Espacios. Vol. 36 (Nº 24) Año 2015. Pág. 25

Impactos pessoais e profissionais causados pelo trabalho em regime de escala de uma equipe de enfermagem

Personal and professional impacts caused by work-scale regime of a nursing team

Patricia Barbosa TOBIAS 1; Luiz Teruo KAWAMOTO JÚNIOR 2

Recibido: 25/08/15 • Aprobado: 15/10/2015


Contenido

1. Introdução

2. Objetivo

3. Método

4. Revisão bibliográfica

5. Resultados

6. Discussões

7. Conclusão

8. Agradecimentos

Referências bibliográficas


RESUMO:

Para se conseguir produtividade ou atender as necessidades dos clientes, muitas vezes é necessário o trabalho em jornadas para que a empresa funcione 24 horas seguidas. E esses turnos de trabalho podem impactar a vida pessoal e/ou profissional dos funcionários. O objetivo dessa pesquisa foi detectar esses impactos. Foram feitas pesquisas bibliográfica e entrevistas exploratórias para elaboração de questionário e posterior entrega aos funcionários do hospital. Os resultados mostraram que os maiores problemas foram à falta de tempo para atividades pessoais entre os trabalhadores de jornadas de seis dias na semana. Também nesses quesitos, houve variâncias desiguais nas respostas mostrando que também existem trabalhadores que veem vantagens nesse tipo de jornada.
Palavras chave: trabalho, impactos profissionais, impactos pessoais, trabalho noturno, trabalho em jornada.

ABSTRACT:

The shift work assuring the continuous operation of the company for 24 hours is often necessary to achieve productivity or meet the needs of clients, and those shifts can affect the personal and/or professional life of the employees. The goal of this study was to detect those impacts. Literature review and exploratory interviews were conduct for the preparation of a questionnaire and subsequent delivery to all employees of a hospital. The results showed that the major problem was the lack of time for personal activities among workers of six-day shift work schedules per week. Still considering that query, there were unequal variances in the answers showing that there are also workers who find that kind of shift work schedule advantageous.
Keywords: work, professional impacts, personal impacts, night work, shift work.

1. Introdução

Em muitas empresas é necessário o trabalho em turnos para se obter produtividades dos equipamentos ou para garantir atendimento integral aos clientes.

Porém para o trabalhador, essa forma de trabalho pode acarretar problemas pessoais e também profissionais e alterar sua qualidade de vida. Embora o trabalho em turnos seja visto por muitos como solução natural para o problema de manutenção de atividades durante 24 horas, essa organização do trabalho, levando em conta, basicamente, razões técnicas e econômicas, conflita-se com os ritmos biológicos, familiares e com aqueles da comunidade, originando prejuízos para a saúde e a vida social dos trabalhadores.

De acordo com Andrzejczak, Kapala-Kempa e Zawilska (2011), um acúmulo de evidências experimental e epidemiológico indica que distúrbios no ritmo biológico podem levar a alterações desfavoráveis ​​em função do corpo, exercendo assim o impacto negativo de saúde.

Em relação aos problemas pessoais, o trabalho por turnos pode causar negligência na vida pessoal.

2. Objetivo

O objetivo desta pesquisa é detectar, se entre profissionais da área de enfermagem com trabalho em regime de escala, existem impactos pessoais e profissionais diferentes de equipes de enfermagem que trabalham em horário comercial.

3. Método

Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), sob número 863.551. O hospital Luzia de Pinho Melo, também forneceu autorização por escrito para a realização da pesquisa.

Segundo a SPDM (2014), o Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo oferece atendimento para casos de média e alta complexidade, conta com leitos clínicos, cirúrgicos, pediátricos, psiquiatria, centro cirúrgico, serviço de oncologia e quimioterapia, pronto-socorro e ambulatório de especialidades, de pequena e média complexidade, com internação e alta hospitalar no mesmo dia do procedimento.

Referência em Neurocirurgia, Cirurgia Vascular, Ortopedia e Oncologia, o Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo conquistou em 2010 a certificação Nível Três (Acreditado com Excelência). O atendimento é realizado por uma equipe multiprofissional, que atua com o objetivo de proporcionar serviços com humanização. O atendimento é gratuito, 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A presente pesquisa é descritiva com enquadre teórico-prático. Foi realizada em três fases: Fase Bibliográfica, Fase Exploratória e Pesquisa Quantitativa.

Na fase bibliográfica foram utilizados os seguintes materiais: Livros de Referência Científica, Publicações Periódicas, Revistas Científicas on-line, Internet e Artigos Científicos.

Na pesquisa exploratória foram feitas entrevistas com trabalhadores da equipe de enfermagem da rede Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina – SPDM – do Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Mello (2014), que trabalham em diferentes horários, para melhor elaboração do questionário.

Cada entrevistado foi informado sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), mostrando os motivos da pesquisa, a qual foi anônima, feita em papel, guardada em urna até a sua análise, os dados foram avaliados estatisticamente, e os entrevistados terão direito aos resultados da pesquisa.

Em seguida foi feita a pesquisa quantitativa, foi passado o questionário, entre auxiliares, técnicos e enfermeiros padrões, maiores de 18 anos, de ambos os sexos, que trabalham nos três regimes de jornada de trabalho existentes no hospital, (6x1, 12x36 e comercial).

Segundo Silvestre (2010), o revezamento, refere-se ao dia de descanso e não ao turno de trabalho, como no caso dos turnos ininterruptos de revezamento. Assim, temos jornadas de trabalho em que o trabalhador reveza o descanso semanal. Essas jornadas são conhecidas por 5x1, trabalham-se cinco dias diretos e folga-se 1 dia, 6x1, trabalham-se seis dias diretos e folga-se 1 dia, 6x2, trabalham-se seis dias diretos e folga-se dois dias e 12x36, trabalham-se doze horas diretas e folgam-se trinta e seis horas ou mesmo 4x2, trabalham-se quatro dias diretos e folga-se dois dias e 5x2 (comercial), trabalham-se cinco dias diretos e folga-se dois dias, de modo a atender às peculiaridades de determinados serviços, observando, no entanto, o limite de 12 horas diárias.

Em seguida, foram feitas análises estatísticas para se detectar se existem impactos pessoais e profissionais diferentes de equipes de enfermagem que trabalham em horário comercial.

Por fim, foram escritas as discussões e a conclusão.

4. Revisão bibliográfica

De acordo com Silvestre (2010), a definição de turno ininterrupto de revezamento caracteriza-se quando o empregado trabalhar em revezamento semanal, em turnos de trabalho revezados, sem interrupção, ou seja, faz jus a jornada especial quem trabalha, por vezes, pela manhã, depois à tarde e, finalmente, à noite, e assim sucessivamente, sem prejuízo do descanso semanal ou do intervalo intra-turno para descanso e refeição, independentemente da atividade da empresa, e de seu funcionamento.

Para Moreira (2014), o trabalho em turnos merece uma atenção especial, pois fatores importantes, como o econômico, operacional, político, social, saúde, segurança e jurídico estão presentes. O método visa atender às necessidades produtivas e comerciais das empresas, aproveitando ao máximo as suas capacidades instaladas. Basicamente os turnos de trabalho estão divididos em quatro tipos: Matutino, Vespertino, Noturno e Administrativo. Para o trabalho ininterrupto durante 24 horas, dois são os tipos básicos de organização dos turnos de trabalho: revezados e fixos.

Para Silvestre (2010), de acordo com a promulgação da Constituição Federal em 1988, estabeleceu-se jornada de 6 horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva (art. 7º, CF). O que caracteriza o regime de turnos contínuos de revezamento previsto no art. 7º, item XIV, é a alteração do horário de trabalho a cada semana.  Caracterizados os turnos ininterruptos de revezamento, a jornada de trabalho não poderá exceder a 6 horas diárias, salvo negociação coletiva em contrário ou pagamento de horas extras. Alternativamente, poder-se-á firmar acordo coletivo fixando a jornada em 8 horas.

Segundo Salgado Delgado, Fuentes Pardo e Escobar Briones (2009), o estilo de vida do homem moderno propicia situações favoráveis ​​que levam à alteração dos nossos ritmos biológicos que causam uma incompatibilidade temporária, que por sua vez resulta em danos para a saúde, afetando a fisiologia e a forma como organizamos o nosso comportamento. Estas mudanças súbitas no cronograma podem causar uma síndrome conhecida como jet-lag, que consiste em um conflito interno transitório entre o tempo interno e o tempo externo, o que é chamado de dessincronização interna. Jet lag é definido como um conjunto de sintomas causados ​​por um padrão de sono alterado, e de expressão dos ritmos biológicos fora de fase umas com as outras e fora de fase com o ciclo de dia e noite. Esta é a causa do mal-estar, deterioração do desempenho mental e físico, bem como irritabilidade e depressão. Eles também são distúrbios gastrointestinais frequentes, resultantes do consumo de alimentos em um horário incomum.

De acordo com Almondes e Araujo (2009), a incidência de distúrbios de estresse e ansiedade em cidades industriais tem aumentado significativamente, causando impactos negativos na economia e na qualidade de vida, tais como interrupções de trabalho e o risco de suicídio. Isso levou alguns pesquisadores há chamar o século XX de a "Era da Ansiedade".

Segundo Santos, Silva e Brasileiro (2012), o trabalho noturno tem sido apontado como uma contínua e múltipla fonte de problemas de saúde, tais como: distúrbios do ritmo biológico, má postura e sobrecarga musculoesquelético; doenças mentais; e exacerbação de sintomas preexistentes. Alude-se ao trabalho noturno a possibilidade de causar insônia, ansiedade e irritabilidade, mudanças no estado emocional, distúrbios gastrointestinais, constipação e problemas cardíacos.

Pires (2009), conta que, estudos têm mostrado que a frequência ou agravamento de distúrbios do sono tende a aumentar com a idade e que a capacidade de executar ajustamentos circadianos tende a diminuir em indivíduos que trabalham o turno da noite. Esta condição pode causar consequências como sonolência excessiva, que são muitas vezes um fator de acidentes que ocorrem no trabalho.

Silvestre (2010), diz que essa variação periódica, por impedir a adaptação do organismo a horários fixos, tanto de trabalho quanto de repouso, afeta profundamente a saúde do trabalhador, impossibilitando a formação do denominado "relógio biológico" e, consequentemente, tornando o trabalho excepcionalmente penoso e desgastante, a ponto de justificar a jornada especial de 6 horas diárias.

Para Rotenberg, Silva-Costa, Diniz e Griep (2011), as doenças cardiovasculares (DCVs) são conhecidas por estarem associados à má qualidade do sono na população em geral, mas eles não têm sido consistentemente associados com os horários de trabalho específicos. Estudos de DCV geralmente não consideram simultaneamente sono e os horários de trabalho, mas que a abordagem poderia ajudar a desembaraçar os seus efeitos.

Já Simões, Marques e Rocha (2010), informam que apesar dos problemas relatados por trabalhadores de escala de revezamentos, o rodízio de turnos é utilizado como alternativa a permanente inversão dos ritmos humanos naturais, imposta por turnos fixos como o noturno, entretanto, ainda são pouco conhecidas às especificidades que a organização alternada de turnos de trabalho pode representar para o cotidiano, a saúde e a vida social dos trabalhadores. 

Oliveira e Pereira (2012), dizem que em relação aos problemas pessoais que a escala de revezamento em turnos pode causar aos trabalhadores, está à negligência na vida pessoal.

Simões, Marques e Rocha (2010), dizem que, embora o trabalho em turnos seja visto por muitos como solução natural para o problema de manutenção de atividades durante 24 horas, essa organização do trabalho, levando em conta, basicamente, razões técnicas e econômicas, conflita-se com os ritmos biológicos, familiares e com aqueles da comunidade, originando prejuízos para a saúde e a vida social dos trabalhadores.

Para Moreira (2014), outras situações agravam o problema de quem trabalha em turno de revezamento, como a rejeição ao trabalho noturno, aceito pelos especialistas em medicina ocupacional e do sono como prejudicial ao ser humano. Socialmente, ambos os regimes, revezados ou fixos, causam transtornos e incômodos aos que trabalham em turnos.

Costa, Morita e Martinez (2000) citam que os funcionários que cumprem uma escala de turnos alternados, com frequência de revezamento superior a quinze dias, referem queixas de caráter neuropsíquico, gastrintestinal e cardiovascular, algumas queixas também sobre relacionamento e tempo de convivência.

Para Fontana e Brigo (2012), o trabalho noturno apontam insatisfações relacionadas aos horários de trabalho coincidentes com feriados, finais de semanas, fragmentando, muitas vezes, os horários de lazer e as relações entre amigos e familiares, contribuindo, assim, para o isolamento social, adstrito a isso, para as mulheres, com múltiplas funções, quais sejam de mãe, esposa e trabalhadora, condicionantes que podem comprometer a qualidade de vida destes sujeitos e configurar-se como fator de estresse.

Segundo Moreno, Fischer e Rotenberg (2003), as condições de trabalho e a organização do trabalho influenciam de forma significativa a tolerância ao trabalho em turnos e noturno. Particularmente, trabalhar em horários não diurnos pode levar os trabalhadores a ter pior desempenho em suas tarefas, a expô-los a maiores riscos de acidentes de trabalho e, de forma mais acentuada, a estressores ambientais, que podem levá-los à incapacidade funcional precoce.

Para Moreira (2014), apesar do entendimento consagrado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), de que o regime de horários fixos é melhor para a qualidade de vida dos trabalhadores, a longa prática do regime de revezamento, especialmente em algumas regiões do país, faz com que inúmeros trabalhadores prefiram permanecer no regime onde podem trocar de horário a cada semana ou a cada dois dias.

Para Tractenberg (1999), é comum falar em crise e decadência para estigmatizarmos mudanças com as quais não concordamos ou que não compreendemos bem. O que para uns se afigura como incerteza e crise, para outros representará um campo aberto de riscos e oportunidades.

Girondi e Gelbcke (2011) destacam aspectos positivos do trabalho noturno de enfermeiros, tais como: administrativamente: o processo de trabalho é realizado com melhor qualidade no período noturno devido ao fato de o enfermeiro ter maior acesso aos prontuários e exames, pois é menor o número de pessoas circulando no posto de enfermaria. Os enfermeiros noturnos estão centrados em atividades técnicas mais complexas, coordenação e supervisão da assistência de enfermagem, controle e apoio da equipe de enfermagem, bem como tomadas de decisões. Já na Abordagem Assistencial: o enfermeiro participa mais ativamente da assistência ao paciente.

Fontana e Brigo (2012), alerta para situação socioeconômica da sociedade capitalista, a escolha pelo trabalho noturno inclui motivos que envolvem, entre outros, a remuneração diferenciada e a maior disponibilidade de tempo para a vida particular, o que beneficia o gerenciamento do cotidiano familiar e facilita a conciliação com atividades como outro emprego ou estudo.

Girondi e Gelbcke (2011) destacam que o trabalho noturno confere maior aproximação com a equipe de trabalho, sendo um fator considerado positivo. Como aspecto favorável, foi ressaltada a situação de a equipe de enfermagem ser fixa, o que confere maior integração entre os profissionais e a efetividade da assistência, diferentemente do diurno, quando existe um maior número de funcionários e a rotatividade é consideravelmente maior. Cabe elucidar que a dinâmica da organização do trabalho da equipe de enfermagem num hospital é realizada obedecendo a escalas mensais de distribuição dos plantões e de distribuições de tarefas nos postos de trabalho.

Fontana e Brigo (2012), defendem a escala de revezamento, como sendo um fator positivo para quem quer estudar. Para estudar em escolas de graduação que oferecem o curso de enfermagem no turno diurno e integral, muitos trabalhadores, dispostos ao aperfeiçoamento, obrigam-se a procurar serviços que lhes proporcionem trabalhar à noite para que seja possível estudar durante o dia. Outras vantagens do trabalho noturno são a remuneração diferenciada e a maior disponibilidade de tempo para a vida particular, o que beneficia o gerenciamento do cotidiano familiar e facilita a conciliação com atividades como outro emprego ou estudo.

5. Resultados

O hospital Luiza de Pinho Melo possui turnos de revezamento de jornada de trabalho de enfermagem 6x1 e 12x36, sendo uma jornada com 6 horas de trabalho, das 08h às 14h e 14h às 20h, e 12 horas noturnas (20h às 08h). Possui também o horário comercial/administrativo, que varia de acordo com o setor do hospital.

Entrevistando enfermeiros, foram relatados os seguintes dados.

Os funcionários que trabalham sob o regime de jornada de 6x1, relatam que realizam a mesma quantidade de funções que os funcionários que fazem a escala 12x36, assim, a chance de cometerem erros são maiores, pois cumprem suas tarefas em 6h corridas. Algumas vezes os funcionários necessitam trabalhar em dois setores, pois a falta de funcionários é constante, nesses casos, o funcionário precisa trabalhar no seu setor e no de quem faltou.

Devido a um rodízio constante, alguns funcionários alegam que não conseguem se desligar da Instituição, como exemplo, há funcionários que já ligaram para a Instituição depois do término de seu trabalho, pedindo para que outros colegas verifiquem algum paciente em especial, pois temem que não fizeram a medicação adequada, ou que se esqueceram de fazer alguma anotação importante.

Um dos impactos negativos observado para quem trabalha em jornada 6x1 a tarde (14h às 20h), é que encontram dificuldade em conseguir estudar, quem mora longe do hospital não consegue tempo hábil para o estudo, e existe menos variabilidade de cursos no período matutino.

Muitos reclamam de não poderem participar de eventos com familiares, festas e reuniões com filhos, na jornada de trabalho 6x1. Já na jornada 12x36, existe a possibilidade de programar melhor esses eventos. Outros apontam que não podem ter lazer aos finais de semana, pois a jornada 6x1 engloba sábados, domingos e feriados, dias onde a maioria das pessoas agendam os eventos e festas.

Alguns funcionários alegam que na jornada 6x1 o único dia de folga acaba sendo utilizado para tarefas como idas a bancos, médicos e tarefas de casa, ficando sem dia de lazer. Outra dificuldade relatada é que se torna necessário à ida ao trabalho um dia a mais que outras jornadas de trabalho, aumentando tempos de deslocamentos e riscos de atrasos.

Porém, na jornada 6x1, encontram-se pontos positivos, como exemplo: para quem trabalha das 14h às 20h, não há a necessidade de acordar cedo, ou seja, o funcionário se auto avalia mais disposto, e para quem trabalha das 08h às 14h, pode-se aproveitar o restante do dia, encontrando ainda bancos e correios abertos, por exemplo.

Já na jornada 12x36, em período noturno, alguns funcionários possuem estresse, sono e alimentação desregulados, pois necessitam dormir durante o dia, o que muitas vezes se torna difícil devido ao calor, barulho e rotinas diurnas da casa, por exemplo.

Durante o período noturno, o atendimento médico e de medicação é mais demorado, devido ao número reduzido de funcionários, e os pacientes se tornam mais impacientes, pois não querem passar a noite no hospital, ou podem perder a última condução, gerando estresse, relatam os funcionários. Outros funcionários alegam que na jornada 12x36 noturna, fica difícil à atualização de sua carreira, pois os cursos de especialização, geralmente são ofertados à noite.

Os pontos positivos relatados para quem faz jornada 12x36 são: adicional noturno, esse é um fator que gera contentamento entre os funcionários deste período.

  1. Tem-se mais tempo para realizar procedimentos de rotina, como preencher relatórios e conferir o estoque.
  2. Não se tem muita pressão da chefia, embora se tenha uma Supervisora de Enfermagem no Hospital, esta fica sozinha para atender a todas as unidades e isso diminui a pressão dos funcionários noturnos.
  3. Dá para dar maior atenção aos pacientes internados, pois estes muitas vezes se encontram sozinhos nas enfermarias e necessitam de apoio para realizarem pequenas tarefas, como auxiliar o paciente a ir ao banheiro.

E por fim, os funcionários que trabalham a noite disseram que, o fluxo do Pronto Socorro diminui com o decorrer da noite, o que alivia a porta de entrada do hospital e gera um rodízio de ajudas para outros setores, se houver a necessidade.

De acordo com essas entrevistas e também revisão bibliográfica, foi elaborado o seguinte questionário:

  1. Trabalhar em escala 6x1 realiza a mesma quantidade de funções diárias que os funcionários que trabalham em escala 12x36.
  2.  Para quem faz escala 6x1, a chance de cometer erros é maior, pois o tempo de trabalho é menor e mais corrido e com a mesma quantidade de tarefas.
  3.  A escala 6x1 é mais prejudicial ao funcionário quando há faltas de colegas devido ao maior número de dias trabalhados e eles têm que trabalhar em dois setores.
  4.  Na escala 6x1 o contato com o paciente é maior, diário, causando um difícil desligamento do funcionário com o trabalho em suas horas de descanso.
  5.  Trabalhar em escala 6x1, permite mais tempo durante o dia para poder estudar e atualizar, do que em escala 12x36 ou comercial.
  6.  Na escala 6x1 ou comercial perde-se mais tempo para se deslocar ao trabalho que na escala 12x36, pois é necessário ir mais dias ao trabalho.
  7.  Na escala 6x1 é mais difícil participar de eventos com familiares, festas e reuniões de filhos.
  8.  Trabalhando em escala 6x1, é mais difícil programar viagens e ter lazer aos finais de semanas e feriados, que nas escalas 12x36 e comercial, pela folga ser somente em um dia.
  9.  Na escala 6x1 existe apenas um dia de folga durante a semana que acaba sendo usada para realizar outras tarefas como idas a bancos, médicos e serviços domésticos.
  10. Trabalhar em escala 6x1, aumenta o risco de atrasos e faltas, pois é necessário ir um dia a mais ao trabalho.
  11.  Trabalhar em escala 6x1 no período da tarde, entrando às 14h e saindo às 20h, sente-se mais disposição para o trabalho por não precisa acordar cedo.
  12.  Trabalhar em escala 6x1 no período da manhã, entrando às 08h e saindo às 14h, permite mais tempo livre.
  13.  Trabalhar em escala 12x36 no período da noite, entrando às 20h e saindo as 08h, é mais cansativo por ser difícil dormir durante o dia.
  14.  Trabalhar em escala 12x36 no período noturno, no Pronto Socorro é mais estressante, porque os pacientes querem maior agilidade no atendimento.
  15.  Na escala 12x36 é mais difícil fazer especialização, pois a maioria dos cursos é ofertada à noite.
  16.  Prefiro a escala 12x36 em período noturno, pois o salário é maior devido ao adicional noturno.
  17.  Na escala 12x36 existe menos pressão de chefes, pois a maioria trabalha durante o dia.
  18.  Durante o decorrer da noite o fluxo de pacientes do Pronto Socorro diminui o que gera um conforto melhor para o funcionário realizar procedimentos de rotina, como preencher relatórios, conferir estoques, e dar maior atenção aos pacientes.

Esse questionário foi passado entre a equipe de enfermagem do hospital.

Nas tabelas 1, 2 e 3 estão às respostas das questões, sendo 0 para "discordo totalmente" e 10 para "concordo totalmente":

Tabela 1 – Respostas dos funcionários que trabalham em jornada 6x1

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Tabela 2 – Respostas dos funcionários que trabalham em jornada 12x36

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Tabela 3 – Respostas dos funcionários que trabalham em jornada comercial

Foi realizado teste estatístico ANOVA 1 critério, teste de Fisher, com a designação ANOVA deriva de expressão inglesa Analysis of Variance, que se destinam a comparar mais de duas amostras cujos dados devem ser mensurados em escala intervalar. A designação 1 critério é pelo fato de se comparar somente as variações entre os resultados, traduzido no valor do F-teste, com nível de decisão p<0,05.

Complementando-se com o exame, de resultados a posteriori (teste Tukey), das diferenças entre as médias amostrais. As amostras são de tamanhos desiguais, e nível de decisão alfa<0,01.

As tabelas 1, 2 e 3 são comparadas entre si no teste de Tukey, por isso nas linhas horizontais onde estão 1 a 2, 1 a 3 e 2 a 3, são os comparativos dos resultados. As letras "ns" representam a concordância entre as respostas, porém com diferença não significativa.

Na tabela 4 estão as análises estatísticas dos resultados.

Tabela 4 – Análises estatísticas

ns: diferença não significante

6. Discussões

A questão 1 foi à única com respostas com diferença significativa entre os grupos. Os trabalhadores da jornada 6x1 acreditam que realizam as mesmas funções diárias que a jornada 12x36 e é claro que esse último grupo não concordou, mas o grupo da jornada comercial sim.

Os maiores problemas listados foram dificuldade em programar viagens (questão 8), acabar usando o único dia de folga (questão 9), e fazer uma especialização (questão 5) todas relacionadas à jornada 6x1, que têm somente um dia de folga na semana, confirmando pesquisas sobre problemas relacionados com impactos na vida pessoal.

As questões sobre dificuldade em participar de eventos familiares (questão 7), programar viagens (questão 8), e usar o único dia de folga (questão 9), todas relacionadas à jornada 6x1, obteve variâncias desiguais, provavelmente porque existem trabalhadores que conseguem aproveitar esse tipo de jornada com menos horas por dia, para realizar outras atividades e outros que preferem trabalhar mais horas por dia e ter mais dias livres.

A questão de problemas relacionados ao sono e saúde de trabalhadores noturnos receberam poucas reclamações ao contrário de pesquisas anteriores, como citam Santos, Silva e Brasileiro (2012) e Simões, Marques e Rocha (2010).

7. Conclusão

Buscou-se detectar os impactos pessoais e profissionais de trabalhadores submetidos à jornada de trabalho diferente do comercial.

Os maiores problemas foram listados e analisados estatisticamente.

Como sugestão de futuras pesquisas, fazer pesquisas qualitativas para melhor entendimento das respostas e desenvolver formas de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.

8. Agradecimentos

Agradecimentos a CAPES/MEC pela bolsa de estudos; à FAEP pela bolsa pesquisa e Universidade de Mogi das Cruzes pelas instalações de pesquisa.

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1. UMC – Universidade de Mogi das Cruzes – Graduação em Administração de Empresas. E-mail: patytobias@hotmail.com
2. IFSP – Instituto Federal de São Paulo – Pós-Graduação em Logística e Operações. E-mail:  luizteruo@hotmail.com


 

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