apresentadas as discussões e resultados, finalizando-se com considerações finais na quinta seção.

2. As Inovações e suas Aplicações na Agricultura

O conceito clássico da inovação tem sua origem na teoria do desenvolvimento econômico de Schumpeter (1984), na qual o autor analisou que o desenvolvimento estaria intimamente ligado a um processo de sucessão de opções mais viáveis que substituiriam seus precedentes, por meio da necessidade de adoção e difusão de fatores inerentes ao mercado e sociedade, chamado de destruição criadora. O autor estabeleceu que as opções para o desenvolvimento (por meio das inovações) eram exclusivamente pela demanda de novos produtos, novos processos, abertura de novos mercados, fontes de matéria-prima e novas formas de organização, orientados para um resultado economicamente eficiente e necessário.

Na perspectiva clássica exposta por Schumpeter (1984) havia uma valorização do empreendedorismo para se gerar inovações, juntamente com o crescente surgimento das equipes especializadas, condicionando um ritmo fluido de inovações por meio da destruição criadora. A teoria Schumpeteriana demonstrou estar fundamentada em princípios da economia neoclássica e no pensamento Marxista, na qual os agentes de um dado mercado se comportariam de maneira competitiva, tendo que decidir racionalmente e intencionalmente suas ações, mediante diferentes graus de incerteza no ambiente em que convivem (Sastre, 2015).

A perspectiva do empreendedorismo também está presente nas unidades produtivas rurais, na qual o produtor agrícola tornou-se um agente com potencial de gerar inovação e empreendedorismo, não só dependente de instituições de pesquisa e desenvolvimento e outros segmentos de mercado, mas também para participar de arranjos organizacionais complexos de forma mais autônoma, bem como de absorver e gerar conhecimento por meio de processos de aprendizagem (Vieira Filho e Silveira, 2011).

Também é importante ressaltar que os produtores são agentes importantes na perspectiva da teoria econômica neoclássica schumpeteriana [4], no qual Sastre (2015) analisa que os agentes de mercado agora tem que decidir de forma racional e intencionalmente as suas ações pelos diferentes graus de incerteza no ambiente em que vivem, e que implica potencial de gerar desequilíbrio no mercado competitivo através de inovações. A partir dessa teoria, os atributos endógenos aos agentes passaram a ser considerados para diversos tipos de estudos, entre eles, os das inovações.

Segundo Ménard e Valceschini (2005), em um cenário competitivo, as mudanças ocorrem não só na dimensão técnica, mas também na capacidade de sinalizar a qualidade e garantir a segurança de um produto ou serviço oferecido, apoiadas por um quadro institucional eficiente e transacional.

Segundo a OECD (2005), inovação é a implementação de um novo ou melhorado produto ou serviço, processo, método organizacional ou de marketing, sendo que cada uma dessas inovações abrange uma ampla gama de atividades das organizações. No caso das inovações de produto, as características e capacidades do produto ou serviço sofrem mudanças, seja para novos ou melhorados produtos; no caso de uma inovação de processo é a maneira de se fazer um produto ou serviço ou no método de entrega que sofrem mudanças, se constituindo em novo ou melhorado processo. As inovações de marketing envolvem a implementação de novos métodos de marketing, até então não implementados, como no desenho do produto e na embalagem, promoção do produto etc, ou se constituem em melhorias nas práticas de marketing já existentes. Quanto às inovações organizacionais, estas ocorrem quando há alterações no comportamento e relações das pessoas envolvidas com a organização e mudanças em seus princípios e valores, adaptando a organização a mudanças no mercado.

As inovações de produto geralmente buscam uma alteração no valor do produto, seja por meio da melhoria da qualidade ou inclusão de novas características, seja diminuindo o valor por meio de matérias-primas mais baratas. Já as inovações de processo objetivam diminuir os custos operacionais ou administrativos, por meio da otimização de um método já praticado. As inovações de processo também visam aumentar a qualidade dos produtos, por meio de processos de avaliação e controle de produtos ou serviços (OECD, 2005).

Já as inovações de marketing, segundo Malerba e Orsenigo (2001), buscam obter mudanças no valor do produto sem necessariamente alterar suas funções. As inovações de marketing incluem alterações no design, embalagem, meio de transporte e locomoção de produto ou serviço. Outra característica das inovações de marketing é a capacidade de mitigar o risco de uma organização, por meio do posicionamento estratégico de seus produtos em diferentes mercados, tornando a organização menos suscetível às baixas na demanda ou escassez de matéria-prima. Já as inovações organizacionais, segundo a OECD (2005) e Santini Pigatto e Barcellos (2015), podem tanto aumentar o desempenho das organizações, por meio da redução dos custos administrativos ou de transação, como melhorar a satisfação no local de trabalho, reduzir custos de abastecimento etc.

As inovações também são de natureza incerta, pois dependem também do histórico e do nível de adoção e adaptação de tecnologias por um agente ao longo de sua trajetória, condicionadas por um processo contínuo de aprendizagem. Também possuem um grau de incerteza devido à imprevisibilidade de sua aceitação pelo mercado, bem como da competição com outras inovações entrantes, em um cenário microeconômico (Cimoli e Dosi, 1995).

As inovações também estão potencialmente suscetíveis a um processo de difusão em seu meio de ocorrência. A difusão é a capacidade de uma inovação se tornar consolidada em um meio pela aceitação da maioria das unidades presentes nele. A difusão das inovações, segundo Feder e Umali (1993) só pode ocorrer quando já está em uso por uma ou mais organização ou pessoa. Os autores afirmam também que o processo de difusão pode ser analisado em dois principais níveis: microanalítico, na qual se explora a tomada de decisão do adotante; ou macroanalítico, que é concentrada no desempenho de uma inovação em um ambiente.

Especificamente no caso da difusão de inovações agropecuárias, devem ser considerados os parâmetros de controle que regem o nível de uma difusão em questão. Um exemplo é a difusão de uma muda em um determinado meio, na qual o nível de difusão seria considerado pelo número de produtores que a adotaram e passaram a fazer o uso da muda; uma outra situação seria no caso da mesma muda, mas em relação à área total de cultivo de cada produtor. Outro exemplo são as máquinas, cuja difusão pode ser medida tanto pelo número de pessoas que as utilizam, como também em relação à representatividade da mesma no processo produtivo de cada produtor (Sunding e Zilberman, 2001).

No caso deste artigo, as inovações serão avaliadas sob o ponto de vista da adoção, e não do processo de difusão.

3. Histórico de Adoções das Inovações Tecnológicas no Cerrado Mineiro

Como já exposto anteriormente a partir de Ortega e Jesus (2012), a região do Cerrado Mineiro recebeu diretamente os benefícios originários da Revolução Verde, permitindo que a mesma alcançasse altos níveis de produtividade.

No que se refere às características naturais e climáticas do Cerrado Mineiro, Ortega e Jesus (2011a) afirmam que a região é propícia para a produção de café com qualidade, uma vez que se enquadra nas seguintes características:

A região do Cerrado Mineiro possui uma temperatura média de 18°C a 23°C, uma altitude de produção cafeeira de 800 a 1.300 metros acima do nível do mar e um índice pluviométrico médio de 1600 milímetros anuais, com baixa umidade relativa do ar no período da colheita (Ortega e Jesus, 2011 a, p 773).

Todavia, antes de se compreender as melhorias tecnológicas na trajetória histórica da região, é necessário compreender alguns aspectos políticos, institucionais e organizacionais.

Na perspectiva de Mafra (2008), a busca por constantes transformações foi impulsionada pela expectativa de aumento do preço do café em relação a outras regiões tradicionalmente produtoras, como o Sul de Minas Gerais. O preço do café no Cerrado foi historicamente inferior à média do estado de Minas Gerais até o início da década de 1990, quando os investimentos feitos ao longo dos anos trouxeram um aumento nos preços devido às inovações técnicas e organizacionais (Mafra, 2008).

A partir da década de 1990, o café do Cerrado passou por um processo de inovação organizacional e institucionalizou-se como uma rede organizacional aberta, segundo Mafra (2008), por meio da criação do Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado (CACCER), que atualmente transformou-se em Federação da Região do Cerrado Mineiro. Segundo o autor, a criação do CACCER foi realizada como uma forma de iniciativa local com o objetivo de valorizar e melhorar a qualidade do café na região e significou um maior nível de cooperação institucional em relação a outras regiões produtoras. O formato de rede aberta foi uma proposta de demonstrar que a região não se comportava de maneira hierarquizada como tomadora de decisão, mas sim, que o CACCER era uma instituição onde todos os membros poderiam ter poder de participação ativa e novos membros poderiam ingressar.

Outro fator que afetou a evolução do Cerrado foi a crise da década de 1980, pois o café perdeu seu papel estratégico na economia nacional e as antigas políticas providas pelo Estado foram substituídas por novos arranjos institucionais. As políticas para o café eram predeterminadas pelo Estado e competiam frente a outros segmentos nacionais por recursos e investimentos, e foram substituídas por organizações de interesse privado, como associações e cooperativas, determinantes para o surgimento de políticas setoriais (Saes, 1995).

No caso do Cerrado Mineiro, a criação do EXPOCACCER, em 1996, demonstrou o surgimento de um novo arranjo institucional de interesse privado, pois foi criado como uma central de cooperativas, tendo como objetivo comercializar o café da região com as torrefadoras nacionais e internacionais. Como esse arranjo foi criado e mantido por produtores, ele surge como uma alternativa de diferenciação da produção cafeeira, sem processos de verticalização da cadeia produtiva, nem alterações industriais do produto para a agregação de valor (Saes, Nassar e Nunes, 1999).

Essas organizações, no caso o CACCER e o EXPOCACCER também demonstraram ser um importante espaço condicionado por uma rede de produtores, que segundo Barra e Machado (2006) servem como uma forma de se intercambiar experiências e conhecimento, por meio da cooperação entre os envolvidos na atividade cafeeira e contribuem para a redução da assimetria de informação, diminuição dos custos de transação e aumento da confiança mútua. Os autores também afirmam que essa rede demanda novos conceitos à organização, como a responsabilidade social, qualidade e preservação ambiental.

Outro aspecto importante foi a mudança de status no produto café da região do Cerrado Mineiro, obtido pela Indicação Geográfica. A produção no Cerrado Mineiro entrou com seu primeiro pedido de Indicação Geográfica em 1995, obtendo-a em 2005, na forma de Indicação de Procedencia (INPI, 2015), com o objetivo de diferenciar seu produto e acessar mercados internacionais, bem como aumentar o preço comercializado.

Segundo Mafra (2008), apesar da valorização da região em si provida pela IG, esta também trouxe ao produto uma grande melhoria de marketing. O café passou a ser respeitado não só internacionalmente, mas também pelos produtores, que passaram a considera-lo como um produto de alto nível. Esse reconhecimento fomentou ainda mais a participação ativa dos produtores em organizações, como associações e a Federação do Cerrado, e cooperativa credenciada para exportação do café da região, a EXPOCACCER.

No que tange à mecanização da produção agrícola, Ortega e Jesus (2011 a) analisaram a evolução no uso dos maquinários no Cerrado Mineiro desde a década de 1970 até o ano de 2010, e constataram que houve um aumento significativo de uma série de maquinários, entre eles: tratores, arados, pulverizadores, arruadores, plantadeiras, colhedoras e grades. Esse aumento dos maquinários também levou a uma redução da mão de obra empregada no processo produtivo, principalmente na fase de colheita do café, que antes era realizada de maneira manual e exigia um elevado número de trabalhadores (Ortega e Jesus, 2011a).

 Essas características, somadas às condições climáticas favoráveis tornaram a região competitiva na produção de café. Essa competitividade trouxe novos desafios para a região, como o desenvolvimento da genética para a criação de novas variedades mais resistentes a pragas e doenças, e a diferenciação do café produzido. 

No que diz respeito ao processo de manejo, o uso do plantio e colheita mecanizados auxiliou no aumento da produtividade e readequação da estrutura da propriedade, expressa pela alteração do distanciamento entre os carreadores (semiadensamento), a remoção de árvores nas áreas plantadas e o nivelamento da inclinação do solo, gerando ganhos na velocidade da produção. Esse processo mecanizado foi iniciado na década de 1970, porém, foi intensificado na década de 1990 (Ortega e Jesus, 2011a). 

O processo de colheita mecanizado, segundo Ortega, Jesus e Mouro (2009) trouxe uma série de impactos para a região do Cerrado. A primeira grande consequência está ligada diretamente à redução de mão de obra na região. Os autores analisaram que houve forte impacto da implantação da colheita mecânica em regiões onde havia um grande número de trabalhadores temporários, pois os postos de trabalho foram ocupados pelas máquinas, influenciando não a região produtora, mas sim, as regiões de origem dos trabalhadores. Entretanto, os autores analisaram também que houve um aumento da mão de obra permanente na região produtora, principalmente de trabalhadores mais qualificados, como tratoristas, operários, técnicos e administradores. Outra consequência da colheita mecanizada foi o crescimento das empresas terceirizadas especializadas em fornecer o serviço de colheita, tornando a colheita viável para produtores que não possuíam tal capacidade de investimento ou imobilização de capital (Ortega, Jesus e Mouro, 2009).

As propriedades rurais com registro de IG do Cerrado Mineiro também passaram a adotar o sistema de georreferenciamento, o qual garante a segurança alimentar e a origem dos produtos. Este sistema também identifica os limites geográficos da propriedade, sua altitude, cursos d'água, reservas e áreas para plantio (Ortega, Jesus e Mouro, 2009).

Outro aspecto importante para o processo produtivo foi o uso do plantio direto, uma vez que este contribuiu para a manutenção dos solos por meio da massa verde, pois antes se capinava o solo três vezes ao ano, expondo a terra a intempéries. Com o plantio direto, segundo Ortega e Jesus (2011b), a cobertura vegetal é aparada sem remover as plantas, mantendo a forragem no solo e protegendo-o do sol e chuvas. A capina, neste caso, ocorre quimicamente e uma única vez ao ano (Ortega e Jesus, 2011b).

Na esfera química, o processo produtivo foi impulsionado pelo uso de herbicidas e implementos para o controle das pragas e doenças, bem como para a realização da capina. O uso da irrigação também foi benéfico neste aspecto, pois possibilitou uniformizar a produção em termos de balanço hídrico e permitiu à produção resistir aos períodos de menor chuva.

No que tange à estrutura das plantas, Ortega e Jesus (2011a) afirmam que a introdução de novas variedades de café, mais adaptadas ao Cerrado foi auxiliada pela existência de institutos de pesquisa, como no caso, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), e Universidades. Os autores afirmam que o café é um produto com menos avanços na esfera tecnológica de desenvolvimento de variedades em relação a culturas como soja e milho, porém, destacam uma série de benefícios originários dessas pesquisas, como: variedades com desprendimento do fruto mais mole, com menor estatura (mais adaptadas para a colheita mecanizada ou manual), com galhos melhor distribuídos ao longo da copa.

Outra grande melhoria nas variedades foi a introdução de plantas com diferentes períodos de maturidade na colheita (precoce, semiprecoce e tardia), o que possibilitou melhorias expressas pelo fornecimento mais constante ao longo do ano e também diminuiu a ociosidade das máquinas envolvidas no processo produtivo (Ortega e Jesus, 2011b). 

Após a implantação da DO, o INPI (2013) estabeleceu que o café produzido na região do Cerrado Mineiro deva possuir uma série de qualidades referentes ao sabor, aroma e qualidade do produto, sendo que para se manter tal qualidade são necessárias técnicas avançadas de cultivo, plantio e manejo das plantas. No que tange à fertilização, deve-se utilizar calcário, adubos fosfatados associados ou não a micronutrientes, adubos potássicos, adubos com micronutrientes e matéria orgânica. O plantio das mudas deve ser feito com mudas de meio ano, mais ou menos com seis a oito meses de idade, com três a cinco pares de folhas, e cujo plantio pode ser efetuado em qualquer época do ano, mas preferencialmente, no início do período chuvoso (INPI, 2013).

4. Método utilizado

Um dos métodos escolhidos em termos de objetivos desta pesquisa foi o exploratório. Gil (2002a) afirma que tal método serve para investigar de maneira mais ampla uma população ou fenômeno, embelecendo ideias. No caso deste artigo, a etapa do estudo exploratório se referiu às adoções tecnológicas que objetivaram o aumento de qualidade, auxiliando na análise dos resultados. Para o cumprimento das exigências técnicas de produção do café com denominação de origem analisou-se quais melhorias foram incorporadas pelos produtores rurais que comercializam com a DO, comparativamente aos produtores que não comercializam com selo de origem, ambos com periodicidade entre 2012 e 2014.

Assim, outro método empregado foi o comparativo, conforme Marconi e Lakatos (2010), que serve para estudar semelhanças e diferenças de uma mesma população ao longo do tempo. A comparação foi feita abordando as características de diferentes propriedades, no que diz respeito às adoções de tecnologias voltadas a melhoria de qualidade da produção, entre produtores que comercializam com a DO em relação aos que produzem café sem selo de origem.

Quanto aos procedimentos de pesquisa, o método escolhido foi o de múltiplos casos, definido por Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002) como adequado para situações na qual há testes de validação da teoria. Segundo Yin (2003), o estudo de caso é um método eficiente de responder às questões do tipo explicativas de fenomenos sem uma vasta disponibilidade de informações, onde há foco em eventos contemporâneos reais. Lourenzani (2013) também aplicou o método de múltiplos casos nas regiões produtoras de café da Serra da Mantiqueira e Norte Pioneiro do Paraná, ao estudar as interações entre as Indicações geográficas e a agricultura familiar no Brasil.

O meio utilizado para obtenção das fontes primárias de dados foi uma pesquisa de campo, descrita por Gil (2002b) como uma forma de se aprofundar nas questões propostas pela pesquisa, dentro de um único grupo ou comunidade. Para tal, foram elaborados e aplicados dois tipos de formulários (a cada grupo de produtores avaliados) com questões gerais da produção e melhorias de inovação realizadas (ou não) e objetivos alcançados (elencando-se em média sete fatores de objetivos para cada mudança).

Assim, a pesquisa de campo foi realizada com os produtores de café com selo de origem e produtores de café sem selo de origem na região do Cerrado Mineiro, especificamente na cidade de Patrocínio-MG, no primeiro semestre de 2015. Ao todo foram entrevistados onze produtores e foi elaborada uma amostragem não probabilística intencional, de população finita, descrita por Martins e Domingues (2011) como uma forma de obter dados de uma população usando uma parcela da mesma, na qual a amostra é escolhida intencionalmente pelo entrevistador. A amostra levantada dividiu o grupo em dois estratos principais: sete produtores que no ano de 2014 comercializaram com o selo de origem em safras de café ou estavam aptos para tal; e quatro produtores que ainda não adaptaram suas produções para o uso da Denominação de Origem. A escolha da cidade de Patrocínio para a realização da pesquisa foi baseada não apenas pela presença dos produtores citados anteriormente, mas também por ser a cidade sede da Federação do Cerrado Mineiro e da cooperativa EXPOCACCER, única cooperativa habilitada a exportar o café com selo de origem na região.

Após a pesquisa de campo, os dados foram tabulados em planilha do Excel e analisados. A análise dos resultados envolveu o método exploratório e qualitativo, e com a elaboração de diagramas descritivos (ou seja, por meio de gráficos, tabelas e figuras). As análises também puderam ser aprofundadas qualitativamente por meio da observação in loco dos pesquisadores e trocas de informações com especialistas do segmento, vinculados à Federação do Cerrado Mineiro.

 

5. Resultados

No que tange à esfera das unidades produtoras (fazendas), a aplicação dos formulários permitiu gerar dois tipos de extratos de produtores quanto à produção de café. O primeiro extrato, formado por sete respondentes (que serão descritos como produtores A, B, C, D, E, F e G) são produtores que fazem uso da DO e produzem um café de alta qualidade (cumprem com os requisitos da Federação). O segundo extrato, formado por quatro produtores (agentes H, I, J e K) que não comercializam café de origem. Esse segundo extrato é formado por produtores que possuem diversas características distintas, desde os que já possuem um café de qualidade e estão em fase de adaptação para começar a utilizar o selo de origem (produtores H e I), até um produtor (produtor K) que desconhece e não interage com a Federação, ou não tem interesse de investir em qualidade no momento (produtor J), produzindo cafés sem selo de origem ou certificações.

Os resultados demonstram que a implantação da Denominação de Origem no Cerrado Mineiro objetivou dois principais aspectos: a melhoria da qualidade do café produzido na região e a sua rastreabilidade.  Esse foco em qualidade objetiva a comercialização com destino ao mercado externo e pode ser percebido por meio dos requisitos exigidos pela Federação [5], descritos no manual de garantia de qualidade da produção, e que são: a) a unidade produtora estar no âmbito da região demarcada como Cerrado Mineiro; b) exigência de alcance mínimo de 80 pontos na escala SCAA (Specialty Coffee Association of America); escala aceita como referencia para se medir a qualidade do café: c) produção em altitude entre 800 e 1300 metros; d) produção de Coffea Arabica como espécie oficial; e) uso de boas práticas agrícolas e respeito à legislação brasileira; f) exigência dos lotes serem armazenados exclusivamente em cooperativas/ armazéns credenciados e; g) uso somente da sacaria oficial identificada pelo selo de origem (REGIÃO DO CERRADO MINEIRO, 2015).

Os produtores do primeiro estrato demonstraram uma ocorrência maior de inovações tecnológicas em relação aos que não comercializam com a Denominação de Origem, conforme mostra o quadro 1.


Quadro 1 – Melhorias adotadas pelos produtores e seus respectivos objetivos

Tipos de Inovações

Alteração/ inovação Adotada

Produtores Adotantes

 

Objetivos da Inovação

Produto

Com DO

Sem DO

Muda de Café

(Substituição para os tipos de mudas)

Rubi

 

H

Aumentar a produtividade

Topázio

 

H

Aumentar a produtividade; Melhorar a qualidade do café;

Resistencia a pragas e Doenças

IBC 12

G

K

Aumentar a produtividade; Melhorar a qualidade do café;

Resistencia a pragas e Doenças

Catucaí

 

I,

Aumentar a produtividade; Melhorar a qualidade do café

Tupi RN

E, G

 

Resistencia a pragas e Doenças

Bourbon Amarelo

C, G

 

Melhorar a qualidade do café; Aumentar a Produtividade

IAC 25

A, B

 

Aumentar a produtividade; Melhorar a qualidade do café;

Resistencia a pragas e Doenças

Oeiras

B

 

Melhorar a qualidade do café; Resistencia a pragas e Doenças

Café Encapsulado

Produção de Café encapsulado

A, B

 

Melhorar a qualidade do café; Perspectiva de Melhor de preço

Processo – Plantio e Manejo

Inovação Adotada

Com DO

Sem DO

Objetivos

Adubos

 

De esterco sem tratamento para composto orgânico

 

A

 

Aumentar a produtividade; Melhorar a qualidade do café

 

De NPK liquido para adubo encapsulado NPK

B, F, G

 

Aumentar a produtividade; Diminuir Custos; Utiliza Menos mão de obra

Mudanças na Base de Nitrato

C

 

Produção mais Sustentável; Diminuir Custos

Pesticidas e Herbicidas

De químicos para roça mecânica sem químicos

A

 

Produção mais Sustentável; Diminuir Custos

Uso de pesticida Foliar

C

 

Produção mais Sustentável

Uso de Cloropirifós

E, B

 

Imposição Legal devido a abolição do endosulfan

Uso de Cyantraniliprole

E, B

 

Imposição Legal devido a abolição do endosulfan

Espaçamento entre os Carreadores

Plantio alinhado ao sol

A, B, C, E, F, G

 

Aumentar a produtividade; Melhorar a qualidade do café

Aumento de Adensamento de 2,5m para 2,0m entre as ruas

C, G

 

Aumentar a produtividade; Melhorar a qualidade do café

Tipo de Poda

Redução de tamanho da planta

B

 

Aumentar a Produtividade; Facilitar a Mecanização

Substituição ou aquisição de maquinários

Adubadeira

A, C, D, E

 

Aumentar a produtividade; Melhorar a qualidade do café

Catadeira de café

A, B, D

 

Aumentar a produtividade; Melhorar a qualidade do café

Despolpador

B

 

Melhorar a qualidade do café

Podadeira

C

 

Aumentar a produtividade; Melhorar a qualidade do café

Pulverizador

D, E

H

Melhorar a qualidade do café

Secadores Rotativos

G

J

Evitar perda de qualidade do café; Reduzir os Custos

Soprador

C

 

Aumentar a produtividade; Melhorar a qualidade do café

Trator

B, E

 

Aumentar a produtividade

Processo de fermentação

Adoção do sistema Fully Washed Colombiano

A, B, D

 

Melhorar a qualidade do café

Processo - Colheita

Inovação Adotada

Com DO

Sem DO

Objetivos

Mecanização da Colheita

Aquisição de Colhedora

A, E, F, G

H, I, J

Aumentar a produtividade; Melhorar a qualidade do café; Reduzir mão-de-obra; Diminuir os Custos

Processo - Secagem

Inovação Adotada

Com DO

Sem DO

Objetivos

Infraestrutura

Construção de terreiro suspenso

A, C, G

 

Evitar perda de qualidade do café

Construção/ Ampliação de Terreiro Pavimentado

D, E, F

J, K

Evitar perda de qualidade do café

Tempo no sequeiro

Aumento de 3 a 5 dias para até 15 dias

A

 

Evitar perda de qualidade do café

Processo - Armazenagem

Inovação Adotada

Com DO

Sem DO

Objetivos

Estrutura

Instalação de Tulhas de Aeração

B

 

Evitar perda de qualidade

Processo - Gerencial

Inovação Adotada

Com DO

Sem DO

Objetivos

Sistema Informatizado

Software Feedback Araguari

(criação de diário de campo)

A, B, C, D, E, F, G

H, I, J

Eficiência dos custos de produção

Software Microsoft Excel

(criação de diário de campo)

A, B, D

 

Tornar a produção mais eficiente; Eficiência dos custos de produção; Protocolo da Certificação Rainforest

Software Microsoft Access

(criação de diário de campo)

A

 

Tornar a produção mais eficiente; Eficiência dos custos de produção

 

Gestão da Propriedade

Criação de Planejamento Estratégico anual

E

 

Eficiência dos custos de produção

Formalização da Estrutura Organizacional

E

 

Melhorara a Organização da Propriedade

Formalização do quadro de funções dos colaboradores

B

 

Tornar a produção mais eficiente

Eficiência dos custos de produção

 

Terceirização da Colheita

D

 

Diminuir Custos

Formalização das horas extras e do registro de acompanhamento médico dos funcionários

E

 

Tornar a produção mais sustentável

 

Implantação de sistema de Gestão de resíduos

G

 

Produção mais sustentável

Organizacional

Inovação Adotada

Com DO

Sem DO

Objetivos

Adesão à Consultoria

Adesão à consultoria fornecida pela EXPOCACCER em parceria com o SEBRAE (Educampo)

A, B, C, D, E, F, G

H, I, J

Auxiliar na organização e Gestão das propriedades;

Tornar a produção mais eficiente

Estrutura

Criação de sala de Prova de café

F

 

Certificação UTZ

Marketing

Inovação Adotada

Com DO

Sem DO

Objetivos

Café com Marca própria

 

Venda de café com a marca do produtor rural

A, B

 

Aumentar a Lucratividade

Cafés encapsulados com marca própria

Venda de café encapsulado com a marca do produtor rural

A, B

 

Aumentar a Lucratividade; Diversificar a produção

Fonte Elaborado pelos autores (2015).

É possível perceber que em cada estrato analisado, no caso dos produtores que comercializam com a Denominação de Origem houve maiores níveis de adoção de inovações em todas as categorias apresentadas, com exceção da adoção de: novos tipos de mudas (inovação de produto), mecanização da colheita (inovação de processo), sistema informatizado (inovação de processo gerencial) e adesão a consultoria (inovação organizacional), cujos três dos quatro produtores do estrato dois - produção sem o selo de origem - também as realizaram.

A alteração de produto, no tocante à variedade de muda utilizada foi importante para ambos os grupos, sendo que três dos quatro produtores que não comercializam com a DO afirmaram ter trocado ou ampliado a variedade de cafés, com o objetivo de melhorar a qualidade e atingir a pontuação estabelecida pela Federação, e aumentar a produtividade. No caso dos produtores que já comercializam com a DO, as trocas dos tipos de mudas tiveram como objetivo principal a melhora na qualidade do café e de modo secundário, os aumentos na produtividade e na resistência a pragas e doenças, como a ferrugem.

Uma vez que não há requisitos de tipologias de cafés para a comercialização de cafés de origem na região, salvo apenas que as espécies devam ser derivadas do Coffea arabica, os produtores adotam suas mudas baseadas em suas próprias estratégias e condições pessoais.

No que tange à produção de café encapsulado, os produtores A e B foram os únicos entrevistados que declararam ter verticalizado a torrefação de café. Ambos passaram a produzir café torrado em suas propriedades e encapsulá-lo por meio de uma empresa terceirizada, visando exportar para o mercado externo. Ambos declararam também que de maneira geral os produtores que comercializam com selo de origem podem comercializar e exportar seus cafés de origem por meio de uma cooperativa credenciada pela Federação do Cerrado. Entretanto, os produtores A e B visam aumentar a qualidade de seus produtos comercializando-os como produtos finais para mercados como Estados Unidos, União Europeia e Japão.

No caso das inovações de processo produtivo, em termos de plantio e manejo, a de alteração no espaçamento dos carreadores foi observada em todas as produções que alcançaram a comercialização com DO, com exceção do produtor D. A mudança declarada pelos produtores foi a implantação do plantio alinhado à incidência do sol, que evita o sombreamento do café e melhora a qualidade da produção, e o aumento de adensamento de plantio entre as ruas (em menor medida). Já nos produtores que ainda não alcançaram a produção com DO, essas mudanças não foram adotadas. De modo geral, os objetivos mais frequentes visados em todas as mudanças de plantio e manejo foram (em ordem decrescente de importância): a melhora na qualidade e o aumento de produtividade, a redução de custos e o alcance de uma produção mais sustentável.

Os produtores que comercializam com a DO também apresentaram maior número de ocorrências de aquisição ou substituição de maquinários para realização do plantio e manejo da produção, conforme o quadro 1. No caso dos produtores que não possuem café de origem, somente os produtores H e J adquiriram respectivamente um pulverizador e um secador rotativo. O produtor A deu destaque aos benefícios do equipamento catadeira de café em termos do processo de reaproveitamento do café que cai no chão durante a colheita. Antes o processo de catação ocorria manualmente e exigia muita mão de obra e tempo.

Os produtores A, B e D também implantaram o sistema de café lavado Fully Washed,  que serve para evitar alterações na qualidade do café devido a fermentações indesejadas ou decomposição dos grãos. Os produtores A e B declararam serem pioneiros na região do Cerrado Mineiro no uso desse sistema, tendo se organizado para realizar uma visita às propriedades colombianas que usavam esse sistema.

Quanto ao processo de colheita, as inovações se deram exclusivamente pela mecanização realizada pelas colhedoras, sendo estas adquiridas (pelos produtores A, E, F, G, H, I, J) ou terceirizadas (produtor D).  Os principais motivadores de tais aquisições foram o aumento da produtividade em sacas, a diminuição de custos operacionais e o aumento da qualidade da produção. Os entrevistados em geral também declararam que a mecanização da colheita foi considerada prioridade entre os maquinários escolhidos para obtenção. O produtor B declarou que, de maneira geral, os produtores têm buscado essa opção para otimizar a produção. Apesar de o produtor B não aparecer como adotante de maquinário para colheita no quadro 1, declarou realizar há quase 10 anos a colheita mecanizada em sua propriedade. Também para os produtores que ainda não alcançaram a produção com DO, a aquisição de colhedora se mostrou importante.

A forma de secagem também passou por mudanças, principalmente entre os entrevistados com DO e alguns produtores sem produção com DO (dois produtores), em termos de alterações na infraestrutura de secagem por meio da troca dos sequeiros de terra batida por sequeiros de concreto ou asfaltados. Este tipo de sequeiro, segundo os produtores A, B e F [6] diminui a perda de qualidade da produção, uma vez que há menos contato com a poeira e umidade do solo.

Também foram instalados sequeiros suspensos pelos produtores A, C e G, com o objetivo de evitar perdas de qualidade do café, uma vez que nesse tipo de terreiro o tempo de secagem é otimizado e diminui a exposição às intempéries climáticas.

No caso das estruturas de armazenagem, o produtor B adotou tulhas de resfriamento na silagem, a qual aumentou a taxa de uniformidade de temperatura do café estocado, reduzindo perdas de qualidade. Os demais produtores não adotaram essa prática.

É possível perceber que existe uma série de inovações sendo adotadas pelos produtores, mas com predominância de três principais objetivos: o aumento da produtividade, a melhoria da qualidade e a diminuição dos custos de produção. Em geral, a melhoria da qualidade se mostrou presente na maioria das inovações adotadas, com exceção da adoção de maquinários, que teve a diminuição dos custos e aumento da produtividade mais presente. No caso das melhorias de processo do tipo gerencial é possível perceber que as duas principais melhorias observadas foram: informatização da gestão e produção, e mudanças nas práticas de gestão das propriedades, as quais ambas objetivaram a eficiência em custos e da produção.

No caso do uso de sistemas informatizados, com exceção do produtor K, todos os produtores declararam usá-los para gerenciamento do processo de produção da fazenda, objetivando principalmente tornar a produção mais eficiente. Especificamente, o produtor E, que possui formação na área da administração alterou a forma de gestão da propriedade por meio da criação de um planejamento estratégico, formalização da estrutura organizacional e maior controle de registros dos funcionários.

No que tange às inovações organizacionais, com exceção do produtor K, todos os outros aderiram à parceria com o SEBRAE, intermediada pela cooperativa EXPOCACCER, a fim de fornecer aos produtores cursos voltados à gestão da propriedade. Os produtores de maneira geral afirmaram que a parceria fornece diversos cursos e assistência técnica para os produtores, como sucessão familiar das fazendas, uso de sistemas informatizados para gerenciar a produção, custos de produção na agricultura, entre outros.

Foi identificado também que o produtor F construiu uma sala para prova de café em sua propriedade, a fim de melhor controlar a qualidade de sua produção. Entretanto, a prova de café realizada na propriedade não garante o selo de origem ao produtor, sendo necessário que o café seja aprovado pelo degustador oficial da Federação do Cerrado.

As inovações de marketing ocorreram principalmente pela criação de uma marca própria dos produtores, com seus nomes próprios ou das suas fazendas, para a venda de café torrado inteiro, moído ou encapsulado. A criação da marca própria objetivou principalmente o aumento da lucratividade e diversificação da produção, pois incorporou aos produtores A e B a opção de produzir produtos finais para venda direta ao consumidor.

6. Conclusões

Pode-se concluir que o ritmo de melhorias e de adoção de inovações tecnológicas é maior em unidades produtivas que comercializam com a Denominação de Origem. De maneira geral, tiveram como principal objetivo a melhoria da qualidade da produção de café. Uma exceção foi a adoção de maquinários no processo produtivo, que objetivou principalmente o aumento da produtividade. Entretanto, vale ressaltar que as ocorrências, mesmo nesse caso, foram mais frequentes em unidades que já comercializam com a Denominação de Origem.

A melhoria na qualidade do café também alterou o processo produtivo de produtores pioneiros em cafés torrados e encapsulados próprios, como visto no caso dos produtores A e B.

É possível perceber também que houve avanços em relação aos desafios para a produção do Cerrado Mineiro, exposto por Ortega e Jesus (2011a). Os autores haviam exposto desafios para o combate às pragas e doenças por meio da introdução de variedades de mudas mais resistentes. Os resultados deste artigo mostram que de fato foram introduzidas novas variedades com esse objetivo, como IAC 25, IBC 12, TupiRN e Oeiras.

É necessário ressaltar que a dinâmica de inovações e introdução de novos padrões de qualidade necessita de condições favoráveis de demanda e realização de investimentos. Como relatado pelos produtores, maior parte da demanda é originária de mercados externos, como os Estados Unidos, União Europeia e Japão.

Ainda que as mudanças realizadas pelos produtores sem a produção com DO tenham sido em menor intensidade, três dos quatros produtores analisados já sinalizam alterações em prol da melhoria da qualidade, podendo-se inferir que a médio e longo prazo resultem também em produção com DO, o que sinalizaria a expansão desse padrão pela qualidade.

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1. (Mestrando do Programa de Pós-graduação em Agronegócio e Desenvolvimento/Universidade Estadual Paulista) nagaikd@gmail.com

2. (Docente do Curso de Graduação em Administração e do Programa de Pós-graduação em Agronegócio e Desenvolvimento/Universidade Estadual Paulista) giusantini@tupa.unesp.br

3. (Docente do Curso de Graduação em Administração e do Programa de Pós-graduação em Agronegócio e Desenvolvimento/Universidade Estadual Paulista) anaelisa@tupa.unesp.br

4. A teoria neoclássica schumpeteriana considera que os agentes de um mercado não estão exclusivamente ligados a um processo contínuo e linear análogo à evolução natural, mas sim, pela capacidade endógena de agir por meio do empreendedorismo. Nesta teoria os agentes tomam medidas racionais e potencialmente desequilibram o mercado (Possas, 2008).

5. A Federação do Cerrado Mineiro foi criada com o objetivo de ser o órgão regulador do selo Indicação Geográfica de Procedência (posteriormente, Denominação de Origem) na região do Cerrado Mineiro e trabalhar a imagem da região como especializada na produção de cafés de qualidade (REGIÃO DO CERRADO MINEIRO, 2015).

6. O produtores A e B declararam já possuir pavimentação em seus sequeiros desde antes do período proposto nesta pesquisa.



Vol. 37 (Nº 09) Año 2016

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