1. Introdução
Ainda hoje a alimentação da maioria dos pré-escolares e escolares carece de nutrientes, devido ao não conhecimento ou ao não hábito de consumo de alimentos saudáveis que contenham esses nutrientes. Isso se deve a falta de incentivo do consumo tanto por parte pais, quanto por parte da própria instituição onde permanecem por um longo período durante o dia, desta maneira a criança não despertará interesse por determinados alimentos. Além disso, como os hábitos alimentares adquiridos na infância tendem a se solidificar na vida adulta, tornam-se importantes as medidas de promoção de modos de vida saudável neste estágio de vida (Carvalho et. al. 2010).
A inadequação de nutrientes interfere no processo de desenvolvimento e crescimento da criança e é fator determinante no aparecimento de carências nutricionais e também no surgimento de várias manifestações patológicas que repercutirão na vida adulta, como doenças cardiovasculares, câncer, diabetes. Quando o consumo de energia e de nutrientes está abaixo das necessidades, estabelecem-se as condições para o aparecimento das doenças carenciais que ainda acometem 40% da população humana. Ao contrário, se a oferta excede as exigências biológicas acima dos níveis toleráveis, a tendência é a instalação da chamada patologia dos excessos nutricionais (Fidellis, 2007).
Como colaborador para a melhoria não somente da alimentação de forma saudável, é necessário também a escolher de alimentos que tragam benefícios à longo prazo à saúde das crianças. Nesse contexto inserem-se os alimentos funcionais que podem colaborar para a sua saúde prevenindo doenças que possam vir a ser desencadeadas ao longo da vida.
Este novo conceito de alimentos promotores de boa saúde está emergindo como uma nova fronteira no desafio dos profissionais de nutrição e introduzindo a necessidade dos nutrientes tradicionais, como estabelecido ao longo de todos os anos de estudos da Nutrição, mas muito ampliada para o conceito nutriente preventivo. Nutrientes são necessários para o desenvolvimento e crescimento normais dos indivíduos. Mas não é somente para todas essas necessidades, é preciso também, proteger os indivíduos contra os riscos por agressões genéticas e do meio ambiente, incluindo os hábitos alimentares, reduzindo riscos que poderiam ser minimizados ou, protelados, através de uma nutrição preventiva, iniciada logo após o desmame e continuada ao longo de toda a vida (Angelis, 2001).
Verduras e frutas são alimentos ricos em nutrientes (vitaminas, minerais, fibras), que ajudam a manutenção do nosso organismo, devem ser consumidos diariamente para atender as necessidades destes nutrientes no nosso corpo, através da alimentação. Esses grupos alimentares são consumidos em quantidade inferior à recomendação para a manutenção da saúde da criança. Recomendam-se práticas de educação nutricional com atividades lúdicas para que alimentos com tendência de baixa aceitação sejam inseridos no hábito alimentar dessas.
O objetivo desta pesquisa foi avaliar a aceitação de pré-escolares e escolares perante a inserção de alimentos funcionais na alimentação escolar usando a educação nutricional como atividade de incentivo.
2. Metodologia
Pesquisa aplicada, de caráter quanti-qualitativa, observacional, descritiva ou estudo de caso com merendeira e crianças do berçário ao primeiro ano, por meio de levantamento de dados para a pesquisa com o acompanhamento do comportamento que se deseja obter e o que realmente acontece.
Participaram da pesquisa cerca de 202 crianças de 2,5 a 6 anos das turmas nomeadas pela escola como "Infantil II, III, IV e V e Primeiro Ano" de uma pré escola da cidade de Ponta Grossa-Pr. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética CEP/CESCAGE sob protocolo número 236435/2013.
Foram desenvolvidas e aplicadas as seguintes atividades de educação nutricional: nas turmas de InfantilI II e III a atividade realizada foi um teatro com fantoches de verduras (brócolis, cenoura e tomate) e frutas (abacaxi, laranja e morango). Explicando de forma simples porque devem ser consumidos esses alimentos, criando um contato com as crianças de forma que tivessem uma diferente visão destes alimentos. Após esta etapa houve a degustação de uma verdura (brócolis) e uma fruta (abacaxi). Nesta etapa os professores que acompanhavam a atividade sendo desenvolvida pelos pesquisadores anotaram os nomes dos alunos que não aceitaram os alimentos oferecidos mesmo após a atividade. Para concluir, foi solicitado aos alunos dessas turmas a elaboração de um desenho dos alimentos abordados na atividade que mais gostaram.
Com as crianças do Infantil IV e V foram utilizados dois alimentos representantes de cada grupo, sendo a banana e a maçã do grupo das frutas e a cenoura e a alface do grupo das verduras, para que fosse aplicada uma atividade utilizando os sentidos da visão e tato e após estas duas etapas o paladar, através da degustação dos alimentos trabalhados na atividade. Os alunos em um primeiro momento visualizavam os alimentos e tinham que dizer o nome dele. Depois tocavam o alimento sentindo seu formato e textura e eram incentivados a expressar o que viam, sentiam e degustavam. Os professores também anotavam os alunos que não tiveram aproximação com a atividade no sentido de não se interessar em tocar e degustar os alimentos.
Por fim como atividade para o primeiro ano a atividade de educação nutricional foi aplicada com as seguintes etapas após receberem um impresso contendo um prato vazio e alimentos diversos.
1º Cada aluno recortaria e colaria na figura do prato quais alimentos consome em seu prato diariamente;
2º Após todos os alunos terem concluído a montagem do prato que consomem os pesquisadores mostraram no quadro exemplos de prato ideal (divisão, composição e quantidade);
3º Alguns alunos eram convidados a vir até o quadro montar no cartaz de colar e descolar um prato ideal;
4º No verso do prato que montaram na 1º etapa, desenharam como montariam o prato ideal após o que aprenderam. Os alunos podiam levar esse desenho para casa para discutirem com seus familiares o que aprenderam em sala.
As atividades tinham em comum o contato com alimentos de caráter funcional para avaliar se com incentivo houve interesse por parte das crianças em consumir estes alimentos.
Os dados coletados pelas professoras a pedido dos pesquisadores foram tabulados e expressos em porcentagem.
A aceitação dos alimentos trabalhados nas atividades de educação nutricional foi também avaliada através da observação da ingestão desses por parte dos alunos quando pratos do cardápio escolar incluíam esses alimentos.
Os seguintes pratos foram avaliados no jantar das crianças: Canja com Frango e letrinhas, Sopa de Feijão, Sopa de Legumes, Melão.
A aceitação dos pratos foi avaliada através de um formulário aplicado por turma no qual continham as alternativas: aceitou totalmente, aceitou parcialmente e não aceitou. Os dados foram tabulados e expressos em porcentagem de aceitação por turma. Durante a observação o pesquisador anotou a aceitação "com incentivo" e "sem incentivo" para verificar a influencia do incentivo na alimentação das crianças.
3. Resultados e discussão
Na atividade aplicada com a turma Infantil II e III as crianças ficaram atentas e interessadas no teatro. No momento da degustação, ao todo (nas três turmas do Infantil II) 78% dos alunos aceitaram o abacaxi oferecido durante a atividade e 71% dos alunos aceitaram o brócolis. Ao todo nas três turmas do Infantil III, 80% dos alunos aceitaram o abacaxi oferecido durante a atividade e 80% dos alunos aceitaram o brócolis. A Figura 1 apresenta esses dados.
Figura 1- Aceitação da fruta e da verdura. Turmas do Infantil II e III.
Fonte: O autor (2013)
Estas atividades despertaram bastante interesse dos alunos, pode-se notar que alguns ao contato com esses alimentos tiveram reação de aversão e até mesmo choro, o que mostra que muitas vezes devido à falta de contato e estimulo, passam a ter reações negativas diante destes alimentos. Porém, alguns alunos conseguiram aceitar os alimentos, mesmo aqueles que segunda as professoras não aceitavam esses alimentos na escola (no total de 15 alunos).
Os escolares da turma do Primeiro Ano foram avaliados através da atividade do prato ideal montado pelos alunos com os alimentos que consomem no seu dia a dia, foram dadas opções de vários alimentos de diferentes grupos. Das opções dadas obteve-se como resultado o consumo de alimentos base (como arroz, carnes e ovos, feijão e macarrão) por 86% dos alunos. O consumo de frutas foi a opção que mais foram utilizadas no prato ideal como consumidas. Com porcentagem superior a 50% foram laranja, melancia e morango, e as verduras estiveram em menor quantidade na atividade com utilização nos pratos dos alunos com resultado inferior a 50% de todas as opções de verduras. A Figura 2 demonstra estes dados.
Figura 2- Consumo de alimentos pelos alunos da turma Primeiro Ano.
Fonte: O autor (2013)
Observou-se que após a atividade proposta, mostrando como deve ser o prato ideal e através do cartaz de colagem onde os próprios alunos ajudaram a montar o prato ideal, todos os alunos desenharam corretamente o que deve ser consumido no seu prato do dia-a-dia, mostrando-se efetiva esta prática de educação nutricional na turma exposta a essa quanto ao aprendizado, entretanto serão necessárias observações posteriores para verificar se os alunos colocarão em prática o aprendizado.
Foram observados os jantares das turmas Infantil III, IV, V e Primeiro Ano durante 2 semanas, sendo na primeira semana observados sem intervenção e na segunda semana com intervenção. As preparações foram sopa de legumes com carne bovina, canja de frango e letrinhas, sopa de feijão, creme de legumes, de segunda a quinta respectivamente, na ordem das turmas referidas. Os resultados pré (primeira semana) e pós intervenção (segunda semana) estão expressos nas Figuras 3 e 4.
Figura 3- Aceitação das refeições na 1º Semana
Fonte: O autor (2013)
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Figura 4- Aceitação das refeições 2 º Semana
Fonte: O autor (2013)
Ao observar a aceitação das preparações, verificou-se melhores resultados, pois em média 80% dos alunos aceitavam os alimentos oferecidos. Após intervenção houve aumento nos índices quando os alunos tinham conhecimento da importância dos alimentos presentes nas preparações avaliadas.
A preparação que teve maior porcentagem de aceitação antes da intervenção era sopa de feijão com 84% de aceitação. Após a intervenção essa preparação teve 90,3% de aceitação.
As preparações que tinham menor porcentagem de aceitação eram sopa de legumes com carne bovina e canja de frango com letrinhas. Após a intervenção a porcentagem das duas preparações foi de 81% para 95% e 80% (aceitação total) e 10% (aceitação parcial) respectivamente. Diante disso observa-se aumento de 14% na aceitação da preparação que era menos aceita no cardápio das crianças.
Até o presente momento não há dados publicados sobre a aceitação de alimentos funcionais inseridos em várias refeições em pré-escolas. Porém, existem estudos que relatam a inserção de alguns alimentos para enriquecimento nutricional da alimentação escolar como em um projeto da prefeitura de Bombinhas-SC juntamente com um nutricionista no ano de 2013 o qual obteve resultados positivos frente à inserção de farinha de Ora-pro-nóbis (apresenta alto teor de proteína 25%, rica em vitamina A, B e C, magnésio, fósforo e cálcio,é utilizada para elaboração de massas) e Tupinambor (rico em inulina: um tipo de açúcar que não é digerido no estômago, ajuda controlar problemas de diabetes, colesterol, obesidade e, principalmente, a constipação intestinal) em uma pré-escola. O resultado foi de 90,4 % de aceitação, superior ao considerado aceitável para inclusão deste alimento.
No estudo de Cavalheiro (2001) com o resíduo da soja "okara" foram elaborados biscoitos de chocolate e ofertados para pré-escolares. Essa pesquisa apresentou resultados melhores do que a aceitação do biscoito sem a adição do resíduo.
Heisler et. al. (2008) obteve 100% da aceitação dos pré-escolares quando a farinha de arroz substituía a farinha de trigo em 3 receitas oferecidas as crianças e analisadas em escala hedônica.
Já no trabalho de Vitorassi (2012) foram desenvolvidas 3 (três) formulações diferenciadas nas quais empregaram-se diferentes percentagens de linhaça e carne mecanicamente separada de tilápia (CMS), variando em 10, 15 e 20% de linhaça e 40, 35 e 30% de CMS, respectivamente, as 3 amostras obtiverem bons resultados sendo superiores as 70% de aceitação por crianças com idade pré-escolar. Entretanto, nenhum desses estudos deixa claro em sua metodologia a utilização de educação nutricional como forma de incentiva a aceitação dos alimentos inseridos.
Quanto à influência da educação nutricional nos hábitos alimentares de crianças os autores Carvalho (2010), Frota et. al. (2009), Marin, Berton e Espirito-Santo (2009) afirmam as atividades lúdicas de educação nutricional compõem uma metodologia efetiva, que auxilia na mudança de hábitos promovendo melhoria da qualidade de vida das crianças submetidas a este processo, trazendo a eles conhecimento sobre os benefícios de uma alimentação saudável, de uma forma simples, objetiva e que vem se mostrado muito efetiva nestes estudos, e em diversos outros que vem tratando sobre o assunto.
4. Conclusão
Todas as medidas de educação nutricional aplicadas aos alunos em diferentes turmas tiveram sucesso nessa pesquisa, pois os alunos puderam ter contato com os alimentos durante a atividade, aceitaram bem os alimentos enquanto as atividade foram desenvolvidas e aumentaram a porcentagem de aceitação dos alimentos funcionais do cardápio.
Os autores sugerem continuidade da pesquisa para avaliar o impacto dessas atividades a médio e longo prazo nas turmas que passaram pela intervenção nutricional, pois os autores tinha como objetivo nessa o resultado a curto prazo tendo em vista o período curto de desenvolvimento da pesquisa. Além disso, aproveitando os bons resultados encontrados sugere-se a inserção de novos alimentos funcionais no cardápio das crianças para que possam se beneficiar dos compostos bioativos presentes nesses alimentos nessa importante fase de consolidação dos hábitos alimentares.
Referências
Angelis,R. C. (2001); Novos conceitos em nutrição: Reflexões a respeito do elo dieta e saúde; São Paulo, Arquivos de Gastroenterologia, 269 p.
Carvalho, A. P. de; Oliveira, V. B. de; Santos, L. C. dos. (2010); Hábitos alimentares e práticas de educação nutricional atenção a crianças de uma escola municipal de Belo Horizonte; Minas Gerais,São Paulo, Pediatria, 20 p.
Cavalheiro, S. F. L; et. al. (2001); Biscoito sabor chocolate com resíduo de soja, "Okara": Teste afetivo com crianças em idade pré- escolar; Araraquara, Alim. Nutrição, 151 p.
Fidelis, C. M. F.; Osório, M. M.(2007); Consumo alimentar de macro e micronutrientes de crianças menores de cinco anos no Estado de Pernambuco; Brasil, Recife, Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, 63 p.
Frota, M. A. et al.; (2009); Má alimentação: fator que influencia na aprendizagem de crianças de uma escola pública; Revista APS, 278 p.
Heisler, G. E. R. et. al.; (2008); Viabilidade da substituição da farinha de trigo pela farinha de arroz na merenda escolar; Araraquara, Alim. Nutrição, 299 p.
Marin, T.; Berton, P.; Espirito-Santo, L. (2009); Educação Nutricional e Alimentar: por uma correta formação dos hábitos alimentares; Apucarana, Revista Fapciência, 72 p.
Vitorassi, D. C. (2012); Desenvolvimento de quibe de carne mecanicamente separada de tilápia com adição de linhaça (Linum usitatissimum L.) para inserção na merenda escolar; Medianeira, Trabalho de Conclusão de Curso (Tecnologia em Alimentos)- Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 107 p. |