Espacios. Vol. 37 (Nº 05) Año 2016. Pág. 14

Uso medicinal de plantas na comunidade de Recanto do Prato, Inhuma–Piauí

Medicinal use of plants in community of Recanto do Prato, Inhuma-Piauí

Keliany Costa PEREIRA 1;Victor de Jesus Silva MEIRELES 2; Melise Pessôa Araujo MEIRELES 3

Recibido: 09/10/15 • Aprobado: 29/10/2015


Contenido

1. Introdução

2. Materiais e métodos

3. Resultados e discussões

4. Conclusões

Referências


RESUMO:

A utilização de plantas com efeitos terapêuticos entre os povos é uma das mais antigas práticas empregadas para tratamento de enfermidades humanas. Assim, o presente trabalho objetivou investigar as plantas medicinais cultivadas e utilizadas na comunidade Recanto do prato, município de Inhuma/PI. Para isso foram aplicadas entrevistas semiestruturadas aos moradores 45 da localidade a fim de coletar informações sobre aspectos socioeconômicos e de conhecimento botânico tradicional local. Foram identificadas 43 espécies pertencentes a 25 famílias botânicas. As partes mais utilizadas foram as folhas, citadas por 58,30% dos entrevistados, seguidos de semente com 15,30% citações de uso e fruto com 10,60%. Das categorias de doenças estabelecidas pela OMS, as que detiveram maior número de espécies agrupadas foram a de "sintomas e sinais gerais" com 27 espécies citadas, seguida de "doenças do aparelho digestivo" com 23 espécies. Percebe-se que se trata de uma comunidade de hábitos simples com uma população relativamente pequena que cultiva alguns costumes antigos entre eles o uso de plantas para cura de seus males. Compreende-se que conhecer o uso local de espécies bem como o conhecimento que cerca historicamente esse uso, é de suma importância para preservação da cultura local e diversidade da flora.
Palavras-chave: Etnobotânica, Sistemas Corporais, Conhecimento tradicional.

ABSTRACT:

The use of plants with therapeutic effects among peoples is one of the oldest practices employed for the treatment of human diseases. Thus, the present study aimed to investigate the medicinal plants cultivated and used in the community Corner of the plate, municipality of Inhuma-PI. For this semi-structured interviews were applied to the 45 residents of the locality in order to collect information on socio-economic aspects and of traditional local Botanical knowledge. 43 species were identified belonging to 25 botanical families. The most used were the leaves, cited by respondents 58.30, followed by seed with 15.30 citations of use and fruit with 10.60. The categories of diseases established by the who, the who held off the greatest number of species were the "general symptoms and signs" with 27 species cited, followed by "digestive" with 23 species. You can tell that this is a community of simple habits with a relatively small population that cultivates some old ways including the use of plants to cure their ills. It is understandable that meet the local use of species as well as the knowledge about historically this use, it is of the utmost importance for preservation of local culture and diversity of flora.
Keywords: Ethnobotany, body systems, traditional knowledge.

1. Introdução

A utilização de plantas com efeitos terapêuticos entre os povos é uma das mais antigas práticas empregadas para tratamento de enfermidades humanas e apesar da evolução do conhecimento científico, e de existirem diversas formas de tratamento com fármacos, a utilização de métodos alternativos de cura pelo uso das plantas ainda é muito frequente, fato ocorrido principalmente devido ao alto custo dos medicamentos sintéticos e a facilidade de obtenção das mesmas (Vasconcelos et al., 2011).

A aplicação contínua e uso de espécies ao longo de um milênio foram responsáveis por criar informações precisas, análogas a dos testes clínicos de larga escala. Apenas o uso repetitivo de espécies botânicas pode identificar, quais plantas medicinais são mais efetivas e quais são aquelas que apresentam propriedades tóxicas, ao passo que, a mesma planta pode ser frequentemente usada para tratar mais de uma doença, enquanto várias espécies podem ser usadas separadamente, ou em combinação, para tratar as patologias (Silva et al, 2007).

Deste modo, observa-se que várias plantas são utilizadas para tratamento de inúmeras patologias e muitas destas são adquiridas facilmente em mercados e ervanárias, embora seja comum a cultivo das espécies em quintais, principalmente por moradores de pequenas comunidades (Vasconcelos et al., 2011).

A utilização com finalidades medicinais é uma das vertentes estudadas pela Etnobotânica, que segundo Silva et al. (2007), é a ciência que colabora com a valorização, os conhecimentos e as medicinas tradicionais das comunidades; a preservação da flora utilizando o conhecimento adquirido pela sua investigação científica; a ampliação do conhecimento sobre as propriedades úteis de espécies vegetais; subsídios para estudos étnicos, antropológicos, botânicos e ecológicos sobre os povos envolvidos na pesquisa; subsídios ao Poder Público no desenvolvimento de projetos socioeconômicos, bem como ambientais.

A facilidade de acesso a medicamentos industrializados tem contribuído em muitos casos, para o abandono de práticas terapêuticas tradicionalmente utilizadas. Deste modo, o conhecimento associado ao uso de espécies da flora pode estar em direção ao desuso e consequente esquecimento. Assim, faz-se necessário investigar a existência do uso de espécies de plantas com finalidades medicinais como forma de conservar, valorizar e/ou resgatar estes saberes.

Nos últimos anos, vários trabalhos etnobotânicos vêm sendo desenvolvidos sobre o aproveitamento dos recursos biológicos pelos povos de diferentes regiões e etnias, em especial enfocando o aspecto medicinal (Almeida; Albuquerque, 2002).

No Brasil, os estudos Etnobotânicos foram e estão cada dia sendo mais desenvolvidos por diversos autores e sobre variados enfoques (Rossato et al. 1999; Amorozo, 2002; Begossi et al. 2002; Moreira et al. 2002; Fonseca-Kruel; Peixoto, 2004; Roman; Santos, 2006; Hanazaki et al. 2007; Coelho-Ferreira, 2009; Merétika et al., 2010; etc.). Os estudos se concentram principalmente nas regiões Sudeste e Nordeste (meireles, 2012). Podem-se destacar nesta última região os trabalhos realizados no Piauí, que embora ainda incipientes, tem crescido em números e modos de abordagens. Ressalta-se os estudos de Franco e Barros (2006), Santos et al. (2007), Vieira et al. (2008), Chaves e Barros (2008), Oliveira et al. (2010), Amorim (2010), Sousa (2010), Meireles (2012) e Araújo (2013).

 Percebe-se que os grupos humanos mais afastados da área urbana, como os pequenos povoados rurais, tendem a possuir um histórico de utilização de sua flora.  Neste contexto está inserida o povoado Recanto do Prato, objeto de estudo do presente trabalho, diante disso e conhecendo a importância da relação dos homens com as plantas, já descrita por vários autores (Almeida; Albuquerque, 2002; Silva et al, 2007; Oliveira et al., 2010, dentre outros), e diante da carência de estudos desenvolvidos sobre o tema na região, bem como ciente do potencial existente em  espécies cultivadas em quintais é que se observa a necessidade de se responder se há neste povoado a manutenção do conhecimento e uso de medicamentos caseiros oriundos de espécies cultivadas, seus modos de uso e preparo, visando deste modo promover o registro e a consequente manutenção deste conhecimento, ameaçado pelo desuso diante da crescente demanda por medicamentos industrializados.

Assim, tomou-se como objetivo investigar as plantas medicinais cultivadas e utilizadas na comunidade Recanto do prato, município de Inhuma/PI.  

2. Materiais e métodos

Este estudo foi realizado no povoado Recanto do Prato, situado na zona rural do município de Inhuma- PI, a aproximadamente 23 km do centro da referida cidade, e que possui uma população de 14. 845 habitantes (IBGE, 2010).  Caracteriza-se por ser uma comunidade rural constituída de cerca de 45 [4] famílias residentes no próprio povoado que são atendidas no PSF do povoado. A principal atividade econômica local é a agricultura.

Para isso, buscou-se inicialmente uma aproximação com a comunidade, adotando a técnica da observação participante sugerida por Amorozo (1996).

Foram realizadas entrevistas com o auxílio de questionários, baseados em protocolos contendo questões semiestruturados (Bernard, 1988) aos moradores da localidade a fim de que fosse feita a coleta de informação sobre aspectos socioeconômicos e de conhecimento local para que fosse feita uma associação entre a influência da situação socioeconômica e o uso das espécies vegetais. Para isso os moradores assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido, em que os assegurava do anonimato, da privacidade e do direito de desistir em qualquer etapa da pesquisa.

O tamanho da amostra foi de 45 residências (100%), sendo um morador por casa. Deste modo, o critério de seleção para participação na mesma foi: morador que possua notório conhecimento sobre a flora local.

A divisão dos grupos por faixa etária seguiu a delimitação adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), a saber: jovens (entre 18 e 24 anos), adultos (entre 25 e 59 anos) e idosos (a partir dos 60 anos).

As espécies citadas pelos moradores foram identificadas no local e/ou feito registro fotográfico para identificação com auxílio de bibliografia especializada e/ou para envio a especialistas.

Os sistemas de classificação adotados foram: Dahlgren e Clifford (1982) para as monocotiledôneas, Cronquist (1981) para as dicotiledôneas, com exceção para a família Leguminoseae, que seguiu Judd et al. (1999). As correções dos nomes dos taxa e abreviaturas dos nomes dos autores foram realizadas com o auxílio da base de dados do Missouri Botanical Garden (MOBOT, 2011).

Foi elaborada uma lista das espécies medicinais utilizadas na comunidade agrupando-as segundo os sistemas corporais da OMS.

3. Resultados e discussões

Para melhor compreendermos o emprego de plantas medicinais no povoado, procurou-se traçar o perfil socioeconômico da mesma, buscando o entendimento do contexto em que estes conhecimentos estão inseridos.

Os participantes desta pesquisa residem na localidade com tempo variando entre 1 e 70 anos, sendo que os mais antigos moradores a partir de 33 anos eram integrantes de pequenas localidades vizinhas e por questões burocráticas foram incluídas no cadastro do PSF como pertencentes à comunidade estudada apesar de esta possuir de fato 32 anos, contudo os pesquisados somam uma média de 28,26 anos de habitação na localidade. Aspectos referentes ao estado civil, escolaridade e naturalidade estão expostos na Figura 1.

Figura 1- Estado civil (A), escolaridade (B) e naturalidade (C; D)
dos moradores do Povoado Recanto do Prato, Inhuma/PI, Brasil.

A maioria dos participantes da pesquisa é casada (75,55%), portadores de ensino fundamental incompleto (77,8%) e quatro entrevistados não são alfabetizados (6,7%). Aproximadamente 64,44% são naturais das localidades próximas e os demais são naturais do povoado pesquisado (Figura 2C e D). Corroborando com Chaves e Barros (2012), em trabalho realizado na Área de Proteção Ambiental da Serra da Ibiapaba no município de Cocal/PI, com 70% dos entrevistados possuindo ensino fundamental incompleto, enquanto 10% sabem ler e 20% são analfabetos, e em contraposição a Oliveira et al. (2010) na mesma pesquisa relata que 55% não são alfabetizados e 40% possuem Ensino Fundamental.

Das 45 entrevistas aplicadas, cerca 44 (97,8%) foram feitas com mulheres. Estas têm como único ofício cuidar dos filhos e de suas casas, e poucos representante masculino (2,22%) que tem a agricultura como principal fonte de renda e subsistência, possuindo plantações de milho, feijão, mandioca, caju, além da criação de animais para o consumo próprio. Da mesma maneira que Oliveira et. al (2010) relata em sua pesquisa na comunidade urbana de Muribeca/PE, que as mulheres donas de casas demonstram forte interesse e conhecimento sobre as plantas medicinais, e por ficarem mais tempo em casa responsabilizando-se nos cuidados com a saúde de filhos e netos. Assim como ressalta Oliveira et al. (2010) em outro trabalho realizado em comunidades rurais de Oeiras onde as atividades desenvolvidas pelas famílias centram-se na agricultura de subsistência, onde o milho, o feijão, a mandioca, na criação de pequenos animais para autoconsumo.

É necessário ressaltar que todos os moradores contam também com o auxílio de benefícios do governo, 75,6% recebem Bolsa família, neste caso as mulheres com idade entre 17 e 54 anos e casadas já que à partir de 55 são beneficiados com aposentadoria por idade, representando deste modo os 24,4% de pesquisados aposentados.

No que tange os tipos de moradia, todas são de tijolo e reboco, com cobertura de telhas e geralmente grandes, porém 26% ainda não possuem fossas sépticas, reforçando assim o exposto por Chaves e Barros (2012), em trabalho realizado na Área de Proteção Ambiental da Serra da Ibiapaba no município de Cocal/PI em que todos os pesquisados habitavam em casas cobertas com telhas, das quais 94% são construídas de tijolos com reboco, com 48% dos pesquisados possuindo fossas sépticas, 28% não possuem qualquer saneamento, liberando os dejetos a céu aberto.

 O grupo dos adultos teve um maior número de citações de uso (30), seguido dos idosos, com (9) e jovens com (6) citações. Dados semelhantes foram encontrados por Meireles (2012) em pesquisa realizada no Delta do Parnaíba/Araioses/MA. Foram encontradas 43 espécies, distribuídas em 25 famílias botânicas, sendo a Lamiaceae e Asteraceae as mais representativa em número de espécies, seguidas por Apiaceae e Rutaceae (Figura 2). As espécies Lippia alba (Mill.) N.E. Br e Chenopodium ambrosioides L foram as mais citadas (Figura 3).

Figura 2- Famílias botânicas com maior representatividade em número de espécies citadas
pelos moradores do povoado Recanto do Prato, Inhuma/PI, Brasil.

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Figura 3- Espécies botânicas mais citadas pelos moradores
do povoado Recanto do Prato, Inhuma/PI, Brasil.

Todos os participantes ao serem questionados se utilizavam ou não plantas para fins medicinais responderam que sim, embora sejam associados a outros produtos inclusive fármacos. Relatam também que quando o acesso aos medicamentos eram ainda mais difíceis os cuidados com a saúde eram realizados exclusivamente em casa com medicamentos à base de plantas produzidos pelas mulheres, dados semelhantes que comprovam o descrito por Monteles e Pinheiro (2007) no trabalho realizado em quilombo maranhense.

Os moradores descreveram diversos usos para as plantas medicinais, que foram distribuídas em categorias com base na Organização Mundial de Saúde (OMS) e diante disso, os sistemas corporais com maior número de citações e espécies foram a de "sintomas e sinais gerais" com 27 espécies citadas, seguida de "doenças do aparelho digestivo" com 23 espécies, "doenças do aparelho geniturinário" e para o "tratamento de doenças do aparelho respiratório" com 13 e 12 espécies respectivamente. Corroborando com estes resultados está o trabalho de Aguiar e Barros (2012) no município de Demerval Lobão que também descreve semelhante situação, os dados colhidos foram agrupadas em 13 categorias e entre essas estão: transtornos do sistema respiratório; transtornos do sistema digestivo; transtornos do sistema geniturinário; inflamações e dores em geral entre outras.      

No que se refere as partes das plantas que os entrevistados mais utilizam (Figura 4), nota-se uma maior relevância das folhas, citada como principal parte utilizada por 58,30% destes, seguidos de semente com 15,30% citações de uso e fruto com 10,60%. As demais citações (23,8%) se dividem entre o uso da raiz, casca do fruto, broto de folhas, casca, planta completa e caule. Os resultados se assemelham aos encontrados por Franco e Barros (2006), em que destacaram as folhas com 43,5%, cascas com 19,5% e sementes com 8%.

Muitos moradores cultivam os seus trabalhos em quintais e estes são as fontes mais próximas para a obtenção de plantas medicinais durante todo o ano. Nestes locais, a folha representa a parte mais utilizada por ser de fácil coleta e preparo, e isso se deve ao fato destas plantas não estarem dependentes das chuvas e sim de cuidados humanos. Oliveira, Barros e Moita Neto (2010) em trabalho realizado em comunidades rurais de Oeiras também descrevem as folhas como parte principal, porém discordam do presente trabalho ao destacarem a sua indisponibilidade durante todo ano devido a característica caducifolia das plantas analisadas. A diferença por sua vez está no local em que os entrevistados adquiriram as plantas, já que os autores mencionados não consideraram apenas aquelas sujeitas aos cuidados de um plantio feito em quintal, mas também as obtidas em matas próximas, onde tais plantas estariam sujeitas as condiçoes naturais.

Figura 4-Partes da planta mais utilizadas pelos moradores do povoado Recanto do Prato, Inhuma/PI, Brasil.

Quando se trata do modo como essas pessoas fazem uso das plantas como medicamento nota-se que a população faz uso na grande maioria oral (96,9%), seguidos de uso tópico (2,76%), e também há aquelas que se utilizam delas na forma de inalação (0,32%) (Figura 5).

Figura 5- Modos de uso das plantas citados pelos moradores
do Povoado Recanto do Prato, Inhuma/PI, Brasil.

A predominância do uso oral deve-se ao fato de que, embora produzidos a partir de diferentes partes das plantas, na maioria dos tratamentos são manipulados em forma de chás e/ou garrafadas. Assim, essa forma de uso acaba se sobressaindo sobre as demais. Em suma, um relevante número de pesquisados optam pelo chá como modo de preparo comprovando o uso da via mais comum: oral, se sobressaindo o chá de decocção com (66,55%), seguida das garrafadas (15,82%) e alguns relatos de banhos. Em conformidade, se apresenta os índices encontrados por Oliveira et al. (2010), as formas de preparo mais utilizadas foram a decocção (32,2% dos casos), infusão (23,8%), garrafada (9,9%), suco (7,5%), lambedor (6,5%) e uso tópico (4,9%), (Figura 6).

Figura 6- Formas como as plantas medicinais são preparadas para medicação
pelos moradores do Povoado Recanto do Prato, Inhuma/PI, Brasil.

No que tange as forma de tratamento, o maior número de entrevistados aponta os fitoterápico apenas como complementar (90,72%) aos meios de tratamento convencionais, relacionam o fato ao grande número de doenças que possuem, contudo, afirmam confiar na medicina popular.  Um pequeno número de pessoas que afirmam usar os fitoterápicos como tratamento principal (9,28%).

 Monteles e Pinheiro (2007) no trabalho realizado em quilombo maranhense também relata fato parecido, embora as pessoas utilizem os fármacos industrializados com maior frequência para o tratamento dos problemas que os atinge, confirmam confiar consistentemente nas plantas e nas práticas tradicionais de tratamento utilizadas.

Os entrevistados quando interrogados sobre com quem aprenderam a usar plantas como medicamentos, um número relevante afirmaram ser com os pais, seguidos pela categoria dos mais velhos, alguns dos entrevistados relataram ter aprendido com os avós, mais velhos e entre outros meios (Figura 7):

Figura 7 - Forma de aquisição de conhecimentos sobre o uso de plantas medicinais
pelos moradores do povoado Recanto do Prato, Inhuma/PI, Brasil.

É notório que os conhecimentos adquiridos são repassados via oral de geração em geração assim como mostra Silva (2010) que confirma o repasse de informações de forma casual e não planejada. Corroborando com este trabalho está o de Silva et. al.  (2005), população rural da Lagoa dos Martins-município de Piumhi-MG que também menciona o repasse de informação verbalmente.

Quanto ao local de aquisição uma grande porcentagem relata que os quintais (87,63%) é o principal local onde se encontra suas plantas, muitos também recorrem aos parentes e vizinhos, e outros adiquirem as plantas na feira (12.37%).

Corroborando com Silva (2010) observou-se que as espécies medicinas são encontradas em quintais, locais de predominância quando se trata da aquisição de plantas medicinais, e é também de acordo Silva (2006) que relata em trabalhos realizados em Matuípe BA, ser comum o cultivo de plantas medicinais nos quintais das residências. Aguiar e Barros (2012) também compartilham o supracitado.

O quintal é um ambiente de grande representatividade na vida de moradores de comunidades rurais, segundo Oliveira et al. (2010) as espécies cultivadas empregadas na medicina são encontradas principalmente nos quintais, nas proximidades das residências e nos locais de cultivo, assim também relata Salgado e Guido (2006) que os quintais são ambientes femininos e que a ela estão atribuídos os cuidados com a horta e criações.

 Os pesquisados quando questionados de como os mesmos fazem o uso do quintal (Figura 8), o descreveram como local de criações de animais e plantações que fica mais próximo da casa e estas plantações não se restringia apenas a plantas medicinais, mas a hortas e também ornamentais, detalhe bastante comum no povoado.

Figura 8- Modo como os quintais são utilizados pelos moradores do Povoado Recanto do Prato, Inhuma/PI, Brasil.

As casas possuem um grande área no seu entorno destinadas a essas plantações geralmente nos fundos é área destinada ao cultivo de hortas e plantas medicinais e a frente para plantas ornamentais, embora na maioria das casas tenha observado o fato de estarem juntas as plantas ornamentais e medicinais, porém em poucas foi observado a união de plantas, seja elas hortaliças, ornamentais ou medicinais com os animais criados nestes quintais para consumo, geralmente são separados por telas ou cercas.        

4. Conclusões

O povoado Recanto do Prato – Inhuma/PI há a presença de um valioso conhecimento relacionado ao uso de plantas medicinais, citando variados tratamentos como por exemplo: inflamação, gripe, catapora, indigestão, câncer, entre outros, sendo cultivadas principalmente nos quintais o que facilita o acesso. O chá por decocção é a forma mais utilizada o que está relacionado a parte da planta mais coletada que é a folha.

Considerando as categorias de doenças estabelecidas pela OMS, as que detiveram maior número de espécies agrupadas foram a de "sintomas e sinais gerais".

A população pesquisada é relativamente pequena cultivando alguns costumes antigos entre eles o uso de plantas para cura de seus males, tornando-se a porta mais acessível para tratamento das enfermidades devido à dificuldade de acesso aos fármacos. Deste modo, compreende-se que conhecer o uso local de espécies bem como o conhecimento que cerca historicamente esse uso, é de suma importância para preservação da cultura local e diversidade da flora.

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1. Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí. Campus CSHNB. E: mail: kelyanypereira@hotmail.com.
2. Biólogo. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, UFPI. Professora da UFPI – PROCAMPO/LEDOC. E-mail: biologomeireles@yahoo.com.br

3. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, UFPI. Professor do Departamento de Biologia da UFPI. E:mail: melisepessoa@yahoo.com.br

4. Informações cedidas pelo Programa de Saúde da Família (PSF) do Povoado Recanto do Prato.


Vol. 37 (Nº 05) Año 2016

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