Espacios. Vol. 36 (Nº 24) Año 2015. Pág. 5
Rúbia Araújo COELHO 1; Benedito Dias PEREIRA 2; Luís Márcio Silva RESENDE 3; Rosicley Nicolao de SIQUEIRA 4; Eliane Veltrudes Zanata Benedito da SILVA 5
Recibido: 17/08/15 • Aprobado: 18/09/2015
1. A Agropecuária como atividade estratégica em Mato Grosso
3. O Método: Um Modelo Econométrico
4. Análise e discussão dos Resultados
RESUMO: Estima-se a função de produção agrícola agregada do Estado de Mato Grosso (unidade federativa do Brasil que, nos anos mais recentes, exibe uma das mais destacadas taxas de crescimento do PIB), em 1996 e 2006, através dos dados compilados no Censo Agropecuário de 1996 e 2006, publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com recorrência ao método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO): modelo de regressão linear clássico (log-linear). Os resultados revelam que a agricultura mato-grossense vem se movimentando com uso intensivo do insumo capital, diferentemente de anos |
ABSTRACT: It is estimated agricultural production function aggregate of Mato Grosso (federal unit in Brazil which, in recent years, displays one of the most outstanding GDP growth rates) in 1996 and 2006, using data collected in the agricultural census 1996 and 2006 published by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), with recurrence to the method of ordinary least squares (OLS): classical linear regression model (log-linear). The results show that Mato Grosso agriculture is moving with intensive use of capital input, unlike previous years, which had supremacy of the cultivated area. |
Um conjunto de elementos, dentre os quais, a ocupação de novas áreas nas unidades federativas que participaram ativamente do processo de expansão de fronteira agrícola -como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rondônia e poucas outras-, oferta abundante de créditos -na maioria das vezes subsidiados-, suporte estratégico da prevalência das políticas agrícolas, expressivo dinamismo e competitividade das organizações que protagonizaram esse cenário e a descoberta e ampla difusão de novas tecnologias, explicam as razões pelas quais, a partir da década de 1970, a agropecuária do Brasil vivenciou período de nítido crescimento e de gradual interiorização espacial, cujo epicentro, até então, se posicionava exclusivamente nas regiões Sul e Sudeste do País.
De modo pontual, esse movimento expansionista da fronteira agrícola teve como atores principais modernas organizações que exibe elevada escala e produzem conjunto restrito de bens, como a soja, algodão e poucos outros. Destarte, de modo bem definido, esse incremento vem se fertilizando com inovações tecnológicas de vários matizes, como a mecânica, físico-química, biológica e organizacional ou de gestão, potencializado pela descoberta e difusão de novas tecnologias, com a liderança estratégica e oportuna da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Por oportuno, como aconteceu praticamente em todo ambiente latino-americano, a origem ou aceleração no tempo desse processo de movimento da fronteira agrícola se sincronizou com o limiar da expansão da globalização dos mercados regionais e nacionais, fato que contribuiu de maneira acentuada para a elevação do reconhecimento e legitimação de ideologias e das premissas ou substratos que potencializam os elementos concorrenciais do modo de produção capitalista, estimulantes e propulsores de novas estratégias competitivas, que passaram a ser empreendidas pelas organizações mundiais mais dinâmicas, que, ao adotar esse modus operandis, se espraiaram pelos espaços regionais interioranos mais promissores, notadamente os com oferta abundante de terras, como o Estado de Mato Grosso.
Nesse contexto, notadamente a partir dos anos oitenta do Século XX, Mato Grosso passa a desempenhar papel fundamental no aumento da produção agropecuária no Brasil. A participação do Estado no deslocamento da fronteira agrícola nacional se materializa pela coexistência entre a elevação da área cultivada e o incremento da eficiência econômica, em predomínio, obtida por intermédio da expansão da produtividade dos fatores de produção. Nesse quadro, enquanto a terra era mais abundante, como no princípio dos anos oitenta, o crescimento da produção agrícola era explicado na sua maior parte pela incorporação de áreas no cultivo, entrementes, a partir da fase em que a disponibilidade de terras cultiváveis se torna mais rarefeita ou escassa, a elevação da produtividade dos fatores passa a exercer função dominante no incremento dessa produção.
Por conseguinte, a partir desses delineamentos, pode-se formular a hipótese que a intensificação do uso do capital se constitui no mais expressivo vetor das múltiplas inovações tecnológicas vivenciadas pela agropecuária mato-grossense, em singular, a partir dos anos noventa do Século anterior. Assim sendo, presume-se que, durante o transcurso dos anos mais recentes, a inovação mecânica se posta como âncora do incremento da eficiência econômica e da produtividade dos fatores de produção, com complementos também relevantes de outras inovações, como as físico-químicas, biológicas e organizacionais. Nesse cenário, contudo, o capital se revela como o fator de produção mais dinâmico, ou seja, as técnicas adotadas são mais intensivas em capital, compreendido como investimentos e financiamentos.
Como essas premissas ou hipóteses, a partir da estimativa da função de produção agrícola agregada do Estado de Mato Grosso em 1995 e 2006, o artigo tem como foco o contraste entre esses dois anos dos coeficientes dos fatores, terra, trabalho e capital, além das estimativas das elasticidades parciais, produto marginal e produto médio de cada fator. Para tanto, utilizam-se os dados do Censo Agropecuário do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com recorrência ao método de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), via regressão log-linear.
O presente artigo contém cinco partes, além desta introdução. Na primeira, aborda-se a agropecuária como atividade estratégica no Estado de Mato Grosso. Na segunda, comenta-se sobre o modelo teórico. Na terceira, discorre-se sobre o método econométrico adotado. Na quarta, elabora-se a análise e a discussão dos resultados. Na quinta, constam os comentários finais.
Em especial nos anos mais recentes, a agropecuária vem se constituindo em atividade estratégica na economia brasileira e atuando com maior competitividade a nível internacional, pautado por transformações diversas na eficiência produtiva, assim como por constantes alterações das estratégias competitivas, em quadro que se fortalece pela ascendente globalização dos mercados. Nesse âmbito, potencializadas pelas várias inovações tecnológicas, processa-se a ocupação de novos espaços ou regiões pelas organizações mundiais mais competitivas, com a finalidade de se manter ou ampliar suas parcelas em mercado crescentemente globalizado. Destarte, diversos espaços regionais do País se tornaram instigantes cenários para a realização dos mesmos jogos e estratégias protagonizados até então em contextos nacionais mais dinâmicos.
De acordo com esses entendimentos, a abertura da economia, a desregulamentação dos mercados, a crise das formas tradicionais de intervenção do Estado e a formação de blocos econômicos, se constituem nas principais mudanças estruturais que trouxeram e veicularam a globalização para os espaços regionais, que se notabiliza, reafirmando-se, pela necessidade de se incrementar a competitividade, sobretudo, na vertente teoricamente apreendida como eficiência, como diversos autores nos ensinam, dentre os quais: HAGUENAUER (1989) e KUPFER (1992).
Como ilustração, deve-se destacar que o deslocamento da fronteira agrícola exerce papel extremamente importante nessa dinâmica, posto que oportuniza o uso da terra como vetor de expansão da fronteira agrícola nas unidades federativas que passaram a fazer parte do conjunto das mais proeminentes na agropecuária nacional, como Mato Grosso e outras. O desgaste e a minifundização das estruturas fundiárias da região Sul e Sudeste explica em prevalência a migração de diversos agricultores para as regiões Centro-Oeste e parte da Norte do País, contribuindo para o incremento da produção agropastoril nacional, sintonizadas com as mutações das técnicas de produção.
Segundo os estudos de Vieira Filho (2014), as transformações históricas e alteração do padrão tecnológico desse movimento se deram em três momentos: a produção agropecuária localizada na região Centro-Sul, sendo a primeira área de produção de alimentos, o segundo foi na região Centro-Oeste, com expansão das terras e consequentemente das evoluções tecnológicas, proporcionando a produção em terras não tão propícias à agricultura, e o terceiro momento se materializou em uma região que perpassa o Norte e o Nordeste, especialmente o Estado de Tocantins.
Não se torna demais relembrar que esse quadro se nutre dos princípios difundidos pela Revolução Verde, como observa BARROS (2014). Logo, de maneira quase que generalizada, a utilização intensiva na mecanização da agricultura e o desenvolvimento de produtos químicos para estimular a elevação da produtividade passa a fazer parte de maneira expressiva do cotidiano da agricultura brasileira. Nesse modelo, o plantio de novas terras, acompanhada do incremento da produtividade dos fatores de produção, substrato da modernização da agricultura, explicam o crescimento da produtividade dos fatores de produção e da eficiência da agropecuária em Mato Grosso.
Bem assim, Mato Grosso, é uma unidade federativa com dimensões continentais: 908.806 km², respondendo por aproximadamente 10,61% da extensão territorial do País. Além disso:
A grandeza do Estado não se traduz apenas no seu tamanho, em 2014 Mato Grosso deteve o maior rebanho bovino do país, com aproximadamente 28 milhões de cabeças e é o segundo maior produtor nacional de grãos do País, com 9.118,6 mil hectares cultivados (IMEA, p.1, 2010).
Mais detalhadamente, em paralelo à sua trajetória caracterizada por diferentes usos dos recursos, dentre as principais ações empreendidas na agropecuária, em Mato Grosso se destacam as atividades exercidas pelos grandes agricultores de grãos e pecuaristas, mais acentuadamente, pelos que criam rebanho bovino. Em outras palavras, além da produção nucleada na soja, a pecuária, a cotonicultura e a rizicultura, dentre outras menos destacadas, se constituem nas ações pioneiras no uso e ocupação de solos. O plantio de arroz, para muitos pesquisadores, exerceu a vanguarda nessa dinâmica, em função disso, rotulado como "amansa terra" (ALENCAR et al., 2004, p. 38).
Nessas circunstâncias, de acordo com dados do IBGE, a partir dos anos noventa do Século anterior, revelando sua preponderância e apresentando dinamismo incomum pela produtividade e eficiência dos fatores de produção demandados, a agropecuária vem respondendo por cerca de 40% do valor adicionado da economia mato-grossense. Esse dinamismo, entrementes, pode estar se acelerando ao longo dos anos ainda mais recentes.
A Teoria da Produção, extrato da Economia Neoclássica, por sua vez, perspectiva econômica do liberalismo, aborda a relação funcional entre os insumos e os níveis distintos de produtos, assim, estabelecendo funcionalmente como se processa a transformação dos insumos ou fatores de produção -como terra, trabalho e capital- em quantidade produzida. Como as quantidades desses insumos são limitadas, a função de produção estima a maior produção obtenível a partir de dadas quantidades desses fatores. Logo, de acordo com esses entendimentos, a firma se vê diante de um conjunto de possibilidades de combinações dos fatores de produção para gerar uma quantidade determinada de produto.
Diante disso, como o conjunto de todas as combinações de insumos e produtos que compreendem formas tecnologicamente viáveis de produzir é denominado conjunto de produção, como consta em Varian (2000):
Uma função de produção indica o produto máximo (volume de produção), q, que uma empresa produz para cada combinação específica de insumos. Embora na prática as empresas usem inúmeros insumos, para simplificar nossa análise, vamos nos concentrar em apenas dois insumos: o trabalho, L (labor) e o capital, K. Podemos então escrever a expressão da função de produção como: [PYNDYCK e RUBINFIELD, p. 171, 2010].
Nesse ambiente analítico, conforme Pindyck e Rubinfield (2010), supondo-se dois insumos e o curto prazo neoclássico -um insumo com quantidade fixa e o outro com quantidade variável-, o produto médio é o produto obtido por unidade de insumo: a razão de um produto (em quantidades) por um dado fator de produção, e o produto marginal é a quantidade a mais produzida quando se aumenta uma unidade de dado insumo.
A partir dessas evidências, como abordam Oliveira e Marques (2002), o uso dos valores do produto marginal e do produto médio do insumo com quantidade variável, dentre os estágios de produção teoricamente possíveis, denominados de I, II e III, permite identificar o estágio em que a produção ocorre, isto é, se a quantidade produzida se localiza ou não em níveis economicamente racionais, em outras palavras, se o uso dos fatores se processa ou não em proporções economicamente viáveis.
Segundo essas lógicas, o estágio II representa o único locus de decisão que abriga a racionalidade econômica e que se determina ao longo do intervalo em que o produto marginal (positivo) se posiciona abaixo do produto médio (positivo) do insumo com quantidade variável. Reforça-se que essas inferências são compatíveis com modelo onde se admite quantidade variável de um e quantidade fixa de outro fator. Por natural, essas conclusões devem ser compreendidas estritamente nos limites ou alcances das suas premissas, contemplando, por conseguinte, uma vez mais: dois fatores de produção, um com quantidade fixa e outro com quantidade variável, ou seja: o curto prazo da análise neoclássica.
Assim sendo, por exclusão, o estágio I e o III não são considerados economicamente racionais. No estágio I, quando o produto marginal (positivo) é maior que o produto médio (positivo) do insumo com quantidade variável: "O insumo fixo é combinado com o insumo variável em proporções não econômicas", como menciona Ferguson (1989, p. 165) enquanto no estágio III, quanto o produto marginal se torna negativo: "O insumo variável é combinado com o insumo fixo em proporções não econômicas. Em termos de agricultura, a terra é cultivada muito intensivamente" (Idem).
Dessa maneira, por natural, no estágio II, tanto o fator de produção com quantidade variável, quanto o fator de produção com quantidade fixa, são demandados em proporções econômicas ou em níveis economicamente racionais. Além disso, a recorrência aos valores do produto marginal e do produto médio viabiliza o cálculo da elasticidade parcial de cada fator, posto que a elasticidade parcial ou elasticidade de produção pode ser estimada pela razão entre o produto marginal e o produto médio [SILBERBERG, 1978, p. 290].
Por lógico, em termos práticos ou operacionais, como menciona Silberberg (1978, p. 296), uma Função de Produção pode assumir diversas formas funcionais: Cobb-Douglas, CES -cuja sigla deriva das primeiras letras do seu nome no idioma Inglês: Constant Elasticity Substitution-, Translog, Leontief, etc., a Cobb-Douglas, pela sua maior simplicidade, é a forma funcional mais usada em pesquisas aplicadas. Ao se pressupor exclusivamente dois fatores de produção, ela é definida da seguinte forma:
Com três fatores de produção, sem se explicitar a forma funcional, a função Cobb-Douglas pode ser adaptada aos fins deste Artigo e ser redigida da seguinte forma:
Onde: VPta denota o valor total da produção agregada, medida em R$ 1.000,00, Ata indica a área em hectares (ha), MOta simboliza a quantidade de mão de obra e Kt designa o valor do capital, medido pelos investimentos e financiamentos, para os i municípios de cada ano do Censo Agropecuário (1995 e 2006).
Como se adota a forma funcional log-linear, lineariza-se a equação (2), obtendo-se:
Onde Ln representa o logaritmo natural de cada das variáveis abordadas em (1), βo, β1, β2 e β3 representam os parâmetros de eficiência de cada fator de produção, enquanto ε indica os resíduos do modelo. Nesses termos, pode-se formular a hipótese nula (Ho): Todos os coeficientes são iguais a zero e a hipótese alternativa: Todos os coeficientes são diferentes de zero. Ademais, como a função modelo log-linear foi estimada através do método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), tem-se que ε ~ N (0, σ2), ou seja, os resíduos exibem distribuição normal com média zero e variância constante. Aliás, como observação, sem parecer ser redundante, os coeficientes βo, β1, β2 e β3 em (3) representam as próprias elasticidades parciais ou elasticidades de produção de cada insumo, abordadas na parte anterior.
Como observações relevantes, citam-se evidências que caracterizam os dados publicados pelo IBGE no Censo de 1995: a função de produção agrícola agregada é estimada com adoção da equação (3) e uso dos dados desse Censo contempla a produção vegetal e animal, por natural, inclusas no VP. Além disso, a área total em hectares é constituída por lavouras permanentes e temporárias, pastagens naturais e artificiais, matas naturais e plantadas, lavouras em descanso produtivo e não-utilizadas. A mão de obra considerada foi a de homens e mulheres acima de 14 anos.
Por seu turno, no Censo Agropecuário de 2006, o valor total da produção agregada incorreu em divisão por atividades incluindo a horticultura, floricultura, silvicultura e extração vegetal. A área também foi dividida por atividade econômica e a mão de obra não teve alterações na forma de quantificação em relação ao Censo anterior. Os investimentos e financiamentos foram quantificados em tabelas distintas, sendo os investimentos por estabelecimento e tipos, enquanto os financiamentos foram classificados por agente financeiro responsável pelo financiamento.
Esta parte se subdivide em duas. Na primeira elabora-se a estimativa da função de produção agregada com estatísticas extraídas do Censo de 1995, além dos demais indicadores antes mencionados: produtividade parcial, produto marginal e produto médio de cada fator, enquanto na segunda, semelhantes estimativas são feitas para as dados do Censo de 2006. Por oportuno, como eles representam as observações das regressões estimadas, esclarece-se que, em 1995, Mato Grosso possuía 117 municípios, cuja quantidade ascendeu para 141 em 2006.
A estimativa da função de produção com os dados do Censo de 1995 da função de produção Cobb-Douglas agrícola agregada de Mato Grosso apresentou os seguintes resultados:
O coeficiente de determinação (R²) estimado revela que três quartos das variações do valor da produção agregada em Mato Grosso se explicam pelas variações da área, mão de obra e capital (investimentos e financiamentos). Em complemento, o teste F confirma o grau de significância do modelo, ao nível de 1%, rejeitando-se, portanto, a hipótese nula de que todos os coeficientes são iguais a zero. Diante disso, o coeficiente de uma das variáveis: o capital, com nível de significância de 1%, exibe coeficiente estatisticamente significativo, apontando que a produção agrícola agregada em Mato Grosso, no ano investigado, foi bastante intensiva em capital.
O teste RESET, que verifica se há erro de especificação das variáveis selecionadas, indica que a especificação das variáveis é adequada ao modelo. O Teste de White manifesta a ausência de heterocedasticidade no modelo. Quanto aos testes de violação dos pressupostos básicos, a análise da matriz de correlação entre as variáveis explicativas evidencia a inexistência de multicolinearidade, o teste de Breusch-Godfrey detecta a ausência de heterocedasticidade, enquanto o teste de Durbin-Watson comprova a ausência de autocorrelação ou depndência serial entre os resíduos.
Assim sendo, no conjunto das variáveis independentes, como o capital se constitui no fator de produção com relevância estatística, infere-se que a agricultura de Mato Grosso, para cada aumento de 1% na quantidade do fator capital resultou em crescimento em 0,81% no valor da produção agregada em Mato Grosso em 1995. Embora não apresentem relevância estatística, ilustra-se que, para os dois outros fatores, a resposta percentual da variável dependente (valor da produção) às mudanças percentuais unitárias na variável dependente é bem menor: 0,046% para a área de terra explorada e 0,066% para a mão de obra.
Em seguida, na Tabela 1, estão contidos os resultados das estimativas do produto médio e do produto marginal das três variáveis independentes, bem como os retornos à escala do modelo estimado, derivada do somatório dos três coeficientes contidos na regressão anterior, que refletem as elasticidades parciais de cada fator de produção.
Tabela 1: Elasticidades parciais de produção, produto marginal,
produto médio e retorno à escala – Função Produção Agrícola
em Mato Grosso – 1995
Variável |
Elasticidade Parcial |
PMg |
Pme |
Área (ha) |
0,046 |
3,410 |
74,113 |
Capital |
0,811 |
2,495 |
3,077 |
Mão de obra |
0,066 |
716.702 |
10.859.116,5 |
Retorno à escala |
0,923 |
Como se observa, os valores das elasticidades parciais ou elasticidades de produção, que reproduzem os coeficientes estimados na regressão, revelam que os três insumos ou fatores de produção estão sendo utilizados de forma racional, dado que os valores dos produtos marginais e dos produtos médios são positivos e o valor do produto marginal é menor que o do produto médio. Ademais, o somatório das elasticidades parciais pertinentes aos três insumos indica que o modelo apresenta retorno decrescente de escala, entrementes, muito próximo da presença do retorno constante.
4.2. Função de Produção Agrícola Agregada do estado de Mato Grosso em 2006
Os resultados relativos a 2006 das estimativas da função de produção Cobb-Douglas agrícola agregada em Mato Grosso estão anotados logo adiante:
Quanto ao valor do coeficiente de determinação (R²), assim como na regressão anterior, observa-se que três quartos das variações do valor da produção agregada se explanam pelas variações das variáveis independentes. Em adição, também como na regressão anterior, o teste F ratifica, ao nível de significância de 1%, que nem todos os coeficientes são estatisticamente nulos, isto é, igualmente reproduzindo o caso anterior, existe pelo menos uma variável com relevância estatística diferente de zero. Nesse caso, existem duas com essa pertinência: uma delas é o capital, confirmando que o modelo agrícola que se pratica em Mato Grosso é extremamente intensivo em capital. Entretanto, diferentemente da função de produção estimada com dados de 1995, além do capital, a variável mão de obra também apresenta coeficiente estatisticamente significativo, embora o nível de significância seja menos rigoroso que o alusivo ao coeficiente da variável capital: 5%.
Bem como na regressão estimada com estatísticas concernentes a 1995, através do teste RESET foi constatado que não há erro de especificação nas variáveis selecionadas. Além disso, bem como na regressão anterior, não se identificou a presença de violação dos pressupostos básicos.
Sob essas condições, com plataforma na produtividade do capital e do trabalho, muito mais no capital e menos no trabalho, confirma-se que a economia agrícola mato-grossense continua posicionando seu dinamismo no fator de produção capital. Em complemento, os dados de 2006, contrastados com a regressão estimada com estatísticas atinentes a 1995, explicitam que a economia agrícola mato-grossense preserva a adoção racional dos insumos, porquanto os produtos marginais das três variáveis independentes se mantêm inferior aos produtos médios e, a despeito de ainda exibir retorno decrescente de escala, se aproxima ainda mais da presença do retorno constante de escala, como se observa nos valores anotados na Tabela 2.
Tabela 2: Elasticidades parciais de produção, produto marginal,
produto médio e retorno à escala – Função Produção Agrícola
em Mato Grosso – 2006
Variável |
Elasticidade Parcial |
PMg |
Pme |
Área (ha) |
0,049 |
12,37 |
252,457 |
Capital |
0,798 |
2,612 |
3,273 |
Mão de obra |
0,123 |
4.598,10 |
37.382,9 |
Retorno à escala |
0,970 |
|
|
Como se deduz, o período compreendido entre 1995 e 2006 trouxe poucas mudanças na estrutura dos fatores de produção demandados pela agricultura de Mato Grosso, dado que essa atividade continua se movimentando com dinamismo centrado no fator de produção capital. Destarte, como a inovação mecânica vem representando o cerne do crescimento da produtividade dos insumos, as demais inovações, como a biológica, físico-química e a organizacional, atuam como complementos, de forma integrada ao capital, para potencializar a inovação mecânica, aceitando-se, em decorrência desses argumentos, a hipótese desta pesquisa.
Logo, ao se inferir que a inovação mecânica atua como principal vetor da modernização da agricultura mato-grossense, essa inovação responde pela maior parte da produtividade total dos insumos, atuando como plataforma ou âncora da eficiência dessa atividade e fortalecendo as estratégias competitivas que vem sendo adotadas pelas organizações modernas que ora habitam o cenário agropastoril regional. Essas organizações, aliás, se posicionam em terreno com concentração fundiária acentuada, se movimentam com adoção de premissas imanentes aos fatores concorrências do modo de produção capitalista e protagonizam estratégias e ações competitivas tendentes à manutenção ou crescimento das suas parcelas no mercado, crescentemente globalizado.
Adotando estatísticas de 1995 e 2006, com suporte da Teoria da Produção da Escola Neoclássica e recorrência ao método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), com estatísticas pesquisadas e publicados pelo IBGE e por intermédio das estimativas da função de produção agrícola agregada de Mato Grosso (forma funcional Cobb-Douglas), este Artigo teve como objetivo contrastar entre os dois anos censitários os coeficientes dos insumos, terra, trabalho e capital, além das elasticidades parciais, produto marginal e produto médio desses mesmos insumos.
As estimativas realizadas apontaram que durante o período pesquisado a agricultura de Mato Grosso vem se dinamizando cada vez mais, posto que os seus atores fazem uso intensivo do insumo capital, se contrapondo, por conseguinte, ao caminho percorrido em fase anterior, como os anos oitenta do Século XX, cujo crescimento da quantidade produzida na agricultura se processou com dominância através do incremento da área cultivada, definindo Mato Grosso como uma das unidades federativas líderes do processo de expansão da fronteira agrícola do País.
Impulsionado por diversos elementos, como a oferta abundante de crédito, geralmente subsidiados, a exploração e a difusão de novas tecnologias e o suporte estratégico das políticas agrícolas, esse deslocamento da fronteira agrícola nacional viabilizou a incorporação de novas unidades federativas ao epicentro da agropecuária nacional, dentre as quais, Mato Grosso, que passou a contribuir a partir dessa inclusão na geração de divisas originadas pela exportação de bens, bem como para a segurança alimentar do País.
A partir dessa inserção da economia mato-grossense no deslocamento da fronteira agrícola nacional, ela passou a fazer parte de maneira mais abrangente e dinâmica do processo de globalização dos mercados, protagonizado por organizações modernas e adotantes de estratégias competitivas e tendentes à elevação das suas parcelas no mercado mundial. Entrementes, a despeito dessa inserção e da consequente modernização da sua agricultura, no espaço regional perduram ou persistem caracteres que tipificam ou conformam um modelo-primário exportador, quais, sejam: a especialização produtiva em conjunto restrito de bens, como soja, algodão e bovinos, além da manutenção de estrutura fundiária extremamente concentrada.
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1. Matemática, Contadora e Mestranda em Agronegócio e Desenvolvimento Regional na Faculdade de Economia na UFMT – Universidade Federal do Mato Grosso – Turma 2014 - contato: rubiaarraujocoelho@gmail.com
2. Economista, Dr. em Economia pela UFPE e professor titular da UFMT - contato: bdp@terra.com.br
3. Economista e Mestrando em Agronegócio e Desenvolvimento Regional na Faculdade de Economia na UFMT - Universidade Federal do Mato Grosso – Turma 2014 – contato: luismarciosr@gmail.com
4. Administradora e Mestranda em Agronegócio e Desenvolvimento Regional na Faculdade de Economia na UFMT – Universidade Federal do Mato Grosso – Turma 2014 - contato: rosicley.siqueira@senaimt.edu.br
5. Economista e Mestranda em Agronegócio e Desenvolvimento Regional na Faculdade de Economia na UFMT – Universidade Federal do Mato Grosso – Turma 2014 - contato: elianeveltrudes@hotmail.com
6. Estatisticamente significativo ao nível de 1%.
7. Estatisticamente significativo ao nível de 5%
8. Estatisticamente significativo ao nível de 1%