Espacios. Vol. 35 (Nº 10) Año 2014. Pág. 4


Inovação de Produtos: Um Panorama dos Laticínios do Sudoeste do Paraná

Product Innovation: A Scene Of Paraná Southwest Dairy Factories

Leomara Battisti TELLES 1; Juliana Vitória Messias BITTENCOURT 2; Christiano Santos Rocha PITTA 3; Antonio Carlos de FRANCISCO 4; Priscila RUBBO 5; Celso Bilynkievycz dos SANTOS 6; Luiz Alberto PILATTI 7

Recibido: 09/06/14 • Aprobado: 23/08/14


Contenido

RESUMO:
A presença da inovação tem se tornando fator vital de sobrevivência para as empresas no atual mercado, onde a concorrência torna-se cada vez maior. Contudo, inovar no setor de alimentos é bastante complexo, principalmente em produtos, pois está diretamente relacionado com a segurança dos consumidores. Esta pesquisa tem por objetivo levantar o panorama da inovação de produtos em laticínios do sudoeste do Paraná sob o sistema SIP (Serviço de Inspeção Paranaense), através de pesquisa descritiva com aplicação de questionário semi-estruturado com perguntas discursivas e optativas. Através da aplicação do instrumento de pesquisa obtiveram-se como principais resultados que 88,89% dos laticínios pesquisados estão classificados como micro e pequeno porte, possuindo como principal produto processado o queijo e seus derivados, apurou-se também que o nível de inovação é considerado baixo.
Palavras chave: Inovação. Inovação de Produtos Alimentícios. Laticínios.

ABSTRACT:
The presence of the innovation has become a vital element for the companies' survival into job market nowadays, where de competition becomes bigger each time. However, the innovation on the food industry is complex, mainly with products because they are directly related with the security of the costumers. This research has as purpose to bring up the scene of the innovation of products in dairy factories in southwestern of Paraná under the SIP system (Paraná Inspection Service) through a descriptive research with a semi-structured questionnaire with discursive and objective questions. The main obtained results were that 88,89% of dairy factories are classified as micro and small companies, and the main products are cheese and its derivatives, it was also observed that the innovation level is considerate low.
Key-Words: Innovation. Food Products Innovation. Dairy Factories.


1. Introdução

Diante da dinâmica que o mercado apresenta, com constantes mudanças tecnológicas e um comércio voltado para a inovação tornou-se um dos fatores determinantes no sucesso das organizações. O consumidor busca constantemente o que tem de mais atual no mercado, porém, quando o tema é alimentos a inovação tem outro foco, pois a motivação da compra de alimentos está baseada na tradição, segurança alimentar e preço, o que faz com que os consumidores aceitem com facilidade apenas mudanças gradativas e pouco radicais, transformando num desafio a inovação na área de alimentos (QUEIROZ; MACHADO; BOUROULLEC, 2008).

No Brasil o Valor Bruto da Produção Agropecuária em 2010 foi de 257,6 bilhões de reais, tendo o setor lácteo participado de forma expressiva com 22,4% deste montante, o que equivaleu a 22 bilhões de reais (PEDROSO et al., 2014). O Paraná por sua vez, é um dos estados que vem se destacando em nível nacional, ocupando a terceira colocação entre os principais estados produtores de leite do Brasil, ficando atrás somente de Minas Gerais e Rio Grande do Sul (EMBRAPA, 2013). E, segundo dados do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) (2010), no estado do Paraná três bacias se destacam na produção de leite, Centro-Oriental, Oeste e Sudoeste, concentrando 48,5% dos produtores de leite do Estado e 53% da produção estadual de leite. Dessas três regiões, é no Sudoeste que existe a maior concentração de laticínios de micro e pequeno porte e sob o SIP (Serviço de Inspeção Paranaense).

O sistema SIP, segundo o IPARDES (2010), concentra principalmente laticínios de micro e pequeno porte, estabelecimentos que possuem capacidade produtiva ociosa e que podem ser aproveitadas a fim de fomentar o crescimento das agroindústrias individualmente e, consequentemente do setor. Queiroz, Machado e Bouroullec (2008) citam que os laticínios de pequeno porte sofrem forte pressão em seu campo de atuação e que a sobrevivência das agroindústrias do setor lácteo está profundamente ligada à segurança do consumidor em relação ao consumo e à redução de desperdícios na cadeia de produção. Sendo assim, devem ficar atentas à gestão tecnológica, com uma visão estratégica de marketing, buscando identificar os desejos e as necessidades dos consumidores.

Estudos que contribuem para o desenvolvimento tecnológico de novos processos e produtos, que favoreçam o aumento da produtividade e o crescimento dos pequenos laticínios, são de grande relevância.

Kachba e Hatakeyama (2013) afirmam que o baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) das pequenas e médias empresas reduz a capacidade de inovações radicais. E, Francis e Bessant (2005) afirmam que desenvolver a capacidade de inovação é uma importante estratégia, uma vez que a inovação desempenha um importante papel para a sobrevivência e o crescimento das empresas.

Diante do exposto, o objetivo do estudo é apurar o panorama da inovação de produtos em laticínios do Sudoeste do Paraná sob o sistema SIP (Serviço de Inspeção Paranaense), através de questionário estruturado com perguntas discursivas e optativas, classificada como pesquisa descritiva.

2. Inovação

De acordo com a redação da Lei nº 10.973/2004 (Lei da Inovação) em seu artigo 2º, inciso IV, considera-se inovação a "introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços". A correta compreensão do termo é importante para a gestão da inovação, Drucker (1998, apud Danilevicz e Ribeiro, 2013, p. 61) cita que "[...] inovação não é invenção, nem descoberta. Ela pode requerer qualquer das duas – e com frequência o faz. Mas o seu foco não é o conhecimento, mas o desempenho – e numa empresa isso significa desempenho econômico".

Francis e Bessant (2005) citam a inovação como o reconhecimento de uma oportunidade de mudança que otimize a rentabilidade, sendo que essas oportunidades devem ser buscadas, adotadas na prática e geridas de forma estratégica. Em complemento, Domingues e Paulino (2009) citam que a inovação está intimamente ligada à criação de vantagens competitivas e à elevação dos padrões competitivos da indústria.

Lima (2004) por sua vez, afirma que, a inovação resulta em aprendizagem organizacional desenvolvimento regional, aumento da competitividade das empresas e aumento da participação das mesmas no seu setor de atuação.

Percebe-se, que a inovação vai além da novidade ou melhoria, sendo indispensável que esses fatores resultem em retorno financeiro e economico para as empresas, ou seja, as invençoes, descobertas, novidades e melhorias devem ser comercializáveis. Além disso, é importante considerar que os processos de inovação são dependentes das pessoas, tornando relevante a existência na organização de um ambiente que promova a inovação, e por isso, "é impossível ignorar a relevância de fatores ligados ao modo como essas pessoas se relacionam entre si, com os projetos e com a organização, às configurações de poder que permeiam a empresa e às formas com que as diferentes funções interagem" (STEFANOVITZ; NAGANO, 2013, p. 5).

A inovação pode acontecer em três categorias diferentes: inovação de produto, inovação de processos e inovação organizacional. Segundo a OCDE (2005) a inovação de processo compreende métodos de produção ou comercialização totalmente novos ou significativamente aprimorados. Já a inovação organizacional conforme a OCDE (2005, p. 21), compreende "introdução de estruturas organizacionais significativamente alteradas; implantação de técnicas de gerenciamento avançado; implantação de orientações estratégicas novas ou substancialmente alteradas". Contudo, pela recomendação da mesma, a mudança organizacional somente é considerada como inovação se apresentar mudança nos resultados da empresa, como aumento de produtividade ou de vendas.

A inovação de produto, por sua vez, compreende a produção ou comercialização de produtos com desempenho aprimorado que ofereçam ao consumidor serviços novos ou aprimorados (OCDE, 2005). Ou seja, a inovação de produto trata da apresentação de novidades ao portfólio da empresa a fim de promover a manutenção no mercado.

Neste contexto, Takahashi e Takahashi (2007) diferencia inovação tecnológica de inovação de produtos, onde a primeira compreende um conjunto ordenado de conhecimentos empregados no desenvolvimento, na produção, comercialização e utilização de bens ou serviços enquanto a segunda compreende o resultado da aplicação de uma tecnologia com vistas ao atendimento das necessidades do mercado.

As possibilidades de se introduzir inovação de produto podem partir de quatro dimensões: "(1) advento de novas tecnologias capazes de oferecer novas soluções e benefícios; (2) mudanças no macro ambiente capazes de influenciar realidades setoriais específicas; (3) novas tendências de consumo e necessidades por parte de consumidores/clientes; e (4) movimentos da concorrência que alimentem novas estratégias de mercado" (STEFANOVITZ; NAGANO, 2013).

Onoyama et al. (2006) afirmam que a inovação de produtos é bastante complexa, pois, envolve, dentre outros, as necessidades e desejos dos consumidores, que muda grande frequência, as constantes mudanças tecnológicas e alterações na legislação, exigindo a cooperação dos mais diversos setores de uma organização a fim de uma gestão de inovação que seja congruente.

Francis e Bessant (2005) também afirmam que a gestão do desenvolvimento de novos produtos é um processo complexo, que oferece incertezas e riscos, contudo, é de fundamental importância para o sucesso da mesma. Citam ainda que uma empresa pode planejar várias gerações de produtos, incluindo produtos derivados, assim a inovação estaria orientada a estratégia da mesma, podendo inovar, inclusive no próprio processo de desenvolvimento de novos produtos. Neste sentido, Wu et al. (2010) em seu estudo avaliaram justamente a inovação baseada no risco da tomada de decisão, onde através de modelagem, verificaram que as decisões tomadas por uma equipe de gestão de inovação são mais seguras que as decisões tomadas por apenas um gestor.

3. Inovação na agroindústria

Apesar da relevância da inovação para o sucesso empresarial, a gestão tecnológica ainda deixa a desejar no setor de laticínios, principalmente nos que agregam pouco valor aos seus produtos, talvez o fator de maior relevância para a baixa estruturação gerencial e tecnológica do setor lácteo do Brasil seja o baixo preço pago aos produtores rurais, que se comparado com o de outros países de tradição na produção leiteira, estão aquém do desejado (QUEIROZ; MACHADO; BOUROULLEC, 2008).

Ainda segundo Queiroz, Machado e Bouroullec (2008) o setor da indústria alimentícia geralmente não modifica radicalmente seus produtos, justificando que isso se deve a motivação de compra do consumidor estar centrada na tradição, que aceita apenas mudanças gradativas e poucos radicais nos seus hábitos alimentares.

Lima (2004) em seu estudo sobre a inovação nas agroindústrias alimentícias do Paraná identificou que a maior parte das agroindustrias paranaenses são de micro e pequeno porte, e que, em sua maior parte, são constituídas de capital totalmente nacional. As quais apresentam dificuldades de possuir sistêmicos programas de inovação tecnológica. Além disso, as agroindústrias paranaenses apresentam ainda fortes limitadores da capacidade inovativa como questões financeiras, recursos humanos despreparados e falta de fonte de informações.

Considerando o contexto da agroindústria paranaense, os princípios de inovação que se destacam são inovação nas máquinas e ferramentaria mais usadas e inovação de processos, tendo como base de informações o mercado. A maioria das agroindústrias do Paraná, não possui um programa de inovação contínuo, apesar de ser perseptível a necessidade de inovação tecnológica (LIMA, 2004). Além disso, Lima (2004) verificou que quanto menor a agroindústria, menos indicadores de inovação são encontrados e maior é a resistência com relação aos aspectos de inovação, e que, mesmo as grandes agroindústrias, por mais que apresentem processos de inovação tecnológica mais amadurecidos, os mesmos ainda são conservadores.

Em dados levantados pelo Ipardes (2010), nos últimos cinco anos, aproximadamente 35% dos laticínios paranaenses lançaram algum tipo de novo produto. Porém, considerando o porte das empresas, aproximadamente 90% dos laticínios de micro porte e pouco mais de 60% dos de pequeno porte não diversificaram a sua produção, revelando uma elevada limitação inovadora nesse grupo de produtores industriais. Além disso, nos casos em que houve inovações de produto, foram resultado de tentativas de mudança via alterações em produtos já existentes, como por exemplo, alteração de sabor, sem necessariamente representar uma mudança ou incorporação de nova tecnologia ou de uma pesquisa específica para tal. Pelo contrário, o Ipardes (2010) afirma que a base de informação para o lançamento de novos produtos na indústria láctea são os fornecedores de máquinas, equipamentos e de insumos.

Outro fator importante é o relato de apenas uma grande empresa da indústria láctea paranaense possuir um departamento formalizado de P&D encarregado de atuar com vistas à inovação de produtos e processos (IPARDES, 2010). Percebe-se, portanto, que o setor lácteo do sudoeste do Paraná, devido ao fato de ser formado principalmente por micro e pequenas agroindústrias tende a apresentar o baixo nível de inovação.

4. Procedimentos metodológicos

Segundo definições de Vasconcelos (2002) esta pesquisa classifica-se quanto ao objeto, como temática ou focal simples; quanto à natureza dos dados, como mista, pois é composta de dados qualitativos e quantitativos e a análise classificada como descritiva.

A coleta dos dados foi realizada a partir da aplicação de um questionário aos gestores das agroindústrias de produtos lácteos do Sudoeste do Paraná sob o sistema SIP. O instrumento divide-se em dois blocos: bloco I – Caracterização da dos laticínios e, bloco II – panorama da inovação de produtos. No bloco I questionou-se sobre o volume de processamento de leite, número de funcionários e produtos processados. No bloco II questionou-se quanto ao processo atual de desenvolvimento de novos produtos, quanto aos novos produtos lançados nos últimos quatro anos, quanto as características das inovações apresentadas (novos produtos ou novas variedades) e, em caso de existência de lançamento de novos produtos, quanto a origem dos recursos investidos nessas inovações.

A elaboração do instrumento de pesquisa teve por base o instrumento utilizado por Alves (2010). O questionário, neste estudo, teve como função descrever as características da amostra selecionada com vistas ao alcance do objetivo de apresentar um panorama da inovação de produtos nos laticínios sob o sistema SIP (RICHARDSON, 2011). O questionário foi aplicado entre os meses de novembro e dezembro de 2013 em nove dos quatorze laticínios sob responsabilidade do SIP. A escolha desta amostra deu-se pela representatividade da agroindústria láctea do sudoeste do Paraná, na economia do Estado e também pelo fato de que a maioria dos laticínios sob o sistema SIP estão classificados como pequeno e médio porte (IPARDES, 2010). A identidade dos laticínios pesquisados foi preservada, sendo identificados neste artigo por números arábicos.

5. Caracterização dos laticínios pesquisados

Com relação ao volume de leite processado, pode-se verificar na Figura 1 que quatro laticínios (3, 4, 5 e 8) possuem processamento inferior a 10 mil litros de leite por dia enquanto apenas o laticínio 2 tem o processamento superior a 90 mil litros de leite dia. Percebe-se que o volume de processamento de leite é diferenciado de laticínio para laticínio, contudo, a maior parte processa um volume abaixo de 30 mil litros de leite por dia. Porém, considerando a média do volume de processamento de leite dos laticínios pesquisados obteve-se o número de 28.277,77 litros de leite por dia (± 31.113,81).

Figura 1 - Volume de processamento de leite (litros/dia)

Todos produzem queijos de diferente variedades, 22,22% produzem manteiga ou creme de leite.

A Figura 2 apresenta o tipo de queijo mais produzido pela empresas.

Figura 2 - Tipo de queijos produzidos

O queijo ricota é o tipo mais produzido pelas empresas (77,78%) seguido do mussarela (66,67%), colonial (44,44%), prato (33,33%), provolone (22,22%) e por últimos os tipos: asiago, cacciotta, colonical fracionado, colonial temperado e pecorrino (11,11%).

Quanto ao porte dos laticínios, verificou-se com base na classificação do Sebrae (2012), e no número de funcionários (Tabela 1), que os laticínios 1, 3, 5, 8 e 9, (55,56%) classificam-se como de micro porte e os laticínios 4, 6 e 7 (33,33%) classificam-se como de pequeno porte e apenas o laticínio 2 (11,11%) classifica-se como de médio porte e nenhum dos laticínios pesquisados está na categoria de grande porte. Dessa forma 88,89% das agroindústrias lácteas pesquisadas são de micro e pequeno porte. A média de funcionários nos laticínios pesquisados foi de µ =26,89 (± 30,97).

Tabela 1 - Classificação de empresas de acordo com número de funcionários

Porte da empresa

Número de funcionários

Micro

Até 19

Pequeno

20 à 99

Médio

100 à 499

Grande

Mais de 500

Fonte: SEBRAE (2012)

Quanto aos produtos processados identificou-se que o principal produto é o queijo mussarela, não constando no portfólio de produtos de apenas três laticínios (3, 5 e 8). Contudo, os laticínios pesquisados além do queijo mussarela ainda produzem o queijo prato, o queijo colonial, queijo provolone, queijo asiago, queijo cacciotta, queijo pecorino, queijo colonial fracionado, queijo parmesão, creme industrial, manteiga industrial, queijo ricota, creme de leite e manteiga.

Além disso, as variedades de produtos também são diferentes em cada agroindústria. Enquanto o laticínio 3 produz apenas um tipo de produto, o laticínio 2 produz 7 produtos diferentes, como pode-se confirmar a partir da tabela 2. Também se verificou correlação significativa (p<0,001) entre o volume de processameto e o número de funcionarios (r=0.8867), ou seja, quanto maior o volume de processamento maior o número de funcionários empregados no processo.

Tabela 2 - Caracterização dos laticínios pesquisados

Laticínio

Identificação

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Funcionários

8

104

8

27

4

29

35

8

19

Porte

Micro

Médio

Micro

Pequeno

Micro

Pequeno

Pequeno

Micro

Micro

Processamento em litros de leite/dia

11.000

95.000

5.000

6.000

2.000

56.000

30.000

10.000

40.000

Produtos Processados

Número

1

7

1

3

5

2

5

4

3

Tipo

Mussarela

Mussarela,
Prato,
Colonial,
Provolone,
Ricota
creme de leite, manteiga

Colonial

Mussarela,
Prato,
Ricota

Colonial,
Asiago,
Cacciotta,
Pecorino
Ricota

Mussarela,
creme industrial,
Ricota

Mussarela, Parmesão,
Provolone,
Ricota,
Manteiga

Colonial,
Ricota,
colonial fracionado

Mussarela,
Ricota,
manteiga industrial

Pesquisa e Inovação

Desenvolveram
ou
estão desenvolvendo novos produtos

Sim

Não

Não

Sim

(3)

Não

Não

Não

Não

Não

Lançamento de

produtos nos últimos 4 anos

0

1

1

1

4

1

0

1

2


Diante do exposto percebe-se que os laticínios da região Sudoeste do Paraná, sob o sistema SIP, caracterizam-se como laticínios de micro e pequeno porte, onde a maior parte está com volume de processamento inferior a 30 mil litros de leite por dia e tendo como principal produto o queijo, em suas diversas variedades.

6. Panorama da inovação de produtos

No bloco II do instrumento de pesquisa, que trata do panorama da inovação de produtos, primeiramente questionou-se aos laticínios se os mesmos desenvolvem ou estão desenvolvendo novos derivados lácteos, onde percebeu-se que apenas o laticínio 1 e 4 afirmam que desenvolvem ou estão desenvolvendo novos produtos, o que representa o percentual de 22,22% do total dos laticínio pesquisados. Os demais laticínios pesquisados afirmaram que atualmente não tem desenvolvido novos produtos, o que leva a crer que a capacidade produtiva pode não estar sendo totalmente aproveitada, pois dados do Ipardes (2010) afirmam que há ociosidade da capacidade produtiva nos laticínios do Sudoeste do Paraná, principalmente nos de micro e pequeno porte, que são a grande maioria das agroindústrias pesquisadas.

A pergunta 2 questionou se a empresa lançou novos produtos nos últimos 4 anos e, se lançou, quais foram os produtos lançados. Obteve-se como resposta do laticínio 1 que nenhum novo produto foi lançado neste período, mas que estão em processo de liberação para lançamento de requeijão do norte e de queijo quali. O laticínio 2 afirmou ter lançado apenas um produto nos últimos 4 anos, o creme de leite, assim como o laticínio 3 que lançou apenas o queijo colonial temperado. O laticínio 4 afirmou que lançou o queijo prato e estão em processo de liberação para lançamento de três novos produtos, dos quais o mesmo manteve sigilo. O laticínio 5 por sua vez afirmou ter lançado 4 produtos nestes últimos 4 anos, sendo eles o queijo colonial, o queijo cacciotta, o queijo pecorino e a ricota. O laticínio 6 afirmou ter lançado apenas o creme industrial e o laticínio 7 afirma que nos últimos 4 anos não lançou novos produtos. O laticínio 8 afirma ter lançado neste período o queijo colonial fracionado, enquanto o laticínio 9 afirma ter lançado dois novos produtos, a ricota e a manteiga industrial.

Diante disso, percebe-se que, nos últimos 4 anos,dos laticínios pesquisados, apenas 33,33% (laticínios 4, 5 e 9) lançaram mais de um novo produto, que 22,22% (laticínios 1 e 7) não lançaram produtos novos e a grande maioria, 44,45% (laticínios 2, 3, 6 e 8) lançaram apenas um novo produto. Novamente, fica evidente que a capacidade de consumo da região pesquisada, assim como sua capacidade produtiva ociosa podem não estarem sendo aproveitadas como poderiam. Além disso, os laticínios pesquisados não apresentam alto grau de inovação. Contudo, não se pode deixar de considerar que, apesar de serem agroindústrias de micro e pequeno porte, apenas dois laticínios não lançaram novos produtos no período pesquisado.

Em seguida questionou-se sobre as características dos produtos lançados, se são novos produtos ou alteração em produtos que já fazem parte do portfólio da empresa, e em caso de alteração de produto classificar se é novo rótulo, nova variedade, nova embalagem ou novo método. Nesta questão apenas os laticínios 3 e 8 (28,57%) afirmaram que as características dos novos produtos lançados são alteração de produto, classificada como nova variedade, os demais laticínios que lançaram novos produtos (71,43%) afirmaram ser um novo produto, porém, verifica-se que são novos para a empresa, mas não para o mercado. Percebe-se que as inovações apresentadas não são radicais, pois, até mesmo as classificadas como novos produtos não são novidade para o mercado consumidor, são novidade somente no portfólio de produtos da empresa.

Com relação à origem dos recursos investidos para o desenvolvimento dos novos produtos lançados, seja ele classificado como novo produto ou nova variedade, todos afirmaram ser de origem própria. Dessa forma, pode-se inferir que as agroindústrias pesquisas, preferem investir na inovação de produtos sem os riscos que um financiamento com capital de terceiros oferece, e possivelmente, também pelos riscos que a inovação por si só oferece.

A partir do exposto acima, pode-se perceber que as agroindústrias sob o SIP apresentam certo grau de inovação, contudo, pode ser considerado baixo diante do pesquisado, sem um processo estruturado com vistas a desenvolver produtos a partir das necessidades ou desejos dos consumidores.

7. Considerações finais

Os dados levantados mostraram que as agroindústrias lácteas sob o sistema SIP da região Sudoeste do Paraná são principalmente de micro e pequeno porte, com nível de inovação em produtos que pode ser considerado baixo e que produz em sua maioria, queijo de diversas variedades, tendo como principal produto o queijo mussarela.

Neste sentido, verificou-se que apenas dois laticínios estão em processo de lançamento de novos produtos, e que, apesar de nos últimos 4 anos apenas dois laticínios não lançarem novos produtos, percebe-se que foram poucos os produtos lançados e que são novidades apenas para a empresa e não para o mercado. Além disso, constatu-se que nenhum dos laticínios pesquisados apresenta um processo estruturado para o desenvolvimento e lançamento de novos produtos.

Outro dado relevante da pesquisa é a origem dos recursos investidos para o lançamento de novos produtos, que em sua totalidade, sao providos pelos próprio laticinios. Percebe-se que as agroindustrias de micro e pequeno porte que se arriscam a lançar produtos novos, não querem assumir também os riscos de um financiamento com capital de terceiros, tornando-se um fator que colabora para o nível de inovação em produtos ser insuficiente Lima (2004). Além disso, de acordo com Queiroz, Machado e Bouroullec (2008), por se tratar de produtos alimentícios, há dificuldades em apresentar inovações radicais, como pode-se verificar pelos novos produtos lançados pelas empresas pesquisasdos serem novos apenas para o portfólio das empresas e não para o mercado consumidor.

Assim, considerando os estudos apresentados no referencial deste artigo, verifica-se que os dados apresentados estão em consonancia aos apresentados por Lima (2004), Queiroz, Machado e Bouroullec (2008) e Ipardes (2010), confirmando que os laticínios de micro e pequeno porte, mantém baixo nível de inovação em produtos, constatando inclusive falta de investimento em um processo estruturado de desenvolvimento de produto. Este contexto pode ser resultado de uma cultura conservadora presente nos empreendimentos de pequeno porte, do receio de assumir os riscos que os investimentos em inovação apresentam, do baixo investimento em P&D, da falta de recurso para investimento em uma estrutura que comporte um processo de inovação continuo, dentre outros fatores.

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WU, D. D.; KEFAN, X.; HUA, L.; SHI, Z.; OLSON, D. L. Modeling technological innovation risks of an entrepreneurial team using system dynamics: An agent-based perspective. Technological Forecasting & Social Change, v. 77, p. 857–869, 2010.


1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Brasil, leomara.battisti@ifpr.edu.br
2 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Brasil, julianavitoria@utfpr.edu.br
3 Instituto Federal do Paraná – IFPR, Brasil, christiano.pitta@ifpr.edu.br
4 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Brasil,acfrancisco@utfpr.edu.br
5 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Brasil, priscilarubbo@hotmail.com
6 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Brasil, bilynkievycz@uepg.br
7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Brasil, lapilatti@utfpr.edu.br


Vol. 35 (Nº 10) Año 2014
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