Espacios. Vol. 36 (Nº 12) Año 2015. Pág. 3
Ana Cecilia Magariño PINILLOS 1, Daniela Maimoni de FIGUEIREDO 2, Janielly Carvalho CAMARGO 2, Ibraim Fantin da CRUZ 3.
Recibido: 02/03/15 • Aprobado: 12/04/2015
RESUMO: |
RESUMEN: |
Iniciada na década de 1960, a cienciometria é definida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como a pesquisa quantitativa da produção científica (SPINAK, 1998; FIGUEIRA et al., 1999).Descreve-se também como sendo o estudo dos aspectos quantitativos da ciência enquanto uma disciplina ou atividade econômica.
Como segmento da sociologia da ciência, a cienciometria pode ser aplicada no desenvolvimento de políticas científicas. Desta forma, o objetivo da pesquisa quantitativa é identificar domínios de interesse, onde os assuntos estão concentrados e compreender como e quanto os cientistas se comunicam, para então, disseminar os conhecimentos produzidos, assegurando a conservação de padrões, atribuindo créditos e reconhecimento para aqueles cujos trabalhos têm colaborado para o desenvolvimento das idéias em diferentes campos (MACIAS-CHAPULA, 1998).
Os trabalhos quantitativos da produção científica permitem compreender melhor a amplitude e a origem das pesquisas, elaboradas por pesquisadores em distintas áreas do conhecimento, instituições e países (NORONHA et al., 2000).
Além disso, com as técnicas cienciométricas, por meio de suas ferramentas, como frequência de artigos e citações nas bases de dados indexadas e fator de impacto dos periódicos, é possível medir a quantidade e o impacto das publicações e as relações entre elas. (YAMAMOTO et al., 1999).
Diante deste contexto, a publicaçãodos resultados das pesquisas torna-seum compromisso para os pesquisadores, pois é preciso transformar o resultado de suas pesquisas em informação acessível e compreensível, tanto para comunidade científica quanto para a sociedade em geral, e ainda, se possível, alcançar o reconhecimento por suas pesquisas (MACIAS-CHAPULA, 1998).
Entretanto, na abordagem dos impactos ambientais decorrentes da construção e operacionalização de reservatórios para a geração de energia elétrica, não há pesquisas cienciométricas, apesar da grande importância econômica do setor hidrelétrico no mundo e no Brasil.
O Brasil é classificado como a sétima potência socioeconômica do mundo e encontra-se em acelerado processo de desenvolvimento (BAUMANN, 2010). Um dos principais motivos que permitiu o avanço econômico do país foi o investimento na geração, transmissão e distribuição de energia elétrica (VON SPERLING, 2012). Segundo a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), no ano de 2014 o Brasil possuía 197 reservatórios de usinas hidrelétricas em operação (UHE) e 469 de pequenas centrais hidrelétricas.
A maior parte dos reservatórios é usada para a geração de energia elétrica, necessitando inundar grandes áreas, sendo na maioria dos casos, áreas de interesse biológico, exigindo de forma antecipada a realocação de contingentes de pessoas e animais silvestres (ANEEL, 2012). Em contrapartida, este acúmulo de água permite o desenvolvimento tecnológico, urbano e industrial (AGOSTINHO,et al., 2007). Os reservatórios produzem também outros benefícios socioeconômicos, a saber: provisão de água para consumo e produção de alimentos; regularização da vazão e controle de cheias e secas; geração de empregos; atividades de recreação, esporte, pesca e turismo (TUNDISI e MATSUMURA-TUNDISI, 2003; ARTHINGTON,et al., 2010; POFF, et al., 2010).
Paralelamente, na contramão dos pontos positivos dos reservatórios, observam-se outros pontos negativos devido às alterações na hidrologia e na dinâmica natural dos ecossistemas aquáticos e terrestres (POFF,et al., 1997; AGOSTINHO, et al., 2007), sendo aalteração na vazão de grandes rios um sério risco à integridade ambiental, à manutenção de processos biológicos e a manutenção de algumas espécies (CRAIG, 2000; RICHTER, et al., 2003).
Observa-se neste sentido, uma crescente preocupação quanto aos impactos de barragens e regulação da vazão sobre a biota do rio, especialmente a jusante, com a criação de mais de 200 métodos hidrológicos que visam indicar quantitativamente o quanto podemos mudar o regime de fluxo de um rio antes que o ecossistema aquático entre em desequilíbrio ambiental (POFF,et al., 2010; ARTHINGTON, et al., 2006).
Tais modificações relacionam-se diretamente com a qualidade das águas, representada por suas características físicas, químicas e biológicas. Assim, de acordo com Von Sperling (1996), através do estudo da qualidade das águas pode-se realizar a caracterização ambiental de corpos hídricos, tanto para rios quanto para lagos. Tais estudos podem subsidiar a gestão ambiental, a fim de mitigar os impactos causados pela construção e operação de usinas hidrelétricas.
Diante doexposto, por meio da abordagem cienciométrica, o presente estudo objetiva verificar e caracterizar o desenvolvimento do conhecimento científico mundial sobre a qualidade da água a jusante de barragens.
Para responder ao objetivo geral deste trabalho foram utilizadas as seguintes perguntas: i) Há tendência temporal para a produção científica dos temas abordados? ii) Quais países e continentes produzem mais artigos científicos nessa área? iii) Qual a contribuição do Brasil para esta produção? iv) Quais autores produziram mais informações científicas? v) Quais periódicos mais publicaram informações científicas nessa área? vi) Existe padrão para o número de citações por ano? vii) Qual é a média do fator de impacto dos periódicos?
Para a análise cienciométrica foi criado um banco de dados, e as informações deste banco de dados foram obtidas através de pesquisa realizada na base de dados Scopus (Disponível em: <http://www.scopus.com>).
Para a pesquisa foi utilizado um termo de busca conjugado, em inglês: "water quality" and dams and downstream". Foram usadas aspas ("") para a pesquisa encontrar os termos, apenas quando estivessem associados. Tais palavras estavam presentes pelo menos no título, palavras-chave e/ou resumo dos trabalhos.
Após a busca, foram retirados os seguintes indicadores cienciométricos: número de publicações por ano, países que mais publicaram, continentes que mais publicaram, contribuição do Brasil nas publicações, número de publicações por autor, periódicos que mais publicaram, fator de impacto dos periódicos e número de citações por publicação ao longo dos anos.
O Fator de Impacto de um periódico é determinado pela razão entre o número de citações feitas no anopelo número de artigos publicados nos últimos dois anos(GARFIELD, E., 1999). Este indicador foi procurado fora da base Scopus, através do site BioXBio (www.bioxbio.com), para os anos de 2013 e 2014, que fornece o Fator de Impacto de periódicos científicos. Os que não apareceram nesta base de dados, foram pesquisados nos sites dos próprios periódicos, que contém a informação sobre o seu Fator de Impacto. Vale destacar que foi feito o levantamento deste fator para todos os periódicos que apareceram na pesquisa principal na base Scopus. Para a identificação do país, considerou-se a localização da instituição a qual está ligado o primeiro autor, critério adotado pela Scopus.
Primeiramente, foram usados todos os trabalhos encontrados, não sendo definido um período de pesquisa específico; sendo todos contabilizados independente do ano de publicação, o levantamento foi realizado até setembro de 2014. Posteriormente, foram filtrados apenas artigos publicados em periódicos, os quais também foram restringidos a quatro áreas do conhecimento: Ciências Ambientais, Ciências Agrárias e Biológicas,
Ciências da Terra e Planetárias e Engenharia, direcionando os trabalhos encontrados de acordo com o interesse desta pesquisa.
Usando o termo conjugado de busca "water quality" and dams and downstream" foram encontradas 460 publicações na base SciVerse Scopus até 15 de setembro de 2014. As primeiras publicações ocorreram no ano de 1971 e no Brasil o primeiro registro é datado em 2008. Analisando o comportamento da pesquisa ao longo dos anos foi possível representá-lo em duas fases de crescimento, sendo a primeira uma tendênciade crescimento linear nos anos de 1971 até o ano de 1985, e a segunda de 1987 a 2014 com tendência de crescimento exponencial (Figura 1).
Figura 1. Frequência acumulada do número de publicações por ano, para o termo conjugado de busca "water quality" and dams and downstream"; na base Scopus até setembro de 2014.
Na totalidade de 58 países, os que mais se destacaram em número de publicações foram os Estados Unidos (133 trabalhos), seguido da China (40 trabalhos), Austrália (27 trabalhos), França (19 trabalhos) e Canadá (17 trabalhos). O Brasil apresentou 1,9% (9 trabalhos) do total de publicações.
Com relação aos tipos de documentos publicados, o maior percentual está na forma de artigos (62%) e anais de conferência (23%), os quais totalizaram 85%. Os outros 15% referem-se a publicações indefinidas, revisão, artigos no prelo, capítulos de livro e livro (Figura 2).
Figura 2. Tipos de publicações dos trabalhos para o termo conjugado de busca "water quality"
and dams and downstream"; na base Scopus até setembro de 2014.
Tais trabalhos estão distribuídos em 22 áreas do conhecimento, sendo as mais significativas: Ciências Ambientais, Ciências Agrárias e Biológicas, Ciências da Terra e Planetárias e Engenharia, com 87,3%. Entre as menos significativas estiveram às subáreas Ciências Sociais, Medicina, Energia e outras, totalizando 12,7% (Figura 3).
Figura 3. Subáreas de estudo das publicações, para o termo conjugado de busca "water quality"
and dams and downstream", na base Scopus até setembro de 2014.
Cenário nacional e internacional das pesquisas sobre ¨qualidade de água a jusante de barragens¨, considerando apenas artigos e quatro subáreas de estudo.
Com o termo conjugado de busca foi possivel identificar um total de 277 publicações , até 15 de setembro de 2014, para as áreas Ciências Ambientais, Ciências Agrárias e Biológicas, Ciências da Terra e Planetárias e Engenharia, considerando somente os artigos.
A primeira publicação para os artigos destas áreas do conhecimento ocorreu no ano de 1984, e a partir dessa data, tais publicações apresentaram umatendência de crescimento exponencial (Figura 4), com uma pequena queda no ano de 2014, uma vez que esta pesquisa foi finalizada no mês de setembro deste ano. Considerando apenas artigos eas quatro subáreas, foi possível perceber que estas publicações assumiram um padrão de crescimento distintodas pesquisas que consideraram todos os tipos de documentos e subáreas, onde foi observado um padrão de crescimento linear entre os anos de 1971 até 1984, com tendência de crescimento exponencial após este período.
Figura 4. Frequência acumulada das publicações por ano, para o termo conjugado de busca "water quality"
and dams and downstream"; na base Scopus até setembro de 2014.
De um total de 54 países com trabalhos publicados, os países com maior quantidade de publicações registradas foram os Estados Unidos (71 trabalhos), seguido da China (28 trabalhos) e Autrália (21 trabalhos) (Figura 5). O Brasil (7 trabalhos) aparece em 13º lugar, dos quais três (3) foram publicados pela Universidade Federal de Minas Gerais e os outros quatro (4) cada um pelas instituições Universidade Estadual Paulista, Prefeitura Municipal de Fortaleza, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e Universidade de São Paulo.
Os estados de São Paulo e Minas Gerais são detentores da vanguarda da gestão de recursos hídricos, possuindo a maior quantidade de Comitês de Bacia do Brasil, com 22 e 17 , respectivamente (CARDOSO, 2003), corroborando com os resultados encontrados, onde cinco (5) dos sete (7) artigos são provenientes destes Estados. Outro fator que pode ter contribuído é que nestes Estados se concentra uma grande quantidade de reservatórios, sendo que em São Paulo existem 33 usinas hidrelétricas em funcionamento e 38 pequenas centrais hidrelétricas e em Minas Gerais 32 UHEs e 100 PCHs, perfazendo em ambos os Estados um total de 34,5 % de UHEs e 29,4 % das PCHs do Brasil (EPE, 2013; ANEEL, 2014).
Vale ainda mencionar que os mais antigos reservatórios do país estão nestes Estados, especificamente a Usina de Marmelos no rio Paraibuna, que começou a operar em 1889 no Estado de Minas Gerais, sendo a mais antiga do país. É possível que no Brasil tenham mais estudos sobre qualidade da água a jusante de reservatórios, porém não estão indexados na base Scopus ou compõe livros e capítulos de livro.
Os estudos no mundo, a respeito das questões relacionadas à qualidade da água a jusante de barragens decorrentes de empreendimentos de grande potencial modificador do meio ambiente, começaram na década de 80, considerando o cenário mundial, os Estados Unidos foi precursor ao desenvolver um sistema de Avaliação de Impacto Ambiental (EIA). Neste período a consciência social para as questões ambientais nos EUA atingiu proporções elevadas e promoveu o crescimento de movimentos pró-ambientalistas na última metade de 1960. Com estes meios sociais, a Politica Nacional do Meio Ambiente (1969) dos Estados Unidos (NEPA) foi constituída e pela primeira vez, foi considerado o EIA em grandes projetos construtivos geradores de impacto ambiental (BURNIE, 2007). A influência da NEPA provocou a introdução da política EIA em muitos países da Europa e Ásia, sendo que vários países começaram a fornecer sistemas metodológicos de AIA; por exemplo, a Austrália (1974), Tailândia (1975), França (1976), Filipinas (1978), Israel (1981) e no Paquistão (1983) (SABBAGH, 2011).
Porém, no Brasil as pesquisas de qualidade da água a jusante de barragens iniciaram apenas em 2008; havendo uma grande lacuna de produção científica ligada a este tema em relação à produção mundial, entretanto já na décadade 80 no Brasil as questões ambientais começaram a ganhar força e requerer normas, leis e regulamentos que disciplinassem a construção de empreendimentos que produzissem impactos ambientais. Foi criado o Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, que em 1986 promulgou a Resolução n˚ 001 que exigia o estudo de impacto ambiental (EIA) e seu respectivo relatório (RIMA), como parte integrante do processo de licenciamento ambiental. Em 1987, a Resolução CONAMA n˚006/87 criou regras específicas para o licenciamento ambiental de empreendimentos de grande porte, como as de geração e transmissão de energia elétrica. (BRASIL, 1986).
Com a construção deste arcabouço jurídico e o fortalecimento dos conceitos qualitativos e quantitativos de conservação e preservação ambiental, para a implantação e a operação de usinas hidrelétricas no mundo deveria ter ocorrido um incremento de pesquisas científicas sobre seus impactos, especificamente a jusante, onde são mais elevados os impactos, que pudessem nortear os aspectos metodológicos de EIAs e subsidiar a gestão ambiental de hidrelétricas. Tal fato, porém, não foi verificado quando comparado o período de expansão energética e a criação de instrumentos legais ambientais com a realização de pesquisas destinadas a tal assunto. No mundo, as pesquisas sobre o impacto a jusante de barragens, mesmo tendo iniciado em 1989, só começaram a se expandir a partir de 1994, e no Brasil, somente a partir de 2008 foram realizados os primeiros estudos indexados.
Quanto as instituições com maior quantidade de publicações no mundo foram United States Geological Survey (10 trabalhos) e Chinese Academy of Sciences (6 trabalhos), americana e chinesa, respectivamente.Os resultados encontrados mostram que nas últimas três décadas a literatura científica mundial sobre a qualidade da água a jusante de barragens se desenvolveu intensamente ao redor do mundo, em especial nos países Estados Unidos e China (Figura 5). Os Estados Unidos tiveram as suas primeiras publicações no ano de 1984 e a China teve a sua primeira publicação indexada em 2004, ou seja, começou a divulgar seus estudos após 30 anos em relação aos EUA, o que leva a crer que em poucos anos pode ultrapassar o número de publicações do outro país. É provável que a China tenha estudos anteriores a esta data, porém não indexados na base de dados Scopus e possivelmente publicados em seu idioma.
O aumento desses estudos provavelmente foram fortemente influenciados por dois fatores: a questão energética e o desenvolvimento científico, por meio de grandes instituições de pesquisas nestes dois países, em especial nos Estados Unidos e, mais recentemente, na China.
No primeiro caso, a hidroeletricidade é uma das maiores fontes de energia renovável dos dois países (EPE, 2014). Nos últimos cinco anos, com destaque para 2012, os Estados Unidos e China posicionavam-se entre os 10 maiores países com capacidade instalada de geração hidroelétrica no mundo (3º e 1º lugares, respectivamente).
No Brasil, entre os anos de 1978 e 1989, a oferta de energia por meio das hidrelétricas cresceu de 8% para 13% e, diferentemente de outros países do mundo, onde o ápice de construção de reservatórios hidrelétricos foi nos anos 60, nos países da América do Sul e Central, tal início se deu na década de 70, com pico nos anos 80 (AVAKIAN e IAKOVLEVA, 1998).
Com relação à difusão do conhecimento científico, segundo Jappe (2007), a atividade científica ainda é altamente concentrada por uma pequena porção dos países desenvolvidos economicamente, como é o caso dos dois países citados, refletindo o grau de investimento financeiro em infraestrutura, equipamentos e remuneração dos pesquisadores para o desenvolvimento da ciência local (HOLMGREN e SCHNITZER,2004).
Figura 5. Número de publicações por país, usando o termo conjugado de busca "water quality"
and dams and downstream"; na base Scopus até setembro de 2014.
Porém, considerando o cenário brasileiro, tal situação não é verificada, apesar do país ser o 2º país do mundo em capacidade instalada de energia por meio de hidrelétricas (EPE, 2014). A construção e operacionalização de reservatórios destinados ao setor elétrico no país não foi acompanhado proporcionalmente pelo número de estudos sobre qualidade de água a jusante dos reservatórios ao longo dos anos, com apenas 7 artigos publicados.
Segundo dados da FAPESP (ZORZETTO, R.2014), o investimento na produção científica estacionou nos últimos anos na faixa de 1,16% do produto interno bruto (PIB), que em 2012 foi de US$ 2,2 trilhões, enquanto na China esse investimento continua aumentando. Segundo dados do Banco Mundial, a China aplicou em 2012 quase 2% do seu PIB, US$ 8,3 trilhões, em ciência e tecnologia. Tal resultado coloca o Brasil na 14ª posição do ranking de produção científica mundial (RIGUETTI, 2013).
Em contrapartida, segundo dados do Ministério de Minas e Energia a expansão da geração hidrelétrica no Brasil aponta a entrada em operação de 48 novas usinas hidrelétricas nos próximos dez anos (MME, 2012). Cabe desta forma, incentivar os estudos voltados para qualidade de água à jusante de barragens devido ao grande potencial mencionado e aos impactos qualitativos que tais empreendimentos produzem no ecossistema aquático.
Os continentes que mais publicaram foram Europa, Ásia, África, América e Oceania. Analisando as publicações restritas ao continente Europeu, tem-se 33,3% das publicações, o Asiático 29,6%, o Africano 20,4 % e o Americano 13%. Tais resultados estão em consonância com vários autores que demonstraram que a América do Norte e a Europa lideram anualmente a produção de informações científicas em todo mundo (HOLMGREN E SCHNITZER, 2004; KING, 2004).
Levando em conta que os países com maior quantidade de publicações são Estados Unidos e China, é possível perceber que apesar do seu número relevante de trabalhos o seu esforço científico não é acompanhado pelos países dos seus respectivos continentes. Havendo destaque para o continente Europeu, onde 19 países produziram conhecimento científico nessa área (Figura 6).
Considerando os continentes, a capacidade instalada de geração elétrica e a geração elétrica em primeiro lugar está na Ásia e Oceania, seguido da América do Norte Europa, América do Sul e Central e África (EPE, 2014).
Figura 6. Número de publicações por continentes, usando o termo conjugado de busca"water quality"
and dams and downstream"; na base Scopus até setembro de 2014.
Os artigos encontrados foram publicados em 153 periódicos, conforme a Figura 8, que mostra os vinte periódicos com maior número de artigos, entre eles os que mais publicaram foram Water SA. (9 trabalhos), seguido de Water Science and Technology e Hidrobiologia (8 trabalhos cada), com fatores de impacto 0.809, 1.212 e 2.212, respectivamente. A revista que apresentou o maior fator de impacto foi Environmental Science and Technology com 5.481, na qual foram publicados dois trabalhos, seguida de Diversity and Distributions com 5.469 com um trabalho publicado. Já 26,14% dos periódicos não apresentaram fator de impacto. O mesmo é usado para avaliar os periódicos quanto a sua importância e relevância no mundo científico. Devido a isso tal informação é importante para ajudar na escolha do periódico que o pesquisador pretende publicar.
Figura 7. Periódicos Científicos que mais publicaram para o termo conjugado de busca "water quality"
and dams and downstream"; na base Scopus até setembro de 2014.
Para classificar o fator de impacto dos periódicos, foi encontrada uma mediana de 1.121, o primeiro e o terceiro quartil estão entre 0.266 e 2.212, com os limites entre quatro e cinco. Tais resultados mostram que os trabalhos nessa área estão sendo publicados em periódicos com um bom fator de impacto. Isso pode ser pela importância do tema e complexidade dos trabalhos que são publicados em revistas com alta visibilidade.
As publicações tiveram um total de 159 autores, contando também as coautorias, sendo que o autor que mais publicou foi Penczak, T. (5 trabalhos), seguido por Xia, J. (4 trabalhos). Já o autor brasileiro que mais publicou foi Callisto, M. (2 trabalhos), pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais, que trabalha com ecologia de macroinvertebrados bentônicos como indicadores de qualidade de água (Tabela I).
Tabela1. Principais autores que mais publicaram e foram citados para o termo conjugado
de busca"water quality" and dams and downstream"; na base Scopus até setembro de 2014.
A tabela 1 mostra os 6 autores com maior quantidade de trabalhos e a quantidade de citações que tiveram nos mesmos. Porém tal informação não corrobora com os resultados que mostram que os autores que mais publicam, não são os mais citados, havendo assim trabalhos com 117, 87, 81 e 71 citaçãoes.
Figura 8. Número de citações para o termo conjugado de busca"water quality"
and dams and downstream"; na base Scopus até setembro de 2014.
Em relação ao número de citações por ano (Figura 8), é possível perceber que os artigos mais antigos possuem um menor índice de citação, provavelmente devido à necessidade dos pesquisadores de obterem informações mais recentes para o seu estudo. Após 1997 houve um aumento no número de citações, as quais começaram a diminuir novamente até no ano de 2010. Havendo um padrão é inverso, pois normalmente os artigos mais antigos tendem a ser mais citados do que os artigos mais recentes (Carneiro et al.2008).
Em síntese, no presente estudo cienciométrico, foram obtidos os seguintes resultados: Para o termo de busca "water quality" and dams and downstream" foram encontradas 460 publicações. Já para as áreas de Ciências Ambientais, Ciências Agráriase Biológicas, Ciências da Terra e Planetárias e Engenharia e somente para artigos, houve um total de 277 publicações.
Os Estados Unidos (71 trabalhos) e China (28 trabalhos) foram os países com maior número de publicações e no Brasil os estados com maior número de publicações foram São Paulo e Minas Gerais. No mundo os estudos começaram na década de 1980, com aumento expressivo somente a partir de 1994, porém no Brasil os estudos começaram apenas em 2008.
Os resultados acima não deixam dúvidas à importância relevância de artigos indexados em bases de dados, como é o caso da Scopus, uma das mais importantes bases de dados existente atualmente, pois seus artigos tem uma abrangência internacional muito ampla, levando o conhecimento científico a ultrapassar fronteiras.
Dos trabalhos encontrados, foi possível ter uma ideia muito clara do cenário científico a respeito do assunto tratado, demonstrando a importância que os rios barrados têm na comunidade científica, devido às alterações que provocam no ambiente aquático, especificamente na qualidade da água. Levando em conta a importância deste trabalho por ser o primeiro levantamento cienciométrico tratando desse tema.
Porém, toda informação existente não foi contemplada no estudo, e realmente isso era de se esperar, pois há uma grande quantidade de revistas e livros publicados que não são indexados a esta base de dados. Eles podem conter informações científicas de grande relevância, as quais não tem abrangência mundial, porém tem uma grande importância em nível regional, tanto em relação ao conteúdo, que geralmente se refere a estudos localizados e de interesse de uma dada região, quanto por serem mais acessíveis e fazerem uso do idiomalocal, facilitando a compressão e levando muitas vezes a aplicação dos resultados obtidos em problemas locais.
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1. Mestranda em Recursos Hídricos da Universidade Federal do Mato Grosso (ana_kubana@hotmail.com). Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.
2. Profª. Drª. Colaboradora do Mestrado de Recursos Hídricos da Universidade Federal do Mato Grosso. Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.
3. Profº. Dr.do Mestrado de Recursos Hídricos da Universidade Federal do Mato Grosso. Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.