Espacios. Vol. 36 (Nº 20) Año 2015. Pág. 13
Kelly Polyana Pereira SANTOS 1; Irlaine Rodrigues VIEIRA 2, Roseli Farias Melo de BARROS 3
Recibido: 25/06/15 • Aprobado: 15/07/2015
RESUMO: Este estudo analisou a realidade socioeconômica dos pescadores da colônia Z-14, Miguel Alves/PI, além das suas práticas culturais e religiosas. Os dados foram obtidos com o auxílio de entrevistas semiestruturadas, esses dados foram transportados em gráficos, e analisadas por meio de estatística básica. 47% dos pescadores são casados, 59,49 % possuem apenas o ensino fundamental incompleto. A principal atividade secundária da comunidade é a agricultura. As manifestações do catolicismo popular refletem as tradições culturais do grupo. A atividade pesqueira artesanal praticada, não é apenas uma forma de obtenção de renda, mas um meio de vida importante que precisa ser preservado. |
ABSTRACT: This study analysed the socio-economic reality of the Z-14 colony, in Miguel Alves, Piauí, and also their cultural and religious practices. Data was collected with the use of semi-structured interviews and were compiled in tables and graphics and analysed with basic descriptive statistics. 47% are married, 59.49% have incomplete school education. The main secondary activity in the community is agriculture; The popular catholic events reflect the cultural traditions of the group. Traditional fishing is not only a means to get an income, but an important way of life that needs to be preserved. |
As populações tradicionais englobam uma gama de etnias e modos de vida que variam desde caiçaras, quilombolas até indígenas, passando pelos pescadores artesanais (Diegues, 2000).
Os pescadores artesanais são aqueles que, na captura e desembarque de toda classe de espécies aquáticas, trabalham sozinhos ou em conjunto com a família, explorando ambientes ecológicos localizados próximos a costa, pois a embarcação e aparelhagem utilizadas são bastante rudimentares (Diegues, 1973).
Para (Diegues, Arruda, 2001), a categoria de população tradicional dos pescadores artesanais está espalhada majoritariamente pelo litoral, também pelos rios e lagos e tem um modo de vida baseado principalmente na pesca, ainda que exerça outras atividades econômicas complementares, como extrativismo vegetal, a pequena agricultura e o artesanato.
A exploração dos recursos pesqueiros exerce papel relevante no contexto sócio-econômico e cultural. Essa atividade contribui de maneira expressiva para o desenvolvimento da pesca artesanal (Branco, 1999).
Fazer-se pescador artesanal é tornar-se portador de um conhecimento e de um patrimônio sociocultural, que o permitem conduzir-se, ao saber o que vai fazer nos caminhos e segredos das águas, amparando seus atos em uma complexa cadeia de inter-relações ambientais típicas dos recursos naturais aquáticos (Diegues, 1983).
(Johnson, 1997) apresenta o conceito de cultura como "um conjunto acumulado de símbolos e produtos materiais associados a um sistema social, seja ele uma sociedade inteira ou uma família". Esse conjunto acumulado de símbolos e produtos materiais não é uma característica isolada de apenas uma geração. A construção e a preservação das contribuições humanas que se explicam pela formação da tradição, favorecem a edificação futura no presente, ou seja, de um patrimônio social que é a cultura - um fenômeno eminentemente social.
O saber das comunidades tradicionais foi por muito tempo desvalorizado pelos cientistas. A valorização do saber tradicional tem produzido efeitos benéficos para o conhecimento científico-acadêmico (Posey, 1987).
O conhecimento do perfil socioeconômico dos pescadores artesanais, bem como sua cultura religiosa, são pouco explorados nas pesquisas pesqueiras, entretanto, tais estudos são relevantes para o desenvolvimento destas populações. Portanto, objetiva-se traçar o perfil sociocultural dos pescadores artesanais da colônia Z-14, Miguel Alves/PI.
Miguel Alves (04º09'56" S e 42º53'43" W), possui uma área de 1.393,7 km². Densidade demográfica (23,17 hab./km²) e dista 112 km da capital Teresina. Clima tropical sub úmido. A vegetação local é formada por floresta decidual secundária mista, caatinga/cerrado e cerrado floresta. Seus cursos d'água são: rio Parnaíba, lagoas do riachão, da salina e da salmas e riachos da arara e da ameixa. Possui solos concrecionários tropicais, associados a areias quartzosas, solos hidromórficos e solos aluviais eutróficos (IBGE, 2014).
O estudo foi desenvolvido na comunidade de pescadores artesanais filiados à colônia Z-14, que está incorporada a Federação dos Pescadores do Estado do Piauí e possui 440 associados. Destes, apenas 366 pertencem ao município de Miguel Alves, enquanto que os demais estão distribuídos entre Buriti Duque Barcelar e Coelho Neto/MA. Foi criada com a finalidade de organizar e centralizar os direitos e deveres dos pescadores da região.
O tamanho da unidade amostral foi calculado pela fórmula sugerida por (Barbetta, 2006): [n=N.(1/E²0) /N+ (1/E²0)], onde n= nº de elementos da amostra, N= nº de elementos da população, E0²= erro amostral, 10% no caso deste estudo, sendo amostrados 79 pescadores.
Para a divisão dos grupos por faixa etária, seguiu-se a delimitação utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014): Jovens (18 a 24 anos), adultos (25 a 59) e idosos (a partir dos 60).
As coletas de dados foram realizadas entre os meses de dezembro de 2014 a Junho de 2015, através de observação direta e com o auxílio de formulário padronizado com questões abertas e fechadas, através de entrevistas semiestruturadas (Bernard, 1988). Tais entrevistas foram realizadas mediante permissão dos entrevistados através de aceite, conhecimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em duas vias, uma pertencente ao entrevistado e outra ao pesquisador.
O casal, filhos e agregados (genros, noras, sobrinhos, etc.) formam as famílias de pescadores artesanais dessa comunidade, por isso, mais de uma pessoa de uma mesma família, maior de 18 anos pode ter sido entrevistada e associada a colônia Z-14.
Posteriormente, as entrevistas foram transcritas em laboratório em conjunto com os dados referentes às conversas informais registradas em diário de campo com transcrições da fala, além do registro fotográfico das práticas culturais.
As planilhas com as transcrições estão arquivadas no núcleo de pesquisa do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) da UFPI. As transcrições de fala são apresentadas sempre com um código ("E", de entrevistado (a), seguido do número da entrevista e idade).
As respostas foram transportadas em figuras e gráficos, e analisadas por meio de
estatística descritiva básica.
Mapa 1: Localização do município de Miguel Alves/PI, Brasil.
Fonte: Adaptado dos dados do IBGE (2014), por Michell Francisco da Cunha Coelho.
Dos 79 pescadores entrevistados, 61% são do gênero masculino e 39% do feminino. Nota-se que há uma participação das mulheres na pesca que pode ser direta (pescando com os maridos) ou indireta (beneficiando pescado/concertando ou fabricando artefatos de pesca). Dados semelhantes foram reportados no trabalho de (Garcez, Sánches-Botero, 2005) observa-se, portanto que há uma necessidade de aumento da renda familiar, bem como a influência do convívio ou a falta de oportunidade de uma nova profissão. (Pieve, Miura et. al. 2007) e (Fernandes, Keunecke et. al. 2014) obtiveram valores opostos, pois em suas respectivas comunidades, apenas quatro eram mulheres, e estas, apenas auxiliavam na atividade pesqueira, e a comunidade de Atafona/RJ era composta por 100% de pescadores masculinos, ficando para as mulheres apenas os serviços domésticos. Aparentemente esses números relativamente altos de homens na pesca, podem estar relacionados ao tipo de atividade pesqueira dessas regiões, onde predomina fortemente a pesca artesanal com a utilização de enganchos e tarrafas, o que demanda bastante esforço físico.
Os jovens contabilizaram 8%, adultos 82% e idosos 10%. Em estudo realizado na Ponte dos Franceses (RS) (Harayashiki, Furlan et. al. 2011), a maior representatividade de pescadores de tarrafa foi encontrada na faixa etária entre 36 e 56 anos (52,1%) e a menor entre os indivíduos entre 15 e 35 anos (8,5%). Esses resultados sugerem que a pesca artesanal vem sendo praticada cada vez mais por adultos, ou seja, a maioria dos pescadores está em idade produtiva, mas, a partir dos 40 anos de idade, já começam a apresentar problemas de saúde que os impedem de trabalhar por longos períodos, devido às características peculiares do trabalho da pesca: Eles são submetidos desde adolescentes a trabalhos físicos pesados, expostos ao frio, à chuva, à água fria do rio e das lagoas, ao sol, a animais peçonhentos, dormindo e alimentando-se mal.
Quanto ao estado civil a população está distribuída da seguinte maneira: 47% são casados, 39% apresentam união estável, 10% são solteiros e 4% são divorciados. Do total de entrevistados, 40% possuem até dois filhos, 46% de três a quatro filhos e 14% mais de cinco filhos.
A escolaridade dos indivíduos entrevistados (Gráfico 1) aponta para um índice baixo, pois mais de 59,49% possuem apenas o ensino fundamental incompleto. (Alencar, Maia, 2011) ao analisarem a distribuição dos pescadores por escolaridade com relação às cinco grandes regiões brasileiras observaram o mesmo padrão proposto anteriormente, em que onde a maioria dos registros está concentrada na categoria "Ensino Fundamental Incompleto". A baixa escolaridade em ambos os casos pode ser explicada pela ineficácia na aplicabilidade das políticas públicas pesqueiras, estando também a falta de opção no ingresso de outras profissões.
Gráfico 1: Distribuição da população de pescadores de Miguel Alves/PI, por escolaridade
Fonte: Pesquisa direta (2014-2015).
Segundo os dados coletados, os entrevistados residem em Miguel Alves, em média 29 anos, sendo que 15,19% até 15 anos, 44,30% entre 16 e 30 anos, 29,11% entre 31 e 45 anos e 11,40% a mais de 45 anos. Portanto, o tempo de experiência na pesca pode ser considerado grande, o que justifica a composição da comunidade em relação a um número maior de pessoas adultas.
Em relação à moradia, 92,4% apresentam residência própria e 7,6% moram de aluguel ou em casas cedidas pelos parentes ou amigos. Quanto à estrutura das residências dos pescadores, 92,41% tem suas casas cobertas de telhas, 6,33% de palha e 1,26% de outros tipos, 62,03% possuem paredes de tijolos e 37,97% de taipa. O piso das mesmas é formado por cimento (62,03%), cerâmica (13,92%) e barro (24,05%). Apesar de ser uma comunidade carente, os pescadores possuem situação de moradia razoável, o que pode ser explicado pelos auxílios governamentais que a maioria dos pescadores recebem.
Levando em consideração o destino do lixo, 64,04% das residências dos entrevistados possuem coleta de lixo, sendo esta realizada periodicamente em três dias da semana pela Prefeitura Municipal; 27,60 % queimam seu lixo e 8,36% deixam ao céu aberto.
O abastecimento de água em sua maioria (94,94%) é realizado pela empresa de saneamento estadual do Piauí (AGESPISA), enquanto que 1,27% da população obtêm suas águas de poços e 3,79% abastecem-se diretamente do rio. Há em todas as residências dos entrevistados o fornecimento de energia elétrica, realizado pela ELETROBRÁS.
A purificação da água usada nas residências dos pescadores é feita em sua maioria através da filtragem (59,00%), 32,41% não utilizam nenhuma técnica para tal e 8,59% utilizam a fervura.
Na comunidade, 18,99% possui sistema de esgoto e apenas 2,53% dos pescadores destinam as águas residuais para as sarjetas, o restante (78,48%) destina a água utilizada diretamente ao solo. Quanto ao destino das excretas humanas, 48,10% utilizam a fossa séptica, 37,97% fossa negra e 13,93% fazem suas necessidades ao céu aberto.
Os pescadores da região possuem uma renda média mensal de R$ 460,25, onde 20,25% recebem até R$ 200,00, 39,24% recebem entre R$ 201,00 e R$ 400,00 e 12,66% entre R$ 401,00 e R$ 600,00 e 27,85% recebem entre R$ 601,00 e R$800,00. A renda declarada pelos pescadores entrevistados é comparável a de pescadores que atuam em outras regiões da costa brasileira, indicando que a remuneração nesse tipo de atividade é geralmente baixa (Garcez, Sánchez-Botero, 2005) – RS; (Vieira, Neto, 2006) – PA e AP; (Bail, Branco, 2007) – SC; (Fuzetti, Corrêa, 2009) – PR; (Vianna, 2009) – RJ; (Harayashiki, Furlan et. al. 2011) – RS; (Sedrez et al. 2013) – SC.
Para complementação da renda familiar, muitos deles realizam atividades secundárias (Gráfico 2). Em relação à renda complementar, 25,58% recebe até R$ 150,00 mensais, 46,51% entre R$ 151,00 e R$ 300,00 e 27,91% recebem um valor superior a R$ 300,00. (Moretz-Sohn et al. 2013) também observaram o mesmo em sua comunidade estudada a profissão mais citada em Icapií/CE foi pescador (43,3%), seguida de dona de casa e agricultor. Os pescadores artesanais realizam as atividades secundárias porque a renda adquirida somente com o pescado não é o suficiente para a sobrevivência da família.
Gráfico 2: Distribuição da população de pescadores em relação ás atividades complementares realizadas na colônia Z-14, Miguel Alves/PI, Brasil.
Fonte: Pesquisa direta (2014-2015).
Todos os pescadores filiados à Colônia recolhem INSS com uma quantia anual de R$ 37,00 e recebem o seguro desemprego no valor de um salário mínimo durante os quatro meses que correspondem à piracema (período de 15 de novembro a 16 de março). Quanto aos benefícios do governo não ligado a pesca, 65,82% dos pescadores não recebe nenhum tipo, 34,18% recebe a bolsa família.
O tempo da atividade pesqueira é apresentado no Gráfico 3, com um tempo médio de pesca de 26 anos e podemos observar que o número de entrevistado está bem distribuído em relação as faixas de tempo escolhidas. Pode-se afirmar que praticamente durante toda a vida os entrevistados se utilizaram da pesca como principal atividade econômica. Situação condizente com (Silva, et. al. 2009), cujos pescadores artesanais do Reservatório de Billings/SP, apresentaram um tempo de exercício na atividade pesqueira bem amplo, com média de 38 anos. No entanto, (Ranzani de Paiva et. al. 2006), entrevistando 16 pescadores nos núcleos de Bororé, Colônia e Barragem, relatam idade média de 40 anos, apresentando, portanto uma população mais idosa.
Gráfico 3: Distribuição da população em relação ao tempo da atividade pesqueira na comunidade de pescadores artesanais de Miguel Alves/ PI, Brasil.
Fonte: pesquisa direta (2014-2015).
Quanto ao número de pessoas que pescam na família, 49,37% dos entrevistados afirmam ter até duas pessoas que realizam a atividade, 21,52% dizem ter entre três e cinco pessoas, 1,27% mais de cinco e 27,85% sem nenhum membro da família participando da atividade pesqueira. Esses dados apesar de baixos em relação às gerações passadas, quando os pescadores tinham famílias numerosas, ainda mostram que a atividade pesqueira tem sido repassada ao longo das gerações, mantendo assim suas peculiaridades.
Segundo os entrevistados, 100% afirmam estarem satisfeitos com a profissão, dentre eles, 40% afirmam que é da pesca onde retiram o sustento da família, 30% dizem que realmente gostam da profissão, 20% relatam que foi a única profissão que tiveram oportunidade de aprender, 5% gostam por serem autônomos e 5% não souberam responder. Diferente de (Foschiera, Pereira, 2014) onde perguntam aos pescadores o motivo de escolher essa profissão, 20% responderam que gostam de pescar; 67% disseram não ter outra opção e 13% deles apresentaram diferentes motivos. Os 67% que disseram não ter opção, já exerciam a atividade pesqueira, no entanto era apenas para o consumo próprio, poucos vendiam o excedente. Muito deles até gostam de pescar, mas a falta de experiência em outras áreas é realmente o ponto mais forte da escolha dessa profissão. Outros ainda reconhecem que a pesca é uma forma fácil de conseguir dinheiro rápido, pois só precisa vender o pescado, o que não é difícil, e, ainda, tem a vantagem de não depender de nenhum patrão.
Segundo as entrevistas, 49,36% dos pescadores produzem artesanalmente artigos para consumo próprio ou venda, difundido entre as seguintes categorias: artefatos de pesca (40,5%), fabricação de canoas (5,06%), produção de remédios caseiros (2,53%) e bordado (1,27%).
A produção de remédios caseiros, também conhecidos como garrafada é feita apenas por dois pescadores da colônia, que possuem vasto conhecimento etnobotânico em relação às plantas medicinais e é realizada nas suas residências, para consumo próprio ou doação. As plantas utilizadas encontram- se nos quintais dos produtores ou são coletadas nas margens do rio, ou ainda compradas no mercado da cidade. Ao longo dos séculos, os produtos de origem vegetal constituíram a base para tratamento de diferentes doenças no mundo (Phillips, Gentry,1993), (Giraldi, Hanazaki, 2010), (Tuler, 2011), (Oliveira, Menini, 2012), (Aguiar, Barros ,2012), (Alves; Povh, 2013), (Baptistel et. al. 2014), (Araújo, Lemos, 2015).
Os artefatos de pescas são produzidos por 32 pescadores de ambos os gêneros da colônia Z-18, sendo destinados ao consumo próprio. A produção acontece durante todo o ano com maior intensidade nos meses posteriores a piracema (abril e maio). Vários são os artigos produzidos: engancho, vara de pesca, tarrafa, currú, groseira e quixó. A produção de artefatos de pesca depende das estratégias diferenciadas da captura do peixe. Muitos trabalhos relatam este tipo de conhecimento dos pescadores artesanais em relação à captura do pescado, demonstrando que esse é um fenômeno amplo (Batistela et al. 2005), (Begossi, Silvano, 2008), (Moura et al. 2008), (Souto, Marques, 2010), (Nunes et al. 2011) e (Mariz et. al. 2014).
A fabricação e reparo das canoas são realizados por quatro pescadores (todos do gênero masculino). A construção dura em média duas semanas, sendo os meses de maior fabricação abril, maio e junho. São utilizados cinco espécies de plantas na confecção, adquiridas através da compra em madeireira, o tamanho padrão das canoas é de 1 m de largura e 4 ou 5 m de comprimento.
A fabricação de crochê é realizada por uma pescadora, com o intuito de complementar a renda vinda da comercialização do pescado; o preço do trabalho pode chegar a R$ 100,00 mensais e é feito por encomenda.
A comunidade estudada é formada por 100% de católicos. Os pescadores dão grande importância a sua religiosidade, que é manifestada através dos festejos que são realizados durante todo o ano.
No Município é realizado no mês de julho a "Semana Cultural" promovida pela AESMA (Associação dos Estudantes Secundaristas de Miguel Alves), onde ocorre apresentações teatrais, danças, oficina de arte e palestras.
O artesanato é marcado pelo trabalho de bordados em tricô, palha, cerâmica, e confecção de artefatos de pesca e canoas.
No folclore destaca-se o "Tambor de Crioula", iniciado entre amigos no ano de 1960, permanece até os dias atuais. É composto por 13 membros, sendo quatro homens que cantam e tocam e nove mulheres dançarinas. As cantigas são improvisadas no ritmo afro-baiano, sempre acompanhadas de tambores.
No município de Miguel Alves, há uma banda chamada Santa Cecília, formada por homens do campo, que cantam e tocam músicas já conhecidas do público, teve origem cultural na cidade, e é reconhecida no Piauí.
O município destaca-se por sua religiosidade Católica, através dos festejos que são realizados durante todo o ano: Santa Rita de Cássia (maio), São Pedro e São João (junho), São Miguel Arcanjo (setembro), São Lucas (outubro), Santa Cecília (novembro) e Santa Luzia (dezembro). Semelhante ao trabalho de Amorim (2010), cujas festividades do Poti- PI, também estão intimamente ligados aos eventos religiosos.
São Pedro é considerado como responsável pela fartura das pescarias, no qual influencia na quantidade de chuva que será assimilada pelo rio.
A festa religiosa mais tradicional da cidade é a de São Miguel Arcanjo, cujas comemorações são realizadas junto à população local e circunvizinha durante 10 dias do mês de setembro, sendo promovida pela Igreja Católica, com apoio da Prefeitura de Miguel Alves. A abertura começa com o repicar dos sinos, logo em seguida, há oração de abertura.
no festejo são realizados: passeio ciclístico pela cidade, café da manhã na igreja matriz, confissões, adoração do santíssimo, santa missa na igreja matriz, traslado do mastro até a capela Santa Rita de Cássia e a missa na Praça de Eventos. Durante todos os dez dias são realizadas celebrações eucarísticas ministradas pelo padre da cidade; após as novenas, a população participa dos leilões que acontecem nas tradicionais barraquinhas montadas na praça. A festa é encerrada com procissão. Segundo E 22, 55 anos:
"È uma belezura essa festa... sempre cheia de muitas flores e uma música bonita que só ouvindo pra saber..."
Os pescadores dão grande importância a sua religiosidade e isso pode ser comprovado pelos relatos correntes:
"Aqui nós damo muito valor pra religião, é através dela que nós pede pra Deus e pros Santos, o peixe, a saúde e a chuva..."
(E 01, 60 anos).
O catolicismo se caracteriza pela originalidade e diversificadas manifestações, com suas festas, orações, crenças, benzeções, promessas, penitências, peregrinações, procissões, que o povo construiu baseando-se na busca pelo sagrado, do divino e para se proteger das doenças (Silva, 2005).
As manifestações do catolicismo popular refletem as tradições culturais do grupo que as pratica, e que se perpetuam por gerações, por isso é um dos momentos em que a tradição dos pescadores se mostra viva. Dessa forma, os festejos são uma forma de perpetuar essas tradições através da celebração de procissões, missas, e da oralidade com cânticos e orações. Nesse sentido, (Lemos, 2007) afirma que fé e cultura caminham juntas, numa interrelação tão próxima que é difícil distinguir o cultural do religioso.
A pesca é considerada uma prática que leva a convivência social, cultural e afetiva, passando a significar a ampliação da relação entre os pescadores que ao explorarem o rio e os recursos deste, elaboram diversos modos de apropriação social, econômica e cultural, ligados ao ambiente aquático, tendo como suporte os conhecimentos adquiridos de gerações passadas. Para (Almeida, 2000) o saber tradicional produzido, ao longo da história, é um rico e diversificado marco de leitura e interpretação do mundo e (Silva, 1982) comenta que em sua relação com o rio, os pescadores artesanais não só elaboram uma imagem de si próprios, mas também criam mitos e práticas rituais, classificam os recursos naturais segundo categorias específicas e têm linguajar próprio.
O significado que o homem constrói da pesca decorre das relações socioeconômicas e culturais desempenhadas no interior das comunidades pesqueiras, sendo possível perceber que na pesca artesanal, o pescador age dinamicamente, possuindo numerosas características que são compartilhadas ao grupo, como o saber fazer, a dimensão imaginativa e a crença.
Considerando o importante papel da pesca artesanal para uma comunidade ribeirinha e através dos resultados analisados, observa-se uma situação de fragilidade, quando se refere à estrutura orçamentária e educacional, o que exige providências imediatas a fim de que lhes sejam assegurados o mínimo de conforto e qualidade de vida.
Na cultura da pesca, os significados que essa atividade tem na historia de vida dos pescadores e o valor simbólico de sua representatividade são caracterizados pelas práticas sociais do trabalho e pela elaboração sociocultural que se apresenta na própria comunidade.
Apesar da importância da pesca, essa não é atividade exclusiva da comunidade, pois a maioria dos pescadores realizam trabalhos complementares de renda. Pois só a pesca não seria suficiente para assegurar a sobrevivência da família. A religiosidade dos pescadores é uma característica típica de comunidades tradicionais que vivem em estreita relação com o meio ambiente, extraindo dos recursos naturais sua sobrevivência.
A atividade pesqueira artesanal praticada em Miguel Alves/PI, não é apenas uma forma de obtenção de renda, mas um meio de vida importante que precisa ser preservado, pois relaciona aspectos culturais que são transmitidos ao longo das gerações, contribuindo para a sociedade de forma sustentável.
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1. Bióloga. Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente do Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) – PRODEMA/PRPPG/TROPEN/Universidade Federal do Piauí (UFPI).. Email: kellypolyana@hotmail.com
2. Bióloga. Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente do Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) – PRODEMA/PRPPG/TROPEN/Universidade Federal do Piauí (UFPI). Email: irlaine.vieira@yahoo.com.br
3, Bióloga. Profa do Departamento de Biologia da UFPI e dos Programas de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA/DDMA) /PRODEMA/PRPPG/UFPI. Curadora do Herbário Graziela Barroso (TEPB). Email: rbarros.ufpi@yahoo.com.br