Espacios. Vol. 37 (Nº 06) Año 2016. Pág. 27
Andreia Aparecida Pandolfi dos SANTOS 1; Marcia Maria Gil RAMOS 2; Simone SEHNEM 3; Nei Antonio NUNES 4
Recibido: 21/10/15 • Aprobado: 18/11/2015
4 Apresentação e análise dos dados
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo, analisar o projeto Lutar pela Vida à luz dos constructos teóricos da Inovação Social. Foi desenvolvido por meio de um estudo de caso onde foram identificadas as práticas socioeducativas desenvolvidas, os pontos positivos e negativos na ótica da inovação social e efetuada a análise da participação e interação da comunidade com o projeto. A fundamentação teórica apresenta uma abordagem relacionada a inovação social centrada no indivíduo, nas inovações orientadas sobre o meio, inovações geradas no seio das empresas, na difusão como modelo organizacional. As constatações do estudo evidenciam que ainda não há posições conclusivas. Entretanto, apontam vários elementos relevantes sobre o que está sendo pesquisado sobre inovações sociais. As evidências encontradas levam a crer que na sua maioria as características do projeto aderem aos multifacetados conceitos de inovação social. Percebe-se que trata-se de uma temática em desenvolvimento, suscitando novas construções e definições para o tema inovações sociais. |
ABSTRACT: This article aims to analyze the project Fighting for Life in light of the theoretical constructs of Social Innovation. It was developed through a case study where the developed socio-educational practices were identified, the positive and negative points in the perspective of social innovation and performed the analysis of community participation and interaction with the project. The theoretical framework presents a related approach to social innovation based on the individual in oriented innovations on the environment, innovations generated within companies, the diffusion as an organizational model. The study's findings show that still does not allow conclusive positions, points to several important elements of what is being researched on social innovations; however, the evidence found suggest that mostly the design features adhere to the multifaceted concepts of social innovation. We can see that this is a thematic developing, raising new buildings and settings for the theme social innovations. |
A ideia de inovação voltada exclusivamente para atender a competitividade do mercado tem perdido importância frente a uma proposta socialmente reconhecida, que visa e gera mudança social, a inovação social (André y Abreu, 2006, p. 123; Cajaiba-Santana, 2013).
Vive-se em uma sociedade moderna, predominada pelo capitalismo selvagem, e temos como herança uma civilização colonizada por europeus burgueses. Infelizmente a distribuição da renda no Brasil concentra-se nas mãos de poucos e grande parte da população ainda vive na pobreza, segundo dados obtidos pelo IBGE. De acordo com Bignetti (2011), a inovação social surge como uma das formas de se buscar alternativas viáveis para o futuro da sociedade humana. Ainda é definida como resultado do conhecimento aplicado as necessidades sociais via participação e cooperação de todos os atores envolvidos, gerando soluções novas e duradouras, para grupos sociais, comunidades ou para a sociedade em geral.
Inovação social é um modo de criar novas e mais efetivas respostas aos desafios enfrentados pelo mundo hoje. É um campo em que não há limites, que pode ser desenvolvido em todos os setores, sejam públicos, sem fins lucrativos e privados, e no qual as iniciativas mais efetivas ocorrem quando existe colaboração entre os diferentes setores, as partes interessadas e os beneficiários. Inovação social é uma nova ideia ou uma ideia melhorada que, simultaneamente, atende as necessidades sociais e cria novas relações sociais. É um fenômeno capaz de elevar a capacidade de agir da sociedade (Murray et al., 2010).
A mobilização em torno do tema decorre da falta de capacidade do Estado suprir as necessidades da população e também, das políticas que direcionam o investimento público para o aumento de competitividade em detrimento do desenvolvimento social. Como consequência, a exclusão social gerada revela necessidades e problemas de caráter coletivo que motivam inovações sociais (Comeau, 2007).
O presente artigo estuda por meio de um estudo de caso o projeto social Lutar pela vida que é mantido em parceira por duas entidades sociais sendo: de um lado a Administradora – A ADIPROS – Associação Diocesana de Promoção Social (associação civil sem fins lucrativos e não governamental) sediada no município de Joinville –SC; local da realização do projeto e do outro lado APC – Associação Paranaense de Cultura (associação civil de educação e assistência social sem fins lucrativos, não governamental) a mantenedora dos recursos financeiros do projeto. A presente parceria tem por objeto a colaboração entre os partícipes para a implementação do Serviço de Proteção Social Básica denominada "Lutar pela vida", que tem por foco a constituição de espaço de convivência, a formação para a participação e a cidadania, o desenvolvimento do protagonismo e da autonomia de crianças e adolescentes pautadas em experiências lúdica, culturais e esportivas. Mediante esse cenário surge a indagação: é possível afirmar que o projeto Lutar pela Vida pode ser considerado uma Inovação Social?
O objetivo geral do estudo consiste em, analisar o projeto Lutar pela Vida a luz dos constructos teóricos da Inovação Social, e para que o objetivo geral seja alcançado são propostos os seguintes objetivos específicos: verificar as práticas socioeducativas desenvolvidas pelo projeto Lutar pela Vida; identificar os pontos positivos e negativos do projeto na ótica da Inovação social; analisar participação e a interação da comunidade com o projeto.
A escolha pelo tema de pesquisa, justifica-se pela necessidade das pesquisadoras em compreender a relação e semelhança entre as práticas socioeducativa na proteção social básica do projeto Lutar pela Vida com o assunto Inovação Social. Assunto este que caracteriza-se ainda como novo e necessita de pesquisas mais aprofundadas para a consolidação da temática no ambiente científico.
Com o intuito de cumprir o objetivo de levantar o estado da arte do tema inovação social, este artigo apresenta aspectos teóricos sobre a temática inovações sociais, conceitua o termo inovação social, analisa um caso prático a luz dos constructos teóricos da inovação sociais, no intuito de contribuir cientificamente no aprimoramento da teoria a luz a prática.
Para compreender a situação atual de um ambiente empresarial é importante analisar as condições sociais, legais, tecnológicas e demais condições sobre as quais ele foi construído no seu percurso histórico. O desenvolvimento econômico conduzido pela inovação é um processo dinâmico no qual as novas tecnologias substituem as antigas. Sendo assim, a inovação é um elemento relevante na busca pela melhoria e evolução dos mercados e sociedade. Por sua vez, o desenvolvimento de inovações é um processo dinâmico e cumulativo, dependente do caminho seguido (trajetória tecnológica). Ou seja, as possibilidades futuras estão fortemente conectadas ao que se realizou no passado (Dosi, 1982; Farfus et al., 2007).
O conceito de inovação diz respeito às mudanças que estão associadas à incerteza sobre os resultados das atividades inovadoras, envolvendo investimentos que podem render retornos potenciais no futuro. É o substrato dos transbordamentos de conhecimento e requer a utilização de conhecimento novo, ou ainda, um novo uso ou combinação para o conhecimento existente. Sendo assim, a inovação almeja aprimorar o desempenho de uma empresa com ganho de uma vantagem competitiva por meio da alteração da curva de demanda de seus produtos e dos custos, ou pelo refinamento da capacidade de inovação da empresa (Farfus et al., 2007).
Um desdobramento do conceito de inovação é a inovação social. De forma geral, analistas apontam a inexistência de um consenso em torno do conceito de inovação social em face das suas manifestações efetivas na sociedade (Cloutier, 2003; Pol y Ville, 2009). Se o conceito de inovação já se apresenta como polissêmico, menos consensual é sua definição à medida que é transposta para análises não-convencionais, para além da manufatura, como nos estudos sobre inovação em serviços e inovação no setor público (Gallouj, 2002).
A mobilização em torno do tema decorre da falta de capacidade do Estado suprir as necessidades da população e também, das políticas que direcionam o investimento público para o aumento de competitividade em detrimento do desenvolvimento social. A saturação dos mercados dos países desenvolvidos, o crescimento do fosso entre ricos e pobres, o aumento dos níveis de degradação ambiental e a preocupação de que o mundo desenvolvido possa estar perdendo o controle sobre sua densidade populacional, vêm se combinando e gerando percalços à economia global (Hart yMilstein, 2003). Como consequência, a exclusão social gerada revela necessidades e problemas de caráter coletivo que motivam inovações sociais (Comeau, 2007). Uma vez que as estruturas existentes se mostram incapazes de eliminar completamente os problemas envolvendo as desigualdades sociais, as questões da sustentabilidade, as mudanças climáticas e a epidemia mundial de doenças crônicas, crescem iniciativas paralelas direcionadas para uma economia social (Murray et al., 2010).
Porém, em geral, os estudos sobre o tema, partem das concepções schumpeterianas de que "novas combinações" permitem a obtenção de lucros extraordinários. No seu clássico Theorie der wirtschaftlichen Entwicklung (Teoria do Desenvolvimento Econômico), lançado em 1912. O autor relatava as características do conceito de inovação englobando cinco situações (Schumpeter, 2002, p. 48):
a) Introdução de um novo bem ou de uma nova qualidade de um bem;
b) Introdução de um novo método de produção no ramo específico da indústria de transformação;
c) Abertura de um novo mercado em que a empresa ainda não tenha entrado;
d) Conquista de uma nova fonte de matérias-primas ou de um bem semimanufaturado;
e) Estabelecimento de uma nova organização de qualquer setor industrial, como a criação de um monopólio.
A inovação viria a ser entendida, a partir de então, como a forma inédita de fazer as combinações acima gerando resultado econômico. Partindo dos conceitos de Schumpeter, vários autores ampliaram ou restringiram as definições de inovação.
Primeiros estudos sobre Inovação Social são elaborados por James B. Taylor e Dennis Gabor em 1970. Os autores conceituaram Inovação Social como uma forma aperfeiçoada de ação, nova forma de fazer as coisas, uma reposta nova para uma situação social considerada insatisfatória, buscando o bem estar dos indivíduos e das comunidades. (Cloutier, 2003)
Ainda nesse sentido, outros autores conceituaram Inovação Social conforme quadro 1.
Quadro 1: Diferentes conceitos adotados para definir inovação social
Autor |
Conceito |
Taylor (1970) |
Formas aperfeiçoadas de ação, novas formas de fazer as coisas, novas invenções sociais. |
Dagnino e Gomes (2000) |
Conhecimento – intangível ou incorporado a pessoas ou equipamentos, tácito ou codificado – que tem por objetivo o aumento da efetividade dos processos, serviços e produtos relacionados à satisfação das necessidades sociais. |
Cloutier (2003) |
Uma resposta nova, definida na ação e com efeito duradouro, para uma situação social considerada insatisfatória, que busca o bem-estar dos indivíduos e/ou comunidades. |
Standford Social InnovationReview (2003) |
O processo de inventar, garantir apoio e implantar novas soluções para problemas e necessidades sociais. |
Goldenberg (2004) |
Inovação Social é o desenvolvimento e a aplicação de novos ou melhorados atividades, iniciativas, serviços, processos ou produtos desenhados para superar os desafios sociais e econômicos enfrentados por indivíduos e comunidades. |
Novy e Leubolt (2005) |
A inovação social deriva principalmente de: satisfação de necessidades humanas básicas; aumento de participação política de grupos marginalizados; aumento na capacidade sociopolítica e no acesso a recursos necessários para reforçar direitos que conduzam à satisfação das necessidades humanas e à participação. |
Rodrigues (2006) |
Mudanças na forma como o indivíduo se reconhece no mundo e nas expectativas recíprocas entre pessoas, decorrentes de abordagens, práticas e intervenções. |
Moulaert et al. (2007) |
Ferramenta para uma visão alternativa do desenvolvimento urbano, focada na satisfação de necessidades humanas (e empoderamento) através da inovação nas relações no seio da vizinhança e da governança comunitária. |
Mulgan et al. (2007) |
Novas ideias que funcionam na satisfação de objetivos sociais; atividades inovativas e serviços que são motivados pelo objetivo de satisfazer necessidades sociais e que são predominantemente desenvolvidas e difundidas por meio de organizações cujos propósitos primários são sociais. |
Phills et al. (2008) |
O propósito de buscar uma nova solução para um problema social que é mais efetiva, eficiente, sustentável ou justa do que as soluções existentes e para a qual o valor criado atinge principalmente a sociedade como todo e não indivíduos em particular. |
Pol e Ville (2009) |
Nova ideia que tem o potencial de melhorar a qualidade ou a quantidade de vida. |
Hochgerner (2009) |
Inovações sociais são novos conceitos e ações aceitos por grupos sociais impactados que são aplicados para superar desafios sociais. |
Murray et al. (2010) |
Novas ideias (produtos, serviços e modelos) que simultaneamente satisfazem necessidades sociais e criam novas relações ou colaborações sociais. Em outras palavras, são inovações que, ao mesmo tempo, são boas para a sociedade e aumentam a capacidade da sociedade de agir. |
Howaldt e Schwarz (2010) |
Uma inovação social é uma nova combinação e/ou uma nova configuração de práticas sociais em determinadas áreas de ação ou contexto social promovidas por determinados atores com o objetivo de melhor satisfazer ou responder às necessidades e problemas da sociedade. |
Fonte: Adaptado de Bignetti (2011)
Uma análise da literatura confirma não haver um consenso sobre a definição de inovação social e sobre a sua abrangência, fatores como Tecnologia, valor- apropriação e criação, estratégia, processo, difusão do conhecimento; determinam as diferentes abordagens teóricas.
A partir da visão schumpeteriana, é possível analisar a abordagem que enfatiza a questão valor. Enquanto a inovação tecnológica trata da apropriação de valor (Taylor, 1970; Dagnino y Gomes, 2000), a inovação social se volta para a criação de valor (Mizik Jacobson, 2003; Santos, 2009), e se volta para os interesses dos grupos sociais e da comunidade.
Conforme aborda Cloutier (2003), a inovação social, assim, se apresenta como uma resposta nova a uma situação social julgada não satisfatória e visa ao bem-estar dos indivíduos e das coletividades através do atendimento a necessidades como saúde, educação, trabalho, lazer, transporte e turismo.
Abordando o conceito com o viés da estratégia, é possível inferir-se que, enquanto de um lado as inovações sociais buscam desvantagens competitivas, de outro o objetivo é cooperar para resolver questões sociais (Santos, 2009). Assim, enfatizam-se as estratégias de vinculação permanente e de cooperação intensa entre os atores envolvidos no sentido de se obterem transformações sociais duradouras e de impacto, que possam representar mudanças nas relações e nas condições sociais.
Quando o aspecto abordado é o processo; a inovação social, é um processo de construção social, de geração de soluções dependente da trajetória. A concepção, o desenvolvimento e a aplicação estão intimamente imbricados e são realizados através da relação e da cooperação entre todos os atores envolvidos. Significa um processo de aprendizagem coletivo, que se baseia no potencial dos indivíduos e dos grupos, que adquirem as capacidades necessárias para realizar as transformações sociais (Cloutier, 2003). É um processo dinâmico, que permite a formação de novas relações sociais e conduz a novas estruturas sociais.
Finalmente, uma quinta e essencial diferença repousa na difusão do conhecimento gerado pela inovação. Discussões encontradas na literatura comparam os dois conjuntos (Pol y Ville, 2009; Dagnino y Brandão y Novaes, 2004), embora sem conduzirem a um consenso sobre a relação entre ambos. Pol y Ville (2009), da mesma forma, citam as chamadas inovações intelectuais, que não seriam nem inovações tecnológicas nem inovações sociais. Outra abordagem que destacamos relaciona a Inovação Social com atores e objetivos. Bignetti (2011), destaca que, com relação aos atores, a inovação social se desenvolve através de uma diversidade de intervenientes, entre eles empreendedores sociais, agentes governamentais, empresários e empresas, organizações não governamentais, trabalhadores sociais, representantes da sociedade civil, movimentos, comunidades e beneficiários. Nesse sentido, Bouchard (1997) observa que os atores podem representar interesses diversos e pontos de vista antagônicos, exigindo que o processo contemple a conciliação e o ajustamento entre eles.
Com relação a objetivos e a Inovação Social, Rodrigues (2006) e Heiscala (2007) destacam que estes se vinculam à resolução de problemas sociais, normalmente deixados à margem pelas políticas públicas e pelas ações dos componentes da sociedade em geral. Os objetivos podem contemplar um grande espectro de ações, desde a resposta a situações sociais insatisfatórias até o rearranjo dos papéis sociais e a mudança das estruturas sociais.
Outra abordagem que se destaca é conceituada por Mulgan et al., (2007), que evidencia a inovação social como o resultado de três dinâmicas que são inerentes ao seu desenvolvimento e à sua aplicação. São elas: combinações ou hibridização de elementos existentes, e não da composição de elementos integralmente novos. Além disso, a sua colocação em prática se dá ultrapassando fronteiras organizacionais, setoriais ou disciplinares. Por fim, a inovação social deixa como resultante novas relações sociais entre indivíduos e grupos anteriormente separados, contribuindo para a difusão e a perpetuação da inovação e alimentando novas soluções sociais. Este enfoque enfatiza o papel crítico desenvolvido pelos "conectores", empreendedores, brokers e instituições – que unem pessoas, ideias, recursos e poder e cuja integração contribui para mudanças duradouras (Mulgan et al., 2007, p. 5).
Neste sentido, Cloutier (2003) concentra sua atenção nas inovações sociais centradas no indivíduo, nas inovações orientadas sobre o meio e nas inovações geradas no seio das empresas. Quando estão centradas no indivíduo, as inovações se voltam para ações que promovem mudanças no indivíduo, de modo a permitir a ele recuperar a capacidade de conduzir sua própria vida, ou seja capacidade de mudar o próprio indivíduo. Quanto as inovações orientadas sobre o meio, buscam desenvolver, através da criação de novas instituições ou da modificação do papel de instituições existentes, a qualidade de vida das comunidades ou de grupos de indivíduos. " Assim, diriam respeito ao desenvolvimento de ações no sentido de satisfazerem necessidades como nutrição, transporte, saúde, educação e lazer" (Cloutier, 2003, p. 13).
As inovações sociais dentro das empresas tem como objetivo desenvolver novas formas organizacionais e novas formas de produção, favorecendo a criação de conhecimento e tecnologia, permitindo a melhoria da qualidade de vida no trabalho. Este enfoque enfatiza o papel crítico desenvolvido pelos "conectores"– empreendedores, brokers e instituições – que unem pessoas, ideias, recursos e poder e cuja integração contribui para mudanças duradouras (Mulgan et al., 2007, p. 5).
É justamente sobre os resultados da inovação social, e a forma como se processa a expansão de uma experiência bem sucedida, que repousa uma terceira forma de estudar a inovação social: como modelo organizacional, como programa ou como princípios (Dees et al., 2004).
Algumas inovações se difundem como modelo organizacional, isto é, como uma eficiente estrutura de mobilização de pessoas e recursos voltada a um objetivo comum. Outras se propagam como um programa, um conjunto integrado de ações que servem a uma finalidade definida. Finalmente, há inovações que se consolidam em termos de princípios, valores e formas gerais de ação sobre como servir a um determinado propósito.
Os estudos realizados pelo CRISES (Centre de Recherche surles Innovations Sociales), um centro que reúne mais de 60 pesquisadores, abordam a inovação social através de três eixos complementares: território, condições de vida e trabalho e emprego. As pesquisas sobre inovação social e território buscam analisar o papel dos atores sociais e suas práticas inovadoras no âmbito local. Os estudos sobre inovação social e qualidade de vida se inclinam para a melhoria das condições de emprego, renda, saúde, educação, segurança e moradia. Os pesquisadores sobre trabalho e emprego atentam para as dimensões organizacionais e institucionais que se relacionam com a regulação, a governança, o emprego e a organização do trabalho (Crises, 2010).
Uma abordagem semelhante é desenvolvida por Cloutier (2003), pesquisadora também pertencente ao CRISES, que concentra sua atenção nas inovações sociais centradas no indivíduo, nas inovações orientadas sobre o meio e nas inovações geradas no seio das empresas. No primeiro caso, as inovações se voltariam para ações que promovem mudanças duradouras no indivíduo, de modo a permitir a recuperação da capacidade de conduzir sua própria vida. Em outras palavras, buscam dotá-lo do empowerment necessário para que possa adquirir a capacidade de mudar seu destino. As inovações orientadas sobre o meio buscam desenvolver, através da criação de novas instituições ou da modificação do papel de instituições existentes, um determinado território com a finalidade de melhorar a qualidade de vida das comunidades ou de grupos de indivíduos.
Assim, dizem respeito ao desenvolvimento de ações no sentido de satisfazer necessidades como nutrição, transporte, saúde, educação e lazer (Cloutier, 2003, p. 13). As inovações sociais dentro das empresas tem como objetivo desenvolver novas formas organizacionais e novas formas de produção, resultando num novo arranjo social que favorece a criação de conhecimentos e de tecnologia e que permite a melhoria da qualidade de vida no trabalho.
Por fim Klein et al. (2009) propõe o estudo da Inovação Social referente aos arranjos ou aos meios de ação e de aglutinação de recursos utilizados por diferentes atores permitindo o entendimento das mudanças geradas pela inovação social através de três focos distintos ou "lentes" (Mulgan et al., 2007, p. 13) indivíduos, organizações e movimentos.
A unidade de análise contempla o Projeto Lutar pela Vida, esse iniciou em setembro de 2011, na Comunidade Santa Terezinha do Menino Jesus, na cidade de Joinville SC. Um projeto que visa além da prática do esporte (karatê), complementar ações da família e da comunidade, na promoção familiar, na proteção e no desenvolvimento integral da criança e do adolescente, assim fortalecendo vínculos familiares e sociais e assegurando um espaço de convivência de afetividade cultivando solidariedade e respeito mútuo e lutando pela dignidade principalmente em favor dos que mais necessitam. O Estudo foi desenvolvido no período de Setembro a Dezembro de 2014.
O Projeto é mantido exclusivamente pela APC - Associação Paranaense de Cultura, e administrado pela ADIPROS (Associação Diocesana de Promoção Social). Atendendo atualmente 80 crianças e adolescentes na faixa etária de 7 a 15 anos, contando com dois colaboradores diretos: a Educadora Social e o instrutor de Karatê.
Para o desenvolvimento dessa pesquisa, considerando a questão norteadora e os objetivos propostos, realizou-se uma investigação qualitativa, exploratória e descritiva no Projeto Lutar pela vida. A amostragem baseou-se na decisão das pesquisadoras, configurando-se em uma amostragem dos informantes chaves do projeto. Dessa pesquisa participaram pais de oitenta crianças, dois colaboradores diretos (educadora social e instrutor de karatê).
A intenção deste estudo foi entender na prática toda a teoria existente sobre o assunto, através de uma pesquisa qualitativa de natureza exploratória e descritiva. A figura 1, apresenta a sequência dos procedimentos que foram adotados, no contexto da presente pesquisa:
Figura 1: Diagrama dos procedimentos adotados
Fonte: Adaptado de Dias e Adriano Júnior (2012)
A coleta de dados se deu através de dados primários e secundários.
Cooper e Schindler (2003) indicam que, normalmente, um passo importante em qualquer estudo exploratório é a realização de revisão sistemática de literatura, que permite ao pesquisador melhor delimitar as fronteiras de sua pesquisa, bem como encontrar os conhecimentos existentes ou não, que possam ser gerados ou modificados.
No âmbito da abordagem qualitativa, optou-se pela abordagem de estudo de caso.
O processo de abordagem para a realização das entrevistas consistiu em contato prévio com a Educadora Social do projeto Lutar pela vida e breve apresentação pelas pesquisadoras dos objetivos da pesquisa, bem como o agendamento para a coleta de dados.
Foram realizadas duas entrevistas semiestruturadas sendo uma com a educadora social, uma com o instrutor de Karatê, norteadas por instrumento próprio, composto de vinte e nove questões. As entrevistas foram registradas por meio de gravação em áudio e transcritas na íntegra.
Ainda foram aplicados questionários com as mães de alunos participantes do Projeto Lutar pela vida, norteadas por instrumento composto de trinta e quatro questões.
O Quadro 2 apresenta o detalhamento das etapas da pesquisa desenvolvida.
Quadro 2: Detalhamento das etapas da pesquisa.
Etapas |
Sujeitos Pesquisados |
Instrumentos de Coleta Utilizados |
Abordagem |
1 |
Entrevista com educadora social e instrutor de karatê (2 sujeitos) |
Roteiro de Entrevista |
Qualitativa |
2 |
Questionário aplicado as mães das crianças (10 mães) |
Roteiro de questionário |
Qualitativa e quantitativa |
2 |
Documentos |
Dados secundários |
Qualitativa |
Fonte: Elaborado pelos autores (2014)
As duas fases, quais sejam, a coleta e análise de dados, aconteceram simultaneamente.
Para o tratamento dos dados, foi utilizada a técnica da análise temática de Bardin (2002), que consiste em realizar a leitura do texto, desvendar significados e fazer seu reagrupamento em categorias. As etapas adotadas foram:
a) Primeira etapa: pré-análise. Nessa etapa o material foi preparado para a análise em si. Os dados coletados foram arranjados em um documento para conseguir um entendimento significativo, visando obter dados suficientes e representativos para alcançar os objetivos propostos. Foram escolhidas as informações que definiram o corpus de análise e a formulação das unidades de análise para estabelecer a interpretação final.
b) Segunda etapa: exploração do material. Nessa etapa os dados brutos, provenientes das entrevistas, depois de transformados em unidades de análise, possibilitaram uma definição exata das características pertinentes ao conteúdo expresso.
c) Terceira etapa: interpretação e discussão dos resultados. Buscou-se nessa etapa destacar as informações da análise e exibir o resultado final do estudo, os dados significativos e fidedignos encontrados, de acordo com a literatura analisada, possibilitando interpretações por frequência de ocorrência.
Análise de resultados: os resultados que são apresentados a seguir derivam da análise realizada pelas pesquisadoras de acordo com uma lente teórica que avaliou todo material coletado durante as entrevistas. A primeira parte das perguntas foi em relação ao processo de inovação de forma mais genérica, e depois foram feitas perguntas aprofundadas sobre o processo de inovação social.
Foram aplicados dez questionários com mães de alunos do Projeto Lutar Pela vida e foram entrevistados dois atores envolvidos com a execução do Projeto: a Educadora Social e o Instrutor de Karatê.
Esta seção apresenta uma análise do Projeto Lutar pela Vida. É efetuada a descrição do caso e posterior análise a luz dos constructos teóricos.
As tabelas 1, 2 e 3 referem - se a caracterização dos questionados e entrevistados.
Tabela 1: Idade dos questionados e entrevistados
Idade |
Frequência Absoluta |
De 26 a 30 anos |
1 |
De 31 a 35 anos |
4 |
Acima de 36 anos |
6 |
Não respondeu |
1 |
TOTAL |
12 |
Fonte: Tabela elaborada pelas autoras (2014)
De acordo com a tabela 1, 50% dos entrevistados sendo eles: mães dos alunos e funcionários do projeto, apresentam idade acima de 36 anos, 33% idade de 31 a 35 anos e 8% relatam ter idade entre 26 e 30 anos; esses resultados evidenciam que a grande maioria das mulheres entrevistadas, se tornaram mães antes dos 28 anos considerando a idade mínima de 7 anos das crianças ao serem incluídas no projeto, o que é comum diante da realidade econômica e cultural vivenciadas por elas.
Tabela 2: Escolaridade dos questionados e entrevistados
Escolaridade |
Frequência Absoluta |
Não estudou |
1 |
Ensino Fundamental Incompleto |
0 |
Ensino Fundamental Completo |
3 |
Ensino Médio Incompleto |
1 |
Ensino Médio Completo |
5 |
Superior Incompleto |
0 |
Superior Completo |
1 |
Não respondeu |
1 |
TOTAL |
12 |
Fonte: Tabela elaborada pelas autoras (2014)
A tabela 2, demonstra que 42% dos entrevistados, possui o ensino médio completo e 8% não estudou. Infere-se que essas evidências são positivas diante da realidade socioeconômica apresentada pela comunidade a qual o projeto está inserido.
Tabela 3: Tempo em que está participando do projeto, questionados e Entrevistados
Tempo |
Frequência Absoluta |
Há 06 meses |
1 |
Há 1 ano |
3 |
Há 2 anos |
1 |
Há 3 anos |
4 |
Há 4 anos |
3 |
TOTAL |
12 |
Fonte: Tabela elaborada pelas autoras (2014)
Na tabela 3, observa-se que 33% das crianças já participam há mais de 3 anos do projeto que, além do karatê, oferece para a participação das mães, o trabalho voluntário, clube de mães, catequese, reuniões, passeios, festas e comemorações. Segundo as entrevistadas, elas resolveram participar do Projeto para que seus filhos tenham uma atividade física, ocupando e desenvolvendo as crianças para uma vida melhor.
O projeto Lutar pela vida foi fundado em 01 de Setembro de 2011, estando há três anos e 3 meses, na comunidade de Santa Terezinha do menino Jesus, rua Horst Werner 618, loteamento parque Joinville, município de Joinville – SC, o qual é desenvolvido no espaço físico da igreja, espaço esse cedido gratuitamente pela diretoria da comunidade. O Quadro 3, refere-se a caracterização do projeto.
Quadro 3: Resumo de informações sobre o objeto de pesquisa e os procedimentos de pesquisa
INFORMAÇÃO |
PROJETO LUTAR PELA VIDA |
Referência |
Lutar pela Vida |
Localização |
Comunidade Santa Terezinha do Menino Jesus, Rua Horst Werner 618 Loteamento Parque Joinville - SC. |
Área de Atuação |
Espaço de convivência, formação para a participação e cidadania, o Desenvolvimento do protagonismo e da autonomia de crianças e adolescentes pautadas em experiências lúdicas, culturais e esportiva. Este projeto visa além da pratica do esporte (Karatê), complementar ações da família e da comunidade, na promoção familiar, na proteção e no desenvolvimento integral da criança e do adolescente. Assim Fortalecendo vínculos familiares e sociais e assegurando um espaço de convivência de afetividade cultivando solidariedade e respeito mútuo. E lutando pela dignidade principalmente em favor dos que mais necessitam. O projeto atende 80 crianças e adolescentes na faixa de 7 a 15 anos. |
Período de investigação |
29 de Setembro - 2014 (as duas pesquisadoras) 15 de Dezembro - 2014 (as duas pesquisadoras) |
Documentos Analisados |
Termo de Parceria entre a Associação Paranaense de Cultura - APC e a Associação Diocesana de Promoção Social - ADIPROS. Vídeo Institucional, páginas na rede social, site da entidade mantenedora. |
Atores Chaves que participaram das entrevistas semiestruturadas |
Educadora social do Projeto Professor de Karatê do Projeto, Mães e ou responsável pelas crianças participantes. |
Oportunidades de Observação |
Nas visitas ao projeto; Na participação das Assembleia trimestral (Outubro 2012) Nas entrevistas com os responsáveis pelo projeto. |
Fonte: Quadro elaborado pelas autoras (2014)
O projeto Lutar pela Vida, foi criado a partir de um desejo pessoal do Senhor Robert, atual reitor da PUC, o qual se diz apaixonado pelo esporte Karatê e procurou a Diocese de Joinville, juntamente com os Irmãos Maristas, relatando seu sonho e desejo em ajudar através do esporte, crianças carentes. A Diocese encaminhou essa ideia para a sua entidade social a ADIPROS (Associação civil, sem fins lucrativos), onde essa realizou vários levantamentos nos bairros e regiões carentes e mais necessitadas da cidade de Joinville. Verificou–se que o Parque Joinville, seria o local ideal para atender a alta vulnerabilidade na região, vindo a favorecer as crianças mais pobres dessa comunidade.
Segundo Chanbom (1982), a inovação social se desenvolve através de uma diversidade de intervenientes, entre eles empreendedores sociais, agentes governamentais, empresários e empresas, organizações não governamentais, trabalhadores sociais, representantes da sociedade civil, movimentos, comunidades e beneficiários.
As ações desenvolvidas nesse projeto social de acordo com as respostas dos entrevistados além da prática do Karatê e brincadeiras diversas desenvolvidas, são ações socioeducativas com objeto de integrar a família na comunidade, principalmente as famílias dos catadores de lixo, as quais antes na sua maioria não participavam da comunidade e de certa forma eram e se sentiam excluídas. Após a existência do projeto, esse passou a favorecer não só as crianças, mas o meio em que elas convivem refletindo na escola, no seio da família e na sociedade consequentemente. Nas palavras da educadora social e também assistente social do projeto Senhora Méri: "O projeto já favoreceu em torno de umas 200 crianças, muitas delas não criam raízes, porque os seus pais mudam-se constantemente de bairros e algumas delas principalmente as meninas, abandonam o projeto para serem babás de seus irmãos mais novos".
Na inovação social, o processo de comunidade se desenvolve pela participação dos beneficiários e dos atores envolvidos durante todo o processo, significando um processo de aprendizado coletivo, que se baseia no potencial dos indivíduos e dos grupos, que adquirem as capacidades necessárias para realizar as transformações sociais (CLOUTIER, 2003). A inovação social e seu território buscam analisar o papel dos atores sociais e suas práticas inovadoras no âmbito local, Crises (Centre de Recherchesur les Innovations Sociales).
O critério de seleção dos participantes, segundo os entrevistados parte por alguns argumentos sendo eles: crianças de baixa renda, notas e frequência escolar, crianças as quais a família participa de algum benefício do governo como o Bolsa Família, os entrevistados comentaram que no projeto hoje participam oitenta crianças e adolescentes e que há uma lista de espera grande e infelizmente não tem como ampliar devido ao espaço físico, número de funcionários e por ele ser o único na região.
A maioria das mães entrevistadas afirmaram que o que levou as mesmas a participação do projeto é o aprendizado, o bem que este está fazendo não só para as crianças, mas indiretamente na família. O respaldo do bom comportamento das crianças em casa, o conhecimento agregado, a descontração, a responsabilidade e a vida saudável. Ademais, 90% delas dizem que o que mais motiva as crianças a continuar participando do projeto é o contato com outras pessoas, os passeios realizados, as festas, comemorações e o karatê. E ainda responderam que esse projeto Lutar pela Vida, é muito importante, pois incentiva para crescer na vida, contribui na formação dessas crianças, desenvolve nas crianças uma atividade física, tira as crianças das ruas, dando lhes oportunidades gratuitas para serem mais felizes, apreenderem valores como: o amor, o diálogo, paciência, melhor convívio familiar e evita o caminho das drogas, porque conduz no caminho do bem. Essas mães ainda relatam que tiveram muitos ganhos positivos na família, e está sendo uma experiência boa a participação nesse projeto.
Conforme relato dos entrevistados, existem sim práticas sociais no projeto e essas são operacionalizadas diretamente pela ADIPROS e pelos padres da diocese, mas principalmente pelas pastorais da comunidade, de acordo com as palavras da educadora social do projeto senhora Méri: "As práticas sociais: como trabalhamos com a igreja e na igreja, usamos as pastorais, pastoral familiar para resolvermos problemas nas famílias; vamos juntos visitar essas famílias com problemas, pastoral antialcoólica, onde tem casos de alcoolismo, a infância missionária, acompanha as crianças e a pastoral da crianças, acompanha crianças com baixo peso, ou seja, é juntamente com a pastoral da comunidade ligada à igreja católica!" Ainda de acordo com os entrevistados as práticas educativas desenvolvidas no projeto são operacionalizadas além da prática do Karatê e a disciplina que este esporte desperta. Duas vezes na semana são desenvolvidas atividades socioeducativas, isto é, de segunda a quinta feira, com palestras voltadas a diversos temas, religião, saúde, educação ministradas por profissionais especializados na área vindos de fora. E também é tratado do estatuto da criança e do adolescente, por um agente social municipal que se faz presente com certa frequência no projeto.
As ações desenvolvidas pelo projeto Lutar pela Vida podem ser consideradas inovadoras conforme os entrevistados, pois em todas as práticas são buscadas melhorias e tudo que se faz se pensa em melhorar e inovar sempre. O esporte é usado como uma alternativa para inserção de valores de forma lúdica.
Bignetti (2011), aborda que a inovação social deixa como resultado novas relações sociais entre indivíduos e grupos anteriormente separados, contribuindo para a difusão e a perpetuação da inovação e alimentando novas soluções sociais.
Entre as principais particularidades do projeto Lutar pela Vida e os benefícios que proporciona a comunidade, foram apontados pelos entrevistados a ajuda mútua nas famílias, para que as mesmas sejam autônomas e protagonistas de sua história. Também o lanche oferecido, sendo esse observado como a única refeição do dia de algumas crianças. Nas frases do instrutor de Karatê Senhor Manuel ...."É eu vejo assim que esse projeto tinha que ter vários, muito mais, tem que ser expandido, porque vai favorecer sim com certeza ..." E os impactos que esse projeto proporciona para os beneficiários e para o município de Joinville são muitos, pois contribui na formação dessas crianças, ajudando as a seres cidadãos melhores. Alguns pais se dizem agradecidos. Portanto, os pais enaltecem o projeto e salientam que deveria ter a disseminação de práticas similares em mais bairros da cidade de Joinville, tendo o envolvimento de outras organizações e empresas privadas.
As inovações orientadas sobre o meio buscariam desenvolver, através da criação de novas instituições ou da modificação do papel de instituições existentes, um determinado território com a finalidade de melhorar a qualidade de vida das comunidades ou de grupos de indivíduos, oportunizando a essas melhores condições. Isso pode ser operacionalizado por meio de atividades esportiva educação, trabalho e lazer, com intuito de desenvolver condições de vida futura favorável e contribuir na sua formação. (CLOUTIER, 2003).
Entre as atividades desenvolvidas pelas mães no projeto e na comunidade, verificou-se uma certa ausência na participação. Algumas responderam que prestam serviços voluntários, ajudam nas realizações de festas e eventos. Observou-se que geralmente essas mesmas são também catequistas e participam do clube de mães. Os benefícios alcançados em estarem participando são: o sentimento de solidariedade, sentir-se um ser humano melhor, o aprendizado, o respeito e a experiência adquirida.
As vantagens positivas da Inovação Social são definidas como o resultado do conhecimento aplicado as necessidades sociais, através da participação e da cooperação dos atores envolvidos, gerando soluções positivas, novas e duradouras para grupos sociais, comunidades, enfim para sociedade de modo geral.
Quadro 4, refere-se aos pontos positivos do projeto Lutar pela Vida.Quadro 4:Pontos Positivos do projeto Lutar pela Vida
Categorias de respostas |
Q1 |
Q2 |
Q3 |
Q4 |
Q5 |
Q6 |
Q7 |
Q8 |
Q9 |
Q10 |
E1 |
E2 |
12 |
Disciplina |
1 |
1 |
2 |
||||||||||
Educação |
1 |
1 |
2 |
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Festas comemorativas |
1 |
1 |
2 |
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Pedagógico |
1 |
1 |
2 |
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Respeito |
1 |
1 |
2 |
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Aprender |
1 |
1 |
|||||||||||
Atividades das crianças |
1 |
1 |
|||||||||||
Campeonatos |
1 |
1 |
|||||||||||
Como se comportar |
1 |
1 |
|||||||||||
Como se relacionar |
1 |
1 |
|||||||||||
Concentração das crianças |
1 |
1 |
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Crescimento da família |
1 |
1 |
|||||||||||
Dedicação dos professores |
1 |
1 |
|||||||||||
Disciplina |
1 |
1 |
|||||||||||
Evitar ficar nas ruas |
1 |
1 |
|||||||||||
Exercícios |
1 |
1 |
|||||||||||
Fortalecimento de vínculos |
1 |
1 |
|||||||||||
Gratuito |
1 |
1 |
|||||||||||
Integração na comunidade |
1 |
1 |
|||||||||||
Karatê |
1 |
1 |
|||||||||||
Lanche |
1 |
1 |
|||||||||||
Passeios |
1 |
1 |
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Repassar o que aprendeu |
1 |
1 |
|||||||||||
Responsabilidade |
1 |
1 |
|||||||||||
Saúde física |
1 |
1 |
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Ser melhor com as pessoas |
1 |
1 |
|||||||||||
Uniforme |
1 |
1 |
Fonte: Elaborado pelas autoras (2014)
Os pontos positivos do projeto social apontados pelas mães das crianças e pelos funcionários entrevistados foram muitos. Os pontos mais citados são: as festas comemorativas, a disciplina agregada pelo esporte, educação, respeito, atividades pedagógicas desenvolvidas, os exercícios físicos, o lanche e uniforme também gratuitos, os passeios, a dedicação dos professores (educadora social e instrutor de karatê), os campeonatos, concentração das crianças, responsabilidade, o aprendizado, o ser solidário com os amiguinhos e irmãos, evitar ficar nas ruas, a saúde física e mental, o comportamento, a integração na comunidade e o fortalecimento de vínculos na família.
As inovações sociais centradas no indivíduo são esclarecidas por Cloutier (2003) como sendo as inovações que se voltam para ações que promovem mudanças duradouras no indivíduo, de modo a permitir a ele recuperar a capacidade de conduzir sua própria vida. Em outras palavras, buscam dotá-lo do empowerment necessário para que possa adquirir a capacidade de mudar seu destino.
O Quadro 5, refere-se aos pontos negativos do projeto Lutar pela Vida.
Quadro 5: Pontos negativos do projeto Lutar pela Vida
Categorias de respostas |
Q1 |
Q2 |
Q3 |
Q4 |
Q5 |
Q6 |
Q7 |
Q8 |
Q9 |
Q10 |
E1 |
E2 |
12 |
Espaço físico não adequado |
1 |
1 |
2 |
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Poucas vagas |
1 |
1 |
|||||||||||
Nada negativo |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
1 |
7 |
Fonte: quadro elaborado pelas autoras (2014).
Com relação os pontos negativos houve poucas respostas. Entre as mencionadas constam: o espaço físico não adequado, as poucas vagas oferecidas e a maioria relatam que não observaram nada de negativo.
O nível de participação da comunidade no projeto Lutar pela Vida segundo os entrevistados no início não foi nada fácil. Ficavam assustados. Aos poucos as pesquisadoras conquistaram a confiança nas pessoas envolvidas no projeto. Mas a maior dificuldade encontrada é a participação e presença dos pais. Esses ainda continuam ausentes do projeto. Hodiernamente o projeto pode contar com aproximadamente trinta pessoas envolvidas voluntariamente na própria comunidade, sendo: secretaria da igreja, zeladoras e principalmente as pastorais familiares, antialcoólicas e a infância missionária.
O projeto lutar pela vida possui diretamente dois funcionários envolvidos diariamente, o instrutor de karatê e a educadora social, além do apoio administrativo da ADIPROS, a qual gerencia os recursos financeiros.
Segundo os funcionários entrevistados, as pessoas da comunidade são estimuladas a participar do projeto sim. Há uma busca contínua de novos participantes. Essa busca ocorre de porta em porta, boca a boca e através da divulgação de datas comemorativas e campeonatos. Ainda de acordo com os entrevistados, o projeto procura interagir na comunidade de todas as formas, seja na participação de missas, usam a igreja nas reuniões de pastorais, apresentações em escolas, outras academias e movimentos. Ou seja, o projeto tem uma boa interação com a comunidade.
No relato das mães questionadas, o projeto incentiva a participação das mesmas na comunidade, por meio da divulgação e envolvimento em eventos, festas, no clube de mães, reuniões, missas, assistindo as aulas de karatê, na interação com outras pessoas e cativando novas amizades. Ainda de acordo com as entrevistadas, a maioria destacou que o que mais gosta do projeto é o ensinamento, atenção e dedicação do professor e da educadora social, as ajudas múltiplas da professora Méri, a prática do esporte karatê e o projeto por completo. Quando indagados sobre o que menos gostam, a grande maioria não se manifestou. Apenas duas mães afirmaram que algumas crianças não levam a sério esse trabalho e muito menos os pais desses.
Foram analisadas as características da inovação social identificadas nas entrevistas e questionários, inicialmente baseando-nos em Chambon et al. (1982) que indica quatro dimensões: sua forma, seu processo de criação e implantação, seus atores e os objetivos de mudança que busca atingir.
No que diz respeito à forma, a inovação social tem a característica de ser intangível ou imaterial, vinculando-se mais à ideia de "serviço" do que de "produto". O que se percebe na análise de dados dos questionários e entrevistas, foi a associação do Projeto Lutar pela Vida, tendo como principal pilar o karatê a prestação de vários serviços à comunidade, como o voluntariado, clube de mães, catequese, reuniões, passeios, festas, comemorações, encaminhamentos da bolsa família, saúde dos idosos e consultas médicas de urgência.
Na dimensão processo de criação e de implantação de um projeto de inovação social, se ressalta a participação dos usuários no desenvolvimento, isto é, o usuário não é visto apenas como o beneficiário, ou cliente, mas como um participante efetivo ao longo do processo. Assim os questionados relatam a importância da participação dos pais no projeto para o sucesso do mesmo, visto que, muitas vezes trabalha-se questões pedagógicas e comportamentais que devem ser incentivadas na família. Porém, a participação dos pais ainda é reduzida, restringindo-se a festas e datas comemorativas. Nas próprias reuniões promovidas pela Educadora Social a respeito do desenvolvimento dos filhos, poucos pais participam. Nas palavras do Instrutor de Karatê: "No que eles mais participam é quando tem algum evento, então sempre quando é o dia das crianças, tudo o que acontece que tem uma data comemorativa, então a gente envolve os pais e as crianças juntas. Quando tem campeonato também envolvemos os pais e chamamos outras crianças com certeza! (Manoel, Instrutor de Karatê do Projeto). Aqui cabe a reflexão se os organizadores do Projeto estão usando estratégias corretas para o envolvimento e participação dos pais ou se a abstenção é um indicador cultural da comunidade. Porém, em todos os relatos, percebe-se imprescindível que, para o atingimento dos objetivos do Projeto, como descreve a Educadora Social: "Karatê é a principal atividade além outras práticas socioeducativas, são trabalhados os valores humanos, atividades pedagógicas, recreações e palestras relacionadas a temáticas como saúde, educação, higiene e valores!" Méri – Educadora Social do Projeto.
Analisando a dimensão atores, a inovação social se desenvolve através de uma diversidade de intervenientes, entre eles empreendedores sociais, agentes governamentais, empresários e empresas, organizações não governamentais, trabalhadores sociais, representantes da sociedade civil, movimentos, comunidades e beneficiários. É interessante observar que os atores podem representar interesses diversos e pontos de vista antagônicos, exigindo que o processo contemple a conciliação e o ajustamento entre eles (Bouchard,1997).
A partir dos dados das entrevistas e questionários, foi possível perceber vários atores envolvidos no Projeto, a saber: a igreja, as pastorais, a comunidade, a APC através do seu reitor que foi o idealizador e patrocinador do Projeto e o grupo Marista, as famílias, as crianças, os Conselhos de Assistência Social do Município, mães voluntárias, diretamente duas pessoas - a educadora social e o professor de karatê e a ADIPROS indiretamente que atendem os recursos financeiros.
Os objetivos dos atores envolvidos convergem resumidamente nas palavras do Instrutor de Karatê: "E isso com certeza, nós não estamos trabalhando pensando no hoje, nós estamos pensando assim no amanhã no futuro deles né, que eles vão ser pessoas do bem, de bom caráter, que venham a contribuir para com a sociedade, fazendo aquilo o que eu estou fazendo com eles hoje que eles façam com outros amanhã. E que só venham fazer o bem né, procurando humildade, respeito, honestidade , sinceridade tudo isso aí né nós pregamos dentro do projeto !" Manoel – Instrutor de Karatê. Reafirmando essas palavras ressaltamos ainda o que algumas mães de crianças questionadas no estudo relatam sobre a intenção da participação dos filhos no Projeto: aprendem a respeitar uns aos outros, ser um bom cidadão, respeitar os amigos, professores, ser uma pessoa melhor, sair das ruas e obter uma formação cidadã.
Percebendo-se que os objetivos de mudança da realidade social da comunidade em que está inserido o projeto são comuns aos atores envolvidos. Os objetivos a que se propõe a inovação social se vinculam ao rearranjo dos papéis sociais e a mudança das estruturas sociais (Rodrigues, 2006; Heiscala, 2007).
Em seguida, a luz dos conceitos de Inovação Social de Mulgan et al.(2007), foram analisadas outras dimensões do Projeto Lutar Pela vida. Para o autor, a inovação social geralmente é o resultado de novas combinações ou da hibridização de elementos existentes, e não da composição de elementos integralmente novos. A sua colocação em prática se dá ultrapassando fronteiras organizacionais setoriais ou disciplinares. Por fim, a inovação social deixa como resultante novas relações sociais entre indivíduos e grupos anteriormente separados, contribuindo para a difusão e a perpetuação da inovação e alimentando novas soluções sociais.
Analisando as ações desenvolvidas pelo Projeto relatados pelos questionados e entrevistados observamos que a partir de sua atividade principal - o Karatê, novas atividades surgem como resposta a essa interação. Nas palavras da Educadora Social "...Várias ações, primeiro socioeducativas com as crianças, e depois partimos para a família, e procuramos fazer ações para integrar a família com a comunidade. Aqui tem problemas sérios com vulnerabilidade. Muitas famílias não conseguem se integrar na comunidade. Tem as partes bem carentes do bairro, no caso a rua dos catadores, então procuramos integra-los com a comunidade!"" ... envolve as pastorais, secretaria da igreja, zeladores as pastoral familiar e infância missionária principalmente!" - Educadora Social. Além disso, novas relações sociais foram se formando a partir do Projeto, no caso das crianças a catequese, a escola, torneios, campeonatos e passeios e no caso dos pais das crianças os clubes de mães, voluntariado e encontros informais enquanto aguardam seus filhos durante a aula de karatê. Manoel ressalta: "... Então nesse mês já temos uma apresentação na escola próxima aqui mesmo, que nunca teve antes, então estamos nos preparando para apresentar. Está tendo um movimento regional. Essas crianças vão participar. Então são formas dessas crianças interagirem!"
Sobre os resultados da inovação social, Dees, Anderson e Wei-Skillem (2004) trazem uma terceira forma de estudar a inovação social: como modelo organizacional, como programa ou como princípios. Algumas inovações se difundem como modelo organizacional, isto é, como uma eficiente estrutura de mobilização de pessoas e recursos voltada a um objetivo comum. Outras se propagam como um programa, um conjunto integrado de ações que servem a uma finalidade definida. Finalmente, há inovações que se consolidam em termos de princípios, valores e formas gerais de ação sobre como servir a um determinado propósito. Destacamos aqui, a partir dos relatos dos entrevistados e questionados, que a origem do projeto Lutar pela vida foi de um levantamento socioeconômico realizado em Joinville, em que o bairro Aventureiro - que mais apresentou vulnerabilidade social. O reitor da PUC, apaixonado pelo karatê, quando veio morar em Joinville queria desenvolver essa atividade para crianças carentes, favorecendo essas crianças. Dessa forma, a PUC passou a repassar os recursos para a ADIPROS que os administra. Se configura como um Programa parte de uma Instituição do Terceiro setor, já que mobiliza pessoas e recursos num conjunto de ações que tem como finalidade o atendimento das crianças carentes do bairro através da prática de um esporte - karatê, estendendo suas ações ás famílias e comunidade. "...primeiro socioeducativa com as crianças, e depois partimos para a família, e procuramos fazer ações para integrar a família com a comunidade. Aqui tem problemas sérios com vulnerabilidade. Muitas famílias não conseguem se integrar na comunidade. Tem as partes bem carentes do bairro , no caso a rua dos catadores, então procuramos integra-los com a comunidade"..."A parte do Karatê, que exige bastante disciplina, com aulas com frequencia de duas vezes por semana e de segunda a quinta. Trabalhamos a parte sócio educativa: trabalhamos muito o respeito, cidadania, com recreação valores, palestras com palestrantes de fora, com psicólogo, conselho titular, saúde!" – Educadora Social.
Os resultados evidenciam que 90% dos questionados salientam que o Projeto Lutar pela vida é o único com essas características desenvolvido em Joinville, representando uma melhoria no desenvolvimento pessoal das crianças no que se refere a obediência, responsabilidade, ajuda ao próximo, entre outros. Porém, as iniciativas referentes a melhoria das condições de emprego, renda, saúde, educação, segurança e moradia, se dão através da mobilização de outras entidades sociais, de forma restrita. Dessa forma, atendendo parcialmente aos eixos definidos pelo CRISES (Centre de Recherchesur les Innovations Sociales), quais sejam: território, condições de vida e trabalho e emprego.
A abordagem de Cloutier (2003) quando trata que as inovações se voltariam para ações que promovem mudanças duradouras no indivíduo, de modo a permitir a ele recuperar a capacidade de conduzir sua própria vida, reforçam o caráter inovador do Projeto. A partir das entrevistas, mudanças significativas foram percebidas pelas mães nas crianças: "..mais obediente, atencioso, concentrado , educação..." ..." a auto estima, a opinião a paciência isso ajudou muito todos nós em casa...", e mais timidamente em inovações orientadas sobre o meio e nas inovações geradas no seio das empresas.
Diante desta análise e considerando o objetivo multidimensional da inovação social, parece ficar claro que se trata efetivamente de um exemplo de inovação social, na medida em que são satisfeitos os três requisitos fundamentais: a satisfação de necessidades humanas; a promoção da inclusão social e a capacitação dos beneficiários desencadeando uma mudança nas relações sociais e de poder.
O projeto Lutar pela Vida proporciona uma oportunidade para 80 crianças, crianças essas que estão sendo preparadas e educadas para uma vida melhor e logo um bem viver com a família, amigos, escola, comunidade e sociedade em si. Beneficiando não somente seu meio de convivência, mas talvez sendo preparadas para transmitir valores futuramente a outros seres humanos e regiões.
O contexto da inovação social deriva principalmente de satisfazer as necessidades humanas básicas, com medidas socioeducativas através do esporte, para as crianças e adolescentes e consequentemente aumentando a participação política de grupos marginalizados; na capacidade sociopolítica e no acesso a recursos necessários para reforçar direitos e valores que conduzam à satisfação das necessidades humanas e os prepara para uma vida mais digna.
Identificou-se que a inovação centrada no indivíduo no projeto proporciona empoderamento para os seus participantes, pois é um espaço de convivência, formação para a participação e cidadania, que vem desenvolvendo o protagonismo e a autonomia das crianças e adolescentes pautadas em experiências lúdicas, culturais e esportivas, que visam além da prática do esporte karatê, complementar ações e inovações, orientadas para o meio da família e da comunidade, na promoção familiar, na proteção e no desenvolvimento integral da criança e do adolescente. Assim fortalecendo vínculos familiares e sociais e assegurando um espaço de convivência de afetividade, cultivando solidariedade e respeito mútuo. E lutando pela dignidade principalmente em favor dos que mais necessitam.
A inovação no seio do projeto Lutar pela Vida não desenvolve apenas medidas socioeducativas para seus usuários, mas desenvolve novas formas e arranjos para integrar seus clientes e seus familiares a participarem de outras medidas educativas e religiosas, para aprimorar e em alguns casos melhorar valores no convívio e na estrutura familiar, através de criações e interações de grupos, sejam eles: clube de mães, catequese, participação na missa, orientações pastorais, festas, passeios, campeonatos, demonstrações para a comunidade, academias e escolas, e abertura para o convívio, com outras pessoas, gerando mais amizades e logo uma socialização mais feliz.
Foram várias as identificações de inovações sociais constatadas no projeto Lutar pela Vida, entre elas: a inovação centrada no indivíduo, onde através do esporte karatê e medidas sócio pedagógicas, observou-se mudanças construtivas nas crianças, atribuídas as qualidades e valores absorvidos e logo transferidas para o meio este no qual elas convivem. Isso evidencia uma inovação orientada para o seio da família, na escola, com os amigos e na sua comunidade. Inovações no seio da empresa, envolvendo vários atores, não apenas os clientes no caso as crianças, mas os funcionários, as famílias, as entidades mantenedoras e a comunidade de modo geral.
No que diz respeito aos eixos de concentração do programa território, qualidade de vida e trabalho e emprego, constatou-se que o projeto partiu de um sonho pessoal de uma única pessoa, a qual com influências e colaborações positivas, desenvolveu "um tamanho bem" não apenas para as crianças carentes, mas para as famílias, a comunidade, a redondeza que esse atinge. Além disso, gerou resultados e formas de difusão organizacional, programas e princípios adquiridos no decorrer no processo de implantação e funcionamento do projeto. A performance do projeto também esteve associada as necessidades e dificuldades apresentadas e encontrada no seu percurso.
O objetivo deste estudo consistiu em analisar o projeto Lutar pela vida a luz dos constructos teóricos da inovação social. Este estudo, se ainda não permite posições conclusivas, aponta vários elementos relevantes sobre o que está sendo pesquisado sobre inovação social.
Referente a pergunta de pesquisa, consistia na indagação: é possível afirmar que o Projeto Lutar pela Vida pode ser considerado uma Inovação Social? As evidências encontradas diante das entrevistas e questionários aplicados levam a crer que na sua maioria as características do projeto aderem aos multifacetados conceitos de inovação social.
No que se refere a verificação das práticas socioeducativas desenvolvidas pelo projeto Lutar pela Vida, foi possível mapear as seguintes: Karatê - o uso do esporte para inserir valores como a disciplina, concentração, respeito, solidariedade e ter limites, respeito escutar a opinião dos outros, ser um bom cidadão, respeitar os amigos, professores, ser melhor, etc. Visita a famílias com problemas, acompanhamento de crianças com baixo peso; palestras, encaminhamentos a órgãos de assistência a saúde e ao menor.
Quanto a identificação dos pontos positivos e negativos do projeto na ótica da inovação social foi constatado que: positivamente o projeto proporciona o fortalecimento e integração da família na comunidade, as crianças além de aprenderem o karatê aprendem a disciplina, educação, respeito, responsabilidade além de estarem fora das ruas. As questões negativas se referem a limitação do espaço físico e das vagas e a reduzida participação dos pais.
Referente a participação e a interação da comunidade com o projeto é possível destacar que devido a cultura local ainda há resistências da comunidade. Porém, vários grupos passaram a interagir a partir das ações desenvolvidas pelo Projeto como: voluntariado; pastorais, clube de mães, festas, passeios, palestras com as famílias.
Entende-se como principal contribuição prática e teórica deste estudo, a abertura do campo de pesquisa em um tema que reflete a limitação da pesquisa acadêmica brasileira nesta área de conhecimento, suscitando novas construções e definições para o tema.
Uma das limitações desta pesquisa se deu no que justamente se configurou em um dos pontos negativos, que foi a restrita participação dos pais na construção dos dados a serem analisados (entrevistas). Percebe-se, também, a necessidade de uma maior clareza conceitual e definições comuns. Tal estágio de maturidade no campo da pesquisa sobre inovação social possibilitaria a elaboração de mais estudos de caso, bem como de melhores análises do processo de inovação, contemplando os agentes e beneficiários do processo, além de uma melhor articulação com outras disciplinas, bem como a investigação sobre algumas das particularidades da inovação social.
O grande desafio da humanidade parece ser a busca de ações que minimizem e que, até, eliminem as diferenças sociais. O crescente interesse despertado por iniciativas sociais inovadoras, tanto de empreendedores, como de organizações e de movimentos, faz supor que está se estabelecendo um campo fértil de estudos para os pesquisadores das ciências sociais.
O tratamento dado à inovação social advém das necessidades, expectativas e aspirações dos atores envolvidos que se inclinam para o estudo de um processo que é conduzido por meio de uma constante interação entre desenvolvedores e beneficiários. A inovação social, portanto, é um fenômeno inclusivo, dependente das interações dos diferentes componentes sociais. Um processo específico de geração, desenvolvimento, aplicação e difusão de ideias, que ocorre através da permanente interação entre todos os atores, numa construção social das soluções. Seja por meio da iniciativa de empreendedores, seja através da ação organizacional ou da ebulição dos movimentos sociais, a inovação social adquire característica e constructos próprios e distintos da inovação tradicional e seu estudo exige enfoques e metodologias particulares.
Procurou-se, aqui, promover uma análise a partir do estudo de caso do Projeto Lutar pela Vida sobre inovação social e que tentou mostrar algumas vias possíveis de abordagem. As escolhas realizadas, evidentemente, deixaram de lado alguns enfoques presentes na literatura. Se observa, ainda, uma certa diversidade nas publicações que abordam a inovação social demonstrando que a abordagem se apresenta como transversal a diversos campos de estudo.
Nos trabalhos selecionados, não há, ainda, autores principais ou tradicionais, mas os pioneiros tem merecido destaque em função da abertura do campo de pesquisa e por terem estabelecido as bases conceituais e primeiras definições para as pesquisas que é desenvolvida na atualidade. Os pontos centrais de análise são multifacetados, porém demonstram dois aspectos importantes na compreensão da pesquisa realizada no período: o arcabouço conceitual ainda está em construção e autores tem buscado estabelecer conceitos que caracterizam a inovação social como um campo respeitável e abrangente de investigação; e diversos estudos de caso que permitem compreender diversos campos onde particularmente a inovação social acontece ou é necessária.
Dessa forma, estudos mais amplos realizados no âmbito dos projetos sociais e no interior de diferentes programas por eles conduzidos, podem gerar um corpo de proposições consistentes para o entendimento de como se processam as inovações socais, contribuindo, portanto, para a solidificação de uma ainda incipiente teoria sobre o tema.
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1. Possui graduação em Administração de Empresas com Habilitação em Marketing pela UNISEP e especialização em Controladoria e Finanças, atualmente aluna no Mestrado em Administração UNISUL. E-mail: andripandolfi@yahoo.com.br
2. Possui graduação em Serviços Social pela UFSC, atualmente aluna no Mestrado em Administração UNISUL. E-mail: marciagil10@hotmail.com
3. Possui Doutorado em Administração e Turismo - Univali. É Professora do Mestrado em Administração na Unisul
4. Possui Doutorado em Ciência Política - UFSC. É Professor do Mestrado em Administração na Unisul