Espacios. Vol. 37 (Nº 02) Año 2016. Pág. 10
Valéria Siqueira de Carvalho BESARRIA 1; Cássio da Nóbrega BESARRIA 2; George Robson IBIAPINA 3; Danielle Kelle Lopes de ARAÚJO 1; Alysson Costa da NÓBREGA 1; Waléria Viana IBIAPIA 4
Recibido: 08/09/15 • Aprobado: 23/09/2015
RESUMO: Baseado no artigo desenvolvido por Cutler e Muney (2006) cujo objetivo é entender as possíveis relações causais entre educação e saúde, este trabalho busca estudar a relação entre a escolaridade e a saúde da população brasileira. Foi possível concluir que pessoas com maior escolaridade possuem menor probabilidade de possuir doenças de coluna, artrite, bronquite, cirrose, depressão, insuficiência renal, tuberculose e doenças crônicas mais comuns (cardiopatia, hipertensão e diabetes). As únicas exceções são câncer e tendinite. Por fim, pessoas com maior escolaridade informaram que passaram menos tempo acamados ou deixaram de realizar atividades habituais por motivo de saúde. |
ABSTRACT: Based on article developed by Cutler and Muney (2006) whose goal is to understand the possible causal relationship between education and health, this paper aims to study the relationship between education and health of the population. It was concluded that people with more education are less likely to own column disease, arthritis, bronchitis, cirrhosis, depression, kidney failure, and tuberculosis most common chronic diseases (heart disease, hypertension and diabetes). The only exceptions are cancer and tendonitis. Finally, people with higher education said they spent less time bedridden or failed to perform usual activities for health reasons. |
O artigo seminal desenvolvido por Schultz's (1961) procurou mostrar os efeitos dos investimentos em capital humano como fator de grande importância no crescimento econômico dos países. Rosen (1987) define capital humano como a capacidade produtiva dos seres humanos em gerar renda na economia por meio de conhecimento produtivo e habilidades. Esse autor também mostra que o conceito de capital humano pode ser ampliado para incluir capacidades físicas que dependem da saúde e nutrição dos seres humanos. Mais saudáveis e com melhores condições nutritivas é provável que as pessoas sejam mais produtivas e que possam prover mais trabalho.
Atualmente, a literatura econômica compara este conhecimento produtivo e habilidades por meio da educação. A educação pode afetar a saúde de uma pessoa de vários modos. Primeiramente, anos adicionais de escolaridade pode melhorar a eficiência alocativa das pessoas em saúde, ajudando a entender o efeito de certos procedimentos que estão sendo usados para melhorar a saúde (Grossman, 1975; Kenkel, 1991). Educação também pode melhorar a habilidade de uma pessoa para processar informações sobre saúde e aplicar estas lições (Grossman, 1975); por exemplo, é possível aprender os efeitos benéficos da prática de exercícios físicos e os efeitos prejudiciais de se fumar para saúde.
A motivação para tratar deste assunto tem pelo menos duas fontes. Primeira, dar uma contribuição a literatura existente que, como destacado por Cutler e Muney (2006), grande parte dos trabalhos sobre a relação entre saúde e educação não tem sido conclusivos. A explicação para esse fato é que nem todas as teorias relevantes foram testadas e, quando foram, apresentaram conflitos. E isso se dá, em certa medida, em conseqüência das limitações dos dados. Em segundo, procuramos identificar os efeitos marginais dos anos de escolaridade na presença de doenças da coluna, artrite ou reumatismo, câncer, diabetes, bronquite ou asma, hipertensão, cardiopatia, nefropatia, depressão, tuberculose, tendinite, cirrose. O efeito marginal representa o impacto do aumento unitário de uma variável explicativa sobre uma variável dependente. Por exemplo, representa o impacto de um ano adicional estudado sobre a probabilidade de se possuir determinada doença.
Há uma série de estudos que encontrou, em muitos países e em distintos períodos de tempo, uma forte correlação entre anos de escolaridade formal concluída e medidas de boa saúde. Em 1972, Grossman publicou o artigo, On the Concept of Health Capital and the Demand for Health, no qual procurou construir um modelo de demanda para a mercadoria "boa saúde". Essa formalização representou um marco no estudo da relação entre níveis de escolaridade e medidas de boa saúde, pois foi a primeira vez que se estabelecera a relação entre esses termos com base em um desenvolvimento teórico sólido.
A proposição central desse modelo é que saúde pode ser vista como um estoque de capital durável que gera produtos ou bens ao longo do tempo. Supõe-se que os indivíduos herdam um estoque de capital inicial de saúde que deprecia com a idade e pode ser aumentada pelo investimento em educação. Um dos resultados do modelo é que níveis de escolaridade maiores aumenta a eficiência dos investimentos realizados em saúde e, com isso, pessoas com níveis de escolaridade maiores exigiriam maior estoque ótimo de saúde.
Esse resultado, evidenciado por Grossman (1972), recebeu apoio empírico de Grossman (1976) e Berger e Leigh (1989), dentre outros. No entanto, Farrell e Fuchs (1982) e Fuchs (1982) mostraram que pessoas com diferentes níveis de escolaridade, provavelmente, diferem em aspectos não observáveis, tais como, taxas de preferência temporal. Sendo assim, ao invés de uma boa saúde ser causada por escolaridade, outros fatores inobserváveis podem causar as medidas de boa saúde tanto quanto níveis de escolaridade.
Entre as várias explicações, Cutler e Muney (2006), apresentaram três possíveis razões para a ligação entre saúde e a educação. Uma possibilidade é que problemas de saúde levam a baixos níveis de escolaridade. Outra possibilidade é que o aumento do nível de educação melhora a saúde. E, por último, pode haver fatores terceiros (antecedentes familiares) que aumenta a escolaridade e a saúde.
De acordo com Feinstein et al (2006), os principais efeitos educativos sobre a saúde são, redução da mortalidade, saúde física, saúde mental e bem-estar, auto-percepção de saúde, e transmissão intergeracional da educação em saúde.
É possível citar uma série de estudos que destacam esta relação. Um desses é o proposto por Kitagawa e Hauser (1968), onde esses encontraram uma correlação negativa entre mortalidade e nível de escolaridade na população branca dos USA em 1960, com redução consistente na mortalidade ao aumentar os anos de escolaridade. Também foi possível identificar que determinadas causas de morte apresentaram relação inversa com a educação. A mais importante exceção encontrada foi a relação positiva entre morte por câncer de próstata para homens e câncer de mamas para mulheres.
Esses também obtiveram medidas de "excesso de morte" por causas específicas, onde essa medida representa a proporção de mortes que poderiam ter sido evitados se a mortalidade dos grupos com menor escolaridade tivesse sido igual ao das pessoas com maior nível de escolaridade. "O excesso de mortalidade" entre os homens ultrapassou os 40 por cento das mortes causadas por acidentes, câncer de estômago e tuberculose. "Excesso de mortalidade" entre as mulheres ultrapassou 40% das mortes por câncer de estômago, diabetes mellitus, hipertensão e arteriosclorose e doenças degenerativas do coração.
Cutler e Muney (2006) procuraram mostrar os principais canais de transmissão dos efeitos dos anos de escolaridade para a saúde e concluíram que esses são: renda e acesso aos cuidados de saúde, mercado de trabalho, valor futuro, informações e habilidades cognitivas, preferências, rank e, por fim, as redes sociais.
Para Cutler e Muney (2006) as explicações econômicas (educação está relacionada com a renda ou escolha ocupacional) explicam apenas uma parte do efeito da educação na saúde. Quanto à relação entre educação e os diversos fatores que influenciam na saúde (etilismo, tabagismo, dieta, exercício físico, uso de drogas ilícitas, segurança da família, tratamento de hipertensão e diabetes) esses mostraram que quem tem maior escolaridade apresenta hábitos comportamentos mais saudáveis. E que o valor monetário do retorno à educação em termos de saúde é talvez a metade do retorno da educação no salário, assim, políticas que afetam o nível de escolaridade podem ter um grande efeito sobre a saúde da população.
Para analisar a correlação básica entre educação e saúde os autores utilizaram seguinte regressão:
Os dados foram extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008, a mais recente PNAD que coletou dados sobre saúde da população brasileira. Foram utilizadas as variáveis de características de saúde dos moradores (presença ou ausência de doenças de coluna, artrite ou reumatismo, câncer, diabetes, bronquite ou asma, hipertensão, cardiopatia, nefropatia, depressão, tuberculose, tendinite, cirrose), acesso aos serviços preventivos de saúde (exames de mamografia e Papanicolau), características de tabagismo e segurança no automóvel.
As variáveis foram geradas da seguinte forma: Raça,a PNAD disponibiliza a variável cor ou raça segmentada em branca, preta, amarela, parda e indígena. Com base nessas informações foi gerada a variável branca e não-branca devido ao pequeno número de informações referente às raças indígena e amarela; Idade, as informações referentes a idade foram distribuídas em 5 classes. É importante salientar que nos concentramos em indivíduos com idades acima de 25 anos, uma vez que, esses, provavelmente, já completaram pelo menos o ensino fundamental. A variável anos de estudo foi distribuída em 4 classes de amplitude 4, onde a primeira classe é composta por pessoas que possuem de zero a quatro anos de estudo.
As estimações foram calculadas através de modelos de regressões logísticas (Logit), referentes às possíveis relações causais entre educação e saúde para pessoas com mais de 25 anos de idade, que neste trabalho são consideradas como pessoas com maior probabilidade de ter terminado pelo menos o ensino fundamental.
A partir da distribuição por gênero é possível destacar que as doenças de coluna e hipertensão predominam no sexo feminino, sendo que 24,2% das mulheres e 18,4% dos homens possuem doenças na coluna, e 27% das mulheres e 20,6% dos homens possuem hipertensão. Quanto à raça, percebe-se que doenças como câncer, depressão e tendinite foram mais evidentes em pessoas de cor branca, enquanto que cirrose e a tuberculose ficaram mais estiveram mais presentes nas pessoas de cor não-branca.
A Tabela 1 reporta a distribuição das pessoas com doença de coluna, artrite, câncer, diabetes, bronquite, cirrose hepática, hipertensão, cardiopatia, insuficiência renal, depressão, tuberculose e tendinite por gênero, raça e anos de estudo.
No geral, foi constatado que pessoas com maior escolaridade são mais saudáveis, pode-se observar a redução de mais da metade nos índices de diabetes, cardiopatia e hipertensão, doenças de grande impacto na qualidade de vida, quando se compara indivíduos com menos de cinco anos de estudo com aqueles que possuem de 15 a 17 anos de estudo. A exceção ocorre na tendinite, a qual aumenta sua incidência de 3,84% para 5,78% quando se relaciona os dois grupos citados acima, respectivamente.
Tabela 1: Distribuição das doenças por gênero, raça e anos de estudo
|
Gênero (%) |
Raça (%) |
Anos de Estudo (%)* |
|||||
|
F |
M |
Branca |
Não-Branca |
A |
B |
C |
D |
Doenças de Coluna |
24,2 |
18,4 |
47.21 |
52.79 |
31,23 |
23,39 |
16,04 |
15,51 |
Artrite/Reumatismo |
12,9 |
5,8 |
46.90 |
53.10 |
17,70 |
10,59 |
5,56 |
4,93 |
Câncer |
1,2 |
1,1 |
63.30 |
36.70 |
1,64 |
1,13 |
0,80 |
1,17 |
Diabetes |
6,8 |
6,2 |
50.46 |
49.54 |
10,89 |
6,87 |
3,74 |
3,73 |
Bronquite/Asma |
4,9 |
4,3 |
51.62 |
48.38 |
5,24 |
4,15 |
3,74 |
4,18 |
Cirrose hepática |
0,1 |
0,2 |
43.25 |
56.75 |
0,36 |
0,22 |
0,09 |
0,12 |
Hipertensão |
27,0 |
20,6 |
47.13 |
52.87 |
38,49 |
26,71 |
15,68 |
15,83 |
Cardiopatia |
7,4 |
6,2 |
50.59 |
49.41 |
12,21 |
7,48 |
4,00 |
3,96 |
Insuficiência Renal |
2,0 |
0,9 |
48.28 |
51.72 |
3,09 |
2,31 |
1,24 |
0,97 |
Depressão |
10,1 |
4,0 |
55.94 |
44.06 |
9,18 |
8,30 |
5,85 |
5,28 |
Tuberculose |
0,2 |
0,2 |
39.58 |
60.42 |
0,26 |
0,21 |
0,13 |
0,11 |
Tendinite |
6,6 |
2,6 |
59.21 |
40.79 |
3,84 |
4,92 |
4,79 |
5,78 |
Fonte: Elaboração Própria. A: zero a quatro anos de estudo,
B: cinco a nove anos de estudo,
C: dez a quatorze anos de estudo e
D: quinze a dezessete anos de estudo.
A Tabela 2 mostra os resultados das estimações dos modelos Logit com controles limitados (anos de estudo) e com controles abrangentes (anos de estudo, gênero, raça, renda e idade).
Tabela 2: Modelo de regressão Logística para controles limitados e abrangentes
|
Controles Limitados |
Controles Abrangentes |
||
Variável dependente |
Anos de Estudo |
SE |
Anos de Estudo |
SE |
Doenças de Coluna |
-0,35 |
0,01 |
-0,17 |
0,01 |
Artrite/Reumatismo |
-0,56 |
0,01 |
-0,21 |
0,01 |
Câncer |
-0,19 |
0,03 |
0,10 |
0,03 |
Diabetes |
-0,47 |
0,01 |
-0,14 |
0,01 |
Bronquite/Asma |
-0,01 |
0,01 |
-0,04 |
0,01 |
Cirrose hepática |
-0,51 |
0,07 |
-0,31 |
0,08 |
Hipertensão |
-0,48 |
0,01 |
-0,14 |
0,01 |
Cardiopatia |
-0,50 |
0,01 |
-0,13 |
0,01 |
Insuficiência Renal |
-0,43 |
0,02 |
-0,27 |
0,02 |
Depressão |
-0,23 |
0,01 |
-0,14 |
0,01 |
Tuberculose |
-0,31 |
0,07 |
-0,14 |
0,07 |
Tendinite |
0,11 |
0,01 |
0,16 |
0,01 |
Esteve acamado |
-0,32 |
0,01 |
-0,21 |
0,01 |
Efeito Saúde |
|
|
|
|
Deixou de realizar atividades habituais, nas duas últimas semanas |
-0,32 |
0,01 |
-0,21 |
0,01 |
Esteve acamado, nas duas últimas semanas |
0,31 |
0,01 |
-0,21 |
0,01 |
Fonte: Elaboração Própria
Através dos dados da Tabela 2 se infere que pessoas com maior escolaridade possuem menor probabilidade de possuir doenças de coluna, artrite, bronquite, cirrose hepática, depressão, insuficiência renal, tuberculose, cardiopatia, hipertensão e diabetes. As únicas exceções são câncer e tendinite. Por fim, pessoas com mais anos de estudo informaram que passaram menos tempo acamados ou não deixaram de realizar atividades habituais por motivo de saúde.
Embora os resultados acima apresentem um indicador de como se dá a relação entre escolaridade e saúde, é provável que outros fatores, tais como: tabagismo, atividade física, uso de cinto de segurança, realizar exames preventivos possa tornar ainda mais robusta essa relação. Uma vez que, é esperado que pessoas com mais escolaridade tenham comportamentos mais saudáveis, como: prática de exercícios físicos, alimentação mais saudável, higiene, dentre outros.
A relação entre anos de estudo e vários fatores que interferem na saúde, como fumar, prática de exercícios físicos, segurança no automóvel e realização de exames preventivos é exposta na Tabela 3.
Tabela 3: Efeito da educação no comportamento de pessoas com mais de 25 anos
|
Controles Limitados |
Controles Abrangentes |
||
Variável dependente |
Anos de Estudo |
SE |
Anos de Estudo |
SE |
Fumante |
||||
Atualmente fuma |
-0,35 |
0,01 |
-0,37 |
0,01 |
No passado fumou |
-0,12* |
0,08 |
-0,07* |
0,09 |
Número de cigarros por dia |
1,29 |
0,06 |
0,97 |
0,07 |
Tentou parar de fumar |
0,01* |
0,03 |
-0,03* |
0,03 |
Acredita que fumar causa doenças graves |
0,20 |
0,07 |
0,01* |
0,08 |
Exercícios |
||||
Praticou algum exercício físico |
0,64 |
0,01 |
0,58 |
0,01 |
Segurança no automóvel |
||||
Sempre usa o cinto de segurança |
0,26 |
0,01 |
0,24 |
0,01 |
Exames preventivos |
||||
Exame Papanicolau |
0,59 |
0,01 |
0,49 |
0,01 |
Exame de mamografia |
0,29 |
0,01 |
0,48 |
0,01 |
Fonte: Elaboração Própria
* Representa coeficientes não significativos a 5%.
Os resultados sugerem que pessoas com mais escolaridade têm comportamentos mais saudáveis. É possível perceber que anos adicionais de estudo reduz a probabilidade de se fumar atualmente e aumenta a probabilidade de praticar exercícios físicos, usar cinto de segurança, realizar exames preventivos de câncer do colo do útero e mamografia.
A Tabela 4 representa o teste de ajuste de Goodness que compara os valores previstos pelo modelo com os valores observados.
Tabela 4: Teste de ajuste de Goodness para os modelos com controles abrangentes
|
Sensibi-lidade |
Especifi-cidade |
Valor preditivo positivo |
Valor preditivo negativo |
Corretamente Classificada |
Doenças de Coluna |
3,19 |
98,69 |
43,75 |
76,11 |
75,54 |
Artrite/Reumatismo |
2,78 |
99,69 |
50,00 |
90,29 |
90,07 |
Câncer |
0,00 |
100,00 |
. |
99,28 |
99,28 |
Diabetes |
0,00 |
100,00 |
. |
96,06 |
96,06 |
Bronquite/Asma |
0,00 |
100,00 |
. |
95,20 |
95,20 |
Cirrose hepática |
0,00 |
100,00 |
. |
99,59 |
99,59 |
Hipertensão |
4,74 |
98,38 |
41,98 |
80,73 |
79,87 |
Cardiopatia |
0,00 |
100,00 |
. |
95,20 |
95,20 |
Insuficiência Renal |
0,00 |
100,00 |
. |
97,55 |
97,55 |
Depressão |
0,00 |
100,00 |
. |
91,62 |
91,62 |
Tuberculose |
0,00 |
100,00 |
. |
99,72 |
99,72 |
Tendinite |
0,00 |
100,00 |
. |
95,62 |
95,62 |
Fonte: Elaboração Própria
*Valores em porcentagem
É possível observar na Tabela 4 que a porcentagem de valores corretamente especificados é 75,54% no caso do modelo que analisa doença na coluna, 99,28% no caso do câncer e assim sucessivamente. Destarte, conclui-se que as estimações apresentam bom grau de ajustamento dos modelos.
A Tabela 5 demonstra o impacto de cada ano adicional de escolaridade na probabilidade de se possuir as doenças tratadas nesta pesquisa.
Tabela 5: Redução do risco de ter determinada doença em indivíduos com dez ou mais anos de estudo (%)
Doença de Coluna |
34,39 |
Artrite/Reumatismo |
13,00 |
Câncer |
48,00 |
Diabetes |
93,31 |
Bronquite/Asma |
31,29 |
Cirrose |
1,00 |
Hipertensão |
142,00 |
Coração |
95,13 |
Insuficiência Renal |
7,00 |
Depressão |
93,00 |
Tuberculose |
554,00 |
Tendinite |
- |
Fonte: Elaboração Própria
A partir da Tabela 5 é possível observar que pelo menos dez anos adicionais de estudo reduzem em 34,39% o risco de possuir doença de coluna; também reduz o risco de doenças do coração em 95,13% e de hipertensão em 142%. É importante destacar os efeitos da escolaridade na Tuberculose que reduz em 554% a probabilidade de se contrair essa doença.
Pode-se observar a redução de mais da metade nos índices de diabetes, doenças do coração e hipertensão, doenças de grande impacto na qualidade de vida, quando se compara indivíduos com menos de cinco aos de estudo com aqueles que possuem de 15 a 17 anos de estudo. A exceção ocorre na tendinite, a qual aumenta sua incidência de 3,84% para 5,78% quando se relaciona os dois grupos citados acima, respectivamente.
Assim como, encontrou-se que pessoas com maior escolaridade possuem menor probabilidade de possuir doenças de coluna, artrite, bronquite, cirrose, depressão, insuficiência renal, tuberculose e doenças crônicas mais comuns (coração, hipertensão e diabetes). As únicas exceções são câncer e tendinite. Por fim, pessoas com mais anos de estudo informaram que passaram menos tempo acamados ou não deixaram de realizar atividades habituais por motivo de saúde.
Quanto à relação entre anos de estudo e os vários fatores de risco à saúde, os resultados sugeriram que pessoas com mais escolaridade têm comportamentos mais saudáveis. Foi possível perceber que anos adicionais de estudo reduz a probabilidade de se fumar atualmente e aumenta a probabilidade de praticar exercícios físicos, usar cinto de segurança, realizar exames preventivos de câncer do colo do útero e mamografia.
Este artigo teve o propósito de dar uma contribuição à literatura existente, que, como destacado por Cutler e Muney (2006), grande parte dos trabalhos sobre os mecanismos subjacentes à relação entre saúde e educação não tem sido conclusivos; assim como identificar os efeitos marginais dos anos de escolaridade na presença de doenças.
Arkes, J. Does Schooling Improve Adult Health? RAND Health (2003).
Arendt, JN. Does Education cause a better health? A panel data analysis using school reforms for identification (2004).
Cutler, DM; Lleras-Muney, A. Education and Health: Evaluating Theories and Evidence. NBER Working Paper 12352, Cambridge, MA (2006).
Feinstein, L et al. What are the effects of education on health? (2006).
Grossman, M. On the Concept of Health Capital and the Demand for Health (1972).
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Kitagawa, EM; Hauser, Philip M. Educational Differentials in Mortality by Cause of Death: United States (1968).
Meara, E. Why is health related to socioeconomic status? NBER Working Paper No. 8231 (2001).
Shin-Yi C; Jin-Tan L; Grossman, M ; Joyce, T. Parental Education and child health: Evidence from a natural experiment in Taiwan (2010).
1. Médico(a) Residente de Clínica Médica da FAMENE (Faculdade de Medicina Nova Esperança)
2. Professor de Economia da UFPB (Universidade Federal da Paraíba); Doutor em Economia pelo PIMES/UFPE (Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Pernambuco). EMail: cassiodanobrega@yahoo.com.br
3. Coordenador da Residência de Clínica Médica da FAMENE
4. Estudante de Graduação em Medicina da FAMENE.