Espacios. Vol. 37 (Nº 08) Año 2016. Pág. 22
Adriana dos Santos BEZERRA 2; Lúcia Santana de FREITAS 3
Recibido: 23/11/15 • Aprobado: 14/12/2015
2. Apresentação e discussão dos resultados
RESUMO: O presente estudo teve como objetivo analisar a evolução dos modelos de avaliação de desempenho da logística reversa no que tange a incorporação dos preceitos de sustentabilidade, especificamente, as dimensões econômicas, sociais e ambientais. Neste sentido, realizou-se uma ampla pesquisa bibliográfica sobre os diversos modelos de avaliação de desempenho da logística reversa na qual foi possível evidenciar que o direcionamento dado aos diversos modelos de avaliação de desempenho da LR reflete uma lenta e incipiente evolução na busca da sustentabilidade onde apenas a dimensão econômica tem sido exaustivamente buscada nos diversos modelos. |
ABSTRACT: This study has aimed to analyze the evolution of performance evaluation models of the reverse logistics regarding to the incorporation of sustainability principles, specifically, economic, social and environmental dimensions. Moreover, a wide bibliographic research was set, related to the various performance evaluation models of reverse logistics in which it became possible to point that the direction given to many evaluation models of the LR performance reflects a slow and incipient evolution in the pursuit of sustainability where only the economic dimension has been pursued in these various models. |
O aumento da escala de produção decorrente da padronização e mecanização do trabalho após a Revolução Industrial aliado ao poder das mídias de massa difundiram o acesso aos bens e serviços e incentivaram o consumo. Com as alterações nos padrões da demanda dos consumidores aumentaram as exigências por maior disponibilidade de estoque e rapidez nas entregas. Neste sentido, atividade de distribuição ganhou a importância devida pela necessidade de escoar o excedente de produção, tornando-se imprescindível viabilizar a redução do intervalo entre produção e demanda, com a integração das diversas áreas das empresas para satisfazer os clientes com redução de custos e otimização de tempo e espaço.
Diante deste contexto, a logística empresarial se desenvolveu, influenciada pela logística militar utilizada como estratégia para ganhar guerras, passando então a ser empregada como estratégia na criação de valor, tornando os produtos disponíveis no momento correto e nas condições e locais desejados pelos clientes.
Entretanto, é a partir da década de 80 que a atividade logística torna-se ainda mais relevante, passando a ser considerada pelo seu potencial competitivo e não mais como um centro de custo, visando ajustar estrategicamente produção e consumo, tornando-se uma das principais ferramentas para uma organização conquistar e fidelizar clientes, propiciando disponibilidade de produtos e agilidade nas entregas.
Como evolução da logística tradicional surge a logística reversa, pela necessidade de acompanhar o ciclo de vida e mercadológico dos produtos, que por algum motivo necessitem retornar ao ciclo de negócios. Neste sentido, cabe ressaltar que mesmo representando um importante papel na redução da degradação ambiental, a origem da logística reversa (LR) ainda não está atrelada as demandas relacionadas à sustentabilidade ambiental. O LR surgiu com o desígnio de solucionar questões relativas à devolução de produtos consumidos, defeituosos, com pouco uso, obsoletos, com validade vencida ou dentro da garantia ou mesmo produtos que tiverem a substituição precoce proposital como estratégia para alavancar as vendas e conquistar novos mercados pretendidos pelas empresas.
Contudo, recentemente tem sido observada uma tendência crescente em considerar a importância dos aspectos ambientais relacionados aos referidos fluxos reversos, principalmente pela necessidade de atender às questões ambientais impostas pela legislação ou pelo mercado consumidor.
Por essa razão, a literatura referente ao tema Logística Reversa passou a abordar com frequência a redução de resíduos no meio ambiente pela restituição destes ao setor produtivo competente para reaproveitamento ou destinação adequada. A visão da logística reversa tem sido então abordada como instrumento de desenvolvimento econômico e social, sendo igualmente essencial para viabilização de práticas sustentáveis almejadas na atualidade. Essa percepção deixa nítida a existência de uma estreita relação entre a LR e a sustentabilidade na medida em que a LR passa a priorizar as três dimensões da sustentabilidade: social, ambiental e econômica, conforme o conceito do Triple Bottom Line. Por esse viés da sustentabilidade a LR possibilita a obtenção de resultados financeiros nas operações industriais, seja pelo aproveitamento de matérias-primas secundárias, derivadas dos canais reversos de reciclagem, ou por meio da revalorização mercadológica de reuso ou remanufatura, visando retorno econômico. A atividade de LR apresenta benefícios sociais que contribuem para a melhoria da qualidade de vida da população com a geração de emprego e renda, como também proporciona benefícios ambientais resultantes da atividade de LR com diminuição da degradação ambiental pela redução da extração de matérias-primas e da quantidade de resíduos descartados.
Diante do exposto, foi possível evidenciar a relação existente entre a LR e a sustentabilidade, ressaltando-se então a necessidade de compreender como essa relação tem sido contemplada nos diversos modelos de avaliação de desempenho da LR. Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo analisar a evolução dos modelos de avaliação de desempenho da logística reversa no que tange a incorporação dos preceitos de sustentabilidade, especificamente, as dimensões econômicas, sociais e ambientais.
Para alcançar o objetivo pretendido, este trabalho se constitui em uma pesquisa teórica, na medida em que objetiva gerar conhecimento para o esclarecimento de um problema específico, por meio de uma base bibliográfica. Neste sentido, realizou-se uma ampla pesquisa bibliográfica sobre os diversos modelos de avaliação de desempenho da logística reversa nas principais bases de dados nacionais e internacionais em busca do estado da arte sobre o tema por meio do portal CAPES nos bancos de dados da Science Direct, Web of Science, Scopus, Wiley Online Library, Elsevier e Emerald publicados até 2014. Portanto, para alcançar o objetivo pretendido, foram realizadas buscas por trabalhos que abordassem no título, resumo ou palavras- chave a combinação dos termos "avaliação de desempenho", "performance measurement", "performance measure" com "logística reversa", "reverse logistics", "green logistics" e "logística verde" nos referidos bancos de dados.
Quanto à estrutura do trabalho, este artigo é constituído por 3 seções. A seção 1 consta da presente introdução deste trabalho. Na seção 2 consta a apresentação e discussão dos resultados obtidos sobre a logística reversa (LR) e os diversos modelos de avaliação de desempenho correlacionando-os com as dimensões da sustentabilidade. Por fim, na seção 3, estão as considerações finais pontuadas e em seguida as referências consultadas.
2.1. Da logística à logística reversa
O conceito de logística e sua finalidade têm evoluído continuamente ao longo do tempo buscando incorporar as exigências impostas pelo ambiente altamente competitivo em que as organizações estão inseridas. Assim, a atividade logística passou ter sua imagem gradativamente desvinculada de uma função puramente de distribuição, posicionando-se como um importante diferencial competitivo.
Neste sentido, Hickford e Cherrett (2007) lembram que o termo 'logística' teve origem no contexto militar, referindo-se à forma como o pessoal adquiria, transportava e armazenava materiais e equipamentos. Coronado (2007), ao abordar a evolução da logística, salienta que ao longo da história do homem, o poder e a capacidade da logística nas guerras foi utilizado como um diferencial para ganhar batalhas, evidenciando o papel estratégico da logística. Para Hickford e Cherrett (2007), apenas na década de 60 o termo passou a ser adotado na comunidade de negócios, usado para se referir à forma como os recursos são adquiridos, transportados e armazenados ao longo da cadeia de abastecimento.
Desde então a logística tem se desenvolvido continuamente e na visão de Ballou (2007) alguns fatores encorajaram este desenvolvimento, destacando as alterações nos padrões e atitudes da demanda dos consumidores que impulsionaram o surgimento de pontos de venda adicionais e passaram a demandar maior variedade de mercadorias ofertadas e entregas mais frequentes para ressuprimento. Neste contexto, o autor observa que houve o aumento da importância da atividade de distribuição, como também os custos associados. Com o intuito de reduzir custos e necessidade de melhorar a produtividade, a logística passou então a ser percebida como sendo a última fronteira para redução de custos.
Diante deste contexto, com a produção e disponibilização de bens de consumo cada vez maior a um menor custo houve um aumento considerável nos padrões de consumo sem a devida preocupação com a escassez de recursos naturais e degradação ambiental, tornando necessário adotar novas posturas que considerem os ideais de sustentabilidade. Sendo assim, o papel estratégico da logística na redução de custos passou relativamente a perder importância diante das questões ambientais que surgiram em decorrência do aumento de consumo.
A visão tradicional da logística foi então gradativamente transformada, passando a considerar as questões ambientais e o fluxo de retorno de produtos e embalagens ao canal de suprimentos fatores de extrema importância devido à crescente preocupação com os aspectos ambientais, dando origem a Logística Reversa.
Neste contexto, conforme Chaves e Batalha (2006), o fluxo de materiais ao longo dos canais de suprimento deixou de ser unidirecional (fornecedores → clientes), passando a ser considerado bidirecional (fornecedores ↔ clientes) em decorrência das exigências dos consumidores por um nível de serviço mais elevado em que estejam incluídas as preocupações ambientais.
A LR passou então a fazer parte das estratégias empresariais, sendo considerada como importante fator de diferenciação e fidelização de clientes, justificando os altos investimentos de implantação necessários para seu funcionamento.
Os sistemas de medição de desempenho sempre fizeram parte do foco de interesse da atividade humana, despertando interesse na indústria e comunidade acadêmica. Mesmo não sendo uma preocupação contemporânea, o amadurecimento deste campo de conhecimento tem ocorrido lentamente, acompanhando as exigências do mercado por modelos que contemplem a multiplicidade de variáveis e dimensões.
Face às exigências e expectativas dos ambientes organizacionais, as medidas tradicionais orientadas apenas para avaliar o resultado econômico passaram a ser insuficientes para julgar o desempenho adequadamente. Neste contexto, ocorre o desenvolvimento dos sistemas de medição e a idéia de avaliação de desempenho atrelada apenas a medidas meramente financeiras cedeu espaço a novos sistemas de medição que contemplam medidas financeiras e não-financeiras adequadas às exigências do mercado na atualidade.
Ghalayini e Noble (1996) observam a evolução dos sistemas de avaliação de desempenho, identificando duas fases principais na literatura referente a essa temática:
Neste contexto, sobre a implementação das mudanças para atender as demandas do mercado mundial, Ghalayini e Noble (1996) observaram que as medidas de desempenho tradicionais eram limitadas, sendo necessário desenvolver novos sistemas de medição para obter sucesso. Leite et al. (2011) abordam a sustentabilidade como um importante direcionador de evolução dos sistemas de medição de desempenho. As avaliações de sustentabilidade geralmente são realizadas em três dimensões: ambiental, social e econômica, conforme o Triple Bottom Line (TBL), ampliando as perspectivas de avaliação das empresas.
A esse respeito, como forma de medir o desempenho sob a visão do TBL, considerando os compromissos empresariais com pessoas, planeta e lucro, devem ser avaliadas apenas as dimensões econômica, social e ambiental. Neste sentido, os indicadores devem fornecer informações relevantes que servirão para esboçar um panorama das atividades de LR de uma organização frente aos desafios da sustentabilidade, possibilitando um acompanhamento mais eficaz de tais atividades.
Conforme Elkington (2001), guiar as empresas na direção da sustentabilidade exigirá mudanças drásticas no desempenho na linha dos três pilares, sendo necessário definir novas visões do significado de igualdade social, justiça ambiental e ética empresarial, exigindo então um melhor entendimento do capital econômico, capital social e capital natural envolvidos.
Neste contexto, o capital econômico compreende não apenas o capital físico e financeiro, mas inclui o capital humano e intelectual. Sobre o capital social, este abrange o capital humano, na forma de saúde, habilidades e educação e ainda medidas amplas como saúde da sociedade e potencial de criação de riqueza. Em relação ao capital natural pode ser visto de duas formas principais: o capital natural crítico e o capital natural renovável ou substituível. O primeiro abrange o capital natural essencial para a manutenção da vida e da integridade do ecossistema, enquanto que o segundo é o que pode ser renovado, recuperado ou substituído (Op. cit., 2001).
Diante do exposto, no intuito de mensurar o desempenho da logística reversa tendo como foco a sustentabilidade em suas três dimensões, os indicadores potenciais devem refletir como uma empresa calcula se suas operações são economicamente, ambientalmente e socialmente sustentáveis.
No âmbito da atividade logística, mais especificamente na LR, existem particularidades que tornam a avaliação de desempenho mais complexa, sobretudo pela dificuldade de estimar a demanda.
De acordo com Vieira et al. (2010), o desempenho logístico significa o grau de eficiência com que as empresas atendem às necessidades logísticas de seus clientes (produto certo no lugar certo, no momento certo e nas quantidades desejadas) quando comparadas com as suas metas.
Da mesma forma que a logística direta necessita ser avaliada para que seus processos sejam delineados adequadamente para o alcance de objetivos previamente definidos, a LR, por sua relevância, também requer avaliações apropriadas.
Para que os objetivos econômicos, sociais e ambientais da LR sejam atingidos continuamente torna-se evidente a necessidade de avaliar seu desempenho, contudo, ainda não existe um consenso quanto ao melhor modelo ou framework para sua melhor avaliação. No entanto, o modelo ou framework a ser utilizado para averiguar a LR deverá ter seus fatores de medição estreitamente relacionados aos objetivos organizacionais e particularidades do setor.
Neste sentido, tendo em vista os objetivos pretendidos por uma organização que ambicione assumir uma posição de prosperidade econômica, qualidade ambiental e justiça social, o modelo de mensuração da LR a ser utilizado deverá refletir e abarcar os aspectos da sustentabilidade. O Quadro 1 apresenta o sumário da literatura encontrada após extensa pesquisa sobre avaliação de desempenho em logística reversa, explicitando o setor e tipo de aplicação do modelo e as dimensões de medição utilizadas na avaliação de desempenho da LR.
Autor (es) Ano |
Setor e tipo de aplicação |
Modelo/framework |
Dimensões de medição de desempenho |
Kongar (2004) |
Proposta de um BSC genérico para medir o desempenho do gerenciamento da cadeia de suprimentos |
BSC Modificado
|
Cliente, financeiros, processo interno, aprendizagem e crescimento, ambiental |
Ravi et al.(2005) |
Setor de Eletroeletrônicos Computadores em fim-de-vida
|
Combinação de BSC e abordagem baseada em ANP proposta |
Cliente, negócios internos, inovação e fatores financeiros e não-financeiros, materiais e imateriais, internos e externos de aprendizagem, e de finanças, proporcionando assim uma estrutura holística |
Xiangru (2008) |
Avaliação de desempenho e seleção de provedor terceirizado de LR |
Indicadores definidos com base na percepção de gerentes de logística
Um modelo de avaliação é construído para avaliar fornecedores terceirizados de LR utilizando metodologia de avaliação abrangente fuzzy O AHP é aplicado para calcular os pesos objetivos. |
Capacidade de recursos, indicadores técnicos, qualidade de serviço, índice de experiência, custos |
Matos et al. (2008) |
Avaliação da LR de um programa de reciclagem |
Escolha de KPIs (indicadores–chave) relacionados ao BSC Definição KPIs a partir de pesquisas e benchmarking |
Financeira, quantitativa, de imagem, jurídica, do cliente, dos processos internos, de pesquisa e desenvolvimento e aprendizado e crescimento. |
Jun (2009) |
Modelo genérico
|
Indicadores definidos com base nos fatores críticos de sucesso da LR.
Modelo de Avaliação fuzzy para o Sistema de Gestão da LR:
Três etapas: construção de indicador de hierarquia e distribuição de peso para cada indicador por método AHP. Cada indicador foi avaliado por método de avaliação sintética difusa e em seguida apresenta-se a conclusão da avaliação. |
Economia, legislação e cidadania corporativa |
Jianhua et al. (2009) |
Avaliação de desempenho da cadeia de suprimentos reversa |
BSC Modificado e FAHP
|
Finanças, atendimento ao cliente, operação interna, desenvolvimento de inovação e meio ambiente |
XIONG e LI (2010) |
Modelo genérico
|
O modelo é estabelecido com base no modelo de avaliação abrangente fuzzy, combina o fuzzy AHP (FAHP) e o método de avaliação abrangente fuzzy, organicamente integra a análise qualitativa em análise quantitativa, leva em conta os pesos diferentes de todos os índices e a associação de índice individual |
Utilização de recursos, força técnica, efeito econômico, efeito social, nível de informação e efeito ambiental |
Huang et al. (2010) |
Pneus Reciclados
Teórico/empírico
O modelo foi testado em três empresas que comercializam pneus recuperados |
Estabelece indicadores preliminares de medida com base na indústria de reciclagem de pneus, altera os indicadores com base em entrevistas com especialistas e o ANP é utilizado para obter os pesos relativos de KPI. |
Desempenho financeiro Procedimento operacional Aprendizagem e crescimento Relação inversa Controle de risco
|
Hernández (2012b) |
Modelo genérico
Teórico/empírico Estudo realizado com 33 especialistas em LR de empresas de 9 ramos da economia
Modelo Sistêmico, aplicável a empresas de qualquer ramo
|
BSC para estabelecer medidas de desempenho e seleção dos indicadores de desempenho de LR calculado por métodos MDCM – ANP
|
Financeira, clientes, processos internos e aprendizado e crescimento |
Hernández (2012a) |
Modelo genérico
O método pode ser aplicado em empresas de diferentes setores de negócios ou de outro tipo / posição no canal reverso
Pós-uso e pós-consumo Programas de LR em indústria automotiva e editoras |
Este trabalho emprega quatro perspectivas do BSC para mostrar como os programas de LR podem afetar indicadores de desempenho empresarial nas empresas brasileiras e ANP |
Indicadores de desempenho corporativo relacionados a LR: Financeiro, consumidor, processos internos, aprendizado e crescimento |
Shaik e Abdul-Kader (2012) |
Modelo genérico
Visão holística |
BSC e PP (Prisma de Desempenho)
Uso do AHP para cálculo do índice de desempenho global abrangente (OCPI). |
Financeiro, processo interno e externo, stakeholders, inovação e crescimento, ambiental, social |
Shaik e Abdul-Kader(2014) |
Modelo genérico
Visão holística |
BSC e PP (Prisma de Desempenho)
|
Financeiro, processos (interno e externo), Stakeholders, inovação e crescimento, ambiental, social |
Quadro 1 – Sumário da literatura relevante sobre avaliação de desempenho na LR
Fonte: Elaborado pela autora (2014)
Como pode ser observado no Quadro 1, a maioria dos estudos avaliou o desempenho da LR com base no framework do BSC ou BSC modificado. O Balanced Scorecard (BSC) introduzido por Kaplan e Norton nos anos 90 tem sido desde então largamente utilizado como ferramenta estratégica. Kongar (2004) e Hernández et al. (2012a) ressaltaram a importância do BSC pela possibilidade de combinar indicadores de desempenho financeiros e não financeiros, auxiliando o processo de tomada de decisão pelas e ricas e relevantes informações que podem ser obtidas.
O BSC de Kaplan e Norton (1992) possibilita a visualização do negócio focalizando quatro importantes perspectivas: perspectiva do cliente, perspectiva interna, inovação e aprendizagem e perspectiva financeira. Sobre a perspectiva do cliente, Kaplan e Norton (1992) ressaltam que estes atentam para tempo de espera necessário para satisfação de suas necessidades, para a qualidade que é percebida e medida pelos clientes, desempenho e serviço e custo, de forma que estes objetivos sejam traduzidos em medidas específicas. Sobre a perspectiva interna observam a importância das operações críticas internas para atingir o nível de satisfação dos clientes. A respeito da perspectiva de inovação e aprendizagem Kaplan e Norton (1992) observam a necessidade das empresas se empenharem na melhoria continua de produtos e processos e habilidade de introduzirem produtos novos no mercado. Em relação à perspectiva financeira, observam que medidas financeiras são necessárias, pois um sistema de controle financeiro bem estruturado pode melhorar os programas de gerenciamento da qualidade nas organizações.
Neste sentido, por meio da revisão de literatura foi possível constatar que entre 2004 e 2014 o BSC continuou sendo repetidamente utilizado como ferramenta de avaliação de desempenho mesmo sendo modificado com a adição de outros aspectos relevantes em cada estudo, sobretudo o aspecto ambiental, que devido às questões ambientais ganham cada vez mais destaque. O BSC integrado ao Prisma de Desempenho, com a agregação de seus aspectos (a satisfação das partes interessadas, a contribuição das partes interessadas, estratégias, processos e capacidades) aos aspectos do BSC, também foi observado nos estudos de Shaik e Abdul-Kader (2012) e Shaik e Abdul-Kader (2014).
Seguindo essa tendência, para medir o desempenho do gerenciamento da cadeia de suprimentos Kongar (2004) utilizou o BSC convencional incluindo a perspectiva ambiental para avaliar o desempenho da LR e programação linear para obtenção do resultado, contudo, considerando os preceitos da sustentabilidade constatou-se que os aspectos sociais foram ignorados no referido modelo. Ravi et al.(2005) ao realizar um estudo no setor de eletroeletrônicos propuseram um framework com base no BSC original utilizando ANP para selecionar alternativas no entanto, não foram considerados os fatores sociais e ambientais, essenciais para avaliar coerentemente a atividade de LR frente aos desafios impostos pela sustentabilidade. Da mesma forma, uso de BSC também foi observado no estudo de Matos et al. (2008) objetivando avaliar o desempenho da LR do programa de reciclagem da USP, onde foram selecionados KPIs (indicadores–chave de desempenho) relacionados ao BSC definidos a partir de pesquisas e benchmarking. Novamente percebeu-se que no referido modelo não houve a preocupação em avaliar se de fato os objetivos ambientais e sociais estariam sendo alcançados.
Jianhua et al. (2009) em seus estudos também adicionaram a perspectiva ambiental ao BSC para avaliar a cadeia reversa, evidenciando a forte tendência dos novos modelos em considerar a importância dos aspectos ambientais na avaliação de desempenho da LR, contudo, os aspectos sociais não foram considerados, evidenciando que a sustentabilidade da atividade de logística reversa não tem recebido a devida importância. Os aspectos sociais e ambientais, do mesmo modo, não foram contemplados no estudo de Hernández et al. (2012b) onde foi proposto um modelo genérico em um trabalho realizado com 33 especialistas em LR de empresas de 9 ramos da economia utilizando o BSC e suas quatro dimensões originais para estabelecer medidas de desempenho. Da mesma forma, Hernández et al. (2012a) realizaram seus estudos em indústria automotiva e editoras onde empregaram quatro perspectivas do BSC para mostrar como os programas de LR podem afetar indicadores de desempenho empresarial nas empresas brasileiras.
Como pode ser observado, mesmo considerando os aspectos econômicos e os aspectos ambientais, é perceptível a pouca importância dada aos aspectos sociais na avaliação de desempenho da LR. Na busca por modelos cada vez mais abrangentes para avaliar de forma holística o desempenho da LR, Shaik e Abdul-Kader (2012) desenvolveram em seu estudo um framework abrangente de avaliação de desempenho da LR combinando as perspectivas do BSC (considerando processos internos e externos) com o PP (Prisma de Desempenho) compreendendo então os fatores financeiros, processo interno e externo, stakeholders, inovação e crescimento, ambiental e social. Em um estudo mais recente semelhante, considerando os mesmo aspectos, Shaik e Abdul-Kader (2014) propuseram um modelo com base na integração do BSC e PP e um modelo de tomada de decisão para empresas de LR.
Foram escassos os trabalhos observados que não utilizaram o BSC como base para definir aspectos relevantes para avaliação de desempenho de LR, como é o caso do estudo desenvolvido por Xiangru (2008) que considerou apenas como dimensões de medição de desempenho a capacidade de recursos, indicadores técnicos, qualidade de serviço, índice de experiência, custos, não tendo nitidamente o foco de atenção voltado para as dimensões da sustentabilidade. Neste estudo buscou-se apenas avaliar o desempenho e selecionar provedor terceirizado de LR com base em indicadores definidos pela percepção de gerentes de logística.
Jun (2009) em um modelo genérico considerou apenas as dimensões econômica, legislação e cidadania corporativa, definindo indicadores com base nos fatores críticos de sucesso e Xiong e Li (2010) criaram um modelo de avaliação construído com base no princípio de construção de índice de avaliação e propósito da avaliação considerando como dimensões a utilização de recursos, força técnica, efeito econômico, efeito social, nível de informação e efeito do ambiente. Neste sentido, por abarcar as três dimensões do TBL o referido modelo se aproxima de certo modo dos conceitos contemporâneos de sustentabilidade, contudo os indicadores apresentados em cada uma das três dimensões são insuficientes para avaliar adequadamente a LR em suas particularidades. O efeito econômico tem como indicadores apenas as taxas de rendimento de produtos e taxas de rotatividade de capital, ignorando indicadores que representem ganhos indiretos relacionados à LR. Da mesma forma, os efeitos sociais são representados por indicadores que não se enquadram com os conceitos de sustentabilidade. Tratam sobre o grau de satisfação dos clientes, reputação corporativa e grau de satisfação dos governos, mais relacionadas ao mercado, sendo nítida a ausência de indicadores que avaliem a melhoria da qualidade de vida, geração de emprego, saúde e segurança, etc. O efeito ambiental, por sua vez, apresenta apenas indicadores relacionados a taxa de descarga dos resíduos sólidos e das águas residuais, mas não aborda a reutilização de materiais, redução da extração de matérias-primas, entre outros indicadores relacionados a sustentabilidade. Diante do exposto, o modelo de Xiong e Li (2010) evidentemente não possibilita uma avaliação adequada do desempenho da LR sob a ótica da sustentabilidade, pois mesmo contemplando as três dimensões do TBL os indicadores utilizados em cada dimensão não refletem a busca da sustentabilidade em suas peculiaridades.
No caso do modelo de Huang et al. (2010) foram estabelecidos indicadores preliminares de medida com base na indústria de reciclagem de pneus, que em seguida foram alterados com base em entrevistas com especialistas, considerando as dimensões de desempenho financeiro, procedimento operacional, aprendizagem e crescimento, relação inversa e controle de risco, evidenciando pela escolha das dimensões que a avaliação de desempenho não tem como foco de atenção a sustentabilidade.
Enfim, ao analisar a evolução dos modelos de avaliação de desempenho da Logística Reversa frente aos desafios impostos pela sustentabilidade, constatou-se que a busca por modelos de avaliação de desempenho cada vez mais abrangentes e genéricos, como é o caso dos modelos propostos por Shaik e Abdul-Kader (2012, 2014) e Xiong e Li (2010), que abordam os aspectos econômicos, sociais e ambientais não priorizam aspectos que possam de fato refletir as dimensões econômicas, sociais e ambientais, resultando na ausência de estudos que priorizem os aspectos próprios da sustentabilidade mais especificamente com o objetivo de avaliar o desempenho da LR por este viés com maior profundidade. Observa-se então que não há uma preocupação específica em avaliar o desempenho da atividade de LR com base nos pilares da sustentabilidade, sendo esta uma lacuna identificada na literatura.
Diante das observações feitas objetivando analisar a evolução dos modelos de avaliação de desempenho da Logística Reversa frente à sustentabilidade este estudo possibilitou perceber que dos doze modelos apresentados apenas três modelos incorporam as dimensões sociais e ambientais, evidenciando que o direcionamento que tem sido dado aos diversos modelos de avaliação de desempenho da LR reflete uma lenta e incipiente evolução na busca da sustentabilidade. Cada modelo tem objetivos próprios refletidos nas dimensões e indicadores utilizados como é o caso dos modelos mais recentes que buscam avaliar o desempenho da LR de forma global, tomando como base um maior número de dimensões e mesmo contemplando as dimensões do TBL não alcançam por meio dos indicadores utilizados a verdadeira essência da sustentabilidade. Os aspectos sociais são negligenciados na maioria dos modelos ou percebidos de forma equivocada. Os aspectos ambientais mesmo associados aos modelos aqui observados não tiveram indicadores adequadamente escolhidos de forma que sirvam para avaliar o alcance da sustentabilidade. Apenas a dimensão econômica tem sido exaustivamente buscada nos diversos modelos refletindo a busca incessante de obtenção de retorno financeiro com a atividade de LR.
Há, portanto uma lacuna que poderá ser preenchida com trabalhos futuros que possibilitem a criação de um modelo de avaliação de desempenho da LR que tenha como foco de atenção o alcance da sustentabilidade de forma coerente.
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1. Este trabalho é parte integrante de uma tese que está sendo desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Universidade Federal Campina Grande - UFCG/PB, Brasil.
2. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG/PB; Brasil; Bolsista da Capes; E-mail: adriana_bezerra@hotmail.com
3. Professora da Unidade Acadêmica de Administração e Contabilidade da Universidade Federal Campina Grande - UFCG/PB; Brasil; E-mail: luciasf@ch.ufcg.edu.br