Espacios. Vol. 35 (Nº 11) Año 2014. Pág. 20

(Re) Estruturação no setor sucroalcooleiro em Goiás: Estudo das redes de inovação tecnológica

(Re) Structure of sector sugarcane ethanol in Goias: technological innovation network

Wesley Vieira BORGES 1, Divina Aparecida Leonel LUNAS 2, Janes do Socorro da LUZ 3

Recibido: 22/07/14 • Aprobado: 15/08/14


Contenido

1 Introdução

2. Dinâmica do setor sucroalcooleiro pós desregulamentação

3. Redes de inovação tecnológica no setor sucroalcooleiro

4. Considerações finais

Referências


RESUMO:
Este artigo esboça a reestruturação no setor sucroalcooleiro em Goiás e sua relação com a pesquisa, desenvolvimento e difusão através das redes de inovação tecnológica. O presente artigo tem como escopo a análise das redes de inovação no setor sucroalcooleiro em Goiás, como um processo de reestruturação deste setor. A metodologia aplicada foi coleta de materiais bibliográficos e documentais junto às principais fontes dos diversos atores presentes no setor sucroalcooleiro. O estudo está dividido em três itens: Inicialmente é apresentado o panorama do setor e suas articulações formadas pelos atores atuantes e o novo cenário da cadeia produtiva do etanol. O segundo trata da dinâmica do setor sucroalcooleiro pós desregualamentação, avalia as condições do esgotamento do CAI – Complexo Agroindustrial e a reestruturação das empresas neste setor como organizações em "redes" com a entrada de novos atores. O terceiro apresenta as redes de inovação tecnológica no setor sucroalcooleiro que se intersectam e promovem inovações e os elementos da formação destas redes. A análise permitiu à compreensão do novo cenário da cadeia produtiva do etanol, a magnitude e a importância deste setor em Goiás. Possibilitou o entendimento da alteração da dinâmica do setor sucroalcooleiro pós a desregulamentação, as articulações deste setor em Goiás pós anos 90 e o processo de reestruturação levando a uma nova dinâmica estrutural com aspectos técnicos e organizacionais mais realistas e afinados com a perspectiva de competição. E por fim a análise permitiu a identificação dos principais elementos das redes de inovação tecnológica no setor sucroalcooleiro em Goiás: nós, ligações, fluxos, posições e conteúdos.
Palavras-chave: inovação tecnológica, redes, reestruturação, setor sucroalcooleiro

ABSTRACT:
This article outlines the restructuring in the biofuels industry in Goiás and its relation to the research, development and dissemination through networks of technological innovation. This article is scoped to the analysis of innovation networks in the biofuels industry in Goiás, as a process of restructuring of this sector. The methodology applied was gathering bibliographic and documentary materials from the major sources of the various actors present in the biofuels industry. The study is divided into three items: first, the panorama of the sector and its articulations formed by active players and new scenario of the ethanol production chain is presented. The second deals with the dynamics of the sugarcane sector post desregualamentação, evaluates the conditions of exhaustion of the CAI - Agroindustrial Complex and enterprise restructuring in this sector organizations as " networks " with the entry of new players. The third presents the networks of technological innovation in the biofuels industry that intersect and promote innovations and elements of training such networks. The analysis allowed us to understand the new landscape of the ethanol production chain, the magnitude and importance of this sector in Goiás made possible the understanding of the dynamics of change in alcohol sector after deregulation, the joints of this sector in Goiás after 90 years and the restructuring process leading to a new structural dynamics with more realistic technical and organizational aspects and in tune with the prospect of competition. And finally, the analysis allowed the identification of key network elements of technological innovation in the biofuels industry in Goiás: we, connections, flows, positions and contents.
Keywords: technological innovation, networks, restructuring, sector sugarcane ethanol

1. Introdução

O objetivo principal deste estudo foi analisar as possíveis articulações entre universidades, institutos de pesquisa e empresas, para o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico da atividade sucroalcooleira em Goiás. Para isso, realizou-se uma pesquisa bibliográfica e documental sobre as redes de inovação tecnológicas do setor sucroalcooleiro em Goiás, onde se verifica como os processos de investimentos, produção, difusão e absorção de novas tecnologias resultam em vantagem competitiva para os atores deste setor e favorecem a expansão da cana-de-açúcar e seus derivados no mercado.

Atualmente, o setor sucroalcooleiro brasileiro passa por uma mudança tecnológica que certamente transformará o futuro da matriz energética nacional e global. Além disso, o setor está em franco processo de internacionalização.

Segundo estimativas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar - Unica (2013), o Produto Interno Bruto (PIB) do setor pode atingir U$ 90 bilhões em 2020, enquanto a exportação de açúcar e etanol pode chegar a U$ 26 bilhões.

O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, seguido pela Índia e Austrália. Os números do setor sucroalcooleiro são expressivos no contexto do agronegócio brasileiro: são 320 indústrias de açúcar e álcool, 5,5 milhões de hectares de terras cultivadas, produzindo 1,5 milhões de toneladas de cana por ano, gerando ao todo 1 milhão de empregos diretos, segundo dados da Única (2013). Aproximadamente 55% da produção brasileira de cana-de-açúcar transformam-se em álcool (anidro e hidratado).

O estado de Goiás ocupa a posição de segundo maior produtor da região Centro-Sul, com produção de 9,86% (725,91 mil hectares), na safra 2012/13, e mantém a mesma posição na safra 2013/14, com produção de 10,60% (818,4 mil hectares) do total da região Centro-Sul, de acordo com os dados apresentados na tabela 1. Goiás é o segundo estado que mais evoluiu na produção de cana-de-açúcar após a desregulamentação do setor, conforme os dados apresentados na tabela 1.

A área cultivada com cana-de-açúcar em Goiás cresceu 37% nas últimas cinco safras. Passou de 529,8 mil hectares no ciclo 2008/09, Conab (2008), para 725,9 mil hectares na safra 2012/13, Conab (2013).

Tabela 1 – Produtos da indústria sucroalcooleira: comparativo de área, safra 2012/13 e 2013/14

REGIÃO/ UF

ÁREA (Em mil ha)

Safra 2012/13

Safra 2013/14

Variação %

CENTRO-OESTE

1.504,110

1.667,170

10,80

MT

235,500

224,670

(4,60)

MS

542,700

624,110

15,00

GO

725,910

818,390

12,74

SUDESTE

5.243,290

5.398,490

3,00

MG

721,860

781,920

8,32

ES

62,110

65,340

5,28

RJ

39,960

35,870

(10,00)

SP

4.419,460

4.515,360

2,17

SUL

612,390

621,830

1,50

PR

610,830

620,330

1,56

RS

1,560

1,500

(4,00)

CENTRO-SUL

7.359,790

7.687,490

4,50

BRASIL

8.485,000

8.799,150

3,70

Fonte: CONAB (2013)

Em produção, o crescimento no período foi de 21,1%, saindo de 43,5 milhões de toneladas de cana em 2008/09 para 52,7 milhões de toneladas na safra 2012/13, de acordo com os dados Conab (2008, 2013).

1.1. O Novo Cenário da Cadeia Produtiva do Etanol

Hoje o etanol é um exemplo claro, haja vista o esforço das entidades brasileiras em sustentar o etanol como uma fonte limpa, renovável e que não afeta a produção e os preços dos alimentos. Evidentemente, essa ocorrência se dá em função da condição favorável da indústria sucroalcooleira brasileira diante do mercado global.

Dessa forma o controle da produção de etanol é estratégico no atual período técnico-científico-informacional segundo Santos (2009), onde tecnociência, informação e finanças orientam as ações das corporações mundiais.

Santos (1997) afirma que:

Hoje, o processo criativo de novos objetos, novas engrenagens, novos materiais, novas apropriações das virtualidades da natureza é poderosamente multiplicada, graças, também, às associações cada vez mais íntimas entre ciência e técnica. (SANTOS, 1997, p. 142)

Com base nesse novo cenário, torna-se essencial ampliar o esforço de inovação tecnológica para viabilizar o salto competitivo de empresas que fazem parte da cadeia produtiva do etanol, através de capacitação e diagnóstico das demandas por tecnologia e inovação, estabelecendo um plano de inovação que resulte em maior competitividade em escala nacional e global e no fortalecimento do setor na matriz energética brasileira.

Para Santos (1997, p. 145) "a tecnologia atual se impõe como praticamente inevitável". No entanto, atualmente para se atingir esse objetivo não basta apenas ter o aprimoramento das atividades internas da empresa. É fundamental também que exista um alto nível de integração entre os parceiros de uma mesma cadeia.

2. Dinâmica do setor sucroalcooleiro pós desregulamentação.

Ao longo da década de 1980, o estudo da dinâmica do setor agroindustrial brasileiro esteve centrado na noção de "Complexo Agroindustrial" (CAI). A partir do fim da década, quando os principais supostos subjacentes a esse arcabouço passaram a dar sinais de esgotamento, despontaram determinadas ações e interações entre os agentes econômicos situados fora do âmbito analítico do CAI, com fortes implicações sobre o desenvolvimento do setor.

Nos anos 90 esta dinâmica foi alterada com o processo de globalização-regionalização; A falência do Estado associada à difusão dos princípios neoliberais; A evolução da biotecnologia e da microinformática e as críticas ambientalistas provocaram transformações no processo produtivo e alteraram a organização das empresas do setor sucroalcooleiro, com reflexos diretos sobre a dinâmica da agroindústria canavieira brasileira, colocando em xeque o modelo explicativo até então adotado: o do Complexo Agroindustrial – CAI.

Mazzali (2000) caracteriza o modelo de desenvolvimento da agricultura brasileira "via CAI (Complexo Agroindustrial)" e avalia as condições de seu esgotamento, propondo um modelo de organização "em rede" que fundamenta o embasamento como instrumental explicativo para a avaliação da dinâmica do setor sucroalcooleiro pós desregulamentação nos anos 90.

A menor presença governamental no setor sucroalcooleiro a partir de década de 1990 fez com que as unidades produtivas de álcool se adequassem ao novo cenário institucional. Assim com configuração de força o setor ficou submetido às condições de mercado existentes até os dias atuais.

Estes aspectos delineiam uma estrutura de governança sucroalcooleira onde o Estado assume um novo papel e os atores privados, industriais e fornecedores de cana, formam arranjos institucionais específicos. Esses arranjos para Santos (1997) são vistos como processo e um dado da realidade atual.

As articulações da agroindústria canavieira em Goiás pós anos 90, com os segmentos industriais a montante, ou "para trás", produtores de máquinas, equipamentos e insumos específicos, e a jusante, ou "para frente", com a agroindústria processadora são responsáveis pelo intenso processo de incorporação de progresso técnico por parte do setor sucroalcooleiro neste Estado.

Conforme Buainain (2007):

As trajetórias tecnológicas, determinadas a montante e a jusante da agricultura, criam oportunidades diferenciadas para os agricultores segundo a sua inserção no processo produtivo, localização, escala e forma organizacional. (BUAINAIN, 2007, p. 95)

Para Buainain (2007), o sucesso da atividade agroindustrial não está condicionado apenas por fatores controlados da "porteira para dentro", mas as condições dos distintos segmentos da cadeia produtiva em que a exploração agrícola está inserida.

Para Lisita (2009, p. 70): "a organização da produção se viu modificada com os recursos avançados de tecnologia, acarretando a migração para as áreas onde estavam sendo desenvolvidas monoculturas, em grande escala." como é o caso de Goiás.

A dinâmica do setor sucroalcooleiro em Goiás mudou pós anos 90 e está em um processo de (re) estruturação das relações entre os agentes econômicos. O setor sucroalcooleiro tem passado por mudanças nas suas atividades produtivas e comerciais devido a alguns fatores, dentre eles destaca-se o fator tecnológico. Com a inserção das novas tecnologias acirrou-se a concorrência entre as usinas de álcool, obrigando-as a se organizarem para coordenar a produção e distribuição de álcool combustível de forma mais eficiente.

Vian (2003, p. 19) afirma que: "com a desregulamentação nos anos 90, o setor adquiriu uma nova dinâmica concorrencial que fez com que as estruturas das empresas, o tipo e o mix do produto se alterassem significativamente."

Emergiu desse período uma nova dinâmica estrutural com aspectos técnicos e organizacionais mais realistas e afinados com a perspectiva de competição

2.1. Reorganização das Empresas do Setor Sucroalcooleiro pós desregulamentação.

O cenário dos anos 80 e 90 apresentaram-se com profundas mudanças, marcado por uma fase de grandes transformações em razão do intenso processo de inovação tecnológica, de alterações na estrutura da produção, distribuição, comércio e das relações no setor sucroalcooleiro

Segundo Mazzali (2000):

A partir dos anos 90 ficou evidenciada a enorme capacidade de alguns agentes em edificar "espaços estratégicos", por meio da reestruturação das articulações com os demais agentes (fornecedores, distribuidores, clientes e concorrentes), colocando em xeque a concepção tradicional de "ambiente". (MAZZALI, 2000, p. 154).

Nesse contexto sobressai, como componente fundamental, a reformulação das "formas de organização" das empresas do setor sucroalcooleiro, intra e inter-empresas que incorporaram como orientações centrais o aumento e a versatilidade das ações para as novas condições de mercado.

Em outras palavras, (Mazzali 2000, p.155) explica que: "no contexto pós-anos 90, o ambiente não é uma entidade amorfa e abstrata, mas sim uma entidade que se modifica, paulatinamente, em decorrência das estratégias dos agentes e de seus interrelacionamentos."

De acordo com Mazzali (2000):

[...] no fim da década de 1990, ocorreram transformações significativas na dinâmica da agricultura brasileira. Apesar de não estar evidente a "ruptura do modelo", observa-se o "redirecionamento' do processo de integração ou a exclusão de alguns agentes no curso do processo. (MAZZALI, 2000, p. 27)

Ao possibilitar e incentivar a estreita integração das atividades de projeto e desenvolvimento entre uma gama de empresas da mesma cadeia produtiva e ao quebrar a rígida separação entre a concepção e a execução, por meio da descentralização e da ênfase no conhecimento e na polivalência, implantou-se novo padrão de organização.

Para se adaptar a esse novo contexto, as empresas reformularam suas estratégias, a partir da revisão das suas formas de inserção e de atuação na atividade produtiva, no âmbito de sua organização interna e nas interações com a cadeia da qual fazem parte.

Mazzali (2000) afirma que:

A reformulação das formas de organização das atividades produtivas e da estrutura administrativa evidencia-se, portanto, como elemento central das novas formas de obter e manter vantagens competitivas, assim como mecanismo fundamental de compartilhamento dos crescentes riscos imanentes às decisões. O resultado foi a revisão e o estabelecimento de novas articulações entre os agentes econômicos, o que se refletiu, de modo especial, na fluidez de fronteiras entre empresas e entre setores, derivando em novas configurações produtivas. (MAZZALI, 2000)

Santos (1997) mostra que a fluidez contemporânea é baseada nas redes técnicas que são um dos suportes da competitividade e que ela é o resultado da realização conjunta de possibilidade provindas da existência de formas, normas, desregulação e discurso universal.

O processo de evolução dos segmentos, a identificação de um novo padrão de articulação entre os agentes, levou as organizações à interação entre empresas no âmbito da cadeia produtiva e no âmbito do relacionamento entre concorrentes no mesmo domínio de atividade ou em domínios distintos e se organizarem "em rede".

Para Mazzali (1997, p.122):

Esse conjunto de transformações nas formas de vinculação entre os agentes que integram a cadeia produtiva e entre concorrentes engendra novas configurações organizacionais, cujas características centrais são a interpenetração e fluidez de fronteiras entre os agentes econômicos.

A reformulação das formas de organização das atividades produtivas esteve na base da estratégia de reestruturação da "agroindústria processadora". Nesses termos, as empresas adquiriram maior mobilidade, aumento da capacidade de resposta aos novos contornos internacionais e nacionais, no centro dos quais situam se profundas mudanças macroeconômicas e tecnológicas.

3. Redes de inovação tecnológica no setor sucroalcooleiro.

As "redes" constituem arranjos organizacionais que utilizam recursos e envolvem a gestão das interdependências de várias empresas e cria um ambiente suscetível para provocar a emergência de externalidades dinâmicas (financeiras, tecnológicas, etc), complementaridades e fenômenos cumulativos, notadamente no plano das competências

De acordo com Mazzali (2000), por definição "em rede":

As empresas não são concebidas como atores independentes, confrontados com o ambiente, mas como atores imbricados no ambiente. Conseqüentemente, a função de uma determinada unidade empresarial é definida não somente em termos de sua própria natureza, mas também, e principalmente, à luz de suas relações com outras empresas. (MAZZALI, 2000, p. 156)

Shima (2006) explicam que a rede possui elementos estruturais constituintes e processos de transformação, reprodução e fortalecimento de suas estruturas ao longo do tempo, esses elementos são: os pontos, as posições, as ligações, o conteúdo e os fluxos.

Conforme Shima (2006), cada ponto, ou nó, representa um dos atores que participam da rede, sendo que cada um deles possui características que definem os padrões de interdependência e complementaridade recíprocos que serão estabelecidos entre os atores/pontos participantes do arranjo. Assim, cada ponto detém competências que serão necessárias para a rede, seja a capacidade de pesquisa ou a capacidade financeira, por exemplo. Os pontos mudam sua organização interna e externa e as suas estratégias competitivas em função da interação e das ligações com os demais pontos em rede

Para Shima (2006), a posição define como os diferentes pontos se localizam no interior da estrutura de rede, ela representa a divisão do trabalho, o que cada ponto fará na rede. As ligações, ou elos, correspondem ao mapa que se forma a partir dos relacionamentos e das articulações entre os pontos de rede. Os elos relacionam os diversos pontos entre si em função da posição que cada um ocupa na rede, pois os pontos estão ligados uns aos outros porque há entre eles determinadas características comuns que os atraem.

A partir do momento em que essas ligações se tornam mais freqüentes, os elos ficam mais fortes e os pontos tornam-se interdependentes. O ponto central das ligações é o contrato, que regula as relações entre os pontos e define processos de coordenação e de prevenção de comportamentos negativos, reforçando o comprometimento com os objetivos das partes envolvidas.

De acordo com Amorim e Shima, (2006):

O conteúdo se refere aos objetivos da rede, que pode ser a integração de etapas da cadeia produtiva ou a realização de pesquisa e desenvolvimento tecnológico em conjunto, por exemplo. E os fluxos são os estímulos, tangíveis ou intangíveis, que circulam entre os pontos da rede, podendo ser dos mais diversos tipos, como conhecimento, matéria-prima ou recurso financeiro (AMORIM e SHIMA, 2006, p. 5).

Ocorre dessa forma um fluxo de entrada e saída de conhecimento para acelerar a inovação interna e expandir os mercados para o uso externo da inovação. Esse tipo de inovação pode ser considerada aberta.

Segundo Carvalho (2009) um modelo de inovação considerada aberta compreende a obtenção de vantagem competitiva das comunidades, sistemas e redes de inovação que devem criar valor e trazer benefícios coletivos. Sendo assim Carvalho (2009, p. 78), afirma que:

O processo de inovação aberta está relacionado ao estabelecimento de vínculos interorganizacionais de inovação. Isso porque a competitividade de mercado força as organizações a se aliarem a outras ao longo do processo de desenvolvimento e absorção de novas tecnologias; comercialização dos seus produtos, ou atualização em relação às estrategicamente como forma de inovação aberta do setor sucroalcooleiro; que unem indústrias produtoras de etanol, fabricantes de bens de capital e indústrias que usam o etanol como matéria-prima para os seus produtos; fazendo com que a integração vertical para a pesquisa e desenvolvimento inclua diversos atores de uma mesma cadeia de suprimento.

A integração vertical conforme Mazzali (2000, p. 159) leva a um "incremento de capacidade de aprendizagem e de inovação" através das tecnologias absorvidas pelo mercado, que é capaz de produzir os mais diversos efeitos, tais como geração de novos mercados consumidores, consolidação ou ampliação dos já existentes e aumento da vantagem competitiva de uma organização em relação à concorrência.

Por essa razão, o processo de inovação tecnológica é um elemento intrinsecamente ligado a fatores econômicos, sociais e ambientais. Fazendo com que a rede de inovação tecnológica se relacione diretamente na construção do desenvolvimento.

As tecnologias desenvolvidas no setor sucroalcooleiro devem, além de buscar maior produtividade, se mostrarem como ferramentas eficientes para diminuir os impactos causados pela atividade sucroalcooleira. Pois, a busca por um caminho de inovação que una os interesses econômicos, sociais e ambientais pode determinar o nível de sustentabilidade e o uso do etanol de cana-de-açúcar como fonte de energia.

3.1. Atores, fluxos e tipologias de redes de inovação tecnológica no setor sucroalcooleiro em Goiás.

As agroindústrias do setor sucroalcooleiro que não buscam parcerias tendem a ficar isoladas e defasadas tecnologicamente.

Para desenvolver ou absorver conhecimento, as instituições que atuam na cadeia produtiva do etanol se unem e formam redes. E, ao interagirem em diversas redes, tanto as usinas produtoras quanto as universidades e centros de tecnologia passam a utilizar essas redes como forma de comunicação entre elas e as demais instituições que fazem parte da cadeia de desenvolvimento tecnológico do setor sucroalcooleiro.

Dessa forma, elas têm acesso às inovações que estão ocorrendo e fazem com que surjam as redes e os seus elementos: nós, fluxos, ligações, conteúdo e posições. A inovação surge dentro das redes como um fator que resulta em melhor posicionamento no mercado.

De acordo com os interesses dos atores que compõem as redes de inovação tecnológica da produção de etanol, há redes abertas ou fechadas. Uma mesma instituição pode estar em redes diferentes e com tipologias diferentes; por essa razão alguns discursos são contraditórios, quando um fala que uma instituição está em rede aberta e outro fala que a mesma instituição está em rede fechada as duas premissas são verdadeiras.

Em uma mesma instituição, como a Embrapa Agroenergia, pode participar de uma rede aberta em um projeto e participar de uma rede fechada em outro projeto. Embora haja uma tendência de determinadas instituições participarem mais de arranjos fechados ou de arranjos abertos.

Pode-se dizer que as redes de inovação tecnológica da cadeia produtiva de etanol formam um "pequeno mundo", por serem os mesmos pontos globalmente ou regionalmente centrais, como o (Centro deCiência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), CENPES – Centro de Pesquisa da Petrobrás, Embrapa Agroenergia, e grupos usineiros comoCosan, Jalles Machado, Cargill/Usina São João) que fazem parte da maioria das redes. Percebe-se também que entre as pessoas,pesquisadores e autores de produção acadêmica sobre o assunto, também existe um pequeno grupoque está presente de maneira forte em grande parte das entidades e das publicações.

Conforme Vian (2003) há elos (pessoas e instituições) que interligam as redes e fazemcom que elas se interconectem, na acepção integral do termo, de acordo com a teoria matemática deque a intersecção é a presença de um mesmo elemento em mais de um conjunto, sendo aqui apresença de um mesmo ator em diversas redes.

As instituições que atuam na cadeia produtiva da produção de etanol de cana-de-açúcar atuam em redes, onde cada uma delas representa um ponto que possui uma determinada posição. Para formar uma infra-estrutura que permita o desenvolvimento e difusão da inovação tecnológica, diversas funções são requisitadas como: criação de políticas, desenvolvimento de pesquisa básica e aplicada e processos de transferência e difusão.

Na posição de desenvolvedores, encontram-se instituições como universidades, centros de pesquisa, produtores de etanol e também empresas na área de bens de capital, insumos, equipamentos e alcoolquímica.

Há, nas redes, os pontos que atuam na posição de investidores. Eles correspondem às instituições que entram com os recursos financeiros necessários às pesquisas, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) que financiam projetos de diversas instituições que atuam no setor sucroalcooleiro.

Os pontos também assumem o papel de difusores de tecnologia, como a União da Indústria de Cana-de-açúcar - (UNICA), que tem um trabalho institucional focado neste sentido. As próprias instituições que desenvolvem a tecnologia, como o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), também buscam difundi-la, depois de licenciada e patenteada. Algumas inovações precisam ter um sistema de controle, para não ser copiada indevidamente:

Os agentes de inovação tecnológica ou influenciadores das redes de inovação tecnológica do setor sucroalcooleiro se dividem em político-normativos, como o MCT e o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA); estratégicos como a UNICA, Embrapa, CTBE, CTC, MCT; e agentes operacionais, como as usinas produtoras e as empresas de alcoolquímica.

No quadro 1 apresenta-se uma síntese da tipologia da inovação no setor sucroalcooleiro em Goiás. Ele estrutura os principais dados levantados no presente estudo, demonstrando os principais elementos das redes de inovação tecnológica no setor sucroalcooleiro em Goiás: nós, posições, conteúdos, fluxos e ligações. O Quadro 1 também apresenta a tipologia que foi estudada em relação à inovação em redes abertas e fechadas.

Quadro 1 – Tipologia da inovação no setor sucroalcooleiro em Goiás.

Os principais atores de inovação em redes (Corresponde aos pontos e posições das redes

O que é inovado

(Principais inovações correspondente aos conteúdos das redes)

Tipologia da inovação

Fluxo das redes

Transferência de tecnologia de inovação

Processos de Ligação

Universidades:

UFG/RIDESA

1. Mecanização

2. Vinhaça

3. Desenvolvimento de variedades de plantas (cana)

4. Co-produtos.

5. Alcooquímica

6. Cogeração

1. Há redes e inovações abertas.

2. Há redes e inovações fechadas.

1. Conhecimento tecnológico.

2. Recursos materiais.

3. Recursos financeiros.

1. Patentes.

2. Seminários.

3. Reuniões Técnicas.

4. Lincenciamentos.

5. Compra de bens de capital.

1. Parcerias de Pesquisa.

2. Pesquisa encomendada.

4. Joint Ventures.

(Todos regidos por contratos que determinam o grau de sigilo)

Usinas e Grupos:

Jalles Machado; Cosan; Cargill / Usina São João

Investidores:

MCT; CNPq; BNDES

Centros de Pesquisa:

CTC; CTBE; CENPES (Petrobrás)

Empresas Públicas desenvolvedora de tecnologia:

Petrobrás

Embrapa Agroenergia

Empresas Privadas desenvolvedoras de tecnologia:

Jonh Deer; Dedini; Braskem; Amyris; CanaVialis

Difusoras:

ÚNICA; Desenvolvedoras de tecnologia em geral

Fonte: Elaboração própria

Essa infraestrutura promove a plataforma, que dispõe de condições estruturais, com instituições que oferecem oportunidades para a inovação, base de ciência e engenharia: universidades e centros de pesquisa. E a plataforma é composta por agentes públicos e privados de pesquisa, governo e universidades; voltado para mudanças institucionais, oferecendo infraestrutura para o processo de inovação.

Para isso foi construído um arcabouço de políticas públicas e marcos legais que auxiliaram na construção de uma plataforma tecnológica para o setor sucroalcooleiro em Goiás, como: o plano nacional de agroenergia; a lei da inovação; as várias linhas de financiamento para o setor sucroalcooleiro, oferecidas por meio do BNDES; e os fundos setoriais para o desenvolvimento de pesquisas com recursos repassados pelo CNPq e pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).

Considerações finais

Neste trabalho o setor sucroalcooleiro em Goiás foi estudado a partir do enfoque das redes de inovação tecnológicas.

Considera-se que as inovações tecnológicas possibilitam a implementação de novos sistemas de produção. Assim, ao analisar as relações de (re) estruturas e inovações tecnológicas no setor sucroalcooleiro, parte-se do princípio de que as redes de inovação tecnológica contribuíram para a implantação de uma nova estrutura organizacional na cadeia produtiva do etanol em Goiás. Dentro desta abordagem permitiu-se aprofundar o entendimento do processo de reestruturação deste setor, que ocorreu a partir dos anos 90.

Após a desregulamentação, o setor sucroalcooleiro passou por uma profunda transformação, levando a uma nova dinâmica estrutural com aspectos técnicos e organizacionais mais realistas e afinados com a perspectiva de competição.

A análise permitiu a identificação dos principais elementos e atores das redes de inovação tecnológica no setor sucroalcooleiro em Goiás: nós, ligações, fluxos, posições e conteúdos. Foi possível observar também que as políticas públicas (através do governo federal), oferecem condições de desenvolvimento de pesquisas e se constituem no principal elemento condicionante para a estruturação de redes de inovação tecnológica no setor sucroalcooleiro em Goiás.

Assim, o setor sucroalcooleiro em Goiás não só cria, mas fornece tecnologia. E, para isso, ele tem uma multiplicidade de atores que desenvolvem também diversificadas tecnologias que contribuem para tornar este setor competitivo em cana-de-açúcar e etanol, e sustentável economicamente.

Referências

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1 Mestrando em Ciências Sociais e Humanas pela Universidade Estadual de Goiás. Professor da Universidade Paulista. E-mail: wesleyvb1@hotmail.com

2 Universidade Estadual de Goiás – Pró-Reitoria de Pesquisa, Doutora em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp – SP – Professora do Mestrado Interdisciplinar Territórios e Expressões Culturais no Cerrado – UEG – E-mail: divalunas@gmail.com

3 Universidade Estadual de Goiás – Doutora em Geografia – Universidade Federal de Uberlândia- UFU – Professora do Mestrado Interdisciplinar Territórios e Expressões Culturais no Cerrado – UEG e-mail: jnsluz@hotmail.com

Vol. 35 (Nº 11) Año 2014
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