Espacios. Vol. 35 (Nº 10) Año 2014. Pág. 18 |
Consequências nutricionais do tratamento quimio e radioterápicoNutritional consequences of radiation terapySamara NEVES 1, Elton Jorge Vilela MATOS 2, Enny Mercado Antunes GREIN 2, Mariana Chiossi TSUNETO 2, Lorene Simioni YASSIN 2, Antonio Carlos FRASSON 3. Recibido: 24/06/14 • Aprobado: 29/07/14 |
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1. IntroduçãoNas últimas décadas, o câncer ganhou uma dimensão maior, convertendo-se em um evidente problema de saúde pública mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que, no ano 2030, podem-se esperar 27 milhões de casos incidentes de câncer, 17 milhões de mortes por câncer e 75 milhões de pessoas vivas, anualmente, com câncer. O maior efeito desse aumento vai incidir em países de baixa e média renda (Instituto Nacional do Câncer (INCA), 2011a). A equipe de saúde tem a função, além de planejar e monitorar o tratamento, esclarecer ao doente e seus familiares o manejo dos sintomas referentes aos efeitos colaterais do tratamento do câncer, muitas vezes agressivo e comprometedor da qualidade de vida desses. Entre os profissionais que cuidam, pesquisam e participam da terapia destes doentes, o nutricionista é um profissional que tem a função de aliviar os sintomas ligados com o efeito do tratamento, principalmente na alimentação. Correia e Waitzberg (2003) citam que a terapia nutricional age para melhorar os resultados daqueles que não podem, não conseguem, ou que estão proibidos de comer durante o processo de seu tratamento. Todavia, a avaliação nutricional deve ser comumente aplicada na admissão do paciente para reduzir as consequências e complicações da desnutrição, e também para que não se perca tempo no processo de recuperação do estado nutricional do indivíduo. A quimioterapia e/ou a radioterapia apresentam efeitos adversos que podem comprometer o estado físico, imunológico e nutricional, sendo que a terapia nutricional (TN), quando bem aplicada, auxilia no manejo dos sintomas, evitando a caquexia, e contribuindo para a melhora da qualidade de vida do paciente (Dresler C.M. et al, 1987; Ottery, F.D, 1996 apud INCA, 2009b). De acordo com Oliveira (2007) a orientação nutricional propõe condutas adequadas para cada paciente. Devem-se avaliar os efeitos colaterais, e utilizar a via mais adequada, respeitando sempre as necessidades nutricionais e as preferências individuais. As estratégias para a terapia nutricional consistem na orientação dietética, suplementos nutricionais orais, nutrição enteral e parenteral quando necessário. Essa pesquisa procurou identificar nos portadores de câncer em tratamento quimio e radioterápico as conseqüências nutricionais do tratamento e sua implicação sobre a qualidade de vida desses. 2. MetodologiaEssa pesquisa pode ser classificada como uma abordagem qualiquantitativa, descritiva e de campo. Segundo Richardson (1999) o método quantitativo, como o próprio nome indica, caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas. Já os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, contribui no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos. Na concepção de Gil (1999), a pesquisa descritiva tem como principal objetivo descrever características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre as variáveis. Uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coletas de dados. A coleta de dados pesquisa foi feita em uma instituição de tratamento do câncer na cidade de Ponta Grossa- Pr. Participaram voluntariamente 20 indivíduos de ambos os sexos, com faixa etária acima de 18 anos, sem distinção de etnias e com critério de inclusão estar submetidos ao tratamento de quimioterapia e/ou radioterapia. Foi aplicado um questionário de 18 perguntas fechadas sobre a percepção desses doentes em relação aos efeitos colaterais que apresentam contendo questões referentes a alimentação e fonte de informações sobre o manejo dos efeitos colaterais. Além disso, o estado nutricional foi classificado segundo o Indice de Massa Corporal (IMC) e circunferência braquial (CB). O período da pesquisa foi de 25/06/12 a 26/07/12. Os dados como peso, altura, tipo de tratamento que recebem foram coletados através do prontuário médico e a circunferência braquial foi aferida com uma fita inelástica segundo método de Frisancho et al (1990). Os entrevistados assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) antes de responder ao questionário, deixando claro que os que não quisessem participar não seriam prejudicados quanto ao atendimento e não prejudicariam o estudo. Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais (CEP CESCAGE), e recebeu aprovação sob o número 69/CEP. 3. Resultados e discussãoEntre os 20 avaliados, 13 eram do sexo feminino e 7 do sexo masculino, com idade média de 57,05 ± 12,24 anos. Foram encontrados diversos tipos de neoplasias, dentre elas estão câncer de mama (35%), ovário (12%), útero (10%), próstata (9%), pulmão (8%), brônquios (5%), no sistema gastrointestinal (19%). Quanto ao tratamento dos avaliados 50% (10) estavam em quimioterapia, e os outros 50% (10) encontram-se em radioterapia e quimioterapia. Quanto receberem orientação nutricional 50% (10) relatam que consultara um nutricionista enquanto os outros 50% (10) não receberam orientações. Na Tabela 1 relacionam-se os tipos de tratamento que os voluntários foram submetidos e se receberam orientações nutricionais. A orientação nutricional através de educação nutricional torna-se importante para os indivíduos que estão em tratamento devido aos efeitos colaterais do tratamento, dúvidas sobre quais alimentos ingerir, bem como horários, substituições que podem ser feitas entre outros manejos que refletem na qualidade de vida durante o tratamento e podem prevenir a piora do quadro clínico.
Tabela 1: Tipo de tratamento que os pacientes foram submetidos e relação A média de peso dos voluntários foi de 70,3 ± 17,38 kg. A média de altura era de 166,55 ± 8,81cm. O índice de massa corporal foi de 25,49 ± 6,45 kg/m2 em média. Quanto a classificação do estado nutricional segundo o IMC dos avaliados, 35% (7) classificaram-se como eutróficos, 5% (1) apresentavam desnutrição, 5% (1) apresentavam desnutrição grave, 35% (7) classificaram-se como sobrepeso, 10% (2) foram classificados com obesidade grau 1, 5% (1) apresentava obesidade grau 2, e 5% (1) apresentava obesidade grau 3. Tartari, Busnello e Nunes (2010) em pesquisa com 50 indivíduos em tratamento quimioterápico aplicou avaliação antropométrica e o IMC médio foi de 25±4,08 Kg/m², encontraram 5 pacientes em desnutrição (10%), 22 (44%) na faixa da normalidade, 16 (32%) pacientes com sobrepeso e 7 (14%) pacientes com algum grau de obesidade. Os dois estudos referiram que a maioria dos investigados apresentou estado nutricional em normalidade, e a minoria apresentou desnutrição conforme observa-se na Figura 1a e 1b. Deve ser considerado também o número de pessoas em sobrepeso, que podem apresentar esta classificação pelo fato de estarem em menor tempo no tratamento, ou pelo fato de que os pacientes que apresentaram esses valores são portadores de câncer nas mamas, ovário e útero, ou seja, tumores que podem apresentar-se mais prevalentes em indivíduos eutróficos ou com tendência ao sobrepeso e obesidade. Harvil et al (2004) apud Tartari, Busnello e Nunes (2010) referem que mulheres com câncer de mama em tratamento quimioterápico adjuvante apresentam tendência progressiva ao ganho de peso. Conforme Ikemori et al.(2003) apenas o peso corporal não indica claramente o seguimento corporal afetado, e por meio das pregas e circunferências é possível verificar a quantidade de reserva muscular e adiposa. Foi usado a circunferência de braço para a classificação nutricional dos voluntários por representar a somatória do tecido ósseo, muscular e adiposo. Dos investigados, a média de CB foi 29 ± 7,3 cm. Quanto a classificação por esse índice 15% (3) apresentaram desnutrição leve, 10% (2) apresentaram desnutrição grave, 15% (3) apresentaram desnutrição moderada, 30% (6) classificaram-se em sobrepeso, 5% (1) está em obesidade, e 25% (5) classificaram-se como eutróficas. Tartari, Busnello e Nunes (2010) encontraram em pesquisa que a média de CB foi de 28 ± 4,2 cm, encontrando-se 16% em desnutrição (P<5°), 42% em risco nutricional (P5°), 38 % na faixa de normalidade (P10°-90°) e 4% em risco para obesidade (P>=95°). Quanto a perda de peso 40% (8) não perdeu peso durante o tratamento, e apenas 5% (1) tiveram perda acima de 20% do peso, o que pode ter sido resultado de uma boa orientação nutricional, visto que 50% (10) desses relataram terem recebido orientação nutricional do local. A orientação recebida abordava assuntos como o cardápio a ser seguido individualmente. No estudo de Dias et al. (2006) foi relatado que 55 % dos estudados em uma amostra composta por 20 pacientes portadores de neoplasias em tratamento quimioterápico tiveram perda de peso. Tartari, Busnello e Nunes (2010) também estudaram sobre a perda de peso em pacientes com neoplasia no qual foi verificado que 36% (18) tiveram perda de peso durante o tratamento. Figura 1a e 1b: Classificação do estado nutricional segundo o Índice de Massa Corporal (IMC) – Fonte: Autoria própria, 2012. Em relação aos efeitos adversos advindos do tratamento 70% (14) apresentaram perda do paladar, os mesmo relatam esse efeito após as sessões de quimioterapia, 65% (13) náuseas e vômitos, 50% (10) falta de apetite, e outros 50% apresentaram xerostomia, e 5%(1) apresentou anemia. Estes valores estão expressos no Gráfico 1. Gráfico 1: Efeitos advindos do tratamento radio e quimioterápico encontrados na amostra. Fonte: Autoria própria, 2012. Conforme Dias et al. (2006), os quais avaliaram o grau de interferência dos sintomas gastrintestinais no estado nutricional do doente oncológico, verificaram que 70% dos pacientes apresentaram de forma exclusiva ou associada, os sintomas encontrados foram constipação, vômitos, náuseas, diarréia, anorexia, mucosite e desconforto abdominal. Em 50% destes, evidenciou-se a diminuição da ingestão alimentar, e em 60% alteração do paladar. Em relação a práticas alimentares vários aspectos relevantes foram observados. Ao ser analisado o quão adequada nutricionalmente a alimentação do indivíduo está observa- se que 50% (10) estão alimentando-se adequadamente e 50% (7) tem consumo alimentar insatisfatório, ou seja não supre 70% das necessidades nutricionais diárias. Devido aos efeitos do tratamento alguns alimentos devem ser desencorajados da alimentação a fim de evitar agravamento dos efeitos colaterais do tratamento. Aqueles que encontravam-se com consumo alimentar inadequado deve-se ao fato de não conseguirem ingerir os alimentos devido não suportarem odores de determinados alimentos devido sentirem-se nauseados e ou com dor. A presença da dor tem impacto negativo na ingestão alimentar do indivíduo, que se priva da alimentação por esta desencadear ou exacerbar o sintoma mal controlado (Silva et al. 2010). É aconselhável que o doente em tratamento quimio e radioterápico não se aproxime do local enquanto o alimento é preparado. A alimentação deve contemplar as necessidades nutricionais dos indivíduos e ao mesmo tempo ter boa apresentação dos pratos. Usar temperos e combinação de sabores corretos e comer em ambiente agradável e familiar são práticas que estimulam a alimentação quando ela se encontra precária. A água é o principal constituinte das células humanas e está presente em todos os processos fisiológicos e bioquímicos que ocorrem no nosso corpo. A água permite a regulação da temperatura corporal, é responsável pela eliminação de toxinas (através da urina e do suor) e representa cerca de 95% do plasma sanguíneo que transporta oxigênio e nutrientes até às células (Fundação Luso, 2012). Quanto ao consumo de água de cada indivíduo, 10% (2) ingerem 1 copo de água por dia, 5% (1) 2 copos, 25% (5) 3 copos, 10% (2) 4 copos, 5% (1) 5 copos, 10% (2) 6 copos, 35% (7) 8 copos. Fortes et al. (2007) observou em seu estudo que a quantidade de água consumida pelos entrevistados era inferior a 500mL por dia em 5,80% (n=4) dos casos; de 500mL a 1000mL por dia em 47,10% (n=33); de 1000mL a 2000mL em 35,70% (n=25) e de 2000mL ou mais, conforme recomendado pelo guia alimentar, em 11,40% (n=8). Os voluntários da presente pesquisa relataram que foram informados quanto à importância da ingestão hídrica por profissionais da equipe de saúde, mas 25% relatam que ingerem apenas três copos de água por dia por motivos que incluem em especial a falta de hábito do consumo. Segundo a Fundação Luso (2012), os alimentos que ingerimos diariamente contribuem para a produção de toxinas que circulam no sangue. Quando não são eliminadas, estas substâncias vão intoxicando o organismo, contribuindo para o envelhecimento e causando doenças, nomeadamente as de origem cancerígena. Quando os voluntários dessa pesquisa foram questionados quanto ao apoio que recebiam da equipe de saúde quanto a informações relacionadas aos efeitos colaterais 32% (7) dos indivíduos referem que foram informados pelos profissionais de saúde, 21% (4) receberam essa informação de seus familiares ou de outros indivíduos também portadores de câncer e 47% (9) não receberam essa informação. O INCA (2011) reforça em suas publicações a abordagem multidisciplinar integrada detalhando que esse tipo de ação em saúde é mais efetiva do que uma sucessão de intervenções isoladas no manejo do paciente. 4. Considerações finaisO indivíduo em tratamento quimio e/ou radioterápico apresenta sintomas que podem influenciar em sua qualidade de vida. Problemas em relação à perda de peso e ingestão de alimentos em quantidade adequada para suprir suas necessidades nutricionais são bastante prevalentes. A equipe de saúde, e em especial o profissional nutricionista, deve estar preparado para orientar o indivíduo e seus familiares na melhora ou prevenção de dos efeitos adversos do tratamento. Também é função da equipe fornecer informação adequada para prevenir a desnutrição e orientar a alimentação correta com o desafio de driblar os sintomas que impedem o indivíduo de suprir suas necessidades nutricionais, em especial a anorexia. Espera-se que os resultados dessa pesquisa possam servir como base para estudos relacionados à educação em saúde com práticas multidisciplinares integradas que tiverem como foco a prevenção de danos aos portadores de câncer decorrente dos tratamentos agressivos geralmente necessários à cura dessa patologia. 5. ReferênciasCorreia, M. I T.D.; Waitzberg, D.L. apud Assad, A.C (2008). Desnutrição e Câncer; São Paulo, Nutrociência, 24 p. Dias, V. M.; Barreto, A. P. M.; Coelho, S. C.; Ferreira, F.M.B.; Vieira, G. B. S.;Cláudio, M. M.; SILVA, P.D.G. (2006); O grau de interferência dos sintomas gastrintestinais no estado nutricional do paciente com câncer em tratamento quimioterápico; São Paulo, Revista Brasileira de Nutrição Clinica, 211 p. Dresler, C.M. et al (1987) apud INSTITUTO NACIONAL DO CANCER (2009). Consenso Nacional de Nutrição Oncológica; Rio de Janeiro: Esdeva, 2009. Fortes, R.C; Recova, V.L; Melo, A.L; Novaes, M.R.C.G. 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Instituto Nacional do Câncer – INCA (2009); Estimativa 2010: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer; Rio de Janeiro, 90 p. Instituto Nacional do Câncer – INCA ( 2011 a); Incidência de câncer no Brasil; Rio de Janeiro, 93 p. Instituto Nacional do Câncer – INCA (2011 b) ABC do Câncer – Abordagens básicas para o controle do câncer. Rio de Janeiro, 21 p. Oliveira, T. (2007); A importância do acompanhamento nutricional para pacientes com câncer; São Paulo, Revista Prática Hospitalar, 150 p. Silva, P.B; Lopes, M; Trindade, L.C.T; Yamanouchi, C.N. (2010); Controle dos sintomas e intervenção nutricional. Fatores que interferem na qualidade de vida de pacientes oncológicos em cuidados paliativ; São Paulo, Revista Dor, 282 p. Tartari, R.F; Busnello, F.M; Nunes, C. A. (2010); Perfil Nutricional de pacientes em Tratamento Quimioterápico em um Ambulatório Especializado em Quimioterapia, Rio de Janeiro, Revista Brasileira de Cancerologia, 43 p. |
1. Acadêmica do Curso de Nutrição das Faculdades Integradas dos Campos Gerais - Brasil. samara_neves_18@hotmail.com |