Espacios. Vol. 36 (Nº 08) Año 2015. Pág. 11

Avaliação da segurança e saúde no trabalho de operadores de motosserra na região dos Campos Gerais no estado do Paraná-Brasil

Evaluation of health and safety at work chain saw operators in the region of Campos Gerais in state of Paraná

Samuel HECK JUNIOR 1; Laércio Pereira de OLIVEIRA 2

Recibido: 06/01/15 • Aprobado: 23/02/2015


Contenido

1. Introdução

2. Desenvolvimento

3. Materiais e Métodos

4. Conclusões

5. Referências


RESUMO:
O presente artigo tem por finalidade avaliar as condições de segurança e saúde no trabalho a que estão sujeitos os trabalhadores que atuam na colheita florestal semi mecanizada com motosserras em áreas de plantio de Eucalyptus spp. localizados em terrenos considerados forte ondulados (declividades entre 20 e 45%) a fim de obter material para o abastecimento manual de fornalhas para secagem de grãos e geração de vapor em uma cooperativa agrícola na região dos Campos Gerais no estado do Paraná. Foram coletadas informações de 30 trabalhadores entre operadores de motosserras e ajudantes, a fim de se caracterizar as condições de segurança do trabalho. A empresa que realizava a colheita florestal era terceirizada e os trabalhadores registrados em carteira. O corte era realizado no regime raso, com traçamento realizado em toretes de 1,20 m de comprimento. A derrubada é, segundo os trabalhadores, a etapa mais perigosa da colheita florestal. A falta de atenção no momento do abate das árvores é apontada com 37% da opinião dos trabalhadores, como a principal causa da ocorrência de acidentes, e ainda 100% dos trabalhadores entrevistados afirmam acreditar que os equipamentos de proteção individual não são suficientes para evitar acidentes. Dores nas costas/ lombares durante a atividade são as mais comuns a 83% dos trabalhadores e para 6% se estendem após o término da jornada de trabalho de forma contínua.
Palavras chave: Motosserra, acidentes do trabalho, colheita florestal.

ABSTRACT:
This article aims to evaluate the work safety and health of workers in semi mechanized forest harvesting activities with chainsaws in Eucalyptus spp plantations, located on strong corrugated lands (slopes between 20 and 45%) in order to obtain material for manual furnaces supply for grain drying and steam generation in an agricultural cooperative in the Region of Campos Gerais in the State of Paraná. Information was collected from 30 workers among chainsaw operators and helpers, in order to characterize the conditions of work safety. The company that performed the harvesting was outsourced and the workers registered in the portfolio. The cut was held in the clearcut regime with tracing performed in small logs 1.20 m long. The overthrow is, according to workers, the most dangerous stage of harvesting. The lack of attention at the time of felling is identified with 37% of the opinion of workers as the main cause of accidents, and even 100% of the workers interviewed said they believe that personal protective equipments are not enough to prevent accidents. Back pain / lower back during activity are the most common at 83% of workers and for 6% extend until the end of the working day continuously.
Key-words: chainsaw, occupational accidents, forest harvesting.

1. Introdução

O setor florestal caracteriza-se por uma série de atividades relacionadas a operações que envolvem a utilização de mão de obra humana, que exigem grande esforço do trabalhador para sua realização.

Muitas empresas de base florestal têm suas atividades de colheita florestal baseadas em sistemas de metas de produção. Estas metas muitas vezes são estabelecidas sem um estudo aprofundado das operações, que deveria prever estudos ergonômicos e o próprio planejamento das atividades. Consequentemente, há maior esforço do trabalhador, causando fadiga, desconforto e problemas de saúde, levando o trabalhador a uma menor concentração, aumentando os índices de acidentes de trabalho, perda de produtividade, de eficiência e de qualidade na operação.

As florestas comerciais caracterizam-se na maioria das vezes por serem constituídas de espécies exóticas, cultivadas com técnicas de preparo de solo, plantio, manutenção e manejo pré-estabelecidos, visando alta produtividade e qualidade, geralmente obedecendo a um espaçamento previamente estabelecido de acordo com a finalidade pretendida para o produto final.

Um dos principais equipamentos utilizados na colheita florestal e em atividades rurais é a motosserra. Em operações de abate e processamento de árvores e outros serviços, caracteriza uma fonte potencial de riscos de acidentes de trabalho que é responsável por graves acidentes e doenças ocupacionais com afastamento do trabalhador.

Buscando minimizar a incidência de acidentes com este equipamento essencial ao desenvolvimento do setor e responsável por grande eficiência operacional e produtividade, busca-se avaliar os riscos, aos quais um operador está exposto na atividade de colheita florestal em um plantio florestal comercial.

2. Desenvolvimento

2.1 Colheita Florestal        

A colheita florestal pode ser caracterizada como a atividade final realizada no ciclo de uma floresta comercial. Na prática ela se resume ao abate (derrubada), desgalhamento, traçamento, extração ou baldeio, carregamento e o transporte da madeira, podendo ser acrescentadas ou subtraídas algumas etapas de acordo com o sistema adotado ou a destinação desta madeira. Em suma, esta atividade consiste no planejamento e execução de ações para a retirada da madeira no campo para ser destinada a múltiplos usos, podendo ser aproveitada para a produção de multiprodutos visando atender a um mercado consumidor.

O planejamento e a execução da colheita florestal são complexos devido ao alto índice de fatores que se relacionam isoladamente ou em conjunto na realização da atividade. O conhecimento destes fatores é de grande importância para o estabelecimento de eficientes práticas operacionais que obedeçam a critérios pré-estabelecidos de produtividade e qualidade. Alguns destes fatores estão relacionados à ergonomia (características como a do ambiente de trabalho, características das máquinas e equipamentos, segurança, alimentação, treinamento) na realização das atividades que compõem a operação.

Na Colheita Florestal são utilizados métodos manuais ou semi mecanizados, demandando grande quantidade de implementos e máquinas, e que requerem grande contingente de mão de obra, geralmente exposta a desfavoráveis condições ambientais, necessitando grande esforço físico, adoção de posturas inadequadas e cargas acima dos limites recomendados em atividades de elevado esforço físico. (FIEDLER et al., 1998).

Os sistemas de colheita florestal são divididos em três tipos principais, porém podem ser combinados entre si:

  1. Manual: consiste na utilização de técnicas e ferramentas totalmente manuais como foices, serrotes, machados, etc, para a realização da atividade. Devido ao seu baixo rendimento operacional, estas técnicas e ferramentas não são utilizadas hoje em dia, salvo algumas condições em que se tornam estritamente necessárias.
  2. Semi mecanizadas: são as técnicas mais utilizadas hoje em dia na colheita florestal, pois apresentam bom rendimento, podendo ser utilizadas em terrenos acidentados a um custo relativamente baixo. As técnicas consistem no uso de máquinas que necessitam de operadores treinados para seu manuseio. A principal máquina utilizada é a motosserra e também é a que oferece maior risco de acidentes de trabalho se não forem utilizadas as técnicas corretas de seu manuseio.
  3. Mecanizadas: consiste no emprego de grandes máquinas e de alto rendimento, as quais se caracterizam por operações em que não há nenhum contato do operador com as árvores.

2.2 Motosserra

Obrigatoriamente operada pelo homem, a motosserra caracteriza-se como uma das máquinas utilizadas na área rural que oferece maior risco ao operador, porém os benefícios relativos a seu alto rendimento operacional são inegáveis.

A motosserra é classificada como uma ferramenta acionada por motor a gasolina de empunhadura manual utilizada principalmente para corte e poda de árvores (SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO, 2013). Existem várias exigências legais para este sistema de exploração, como treinamento do operador da motosserra, registro da mesma junto ao IBAMA, equipamentos de segurança na motosserra e equipamentos de segurança para o operador (EPI), etc (RODRIGUES, 2004).

Apesar da modernização e avanço da tecnologia no setor florestal com a utilização de máquinas sofisticadas de grande rendimento, a motosserra ainda predomina na maioria das empresas de pequeno e médio porte, e é uma ferramenta de alto risco e que exige do trabalhador grande esforço físico, entretanto a maioria dos acidentes ocorre por falta de treinamento dos operadores e utilização de técnicas corretas.

Segundo o Anexo V - NR 12 Segurança do Trabalho em Máquinas e Equipamentos, as motosserras devem dispor dos seguintes dispositivos de segurança:

  1. Freio manual ou automático de corrente: interrompe o giro da corrente, acionado pela mão esquerda do operador;
  2. Pino pega-corrente: reduz o curso da corrente em caso de rompimento, evitando que atinja o operador;
  3. Protetor da mão direita: proteção traseira que evita que a corrente atinja a mão do operador em caso de rompimento;
  4. Protetor da mão esquerda: impede que a mão esquerda do operador alcance involuntariamente a corrente durante a operação de corte;
  5. Trava de segurança do acelerador: impede a aceleração involuntária.

Ainda prevê que os fabricantes e importadores de motosserras devem em caráter obrigatório fornecer informações relativas à segurança e saúde no trabalho e informar nos catálogos e manuais de instruções de todos os modelos, os riscos a segurança e a saúde durante seu manuseio, advertência sobre o uso inadequado e especificações sobre os níveis de ruído e vibração e a metodologia utilizada para a referida medição.

A manutenção do equipamento é de vital importância para a diminuição de riscos de acidentes. Manutenções preventivas programadas devem ser realizadas a cada início de turno, observando todos os componentes que fazem parte do equipamento.

2.3 Riscos na atividade

O ambiente de trabalho de um operador de motosserra é sem dúvida um ambiente insalubre, mesmo em florestas plantadas onde há todo um planejamento envolvido na atividade. De acordo com Rodrigues (2004) nestes locais o operador está exposto diretamente aos riscos físicos (ruído e vibração), riscos químicos (gases), riscos biológicos (fungos, parasitas e bactérias), riscos ergonômicos (esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, postura inadequada, ritmos excessivos, jornada de trabalho prolongada, repetitividade) e riscos de acidentes (animais peçonhentos, quedas de galhos). Sendo que os riscos físicos, ergonômicos e de acidentes são os principais.

Muitos dos riscos a que são submetidos os trabalhadores na colheita florestal são agravados por intempéries climáticas como, por exemplo, ventos ocasionando mudanças bruscas na direção de tendência de queda, neblina que prejudica na visibilidade, calor ocasionando rápida desidratação do trabalhador agravado pelos materiais com que são desenvolvidos os EPIs principalmente a calça de motosserrista, umidade ocasionada por condensação podendo diminuir aderência das botas de segurança ao terreno, podendo acarretar em escorregões durante o manuseio do equipamento aumentando a chance de ocorrer um acidente.

No manuseio da motosserra, destacam-se  como os principais riscos a integridade física do trabalhador:

  1. Contatos com a corrente (que podem ocorrer quando a motosserra é transportada em funcionamento, durante a ignição, ou durante o manuseio em geral da motosserra);
  2. Projeção de partículas (cavacos, terra) no momento do corte das árvores ou traçamento das toras, que são capazes de ocasionar lesões ao operador;
  3. Vibrações transmitidas a mãos e braços do operador que são produzidas pelo motor e pela corrente da motosserra, e que  podem causar graves danos fisiológicos ao operador;
  4. Ruído excessivo, podendo ocasionar surdez do operador, conforme exposição diária ao mesmo;
  5. e) Temperatura elevada do escapamento, podendo ocasionar queimaduras nos braços ou mãos do operador;
  6. Quebra de corrente ocasionada pelo desgaste dos rebites ou da ruptura dos elos de união, provocando lesões no operador, quando não protegido adequadamente (FUNDACENTRO, 2000).

2.4 Equipamentos de Proteção Individual (EPI's)

O corte de uma árvore é considerado uma atividade perigosa, pois qualquer erro no direcionamento da queda da árvore pode resultar em graves acidentes ou até mesmo na morte do operador, ao seu ajudante ou aos colegas que estiverem por perto. O risco pode ser ainda maior quando ocorrem cipós, galhos e sub-bosque intenso (MELLO; MALINOVSKI, 2002).

Segundo Mello e Malinovski (2002) os dispositivos de segurança da motosserra, por si só, não garantem a segurança do operador. É preciso que ele utilize os equipamentos de proteção individual (EPI's): capacete, protetores auriculares, protetor facial, calça de segurança e botas com biqueira de aço e solado antiderrapante. Além disso, é necessário que ocorra o treinamento dos operadores, abrangendo técnicas de operação, manutenção e segurança no trabalho; observância de distância de segurança entre um operador e outro, para evitar a queda de árvores sobre alguém. É importante que haja sinalização nos limites e nas proximidades do talhão, disponibilidade de material de primeiros socorros, veículos para locomoção de feridos na área de corte e meios de comunicação eficientes na floresta.

A empresa é obrigada a fornecer aos trabalhadores, gratuitamente, EPI adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento conforme as disposições contidas na NR-6- Equipamentos de Proteção individual (SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO, 2013).

2.5 Fatores ergonômicos

A observação das melhores condições ergonômicas é de vital importância quando se pretende realizar a colheita de um sítio de produção florestal. Os danos, tanto materiais quanto pessoais, podem ser evitados desde que seja feito o controle das atividades de exploração, de conscientização e de treinamento de operadores.

Segundo Wisner (1994) a ergonomia reduz custos e danos à saúde e melhora a qualidade de vida dos trabalhadores, contribuindo para o bem estar e satisfação beneficiando o empregado e o empregador, conservando a integridade mental e física e melhorando as condições de trabalho e de segurança, diminuindo assim o número de trabalhadores afastados em consequência dos problemas advindos das condições inadequadas de trabalho, aumentando o rendimento e a produtividade.

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é uma intervenção, no ambiente de trabalho, para análise dos desdobramentos e consequências físicas e psicofisiológicas, decorrentes da atividade laboral. Ante a este cenário a Análise Ergonômica do Trabalho caracteriza-se como alternativa viável para a melhoria do ambiente laboral, buscando reduzir fatores que oferecem risco à saúde do trabalhador. (SANCHES, 2012)

2.6 Acidentes de trabalho com motosserra

De acordo com o Art. 19 da lei 8.213/91, acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. (BRASIL, 1991)

Haselgruber e Grieffenhagen (1989)destacam que em torno 80% dos acidentes com operadores de motosserra têm origem em falhas humanas e 20% são provenientes de causas mecânicas. As partes do corpo mais atingidas são: pernas (30%), braços (25%), cabeça (20%), pés (13%) e tronco (12%). Fenner (1991)realizando levantamento buscando estudar a qual parte do corpo pertence a maior incidência de acidentes com a motosserra em áreas de derrubada e traçamento de Eucalyptus spp., destacou os seguintes valores: pernas (37%), pé (15%), tronco (15%), cabeça (12%), mãos (11%) e braços (10%).

Com a aplicação de diretrizes dos conteúdos relacionados a ergonomia, pode-se reduzir os prejuízos diretos e indiretos sobre a saúde e o bem-estar do trabalhador, buscando assim melhorias na eficiência operacional buscando o bem do trabalhador e fazendo com que a adaptação ergonômica potencialize o rendimento da operação. (LANDI, 2012).

3. Materiais e Métodos

A coleta de dados foi iniciada em junho de 2014 e concluída em julho de 2014, tendo sido realizada em plantios de Eucalyptus spp., nas áreas consideradas fortemente onduladas de uma cooperativa agropecuária região dos Campo Gerais no estado do Paraná.

A colheita florestal era integralmente terceirizada. A equipe de campo era formada por um encarregado de equipe, um motorista do ônibus, tratoristas e ajudantes, operadores de motosserra e ajudantes. Foram coletadas informações de 15 operadores de motosserra e 15 ajudantes, que correspondia a 100% dos operadores de motosserra da empresa terceirizada.

3.1 Área de estudo

A coleta de dados foi realizada nas áreas florestais de uma cooperativa agrícola dos Campos Gerais no estado do Paraná, em plantios comerciais de Eucalyptus spp, em regime de corte raso, localizados em terrenos com relevo forte ondulado (declividades entre 20 e 45%), geralmente onde não é possível a condução de culturas agrícolas. A espécie predominante foi a Eucalyptus Dunnii.

A área de estudo é pertencente à região dos Campos Gerais no estado do Paraná cujo clima é classificado Cfb da classificação de Köppen: Clima Subtropical Úmido (Mesotérmico), com média do mês mais quente inferior a 22ºC e do mês mais frio inferior a 18ºC, sem estação seca, verão brando e geadas severas, demasiadamente frequentes. Distribui-se pelas terras mais altas dos planaltos e das áreas serranas (Planaltos de Curitiba, Campos Gerais, Guarapuava, Palmas, etc). Precipitação de 1.100 a 2.000 mm. As temperaturas médias anuais oscilam em torno de 17 °C e a pluviosidade alcança cerca de 1.200mm anuais.  

Durante o tempo da coleta de dados foram observados os trabalhadores em seus postos de trabalho e cedido um tempo após o horário de almoço, o qual foi solicitado e prontamente atendido por parte da empresa, não havendo interferência no horário de almoço dos trabalhadores, buscando assim atingir ao máximo a atenção dos trabalhadores em relação ao preenchimento do questionário. Os trabalhadores foram atentados sobre o objetivo da pesquisa, a importância de serem honestos ao questionário e que se tratava de um levantamento anônimo. O questionário foi lido pelo entrevistador, explanado sobre oque se tratava cada item e preenchido simultaneamente pelos trabalhadores, questão a questão.

3.2 Método de colheita florestal

A empresa que realiza a colheita florestal é uma empresa terceirizada, que utiliza a técnica de corte raso, semi mecanizado, mediante uso de motosserras profissionais, equipadas com sabre de 37 cm de comprimento, efetuando a derrubada, traçamento e empilhamento no sistema 1 + 1 (operador e ajudante). As duplas iniciam as atividades após o primeiro abastecimento e afiação da corrente da motosserra, as duplas são dispostas de forma que haja um limite de segurança entre elas, são colhidos eitos de 5 ou 6 linhas intercalados pela mesma distancia entre uma dupla e outra. O primeiro empilhamento da lenha é realizado pelo ajudante que dispõe as pilhas no interior do talhão, em seguida o baldeio é realizado por trator auto carregável ou trator com carreta com carregamento manual sendo disposta a lenha empilhada nas bordas de ramais e estradas principais a fim de que caminhões possam realizar o transporte final até o pátio da cooperativa. O carregamento nos caminhões também é realizado de forma manual.

O comprimento dos toretes é de 1,20 m, comumente chamado de "metrinho" em virtude das dimensões das fornalhas utilizadas para a secagem de grãos e caldeiras de vapor. O espaçamento de plantio predominante é de 3 x 2 m, e a idade do plantio no momento do corte varia entre 6 e 7 anos. O horário de trabalho é de 07h30min às 17h20min, de 2ª a 6ª feira, com intervalo de uma hora para almoço, das 12 às 13 horas. Ou seja, a jornada de trabalho semanal é de 44 horas, incluindo o tempo de transporte.

O local onde os trabalhadores fazem suas refeições é preparado nas bordas das estradas, denominado área de vivência, na qual é montada uma barraca tendo a disposição dos trabalhadores bancos, mesa, galão com água potável e sabão para higienização de mãos, e banheiro móvel. O transporte dos operadores de motosserra da sede da Empresa até o campo é feito em ônibus particular, com 45 lugares. O ônibus transporta, ainda, em caixas adaptadas no porta-malas as motosserras, machados e combustíveis.

Todos os operadores e ajudantes receberam treinamento de 40 horas na operação e manutenção de motosserras para o corte de árvores.

3.3 Produtividade no trabalho

A produtividade individual, obtida a partir de dados históricos, variou de 20 m³/dia a 30 m³/dia, sendo a média de 26 m³/dia, para uma jornada de trabalho de oito horas por dia.

3.4 Perfil dos trabalhadores

A média de idade dos trabalhadores é de 29,6 anos e 65% são casados/união estável e possuem em média 02 filhos.

A escolaridade varia com 30% dos trabalhadores possuem ensino fundamental completo, 48% com ensino fundamental incompleto e 22% sem escolaridade.

3.5 Segurança no trabalho

De acordo com o questionário, todos os trabalhadores julgam necessária a utilização dos equipamentos de proteção individual.

A derrubada das árvores é o momento mais perigoso na opinião de todos trabalhadores entrevistados, tanto operadores de motosserra quanto ajudantes.

Em relação aos ajudantes oque comumente mais ocorre é o esmagamento de dedos da mão no momento das manobras manuais para o empilhamento da lenha no interior do talhão e que conforme relatado verbalmente pelos trabalhadores, muitas das vezes não é considerado grave e o dado passa despercebido.

A tabela 1 demonstra que o capacete de motosserrista com viseira é, segundo os trabalhadores o equipamento de proteção individual que causa maior incômodo em sua utilização, seguido do protetor auricular.

 

Equipamentos de proteção individual

Relatam incomodo na utilização

Capacete motosserrista com viseira

Protetor auricular

Nenhum relato

Total

41%

15%

44%

100%

Fonte: Heck Junior (2014)

Tabela 1- Equipamentos de proteção individual que causam incômodo em sua utilização.

3.6 Acidentes de trabalho

Todos os trabalhadores afirmaram que o uso de equipamentos de proteção individual já evitou a ocorrência de acidentes, lesões, ataque de animais peçonhentos ou de serem atingidos por partículas em algum momento de sua permanência na atividade de colheita florestal, mas afirmam que em sua opinião os equipamentos de proteção individual por si só não são suficientes para evitar acidentes.

Foram elencados alguns possíveis motivos da ocorrência dos acidentes com a motosserra e solicitado aos trabalhadores que assinalassem dois principais motivos em sua opinião que colaboravam para a incidência do acidente com a motosserra. Os resultados podem ser observados na tabela 2.

 

Motivação do acidente

Principal causa

Falta de atenção

37%

Falta de treinamento

15%

Excesso de confiança

26%

Brincadeiras

3%

Sub-bosque denso

3%

Declividade do terreno

0%

Fatalidade

10%

Não souberam dizer

6%

Total

100%

Fonte: Heck Junior (2014)

Tabela 2- Principais motivações para a ocorrência de acidentes com motosserra.

Em relação aos acidentes já sofridos pelos operadores e também os quase acidentes que entram na categoria por terem sido evitados pelo uso de equipamentos de proteção individual, são objeto de estudo a partir de comparativo entre o levantamento realizado e dados anteriores encontrados na literatura. No levantamento atual, foi levantado que a parte do corpo com maior incidência de acidentes ou quase acidentes devido a utilização de equipamento de proteção individual foram as pernas (29,5 %).

 

 

Heck Junior (2014)

Sant'Anna (1999)

Fenner (1991)

Haselgruber (1989)

Stephani (1987)

Inss

Cabeça

19,4%

31,3%

12%

20%

11%

8%

Tronco

15,6%

18,7%

16%

12%

12%

5%

Braços e Mãos

19,4%

12,6%

12%

25%

34%

43%

Pernas

29,5%

18,7%

37%

30%

29%

38%

Pés

16,1%

18,7%

15%

13%

14%

6%

Total

100%

100%

100%

100%

100%

100%

Fonte: Heck Junior (2014)

Tabela 3- Comparativo do levantamento de partes do corpo mais atingidas.

Ao serem questionados se durante a jornada de trabalho os trabalhadores sentiam incômodos, dores, intermitentes ou contínuas, em alguma parte do corpo devido à atividade por eles exercida, a grande maioria, 83 %, afirmou que sentem dores lombares intermitentes devido a algumas posições exigidas durante a atividade, dos quais 8% afirmaram que estas dores são constantes e se estendem após a jornada de trabalho.

 

Dor/ Incômodo

Regiões do corpo

Intermitente

Contínua

Braços

53%

0%

Costas/ Dor Lombar

83%

8%

Mãos

16%

0%

Pernas

66%

0%

Pés

10%

0%

Pescoço

13%

0%

Fonte: Heck Junior (2014)

Tabela 4- Dores ou incômodos durante a jornada de trabalho

4. Conclusões

Tendo por objetivo principal a avaliação das condições de saúde e segurança no trabalho de operadores de motosserra em áreas de colheita florestal no sistema de corte raso para obtenção de lenha para abastecimento de fornalhas e caldeiras para geração de vapor, com o emprego do sistema 1+1 (operador e ajudante), é possível observar as dificuldades em se aplicar medidas de eficientes para a prevenção de acidentes. Apesar de treinamentos ministrados, equipamentos de proteção individual e de proteção coletiva aplicados a motosserra, acidentes ainda ocorrem e geralmente com gravidade vitimando conforme levantamento atual em sua grande maioria membros inferiores, sendo apontada como a maior causa as falhas humanas.

5. Referências

BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Brasília, DF.

SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHOManuais de Legislação Atlas. 71. ed. São Paulo, SP: Editora Atlas S.A., 2013.

FENNER, P.T. Estudo descritivo dos acidentes de trabalho em uma empresa florestal1991. 140 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Florestal, Departamento de Departamento de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1991.

FIEDLER, N.C. et al. Avaliação da carga de trabalho físico exigida em operações de colheita florestal. Revista Árvore, Viçosa, v. 22, n. 4, p.535-543, 1998.

FUNDACENTRO, Prevenção de acidentes no uso de motosserra. Série técnica nº 03, Brasil, 2000.

HASELGRUBER, F.; GRIEFFENHAGEN, K. Motosserras: mecânica e uso. Porto Alegre: Metrópole, 1989. 136 p.

LANDI, R.S.Avaliação de fatores ergonômicos em atividades de um viveiro florestal. 2012. 55 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências Florestais, Departamento de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Espírito Santo, Jerônimo Monteiro, 2012.

RODRIGUES, P.M.C. Levantamento dos riscos dos operadores de motosserra na exploração de uma floresta. 2004. 82 f. Monografia (Especialização) - Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Cuiabá, 2004.

SANCHES, A.L.P. Metas de produção em função da carga física do trabalho e repetitividade para operadores de colheita florestal em terrenos montanhosos. 2012. 107 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências Florestais, Departamento de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2012.

MELLO, C.S.; MALINOVSKI, J.R. Analise de fatores humanos e condições de trabalho de operadores de motosserra de Minas Gerais. Revista Cerne, Lavras, v. 8, n. 1, p.115-121, 2002. Semestral.

WISNER, AA inteligência do trabalho: textos selecionados de ergonomia. São Paulo: Fundacentro, 1994. 191p.


1.  (UTFPR) samuelheckjr@hotmail.com.br 

2. (UNICENTRO) laercio_florestal@yahoo.com.br


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